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No 5 – Agosto de 2011




Eventos
climáticos
extremos
F
Editorial
     uracão em Santa Catarina, tragédia na       desastre na serra fluminense eu não sei se é
     região serrana do Rio de Janeiro, chuvas    muito natural, não”, criticando o fato de áreas
     fortes diárias de verão no Sudeste...       de risco estarem sendo ocupadas por milhares
Enchentes, alagamentos, deslizamentos, inun-     de casas.
dações, desabamentos...                          O Judiciário promoveu um seminário para fa-
Mortes, pessoas feridas, desabrigadas...         zer sua lição de casa pois, nas enchentes da
Residências totalmente destruídas.               serra fluminense tiveram que solucionar, em
                                                 regime de plantão permanente, guarda de
Essas são as imagens que, cada vez e com         crianças, sepultamento de cadáveres, remo-
mais frequência, como espectadores, assisti-     ção de bens e outras medidas de urgência. A
mos e nos perguntamos:                          “prova pericial ambiental” também foi colocada
Como esses cenários poderiam ter sido evita-     em debate.
dos? Como residências foram construídas em       Quais treinamentos devem ser promovidos e
áreas que deveriam ser proibidas? Será que       em quais áreas? Soube de um curso de enfer-
não existe alguma forma de evacuar o local,      magem ministrando aulas sobre atendimento a
antecipadamente, através de previsões? O que     vítimas de eventos climáticos.
será dessas pessoas que perderam tudo                  Quais campanhas educacionais à popu-
o que tinham e como conseguirão re-                        lação (construção em encostas, lixo no
construir suas vidas?                                        lixo, outras) poderiam ser lançadas?
Com algumas exceções, e até o                                 Quais possíveis parcerias público-
momento, observamos que os mais                               privadas poderiam ser realizadas?
carentes é que estão mais sujeitos                           Nesta edição da Opinião.Seg conta-
aos desastres.                                              mos com a participação de diversos
O quanto o setor de seguros e seus                        segmentos, aos quais agradecemos.
players podem ensinar e socorrer nesses                 Cada qual, dentro de sua esfera de atu-
graves momentos!  O quanto podem mitigar es-     ação, dando sua contribuição, apresentando
ses impactos!                                    soluções e alternativas: seguradoras, escritó-
Os questionamentos são muitos e o assunto é      rios de advocacia, atuário, regulador de sinistro,
inesgotável.                                     corretores de seguro e de resseguro, ressegu-
Quais as lições já aprendidas com os desas-      rador, consultores de meio ambiente e de sus-
tres ocorridos?                                  tentabilidade, de inteligência e acadêmico.
O que pode ser feito, preventivamente?           Encerro com a frase de Antonio Fernando Na-
O que falta para o microsseguro deslanchar?      varro, um dos articulistas desta edição:
Quais projetos de lei tramitam no Senado sobre
a questão e que poderão efetivamente contri- “Navegamos em um pequeno barco chama-
buir para a solução dos problemas vividos pelas do Terra, a esmo pelo Universo, onde o pro-
vítimas de enchentes e desmoronamentos?         blema de um dos passageiros é o problema
E quanto ao monitoramento e fiscalização das    de todos.”
áreas de risco? Segundo Luiz Cavalcanti, chefe
do Centro de Análise e Previsão do Tempo do     Pensemos!
Instituto Nacional de Meteorologia, a chuva na
região serrana do Rio de Janeiro não foi apenas                          Christina Roncarati
um desastre natural. “Natural é a chuva, já o                              Editora Roncarati
Índice
                                    3   Editorial
                                        Christina Roncarati

                                    6   Mudanças no clima e os desafios para
                                        o setor de seguros
                                        Renata Barcellos

                                    8   Seguros e eventos climáticos extremos -
                                        Alguns comentários de natureza jurídica
                                        João Marcelo Máximo dos Santos e Felipe Reis

                                   16   Mudanças Climáticas: Uma Nova Realidade
                                        para o Mercado de Seguro
                                        Heitor Rigueira

                                   18   Os seguros massificados e os sinistros
                                        decorrentes de catástrofes
                                        Claudio M. Romagnolo

                                   20   Eventos climáticos extremos e o mercado
                                        de seguros
                                        Julio Tenreiro

                                   24   Mudanças climáticas e eventos extremos
                                        no Brasil
                                        Israel Klabin (FBDS) e Marco Antonio de Simas Castro
        ISSN 2176-5944                  (Lloyd’s Brazil)
A revista eletrônica Opinião.Seg
é editada pela Editora Roncarati
  e distribuída gratuitamente.
                                   26   Eventos climáticos extremos e a limitação de
                                        responsabilidade pela interpretação do termo
                                        “evento” em seguro e resseguro
 EDITORA RONCARATI LTDA.                Sergio Barroso de Mello
     Fone: (11) 3071-1086
  www.editoraroncarati.com.br
contato@editoraroncarati.com.br    32   Está ficando sério
                                        Antonio Penteado Mendonça

  Os textos publicados nesta       34   O tema que não quer calar
                                        Antonio Penteado Mendonça
revista são de responsabilidade
única de seus autores e podem
não expressar necessariamente      36   Os eventos naturais e o Resseguro
    a opinião desta Editora.            de Catástrofe
                                        Rodrigo Crespo

 Projeto gráfico e diagramação:
       PSWOOD Design
                                   38   O desafio de atender bem o segurado a
                                        qualquer momento
                                        Edison Kinoshita

                                   40   Recuperação de desastres: quem paga a conta?
                                        Um roteiro para o Brasil
                                        Michel Liès
44    Contra eventos climáticos extremos: cuidar, para
      mudar comportamentos e provocar atitudes
      Antonio Carlos Teixeira

50    Riscos catastróficos e sua conceituação jurídica
      Therezinha de Jesus Corrêa
      Regina Augusta de Castro e Castro

60    A Calamidade e os Riscos
      Ricardo Ferreira Gennari

62    Aquecimento Global: Armagedon ou um caso
      de Indulgência Ambiental?
      Antonio Fernando Navarro

95    Clima para oportunidades
      Antony harvey




Conheça os recursos de navegação da sua revista Opinião.Seg
Mudanças no clima e
                              os desafios para o setor
                              de seguros

Renata Barcellos                                                         Para as companhias de seguros,
Gerente de Loss Control do                                            os três juntos causaram, em três
Brasil e da América Latina.                                           meses, prejuízos de mais de US$
                                                                      100 bilhões, enquanto, na década
                                                                      de 1980, as perdas com esse tipo
                                                                      de fenômeno, nos Estados Unidos,
                                                                      não passaram de US$ 30 bilhões.
                                                                      No mundo, apenas em 2010, esti-
                                                                      ma-se que os prejuízos provocados
                                                                      por desastres naturais tenham ul-
                                                                      trapassado os US$ 220 bilhões.




                          T
                                                                         No Brasil, eventos climáticos ex-
                                                                      tremos como vendavais e enchen-
                                                                      tes têm se tornado mais comuns,
                                                                      mesmo em áreas que nunca ha-
                                                                      viam apresentado esse risco. Nos
                                                                      últimos anos, tivemos como exem-
                                                                      plos o furacão em Santa Catarina,
                                     estemunhamos, atualmente,        as chuvas no Sudeste e enchentes
                                     um momento de indícios de        no Nordeste. E, segundo os pes-
                                     grandes mudanças climáti-        quisadores, a tendência é que es-
                              cas. Em termos de prejuízos mate-       ses fenômenos se tornem mais fre-
                              riais e perda de vidas humanas, o       quentes e intensos nos próximos
                              evento climático que nos vem mais       anos. É um alerta que não deve
                              rapidamente à memória é prova-          ser subestimado. Dados do Cen-
                              velmente o furacão Katrina, que         tro para a Pesquisa da Epidemio-
                              atingiu a cidade norte-americana        logia de Desastres indicam que as
                              de Nova Orleans em agosto de            dez maiores catástrofes climáticas
                              2005. Junto com os furacões Rita,       brasileiras ocorridas até 2010 afe-
                              que atingiu a Flórida, e Wilma, que     taram mais de 59 milhões de pes-
                              atingiu o Golfo do México, respec-      soas e geraram perdas de quase
                              tivamente em setembro e outubro         US$ 9 bilhões.
                              desse mesmo ano, o Katrina é par-
                              te da temporada de furacões mais          Em boa parte, a prevenção des-
                              ativa de que se tem notícia.            ses eventos é atribuição ao poder

                              6 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
público, que deve estar atento ao         Como a companhia tem forte
planejamento e fiscalização das        atuação nos segmentos de seguros
cidades, que normalmente sofrem        de propriedades e de Responsabili-
com excesso de impermeabiliza-         dade Civil e valoriza o atendimento
ção do solo e ocupação indevida        diferenciado, sua área de loss con-
de áreas de risco como margens         trol constitui verdadeira consultoria
de rios e encostas.                    para os clientes, analisando riscos
                                       e fazendo recomendações de me-
   Mas independentemente da            lhorias. Este serviço é feito por es-
discussão sobre a responsabili-        pecialistas em prevenção a perdas
dade das atividades humanas so-        e abrange todos os países de atua-
bre esse novo cenário climático,       ção da Chubb, inclusive o Brasil.
o certo é que esses eventos têm
causado destruição e morte e es-          Além da consultoria, são produ-
tão no foco das preocupações das       zidos boletins técnicos e realizados
companhias de seguros de todo o        treinamentos dirigidos aos segura-
mundo. De um lado, há a neces-         dos. Assim, a Chubb atua de for-
sidade de identificação de áreas       ma preventiva e assume um papel
de risco e, de outro, a precificação   educativo que ajuda a conscientizar
desses riscos de modo a estabe-        os clientes dos riscos existentes,
lecer a remuneração adequada           minimizando os possíveis efeitos
para manter o equilíbrio financeiro    da ação humana no agravamento
das companhias.                        desses riscos.

  Praticamente todas as gran-             Porém é importante lembrar que
des seguradoras vêm criando            toda mudança oferece, ao lado do
departamentos específicos para         risco, novas oportunidades. De acor-
o desenvolvimento de pesquisas         do com a Susep (Superin­­ tendência
ou têm se associado a entidades        de Seguros Privados), o aumento da
para produzir estudos que pos-         percepção de risco fez o faturamen-
sam identificar as áreas sujeitas a    to das companhias com seguros re-
eventos climáticos extremos e cal-     sidenciais crescer 22,4% em 2010,
cular os riscos decorrentes.           chegando a R$ 1,267 bilhão.

    No caso da Chubb, que traba-          Isso significa que é o momento
lha principalmente com seguros         de investir tempo e criatividade no
voltados a pessoas físicas de alto     desenvolvimento de novos produ-
poder aquisitivo, o foco está no       tos, tendo em mente os riscos e
mapeamento das áreas de risco          suas formas de controle e prote-
para residências e bens como au-       ção. Um exemplo são os seguros
tomóveis e barcos. Dados sobre a       voltados ao processo de produção
região sul, que foi fortemente atin-   de energia limpa, que estimulem
gida por eventos climáticos a par-     atividades de menor impacto am-
tir de 2004, estão bastante com-       biental. Na Chubb, o seguro para
pletos. Atualmente, a seguradora       parques de produção de energia
está aprofundando os estudos so-       eólica tem tido grande aceitação e
bre a região sudeste.                  expressivo crescimento.

                                                 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 7
Seguros e eventos
                              climáticos extremos -
                              Alguns comentários de
                              natureza jurídica

João Marcelo dos Santos                                               Felipe Reis

Foi Diretor e                                                         Formado na Pontifícia
Superintendente-Substituto                                            Universidade Católica
da Superintendência de                                                do Rio de janeiro em 2008,
Seguros Privados – SUSEP                                              Felipe Heine Reis atuou
– e é professor de diversos                                           como advogado na área de
cursos de pós-graduação.                                              Contencioso Civil até 2010,
Atualmente, é Presidente                                              ano em que foi para Londres
do Conselho de Acadêmicos                                             como Brazilian Lawyer 
da Academia Nacional de                                               trabalhar no Davies Arnold
Seguros e Previdência –                                               Cooper na área de Seguros e
ANSP – e Sócio Responsável                                            Resseguros. Após um estágio




                          O
pelo Setor de Seguros e                                               profissional  de 1 mês na
Resseguros do Escritório                                              Transatlantic Reinsurance
Demarest e Almeida                                                    Company e na AON, também em
Advogados.                                                            Londres, retornou ao Brasil
                                                                      para trabalhar no Demarest
                                                                      e Almeida Advogados, onde
                                                                      está, desde janeiro de 2011, no
                                                                      Setor de Seguros e Resseguros.




                                     s efeitos da mudança cli-                               “A atenuação dos efeitos
                                     mática que vem atingindo o                           das mudanças climáticas glo-
                                     planeta são encarados pelos                          bais e a adaptação a estas
                              cientistas como inafastáveis na re-                         são os maiores desafios da
                              alidade atual, e os seus impactos                           humanidade neste início de
                              na atividade do seguro e resseguro                          século. O progresso econômi-
                              têm sido bastante discutidos e estu-                        co e científico, que contribuiu
                              dados. Há inclusive aspectos de na-                         decisivamente para a solução
                              tureza jurídica significativos, alguns                      de problemas históricos e au-
                              dos quais pretendemos mencionar                             mentou o nível de bem-estar
                              nesses nossos breves comentários.                           da população nas últimas dé-
                                                                                          cadas, trouxe um inimigo des-
                                 Sobre a mudança climática, já                            conhecido até agora. Mais do
                              se pronunciou Israel Klabin, Pre-                           que nunca, dependemos da
                              sidente da Fundação Brasileira                              geração de eletricidade, do
                              para o Desenvolvimento Susten-                              transporte de passageiros e
                              tável - FBDS:                                               mercadorias, da produção de

                              8 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
alimentos e de outras conquis-                   alterações têm grande poder
      tas de nossa civilização, todas                  de destruição, afetando mi-
      envolvendo a emissão de ga-                      lhões de pessoas e causando
      ses do efeito estufa (GEE).                      prejuízos de bilhões.

          Como consequência desse                          Nessa categoria de mudan-
      aumento da concentração de                       ças climáticas, eventos climá-
      GEE na atmosfera, a elevação                     ticos extremos – como chuvas
      na temperatura média do pla-                     intensas, vendavais e fura-
      neta já é uma realidade e, de                    cões, marés meteorológicas e
      acordo com o Painel Intergo-                     grandes secas – representam
      vernamental de Mudanças Cli-                     as forças com maior poder
      máticas, uma elevação de 2ºC                     de destruição. À intensidade
      na temperatura média da Terra                    desses eventos soma-se a
      parece inevitável, mesmo que                     dificuldade de gerenciamento
      todas as medidas para reduzir                    de planos para a adaptação e
      as emissões e capturar carbo-                    a atenuação de seus efeitos,
      no se concretizem. No cenário                    devido à impossibilidade de
      mais pessimista, mantendo-se                     prevê-los com exatidão”1.
      as atividades atuais, as previ-
      sões são de um aumento de                    Com efeito, assumida como pre-
      mais de 6°C na temperatura                missa a realidade da mudança cli-
      média da Terra, com conse-                mática, e no que se refere ao segu-
      quências catastróficas para os            ro e resseguro, um primeiro ponto
      ecossistemas e a humanida-                a ser considerado são as possíveis
      de. Embora os modelos ado-                implicações da responsabilidade
      tem uma margem de incerte-                civil para eventuais causadores de
      za, para a maioria dos cien-              eventos climáticos extremos.
      tistas que estuda esse campo
      não restam dúvidas quanto ao                  Tradicionalmente, eventos cli-
      risco das mudanças climáticas             máticos sempre foram caracteriza-
      e do papel humano no agrava-              dos pela eventualidade, irreversibi-
      mento delas.                              lidade e inexistência de relação de
                                                causa e efeito com atividades hu-
          Como o equilíbrio climático           manas. Tal paradigma, entretanto,
      do planeta é frágil, o aumen-             tende a se transformar. Isso na me-
      to das temperaturas já regis-             dida em que já há certo consenso
      tradas criou situações novas,             na comunidade científica quanto
      como a redução da calota gla-             ao fato de que o aumento signifi-
      cial, antes permanentemente               cativo dos gases de efeito estufa
      congelada no Círculo Ártico,              (GEE) na atmosfera é um fator re-
      e  intensificou fenômenos anti-           levante para o aumento da proba-
      gos, como furacões no sul dos             bilidade de ocorrência de eventos
      Estados Unidos. Todas essas               climáticos extremos.

1
 Retirado da rede mundial de computadores em 05/07/2011: http://www.riosvivos.org.br/Noticia/
Eventos+climaticos+extremos+no+Brasil/15581


                                                             Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 9
Com efeito, embora a análise          bestos, e as enormes perdas cau-
dos fatores causadores de eventos        sadas, por exemplo ao Lloyds (que
climáticos deva ser feita com base       teve, também por causa disso, que
em períodos muito longos, tais           promover alterações relevantes na
eventos já podem ser interpretados       sua estrutura para gerenciar tais ris-
como uma resposta da natureza            cos) já mostraram que o longo prazo
a transformações originadas pela         sempre chega, especialmente para
ação humana.                             seguradoras e resseguradores.

