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     “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as
    relações de trabalho doméstico no pós-abolição nos anúncios dos jornais
                       paulistanos. São Paulo (1888-1910)

                                                                                Maira Oliveira Santos*

Resumo: Após o fim da escravidão no Brasil, e mesmo antes da assinatura da Lei Áurea, o
destino dos negros libertos era amplamente discutido. As teorias raciais e positivistas do fim
do século XIX endossaram o ideal de branqueamento almejado pela sociedade brasileira e
fomentou a vinda massiva de imigrantes europeus para as lavouras e indústrias. A exclusão da
mão de obra negra foi sumária e nos jornais paulistanos a faceta mais cotidiana desta
realidade se ilustra e exemplifica através dos anúncios de empregos domésticos.

Palavras-chave: Trabalho doméstico, pós-abolição, São Paulo.



        A abolição da escravidão no Brasil não foi um evento aleatório ou isolado, como a
própria historiografia mais recente comprova. Até a assinatura da Lei Áurea em 13 de Maio
de 1888, desenrolaram-se diversos processos e movimentos pró-abolição em todo o país,
levando o tema a ser discutido e analisado tanto nas esferas políticas e sociais quanto no
panorama econômico.

        A arquitetura legislativa que culminou na lei final foi um processo gradualista de
erradicação do trabalho escravo. Tal processo idealizava a transição lenta e gradual,
amortizando os impactos dos movimentos abolicionistas, o fim da relação senhor/escravo, as
possíveis perturbações da ordem e o avanço das ações violentas e revoltas que aconteciam por
todo o país principalmente em regiões com maior concentração de escravos.

        No que diz respeito aos conflitos e revoltas de escravos, a manutenção da ordem
pública e dos direitos dos senhores sobre suas propriedades demandou a ação das forças
policiais na repressão de movimentos abolicionistas e prisão de escravos, como bem nos
mostra Maria Helena Machado. A ruína evidente da escravidão desestabilizou as relações
sociais criando casos em que a questão do direito dos senhores e as reivindicações dos
escravos não poderiam mais ser ignoradas ou minimizadas pela sociedade.

*
Graduanda de Licenciatura em História pela Universidade Nove de Julho. Artigo apresentado como Trabalho de
Conclusão de Curso sob a orientação do Professor Ms. Juliano Custódio Sobrinho.


                                                                                                        1
O acirramento das tensões envolvendo escravos, já nos primeiros
                          anos da década de 80, colocando a questão servil na ordem do dia, atraía
                          para as atividades policiais de controle dos movimentos escravos a atenção
                          da opinião pública que, informada pelos jornais, os quais no seu dia-a-dia
                          procuravam acompanhar a evolução dos conflitos entre senhores e escravos,
                          sensibilizava-se pelas denúncias das arbitrariedades policiais. De fato, a
                          atuação dos jornais com relação à questão servil, no decorrer da década de
                          80, foi bastante expressiva, buscando acompanhar o mais detalhadamente
                          possível a atuação policial e, através dela, os conflitos envolvendo escravos,
                          libertos e abolicionistas.1

        Mesmo com o apoio de diversos grupos e tendo o acompanhamento da imprensa e da
opinião pública a discussão da abolição e as opiniões a respeito desta eram conflitantes.
Pensar a economia brasileira sem o trabalho escravo era muito difícil para muitos
conservadores que não acreditavam em relações de trabalho livre entre negros e brancos após
a abolição. Por isso mesmo o Estado Imperial dá início desde meados do século XIX a um
longo processo gradualista que consistiu basicamente em uma forma legal de experimentar a
libertação de negros e mediar os poderes dos senhores, assim como tomar a dianteira do
processo abolição da escravidão, evitando o crescimento dos movimentos populares. Todo
este conjunto de ações acabaram por dar ao processo abolicionista brasileiro um aspecto de
luta lenta e, de fato, gradual para os que acompanhavam a evolução das discussões.

                                  Tão longo e socialmente penoso foi o processo de abolição
                          que, aos contemporâneos – acostumados a décadas de intermináveis
                          discussões parlamentares que acabavam resultando em tentativas
                          fracassadas ou tímidos projetos emancipacionistas e/ou gradualistas,
                          que a todos frustravam e a ninguém atendiam –, parecia que não viria
                          nunca. Talvez por isso, apesar de tão tardia, tenha sido tão
                          comemorada pelos populares como evento auspicioso e surpreendente
                          que, de certa forma, parecia anunciar nova onda de esperança e
                          otimismo, capaz de restaurar a crença na sociedade brasileira. No
                          entanto, ao contrário do que apontavam as aparências e afirmavam os
                          parlamentares e a burocracia imperial, que correram para assumir as
                          glórias do feito, o fato social da abolição foi realizado em outra parte,
                          nas esferas menos visíveis da sociedade, nas dobras do mundo
                          parlamentar, no contexto das militâncias populares nascentes e nas
                          franjas da política formalista e excludente do império.2



