1. Revista
do Professor de Educação Infantil
O Prazer da
leitura se ensina
Entrevista Em debate Reportagem
Jesús Palácios Integração Sexismo na Educação Infantil
2. expediente sumário
5 18 33
Presidente da República
Luis Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário Executivo
Jairo Jorge
Secretário de Educação Básica
Francisco das Chagas Fernandes
Diretora de Políticas da Educação Infantil e Ensino Fun-
damental
Jeanete Beauchamp
Coordenadora Geral de Educação Infantil 4 carta ao professor
Karina Rizek Lopes
Consultora Editorial
5 entrevista
Vitória Líbia Barreto de Faria A Educação Infantil como esperança no futuro
Jornalista Responsável
Adriana Maricato - MTB 024546/SP
9 caleidoscópio
As instituições de Educação Infantil são responsabilidade
Editor dos sistemas de ensino
Alex Criado
Pactuação de responsabilidades em prol da inclusão social
Reportagem de crianças
Adriana Maricato de Souza, Marli Henicka, Monica Martinez,
A integração da Educação Infantil aos sistemas de ensino
Renato L e Rita de Biagio
erros
16 professor faz literatura
Direção de Arte A Educação Infantil como esperança no futuro
Marcos Rebouças
Projeto Gráfico 18 matéria de capa
Letícia Neves Soares O prazer da leitura se ensina
Criação e Diagramação
Giovanna Ishida Tedesco 27 relato
Fotografias Projeto “Pedras” – geologia e Educação Infantil
Gil Vicente, Iolanda Husak, Marion Hupp e Pedro Baeza
Revisão
30 artigo
Yana Palankof e Rejane de Meneses Nos dois últimos números da revista, A matemática na Educação Infantil: trajetória e perspectivas
Foto da Capa:
não identificamos as escolas onde foram
Gil Vicente feitas algumas das fotos publicadas. No 33 reportagem
Creche Sementinha do Skylab, Recife (PE) número 39, as fotos da capa e do artigo Meninas de azul, meninos de rosa
Conhecimento do Mundo Natural e So-
Endereço para correspondência: cial, foram feitas na Creche Despertar, 38 resenhas
Ministério da Educação - Coordenação Geral de Educação
Infantil – DPE/SEB
em São Paulo (SP). No número 38, as
Esplanada dos Ministérios, Bloco L - Edifício Sede, 6o andar fotos da capa e do artigo O papel do es- 40 notícias e agenda
Sala 637 paço na formação e transformação do
70047-900 Brasília – DF. Tel: (61) 21048645
E-mail: coedi-sef@mec.gov.br educador infantil foram feitas no Jardim 41 diálogo
Tiragem desta edição: 200 mil exemplares. / Setembro de 2005. de Infância 21 de Abril, em Brasília (DF).
43 arte
3. carta ao professor entrevista JESÚS PALACIOS
Prezado (a) professor (a),
A Educação Infantil como
É com grande satisfação que o
esperança no futuro
Vera M. R. de Vasconcelos*
Ministério da Educação (MEC) apre-
senta mais uma edição da Revista
Criança. Em relação ao número ante- Converter a Educação Infantil em um serviço para o desenvolvimento da
rior, continuamos aperfeiçoando o visual comunidade é, na opinião do professor Jesús Palacios, da Universidade
da sua revista. Nas próximas edições, reali- de Sevilha, sul da Espanha, o desafio a ser enfrentado pelos educadores
zaremos mudanças sugeridas nos questionários de avaliação e recadastramento, envolvidos com pesquisa e formulação de políticas educacionais para
que foram distribuídos na edição 38. Dessa maneira, trabalhamos para que a Re- crianças menores de 6 anos. Em visita ao Rio de Janeiro, Palacios foi
vista Criança continue sendo um instrumento valioso na formação continuada das entrevistado pela professora Vera M. R. de Vasconcellos e contou a
professoras e dos professores de creches e pré-escolas, divulgando as pesquisas,
trajetória da Educação Infantil em seu país nos últimos oitenta anos. Ele
reflexões e experiências sobre Educação Infantil.
disse que os projetos voltados para essa faixa etária devem contemplar
tanto o estímulo global ao desenvolvimento de suas capacidades como a
O entrevistado desta edição é Jesús Palácios, professor da Universidade de Se-
compensação de limitações decorrentes de sua origem sociocultural.
vilha, no sul da Espanha, que nos conta um pouco da história da Educação Infantil
espanhola. Na seção Caleidoscópio, a integração das instituições de Educação
Infantil aos sistemas de ensino é abordada sob três pontos de vista: do MEC, do
Ministério do Desenvolvimento Social e de um município. O senhor poderia gigantesco. O baby boom do final
Esta edição da Revista Criança traz duas reportagens. A primeira trata da leitura fazer uma análise dos anos 1960 e princípios dos
na Educação Infantil. Como ensinar as crianças a terem prazer na leitura sem ante- histórica da Educação 1970 criou muita demanda de es-
cipar a alfabetização? Vários especialistas, de Minas, São Paulo, Rio Grande do Sul Infantil na Espanha, colarização, centrada sobretudo
e Pernambuco discutem o assunto e propõem caminhos. Também são apresenta- desde o que existia em faixas etárias a partir dos 6
das três experiências, uma de São Bernardo do Campo (SP), outra do Recife (PE) e antes da Guerra Civil anos, momento de obrigatorieda-
a última de Blumenau (SC). A segunda reportagem traz à tona um tema delicado: a (1936-1939), passando de escolar. A chegada da demo-
sexualidade infantil e também o sexismo, isto é, o reforço dos preconceitos sobre o pela ditadura militar cracia implicou um grande impul-
que é ser menino e o que é ser menina.
(1939-1975), até a so para a educação de crianças
Uma reflexão e uma experiência estão na seção Artigo. A primeira é sobre a ma-
democracia atual? com menos de 6 anos, mas isso
infelizmente se configurou como
temática na Educação Infantil. A segunda relata um projeto de trabalho sobre ro-
A Espanha não teve a tradição uma extensão para baixo do sis-
chas, desenvolvido em uma instituição de Educação Infantil de Belo Horizonte (MG).
dos kindergarten, ou jardins de tema educativo, algo que ainda
Na seção Professor faz literatura, apresentamos um divertido conto sobre o mundo Pedro Baeza infância centro-europeus, mas pesa nessa etapa educacional,
das letrinhas. E na seção Arte, trazemos uma obra do pintor holandês Vincent Van antes da Guerra Civil havia expe- tornando-a mais pré-escolar do
Gogh. Isso e mais resenhas, notícias e comentários de cartas recebidas pela equipe riências muito interessantes. Per- que infantil.
de Educação Infantil do MEC completam a sua Revista Criança. sonagens como Piaget, Wallon,
Esperamos que esta edição possa contribuir para o seu crescimento profissional, pro- “O baby boom do Freinet, Montessori viajaram à Com a chegada da
fessora e professor da Educação Infantil, e que também lhe proporcione momentos de final dos anos 1960 Espanha e realizaram trabalhos democracia, uma
prazer. Desejamos, enfim, que a Revista Criança seja cada vez mais um espaço de troca. e princípios dos 1970 educativos importantes. Mas tudo nova visão política
Por isso, é fundamental que você continue enviando suas experiências, cartas, produções criou muita demanda de isso foi interrompido pela guer- de sociedade foi
literárias e sugestões. E que os textos aqui apresentados e os que virão se tornem um delica- ra e pela ditadura que se impôs, construída em seu
escolarização, sobretudo em seguida, por mais de quarenta país. O que mudou na
do tempero nessa paixão que é educar e cuidar de crianças pequenas.
em faixas etárias a partir anos. O retrocesso na educação, vida das pessoas e na
Boa leitura!
dos 6 anos.” como em tantas outras coisas, foi política educacional?