   A questão que se coloca, pois,           Por isso, parece claro que a
diz respeito justamente à proporção      questão da responsabilidade civil,
da influência humana em tais even-       no que se refere a eventos climá-
tos. Nesse contexto, questiona-se        ticos, poderá vir a ser no futuro de
se uma atividade humana mais sus-        vital importância.
tentável seria elemento relevante
de redução de risco de ocorrência          Com efeito, poderão ser ajuiza-
de eventos climáticos extremos.          das ações/reclamações (que nos
                                         EUA já são verificadas até com uma
   Naturalmente, tratamos aqui de        certa frequência) por danos efetivos
uma hipótese e de uma mudança de         em face de empresas ou entida-
paradigma a se concretizar no lon-       des pela contribuição direta para a
go prazo, mas no longo prazo é que       emissão dos gases de efeito estufa.
se deve pensar o seguro e o res-
seguro. Assim, deve-se começar a            Ademais, podem ser propostas
cogitar do risco de que uma relação      ações indiretamente relacionadas
de causa e efeito entre a atividade      com a mudança climática em face
humana e os prejuízos causados           de companhias energéticas e gran-
por um evento climático específico       des construtoras, envolvendo por
seja objetivamente verificada.           exemplo riscos seguráveis como
                                         indenização profissional (“Profes-
   Não se pode negar que eventual        sional Indemnity”) e responsabilida-
demandante/reclamante teria que          de civil de diretores e administrado-
apontar os causadores dos danos          res - D&O (“Directors and Officers”).
decorrentes de um determinado
evento climático, e isso sem dúvida         Como dito, hoje os argumen-
não se configura, hoje, como uma         tos utilizados em possíveis ações
realidade próxima. De fato, seria        como as exemplificadas acima ain-
muito difícil identificar atualmente     da seriam frágeis, diante da falta
os agentes que efetivamente contri-      de provas e evidências científicas
buíram para um evento como esse,         sobre a influência direta de ativi-
principalmente se imaginarmos que        dades de empresas específicas
contribuições para a transformação       sobre eventos extremos. Isto é, a
da composição atmosférica, por           comprovação do nexo causal con-
exemplo, ocorrem ao longo de pe-         tinua a ser um desafio para aque-
ríodos muito extensos. Entretanto,       les que sofrem perdas e pretendem
a discussão especialmente nos Es-        acionar os causadores de danos
tados Unidos com relação aos as-         causados por eventos extremos

10 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
atribuíveis, por exemplo, a emis-                     penal ou seguro de responsa-
sões de gases de efeito estufa.                       bilidade civil.”
                                                          (...)
   Nada obstante, as seguradoras e                        “Por exemplo, perdas não
resseguradoras já podem e devem                       causadas diretamente pela
começar a considerar a possibilida-                   mudança climática, mas que
de real de que seus segurados en-                     levam a padrões mais eleva-
frentem demandas relacionadas a                       dos de atenção por parte de
responsabilidade civil pelo aqueci-                   grandes empresas, munici-
mento global e os seus consequen-                     palidades, conselheiros e di-
tes eventos extremos.                                 retores e profissionais como
                                                      arquitetos e advogados, etc. A
   Dependendo do setor, o risco                       responsabilidade se baseará,
poderá ser substancial e as segu-                     em parte, em que grau o acu-
radoras e resseguradores deverão                      sado aderiu ao crescente nú-
analisar minuciosamente em que                        mero de leis e regulamentos
extensão desejam subscrevê-lo.                        relacionados com a mudança
                                                      climática. (...) Estes casos,
   Sobre esse tema, inclusive, já se                  em princípio, não são diferen-
posicionou a Munich Re, em uma                        tes de outras reclamações de
de suas recentes publicações2. Tal                    responsabilidade e constituem
artigo traz uma distinção dos riscos                  um tópico padrão para o segu-
considerados como não seguráveis                      ro de responsabilidade.”
e aqueles considerados como se-
guráveis:                                         O estudo prossegue de maneira
                                               a definir de que forma tal respon-
         “A mudança climática é                sabilidade pode ser efetivamente
      uma questão de regulamen-                segurada (e consequentemente
      tação e não de contencioso. A            ressegurada):
      maior parcela de emissões de
      gases do efeito estufa pode ser                    “Por enquanto, tais casos
      rastreada até as necessidades                   não desempenham um pa-
      dos consumidores (alimentos,                    pel significativo no setor de
      transporte, energia), tornan-                   seguros, mas isto poderá
      do cada membro da socie-                        mudar, por exemplo, no que
      dade um ‘transgressor’ e um                     se refere ao contencioso de
      reclamante em potencial si-                     construção civil. Em geral, a
      multaneamente. Os custos de-                    responsabilidade por danos
      correntes da mudança climá-                     relacionados a violação de re-
      tica podem ser alocados por                     gulamentos referentes a mu-
      meio de conceitos modernos                      dança climática, nesse con-
      de política ambiental, tal como                 texto, pode ser coberta pela
      a negociação de emissões,                       indústria securitária, segundo
      mas não através do direito                      termos e condições específi-

2
  Munich Re Brasil - Atribuição de Eventos Climáticos Extremos: Implicações de Responsabili-
dade Civil – Departamento de Casualty & Marine – Setembro/2010


                                                            Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 11
cos e contanto que não sejam      por eventos climáticos extremos,
       de natureza sistêmica.”           outro ponto importante diz respeito
                                         a maneira que esses eventos climá-
   Por fim, o artigo é finalizado com    ticos extremos já começam a ser
a visão específica da ressegurado-       identificados no Brasil e as conse-
ra no que se refere à responsabili-      quências desse fato para o merca-
dade civil em eventos extremos e         do de seguros e resseguros.
a consequente possibilidade dessa
responsabilidade ser segurada:              Os eventos climáticos extremos
                                         e sua relação com as mudanças
          “A mudança climática é prio-   climáticas globais ainda não foram
       ridade em nossa agenda e as-      exaustivamente estudados pela
       sim permanecerá. Embora não       comunidade científica brasileira,
       esperemos ver reclamações de      principalmente pela sua baixa fre-
       responsabilidade bem sucedi-      quência. Nada obstante, transfor-
       das baseadas nas consequên-       mações significativas já podem
       cias diretas da mudança climá-    ser observadas.
       tica, vamos continuar a seguir
       atentamente a discussão jurídi-      O Furacão Catarina, que atin-
       ca sobre esta questão.”           giu a costa brasileira em 2004, foi
                                         o primeiro registrado no Atlântico
    Assim, seja pela influência hu-      Sul, representando um exemplo
mana direta nos eventos climáticos       bastante representativo de como
extremos; seja pelo desrespeito a leis   as mudanças climáticas no mun-
ou regulamentos, o fato relevante é      do podem começar a afetar países
que seguradoras e resseguradoras         como o Brasil.
serão cada vez mais procuradas para
a subscrição de riscos de responsabi-        De fato, além do aumento da fre-
lidade civil por prejuízos advindos de   quência e severidade dos eventos
eventos climáticos extremos.             climáticos, o crescimento e o de-
                                         senvolvimento da economia brasi-
   Por sua vez, independentemen-         leira fazem com que eventuais ca-
te da chance de êxito das referidas      tástrofes climáticas possam gerar
demandas - ou seja, da possibili-        perdas maiores e mais significati-
dade alta ou baixa de sinistros - as     vas, afetando, por consequência,
seguradoras e resseguradores de-         cada vez mais, os riscos segurados
verão estar atentos a extensão da        e ressegurados.
cobertura do risco eventualmente
subscrito. Os resseguradores de-            Essa é uma nova realidade que
vem estar especialmente atentos          deve ser considerada pelas segura-
à acumulação de riscos cedidos           doras e resseguradores que subs-
por uma multiplicidade de segura-        crevem riscos originados no País.
doras que tenham subscrito riscos
em última instância relativos a um          Isso porque, apesar de no Brasil
mesmo evento.                            eventos como o Furacão Catarina
                                         ainda serem raros e praticamente
   Além da responsabilidade civil        não haver registros de exposição

12 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
efetiva a terremotos, alguns eventos                 Exemplos de inundação no
climáticos extremos são verificados                  Brasil:
com maior frequência e severidade,
e já fazem parte da pauta de gran-                   Janeiro de 2011, região sudeste
des seguradoras e resseguradoras.                    do Rio de Janeiro e São Paulo
                                                      As inundações ocasionaram
  Sobre o tema, já se posicionou                     665 vítimas fatais e deixaram
Rolf Steiner, responsável pelas                      mais de 100.000 desabrigados.
operações da Swiss Re no Brasil,
em sua apresentação no 5º Conse-                     Junho de 2010, Alagoas, Que-
guro, em 08/06/20113.                                brangulo, Pernambuco
                                                       Inundações e deslizamentos
   As características das inunda-                    de terra causados pelas fortes
ções e enchentes, bem como os                        chuvas; pontes e estradas fo-
principais exemplos ocorridos no                     ram devastadas, pelo menos
país, foram identificados da se-                     54 mortos; 53 desaparecidos,
guinte forma:                                        40.000 desabrigados; Danos
                                                     financeiros de USD 602mi.
     “Particularidades de
     inundações no Brasil:                           Abril de 2010, Rio de Janeiro,
                                                     Niterói
     Inundação súbita (“Flash flood”)                 Inundações e deslizamentos
     e deslizamento de terra:                        de terra causados por fortes
       – Precipitação de alta intensida-             chuvas; 256 vítimas; 403 feri-
     de, durante várias horas ou dias.               dos; 74.535 desabrigados; Da-
       – Pequenas áreas afetadas:                    nos financeiros de USD 200mi.
     micro-inundações em área urba-
     na durante a época de chuvas                    Janeiro de 2010, Rio de
     (Dez - Fev).                                    Janeiro, Angra dos Reis,
                                                     São Paulo, Minas Gerais
     Inundação de rios:                                Inundações e deslizamen-
       – Prolongada, precipitação abun-              tos de terra causados por for-
     dante: transbordamento do rio.                  tes chuvas; Deslizamento de
       – Normalmente afeta áreas com                 terra soterra pousada e casas
     maiores dimensões, quanto maior                 em Angra dos Reis; 85 mortes;
     o período de chuva, maior o dano.               Dano total USD 145mi.

     Regiões afetadas:                               Abril - Maio 2009, Maranhão,
      – Sudeste: São Paulo e Rio de                  Ceará, Pará, Piauí
     Janeiro – a região mais afetada.                  Inundações, deslizamentos
      – Sul                                          de terra, quebra de barragem
      – Nordeste                                     após as fortes chuvas; cidade
      – Amazônia (região oeste)                      Trizidela do Vale inundada; 57
                                                     mortos, 267.000 desabrigados,

3
  Swiss Re - Cat Risk 2010 no Brasil e no Mundo - 5ª Conseguro - Rolf Steiner, Regional Head
Brazil & Southern Cone Brasilia - 08.06.2011


                                                            Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 13
Dano total USD 500mi.               (FMI), já se prevê um crescimento
                                          real do PIB brasileiro de 4.1% por
      Novembro - Dezembro 2008,           ano para o período de 2011 a 2015.
      Santa Catarina, Ilhota
        Inundações, deslizamentos            Nesse contexto, a maior pe-
      de terra no Vale do Itajai cau-     netração dos seguros na econo-
      sados pelas fortes chuvas, Por-     mia em geral trará consequências
      to de Itajaí danificado (2º maior   imediatas, principalmente levan-
      em movimentação de contai-          do em consideração que os valo-
      ners); 118 mortos, 15 feridos,      res das propriedades estão cada
      23.000 desabrigados, USD            vez maiores no Brasil. Assim, a
      257mi em danos segurados,           responsabilidade financeira e a con-
      Dano total USD 401mi”.              sequente participação de empresas
                                          de seguros e resseguros deverão
    Como se pode notar, já se obser-      aumentar significativamente em
vam prejuízos objetivamente arca-         futuras inundações e enchentes
dos por seguradoras e ressegura-          ou qualquer outro evento climático
doras em razão de eventos climá-          extremo.
ticos, embora o valor despendido
ainda possa ser considerado insig-           O mercado de seguros e res-
nificante se comparado com o valor        seguros deverá, portanto, realizar
das perdas não-seguradas.                 avaliações mais cuidadosas dos
                                          riscos relacionados a eventos ex-
   Para se ter uma ideia, estima-se       tremos e do gerenciamento desses
que aproximadamente 19 milhões            riscos. Com novas oportunidades
de pessoas (cerca de 10 % da po-          de negócio, o mercado terá que se
pulação brasileira) estão expostas        adaptar à nova realidade e desen-
ao risco de inundações de rios; e         volver novas soluções.
aproximadamente 14 milhões de
pessoas (cerca de 7% da popula-              Isso terá consequências dire-
ção) estão expostas ao riscos de          tas nos contratos de resseguro,
inundação e enchentes súbitas.            que também deverão se adaptar
                                          a essa nova realidade. Uma solu-
   Contudo, já se percebe um au-          ção imediata seria a adaptação de
mento significativo da cobertura          cláusulas utilizadas no mercado in-
securitária de riscos relacionados        ternacional (devidamente “tropica-
a eventos extremos no Brasil, prin-       lizadas”) aos casos brasileiros, na
cipalmente riscos de propriedade e        medida em que o mercado interna-
lucros cessantes.                         cional já tem mais experiência na
                                          cobertura de riscos ligados a even-
   A expansão da economia, como           tos climáticos extremos.
já abordado anteriormente, também
constituirá importante fator de in-          Em suma, as mudanças climá-
centivo à maior subscrição de ris-        ticas são uma realidade que cada
cos relacionados a eventos extre-         vez mais trará impactos para o mer-
mos. Em recente estudo realizado          cado de seguros e resseguros, com
pelo Fundo Monetário Internacional        alguns aspectos merecendo maior

14 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
atenção, como a questão da res-
ponsabilidade civil e dos novos ris-
cos a serem gerenciados. E essa
deverá ser, no longo prazo uma
mudança de paradigma a ser acom-
panhada por todos aqueles cuja ati-
vidade está associada aos seguro
e resseguros, inclusive técnicos e
operadores do direito.




                                       Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 15
Mudanças Climáticas:
                             Uma Nova Realidade para
                             o Mercado de Seguro

Heitor Rigueira
                                                                         Culturalmente, o Brasil não é
Consultor atuarial                                                    um país onde seja comprado segu-
Diretor do IBA - Instituto
Brasileiro de Atuária                                                 ro de vida, mais precisamente para
                                                                      cobertura de morte, principalmente
                                                                      para o caso onde esta ocorra por
                                                                      catástrofe climática. Entretanto, as
                                                                      seguradoras têm desempenhado
                                                                      um importante papel protegendo




                             E
                                                                      imóveis contra essas catástrofes
                                                                      através de seguros multirriscos,
                                                                      ou compreensivos, residenciais e
                                                                      empresariais. Todavia, esse tipo
                                                                      de seguro ainda não é completo,
                                                                      sendo necessária ainda a aquisi-
                                                                      ção de coberturas especiais, tanto
                                                                      no caso de danos, como especial-
                                    nchentes na Região Serrana        mente no de vida.
                                    do Rio de Janeiro, Tsunami
                                    Nordestino, terremotos, torna-       Diante desse novo panorama,
                             dos, enchentes no Maranhão, chu-         os atuários deverão incorporar no-
                             vas de granizo, tempestade de raios,     vos índices de frequência e inten-
                             incêndios... A recente sucessão de       sidade dessas catástrofes, consi-
                             eventos naturais extremos parece         derando-os tanto nos cálculos da
                             indicar um período de mudanças cli-      medição do risco como na precifi-
                             máticas que tornam as empresas e         cação das apólices. Estudos clima-
                             famílias mais vulneráveis.               tológicos indicam que a exposição
                                                                      ao risco de catástrofes naturais já
                                 Nos últimos quatro anos, o Bra-      não pode mais ser mensurada em
                             sil já acumulou mais desastres na-       função de acontecimentos passa-
                             turais que nos últimos vinte anos        dos, sendo necessárias análises
                             em decorrência do aquecimento            prospectivas através do desenvol-
                             global. De acordo com relatório da       vimento de modelos de simulação
                             ONU de janeiro de 2011, o país foi       estocástica dos riscos.
                             atingido por 60 catástrofes natu-
                             rais entre os anos de 2000 e 2010,         Esses modelos podem ser utili-
                             deixando mais de 1,2 mil mortos.         zados em duas vertentes. Através

                             16 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
de estudos meteorológicos será         todo o trabalho atuarial é necessá-
possível identificar:                  ria uma conscientização por par-
                                       te das empresas em ajudar a so-
i. Variáveis (parâmetros) a serem      ciedade (população e empresas)
   considerados em novos mode-         na administração do problema do
   los a serem elaborados, obten-      aquecimento global. Por exemplo,
   do-se assim valores mais justos     adoção de fontes renováveis de
   para prêmio a ser cobrado ao        energia, emissão de documentos
   segurado;                           eletrônicos de contratos são for-
                                       mas de incentivo.
ii. Probabilidade de tal catástrofe
    ocorrer em determinado lugar,         A atividade seguradora brasilei-
    colocando-se assim essa pos-       ra deve crescer nos próximos anos,
    sibilidade de ocorrência como      abrindo espaço para o lançamento
    uma variável relevante na preci-   de novas coberturas nas apólices,
    ficação do seguro.                 estudadas através de simulações.

   Além disso, as seguradoras             Além disso, com a abertura do
também poderiam garantir a capa-       resseguro, o Brasil se tornou um
cidade de resseguro, mitigando-se      mercado mais interessante e com-
assim o risco de não pagamento         petitivo. Sendo assim, será possível
na ocorrência do evento.               oferecer capacidade e tecnologias
                                       estrangeiras para que as segurado-
  Muitas empresas do mercado já        ras possam cobrir de forma justa e
estão adaptando seu portfólio de       embasada as catástrofes climáticas
produtos e serviços, mas além de       que podem surgir no Brasil.




                                                Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 17
Os seguros massificados
                          e os sinistros decorrentes
                          de catástrofes
CLAUDIO M. ROMAGNOLO                                               de estrutura das seguradoras, mas
ADVOGADO E DIRETOR TÉCNICO DE RAMOS                                também com circunstâncias muito
ELEMENTARES DA JOPEMA SERVIÇOS                                     peculiares às quais são submetidos
TÉCNICOS DE SINISTROS.
                                                                   os clientes.