1
  MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro:
UFRJ, EDUSP, 1994. p. 72
2
  MACHADO, Maria Helena. “Teremos grandes desastres, se não houver providências enérgicas e imediatas”: a
rebeldia dos escravos e a abolição da escravidão. In: Brasil Imperial. Vol.3. GRINBERG, Keila. SALLES,
Ricardo (orgs). RJ. Civilização Brasileira, 2010.p.369
                                                                                                       2
A existência dos movimentos em prol do fim da escravidão e as ações de resistência
dos próprios escravos contribuíram para que este contexto estivesse permeado pela tensão
entre os grupos que defendiam o gradualismo como forma de sustentar este sistema por
quanto tempo fosse possível e os que lutavam para que o processo fosse acelerado e que o
trabalhador negro fosse inserido numa nova dinâmica de relações de trabalho. Somou-se a
isso a própria negativação do elemento de cor como um sujeito incapaz de estar nesta
dinâmica de trabalho mais compatível com as expectativas liberais de mercado de trabalho,
por sua presença nos movimentos e por sua própria resistência cotidiana.

       Diante disso, ainda seguindo o processo gradualista de transição de escravidão para
trabalho livre, a possibilidade mais acertada para que a abolição não colapsasse a economia
brasileira por falta de braços seria a imigração endossada pelo conjunto de idéias higienistas,
raciais, civilizatórias e modernizadoras que vieram a fundamentar o ideal de branqueamento
social. O texto de Wlamyra Albuquerque traz o panorama tanto do gradualismo quanto da
imigração como partes de um processo para substituir o escravo como força de trabalho e base
da produção nacional sem necessariamente incluí-lo no mundo do trabalho

                                 Às vésperas da abolição, a busca de alternativas ao trabalho escravo
                         fazia-se então mais incisiva, mais direta. As expectativas dos barões (...)
                         tiveram eco na presidência da província, João Capistrano Bandeira, que
                         desde então não poupou esforços para impulsionar a imigração de europeus.
                         Em fevereiro de 1887, ele enviou a todas as Câmaras Municipais um
                         questionário sobre as necessidades da agricultura e do comércio, a
                         nacionalidade dos estrangeiros e as possibilidades de acomodarem
                         imigrantes “laboriosos e civilizados” 3

       O que podemos perceber pela historiografia é que os escravos urbanos, tanto homens
como mulheres, mas em especial as mulheres, tinham uma mobilidade pela cidade, que
poderia incomodar aos idealizadores da modernidade e urbanização de São Paulo. Estas
mulheres estavam presentes pelos espaços, ocupando lugares públicos, trabalhando para si ou
para suas senhoras, traçando relações e conexões, transitando de forma quase impossível de se
reprimir pelas autoridades, causando pequenas confusões e discussões.

                                O espaço de sobrevivência das mulheres pobres, brancas, escravas e
                         forras na cidade de São Paulo coincidia com a margem tolerada da relativa
                         autonomia dos desclassificados sociais; difícil, se não impossível, de ser
                         devidamente policiada, cresceu com a urbanização, multiplicando

3
 ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009. p. 101-2
                                                                                                    3
oportunidades de improvisação de papeis informais; na cidade as mulheres
                          pobres circulavam pelo espaço social – fontes, lavadouros, ruas e praças –,
                          onde se alteravam e se sobrepunham o convívio das vizinhanças e dos
                          forasteiros, do fisco municipal e do pequeno comercio clandestino, as
                          fimbrias da escravidão e do comércio livre. 4

         Podemos então relacionar todo este panorama social do período pré e pós abolição no
qual as mulheres negras estavam inseridas como uma das razões pelas quais as classes
dominantes paulistanas acharam justo e plausível determiná-las como trabalhadoras
indesejáveis e não confiáveis. Seguindo os ecos das ruas, os jornais começam a trazer a visão
das elites para esta movimentação dos negros no espaço urbano.

