1. 2016
Sofia de Matos Pedrosa, n.º 24, 11.º B
Escola Básica e Secundária de Anadia
A vida do Homem é como a de um rio
2. 1
A vida do Homem é como a de um rio
Eu sou um grande rio,
tal sábio que aprendeu
o que a vida lhe ensinou.
Nasci um ínfimo fio de água,
puro e límpido.
Brotei daí para a minha longa vida.
Deambulei por entre campos verdejantes,
ora tranquilo e pacato,
ora agreste e violento,
esquecendo bons modos,
derrubando tudo e todos,
tal criança irrequieta
que, sem pensar,
usa e abusa da sua sorte.
Atingi a minha juventude,
mais maduro,
mais robusto.
Dei-me ares de sapiente!
No meu deambular,
por terras de ninguém
também feri, errei,
magoei, destruí!
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Houve quem me usasse
e, de mim, até abusasse!
Houve quem me fez frente!
Houve quem me reinventou!
Houve quem me tentou travar,
quem me pôs a mão,
e me ensinou a caminhar
entre penhascos íngremes.
Desfiz rochedos,
ultrapassei barreiras,
movi montanhas…
Mas a idade avança.
A irrequietude acalma.
Hoje, já mais idoso,
sem pressas para chegar…
Reflito na minha viagem,
com calma estou a abrandar.
Viajo sereno pela planície,
deleito-me mirando subtilmente
a paisagem verdejante que ajudo a criar.
Espraio-me sobre a areia,
vendo o Sol a aquecer a Terra
que me deu este viver.
Sorrio aos peixes
que nadam nas minhas águas profundas,
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agito-os e embaraço-os.
Sem querer, mudo-lhes o rumo.
É nesta deambulante
e memorável lassidão
que recordo o momento
em que deixei a minha nascente,
lá no cimo da montanha.
Ouço, então, o chilrear dos pássaros
que esvoaçantes cruzam o azul celeste,
que rivaliza com a minha cor.
Olho para o alto e pesa-me
o longo caminho percorrido…
Alegra-me e dá-me alento
a grande sabedoria alcançada!
É com este pensamento
que me deixo envolver,
calmo e sereno,
pelas agitadas águas do mar.