                                                                      Experiências de atendimentos a
                                                                   sinistros de catástrofes demonstram
                                                                   que as operações tradicionais não
                                                                   suprem as reais necessidades de
                                                                   quem teve seu patrimônio sinistra-




                          A
                                                                   do de forma devastadora. Os canais
                                                                   normais de atendimento das segura-
                                                                   doras quase sempre deixam de ser
                                                                   uma opção em face do comprome-
                                                                   timento das estruturas de comuni-
                                                                   cação e até locomoção nas cidades
                                                                   atingidas, sem falar que as segurado-
                                                                   ras e suas unidades de atendimento
                                 s facilidades proporcionadas      também podem ser sinistradas e se
                                 com a massificação dos pro-       tornarem inoperantes na localidade
                                 cessos de venda de seguros        atingida. Considera-se ainda o as-
                          e o aumento das catástrofes da na-       pecto emocional das vítimas que, em
                          tureza, tanto em quantidade como         quase todos os casos atendidos, es-
                          em intensidade, se tornam a cada         tão completamente tomadas por pre-
                          dia um desafio maior para os mo-         ocupações óbvias e até com o desa-
                          delos de atendimento aos clientes        parecimento ou morte de familiares e
                          em casos de eventos que atingem          quase sempre sequer se recordam
                          um grande número de segurados            da existência do seguro.
                          de uma única vez.
                                                                      O atendimento receptivo, com os
                             Em situações como, por exem-          tradicionais avisos de sinistros feitos
                          plo, a ocorrida na região serrana do     por parte dos segurados, tem dado
                          Estado do Rio de Janeiro nos depa-       espaço a uma postura pró-ativa em
                          ramos não apenas com a necessi-          face dos aspectos citados anterior-
                          dade de disponibilizar atendimento       mente. Destaque tem de ser dado,
                          em proporção bem maior do que as         com ótimos resultados em experi-
                          comumente oferecidas nos padrões         ências recentes, ao deslocamento

                          18 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
de reguladores de sinistros até os     de limpezas e higienização de
locais atingidos à procura dos se-     imóvel, chaveiros, eletricistas, etc.
gurados não apenas identificando a     são de muita utilidade no momen-
ocorrência dos danos, mas, e princi-   to posterior ao sinistro. Nos ca-
palmente, informando ao cliente so-    sos de residências e empresas, o
bre a existência do seguro, respec-    restabelecimento das condições
tivas indenizações existentes e os     de habitação e funcionamento
vários tipos de serviços disponíveis   é fundamental e nesse aspecto,
que são associados às coberturas       com o atendimento diferenciado e
das apólices.                          imediato, além das indenizações
                                       quando devidas, é que o seguro
  Muitas vezes os serviços de          pode surpreender e superar as ex-
assistência ao segurado, como          pectativas do cliente.




                                                 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 19
Eventos climáticos
                         extremos e o mercado
                         de seguros
Julio Tenreiro                                                    Segundo a resseguradora, as
Diretor de Ramos Elementares                                      maiores perdas foram as do terre-
da Korsa Corretora de Seguros                                     moto e tsunami, que atingiram o
                                                                  Japão em março deste ano. Essa
                                                                  catástrofe natural já é considera-
                                                                  da o maior impacto econômico da
                                                                  história, com uma perda estimada
                                                                  em US$ 210 bilhões. A maior per-
                                                                  da, até então, era atribuída ao fu-
                                                                  racão Katrina, em 2005, que res-




                         C
                                                                  pondeu por US$ 125 bilhões.

                                                                    Em um cenário onde temos a
                                                                  combinação frequência de ocor-
                                                                  rência com aumento dos prejuí-
                                                                  zos, como o mercado de seguros
                                                                  pode, ao mesmo tempo, oferecer
                                                                  soluções de cobertura e manter a
                                 ada vez mais recebemos no-       solvência e a saúde financeira das
                                 tícias e informações sobre a     suas instituições? Antes de qual-
                                 ocorrência de eventos cli-       quer coisa vamos entender como
                          máticos extremos no mundo. Fica         os contratos de seguro tratam a
                          a constatação de que houve um           questão dos eventos da natureza.
                          aumento significativo da quantida-
                          de, intensidade e regiões afetadas          O mercado disponibiliza cober-
                          por tais eventos. Os números que        turas como alagamento, vendaval
                          o mercado segurador traz para a         e até terremoto, mas não de forma
                          sociedade refletem esse cenário.        automática. Na maioria dos casos
                                                                  há uma análise do risco e, a par-
                            De acordo com dados divul-            tir daí, pode-se ou não conceder
                         gados pela resseguradora alemã           a cobertura ou definir alguma li-
                         Munich Re, a perda acumulada             mitação do valor segurado. Existe
                         até junho de 2011 alcançou US$           ainda uma preocupação das se-
                         265 bilhões, enquanto todo o ano         guradoras em protegerem as suas
                         de 2005, considerado o recorde           exposições através de coberturas
                         de prejuízos de catástrofes natu-        de catástrofes em contratos de
                         rais, registrou US$ 220 bilhões.         resseguro, o que limita a perda e

                         20 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
o excedente é “pulverizado” entre       Outro ponto importante diz res-
os resseguradores.                   peito à forma como a própria so-
                                     ciedade pode contribuir para a
   Mas como ficam os clientes        diminuição dos riscos. Em todo o
que não conseguiram cobrir nas       período de chuvas e consequen-
suas apólices de seguro os riscos    temente de enchentes vemos um
relacionados às catástrofes natu-    sem número de objetos e lixo
rais? Irão expor os seus ativos a    boiando nos rios, córregos e ruas
sua própria sorte? Ou depende-       alagadas.
rão exclusivamente do poder pú-
blico que, na grande maioria das        O mercado segurador pode, e
vezes, não consegue atender com      deve, ajudar no sentido de me-
a velocidade e intensidade que a     lhorar o acesso dos clientes a
catástrofe natural exige?            tais coberturas. As seguradoras
                                     possuem dados estatísticos que
   Temos aí questões que ultra-      ajudam muito nesse trabalho. As
passam o próprio mercado de se-      empresas têm conhecimento não
guros e começa em um momento         só teórico como prático — os si-
anterior. Muitas vezes identifica-   nistros ocorridos permitem essa
mos que falta planejamento para      visão — para indicar inclusive
as questões mais básicas. Senão      possíveis ações de melhoria e/ou
como permitir a construção em        mitigação de risco e ofertar cober-
áreas de encostas ou regiões em      turas acessíveis a todos.
que já são conhecidos os riscos
de desmoronamento, alagamento           Os consultores/corretores de
etc? Como as cidades crescem de      seguros devem sempre estar aten-
forma desordenada sem que haja       tos para os riscos dos seus clien-
políticas claras quanto ao seu di-   tes e avaliar se as apólices hoje
mensionamento? Ou ainda: onde        contratadas atendem a estas ex-
estão as estruturas mínimas para,    posições. Não basta simplesmen-
já que não é possível evitar, pelo   te alertar o cliente de que não há
menos minimizar as perdas com        cobertura, mas ajudá-lo no senti-
tais catástrofes? Como utilizar de   do de conhecer os seus riscos,
forma mais inteligente a tecno-      melhorar a qualidade deles e com
logia no sentido de prevenir, ou     isso buscar protegê-los através
mesmo, avisar com antecedência       de apólices melhor elaboradas. A
às pessoas da iminência de um        transferência de risco através de
desastre natural? Neste aspec-       contratação de seguro é apenas
to, o terremoto, ocorrido no Japão   uma das possibilidades de geren-
em março deste ano, demonstrou       ciamento de risco; existem, en-
que os alertas emitidos pelas au-    tretanto, outras ferramentas que
toridades permitiram que milhares    podem ser aplicadas no sentido
de pessoas saíssem das áreas         de prover ao segurado o conheci-
de risco e pudessem se deslocar      mento das suas exposições.
para regiões mais seguras, evi-
tando assim uma quantidade mui-        A sociedade como um todo deve
to maior de mortes.                  estar atenta aos poderes públicos

                                              Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 21
no sentido de cobrar e exigir políti-       Em resumo, não é o segmento
cas públicas que tragam tranquili-       apenas que tem que agir para me-
dade e proteção para a população.        lhorar o nível de proteção dos riscos,
Da mesma forma, cada um pode             mas a sociedade como um todo. A
participar para tentar diminuir os       única certeza que temos, infeliz-
riscos. Não podemos esquecer             mente, é que as catástrofes naturais
que nós temos uma parcela de             continuarão acontecendo e, já que
contribuição na ocorrência destes        não podemos evitá-las, temos que
fatos, já que os danos que esta-         melhorar as formas de proteção.
mos causando ao planeta voltam
de alguma maneira.




22 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
2ª edição revista e atualizada

                                  Sinopse do livro: O livro faz, através de textos específicos,
                                  uma análise da situação atual das atividades de seguros,
                                  resseguros, previdência privada aberta e planos de saúde
                                  privados no Brasil. A obra serve de apoio para quem
                                  opera ou precisa saber o que é, para que serve e como
                                  funciona o setor de seguros. Não é uma obra jurídica, nem
                                  tampouco uma obra técnica. A proposta é explicar de forma
                                  compreensível e descomplicada as tipicidades, meandros
                                  e procedimentos de uma atividade econômica complexa
                                  e pouco conhecida. Justamente por isso é um auxílio
                                  importante para segurados, seguradores, resseguradores,
                                  securitários, corretores de seguros, prestadores de serviços,
                                  operadores do direito e quem mais queira conhecer a
                                  atividade. Montado tendo por base artigos publicados nos
                                  jornais “O Estado de S. Paulo” e “Tribuna do Direito”, os
                                  textos podem ser lidos isoladamente ou como parte de uma
                                  obra maior. A razão disto é oferecer ao leitor alternativas de
                                  uma visão global ou uma visão focada num tema específico
                                  que necessite no momento.


     R$45,00*                     Sobre o autor: Antonio Penteado Mendonça
Número de páginas: 271            é advogado formado pela Faculdade de Direito do
                                  Largo São Francisco (Universidade de São Paulo), com
Adquira já seu exemplar!          especialização em seguros pela Fundação Getúlio
contato@editoraroncarati.com.br   Vargas/São Paulo. Presidente de Academia Paulista de
ou ligue: (11) 3071-1086          Letras, colunista de seguros e previdência do jornal
                                  “O Estado de São Paulo” e produtor e apresentador do
                                  programa “Seguros” da rádio Estadão/ESPN.

                                  Prefácio: Assinado por José Renato Nalini
                                  (desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo)
*
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Mudanças climáticas
e eventos extremos no
Brasil
Israel Klabin                            Marco Antonio de Simas Castro

Presidente da Fundação Brasileira        General Representative & Managing
para o Desenvolvimento                   Director Lloyd’s Brazil
Sustentável - FBDS




Prefácio fbds                            Prefácio do Lloyd’s

   A atenuação dos efeitos das mu-          Os cientistas que trabalham com
danças climáticas globais e a adap-      mudanças climáticas costumam
tação a estas são os maiores desa-       dizer que devemos esperar o ines-
fios da humanidade neste início de       perado. O Brasil passou por essa
século. O progresso econômico e          experiência pela primeira vez em
científico, que contribuiu decisiva-     2004, quando o Ciclone Catarina
mente para a solução de proble-          atingiu a costa com velocidade de
mas históricos e aumentou o nível        furacão. Os meteorologistas nunca
de bem-estar da população nas úl-        tinham visto isso antes. Parece que
timas décadas, trouxe um inimigo         o mundo hoje está tendo cada vez
desconhecido até agora. Mais do          mais eventos nunca vistos: inunda-
que nunca, dependemos da gera-           ções na Europa Central e ciclones
ção de eletricidade, do transporte       no Atlântico Sul. Por isso, precisa-
de passageiros e mercadorias, da         mos nos preparar para o inconcebí-
produção de alimentos e de outras        vel e o improvável.
conquistas de nossa civilização,
todas envolvendo a emissão de
gases do efeito estufa (GEE).




24 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
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           Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 25
Eventos climáticos
                          extremos e a limitação
                          de responsabilidade
                          pela interpretação
                          do termo “evento” em
                          seguro e resseguro

Sergio Barroso de Mello                                            fortes chuvas de verão no sudoes-
Membro do Conselho Mundial da AIDA.                                te, especialmente na cidade de São
Presidente do Comitê Ibero -                                       Paulo, com deslizamento de terras,
Latinoamericano da AIDA (CILA)
Sergiom@pellon-associados.com.br                                   inundações, desabamentos, enfim,
                                                                   estão causando forte impacto na in-
                                                                   dústria do seguro e do resseguro de
                                                                   em nosso país.

                                                                      A Limitação de Responsabilidade




                          A
                                                                   por conta da interpretação do termo
                                                                   “evento” ou “ocorrência” em sinistros
                                                                   dessa envergadura se torna essen-
                                                                   cial à boa técnica do seguro. Por
                                                                   isso a necessidade de uma perfeita
                                                                   definição de seu conceito, até mes-
                                                                   mo em razão dos termos “(sinistro)
                                                                   evento” ou “(sinistro) ocorrência” se-
                                 s mudanças climáticas ocorri-     rem usados indistintamente nas co-
                                 das no Brasil nos últimos tem-    berturas de excesso de dano por ris-
                                 pos têm dificultado as previ-     co, e nas coberturas para acúmulos
                          sões sobre suas consequências. Foi       de sinistros em seguro e resseguro.
                          assim com o “Catarina”, denomina-        Em ambos os casos o ressegurador
                          ção conferida ao furacão de catego-      assume todos os pagamentos que
                          ria 1 ou um “ciclone tropical”, com      excedem a prioridade fixada para um
                          ventos de até 150 km/h que assolou       sinistro causado por uma ocorrência.
                          a costa de Santa Catarina e a do Rio
                          Grande do Sul, cujas proporções fo-         A definição comum do termo
                          ram catastróficas. A tragédia na re-     “ocorrência” pode ser entendida
                          gião serrana do Rio de Janeiro, as       como algo que ocorre, uma aparên-

                          26 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
cia ou acontecimento, um incidente       za relatados no primeiro parágrafo,
ou evento, especialmente aquele          e políticos (terrorismo, guerra), pois
ocorrido sem ser projetado ou es-        ditos perigos podem ser segurados
perado; como uma ocorrência não          de alguma maneira. Para estes pe-
usual. A definição, contudo, não ser-    rigos e os sinistros eventualmente
ve de grande utilidade ao campo do       dele causados, o termo “evento”
contrato de resseguro de excesso de      leva a noção particular introduzida
dano. Simplesmente expressa que          especificamente com o propósito de
um sinistro ou dano a um objeto se-      realização do necessário resseguro,
gurado constitui uma ocorrência de       aplicável unicamente às relações
sinistro, e deixa de indicar quando e    comerciais entre os seguradores e
sob que condições vários sinistros       resseguradores (não de qualquer
afetando a diferentes objetos segu-      significação pelos laços contratuais
rados (seguros de danos ou patri-        entre seguradores e seus segura-
moniais) ou vários sinistros em uma      dos). Se uma tormenta danifica imó-
só apólice de responsabilidade civil     veis de uma centena de tomadores
(várias “ocorrências” de acordo com      de apólices, não será possível, para
a definição dada no contrato) podem      as reclamações destes segurados,
estar unidas para formar “um even-       decidir com seu segurador se esta
to” dentro da intenção de um con-        tormenta foi “um evento” ou se fo-
trato de seguro e/ou resseguro de        ram dois ou mais eventos, dentro do
excesso de dano. Por isso, o que se      significado de um contrato de resse-
necessita aqui é adicionar os fatores    guro. Não obstante, este aspecto é
concretos até estabelecer certa rela-    muito importante nas relações co-
ção de tempo e espaço para certo         merciais entre segurador e seu res-
grupo de ocorrência de sinistros indi-   segurador contratantes da cobertura
viduais, distinto entre este grupo e a   excesso de dano de acumulação:
multiplicidade de outras ocorrências     somente o segurador estará autori-
que afetam uma carteira de seguros.      zado a agrupar todos os sinistros e
                                         reclamar a indenização a seu resse-
    Ao ser considerado o conceito        gurador pela quantidade que exceda
de “evento” no contrato de seguro,       a prioridade, se estes sinistros tive-
será possível fazer aproximação          rem sido causados por uma mesma
diferente nas coberturas por ris-        tormenta. Assim, nas coberturas de
cos, de um lado, e nas coberturas        acúmulos, o termo “evento” é usado
de excesso de dano para acúmu-           principalmente para definir a respon-
los de sinistros, de outro. No último    sabilidade do ressegurador, sendo
caso, o ponto crucial é saber até        uma definição que pode, como um
onde numerosos sinistros individu-       efeito secundário, limitar também a
ais, ao afetarem diferentes objetos,     responsabilidade a ser suportada
podem ser atribuídos a uma causa         pelo ressegurador.
comum, uma causa capaz de permi-
tir ao segurador agrupar todos estes        A situação é diferente com as co-
sinistros para formar “um evento”.       berturas por risco. Aqui o objetivo
Esta situação surge principalmente       não é proporcionar uma interpre-
com os perigos naturais, como são        tação especial do termo “evento”,
exemplos os fenômenos da nature-         somente apropriado nas relações