         A imprensa paulista e paulistana demorou a se tornar forte e sólida. Apenas após a
chegada da família real em 1808 é que os jornais em todo Brasil, e principalmente em São
Paulo, tornaram-se um veículo de grande alcance e influência na vida cotidiana. O jornal do
século XIX era muito diferente do jornal que conhecemos, porém algumas características
continuam as mesmas. O jornal é um segmento desta sociedade, uma extensão de seus
pensamentos, sua mentalidade, a ideologia de seu tempo e de seus anseios por modernidade e
civilização. No século XIX, era pelos jornais que as notícias do mundo chegavam, sobre
política, sobre tecnologia e ciência. Mesmo sendo um veículo relativamente novo no Brasil, a
imprensa foi muito disputada pelos grupos políticos que queriam propagar suas ideias e
acabaram ilustrando como a sociedade brasileira do século XIX realmente via e entendia o
escravo negro e seu lugar na hierarquia social. Apesar do grande número de analfabetos no
Brasil e as tiragens pequenas, os jornais já tinham um alcance considerável, sendo passado de
um leitor para o outro e muitas vezes lido para grupos. Esse alcance servia em muitos casos
para criar redes de relações sociais, troca de informações e divulgação de ideias de ambos os
lados.

         Na obra de Lilia M. Schwarcz “Retrato em branco e negro” traz um panorama dos
primórdios da imprensa paulista e de como os negros eram retratados pelos jornais e toda a
ideologia cientificista do período apresentada pelos editoriais publicados nos principais
periódicos paulistas. Os conceitos sobre a evolução das espécies, o positivismo filosófico e os
recentes estudos antropológicos sobre as raças e culturas eram os assuntos mais comuns e os
jornais eram uma das formas mais eficientes de divulgar tais teorias entre o público.

4
 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense,
1984.p.11
                                                                                                       4
Os diversos jornais, no entanto, não só se utilizavam das teorias
                            evolucionistas para informar os diferentes artigos buscavam mostrar que na
                            verdade compactuavam com essas novas ideias. Ou seja, principalmente a
                            Província de São Paulo, (...), aparentava manipular cotidianamente esses
                            conceitos que a “aproximavam dos países mais desenvolvimentos”. Nesse
                            sentido, a noção de civilização transformava-se aos poucos num dos valores
                            mais “caros”, sendo que São Paulo parecia ter, nesse ponto, uma de suas
                            grandes metas.5

        Estas teorias e novas ideias eram a base de políticas sociais muito sólidas para
disciplinar os nacionais pobres, em especial os negros recém libertos. Tal disciplina era
voltada para a devoção ao trabalho, como forma de ser útil à sociedade, e também de repúdio
total ao ócio e a vadiagem, renunciando aos hábitos “incivilizados e primitivos”, com a
adoção de práticas sociais mais condizentes com o modelo moderno e europeu que se
desejava à época.

        Rago demonstra as nuances desta política social ideológica de disciplina pensada e
executada pelas elites paulistas e endossadas pelo estado, como forma de por os trabalhadores
livres em seus lugares, indicando-lhes quais posturas deveriam ter daquele momento em
diante, uma vez que, com o fim da escravidão, toda a dinâmica do trabalho livre estava sendo
reestruturada. Era mais do que necessário que o trabalhador estivesse focado apenas em suas
funções, obediente aos seus superiores e nunca vinculado aos crescentes movimentos de
contestação.

                            Se, pelo lado dos patrões, o período que vai de 1918 a 1922
                            aproximadamente assiste a uma redefinição dos procedimentos de
                            disciplinarização do trabalho, que apela para as noções de ciência, de técnica
                            e de progresso, configurando um projeto de construção da “nova fábrica”,
                            pelo lado dos operários, a intensificação das formas de resistência aponta
                            para a luta pelo controle do processo de trabalho. Ao lado do trabalho
                            subterrâneo da resistência cotidiana que se trava no interior da produção,
                            evidencia-se nos horizontes do movimento operário a questão da toada das
                            fábricas e da reorganização do processo produtivo, neste momento histórico
                            preciso. 6



5
  Este trabalho apresenta desde a história da imprensa paulista e paulistana como também as várias maneiras que
os grandes jornais faziam referência aos escravos e negros livres e libertos, destacando as teorias científicas do
fim do século XIX e início do XX. SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e
cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo, Cia das Letras, 1987.p109.
6
  A temática do trabalho citado está focada no operariado formado basicamente por imigrantes, porém, no que
diz respeito aos processos de disciplinarização dos trabalhadores, tanto europeus quanto nacionais, esta temática
se aproxima do tema deste trabalho. RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil
1890-1930 São Paulo, Paz e Terra. 1997.p.47.

                                                                                                                5
Uma das sessões dos jornais que serve de termômetro para o que acontecia nas ruas
paulistanas é a dos classificados que, no período estudado, chamavam-se anúncios. O espaço
destinado variava de acordo com o jornal e a quantidade de anúncios, principalmente se
comparada aos espaços ocupados por anúncios publicitários de grandes empresas, lojas e
fábricas, mas mesmo assim conseguiam demonstrar o que permeava as relações entre
sociedade, economia e trabalho do período do pós-abolição e início da imigração europeia.