4 revista criança revista criança 5
4. entrevista JESÚS PALACIOS entrevista JESÚS PALACIOS
A transição da ditadura para a fortemente construtivista que “A transição da “É preciso voltar a ções. Claramente, uma situação pouco paradoxal: passos para
democracia implicou uma mudan- tratava de distanciar esse nível ditadura para a pensar no sistema indesejável. trás com o fim de irmos adiante.
ça extraordinária. Ainda que nos educativo das práticas “escolari- Para trás, quer dizer, para retomar
últimos anos de ditadura tenham zadoras”. E, finalmente, o outro
democracia implicou educativo em seu Como se deu a as coisas de onde elas pararam
sido criados alguns espaços de grande objetivo foi a melhora da uma mudança conjunto. Quanto à contra-reforma quando chegaram os conserva-
liberdade, a chegada da demo- qualidade educativa nesse perío- extraordinária. Educação Infantil, após a entrada de dores. Para adiante, com o fim de
cracia significou sobretudo liber- do, estabelecendo para isso cri-
A chegada da é preciso continuar um governo mais fazê-las progredir, introduzir mu-
dade e o início de uma sociedade térios de formação do professo- conservador? Quais danças sobre o previsto em 1990.
que aspirava mudanças. Houve, rado, de relação com as famílias democracia significou insistindo. Muito as conseqüências Passaram-se 14 anos com gran-
portanto, um acordo de todos os e com a comunidade, desenvol- sobretudo liberdade.” trabalho pela frente” para a educação da de dinamismo social e educativo.
partidos políticos para melhorar a vendo materiais de boas práticas criança pequena? É preciso voltar a pensar no sis-
qualidade da educação e para ge- que pudessem ser úteis no tra- tema educativo em seu conjun-
neralizar a educação a partir dos 4 balho cotidiano, etc. Com a mudança de governo, to, analisar por que nos estudos
anos, pois a escolarização antes produziu-se uma mudança de internacionais a Espanha aparece
da idade obrigatória de 6 anos era Em que medida rumo nas prioridades. As conse- em posições preocupantes no
vista como a melhor prevenção esses objetivos qüências foram muito negativas: que se refere ao rendimento do
do fracasso escolar e de outras foram alcançados? reapareceu a educação pré-esco- sistema educativo. Quanto à Edu-
dificuldades. lar, da qual a reforma de 1990 tra- cação Infantil, é preciso continuar
De forma limitada. Por um tava de afastar-nos. A etapa de 0 a insistindo, por um lado, em sua
Quais os objetivos lado, a Educação Infantil gene- 6 anos foi excluída do foco educa- generalização abaixo de 3 anos,
da reforma de 1990 ralizou-se, primeiro a partir dos tivo, e boa parte dela ganhou um e, por outro, e sobretudo, em sua
e qual o lugar da 4 anos, e depois a partir dos 3, caráter fortemente assistencial, qualidade, em seu perfil específi-
Educação Infantil na alcançando praticamente 100% quer dizer, tornou-se muito mais co, na formação dos professores,
política educacional da população dessa faixa etá- uma alternativa de cuidado que de nos critérios de qualidade. Muito
implantada por ela? ria. O discurso pedagógico mu- educação. Assim, os conserva- trabalho pela frente.
dou de forma importante, mas dores não só não aplicaram uma
A reforma de 1990 definiu uma a prática educativa seguiu com lei com a qual não concordavam Como o senhor nos
nova etapa educativa, de 0 a 6 um enfoque bem parecido com como também promulgaram uma definiria a Educação
anos, dividida em dois níveis, de o que existia antes da reforma: nova a partir de sua solitária maio- Infantil a partir
0 a 3 e de 3 a 6. O Ministério da muito trabalho com papel e lá- ria parlamentar. Foi uma etapa do ponto de vista
Educação comprometeu-se so- pis, todas as crianças fazendo o muitíssimo negativa para a pedagógico?
bretudo com o desenvolvimento mesmo ao mesmo tempo, etc. educação, que felizmente
de 3 a 6, deixando aos municí- Além disso, infelizmente, pouco está encerrada. Ao menos Como um processo educativo
pios e a outras entidades sociais tempo depois da implantação é o que esperamos. que atua em uma etapa transcen-
o desenvolvimento do nível de 0 da reforma houve uma mudança dental no desenvolvimento psi-
a 3. O primeiro objetivo foi dotar de governo(1) , e o novo não ti- Agora que um cológico e formativo. Como um
a Educação Infantil de estrutura, nha interesse especial por essas governo mais contexto para o estímulo do de-
definindo seus níveis e estabele- questões. A reforma foi pensa- socialista volta ao senvolvimento a partir de uma vi-
cendo as responsabilidades às da a partir de determinadas op- (1) O entrevistado refere-se à eleição seu país, que tipo de são o mais global possível, sem a
quais acabo de me referir. Outro ções políticas e de determinadas de José María Aznar, do Partido Popular “reforma da contra- fragmentação em direção ao cog-
objetivo foi situar a Educação In- convicções educativas e, pouco (PP), em 1996. O governo conservador reforma” pode ser nitivo, que é quase inevitável na
fantil no mesmo discurso peda- tempo depois, sua implantação de Aznar foi até 2004, quando voltou ao esperada? escola primária. Como um espaço
gógico que o resto das etapas passou a ser feita a partir de poder o Partido Socialista Operário Es- privilegiado para a compensação
educativas, com uma mensagem outras opções e outras convic- panhol (PSOE). O que todos esperamos é um das limitações ligadas à origem
6 revista criança revista criança 7
5. entrevista JESÚS PALACIOS
sociocultural. Como uma opor- dos profissionais em exercício aulas, como estão os centros,
tunidade para envolver as famí- são questões chaves. Mas para quanto da população e que tipo
lias, especialmente aquelas mais isso é preciso vincular formação de população se atende, qual é a
distanciadas da cultura escolar. e mudança positiva nas práticas qualificação dos professores, que
Portanto, como um compromisso profissionais com incentivos na serviços são oferecidos, etc.
da sociedade com o desenvolvi- promoção profissional. Há muito
mento das crianças e como uma que aprender, seja para imitar ou Quais os desafios e as
esperança no futuro. para evitar fazer igual, e muito o tensões que permeiam
que refletir a partir disso. tanto os aspectos
O que nós brasileiros, pedagógicos como as
preocupados com uma O que nós, brasileiros, reformas políticas, as
reforma significativa que produzimos pesquisas ligadas à
nas políticas de pesquisa sobre o tema, Educação Infantil e o
Educação Infantil, podemos aprender com desenvolvimento da
podemos apreender da sua experiência? criança pequena?
experiência de seu país?