                                                   Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 27
contratuais entre segurador e resse-     situa de forma a poder ser deduzi-
gurador, mas para descobrir se a de-     do quando, considerados individu-
finição da palavra “evento”, como se     almente, tenham sido causados por
usa em cada apólice original, tam-       “um evento”, permitindo agrupá-los
bém pode ser aplicada na cobertura       para formar um só sinistro que ex-
por risco, ou se é necessário introdu-   cede depois ao dedutível. Em ca-
zir a definição específica para efeito   sos excepcionais, definições de “um
de resseguro. Isto é de especial im-     evento” podem encontrar-se nas
portância já que o ressegurador nor-     apólices. Considerando o nível dos
malmente cobra um prêmio calcula-        dedutíveis alcançados usualmente,
do sobre o custo do sinistro. Sempre     um ressegurador de uma cobertura
que os prêmios são cotizados sobre       por risco (facultativo), não terá difi-
tais bases o problema que surge é        culdades aplicando a definição de
em que grau as estatísticas do custo     “um evento” usada na apólice, para
dos sinistros podem incluir sinistros    o contrato de resseguros.
de um tipo, ou magnitude não co-
nhecidos até então, no contexto res-         A segunda subcategoria será
pectivo (o “Catarina” e as chuvas na     formada pelas classes de negócios
região serrana do Rio são exemplos       onde o segurado possa ser deman-
perfeitos) e por isso não incluídos      dado por um grande número de
no custo do sinistro, mas que pode-      indivíduos, tais como o seguro de
riam cair sob a cobertura por risco,     responsabilidade civil geral. Os pro-
se ocorrerem no futuro. Por conse-       blemas passíveis de surgimento em
guinte, são essenciais as correspon-     tais casos costumam ser bastante
dentes extrapolações do custo por        significativos. O primeiro aspecto
sinistro. Na maioria dos casos, os       será como poderia regular uma série
sinistros desta classe repentinamen-     de sinistros sob um contrato de res-
te excluídos da cobertura por risco,     seguros. Em vista do crescimento
provêm de alterações na política de      importante no seguro de responsa-
subscrição. Não obstante, também         bilidade por produtos, este problema
há sinistros que podem oscilar em        passa a ter maior significação nos
magnitude dependendo de como             contratos envolvendo responsabili-
seja definido o termo “evento”.          dade civil geral (RCG). Dada a pos-
                                         sibilidade de vários sinistros ocorre-
   Em princípio, este último grupo       rem sob uma apólice de RCG, será
pode ser repartido entre duas sub-       importante verificar se dentro de um
categorias:                              curto período de tempo ou como re-
                                         sultado de uma causa, se os sinis-
   Os sinistros nos seguros de da-       tros sofridos representam, todos jun-
nos (patrimoniais) para os quais         tos, “um evento”, ou se cada sinistro
foram fixadas dedutíveis nas apóli-      é um evento separado. A resposta a
ces originais, “em qualquer evento”.     esta questão pode causar efeitos im-
Cada vez que um objeto segurado          portantes aos direitos e obrigações
por uma apólice é afetado por vários     de ambas as partes do contrato.
sinistros parciais ao mesmo tempo,
o ponto crucial estará em saber se          Mas será impossível definir an-
cada um destes sinistros parciais se     tecipada e abstratamente termos

28 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
como “um evento”, ou “uma ocorrên-        sido levados em conta como sinis-
cia”, dentro do sentido que realmen-      tros em potencial quando o prêmio
te tem um contrato de resseguro de        foi calculado. Um ressegurador des-
excesso de dano. Esta definição de-       sa modalidade deve prever desvios
penderá da natureza de cada caso.         nas indenizações por sinistros calcu-
Não se pode dizer com antecedên-          ladas como resultado dos sinistros
cia que cláusula será mais favorável      não previstos quando da entrada
a cada parte: agrupando numero-           em vigor do contrato. Uma maneira
sos sinistros para formar “um even-       de prevenir que este risco chegue
to” ou tratando-os individualmente        a ser maior do que efetivamente é,
como eventos independentes. Tudo          está em definir exatamente a exten-
dependerá do caso específico res-         são da responsabilidade assumida
pectivo, sobretudo do nível da prio-      pelo ressegurador, com ênfase em
ridade, da responsabilidade do res-       contratos onde possam ocorrer sé-
segurador na cobertura de excesso         ries de sinistros. Ditas séries possi-
de dano, assim como do número e           velmente serão consideradas como
tamanho dos sinistros sofridos.           “um evento” também sob um con-
                                          trato de excesso de dano. Portanto,
    Se for impossível definir claramen-   a definição de “um evento” em um
te por antecipação o que se conside-      contrato de resseguro dessa catego-
ra “um evento” ou “uma ocorrência” e      ria poderá ser diferente àquela usa-
se as partes de um contrato não têm       da em um contrato de seguro, o que
condições de determinar qual estipu-      não é recomendável.
lação será mais favorável para cada
uma, até que ocorra um sinistro, ne-         Outro risco para o segurador é a
nhuma parte terá o direito de tomar       possibilidade do Judiciário interpre-
uma decisão exclusiva e concluir          tar que as cláusulas da apólice de
sobre o que é “um evento” e o que         seguro cobrem uma série de sinis-
não é “um evento” no caso particu-        tros em benefício dos reclamantes
lar, pois abriria um precedente para      (segurados). Por isso estas cláusu-
a determinação totalmente arbitrária      las devem ser aplicadas de maneira
da responsabilidade da outra parte.       mais liberal e com maior extensão
                                          do que a originalmente planejada
   Em geral, o prêmio pago pelas          por seus autores. Com frequência,
coberturas de excesso de dano em          isto produz importante expansão
resseguro é calculado com a sinis-        da responsabilidade a ser suporta-
tralidade passada, especialmente          da pelo segurador e pelo ressegu-
para a responsabilidade civil geral       rador. Portanto, na prática, devem
(danos a terceiros). Logo, o resse-       ser adotadas medidas básicas para
gurador deve assegurar-se de que          evitar os problemas eventualmente
a responsabilidade por ele assumida       passíveis de serem causados por
é a cobertura de excesso de dano          esses fatos nas coberturas de res-
para compromissos futuros (até            seguro, fundamentalmente nas de
onde seja possível na prática) so-        excesso de dano.
mente ditos eventos sinistrais ocor-
ridos no passado e então incluídos           A primeira é realizar as coberturas
nas estatísticas, ou que já tenham        tradicionais de “um qualquer evento”

                                                    Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 29
e incluir cláusula especial para uma       responsabilidade máxima estipulada
série de sinistros. Esta cláusula ex-      em qualquer evento, todos os sinis-
pressa que vários sinistros ocorri-        tros em responsabilidade de produtos
dos durante a vigência da apólice,         ocorridos e cobertos por determinada
sejam em razão do resultado da             apólice de seguro, durante um perí-
mesma causa ou devido ao ofere-            odo segurado, serão considerados
cimento e ao uso de produtos com           como um só evento, com indepen-
as mesmas deficiências, serão con-         dência da causa comum ou a relação
sideradas como “um evento” dentro          interna tidas entre as partes.
do significado da cobertura, ainda
quando os casos individuais respec-           Em adição ou em lugar de uma
tivos ocorram durante um período           limitação de responsabilidade em
superior a um ano de seguro ou a           qualquer apólice, a máxima res-
um ano calendário. A ocorrência do         ponsabilidade do segurador pode
primeiro sinistro chega a ser de as-       ser restrita a todos os sinistros, em
pecto crucial, além do fato de todos       qualquer ano. Dita responsabilidade
os sinistros relacionados serem con-       máxima anual usualmente será a
siderados como uma continuação             responsabilidade máxima que o res-
da série. A responsabilidade total do      segurador tenha assumido em qual-
ressegurador, de outra ponta, esta-        quer apólice ou em qualquer risco.
rá limitada até certa quantidade por       Por isso, o propósito de dita cláusula
ano ou por apólice.                        é proteger o ressegurador da súbita
                                           e imprevista ocorrência de elevado
    As definições especiais sobre          número de sinistros graves.
ocorrência de sinistro se conside-
ram muito úteis, mas não são abso-            Este tipo de limitação é aplicado
lutamente necessárias para limitar         frequentemente nas coberturas por
a responsabilidade máxima do res-          risco, para as carteiras de seguros
segurador. Estando o ressegurador          de danos (patrimoniais), pois os ris-
preparado para aceitar a responsa-         cos simples, incluídos nestas clas-
bilidade sob um contrato de exces-         ses de negócios, podem causar flu-
so de dano até certo limite anual por      tuações no número dos sinistros sob
cada apólice, chega a ser totalmente       certa cobertura de risco, assim como
inaplicável a verificação quanto ao        o risco de guerra coberto também
fato da responsabilidade máxima as-        no risco marítimo, desviando-se da
sumida por ele estar constituída por       média no longo prazo, em elevados
vários eventos ou somente por “um          percentuais. Tais flutuações extre-
evento”. A ausência de definição           mas no número e no tamanho dos
de eventos para sinistros em série         sinistros são de fato bastante nor-
(acúmulo), nos contratos de resse-         mais nas coberturas de resseguro
guro, torna difícil descobrir a existên-   de excesso de dano para acúmulos.
cia de “relação interna” entre várias      Com frequência se apresentarão vá-
“ocorrências” ou se são atribuídas à       rios anos completamente livres de
“mesma causa”.                             sinistros e, em compensação, have-
                                           rá outros anos cujas indenizações
  Para solucionar este problema, é         superarão os prêmios anuais em 20,
aconselhável considerar-se que até a       50, 100 ou mais vezes.

30 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
Não obstante, com a possível         cionais na responsabilidade civil do
exceção das coberturas por risco,        ressegurador para todos os sinistros
baseadas em prioridades muito al-        cobertos pelo contrato de excesso
tas, que não operam até que a taxa       de dano, no curso de um ano (apar-
de sinistros chegue a ser elevada,       te dos limites anuais de sinistros, já
é provável que se espere e preve-        mencionados, aplicados para cada
ja usualmente vários sinistros, em       apólice).
cada ano sob a cobertura por risco
“normal”. O número e tamanho dos             Em síntese, os inúmeros eventos
sinistros naturalmente estarão sujei-    naturais ocorridos no Brasil nos últi-
tos a flutuações. Esta a razão pela      mos anos e a abertura do mercado
qual se impõem limites à responsa-       de resseguro levaram à inevitável
bilidade anual do ressegurador para      discussão do conceito de “evento”,
assegurar que uma cobertura por ris-     para efeito de análise das coberturas
co, compreendendo a média anual          de seguro e de resseguro. Logo, a
de três a cinco sinistros nos últimos    definição de um “evento” em sinistro
cinco anos (por conseguinte estas        é decisiva não apenas para a fixa-
serão as bases para a cotização),        ção da responsabilidade absoluta do
não estará exposta repentinamente        ressegurador, mas também para es-
a 25 ou 30 sinistros em certo ano.       tabelecer a extensão ou quantia de
Como o segurador necessita da co-        sua responsabilidade. Quando não
bertura de resseguro adequada, dito      há a definição geral de “um even-
limite de responsabilidade se combi-     to” para toda classe de sinistros (de
na usualmente com cláusula em vir-       modo que a natureza de “um evento”
tude da qual a responsabilidade do       esteja relacionada inseparavelmente
ressegurador será reinstalada, após      com os riscos segurados em cada
a quantidade anual determinada ter       caso), o valor máximo de um deter-
se esgotado, ainda que mediante o        minado sinistro assim definido pode
pagamento de prêmio adicional ou         ser determinado somente ao consi-
de reinstalação.                         derar a classe de contrato e os pe-
                                         rigos segurados em cada caso par-
   De outro lado, em responsabili-       ticular. Obviamente, tudo o que se
dade civil geral (danos a terceiros),    pode fazer a este respeito é assina-
as catástrofes normalmente afetarão      lar, em geral, os pontos que podem
somente as apólices individuais. É       ser considerados e estimar o nível
inconcebível um grande número de         que a acumulação de sinistro pode
apólices afetado pelo mesmo “even-       lograr, bem como a extensão da res-
to” de responsabilidade civil, porque,   ponsabilidade exigida sob a cobertu-
neste caso, as causas invocadas não      ra de resseguro, para séries de sinis-
são “enchentes”, “furacões”, “terre-     tros, como ocorrido com a passagem
motos”, “guerra” ou ocorrências si-      do “Catarina”, as chuvas de verão na
milares com um impacto amplo, mas        região sudeste, dentre outros even-
o comportamento de um segurado.          tos climáticos ocorridos.
Portanto, não seria conveniente, e
não tem sido praticada no ramo de
seguro de Responsabilidade Civil
Geral, a imposição de limites adi-

                                                   Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 31
Está ficando sério


Antonio Penteado Mendonça                                           século 18, mas Lisboa foi destruída
sócio de penteado mendonça                                          por um dos maiores terremotos de
advocacia, presidente da                                            que temos notícia na Europa.
academia paulista de letras e
articulista do jornal o estado                                         Faz poucos anos a cidade de
de s. paulo                                                         L’Aquila, na Itália, foi severamente
                                                                    atingida por evento desta natureza
                                                                    e na Grécia e na Turquia terremo-
                                                                    tos pequenos acontecem regu-
                                                                    larmente, dando, de tempos em
                                                                    tempos, lugar para um de grandes




                          D
                                                                    proporções.

                                                                       Ao contrário do que se pensa-
                                                                    va, não são apenas os eventos
                                                                    de origem climática que estão
                                                                    cobrando seu preço. Como que
                                                                    combinados, eventos naturais de
                                                                    todos os gêneros parece que ele-
                                  epois das chuvas torrenciais      geram o ano de 2011 para mos-
                                  que destruíram a região ser-      trar sua força, ou dar seu recado,
                                  rana do Rio de Janeiro, do        nos alertando que o grande risco
                           terremoto seguido de tsunami que         de desaparecimento não ameaça
                           varreu o Japão, dos tornados que já      o planeta, mas, se não tomarmos
                           custaram mais de 5 bilhões de dó-        cuidado, o gênero humano.
                           lares em indenizações nos Estados
                           Unidos, agora foi a vez da Espanha.         De tempos em tempos, a Ter-
                           Dois terremotos muito menores do         ra passa por movimentos cíclicos
                           que os do Japão, acontecidos qua-        que esfriam ou esquentam o pla-
                           se que um em seguida do outro,           neta. O último aconteceu há coisa
                           mataram várias pessoas e destruí-        de 10 mil anos e seu marco é o
                           ram o centro da cidade Lorca.            fim da última idade do gelo, que
                                                                    ofereceu as condições ideais para
                              Nada que não fosse possível, na       o desenvolvimento humano.
                           medida em que a maior parte da ba-
                           cia do Mediterrâneo é sujeita a ter-        O problema que se coloca não é
                           remotos. Nós não nos lembramos           a ocorrência dos eventos de origem
                           porque aconteceu em meados do            natural, climáticos ou não. O que

                           32 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
está em discussão e afeta direta-       seguros cobrindo estes riscos, no
mente a atividade seguradora inter-     ano que vem os seguros nacio-
nacional é a frequência e a violência   nais custarão mais caro.
com que eles estão acontecendo.
   2011 ainda não chegou na me-            Com certeza, as ressegurado-
tade e já assistiu a uma série im-      ras imporão contratos mais one-
pressionante de cataclismos das         rosos e com coberturas menores.
mais diversas naturezas, que ma-        Também dificultarão a contrata-
taram milhares de pessoas ao re-        ção de um belo rol de garantias,
dor do globo.                           especialmente por atividades
                                        econômicas de sinistralidade tra-
   Como a temporada dos fura-           dicionalmente mais elevada, ain-
cões nos Estados Unidos e dos           da que sem qualquer relação com
tufões no Pacífico ainda não co-        eventos de origem natural.
meçou, é evidente que os danos,
antes do final do ano, ainda cres-         Elas têm como fazer isso. Nos
cerão muito, comprometendo a            próximos anos o Brasil necessita-
capacidade de recuperação de            rá desesperadamente de cober-
algumas nações.                         turas securitárias complexas, e
                                        em valor muito alto, destinadas a
   Para a atividade seguradora a        garantirem a contratação e a exe-
sinalização é óbvia. O aumento          cução das obras da Copa do Mun-
dos sinistros cobertos decorren-        do de 2014 e das Olimpíadas de
tes dos eventos de causa natural        2016, para não falar em Pré-sal e
levará ao aumento significativo         em infraestrutura em geral.
do preço de todos os seguros, em
todas as partes do mundo.

   Não adianta discutir que tal e tal
carteira, em tal e tal país, não so-
freu qualquer aumento de sinistrali-
dade. A discussão não passa por aí.
   Como os eventos cobertos cus-
tarão pelo menos várias dezenas
de bilhões de dólares, a forma
das seguradoras e ressegurado-
ras estancarem seus prejuízos e
refazerem suas margens é subir
o preço de todos os seguros, doa
a quem doer.

  Assim, ainda que o Brasil não
contribuindo de forma pesada
para o aumento das indenizações
do mercado internacional, não por
não ser palco de eventos devas-
tadores, mas por não ter muitos

                                                 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 33
O tema que
                           não quer calar

Antonio Penteado Mendonça                                           não disse que a região está livre
sócio de penteado mendonça                                          destes eventos. E o que se sente
advocacia, presidente da                                            na pele mostra que os estudiosos
academia paulista de letras e
articulista do jornal o estado                                      dos fenômenos climáticos estão
de s. paulo                                                         corretos em manter os alertas e a
                                                                    possibilidade real destas ocorrên-
                                                                    cias bem viva nos programas de
                                                                    previsão do tempo.