O negro nas páginas dos jornais

          George Andrews traz à tona o plano imigrantista já como parte das políticas de
transição e gradualistas para o fim da escravidão e uma realidade após a abolição. Numa
possibilidade de o negro, uma vez livre do trabalho forçado, não se adequar a rotina de
trabalho livre e regrado e pensando nas situações em que os negros já livres não permaneciam
nas fazendas, a salvação seria trazer um contingente de imigrantes europeus que garantiriam a
força de trabalho da economia brasileira.

                                   Mais nefasto ainda era um artigo escrito um ano depois da
                           abolição, intitulado “A Segregação do Liberto”, que anunciava a
                           conclusão virtual da competição do mercado de trabalho e a vitória
                           definitiva dos imigrantes. Ignorando a substância dos debates
                           legislativos anteriores, o artigo dizia que tal competição não havia
                           sido pretendida ou antecipada. (...)E agora “o vazio deixado pelo
                           primitivo trabalhador foi preenchido para sempre... O liberto esta
                           seggregado, inutilizado, perdido para a vida produtiva. 7
          Desde antes do fim da escravidão o negro já era um elemento presente nas páginas dos
jornais e não só como personagem das notícias de crimes e atividades “selvagens” ou nos
artigos sobre inferioridade racial e as estranhas culturas dos países africanos, mas apareciam
também nos anúncios sobre fugas e como “artigos” de compra e venda. Neste aspecto as
referências claras às características físicas e aos hábitos do escravo em questão já fazem parte
da linguagem de tais anúncios e esta linguagem permanece após a abolição demonstrando que
tais características eram importantes na relação de trabalho livre que se estabeleceria.

          Mas ainda no tema da disciplina para o trabalho, Gilberto Freyre apresenta um estudo
referente aos escravos nos jornais e sobre os instrumentos de controle para que os negros
fossem normatizados de acordo com a relação senhor-escravo/patrão-empregado.


7
    ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, SP: EDUSC, 1998.p 101.
                                                                                                     6
Aculturação dirigida. Trabalho forçado. Mas aculturação e trabalho
                            dirigidos que preparavam o escravo para a própria liberdade dentro da
                            nova sociedade ou da nova cultura de que ele passava a ser elemento
                            ou membro; e à qual trazia ou acrescentava alguma coisa de seu, ao
                            mesmo tempo que adquiria dela, juntamente com a língua portuguesa,
                            nem sempre bem aprendida, e com a religião cristã, nem sempre bem
                            assimilada, todo um conjunto de ritos, de técnicas, de valores, de
                            hábitos de trajo e de alimentação, que importavam na sua maior ou
                            menor integração num novo gênero de vida. 8

        Nesta sessão de anúncios e classificados, que neste período não era tão extensa ou
elaborada como veio a ser no futuro, encontram-se, lado a lado, anúncios de “precisa-se”,
“compra-se” ou “vende-se”, dos mais diversos produtos e serviços, cebolas, velocípedes,
jumentos e professores, ilustrando a fase de transição que a capital paulista passava, entre o
moderno e o rural ao mesmo tempo. Mas destes anúncios de “precisa-se” os que chamam a
atenção são os que solicitam empregados para serviços domésticos. Mesmo antes de 13 de
Maio de 1888 os anúncios que declaravam intenção de contratar escravos ou livres para
trabalhos como cozinhar, lavar ou para serviços da roça superavam os de escravos fugidos. E
mesmo que “os jornais não dessem conta de todo o mercado de trabalho eles ajudam a
entender o mundo do trabalho na cidade” 9

        A abolição da escravatura foi não só um ato político como o resultado de movimentos
sociais e transformações econômicas internas e externas, simbolizando também uma
reformulação nas estruturas sociais da época. O lugar dos negros no novo cenário social e
econômico mostrou-se uma questão complicada para o pensamento modernizador
influenciado pelas teorias cientificistas e as correntes racistas. Tanto industriais quanto
senhores de terras não acreditavam que os ex-escravos ou até mesmo os negros já livres
fossem capazes de serem introduzidos na lógica do trabalho livre, sendo assim, a imigração de
europeus supriria tanto a demanda por mão de obra qualificada quanto a do branqueamento da
sociedade brasileira, pré-requisito para a formação de um Estado forte e moderno.