É preciso muita pesquisa dos Na minha opinião, converter a
Antes de tudo, o que se pos- mais diversos tipos. Deu-me a Educação Infantil em um serviço
sa aprender não será copiando, impressão que os brasileiros es- para o desenvolvimento da comu-
caleidoscópio
e sim refletindo criticamente, co- tão interessados principalmente nidade. E para isso são necessá- Promulgada em 1996, a
nhecendo suas contribuições e na investigação do tipo “micro- rias políticas educativas de firme LDB determinou que todas as
limitações. Acredito que com a genético”, analisando interações apoio à escolarização das crian- instituições de Educação Infantil
reforma se possa aprender coisas entre professor e aluno com mui- ças menores, particularmente em fossem integradas aos respec-
sobre o processo – que se efeti- to detalhe. É uma via excelente, zonas socialmente mais carentes; tivos sistemas de ensino até
vou com alto nível de participação sem dúvida alguma, e fiquei muito uma aposta pela qualidade da 1999. Passados mais de cinco
e grande debate na comunidade admirado com o quanto e quão resposta educativa; e um apoio a anos do prazo final, o proces-
educativa – e interessante se partir da pesquisa e da formação so de integração ainda não foi
sobre os con- “são necessárias faz no Brasil dos professores para que tudo concluído. Esse é o assunto do
teúdos con- nessa direção. isso seja possível. Desejo muita Caleidoscópio.
políticas educativas
cretos – a for- Mas não vi tan- sorte ao Brasil nessa tarefa tão Karina Rizek Lopes apresenta
ma de encarar de firme apoio à to um trabalho apaixonante. Como tantos outros a posição oficial do MEC, apon-
a Educação escolarização das de campo, com na Espanha, acompanharei de lá tando a necessidade da inte-
Infantil, por crianças menores, coleta de infor- os importantes avanços que se- gração e como ela se efetiva na
exemplo, ou a mações e aná- rão produzidos aqui, esperando prática. Aidê Cançado Almeida,
educação se- particularmente em lise de dados, que sejam muitos, que se mante- do Ministério do Desenvolvimen-
cundária obri- zonas socialmente que também me nham durante muito tempo e que to Social e Combate à Fome,
gatória, com mais carentes” parece muito signifiquem uma grande contribui- traz alguns dados que mostram
suas luzes e necessário para ção para a sociedade. a ligação ainda existente entre
sombras. É possível aprender, dar um retrato mais completo da Educação Infantil e assistência
também, que, sem a colabora- educação no país. Portanto, talvez social. Finalmente, Ana Rosa de
* Vera M. R. de Vasconcelos é professora da Uni-
ção e a cumplicidade dos pro- completar as análises muito cen- versidade Federal Fluminense (UFF) e da Universi- Andrade Parente, Coordenadora
dade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), instituições
fessores, qualquer reforma está tradas na relação adulto–criança, nas quais trabalha com formação de professoras
de Educação Infantil de Sobral
condenada ao fracasso. E que em particular, com outras análises e professores de Educação Infantil. (CE) relata a experiência de inte-
a formação inicial e a formação mais baseadas no que ocorre nas Tradução e edição de texto: Sylvia Leite. gração naquele município.
8 revista criança
6. caleidoscópio caleidoscópio
As Instituições de Educação Infantil são
ços em busca da garantia de uma um grande desafio, é também cebidos e realizados de forma
Responsabilidade dos Sistemas de Ensino qualidade social para a Educação parte fundamental para a integra- indissociável.
Karina Rizek Lopes* Infantil. Da mesma forma como ção efetiva das instituições. • A garantia de formação inicial
acompanhamos uma diversida- Muitas outras ações devem ser para os professores em exer-
de em relação à organização dos pensadas, planejadas e executa- cício e/ou admissão de novos
O atendimento à criança de 0 sistemas de ensino pouco se arti- bém como a primeira etapa da sistemas de ensino, também a das de acordo com as caracte- professores de Educação In-
a 6 anos no Brasil existe há mais cularam com os órgãos ligados à educação básica (artigo 29). Além encontramos hoje no que diz res- rísticas do sistema e da região na fantil de acordo com o mínimo
de cem anos e vem percorrendo área da assistência social em bus- disso, em suas Disposições Tran- peito ao processo de integração qual está inserida. Dos diversos exigido por lei (segundo a LDB,
um longo caminho repleto de lu- ca de cumprir a garantia do direito sitórias, a Constituição exige que efetiva das instituições de Educa- desafios, podemos destacar os Ensino Médio, modalidade Nor-
tas e conquistas, quase tão di- à educação das crianças com até se estabeleçam e se cumpram as ção Infantil a esses sistemas. No seguintes: mal).
versas quanto a realidade deste 6 anos de idade. regulamentações necessárias em Brasil, muitos municípios já finali- • A importância de que a Se- • A admissão de professores
país. Afirmar que as instituições Historicamente, esse atendi- âmbito nacional, estadual e muni- zaram esse processo, enquanto cretaria de Educação assuma por meio de concurso público
de Educação Infantil (creches, mento, mesmo dito educacional, cipal, estabelecendo como prazo outros ainda o planejam, embora de fato seu papel de coorde- (para as instituições públicas).
pré-escolas, centros, turmas que esteve sob responsabilidade das final para integração das institui- a legislação seja clara e deter- nadora da política educacional • O estabelecimento de progra-
funcionam em escolas de Ensino secretarias de desenvolvimento/ ções de Educação Infantil aos sis- mine que a Educação Infantil é para a Educação Infantil. mas de formação continuada
Fundamental, entre tantas outras assistência social e de educação, temas de ensino o ano de 1999. de responsabilidade dos órgãos • A necessidade da criação de para os professores em exer-
que coexistem nas cinco regiões tanto em âmbito nacional quanto Outro aspecto importante expli- municipais e não uma opção do estruturas e medidas no âmbito cício.
brasileiras) são de responsabilida- estadual ou municipal. Desde seu citado pela referida lei e que tem sistema. do órgão executivo que possi- • Valorização do magistério,
de do sistema educacional, cau- surgimento até os dias de hoje, os implicações diretas para a dis- Integrar efetivamente as insti- bilitem ao sistema acompanhar, com a inclusão dos professo-
sa estranheza, tanto por alguns discursos e as práticas que en- cussão sobre essa integração foi tuições de Educação Infantil aos supervisionar, avaliar e apoiar res nos planos de cargos e sa-
considerarem este um assunto já volviam a educação das crianças o estabelecimento da autonomia sistemas de ensino, em linhas ge- as instituições de Educação In- lários.
superado quanto por outros ain- evidenciavam o cunho assisten- dos sistemas estaduais e muni- rais, significa: fantil. • Adequação dos espaços físi-
da o encararem como uma gran- cialista do atendimento realizado. cipais de ensino, bem como das • Garantir que cada instituição • A articulação da educação cos das instituições.
de novidade. Somente após a publicação da Lei responsabilidades de cada um siga as regulamentações e as com outras instâncias que são • O estabelecimento de formas
Embora em mais de um século de Diretrizes e Bases da Educa- deles. Sendo assim, a Educação normas para credenciamento e responsáveis pela construção de financiamento que sejam
de história tenhamos assistido a ção Nacional (LDB 9.394/1996), Infantil passou a ser de respon- funcionamento. conjunta de políticas para a coerentes com a nova realida-
muitas conquistas e delas parti- somada à produção de conheci- sabilidade do sistema municipal, • Garantir que cada instituição infância (tais como assistência de da Educação Infantil.