                                                                       Quem imagina que as chuvas




                          N
                                                                    são boas para o campo não sabe
                                                                    do sofrimento de centenas de pro-
                                                                    dutores rurais que perderam uma
                                                                    fortuna com as plantações de soja
                                                                    destruídas pelo excesso de chuva.
                                                                       E ninguém sabe o que vai acon-
                                                                    tecer no inverno, seja no sul, no les-
                                                                    te, no norte ou no oeste.
                                    ão tem como, as mudanças
                                    climáticas se recusam a sair       A verdade indiscutível é que o cli-
                                    das pautas da imprensa em       ma mudou no mundo e mudou no
                           geral. Mal acabam as tempestades         Brasil. Se os Estados Unidos, no
                           de verão no sul e no sudeste, eis        primeiro dia da temporada, já foram
                           que já começam tempestades no            varridos por tornados gigantescos,
                           nordeste. Menos de um ano de-            o Brasil vai vendo, ano após ano,
                           pois, boa parte da Zona da Mata de       os estragos causados pelas chuvas
                           Pernambuco sofre com as chuvas           aumentarem de proporção.
                           torrenciais que inundam cidades in-
                           teiras, avançando o limite estabele-        A diferença fundamental é que
                           cido pelas chuvas do ano passado.        eles têm seguros garantindo pelo
                                                                    menos uma parte das indenizações,
                             E quem achava que o sul e o su-        enquanto nós mal e mal sabemos
                           deste estavam livres das águas e         que este tipo de garantia existe e,
                           dos ventos, precisa tomar cuidado        pior ainda, que a maioria das apó-
                           com tanto otimismo, porque o que         lices brasileiras tem vários destes
                           se vê não é exatamente isto. Pelo        riscos cobertos por suas cláusulas.
                           contrário, a meteorologia ainda             Se hoje alguém tem alguma cer-

                           34 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
teza sobre o que vai acontecer em      recentes conquistas sociais ficam
função das mudanças climáticas         ameaçadas, podendo jogar de vol-
que afetam o planeta é que ainda       ta na pobreza milhares de pessoas
vai ficar muito pior, antes de come-   que nos últimos anos ascenderam
çar a melhorar.                        socialmente.

   Para o setor de seguros é um           Várias apólices atualmente co-
cenário complexo. Com certeza as       mercializadas em poucos anos es-
indenizações vão continuar subin-      tarão superadas, tanto em abran-
do e algumas coberturas, em fun-       gência de coberturas, como em
ção da sinistralidade exacerbada,      preço. Novos produtos surgirão,
desaparecerão de lugares onde          dando nova dinâmica ao setor e re-
eram regularmente contratadas.         desenhando as regras em uso hoje.
   De outro lado, é nos momentos
mais complicados que as gran-             Entre as necessidades mais pre-
des soluções surgem e modificam        mentes está justamente um trata-
completamente realidades tidas         mento adequado dos seguros que
por imutáveis.                         cobrem as consequências das catás-
                                       trofes naturais, em todos os campos.
   O Brasil precisa de seguros. Não
só contra mudanças climáticas,            É hora de arregaçar as mangas
mas contra todo tipo de riscos. O      e desenvolver estes produtos. Com
novo patamar de desenvolvimento        o setor de resseguros aberto, não
social impõe este upgrade, inclusi-    tem sentido o país adiar a possibi-
ve porque, se ele não acontecer, as    lidade de minorar seus prejuízos.




                                                 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 35
Os eventos naturais
                         e o Resseguro de
                         Catástrofe
Rodrigo crespo                                                     dades em estado de emergência
Advogado da Stussi-Neves                                           em Santa Catarina chega a 23.
Advogados.                                                         Mais de 11.000 pessoas desaloja-
Membro da Benefit Ensurance
Lawyers Group (BILG).                                              das e desabrigadas. Ainda Janeiro
http://www.bilglawyers.com                                         de 2011. Região Serrana do Rio de
                                                                   Janeiro é devastada pelas chuvas,
                                                                   somando-se mais de 1000 mortos.

                                                                      Desastres naturais como os
                                                                   mencionados acima passaram




                         C
                                                                   infelizmente a fazer parte do coti-
                                                                   diano do Brasil nos tempos atuais.
                                                                   Vidas são ceifadas e prejuízos in-
                                                                   comensuráveis são causados. E
                                                                   como ficam as seguradoras em
                                                                   meio a esse caos?

                                                                   A função do Resseguro de
                               om dimensões continentais,          Catástrofe
                                posicionado sobre a região
                               central da placa tectônica             Embora pareça um tanto quanto
                          Sul-Americana, o Brasil é um país        óbvio, as seguradoras se valem do
                          que há muito assistiu de longe a         resseguro de catástrofe justamente
                          grandes catástrofes naturais que         para se proteger de sinistros decor-
                          devastaram cidades e dizimaram           rentes de eventos naturais catastró-
                          populações.                              ficos, tais como, tempestades, fura-
                                                                   cões, tsunamis, entre outros.
                             Com as mudanças climáticas de-
                          correntes do aquecimento global o           Ao contratar o resseguro de
                          Brasil deixa sua zona de conforto        catástrofe a seguradora limita as
                          e aos poucos vem ingressando no          consequências econômicas / finan-
                          rol dos países que sofrem significa-     ceiras decorrentes desses eventos.
                          tivas perdas de vidas e patrimônio       O aumento da sinistralidade decor-
                          em virtude desses eventos naturais       rente de um determinado evento
                          devastadores.                            natural poderá desestabilizar os
                                                                   resultados das carteiras de seguro
                              Janeiro de 2011. Número de ci-       (aumento de despesas, pagamento