8
  O texto trás o olhar antropológico sobre as relações estabelecidas entre escravos e senhores no Brasil e como as
particularidades destas relações ficavam referenciadas nos anúncios de jornais, destacando também as nuances
culturais e os discursos que se fazem notar através destes. FREYRE, Gilberto. Os escravos nos anúncios de
jornais brasileiros do século XIX. São Paulo. Global. 2010.p.71
9
  As dinâmicas cotidianas do mercado de trabalho as quais os escravos e negros livres estavam submetidos e se
apresentavam de formas variadas tanto em jornais da época como em documentos de órgãos do estado e relatos
de viajantes e cronistas, ilustrando o processo de substituição do trabalhador negro pelo branco europeu.
JACINO, Ramatis. O Branqueamento do Trabalho. São Paulo. Nefertiti. 2008.p.108-109.
                                                                                                                7
Ao seguirmos esta linha podemos ver que é aqui que se abre um grande paradoxo, pois
a intenção disciplinadora apresentada anteriormente era a de adequar o ex-escravo ao mundo
do trabalho, porém o que se viu na prática foi uma preferência pela mão de obra imigrante e
branca, desconsiderando o que, anteriormente, “tratava-se simplesmente de tornar ocupados
os desocupados ou manter ocupados aqueles que se fossem alforriando, de modo a se instituir
um controle estrito e cotidiano do Estado sobre suas vidas”, para agora ser a exclusão do
mercado de trabalho.

        Em 1888, nas páginas d’A Província de São Paulo10 os anúncios de emprego poderiam
passar despercebidos, mas depois da Lei Áurea os anúncios de “precisa-se” ganham uma
característica que traduzia alguns pensamentos correntes na época. Tal particularidade que
chamou minha atenção ao examinar as fontes foram os anúncios que faziam clara referência à
cor da pele ou da nacionalidade do empregado que se desejava contratar, quando antes se
pedia apenas que o candidato à vaga fosse qualificado e com boas referências. Através dos
anúncios de jornais pesquisados, foi possível entender como a substituição acontecia no
tocante ao trabalho doméstico, mas dando uma ideia do que ocorria em todo o mercado da
cidade de São Paulo 11.

                           Sob a influência das teorias cientificas raciais que então se produziam na
                           Europa e nos Estados Unidos (...), vários reformadores passaram a tratar o
                           tema do negro livre não mais do ângulo inicialmente proposto – o da coação
                           do ex-escravo e demais nacionais livres ao trabalho –, mas sim da
                           perspectiva de sua substituição física pelo imigrante tanto na agricultura
                           como nas diversas atividades urbanas.12

        A historiografia sobre as relações de trabalho neste período diz que os negros libertos
foram excluídos da crescente industrialização e de São Paulo e também do comércio,
acusados de indolentes, indisciplinados e incivilizados. A preferência pelos trabalhadores
europeus era endossada pela ideia de que estes seriam mais disciplinados para o trabalho livre,
acostumados com as rotinas das fábricas e postos de trabalho regrados, serem originários de
sociedades civilizadas e culturalmente evoluídas e serem brancos. O branqueamento do

10
   O jornal em questão, assim como o Diário Popular e o Correio Paulistano citados neste artigo, encontra-se no
acervo da hemeroteca do Arquivo Público do Estado de São Paulo, tendo sido pesquisadas edições entre os anos
de 1888 e 1910.
11
   JACINO, Ramatis. Op.cit.p.60.
12
   As perspectivas destes processos de exclusão baseavam-se em parte pelo caráter “selvagem” e “incivilizado”
dos nacionais livres, fossem eles indígenas ou afro-brasileiros, o que era indesejado e temido pela burguesia
brasileira e pelo Estado. AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco; o negro no
imaginário das elites – século XIX. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987.
                                                                                                             8
trabalho parecia ser a solução, mas óbvia para esta questão uma vez que a pauta do dia era a
europeização da sociedade brasileira como um todo.

      Antes do fim da escravidão o que se tem em toda a sociedade brasileira é o escravo
inserido em relações sociais de diversos graus, resistindo às opressões da relação senhor-
escravo e galgando sua liberdade através destas relações estabelecidas no cotidiano com
outros escravos e homens livres. O estudo de Maria Cristina Wisselbach sobre essas relações
sociais nas quais os negros escravos estavam inseridos demonstram como a opressão do
trabalho forçado levou os cativos a buscarem novas formas de vivência que os permitissem
uma situação menos sofrida.