cipado na área da Educação In- mento relativa ao desenvolvimen- com as colaborações técnicas e seja supervisionada, acompa- social, saúde, justiça, conse- É fundamental que possamos
fantil, apenas no final da década to e à aprendizagem das crianças, financeiras necessárias tanto dos nhada e avaliada pelo sistema lhos, etc.) entender as determinações legais
de 1980 esse atendimento ga- é que as mudanças efetivas, tanto estados quanto da União. de ensino. • A superação das dicotomias e todos os aspectos evidenciados
nhou espaço e reconhecimento na gestão quanto no discurso e Nesse processo de mudança Para a efetivação dos aspectos historicamente estabelecidas pelo processo de integração, não
educacional dentro das leis que na prática pedagógica, começa- na legislação e de adequação ao anteriormente relatados, cada sis- entre o papel social da creche apenas como uma necessida-
regem o país. Isso é o resultado ram a se evidenciar. que ela determina, os sistemas tema de ensino vem buscando so- e o da pré-escola. de a ser cumprida, e sim como
de muitas lutas e representa um Com a publicação da LDB, a municipais de ensino, responsá- luções diversificadas. Criar o Con- • O estabelecimento de dire- uma conquista história em busca
enorme avanço para a educação Educação Infantil não só passa veis pela educação das crianças selho de Educação (em âmbito trizes pedagógicas específicas de uma educação de qualidade
das crianças dessa faixa etária. a ser considerada como de total de 0 a 6 anos, vêm encontrando municipal ou estadual, conforme a que orientem a elaboração de para as crianças brasileiras, tendo
A Constituição Federal (1988, responsabilidade dos sistemas de uma série de dificuldades, mas realidade e a necessidade de cada propostas pedagógicas pelas como base os direitos conquista-
artigo 208, inciso IV) determina ensino, mas tam- também efeti- município/região), como órgão in- instituições de Educação Infan- dos e dedicados às crianças e às
que o dever do Estado com a vando mui- dependente, normativo e integra- til para garantir que o educar e famílias, principalmente conceben-
educação e especificamente com tos avan- dor de políticas para a edu- o cuidar sejam do a criança como cidadã ativa e
a Educação Infantil será efetivado cação, além de constituir con- sua educação como essencial ao
mediante a garantia de atendi- seu desenvolvimento pleno.
mento em creches e pré-escolas
às crianças de 0 a 6 anos. Mesmo
* Karina Rizek Lopes é Coordenadora Geral de
após a Constituição Federal, os Educação Infantil do MEC.
10 revista criança revista criança 11
7. caleidoscópio caleidoscópio
Pactuação de responsabilidades em prol se mesmo sistema, contribuindo A implantação do SUAS, pre- que essa rede se integre aos sis-
para que as metas definidas no vista na nova Política Nacional de temas de ensino. Enquanto isso,
da inclusão social de crianças Plano Nacional de Educação se- Assistência Social (PNAS/2004), a assistência social continuará a
Aidê Cançado Almeida* jam atingidas. Todas deveriam indica a necessidade de organiza- manter sob sua responsabilida-
estar incluídas no Censo Escolar, ção de dois níveis de proteção do de uma rede, sem ter, no entan-
integrar as estatísticas municipais sistema (Proteção Social Básica e to, competência legal para definir
Mais de cinco anos após o tér- recursos federais de assistência de educação; ter autorização de Especial). Ao promover a organiza- diretrizes, regulamentar, acom-
mino do prazo estabelecido nas social abrangeu 80% dos municí- funcionamento, uma proposta pe- ção da “proteção básica”, torna- panhar e assessorar. Terão sido
disposições transitórias da Lei de pios brasileiros e atendeu a apro- dagógica atualizada, espaço físico se necessário delimitar as ações mais de 5 milhões de crianças a
Diretrizes e Bases da Educação ximadamente 1,4 milhão crianças adequado e professores, se não que são pertinentes ao campo da freqüentar instituições financiadas
(LDB - 1996) para a integração de 0 a 6 anos(2) em instituições com o nível de escolaridade exi- assistência social. A transição da com recursos públicos, mas sem
das instituições de Educação In- privadas sem fins lucrativos, es- gido pela legislação, pelo menos rede de creches e pré-escolas da atendimento adequado.
fantil aos respectivos sistemas de colas, creches, centros municipais “em formação”, e gradualmente assistência social para a educação, Nessa fase de transição, di-
ensino, e apesar de experiências de Educação Infantil, distritos esta- adaptar-se a uma organização ad- bem como a definição dos servi- retrizes compartilhadas entre os
municipais exemplares, os três duais, fundações e secretarias de ministrativa específica, que adota ços de assistência social que se- dois setores (assistência social
níveis de governo ainda deparam assistência social. O orçamento, procedimentos e fluxos coerentes rão prestados às crianças, reade- e educação) deverão emanar do
com importantes desafios para de cerca de R$ 213 milhões/ano com as diretrizes emanadas do quados, melhorados, expandidos governo federal e envolver os três
fazer cumprir essa determinação provenientes do Fundo Nacional sistema, constituindo-se de fato e financiados pelo governo federal, níveis de governo. Um amplo pro-
legal. Chama atenção, por exem- de Assistência Social, é transferido como uma rede que compõe a fazem parte desse processo. cesso de pactuação será neces-
plo, o fato de, neste momento de mensalmente para os Fundos Mu- primeira etapa da educação bási- Nos municípios, a assistência sário, envolvendo governo, suas
organização do Sistema Único de nicipais ou Estaduais. O repasse ca. A efetiva integração depende social tem o importante papel de instâncias de representação, os
Assistência Social (SUAS), haver de recursos é calculado com base ainda de que a população usuária contribuir para que essa transição conselhos, o poder legislativo, as
recursos públicos de assistência em per capita correspondente exerça seu papel de controle so- não redunde em descontinuidade instituições, os movimentos re-
social aplicados em creches e às jornadas de permanência das cial. Para tanto, as famílias devem do atendimento, descaracteriza- presentativos e a população inte-
pré-escolas que não estabelecem crianças, que podem ser de 4 ho- estar bem informadas sobre os pa- ção deste mesmo (garantia do ressada: um esforço envolvendo
qualquer vínculo com o sistema ras (modalidade “jornada parcial”), drões de qualidade do atendimen- atendimento em tempo integral, múltiplos atores que comparti-
educacional. ou de 8 horas (“jornada integral”). to e sobre seus direitos, como, por por exemplo) ou na “escolariza- lham responsabilidades, com o
A tarefa de fazer cumprir a lei e Esses recursos são destinados às exemplo, o de que o ingresso de ção” dessas crianças. objetivo de contribuir para que a
de promover a efetiva integração despesas de manutenção, sendo suas crianças se dê em institui- A orientação oficial do MDS para inclusão social seja o fio condutor
das instituições de Educação In- o Ministério do Desenvolvimento ções autorizadas a funcionar. os municípios consta da Portaria da política social brasileira.