                          36 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
Revista opiniao.seg   agosto de 2011
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  • 1. No 5 – Agosto de 2011 Eventos climáticos extremos
  • 2.
  • 3. F Editorial uracão em Santa Catarina, tragédia na desastre na serra fluminense eu não sei se é região serrana do Rio de Janeiro, chuvas muito natural, não”, criticando o fato de áreas fortes diárias de verão no Sudeste... de risco estarem sendo ocupadas por milhares Enchentes, alagamentos, deslizamentos, inun- de casas. dações, desabamentos... O Judiciário promoveu um seminário para fa- Mortes, pessoas feridas, desabrigadas... zer sua lição de casa pois, nas enchentes da Residências totalmente destruídas. serra fluminense tiveram que solucionar, em regime de plantão permanente, guarda de Essas são as imagens que, cada vez e com crianças, sepultamento de cadáveres, remo- mais frequência, como espectadores, assisti- ção de bens e outras medidas de urgência. A mos e nos perguntamos: “prova pericial ambiental” também foi colocada Como esses cenários poderiam ter sido evita- em debate. dos? Como residências foram construídas em Quais treinamentos devem ser promovidos e áreas que deveriam ser proibidas? Será que em quais áreas? Soube de um curso de enfer- não existe alguma forma de evacuar o local, magem ministrando aulas sobre atendimento a antecipadamente, através de previsões? O que vítimas de eventos climáticos. será dessas pessoas que perderam tudo Quais campanhas educacionais à popu- o que tinham e como conseguirão re- lação (construção em encostas, lixo no construir suas vidas? lixo, outras) poderiam ser lançadas? Com algumas exceções, e até o Quais possíveis parcerias público- momento, observamos que os mais privadas poderiam ser realizadas? carentes é que estão mais sujeitos Nesta edição da Opinião.Seg conta- aos desastres. mos com a participação de diversos O quanto o setor de seguros e seus segmentos, aos quais agradecemos. players podem ensinar e socorrer nesses Cada qual, dentro de sua esfera de atu- graves momentos!  O quanto podem mitigar es- ação, dando sua contribuição, apresentando ses impactos! soluções e alternativas: seguradoras, escritó- Os questionamentos são muitos e o assunto é rios de advocacia, atuário, regulador de sinistro, inesgotável. corretores de seguro e de resseguro, ressegu- Quais as lições já aprendidas com os desas- rador, consultores de meio ambiente e de sus- tres ocorridos? tentabilidade, de inteligência e acadêmico. O que pode ser feito, preventivamente? Encerro com a frase de Antonio Fernando Na- O que falta para o microsseguro deslanchar? varro, um dos articulistas desta edição: Quais projetos de lei tramitam no Senado sobre a questão e que poderão efetivamente contri- “Navegamos em um pequeno barco chama- buir para a solução dos problemas vividos pelas do Terra, a esmo pelo Universo, onde o pro- vítimas de enchentes e desmoronamentos? blema de um dos passageiros é o problema E quanto ao monitoramento e fiscalização das de todos.” áreas de risco? Segundo Luiz Cavalcanti, chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Pensemos! Instituto Nacional de Meteorologia, a chuva na região serrana do Rio de Janeiro não foi apenas Christina Roncarati um desastre natural. “Natural é a chuva, já o Editora Roncarati
  • 4. Índice 3 Editorial Christina Roncarati 6 Mudanças no clima e os desafios para o setor de seguros Renata Barcellos 8 Seguros e eventos climáticos extremos - Alguns comentários de natureza jurídica João Marcelo Máximo dos Santos e Felipe Reis 16 Mudanças Climáticas: Uma Nova Realidade para o Mercado de Seguro Heitor Rigueira 18 Os seguros massificados e os sinistros decorrentes de catástrofes Claudio M. Romagnolo 20 Eventos climáticos extremos e o mercado de seguros Julio Tenreiro 24 Mudanças climáticas e eventos extremos no Brasil Israel Klabin (FBDS) e Marco Antonio de Simas Castro ISSN 2176-5944 (Lloyd’s Brazil) A revista eletrônica Opinião.Seg é editada pela Editora Roncarati e distribuída gratuitamente. 26 Eventos climáticos extremos e a limitação de responsabilidade pela interpretação do termo “evento” em seguro e resseguro EDITORA RONCARATI LTDA. Sergio Barroso de Mello Fone: (11) 3071-1086 www.editoraroncarati.com.br contato@editoraroncarati.com.br 32 Está ficando sério Antonio Penteado Mendonça Os textos publicados nesta 34 O tema que não quer calar Antonio Penteado Mendonça revista são de responsabilidade única de seus autores e podem não expressar necessariamente 36 Os eventos naturais e o Resseguro a opinião desta Editora. de Catástrofe Rodrigo Crespo Projeto gráfico e diagramação: PSWOOD Design 38 O desafio de atender bem o segurado a qualquer momento Edison Kinoshita 40 Recuperação de desastres: quem paga a conta? Um roteiro para o Brasil Michel Liès
  • 5. 44 Contra eventos climáticos extremos: cuidar, para mudar comportamentos e provocar atitudes Antonio Carlos Teixeira 50 Riscos catastróficos e sua conceituação jurídica Therezinha de Jesus Corrêa Regina Augusta de Castro e Castro 60 A Calamidade e os Riscos Ricardo Ferreira Gennari 62 Aquecimento Global: Armagedon ou um caso de Indulgência Ambiental? Antonio Fernando Navarro 95 Clima para oportunidades Antony harvey Conheça os recursos de navegação da sua revista Opinião.Seg
  • 6. Mudanças no clima e os desafios para o setor de seguros Renata Barcellos Para as companhias de seguros, Gerente de Loss Control do os três juntos causaram, em três Brasil e da América Latina. meses, prejuízos de mais de US$ 100 bilhões, enquanto, na década de 1980, as perdas com esse tipo de fenômeno, nos Estados Unidos, não passaram de US$ 30 bilhões. No mundo, apenas em 2010, esti- ma-se que os prejuízos provocados por desastres naturais tenham ul- trapassado os US$ 220 bilhões. T No Brasil, eventos climáticos ex- tremos como vendavais e enchen- tes têm se tornado mais comuns, mesmo em áreas que nunca ha- viam apresentado esse risco. Nos últimos anos, tivemos como exem- plos o furacão em Santa Catarina, estemunhamos, atualmente, as chuvas no Sudeste e enchentes um momento de indícios de no Nordeste. E, segundo os pes- grandes mudanças climáti- quisadores, a tendência é que es- cas. Em termos de prejuízos mate- ses fenômenos se tornem mais fre- riais e perda de vidas humanas, o quentes e intensos nos próximos evento climático que nos vem mais anos. É um alerta que não deve rapidamente à memória é prova- ser subestimado. Dados do Cen- velmente o furacão Katrina, que tro para a Pesquisa da Epidemio- atingiu a cidade norte-americana logia de Desastres indicam que as de Nova Orleans em agosto de dez maiores catástrofes climáticas 2005. Junto com os furacões Rita, brasileiras ocorridas até 2010 afe- que atingiu a Flórida, e Wilma, que taram mais de 59 milhões de pes- atingiu o Golfo do México, respec- soas e geraram perdas de quase tivamente em setembro e outubro US$ 9 bilhões. desse mesmo ano, o Katrina é par- te da temporada de furacões mais Em boa parte, a prevenção des- ativa de que se tem notícia. ses eventos é atribuição ao poder 6 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 7. público, que deve estar atento ao Como a companhia tem forte planejamento e fiscalização das atuação nos segmentos de seguros cidades, que normalmente sofrem de propriedades e de Responsabili- com excesso de impermeabiliza- dade Civil e valoriza o atendimento ção do solo e ocupação indevida diferenciado, sua área de loss con- de áreas de risco como margens trol constitui verdadeira consultoria de rios e encostas. para os clientes, analisando riscos e fazendo recomendações de me- Mas independentemente da lhorias. Este serviço é feito por es- discussão sobre a responsabili- pecialistas em prevenção a perdas dade das atividades humanas so- e abrange todos os países de atua- bre esse novo cenário climático, ção da Chubb, inclusive o Brasil. o certo é que esses eventos têm causado destruição e morte e es- Além da consultoria, são produ- tão no foco das preocupações das zidos boletins técnicos e realizados companhias de seguros de todo o treinamentos dirigidos aos segura- mundo. De um lado, há a neces- dos. Assim, a Chubb atua de for- sidade de identificação de áreas ma preventiva e assume um papel de risco e, de outro, a precificação educativo que ajuda a conscientizar desses riscos de modo a estabe- os clientes dos riscos existentes, lecer a remuneração adequada minimizando os possíveis efeitos para manter o equilíbrio financeiro da ação humana no agravamento das companhias. desses riscos. Praticamente todas as gran- Porém é importante lembrar que des seguradoras vêm criando toda mudança oferece, ao lado do departamentos específicos para risco, novas oportunidades. De acor- o desenvolvimento de pesquisas do com a Susep (Superin­­ tendência ou têm se associado a entidades de Seguros Privados), o aumento da para produzir estudos que pos- percepção de risco fez o faturamen- sam identificar as áreas sujeitas a to das companhias com seguros re- eventos climáticos extremos e cal- sidenciais crescer 22,4% em 2010, cular os riscos decorrentes. chegando a R$ 1,267 bilhão. No caso da Chubb, que traba- Isso significa que é o momento lha principalmente com seguros de investir tempo e criatividade no voltados a pessoas físicas de alto desenvolvimento de novos produ- poder aquisitivo, o foco está no tos, tendo em mente os riscos e mapeamento das áreas de risco suas formas de controle e prote- para residências e bens como au- ção. Um exemplo são os seguros tomóveis e barcos. Dados sobre a voltados ao processo de produção região sul, que foi fortemente atin- de energia limpa, que estimulem gida por eventos climáticos a par- atividades de menor impacto am- tir de 2004, estão bastante com- biental. Na Chubb, o seguro para pletos. Atualmente, a seguradora parques de produção de energia está aprofundando os estudos so- eólica tem tido grande aceitação e bre a região sudeste. expressivo crescimento. Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 7
  • 8. Seguros e eventos climáticos extremos - Alguns comentários de natureza jurídica João Marcelo dos Santos Felipe Reis Foi Diretor e Formado na Pontifícia Superintendente-Substituto Universidade Católica da Superintendência de do Rio de janeiro em 2008, Seguros Privados – SUSEP Felipe Heine Reis atuou – e é professor de diversos como advogado na área de cursos de pós-graduação. Contencioso Civil até 2010, Atualmente, é Presidente ano em que foi para Londres do Conselho de Acadêmicos como Brazilian Lawyer  da Academia Nacional de trabalhar no Davies Arnold Seguros e Previdência – Cooper na área de Seguros e ANSP – e Sócio Responsável Resseguros. Após um estágio O pelo Setor de Seguros e profissional  de 1 mês na Resseguros do Escritório Transatlantic Reinsurance Demarest e Almeida Company e na AON, também em Advogados. Londres, retornou ao Brasil para trabalhar no Demarest e Almeida Advogados, onde está, desde janeiro de 2011, no Setor de Seguros e Resseguros. s efeitos da mudança cli- “A atenuação dos efeitos mática que vem atingindo o das mudanças climáticas glo- planeta são encarados pelos bais e a adaptação a estas cientistas como inafastáveis na re- são os maiores desafios da alidade atual, e os seus impactos humanidade neste início de na atividade do seguro e resseguro século. O progresso econômi- têm sido bastante discutidos e estu- co e científico, que contribuiu dados. Há inclusive aspectos de na- decisivamente para a solução tureza jurídica significativos, alguns de problemas históricos e au- dos quais pretendemos mencionar mentou o nível de bem-estar nesses nossos breves comentários. da população nas últimas dé- cadas, trouxe um inimigo des- Sobre a mudança climática, já conhecido até agora. Mais do se pronunciou Israel Klabin, Pre- que nunca, dependemos da sidente da Fundação Brasileira geração de eletricidade, do para o Desenvolvimento Susten- transporte de passageiros e tável - FBDS: mercadorias, da produção de 8 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 9. alimentos e de outras conquis- alterações têm grande poder tas de nossa civilização, todas de destruição, afetando mi- envolvendo a emissão de ga- lhões de pessoas e causando ses do efeito estufa (GEE). prejuízos de bilhões. Como consequência desse Nessa categoria de mudan- aumento da concentração de ças climáticas, eventos climá- GEE na atmosfera, a elevação ticos extremos – como chuvas na temperatura média do pla- intensas, vendavais e fura- neta já é uma realidade e, de cões, marés meteorológicas e acordo com o Painel Intergo- grandes secas – representam vernamental de Mudanças Cli- as forças com maior poder máticas, uma elevação de 2ºC de destruição. À intensidade na temperatura média da Terra desses eventos soma-se a parece inevitável, mesmo que dificuldade de gerenciamento todas as medidas para reduzir de planos para a adaptação e as emissões e capturar carbo- a atenuação de seus efeitos, no se concretizem. No cenário devido à impossibilidade de mais pessimista, mantendo-se prevê-los com exatidão”1. as atividades atuais, as previ- sões são de um aumento de Com efeito, assumida como pre- mais de 6°C na temperatura missa a realidade da mudança cli- média da Terra, com conse- mática, e no que se refere ao segu- quências catastróficas para os ro e resseguro, um primeiro ponto ecossistemas e a humanida- a ser considerado são as possíveis de. Embora os modelos ado- implicações da responsabilidade tem uma margem de incerte- civil para eventuais causadores de za, para a maioria dos cien- eventos climáticos extremos. tistas que estuda esse campo não restam dúvidas quanto ao Tradicionalmente, eventos cli- risco das mudanças climáticas máticos sempre foram caracteriza- e do papel humano no agrava- dos pela eventualidade, irreversibi- mento delas. lidade e inexistência de relação de causa e efeito com atividades hu- Como o equilíbrio climático manas. Tal paradigma, entretanto, do planeta é frágil, o aumen- tende a se transformar. Isso na me- to das temperaturas já regis- dida em que já há certo consenso tradas criou situações novas, na comunidade científica quanto como a redução da calota gla- ao fato de que o aumento signifi- cial, antes permanentemente cativo dos gases de efeito estufa congelada no Círculo Ártico, (GEE) na atmosfera é um fator re- e  intensificou fenômenos anti- levante para o aumento da proba- gos, como furacões no sul dos bilidade de ocorrência de eventos Estados Unidos. Todas essas climáticos extremos. 1 Retirado da rede mundial de computadores em 05/07/2011: http://www.riosvivos.org.br/Noticia/ Eventos+climaticos+extremos+no+Brasil/15581 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 9
  • 10. Com efeito, embora a análise bestos, e as enormes perdas cau- dos fatores causadores de eventos sadas, por exemplo ao Lloyds (que climáticos deva ser feita com base teve, também por causa disso, que em períodos muito longos, tais promover alterações relevantes na eventos já podem ser interpretados sua estrutura para gerenciar tais ris- como uma resposta da natureza cos) já mostraram que o longo prazo a transformações originadas pela sempre chega, especialmente para ação humana. seguradoras e resseguradores. A questão que se coloca, pois, Por isso, parece claro que a diz respeito justamente à proporção questão da responsabilidade civil, da influência humana em tais even- no que se refere a eventos climá- tos. Nesse contexto, questiona-se ticos, poderá vir a ser no futuro de se uma atividade humana mais sus- vital importância. tentável seria elemento relevante de redução de risco de ocorrência Com efeito, poderão ser ajuiza- de eventos climáticos extremos. das ações/reclamações (que nos EUA já são verificadas até com uma Naturalmente, tratamos aqui de certa frequência) por danos efetivos uma hipótese e de uma mudança de em face de empresas ou entida- paradigma a se concretizar no lon- des pela contribuição direta para a go prazo, mas no longo prazo é que emissão dos gases de efeito estufa. se deve pensar o seguro e o res- seguro. Assim, deve-se começar a Ademais, podem ser propostas cogitar do risco de que uma relação ações indiretamente relacionadas de causa e efeito entre a atividade com a mudança climática em face humana e os prejuízos causados de companhias energéticas e gran- por um evento climático específico des construtoras, envolvendo por seja objetivamente verificada. exemplo riscos seguráveis como indenização profissional (“Profes- Não se pode negar que eventual sional Indemnity”) e responsabilida- demandante/reclamante teria que de civil de diretores e administrado- apontar os causadores dos danos res - D&O (“Directors and Officers”). decorrentes de um determinado evento climático, e isso sem dúvida Como dito, hoje os argumen- não se configura, hoje, como uma tos utilizados em possíveis ações realidade próxima. De fato, seria como as exemplificadas acima ain- muito difícil identificar atualmente da seriam frágeis, diante da falta os agentes que efetivamente contri- de provas e evidências científicas buíram para um evento como esse, sobre a influência direta de ativi- principalmente se imaginarmos que dades de empresas específicas contribuições para a transformação sobre eventos extremos. Isto é, a da composição atmosférica, por comprovação do nexo causal con- exemplo, ocorrem ao longo de pe- tinua a ser um desafio para aque- ríodos muito extensos. Entretanto, les que sofrem perdas e pretendem a discussão especialmente nos Es- acionar os causadores de danos tados Unidos com relação aos as- causados por eventos extremos 10 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 11. atribuíveis, por exemplo, a emis- penal ou seguro de responsa- sões de gases de efeito estufa. bilidade civil.” (...) Nada obstante, as seguradoras e “Por exemplo, perdas não resseguradoras já podem e devem causadas diretamente pela começar a considerar a possibilida- mudança climática, mas que de real de que seus segurados en- levam a padrões mais eleva- frentem demandas relacionadas a dos de atenção por parte de responsabilidade civil pelo aqueci- grandes empresas, munici- mento global e os seus consequen- palidades, conselheiros e di- tes eventos extremos. retores e profissionais como arquitetos e advogados, etc. A Dependendo do setor, o risco responsabilidade se baseará, poderá ser substancial e as segu- em parte, em que grau o acu- radoras e resseguradores deverão sado aderiu ao crescente nú- analisar minuciosamente em que mero de leis e regulamentos extensão desejam subscrevê-lo. relacionados com a mudança climática. (...) Estes casos, Sobre esse tema, inclusive, já se em princípio, não são diferen- posicionou a Munich Re, em uma tes de outras reclamações de de suas recentes publicações2. Tal responsabilidade e constituem artigo traz uma distinção dos riscos um tópico padrão para o segu- considerados como não seguráveis ro de responsabilidade.” e aqueles considerados como se- guráveis: O estudo prossegue de maneira a definir de que forma tal respon- “A mudança climática é sabilidade pode ser efetivamente uma questão de regulamen- segurada (e consequentemente tação e não de contencioso. A ressegurada): maior parcela de emissões de gases do efeito estufa pode ser “Por enquanto, tais casos rastreada até as necessidades não desempenham um pa- dos consumidores (alimentos, pel significativo no setor de transporte, energia), tornan- seguros, mas isto poderá do cada membro da socie- mudar, por exemplo, no que dade um ‘transgressor’ e um se refere ao contencioso de reclamante em potencial si- construção civil. Em geral, a multaneamente. Os custos de- responsabilidade por danos correntes da mudança climá- relacionados a violação de re- tica podem ser alocados por gulamentos referentes a mu- meio de conceitos modernos dança climática, nesse con- de política ambiental, tal como texto, pode ser coberta pela a negociação de emissões, indústria securitária, segundo mas não através do direito termos e condições específi- 2 Munich Re Brasil - Atribuição de Eventos Climáticos Extremos: Implicações de Responsabili- dade Civil – Departamento de Casualty & Marine – Setembro/2010 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 11
  • 12. cos e contanto que não sejam por eventos climáticos extremos, de natureza sistêmica.” outro ponto importante diz respeito a maneira que esses eventos climá- Por fim, o artigo é finalizado com ticos extremos já começam a ser a visão específica da ressegurado- identificados no Brasil e as conse- ra no que se refere à responsabili- quências desse fato para o merca- dade civil em eventos extremos e do de seguros e resseguros. a consequente possibilidade dessa responsabilidade ser segurada: Os eventos climáticos extremos e sua relação com as mudanças “A mudança climática é prio- climáticas globais ainda não foram ridade em nossa agenda e as- exaustivamente estudados pela sim permanecerá. Embora não comunidade científica brasileira, esperemos ver reclamações de principalmente pela sua baixa fre- responsabilidade bem sucedi- quência. Nada obstante, transfor- das baseadas nas consequên- mações significativas já podem cias diretas da mudança climá- ser observadas. tica, vamos continuar a seguir atentamente a discussão jurídi- O Furacão Catarina, que atin- ca sobre esta questão.” giu a costa brasileira em 2004, foi o primeiro registrado no Atlântico Assim, seja pela influência hu- Sul, representando um exemplo mana direta nos eventos climáticos bastante representativo de como extremos; seja pelo desrespeito a leis as mudanças climáticas no mun- ou regulamentos, o fato relevante é do podem começar a afetar países que seguradoras e resseguradoras como o Brasil. serão cada vez mais procuradas para a subscrição de riscos de responsabi- De fato, além do aumento da fre- lidade civil por prejuízos advindos de quência e severidade dos eventos eventos climáticos extremos. climáticos, o crescimento e o de- senvolvimento da economia brasi- Por sua vez, independentemen- leira fazem com que eventuais ca- te da chance de êxito das referidas tástrofes climáticas possam gerar demandas - ou seja, da possibili- perdas maiores e mais significati- dade alta ou baixa de sinistros - as vas, afetando, por consequência, seguradoras e resseguradores de- cada vez mais, os riscos segurados verão estar atentos a extensão da e ressegurados. cobertura do risco eventualmente subscrito. Os resseguradores de- Essa é uma nova realidade que vem estar especialmente atentos deve ser considerada pelas segura- à acumulação de riscos cedidos doras e resseguradores que subs- por uma multiplicidade de segura- crevem riscos originados no País. doras que tenham subscrito riscos em última instância relativos a um Isso porque, apesar de no Brasil mesmo evento. eventos como o Furacão Catarina ainda serem raros e praticamente Além da responsabilidade civil não haver registros de exposição 12 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 13. efetiva a terremotos, alguns eventos Exemplos de inundação no climáticos extremos são verificados Brasil: com maior frequência e severidade, e já fazem parte da pauta de gran- Janeiro de 2011, região sudeste des seguradoras e resseguradoras. do Rio de Janeiro e São Paulo As inundações ocasionaram Sobre o tema, já se posicionou 665 vítimas fatais e deixaram Rolf Steiner, responsável pelas mais de 100.000 desabrigados. operações da Swiss Re no Brasil, em sua apresentação no 5º Conse- Junho de 2010, Alagoas, Que- guro, em 08/06/20113. brangulo, Pernambuco Inundações e deslizamentos As características das inunda- de terra causados pelas fortes ções e enchentes, bem como os chuvas; pontes e estradas fo- principais exemplos ocorridos no ram devastadas, pelo menos país, foram identificados da se- 54 mortos; 53 desaparecidos, guinte forma: 40.000 desabrigados; Danos financeiros de USD 602mi. “Particularidades de inundações no Brasil: Abril de 2010, Rio de Janeiro, Niterói Inundação súbita (“Flash flood”) Inundações e deslizamentos e deslizamento de terra: de terra causados por fortes – Precipitação de alta intensida- chuvas; 256 vítimas; 403 feri- de, durante várias horas ou dias. dos; 74.535 desabrigados; Da- – Pequenas áreas afetadas: nos financeiros de USD 200mi. micro-inundações em área urba- na durante a época de chuvas Janeiro de 2010, Rio de (Dez - Fev). Janeiro, Angra dos Reis, São Paulo, Minas Gerais Inundação de rios: Inundações e deslizamen- – Prolongada, precipitação abun- tos de terra causados por for- dante: transbordamento do rio. tes chuvas; Deslizamento de – Normalmente afeta áreas com terra soterra pousada e casas maiores dimensões, quanto maior em Angra dos Reis; 85 mortes; o período de chuva, maior o dano. Dano total USD 145mi. Regiões afetadas: Abril - Maio 2009, Maranhão, – Sudeste: São Paulo e Rio de Ceará, Pará, Piauí Janeiro – a região mais afetada. Inundações, deslizamentos – Sul de terra, quebra de barragem – Nordeste após as fortes chuvas; cidade – Amazônia (região oeste) Trizidela do Vale inundada; 57 mortos, 267.000 desabrigados, 3 Swiss Re - Cat Risk 2010 no Brasil e no Mundo - 5ª Conseguro - Rolf Steiner, Regional Head Brazil & Southern Cone Brasilia - 08.06.2011 Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 13