                           Sujeitos a um regime baseado na coerção, que os obrigava ao trabalho e às
                           punições vistas como necessárias, que delimitavam suas vidas por
                           condicionantes, das quais na maior parte das vezes não conseguiam escapar,
                           os escravos tinham a possibilidade de desenvolver outras relações e práticas
                           sociais, seja no âmbito do grupo de parceiros ou de escravos de uma mesma
                           vizinhança, seja ainda nos contatos mantidos, num sentido mais amplo, com
                           os homens livres com os quais conviviam. No interior dessa complexa rede
                           social, de caráter aparentemente residual, construíam os elementos mais
                           significativos para remir, em parte, sua escravidão, dimensionando uma série
                           de estratégias de independência no lastro dos vínculos sociais primários que
                           acabavam por estabelecer.13

        Voltando mais uma vez ao período anterior a abolição, temos os escravos em todos os
postos disponíveis no mercado de trabalho brasileiro, convivendo ou competindo com
trabalhadores livres, muitas vezes brancos pobres e imigrantes. Neste quadro os escravos
domésticos que não tinham uma produção economicamente interessante poderiam ser
numerosos em casas mais abastadas e, “apesar da preocupação ostentatória, tamanha
abundância de domésticos induzia, numa medida ou noutra o seu aproveitamento rentável”14,
“aí o interesse lucrativo prevaleceu e, justamente pela grande demanda, tornou-se bom
negocio vender ou alugar escravos domésticos”. Podemos então vislumbrar um mercado de
trabalho doméstico quase que exclusivamente dominado pela mão de obra negra.

        Se, após a abolição da escravidão, nas fábricas e no comércio as vagas de empregos
eram dos imigrantes brancos, deduz-se que trabalhos domésticos mais subalternos e pesados
13
   WISSELBACH, Maria Cristina. O escravo e o mundo caipira na comarca de São Paulo. In: Sonhos africanos
vivências ladinas. Escravos e forros em São Paulo (1850 – 1880). São Paulo. Hucitec, 2009.p.110
14
   As relações de trabalho escravo durante o período colonial pouco ou nada mudaram durante o Império,
sugerindo que após o fim da escravidão as disparidades e contradições destas relações vazaram para as relações
de trabalho livre entre brancos e negros. GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 4ed. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2010.p.505.
                                                                                                            9
que não exigisse grandes conhecimentos técnicos continuariam para os negros, como já o
eram antes do fim da escravidão. Cozinheiras, criadas, amas de leite e secas e lavadeiras
pareciam ser os destinos profissionais das mulheres negras, mas o que se vê pelos anúncios
dos jornais não é bem isso.

        Uma preferência discriminatória acontece de forma muito clara e simples nos anúncios
de empregos confirmando que era uma tendência social crescente e comum, respaldada pelas
teorias cientificistas e racistas da época a ideia de livrar o país da presença dos negros e
mestiços. Temos então o seguinte panorama: Na Europa e EUA o pensamento positivista, os
crescentes estudos sobre a saúde e higiene, as teorias antropológicas acerca da evolução das
culturas, os determinismos geográficos e genéticos ou hereditários e superioridade das ditas
“raças-puras” eram uma pauta discutida e praticada, no Brasil todos esses discursos foram
apenas adaptados para a realidade mestiça do povo brasileiro, passando também a ser uma
prática. Em outro trabalho, Lilia M. Schwarcz apresenta as dinâmicas entre essas teorias
cinetificas e realidade social e cultural brasileira.

        Neste contexto, onde ficariam os pobres brasileiros, constituídos em sua maioria por
negros indígenas e mestiços? A suposta inferioridade destes era “comprovada” e afirmada
tomando como base os manuais e tratados científicos inquestionáveis naquele período, sendo
assim, estariam todos que não fossem brancos desqualificados e/ou inadequados para
qualquer atividade de trabalho ou convívio social “civilizado”. Representavam o que o Brasil
não deveria mais ser.

        Para as famílias burguesas da Europa “a conduta indicada na contratação de uma ama
de leite era apresentada de forma igualmente direta (...). A mãe que fosse privada do prazer de
amamentar seu bebê deve procurar uma ama de leite e examiná-la cuidadosamente”15 ,ou seja,
já existia uma preocupação com saúde e higiene. Mas quando transportamos para a realidade
nacional, a carga das teorias raciais e do branqueamento associadas aos preconceitos
estabelecidos ainda no período da escravatura, temos a necessidade da elite paulistana de
excluir os negros livres também dos trabalhos domésticos.