fantil aos sistemas de ensino não Social e Combate à Fome (MDS) e No entanto, sem o envolvimen- Seas nº 2.854/2000, que autoriza Hoje, sabe-se que o impacto da
é simples. Instituições (privadas os governos estadual e municipal to dos órgãos de educação, a efe- a migração de recursos para no- freqüência em instituições de Edu-
e particulares) continuam funcio- responsáveis pelo acompanha- tiva integração dessa rede a esse vas modalidades de atendimento cação Infantil de boa qualidade é
nando sem vinculação com os mento das instituições. “novo” sistema – que reúne e une de assistência social, à medida maior nas crianças provenientes
sistemas de ensino, pois parte da São milhares de instituições de as redes de educação – não pode- que as creches e as pré-esco- de famílias mais pobres. Trata-se,
rede de atendimento foi historica- Educação Infantil que historica- rá ocorrer. Além de regulamentar e las forem assumidas – gradual e portanto, de assumir um compro-
mente constituída no âmbito da mente se vêm relacionando com (1) O atendimento nesta rede cor- de definir prazos para adequação integralmente – pela educação. misso com as crianças, contribuin-
assistência social(1) e até hoje não um sistema social público mui- responde a 22% do total de matrículas das instituições, cabe à educação Nesses cinco anos, cerca de 17% do para que as novas gerações de
se definiram fontes específicas to distinto do sistema de ensino. iniciais na Educação Infantil (Censo Es- apoiá-las, acompanhá-las, super- dos recursos migraram para uma brasileiros tenham formação ade-
de financiamento para estimular Para que efetivamente se inte- colar/2003). visioná-las, orientá-las, contribuir das novas modalidades (ações quada e para que se rompa o ciclo
a educação a assumir essa rede, grem aos respectivos sistemas de (2) Não se dispõe de informações para a formação dos professores sócioeducativas para famílias de de reprodução da pobreza.
ou o atendimento às crianças “da ensino, elas devem se orientar por sobre quantas crianças de 0 a 3 anos e gradualmente assumir a respon- crianças de 0 a 6 anos). Se nos
*Aidê Cançado Almeida é economista e mestre em
assistência social”. novas diretrizes, ajustar-se a uma (creche) e quantas de 4 a 6 anos (pré- sabilidade para com essa rede, ta- próximos anos esse ritmo de mi- múltiplas abordagens dos sistemas educativos pela
Universidade de Paris VIII. Atualmente, é diretora do
No ano de 2004, a rede de cre- série de normas e regras coeren- escola) freqüentam essas instituições de refa historicamente desempenha- gração for mantido, serão neces- Departamento de Proteção Social Básica, da Secre-
taria Nacional de Assistência Social, do Ministério do
ches e pré-escolas financiada com tes entre si e com as demais des- Educação Infantil. da pela assistência social. sárias cerca de duas décadas até Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
12 revista criança revista criança 13
8. caleidoscópio caleidoscópio
A Integração da Educação Infantil aos instrumento de pesquisa que foi
preenchido em visitas às instituições
Sistemas de Ensino infantis. A análise de funcionamento
Ana Rosa de Andrade Parente* dessa rede conveniada que, a prin-
cípio, se estruturou para atender
crianças como garantia do direito à ç ã o Infantil consiste na registra-se a cons-
assistência revelou a existência de informatização e na super- trução de dois Centros
O direito da criança de 0 a 6 nição adequada, percebemos em de Ação Continuada. inúmeras deficiências: instituições visão rigorosa da matrícula, de Educação Infantil, com funcio-
anos à educação é assegurado no muitos municípios brasileiros que Das principais ações da Secreta- com estruturas físicas inadequadas possibilitando a ampliação namento iniciado em agosto de
art. 227 da Constituição Federal de o reconhecimento à Educação In- ria de Educação, algumas foram es- (salas sem ventilação, espaços ex- da oferta. Com o programa, 2003. Os Centros dispõem de salas
1988 e reafirmado no art. 53 do fantil como importante etapa no de- trategicamente pensadas com foco ternos não apropriados para brin- obtém-se um quadro real do núme- amplas, espaços externos para ati-
Estatuto da Criança e do Adoles- senvolvimento das competências na rede de creches conveniadas. cadeiras, banheiros com equipa- ro de crianças matriculadas e pro- vidades recreativas, sala de leitura,
cente – ECA 1990. Com isso, tanto psicocognitivas das crianças e o Essas instituições compõem um mentos inadequados para o uso de move-se a adequação da idade da brinquedoteca, refeitório, área para
a Constituição quanto o Estatuto processo de construção da políti- modelo de gestão indireta e foram crianças); mobília inadequada para criança à faixa etária da turma. Com construção de hortas, berçários,
estabelecem diretrizes e normas ca para o ensino infantil constituem instituídas no final da década de as crianças; quadro de profissionais isso, “fecha-se uma das torneiras” lactários, banheiros em cada sala de
essenciais para o desenvolvimento um conjunto de ações implantadas 1990, sob a orientação e o acom- deficiente; professores sem forma- que produz a distorção idade–sé- atividades, com chuveiro adequado
de políticas públicas de garantia à pela observação da complexidade panhamento da Secretaria Muni- ção mínima; indefinição da identida- rie, pois as crianças não são mais para as crianças pequenas, áreas
educação institucional e de políticas de cada região. Para outros, ain- cipal de Ação Social e Saúde, por de profissional dos professores de retidas indevidamente nos estágios verdes e outros. Esses espaços têm
integradas para a infância. A inser- da não há nenhuma ação, não há intermédio da Fundação de Ação Educação Infantil (tias, crecheiras, pré-escolares. o padrão ideal de equipamento que
ção desse direito, na esfera educa- objetividade, falta participação so- Social e SAS (Secretaria de Assis- berçaristas, monitoras, assistentes); No Programa de Nucleação, o município de Sobral deseja ofere-
cional, justifica-se no processo his- cial, construção da política para a tência Social) do Estado do Ceará. ausência de um plano de atividades a vinculação das instituições co- cer às crianças e às suas famílias.
tórico de construção e evolução de infância e, na transversalidade das No funcionamento dessas creches, institucional, ocasionando tanto a munitárias às escolas garante o No processo de integração da
ações sociais de atenção às crian- intenções, questões determinantes a falta de uma política de gestão ociosidade quanto a desqualifica- acompanhamento e a avaliação Educação Infantil à rede municipal
ças e, principalmente, nas mudan- ainda não são discutidas. causou o distanciamento das ins- ção do projeto pedagógico. por parte do núcleo gestor escolar. de educação em Sobral, desen-
ças de concepções sobre criança, O município de Sobral, situado na tituições dos órgãos responsáveis O resultado dessa pesquisa pos- O interesse, a supervisão e o apoio volveram-se programas, projetos e
infância, desenvolvimento infantil e região norte do Estado do Ceará, de- pelo monitoramento e pelo acom- sibilitou à administração munici- ao processo pedagógico têm reper- ações que terão continuidade, pois
aprendizagem, concebidas ao lon- finiu como meta, desde 2001, a inte- panhamento das atividades. pal dar continuidade às ações que cussões importantes no trabalho significam mudanças fundamentais
go desse processo. gração da Educação Infantil à rede Em 2001, determinou-se como constituem o processo de constru- dessas instituições. no processo de melhoria da educa-
A definição legal da Educação In- municipal de educação. Na cidade, início do processo de integração ção da política pública para a Edu- A gestão municipal da Educação ção das crianças de 0 a 6 anos.