  • 14. Dano total USD 500mi. (FMI), já se prevê um crescimento real do PIB brasileiro de 4.1% por Novembro - Dezembro 2008, ano para o período de 2011 a 2015. Santa Catarina, Ilhota Inundações, deslizamentos Nesse contexto, a maior pe- de terra no Vale do Itajai cau- netração dos seguros na econo- sados pelas fortes chuvas, Por- mia em geral trará consequências to de Itajaí danificado (2º maior imediatas, principalmente levan- em movimentação de contai- do em consideração que os valo- ners); 118 mortos, 15 feridos, res das propriedades estão cada 23.000 desabrigados, USD vez maiores no Brasil. Assim, a 257mi em danos segurados, responsabilidade financeira e a con- Dano total USD 401mi”. sequente participação de empresas de seguros e resseguros deverão Como se pode notar, já se obser- aumentar significativamente em vam prejuízos objetivamente arca- futuras inundações e enchentes dos por seguradoras e ressegura- ou qualquer outro evento climático doras em razão de eventos climá- extremo. ticos, embora o valor despendido ainda possa ser considerado insig- O mercado de seguros e res- nificante se comparado com o valor seguros deverá, portanto, realizar das perdas não-seguradas. avaliações mais cuidadosas dos riscos relacionados a eventos ex- Para se ter uma ideia, estima-se tremos e do gerenciamento desses que aproximadamente 19 milhões riscos. Com novas oportunidades de pessoas (cerca de 10 % da po- de negócio, o mercado terá que se pulação brasileira) estão expostas adaptar à nova realidade e desen- ao risco de inundações de rios; e volver novas soluções. aproximadamente 14 milhões de pessoas (cerca de 7% da popula- Isso terá consequências dire- ção) estão expostas ao riscos de tas nos contratos de resseguro, inundação e enchentes súbitas. que também deverão se adaptar a essa nova realidade. Uma solu- Contudo, já se percebe um au- ção imediata seria a adaptação de mento significativo da cobertura cláusulas utilizadas no mercado in- securitária de riscos relacionados ternacional (devidamente “tropica- a eventos extremos no Brasil, prin- lizadas”) aos casos brasileiros, na cipalmente riscos de propriedade e medida em que o mercado interna- lucros cessantes. cional já tem mais experiência na cobertura de riscos ligados a even- A expansão da economia, como tos climáticos extremos. já abordado anteriormente, também constituirá importante fator de in- Em suma, as mudanças climá- centivo à maior subscrição de ris- ticas são uma realidade que cada cos relacionados a eventos extre- vez mais trará impactos para o mer- mos. Em recente estudo realizado cado de seguros e resseguros, com pelo Fundo Monetário Internacional alguns aspectos merecendo maior 14 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 15. atenção, como a questão da res- ponsabilidade civil e dos novos ris- cos a serem gerenciados. E essa deverá ser, no longo prazo uma mudança de paradigma a ser acom- panhada por todos aqueles cuja ati- vidade está associada aos seguro e resseguros, inclusive técnicos e operadores do direito. Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 15
  • 16. Mudanças Climáticas: Uma Nova Realidade para o Mercado de Seguro Heitor Rigueira Culturalmente, o Brasil não é Consultor atuarial um país onde seja comprado segu- Diretor do IBA - Instituto Brasileiro de Atuária ro de vida, mais precisamente para cobertura de morte, principalmente para o caso onde esta ocorra por catástrofe climática. Entretanto, as seguradoras têm desempenhado um importante papel protegendo E imóveis contra essas catástrofes através de seguros multirriscos, ou compreensivos, residenciais e empresariais. Todavia, esse tipo de seguro ainda não é completo, sendo necessária ainda a aquisi- ção de coberturas especiais, tanto no caso de danos, como especial- nchentes na Região Serrana mente no de vida. do Rio de Janeiro, Tsunami Nordestino, terremotos, torna- Diante desse novo panorama, dos, enchentes no Maranhão, chu- os atuários deverão incorporar no- vas de granizo, tempestade de raios, vos índices de frequência e inten- incêndios... A recente sucessão de sidade dessas catástrofes, consi- eventos naturais extremos parece derando-os tanto nos cálculos da indicar um período de mudanças cli- medição do risco como na precifi- máticas que tornam as empresas e cação das apólices. Estudos clima- famílias mais vulneráveis. tológicos indicam que a exposição ao risco de catástrofes naturais já Nos últimos quatro anos, o Bra- não pode mais ser mensurada em sil já acumulou mais desastres na- função de acontecimentos passa- turais que nos últimos vinte anos dos, sendo necessárias análises em decorrência do aquecimento prospectivas através do desenvol- global. De acordo com relatório da vimento de modelos de simulação ONU de janeiro de 2011, o país foi estocástica dos riscos. atingido por 60 catástrofes natu- rais entre os anos de 2000 e 2010, Esses modelos podem ser utili- deixando mais de 1,2 mil mortos. zados em duas vertentes. Através 16 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 17. de estudos meteorológicos será todo o trabalho atuarial é necessá- possível identificar: ria uma conscientização por par- te das empresas em ajudar a so- i. Variáveis (parâmetros) a serem ciedade (população e empresas) considerados em novos mode- na administração do problema do los a serem elaborados, obten- aquecimento global. Por exemplo, do-se assim valores mais justos adoção de fontes renováveis de para prêmio a ser cobrado ao energia, emissão de documentos segurado; eletrônicos de contratos são for- mas de incentivo. ii. Probabilidade de tal catástrofe ocorrer em determinado lugar, A atividade seguradora brasilei- colocando-se assim essa pos- ra deve crescer nos próximos anos, sibilidade de ocorrência como abrindo espaço para o lançamento uma variável relevante na preci- de novas coberturas nas apólices, ficação do seguro. estudadas através de simulações. Além disso, as seguradoras Além disso, com a abertura do também poderiam garantir a capa- resseguro, o Brasil se tornou um cidade de resseguro, mitigando-se mercado mais interessante e com- assim o risco de não pagamento petitivo. Sendo assim, será possível na ocorrência do evento. oferecer capacidade e tecnologias estrangeiras para que as segurado- Muitas empresas do mercado já ras possam cobrir de forma justa e estão adaptando seu portfólio de embasada as catástrofes climáticas produtos e serviços, mas além de que podem surgir no Brasil. Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 17
  • 18. Os seguros massificados e os sinistros decorrentes de catástrofes CLAUDIO M. ROMAGNOLO de estrutura das seguradoras, mas ADVOGADO E DIRETOR TÉCNICO DE RAMOS também com circunstâncias muito ELEMENTARES DA JOPEMA SERVIÇOS peculiares às quais são submetidos TÉCNICOS DE SINISTROS. os clientes. Experiências de atendimentos a sinistros de catástrofes demonstram que as operações tradicionais não suprem as reais necessidades de quem teve seu patrimônio sinistra- A do de forma devastadora. Os canais normais de atendimento das segura- doras quase sempre deixam de ser uma opção em face do comprome- timento das estruturas de comuni- cação e até locomoção nas cidades atingidas, sem falar que as segurado- ras e suas unidades de atendimento s facilidades proporcionadas também podem ser sinistradas e se com a massificação dos pro- tornarem inoperantes na localidade cessos de venda de seguros atingida. Considera-se ainda o as- e o aumento das catástrofes da na- pecto emocional das vítimas que, em tureza, tanto em quantidade como quase todos os casos atendidos, es- em intensidade, se tornam a cada tão completamente tomadas por pre- dia um desafio maior para os mo- ocupações óbvias e até com o desa- delos de atendimento aos clientes parecimento ou morte de familiares e em casos de eventos que atingem quase sempre sequer se recordam um grande número de segurados da existência do seguro. de uma única vez. O atendimento receptivo, com os Em situações como, por exem- tradicionais avisos de sinistros feitos plo, a ocorrida na região serrana do por parte dos segurados, tem dado Estado do Rio de Janeiro nos depa- espaço a uma postura pró-ativa em ramos não apenas com a necessi- face dos aspectos citados anterior- dade de disponibilizar atendimento mente. Destaque tem de ser dado, em proporção bem maior do que as com ótimos resultados em experi- comumente oferecidas nos padrões ências recentes, ao deslocamento 18 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 19. de reguladores de sinistros até os de limpezas e higienização de locais atingidos à procura dos se- imóvel, chaveiros, eletricistas, etc. gurados não apenas identificando a são de muita utilidade no momen- ocorrência dos danos, mas, e princi- to posterior ao sinistro. Nos ca- palmente, informando ao cliente so- sos de residências e empresas, o bre a existência do seguro, respec- restabelecimento das condições tivas indenizações existentes e os de habitação e funcionamento vários tipos de serviços disponíveis é fundamental e nesse aspecto, que são associados às coberturas com o atendimento diferenciado e das apólices. imediato, além das indenizações quando devidas, é que o seguro Muitas vezes os serviços de pode surpreender e superar as ex- assistência ao segurado, como pectativas do cliente. Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 19
  • 20. Eventos climáticos extremos e o mercado de seguros Julio Tenreiro Segundo a resseguradora, as Diretor de Ramos Elementares maiores perdas foram as do terre- da Korsa Corretora de Seguros moto e tsunami, que atingiram o Japão em março deste ano. Essa catástrofe natural já é considera- da o maior impacto econômico da história, com uma perda estimada em US$ 210 bilhões. A maior per- da, até então, era atribuída ao fu- racão Katrina, em 2005, que res- C pondeu por US$ 125 bilhões. Em um cenário onde temos a combinação frequência de ocor- rência com aumento dos prejuí- zos, como o mercado de seguros pode, ao mesmo tempo, oferecer soluções de cobertura e manter a ada vez mais recebemos no- solvência e a saúde financeira das tícias e informações sobre a suas instituições? Antes de qual- ocorrência de eventos cli- quer coisa vamos entender como máticos extremos no mundo. Fica os contratos de seguro tratam a a constatação de que houve um questão dos eventos da natureza. aumento significativo da quantida- de, intensidade e regiões afetadas O mercado disponibiliza cober- por tais eventos. Os números que turas como alagamento, vendaval o mercado segurador traz para a e até terremoto, mas não de forma sociedade refletem esse cenário. automática. Na maioria dos casos há uma análise do risco e, a par- De acordo com dados divul- tir daí, pode-se ou não conceder gados pela resseguradora alemã a cobertura ou definir alguma li- Munich Re, a perda acumulada mitação do valor segurado. Existe até junho de 2011 alcançou US$ ainda uma preocupação das se- 265 bilhões, enquanto todo o ano guradoras em protegerem as suas de 2005, considerado o recorde exposições através de coberturas de prejuízos de catástrofes natu- de catástrofes em contratos de rais, registrou US$ 220 bilhões. resseguro, o que limita a perda e 20 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 21. o excedente é “pulverizado” entre Outro ponto importante diz res- os resseguradores. peito à forma como a própria so- ciedade pode contribuir para a Mas como ficam os clientes diminuição dos riscos. Em todo o que não conseguiram cobrir nas período de chuvas e consequen- suas apólices de seguro os riscos temente de enchentes vemos um relacionados às catástrofes natu- sem número de objetos e lixo rais? Irão expor os seus ativos a boiando nos rios, córregos e ruas sua própria sorte? Ou depende- alagadas. rão exclusivamente do poder pú- blico que, na grande maioria das O mercado segurador pode, e vezes, não consegue atender com deve, ajudar no sentido de me- a velocidade e intensidade que a lhorar o acesso dos clientes a catástrofe natural exige? tais coberturas. As seguradoras possuem dados estatísticos que Temos aí questões que ultra- ajudam muito nesse trabalho. As passam o próprio mercado de se- empresas têm conhecimento não guros e começa em um momento só teórico como prático — os si- anterior. Muitas vezes identifica- nistros ocorridos permitem essa mos que falta planejamento para visão — para indicar inclusive as questões mais básicas. Senão possíveis ações de melhoria e/ou como permitir a construção em mitigação de risco e ofertar cober- áreas de encostas ou regiões em turas acessíveis a todos. que já são conhecidos os riscos de desmoronamento, alagamento Os consultores/corretores de etc? Como as cidades crescem de seguros devem sempre estar aten- forma desordenada sem que haja tos para os riscos dos seus clien- políticas claras quanto ao seu di- tes e avaliar se as apólices hoje mensionamento? Ou ainda: onde contratadas atendem a estas ex- estão as estruturas mínimas para, posições. Não basta simplesmen- já que não é possível evitar, pelo te alertar o cliente de que não há menos minimizar as perdas com cobertura, mas ajudá-lo no senti- tais catástrofes? Como utilizar de do de conhecer os seus riscos, forma mais inteligente a tecno- melhorar a qualidade deles e com logia no sentido de prevenir, ou isso buscar protegê-los através mesmo, avisar com antecedência de apólices melhor elaboradas. A às pessoas da iminência de um transferência de risco através de desastre natural? Neste aspec- contratação de seguro é apenas to, o terremoto, ocorrido no Japão uma das possibilidades de geren- em março deste ano, demonstrou ciamento de risco; existem, en- que os alertas emitidos pelas au- tretanto, outras ferramentas que toridades permitiram que milhares podem ser aplicadas no sentido de pessoas saíssem das áreas de prover ao segurado o conheci- de risco e pudessem se deslocar mento das suas exposições. para regiões mais seguras, evi- tando assim uma quantidade mui- A sociedade como um todo deve to maior de mortes. estar atenta aos poderes públicos Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 21
  • 22. no sentido de cobrar e exigir políti- Em resumo, não é o segmento cas públicas que tragam tranquili- apenas que tem que agir para me- dade e proteção para a população. lhorar o nível de proteção dos riscos, Da mesma forma, cada um pode mas a sociedade como um todo. A participar para tentar diminuir os única certeza que temos, infeliz- riscos. Não podemos esquecer mente, é que as catástrofes naturais que nós temos uma parcela de continuarão acontecendo e, já que contribuição na ocorrência destes não podemos evitá-las, temos que fatos, já que os danos que esta- melhorar as formas de proteção. mos causando ao planeta voltam de alguma maneira. 22 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 23. 2ª edição revista e atualizada Sinopse do livro: O livro faz, através de textos específicos, uma análise da situação atual das atividades de seguros, resseguros, previdência privada aberta e planos de saúde privados no Brasil. A obra serve de apoio para quem opera ou precisa saber o que é, para que serve e como funciona o setor de seguros. Não é uma obra jurídica, nem tampouco uma obra técnica. A proposta é explicar de forma compreensível e descomplicada as tipicidades, meandros e procedimentos de uma atividade econômica complexa e pouco conhecida. Justamente por isso é um auxílio importante para segurados, seguradores, resseguradores, securitários, corretores de seguros, prestadores de serviços, operadores do direito e quem mais queira conhecer a atividade. Montado tendo por base artigos publicados nos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Tribuna do Direito”, os textos podem ser lidos isoladamente ou como parte de uma obra maior. A razão disto é oferecer ao leitor alternativas de uma visão global ou uma visão focada num tema específico que necessite no momento. R$45,00* Sobre o autor: Antonio Penteado Mendonça Número de páginas: 271 é advogado formado pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco (Universidade de São Paulo), com Adquira já seu exemplar! especialização em seguros pela Fundação Getúlio contato@editoraroncarati.com.br Vargas/São Paulo. Presidente de Academia Paulista de ou ligue: (11) 3071-1086 Letras, colunista de seguros e previdência do jornal “O Estado de São Paulo” e produtor e apresentador do programa “Seguros” da rádio Estadão/ESPN. Prefácio: Assinado por José Renato Nalini (desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo) * Mais valor do frete
  • 24. Mudanças climáticas e eventos extremos no Brasil Israel Klabin Marco Antonio de Simas Castro Presidente da Fundação Brasileira General Representative & Managing para o Desenvolvimento Director Lloyd’s Brazil Sustentável - FBDS Prefácio fbds Prefácio do Lloyd’s A atenuação dos efeitos das mu- Os cientistas que trabalham com danças climáticas globais e a adap- mudanças climáticas costumam tação a estas são os maiores desa- dizer que devemos esperar o ines- fios da humanidade neste início de perado. O Brasil passou por essa século. O progresso econômico e experiência pela primeira vez em científico, que contribuiu decisiva- 2004, quando o Ciclone Catarina mente para a solução de proble- atingiu a costa com velocidade de mas históricos e aumentou o nível furacão. Os meteorologistas nunca de bem-estar da população nas úl- tinham visto isso antes. Parece que timas décadas, trouxe um inimigo o mundo hoje está tendo cada vez desconhecido até agora. Mais do mais eventos nunca vistos: inunda- que nunca, dependemos da gera- ções na Europa Central e ciclones ção de eletricidade, do transporte no Atlântico Sul. Por isso, precisa- de passageiros e mercadorias, da mos nos preparar para o inconcebí- produção de alimentos e de outras vel e o improvável. conquistas de nossa civilização, todas envolvendo a emissão de gases do efeito estufa (GEE). 24 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 25. Para ler mais, clique aqui Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 25
  • 26. Eventos climáticos extremos e a limitação de responsabilidade pela interpretação do termo “evento” em seguro e resseguro Sergio Barroso de Mello fortes chuvas de verão no sudoes- Membro do Conselho Mundial da AIDA. te, especialmente na cidade de São Presidente do Comitê Ibero - Paulo, com deslizamento de terras, Latinoamericano da AIDA (CILA) Sergiom@pellon-associados.com.br inundações, desabamentos, enfim, estão causando forte impacto na in- dústria do seguro e do resseguro de em nosso país. A Limitação de Responsabilidade A por conta da interpretação do termo “evento” ou “ocorrência” em sinistros dessa envergadura se torna essen- cial à boa técnica do seguro. Por isso a necessidade de uma perfeita definição de seu conceito, até mes- mo em razão dos termos “(sinistro) evento” ou “(sinistro) ocorrência” se- s mudanças climáticas ocorri- rem usados indistintamente nas co- das no Brasil nos últimos tem- berturas de excesso de dano por ris- pos têm dificultado as previ- co, e nas coberturas para acúmulos sões sobre suas consequências. Foi de sinistros em seguro e resseguro. assim com o “Catarina”, denomina- Em ambos os casos o ressegurador ção conferida ao furacão de catego- assume todos os pagamentos que ria 1 ou um “ciclone tropical”, com excedem a prioridade fixada para um ventos de até 150 km/h que assolou sinistro causado por uma ocorrência. a costa de Santa Catarina e a do Rio Grande do Sul, cujas proporções fo- A definição comum do termo ram catastróficas. A tragédia na re- “ocorrência” pode ser entendida gião serrana do Rio de Janeiro, as como algo que ocorre, uma aparên- 26 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 27. cia ou acontecimento, um incidente za relatados no primeiro parágrafo, ou evento, especialmente aquele e políticos (terrorismo, guerra), pois ocorrido sem ser projetado ou es- ditos perigos podem ser segurados perado; como uma ocorrência não de alguma maneira. Para estes pe- usual. A definição, contudo, não ser- rigos e os sinistros eventualmente ve de grande utilidade ao campo do dele causados, o termo “evento” contrato de resseguro de excesso de leva a noção particular introduzida dano. Simplesmente expressa que especificamente com o propósito de um sinistro ou dano a um objeto se- realização do necessário resseguro, gurado constitui uma ocorrência de aplicável unicamente às relações sinistro, e deixa de indicar quando e comerciais entre os seguradores e sob que condições vários sinistros resseguradores (não de qualquer afetando a diferentes objetos segu- significação pelos laços contratuais rados (seguros de danos ou patri- entre seguradores e seus segura- moniais) ou vários sinistros em uma dos). Se uma tormenta danifica imó- só apólice de responsabilidade civil veis de uma centena de tomadores (várias “ocorrências” de acordo com de apólices, não será possível, para a definição dada no contrato) podem as reclamações destes segurados, estar unidas para formar “um even- decidir com seu segurador se esta to” dentro da intenção de um con- tormenta foi “um evento” ou se fo- trato de seguro e/ou resseguro de ram dois ou mais eventos, dentro do excesso de dano. Por isso, o que se significado de um contrato de resse- necessita aqui é adicionar os fatores guro. Não obstante, este aspecto é concretos até estabelecer certa rela- muito importante nas relações co- ção de tempo e espaço para certo merciais entre segurador e seu res- grupo de ocorrência de sinistros indi- segurador contratantes da cobertura viduais, distinto entre este grupo e a excesso de dano de acumulação: multiplicidade de outras ocorrências somente o segurador estará autori- que afetam uma carteira de seguros. zado a agrupar todos os sinistros e reclamar a indenização a seu resse- Ao ser considerado o conceito gurador pela quantidade que exceda de “evento” no contrato de seguro, a prioridade, se estes sinistros tive- será possível fazer aproximação rem sido causados por uma mesma diferente nas coberturas por ris- tormenta. Assim, nas coberturas de cos, de um lado, e nas coberturas acúmulos, o termo “evento” é usado de excesso de dano para acúmu- principalmente para definir a respon- los de sinistros, de outro. No último sabilidade do ressegurador, sendo caso, o ponto crucial é saber até uma definição que pode, como um onde numerosos sinistros individu- efeito secundário, limitar também a ais, ao afetarem diferentes objetos, responsabilidade a ser suportada podem ser atribuídos a uma causa pelo ressegurador. comum, uma causa capaz de permi- tir ao segurador agrupar todos estes A situação é diferente com as co- sinistros para formar “um evento”. berturas por risco. Aqui o objetivo Esta situação surge principalmente não é proporcionar uma interpre- com os perigos naturais, como são tação especial do termo “evento”, exemplos os fenômenos da nature- somente apropriado nas relações Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 27