15
  GAY, Peter. O século de Schnitzler: a formação da cultura da classe media: 1815-1914. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.p.66.
                                                                                               10
Na edição da Província de São Paulo 16, de 29 de janeiro de 1888, encontram-se dois
anúncios do mesmo endereço sobre a intenção de se contratar uma criada e um copeiro. Os
anúncios são simples e não fazem qualquer menção de cor da pele ou nacionalidade. No
mesmo jornal, mas da data de 15 de Maio de 1888 17, somente dois dias após a assinatura da
Lei Áurea pela Princesa Isabel, encontra-se o anúncio que requisita a contratação de uma
“creada allemã que saiba costurar”. Os anúncios que se seguem nas datas posteriores, tanto na
Província quanto no Correio Paulistano e no Diário Popular 18 continuam em padrões bastante
parecidos, fazendo vez outra menção a cor da pele ou a nacionalidade, quando não
mencionam as duas coisas. Uma família anunciava que precisava com urgência de uma
“Cozinheira, boa em sua arte, branca, preferindo-se estrangeira”; uma mãe procurando “Ama
de leite com leite novo, prefere-se italiana ou alemã”; criadas e lavadeiras também deveriam
ser brancas, limpas e estrangeiras. Esta linguagem tão direta e crua pode parecer estranha aos
nossos olhos hoje, mas transparecem as intenções das elites paulistas do fim do século XIX e
início do XX, sem margem para muitas dúvidas. Sendo assim, fica claro que o branqueamento
do povo brasileiro não era apenas uma teoria, um ideal distante, era uma realidade e um
objetivo a ser alcançado. Não bastava apenas impedir que negros e mestiços fizessem parte da
modernização de São Paulo, era preciso bani-los dos lares das “boas” famílias paulistanas.
Como as teorias afirmavam “os grupos negros, amarelos e miscigenados "seriam povos
inferiores não por serem incivilizados, mas por serem incivilizáveis, não perfectíveis e não
suscetíveis ao progresso" (Renan, 1872/1961).”19
        À primeira vista os anúncios das seções de classificados têm sua versão
discriminatória para cada tipo de ocupação, apresentando os “precisa-se” de padeiro francês
ou os trabalhadores rurais no dia 20 de Abril de 1895 na Província de São Paulo.
                                  Trabalhadores para um sítio. – Precisa-se um casal de
                           trabalhadores italianos, portuguezes ou Ilhéos para tomarem conta de



16
   Província de São Paulo, 29/01/1888. Microfilme 01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
17
   Província de São Paulo, 15/05/1888. Microfilme.01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
18
   Os referidos títulos fazem parte do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo – Setor de Biblioteca e
Hemeroteca, tendo sido pesquisadas as edições entre os anos 1888 e 1910. Podem ser visualizados no original
impresso ou em microfilmes.
19
   A discussão sobre a negatividade da miscigenação do povo brasileiro e suas consequências para o futuro do
país enquadradas pela distorção sobre a “Origem das Espécies” de Darwin, por exemplo, que deu origem ao
evolucionismo social, e tantos outros trabalhos científicos que acabaram por se tornar as bases de discursos
etnocêntricos eugênicos. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão
racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.32
                                                                                                            11
zm pequeno sítio à meia. Para tratar-eu ao Largo do S. Francisco
                             n.1120

           Mas estes anúncios de vagas mais variadas são raros no que diz respeito às menções a
cor da pele e nacionalidade, ficando a maioria deles para os anúncios para trabalhos
domésticos, sendo estes o ponto de maior interesse deste trabalho. Para melhor exemplificar o
que foi encontrado na pesquisa, dividi os anúncios em dois tipos: “Precisa-se” e “Oferece-
se”, sendo, respectivamente, de empregadores a procura de trabalhadores e de trabalhadores a
procura de colocação, contendo ou não especificações ou descrições quanto a cor da pele ou
nacionalidade.
           Na edição do dia 12 de Janeiro de 1893, os classificados de empregos do Correio
Paulistano21 traziam um anúncio com a palavra “CREADA” em destaque e logo abaixo o
texto dizia que desejava-se contratar uma “à rua Marechal Deodoro (antiga Imperador), n.12
– Prefere-se extrangeira, e paga-se bem – Não sendo boa é inútil apresentar-se.” . Algumas
vezes ainda era acrescentada ao anúncio um “paga-se bem” ou “para serviços leves” de modo
a atrair as candidatas pelas possíveis vantagens.
           O Correio Paulistano era o que apresentava menos anúncios, espremidos entre artigos
diversos, noticiários e publicidades maiores, os discriminatórios aparecem esporadicamente.
A Província de São Paulo tem uma sessão maior e com os anúncios preferindo imigrantes
mais frequentes, alguns até mais destacados do que os demais. Já o Diário Popular tem uma
sessão muito maior do que os jornais supracitados, chegando a ser o equivalente a uma página
inteira de anúncios de empregos apresentados em tamanhos diferentes fazendo menção a
brancos e/ou europeus. Vale a pena dizer que estes anúncios não eram maioria nos jornais,
eles dividiam espaços com outros que traziam a intenção de uma família em contratar uma
empregada, mas não faziam qualquer menção a cor ou nacionalidade, algumas vezes exigindo
apenas que fosse bom em seu ofício.
           É importante destacar que alguns anúncios persistem sendo publicados diariamente
por longos períodos. Tanto os que requisitam empregados brancos quanto os que não citam
cor ou nacionalidade, seguem sendo publicados por meses. Isso leva a levantar a hipótese de
que poderiam ocorrer duas situações: primeira, de que os anúncios que exigem que as
candidatas à vaga sejam brancas, no momento em que a mulher comparecia ao endereço