fantil como primeira etapa da Edu- o processo de reconhecimento do o desenvolvimento de três ações cação Infantil, que busca estruturar, Infantil, desde o início do processo Para a gestão atual, alguns de-
cação Básica representa um marco atendimento de crianças de 0 a 6 estruturantes: a instituição da coor- em novas bases, o atendimento de de integração, passou a contra- safios já foram identificados. O fun-
histórico relevante em nosso país. anos como primeira etapa do ensino denação de Educação Infantil, vin- crianças em Sobral. tar professores com respaldo em cionamento do Conselho Municipal
Essa determinação promove a ins- básico tem possibilitado experiên- culada à Secretaria de Educação; A integração das creches, no processos seletivos e tem ofereci- de Educação e a ampliação e a
titucionalização, norteia o desenvol- cias significativas e planejamento de a elaboração do dossiê avaliativo âmbito da educação, possibilitou do a todos o Programa de Forma- qualificação do atendimento infantil.
vimento de ações, fortalece a mo- ações que certificam o compromis- sobre as instituições infantis conve- intervenções diretas de apoio, exi- ção Continuada, por meio do qual Esses desafios requerem fortes par-
bilização social, viabiliza e garante so político dos gestores municipais niadas; e a transferência, para a Se- giu planejamento, análise de custo eles têm a oportunidade de, men- cerias que possibilitem ao município
a evolução de discussões sobre a com essa etapa do ensino. A Edu- cretaria de Educação, da responsa- e implantação de programas fun- salmente, estudar, compartilhar sobralense realizar os avanços ne-
melhoria da qualidade da Educação cação Infantil constitui-se no atendi- bilidade pelo acompanhamento e damentais, tais como Programa de experiências e elaborar materiais cessários com toda a velocidade e
Infantil e estimula a conscientiza- mento de crianças com idade de 0 a pelo apoio na construção de pro- Matrícula, Programa de Nucleação voltados para a rotina pedagógica. eficiência possíveis, além do tempo
ção do compromisso de todos com 6 anos em instituições educacionais postas pedagógicas voltadas para das Instituições Infantis, Programa As instituições recebem, sistemati- e do espaço político que os permiti-
essa etapa de ensino. públicas municipais, particulares e a promoção do desenvolvimento de Formação Continuada de Pro- camente, a visita de técnicos para rem concretizá-los.
Integrar significa compromis- em creches comunitárias, integra- integral da criança. fessores e Programa de Construção observação e registros dos avanços
*Ana Rosa de Andrade Parente é Coordenadora de
so social, determinação política das à rede municipal e gerenciadas Para a segunda ação, as Se- de Centros de Educação Infantil. e das dificuldades dos processos Educação Infantil da Secretaria da Educação de So-
bral (CE). Pedagoga e professora da rede pública,
e respeito aos direitos humanos. por associações conveniadas com a cretarias de Educação e de Ação O Programa Municipal de Pla- pedagógicos. especialista em Metodologias do Ensino Fundamen-
tal e Médio, também faz especialização em Gestão
Considerando ser essa uma defi- União, por meio do PAC – Programa Social elaboraram em conjunto um nejamento de Matrícula da Educa- Compondo as ações principais, Escolar e especialização em Educação Infantil.
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9. professor faz literatura professor faz literatura
Solidariedade no mundo das letras
Stefânia Padilha* A letra Q.
Ela estava toda encolhidinha e trêmula. As outras
“Há muitos e muitos anos, letras surpreenderam-se ao ver que a moradora da casa
as letras moram numa floresta encantada muito linda. Essa floresta era mesmo uma letra como elas, mas nunca havia saído de
fica lá em cima no céu, numa estrela muito brilhante que solta lindas casa, ninguém a conhecia. Curiosas, perguntaram por
faíscas toda vez que uma criança resolve escrever. que ela não saía e sua casa vivia fechada.
Você nem imagina a festa que é quando as crianças resolvem escrever. . . Ainda muito amedrontada, a letra Q explicou que
Todas as letras ficam saltitantes e torcendo para que a criança precise morria de medo de um fantasma que rondava sua casa
dela para registrar seu desejo, seu pensamento. Sabe por quê? e uivava noite e dia assim:
Acontece que, para sair da floresta encantada e chegar ao papel, as – Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
letras fazem uma linda viagem. Elas escorregam pela cauda da estrela, A letra U, que escutava atenta, deu um pulinho de
dão deliciosos pulos nas nuvens, que são supermacias e gostosas de pular. surpresa e disse:
Mas o melhor mesmo é mergulhar nos sete rios do arco-íris. Cada rio é – Espera aí, companheira Que baita confusão é essa? Não tem fantasma
um suco mais delicioso que o outro. Por fim, fazem um vôo flutuante para nenhum. Você está muito enganada. Eu sou sua vizinha e quero virar
o papel. cantora de ópera, assim eu fico treinando e exercitando minha voz: –
Quando escrevemos, as letras vivem uma superaventura. Mas enquanto uuuuuuuuuuuuuuuuuuu.
não escrevemos, cada letrinha fica na sua casinha descansando, Quando perceberam a confusão, todas as letras caíram na
desenhando, tocando, cantando. Cada letra tem sua própria casa e gargalhada.
decide como se distrair enquanto aguarda a grande aventura de ajudar as A letra Q também deu um sorrisinho bem amarelo e sem graça.
crianças a escrever. A letra U completou com tom tristonho:
Em todas as casas é possível observar uma grande alegria, apenas uma – Puxa vida, eu querendo abafar com minha cantoria e estou é
casinha vivia sempre fechada. As demais letras reparavam naquele fato e assombrando?
começaram a ficar muito curiosas: – Nada disso, minha amiga, sua voz é linda! Tão linda que eu até pensei
– Quem será que morava ali? que era de outro mundo.
Todas comentavam e ninguém jamais havia visto a moradora daquela Nessa hora, a gargalhada foi geral, e as duas amigas Q e U
casa. abraçaram-se.
Será que ela não viajava para ajudar as crianças a escrever? Como podia A letra Q pediu desculpas, explicando que era muito, muito
ser? Será que aquela casa não era de uma letra e sim de um monstro? De medrosa.
uma bruxa? Então a letra U contou que ela estava perdendo grandes aventuras,
Que mistério! que era delicioso viajar pelo céu para ajudar as crianças a escrever, mas
A cada dia as letras ficavam mais curiosas e resolveram investigar. que ela estava tendo uma ótima idéia. E foi assim que combinaram:
Chegaram bem pertinho e escutaram só um gaguejo: – Q, Q, Q, Q, Q! – Amiga Q, eu prometo que toda vez que você precisar sair para viajar
QUE SUSTO! Todas correram assustadas para suas para o papel eu vou de mãos dadas com você. Assim você nunca vai estar
casas. sozinha.
Mas, no outro dia, lá estavam de novo tentando E assim, toda vez que precisamos da letra Q para escrever qualquer
decifrar aquele mistério. coisa sua amigona U vem junto.
Resolveram bater na porta: Você já viu a letra U sozinha várias vezes porque ela não tem medo de
– Oh, de casa! viajar só, mas, solidária como é, sempre encontra tempo para acompanhar
– Somos amigas e queremos fazer amizade, podemos sua amiga Q, que nunca anda sozinha. Você já reparou nisso? Pois agora
entrar? ficou sabendo da história.”
Depois de alguns minutos a porta se abriu suavemente
e apareceu, sabem quem? * Stefânia Padilha é pedagoga e professora de Educação Infantil da rede municipal de Belo Horizonte. Tem atuado ativa-
mente nas lutas da categoria e pela qualidade na Educação Infantil.