  • 28. contratuais entre segurador e resse- situa de forma a poder ser deduzi- gurador, mas para descobrir se a de- do quando, considerados individu- finição da palavra “evento”, como se almente, tenham sido causados por usa em cada apólice original, tam- “um evento”, permitindo agrupá-los bém pode ser aplicada na cobertura para formar um só sinistro que ex- por risco, ou se é necessário introdu- cede depois ao dedutível. Em ca- zir a definição específica para efeito sos excepcionais, definições de “um de resseguro. Isto é de especial im- evento” podem encontrar-se nas portância já que o ressegurador nor- apólices. Considerando o nível dos malmente cobra um prêmio calcula- dedutíveis alcançados usualmente, do sobre o custo do sinistro. Sempre um ressegurador de uma cobertura que os prêmios são cotizados sobre por risco (facultativo), não terá difi- tais bases o problema que surge é culdades aplicando a definição de em que grau as estatísticas do custo “um evento” usada na apólice, para dos sinistros podem incluir sinistros o contrato de resseguros. de um tipo, ou magnitude não co- nhecidos até então, no contexto res- A segunda subcategoria será pectivo (o “Catarina” e as chuvas na formada pelas classes de negócios região serrana do Rio são exemplos onde o segurado possa ser deman- perfeitos) e por isso não incluídos dado por um grande número de no custo do sinistro, mas que pode- indivíduos, tais como o seguro de riam cair sob a cobertura por risco, responsabilidade civil geral. Os pro- se ocorrerem no futuro. Por conse- blemas passíveis de surgimento em guinte, são essenciais as correspon- tais casos costumam ser bastante dentes extrapolações do custo por significativos. O primeiro aspecto sinistro. Na maioria dos casos, os será como poderia regular uma série sinistros desta classe repentinamen- de sinistros sob um contrato de res- te excluídos da cobertura por risco, seguros. Em vista do crescimento provêm de alterações na política de importante no seguro de responsa- subscrição. Não obstante, também bilidade por produtos, este problema há sinistros que podem oscilar em passa a ter maior significação nos magnitude dependendo de como contratos envolvendo responsabili- seja definido o termo “evento”. dade civil geral (RCG). Dada a pos- sibilidade de vários sinistros ocorre- Em princípio, este último grupo rem sob uma apólice de RCG, será pode ser repartido entre duas sub- importante verificar se dentro de um categorias: curto período de tempo ou como re- sultado de uma causa, se os sinis- Os sinistros nos seguros de da- tros sofridos representam, todos jun- nos (patrimoniais) para os quais tos, “um evento”, ou se cada sinistro foram fixadas dedutíveis nas apóli- é um evento separado. A resposta a ces originais, “em qualquer evento”. esta questão pode causar efeitos im- Cada vez que um objeto segurado portantes aos direitos e obrigações por uma apólice é afetado por vários de ambas as partes do contrato. sinistros parciais ao mesmo tempo, o ponto crucial estará em saber se Mas será impossível definir an- cada um destes sinistros parciais se tecipada e abstratamente termos 28 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 29. como “um evento”, ou “uma ocorrên- sido levados em conta como sinis- cia”, dentro do sentido que realmen- tros em potencial quando o prêmio te tem um contrato de resseguro de foi calculado. Um ressegurador des- excesso de dano. Esta definição de- sa modalidade deve prever desvios penderá da natureza de cada caso. nas indenizações por sinistros calcu- Não se pode dizer com antecedên- ladas como resultado dos sinistros cia que cláusula será mais favorável não previstos quando da entrada a cada parte: agrupando numero- em vigor do contrato. Uma maneira sos sinistros para formar “um even- de prevenir que este risco chegue to” ou tratando-os individualmente a ser maior do que efetivamente é, como eventos independentes. Tudo está em definir exatamente a exten- dependerá do caso específico res- são da responsabilidade assumida pectivo, sobretudo do nível da prio- pelo ressegurador, com ênfase em ridade, da responsabilidade do res- contratos onde possam ocorrer sé- segurador na cobertura de excesso ries de sinistros. Ditas séries possi- de dano, assim como do número e velmente serão consideradas como tamanho dos sinistros sofridos. “um evento” também sob um con- trato de excesso de dano. Portanto, Se for impossível definir claramen- a definição de “um evento” em um te por antecipação o que se conside- contrato de resseguro dessa catego- ra “um evento” ou “uma ocorrência” e ria poderá ser diferente àquela usa- se as partes de um contrato não têm da em um contrato de seguro, o que condições de determinar qual estipu- não é recomendável. lação será mais favorável para cada uma, até que ocorra um sinistro, ne- Outro risco para o segurador é a nhuma parte terá o direito de tomar possibilidade do Judiciário interpre- uma decisão exclusiva e concluir tar que as cláusulas da apólice de sobre o que é “um evento” e o que seguro cobrem uma série de sinis- não é “um evento” no caso particu- tros em benefício dos reclamantes lar, pois abriria um precedente para (segurados). Por isso estas cláusu- a determinação totalmente arbitrária las devem ser aplicadas de maneira da responsabilidade da outra parte. mais liberal e com maior extensão do que a originalmente planejada Em geral, o prêmio pago pelas por seus autores. Com frequência, coberturas de excesso de dano em isto produz importante expansão resseguro é calculado com a sinis- da responsabilidade a ser suporta- tralidade passada, especialmente da pelo segurador e pelo ressegu- para a responsabilidade civil geral rador. Portanto, na prática, devem (danos a terceiros). Logo, o resse- ser adotadas medidas básicas para gurador deve assegurar-se de que evitar os problemas eventualmente a responsabilidade por ele assumida passíveis de serem causados por é a cobertura de excesso de dano esses fatos nas coberturas de res- para compromissos futuros (até seguro, fundamentalmente nas de onde seja possível na prática) so- excesso de dano. mente ditos eventos sinistrais ocor- ridos no passado e então incluídos A primeira é realizar as coberturas nas estatísticas, ou que já tenham tradicionais de “um qualquer evento” Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 29
  • 30. e incluir cláusula especial para uma responsabilidade máxima estipulada série de sinistros. Esta cláusula ex- em qualquer evento, todos os sinis- pressa que vários sinistros ocorri- tros em responsabilidade de produtos dos durante a vigência da apólice, ocorridos e cobertos por determinada sejam em razão do resultado da apólice de seguro, durante um perí- mesma causa ou devido ao ofere- odo segurado, serão considerados cimento e ao uso de produtos com como um só evento, com indepen- as mesmas deficiências, serão con- dência da causa comum ou a relação sideradas como “um evento” dentro interna tidas entre as partes. do significado da cobertura, ainda quando os casos individuais respec- Em adição ou em lugar de uma tivos ocorram durante um período limitação de responsabilidade em superior a um ano de seguro ou a qualquer apólice, a máxima res- um ano calendário. A ocorrência do ponsabilidade do segurador pode primeiro sinistro chega a ser de as- ser restrita a todos os sinistros, em pecto crucial, além do fato de todos qualquer ano. Dita responsabilidade os sinistros relacionados serem con- máxima anual usualmente será a siderados como uma continuação responsabilidade máxima que o res- da série. A responsabilidade total do segurador tenha assumido em qual- ressegurador, de outra ponta, esta- quer apólice ou em qualquer risco. rá limitada até certa quantidade por Por isso, o propósito de dita cláusula ano ou por apólice. é proteger o ressegurador da súbita e imprevista ocorrência de elevado As definições especiais sobre número de sinistros graves. ocorrência de sinistro se conside- ram muito úteis, mas não são abso- Este tipo de limitação é aplicado lutamente necessárias para limitar frequentemente nas coberturas por a responsabilidade máxima do res- risco, para as carteiras de seguros segurador. Estando o ressegurador de danos (patrimoniais), pois os ris- preparado para aceitar a responsa- cos simples, incluídos nestas clas- bilidade sob um contrato de exces- ses de negócios, podem causar flu- so de dano até certo limite anual por tuações no número dos sinistros sob cada apólice, chega a ser totalmente certa cobertura de risco, assim como inaplicável a verificação quanto ao o risco de guerra coberto também fato da responsabilidade máxima as- no risco marítimo, desviando-se da sumida por ele estar constituída por média no longo prazo, em elevados vários eventos ou somente por “um percentuais. Tais flutuações extre- evento”. A ausência de definição mas no número e no tamanho dos de eventos para sinistros em série sinistros são de fato bastante nor- (acúmulo), nos contratos de resse- mais nas coberturas de resseguro guro, torna difícil descobrir a existên- de excesso de dano para acúmulos. cia de “relação interna” entre várias Com frequência se apresentarão vá- “ocorrências” ou se são atribuídas à rios anos completamente livres de “mesma causa”. sinistros e, em compensação, have- rá outros anos cujas indenizações Para solucionar este problema, é superarão os prêmios anuais em 20, aconselhável considerar-se que até a 50, 100 ou mais vezes. 30 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 31. Não obstante, com a possível cionais na responsabilidade civil do exceção das coberturas por risco, ressegurador para todos os sinistros baseadas em prioridades muito al- cobertos pelo contrato de excesso tas, que não operam até que a taxa de dano, no curso de um ano (apar- de sinistros chegue a ser elevada, te dos limites anuais de sinistros, já é provável que se espere e preve- mencionados, aplicados para cada ja usualmente vários sinistros, em apólice). cada ano sob a cobertura por risco “normal”. O número e tamanho dos Em síntese, os inúmeros eventos sinistros naturalmente estarão sujei- naturais ocorridos no Brasil nos últi- tos a flutuações. Esta a razão pela mos anos e a abertura do mercado qual se impõem limites à responsa- de resseguro levaram à inevitável bilidade anual do ressegurador para discussão do conceito de “evento”, assegurar que uma cobertura por ris- para efeito de análise das coberturas co, compreendendo a média anual de seguro e de resseguro. Logo, a de três a cinco sinistros nos últimos definição de um “evento” em sinistro cinco anos (por conseguinte estas é decisiva não apenas para a fixa- serão as bases para a cotização), ção da responsabilidade absoluta do não estará exposta repentinamente ressegurador, mas também para es- a 25 ou 30 sinistros em certo ano. tabelecer a extensão ou quantia de Como o segurador necessita da co- sua responsabilidade. Quando não bertura de resseguro adequada, dito há a definição geral de “um even- limite de responsabilidade se combi- to” para toda classe de sinistros (de na usualmente com cláusula em vir- modo que a natureza de “um evento” tude da qual a responsabilidade do esteja relacionada inseparavelmente ressegurador será reinstalada, após com os riscos segurados em cada a quantidade anual determinada ter caso), o valor máximo de um deter- se esgotado, ainda que mediante o minado sinistro assim definido pode pagamento de prêmio adicional ou ser determinado somente ao consi- de reinstalação. derar a classe de contrato e os pe- rigos segurados em cada caso par- De outro lado, em responsabili- ticular. Obviamente, tudo o que se dade civil geral (danos a terceiros), pode fazer a este respeito é assina- as catástrofes normalmente afetarão lar, em geral, os pontos que podem somente as apólices individuais. É ser considerados e estimar o nível inconcebível um grande número de que a acumulação de sinistro pode apólices afetado pelo mesmo “even- lograr, bem como a extensão da res- to” de responsabilidade civil, porque, ponsabilidade exigida sob a cobertu- neste caso, as causas invocadas não ra de resseguro, para séries de sinis- são “enchentes”, “furacões”, “terre- tros, como ocorrido com a passagem motos”, “guerra” ou ocorrências si- do “Catarina”, as chuvas de verão na milares com um impacto amplo, mas região sudeste, dentre outros even- o comportamento de um segurado. tos climáticos ocorridos. Portanto, não seria conveniente, e não tem sido praticada no ramo de seguro de Responsabilidade Civil Geral, a imposição de limites adi- Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 31
  • 32. Está ficando sério Antonio Penteado Mendonça século 18, mas Lisboa foi destruída sócio de penteado mendonça por um dos maiores terremotos de advocacia, presidente da que temos notícia na Europa. academia paulista de letras e articulista do jornal o estado Faz poucos anos a cidade de de s. paulo L’Aquila, na Itália, foi severamente atingida por evento desta natureza e na Grécia e na Turquia terremo- tos pequenos acontecem regu- larmente, dando, de tempos em tempos, lugar para um de grandes D proporções. Ao contrário do que se pensa- va, não são apenas os eventos de origem climática que estão cobrando seu preço. Como que combinados, eventos naturais de todos os gêneros parece que ele- epois das chuvas torrenciais geram o ano de 2011 para mos- que destruíram a região ser- trar sua força, ou dar seu recado, rana do Rio de Janeiro, do nos alertando que o grande risco terremoto seguido de tsunami que de desaparecimento não ameaça varreu o Japão, dos tornados que já o planeta, mas, se não tomarmos custaram mais de 5 bilhões de dó- cuidado, o gênero humano. lares em indenizações nos Estados Unidos, agora foi a vez da Espanha. De tempos em tempos, a Ter- Dois terremotos muito menores do ra passa por movimentos cíclicos que os do Japão, acontecidos qua- que esfriam ou esquentam o pla- se que um em seguida do outro, neta. O último aconteceu há coisa mataram várias pessoas e destruí- de 10 mil anos e seu marco é o ram o centro da cidade Lorca. fim da última idade do gelo, que ofereceu as condições ideais para Nada que não fosse possível, na o desenvolvimento humano. medida em que a maior parte da ba- cia do Mediterrâneo é sujeita a ter- O problema que se coloca não é remotos. Nós não nos lembramos a ocorrência dos eventos de origem porque aconteceu em meados do natural, climáticos ou não. O que 32 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 33. está em discussão e afeta direta- seguros cobrindo estes riscos, no mente a atividade seguradora inter- ano que vem os seguros nacio- nacional é a frequência e a violência nais custarão mais caro. com que eles estão acontecendo. 2011 ainda não chegou na me- Com certeza, as ressegurado- tade e já assistiu a uma série im- ras imporão contratos mais one- pressionante de cataclismos das rosos e com coberturas menores. mais diversas naturezas, que ma- Também dificultarão a contrata- taram milhares de pessoas ao re- ção de um belo rol de garantias, dor do globo. especialmente por atividades econômicas de sinistralidade tra- Como a temporada dos fura- dicionalmente mais elevada, ain- cões nos Estados Unidos e dos da que sem qualquer relação com tufões no Pacífico ainda não co- eventos de origem natural. meçou, é evidente que os danos, antes do final do ano, ainda cres- Elas têm como fazer isso. Nos cerão muito, comprometendo a próximos anos o Brasil necessita- capacidade de recuperação de rá desesperadamente de cober- algumas nações. turas securitárias complexas, e em valor muito alto, destinadas a Para a atividade seguradora a garantirem a contratação e a exe- sinalização é óbvia. O aumento cução das obras da Copa do Mun- dos sinistros cobertos decorren- do de 2014 e das Olimpíadas de tes dos eventos de causa natural 2016, para não falar em Pré-sal e levará ao aumento significativo em infraestrutura em geral. do preço de todos os seguros, em todas as partes do mundo. Não adianta discutir que tal e tal carteira, em tal e tal país, não so- freu qualquer aumento de sinistrali- dade. A discussão não passa por aí. Como os eventos cobertos cus- tarão pelo menos várias dezenas de bilhões de dólares, a forma das seguradoras e ressegurado- ras estancarem seus prejuízos e refazerem suas margens é subir o preço de todos os seguros, doa a quem doer. Assim, ainda que o Brasil não contribuindo de forma pesada para o aumento das indenizações do mercado internacional, não por não ser palco de eventos devas- tadores, mas por não ter muitos Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 33
  • 34. O tema que não quer calar Antonio Penteado Mendonça não disse que a região está livre sócio de penteado mendonça destes eventos. E o que se sente advocacia, presidente da na pele mostra que os estudiosos academia paulista de letras e articulista do jornal o estado dos fenômenos climáticos estão de s. paulo corretos em manter os alertas e a possibilidade real destas ocorrên- cias bem viva nos programas de previsão do tempo. Quem imagina que as chuvas N são boas para o campo não sabe do sofrimento de centenas de pro- dutores rurais que perderam uma fortuna com as plantações de soja destruídas pelo excesso de chuva. E ninguém sabe o que vai acon- tecer no inverno, seja no sul, no les- te, no norte ou no oeste. ão tem como, as mudanças climáticas se recusam a sair A verdade indiscutível é que o cli- das pautas da imprensa em ma mudou no mundo e mudou no geral. Mal acabam as tempestades Brasil. Se os Estados Unidos, no de verão no sul e no sudeste, eis primeiro dia da temporada, já foram que já começam tempestades no varridos por tornados gigantescos, nordeste. Menos de um ano de- o Brasil vai vendo, ano após ano, pois, boa parte da Zona da Mata de os estragos causados pelas chuvas Pernambuco sofre com as chuvas aumentarem de proporção. torrenciais que inundam cidades in- teiras, avançando o limite estabele- A diferença fundamental é que cido pelas chuvas do ano passado. eles têm seguros garantindo pelo menos uma parte das indenizações, E quem achava que o sul e o su- enquanto nós mal e mal sabemos deste estavam livres das águas e que este tipo de garantia existe e, dos ventos, precisa tomar cuidado pior ainda, que a maioria das apó- com tanto otimismo, porque o que lices brasileiras tem vários destes se vê não é exatamente isto. Pelo riscos cobertos por suas cláusulas. contrário, a meteorologia ainda Se hoje alguém tem alguma cer- 34 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011
  • 35. teza sobre o que vai acontecer em recentes conquistas sociais ficam função das mudanças climáticas ameaçadas, podendo jogar de vol- que afetam o planeta é que ainda ta na pobreza milhares de pessoas vai ficar muito pior, antes de come- que nos últimos anos ascenderam çar a melhorar. socialmente. Para o setor de seguros é um Várias apólices atualmente co- cenário complexo. Com certeza as mercializadas em poucos anos es- indenizações vão continuar subin- tarão superadas, tanto em abran- do e algumas coberturas, em fun- gência de coberturas, como em ção da sinistralidade exacerbada, preço. Novos produtos surgirão, desaparecerão de lugares onde dando nova dinâmica ao setor e re- eram regularmente contratadas. desenhando as regras em uso hoje. De outro lado, é nos momentos mais complicados que as gran- Entre as necessidades mais pre- des soluções surgem e modificam mentes está justamente um trata- completamente realidades tidas mento adequado dos seguros que por imutáveis. cobrem as consequências das catás- trofes naturais, em todos os campos. O Brasil precisa de seguros. Não só contra mudanças climáticas, É hora de arregaçar as mangas mas contra todo tipo de riscos. O e desenvolver estes produtos. Com novo patamar de desenvolvimento o setor de resseguros aberto, não social impõe este upgrade, inclusi- tem sentido o país adiar a possibi- ve porque, se ele não acontecer, as lidade de minorar seus prejuízos. Agosto 2011 / Revista Opinião.Seg - 35
  • 36. Os eventos naturais e o Resseguro de Catástrofe Rodrigo crespo dades em estado de emergência Advogado da Stussi-Neves em Santa Catarina chega a 23. Advogados. Mais de 11.000 pessoas desaloja- Membro da Benefit Ensurance Lawyers Group (BILG). das e desabrigadas. Ainda Janeiro http://www.bilglawyers.com de 2011. Região Serrana do Rio de Janeiro é devastada pelas chuvas, somando-se mais de 1000 mortos. Desastres naturais como os mencionados acima passaram C infelizmente a fazer parte do coti- diano do Brasil nos tempos atuais. Vidas são ceifadas e prejuízos in- comensuráveis são causados. E como ficam as seguradoras em meio a esse caos? A função do Resseguro de om dimensões continentais, Catástrofe posicionado sobre a região central da placa tectônica Embora pareça um tanto quanto Sul-Americana, o Brasil é um país óbvio, as seguradoras se valem do que há muito assistiu de longe a resseguro de catástrofe justamente grandes catástrofes naturais que para se proteger de sinistros decor- devastaram cidades e dizimaram rentes de eventos naturais catastró- populações. ficos, tais como, tempestades, fura- cões, tsunamis, entre outros. Com as mudanças climáticas de- correntes do aquecimento global o Ao contratar o resseguro de Brasil deixa sua zona de conforto catástrofe a seguradora limita as e aos poucos vem ingressando no consequências econômicas / finan- rol dos países que sofrem significa- ceiras decorrentes desses eventos. tivas perdas de vidas e patrimônio O aumento da sinistralidade decor- em virtude desses eventos naturais rente de um determinado evento devastadores. natural poderá desestabilizar os resultados das carteiras de seguro Janeiro de 2011. Número de ci- (aumento de despesas, pagamento 36 - Revista Opinião.Seg / Agosto 2011