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10. matéria de capa matéria de capa
O prazer da leitura se ensina
Adriana Maricato* Brasília/DF
Quanto mais cedo histórias tura e de escrita”. Não basta ter
orais e escritas entrarem na vida acesso aos materiais, as crianças
da criança, maiores as chan- devem ser envolvidas em práticas
ces de ela gostar de ler. Primeiro para aprender a usá-los, roda de
elas escutam histórias lidas pelos leitura, contação de histórias, lei-
adultos, depois conhecem o li- tura de livros, sistema de malas de
vro como um objeto tátil “que ela leitura, de casinhas, de cantinhos,
toca, vê, e tenta compreender as mostras literárias, brincadeiras
imagens que enxerga”, diz Edmir com livros. Edmir afirma que “a
Perrotti, professor de Biblioteco- criança pode não saber ainda ler e
nomia da Universidade de São escrever, mas ela já produz texto:
Paulo (USP) e consultor do MEC. ela pensa, fala, se expressa”.
“As crianças colocadas em condi- Segundo Magda, um programa
ções favoráveis de leitura adoram de formação de leitores deve se
ler. Leitura é um desafio para os preocupar também com o desen-
menores, vencer o código escrito volvimento do professor como lei-
é uma tarefa gigantesca.” tor, “porque se a pessoa não utili-
A criança lê do seu jeito muito zar e não tiver prazer no convívio
antes da alfabetização, folheando com o material escrito, é muito di-
e olhando figuras, ainda que não fícil passar isso para as crianças”
decodifique palavras e frases es- (veja matéria na próxima edição
critas. Ela aprende observando o da revista).
gesto de leitura dos outros – pro-
fessores, pais ou outras crianças. A descoberta coletiva
O processo de aprendizado co- da leitura e da escrita “É preciso
meça com a percepção da exis- Algumas crianças não têm
tência de coisas que servem para ambiente favorável à leitura em desmanchar essa
ser lidas e de sinais gráficos. casa, mas há outras que ouvem idéia do livro como
Para Magda Soares, do Centro histórias lidas pela família. “Se objeto sagrado; é
de Alfabetização, Leitura e Escri- for criado um ambiente de leitura
ta da Faculdade de Educação da nas escolas, as crianças levarão a
sagrado sim, mas
Universidade Federal de Minas prática para suas casas. E vice- para estar nas mãos
Gerais (Ceale/UFMG), esse apren- versa, haverá crianças que trarão das pessoas, ser
dizado chama-se letramento: “É o leitura para a escola”, argumenta
manipulado pelas
convívio da criança desde muito Jeanete Beauchamp, diretora de
pequena com a literatura, o livro, Políticas de Educação Infantil e crianças”.
a revista, com as práticas de lei- Ensino Fundamental da Secretaria Magda Soares
Yolanda Husak
18 revista criança
11. matéria de capa matéria de capa
de Educação Básica do Ministério usar material escrito de diferentes ensinar a criança a respeitar o livro
da Educação (SEB/MEC). gêneros, como acontece no Se- e como manipulá-lo sem rasgar,
Participar de grupos que usam mentinha do Skylab, em Pernam- “senti-lo como alguma coisa fami-
leitura e escrita é, de acordo com buco (veja matéria na página 22). liar”. Assim a criança entra no mun-
Ester Calland de Souza Rosa, “Mesmo que a professora saiba do da literatura, da escrita, do livro.
professora do Centro de Educa- a resposta, é a primeira oportu- Quando a criança está na fase
ção da Universidade Federal de nidade para dizer ‘vamos buscar de experimentação inicial, os de
Pernambuco (UFPE), o caminho na enciclopédia, que traz informa- durabilidade maior – feitos de
do aprendizado. Na escola, a ção’”, diz a pesquisadora mineira. pano, de plástico, emborrachado,
criança deve ser rodeada de livros O medo de a criança rabiscar e de papelão duro – são mais ade-
e materiais em espaços de leitura, rasgar os livros faz os professores quados. A experiência do Centro
seja biblioteca, sala ou um canti- criarem dificuldades de acesso ao de Educação Infantil Hilca Piazero
nho dentro da sala de aula. Para material. Essas restrições acabam Schnaider, em Blumenau (SC) é
Magda, “o papel da professora mostrando o contrário do que de- exemplar (veja box abaixo). Mes-
é intermediar o contato do aluno veria ser: que a leitura é difícil, cha- mo livros de papel são úteis para
“A professora tem
com a escrita e a leitura, colocar o ta, porque não pode tocar no livro. os pequeninos porque a profes- o papel essencial
livro disponível e orientá-la no seu “Vai estragar sim porque ela ainda sora pode folheá-los, ler a histó- de escriba e de
uso, no convívio com o material não tem os hábitos e a habilida- ria, mostrar o livro, ensinando zelo
leitor de estória
escrito”. As atividades são várias: de motora para lidar com o livro”, pelo objeto. “Todo suporte de tex-
Marion Raupp
contar e ler histórias, folhear, mos- esclarece Magda. Mas é também to é fundamental para a criança para a criança”.
trar o material, buscar informação, a oportunidade de a professora de Educação Infantil”, diz Rosana Edmir Perrotti
Professora de Blumenau (SC) envolve mãe na leitura de livros para sua aluna.
Literatura para bebês, livros para pais folhear e só depois inicia a leitu- Todo mês pelo menos dois novos diretamente envolvidos na leitura.
Marli Henicka Blumenau/SC ra. “A intenção é criar um vínculo livros comprados ou adquiridos A partir do segundo bimestre le-
entre a criança e o livro para que em sebos são acrescentados. tivo, todo final de semana, uma
ela se torne um adulto com paixão “São obras de qualidade, resisten- criança leva para casa um clás-
A primeira coisa que os bebês meses depois do primeiro conta- pela leitura”, diz Maristela Pitz dos tes, que tenham ilustrações com sico da literatura infantil para que
do Centro de Educação Infantil to com os livros alguns já ficam Santos, diretora do CEI. nuances de cor, textos interessan- o pai ou a mãe leia para ela. Na
(CEI) Hilca Piazero Schnaider, de na frente da estante apontando e A creche é pública e atende tes e histórias intrigantes, que não segunda-feira, ela deve recontar
Blumenau (SC) fazem quando pe- pedindo para eu ler uma história”, em período integral 80 crianças. sejam bobinhas”, diz a diretora. A com suas palavras a história para
gam um livro é colocá-lo na boca. conta a professora Valdirene Pas- A maioria não tem livros em casa creche ainda não tem biblioteca, os colegas. “O maior objetivo é
Mas isso quando têm quatro ou samai Knott. nem o estímulo dos pais para a os livros ficam numa caixa que cir- que os pais percebam a qualida-
cinco meses, porque com dez A turma atual tem 12 bebês de leitura, o único contato com a li- cula pelas salas de aula. de das histórias que estão sendo
eles já querem ler sozinhos. De 0 a 2 anos. No início, eles rece- teratura acaba sendo o da sala Já no Centro de Educação In- trabalhadas com seus filhos”, diz
tanto que gostam das histórias, bem livros bem coloridos de ma- de aula. Os cerca de 150 livros do fantil Olga Bremer, também man- a professora Ilda de Carvalho Sil-
nessa fase eles nem esperam a teriais resistentes como plástico, acervo foram comprados com re- tido pela Prefeitura de Blumenau va. O aluno que vai levar o livro é
professora terminar a leitura para tecido ou madeira para brincar e cursos doados pelos pais por in- e que atende 250 meninos e me- escolhido por sorteio; já a escolha
tomar dela o livro e com seus morder à vontade. Aos poucos, termédio da associação de pais e ninas, as professoras desenvol- da obra fica por conta do gosto
Marion Raupp
próprios dedinhos apontar para a professora começa a mostrar professores ou com a renda obtida vem um projeto com crianças de da criança e não há problema se
as figuras e imitar os sons. “Seis e a dar nome às figuras, ensina a na venda de materiais reciclados. 4 e 5 anos no qual os pais são ela já tiver levado o livro antes.
Bebês percebem o livro como um objeto para
pegar e morder, como o bebê da foto.
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12. matéria de capa matéria de capa
Becker, pró-reitora de Graduação Textos bons e cartazes”, afirma Ester. escolher livros apenas para ensi- lidade para a escrita”, sintetiza a funções e objetivos. Revistas in-
da Universidade Estadual do Oes- diversos As crianças querem ouvir histó- nar algo como higiene, cuidado professora da UFPE. fantis, em quadrinhos, propagan-
te do Paraná (Unioeste), associa- Para as crianças cujas famílias rias desde pequenas, mas essas ou valor moral. Mesmo que narrativas e poe- da, embalagens, receitas, bulas
da à Rede Nacional de Formação têm baixa escolaridade ou são histórias, segundo Magda, “têm Ester sugere o uso de textos ri- mas sejam prioridade nas ativida- de remédio, certidão de nasci-
Continuada do MEC. analfabetas, a escrita pode pare- de ser adequadas, com tama- mados porque os mais novos po- des de leitura,
“Necessariamente mento também devem
O trabalho com o livro de lite- cer inútil porque elas não conhe- nho adequado, contadas ou lidas dem memorizar o texto. “Aí ela faz Magda chama ser objetos de experi-
ratura infantil exige preparo, ensi- cem o “gesto de leitura” em casa. da maneira adequada à idade” de conta que está lendo, mostra a atenção dos (o professor) não mentação. “Revistas e
nando para as crianças o que é um Na escola, a criança deve crescer para elas gostarem da atividade. com o dedo num cartaz ou livro p r o f e s s o r e s deve ter expectativa jornais, a princípio para
material para ser lido e não para num ambiente em que veja que a “A criança precisa muito de fan- sabendo que o texto está escrito para não se de alfabetização”. adultos, têm muita ilus-
ser rabiscado. “A criança precisa leitura e a escrita estão presen- tasia e de imaginação”. Livros de ali”. A criança vai progressivamen- trabalhar exclu- tração, muito texto, a
experimentar a escrita também, tes em muitas situações, “tanto literatura infantil, contos de fadas, te identificando os sinais gráficos, sivamente com
Ester Calland de criança gosta de mani-
mas vai ser no papel sulfite ou nas lúdicas – leitura de livros de fábulas e contos do folclore favo- uma letra, uma palavra, sons que o que diverte e Souza Rosa pular e até de recriar”,
craft, no caderno de desenho, na história, poesia, brincadeira com recem a fruição estética. Becker se repetem, e começa a perceber agrada. Os alunos precisam ter diz ela, “recortando figuras, letras,
lousa, no chão”, diz Rosana, “e trava-línguas e parlendas – até os alerta: nessa fase de audição de as regularidades da língua. “Assim contato com textos impressos palavras”.
não no livro”. usos mais sociais – jornal, listas, narrativa, a professora não pode você faz essa passagem da ora- não literários que têm diferentes Familiarizada com a diversidade
Semente de leitores anos), 2 ( de 2 a 3), 3 (de 3 a 4) e fatores foram decisivos nas expe- Ao mesmo tempo, elas são livros. Concebida e desfrutada cia! – as delícias do ato de narrar.
Renato L. Recife/PE do berçário. Para o visitante, não riências da creche nesse campo, convidadas a criar histórias, con- coletivamente pela comunidade, É assim que a comunidade do
resta dúvida: o manuseio de livros inclusive na mais importante de- vite que, nas edições mais recen- ela serve como exemplo de estra- Skylab faz uma semente germinar,
Antes de tudo, um aviso: não é parte do cotidiano da Skylab. las, a Mostra de Livros da Semen- tes, foi estendido aos funcioná- tégia de incentivo de baixo custo crescer e dar frutos: a do gosto de
há um herói na “historinha” que Todo dia, confirmam os profes- tinha. rios e aos pais dos alunos. Esse e integradora, capaz de reunir ao ler histórias, primeiro passo para
contamos a seguir. Não existe sores, são criadas situações de Sua primeira edição aconteceu material é transformado em livros prazer da leitura – e aí temos um que se possa criar, mais tarde,
uma professora para servir de fio leitura, ou durante “A hora do em 1999, como produto de uma artesanais pela Editora Sementi- dado fundamental para sua eficá- uma outra história...
condutor no relato das experiên- conto” – após as atividades musi- reavaliação do projeto pedagógi- nha, incorporado ao
cias da Sementinha do Skylab. A cais e corporais, quando crianças co, que apontou a necessidade acervo da Skylab e,
ausência está ligada à trajetória e/ou professoras narram histórias de se ampliar o trabalho de leitura. importante, trocado
da própria creche: como tantas, nas salas – ou nos períodos de Crianças, pais e funcionários são com outras creches.
ela surgiu em 1988 a partir da luta livre escolha, em que há a preo- incentivados a escrever. Veja bem, Além disso, são or-
da comunidade, ameaçada por cupação de se reservar tempo e não é uma tática para ampliar a ca- ganizadas campa-
um projeto de reurbanização. O espaço para o ato de ler. pacidade de escrita. É parte da es- nhas de doação de li-
esforço coletivo vitorioso marcou Tanto cuidado, claro, não surgiu tratégia de incentivo à leitura. Até vros para a biblioteca
a vida de todos – a tal ponto que do nada. Primeiro, é bom notar hoje, a estrutura básica da Mostra (que também atende
os professores pediram para não que as professoras têm formação permanece: as crianças são envol- a pais e funcionários)
serem retratados individualmente. superior – inclusive com cursos vidas numa série de atividades (vi- e oficinas de leitura
Essa, no entanto, foi a única de formação continuada – e são sitas a bibliotecas públicas e a edi- com os pais, tarefas
exigência feita ao repórter. No leitoras. Segundo, a prefeitura da toras; conversas com escritores, básicas numa comu-
restante daquela manhã de ve- cidade do Recife, principalmente inclusive com escritores-mirins; nidade de baixa ren-
rão, só encontrei portas abertas, nos anos entre 1993 e 1996, ela- teatro de fantoche mostrando a da, onde livro é artigo
boa vontade e... livros expostos borou políticas com ênfase na for- importância do livro, personagens de luxo.
Gil Vicente
nas paredes das salas arejadas mação docente e na organização narrando contos de fadas...) capa- Tudo isso deságua
dos grupos 1 (crianças de 1 a 2 de acervos. Juntos, esses dois zes de reforçar o prazer de ler. na própria mostra de
Livro é pra pegar, brincar, partilhar: essas crianças ainda não distinguem letras nem
frases, mas já começaram a ler.
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