20
     Província de São Paulo, 29/01/1888. Microfilme 01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
21
     Correio Paulistano. 12/01/1893. Microfilme 04.01.045. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
                                                                                                           12
respondendo ao classificado do jornal, a contratante não ficava plenamente satisfeita, apesar
de a candidata ser branca e estrangeira; segunda, ao responder ao classificado que não fez
qualquer menção racial, a mulher negra ou mestiça era rejeitada na contratação.

        Nesse aspecto percebe-se que o que se queria deste trabalhador ideal era a salvação
modernizadora do Brasil, e São Paulo em franco processo de modernização precisava disto
mais do que tudo. Desqualificar os pobres nacionais, negros ou mestiços, negativar seus
modos de vida e o lugar onde viviam fazia parte do discurso corrente da sociedade paulistana
até os anos 1930. Queria-se que fosse imigrante europeu branco supostamente já bem
qualificado e disciplinado para as rotinas de trabalho, porém, “se assim fosse, não seriam
necessárias as várias tentativas de reorientar, disciplinar e controlar esses trabalhadores.”

                                    Assim, a ressaltada e, na maioria das vezes, elogiada modernização e
                           a expansão incessante de São Paulo sugerem, ao mesmo tempo, a constante
                           tentativa de superar o que era considerado indesejável, bem como a provável
                           resistência do que se procurava transformar. Buscando perceber a presença
                           dos nacionais neste processo, é possível surpreender duas situações: a
                           primeira é quase um silêncio sobre os despossuídos dessa parcela da
                           população e a segunda um discurso desmerecendo e excluindo seus modos
                           de vida em determinados lugares do perímetro urbano municipal. 22

        Volto mais uma vez para as fontes deste trabalho, os anúncios de empregos dos jornais
paulistanos. O conteúdo dos anúncios vez ou outra traz a exigência de que o candidato tenha
boas referências ou que “dê fiança de sua conduta”, às vezes mais do que apresentar
qualificação ou experiência para a função. Parece muito significativo que esses termos
comecem a fazer parte do anúncio justamente quando a imigração está em seu auge,
levantando, então, a hipótese de que nesse período as primeiras manifestações de
trabalhadores imigrantes contra as odiosas condições de trabalho nas fábricas começassem a
desabonar os estrangeiros da imagem feita pelos defensores da imigração.

        É fato que os imigrantes que foram para as lavouras do interior de São Paulo e para as
frentes de trabalho da indústria paulista não se submeteram às condições subumanas e ao
tratamento que antes era dirigido aos escravos. É bem conhecida a luta das organizações de
trabalhadores e das greves do período que reivindicavam não só para si como grupo, mas
também para outros trabalhadores, independente de suas nacionalidades ou etnias, melhores

22
   A política social que pretendia limitar cada vez mais o acesso do negro ao mercado e trabalho livre, tanto em
fábricas quanto no comércio, nas lavouras ou nos lares. SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era
italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915. Annablume, 1998. p.62
                                                                                                             13
condições de trabalho e de vida estando “bastante conscientes das oportunidades táticas que
uma classe trabalhadora étnica e racialmente dividida oferecia aos patroes e ao Estado”

                                  O domínio dos imigrantes no movimento operário paulista, sua
                           insegurança diante das políticas de imigração do governo e o resultante
                           excesso de mão de obra, e ao lado da marginalização dos trabalhadores afro-
                           brasileiros em São Paulo, poderia facilmente ter levado a resultados como
                           aqueles dos EUA e da África do Sul, onde os trabalhadores brancos exigiram
                           – e receberam – barreiras institucionalizadas contra a competição dos negros.
                           Entretanto, não foi isso que aconteceu. Em busca de estratégias para
                           melhorar sua posição e enfrentar seus patrões e o estado, os trabalhadores de
                           São Paulo parecem nunca ter considerado a possibilidade da exclusão e
                           segregação racial que estava sendo buscada em outros lugares.23

        Como que confirmando esta possível desilusão das elites com os imigrantes e sua
suposta disciplina é que surgem alguns anúncios como publicado no Correio Paulistano de 19
de Setembro de 1891 que dizia

                                  “Precisa-se de uma cosinheira, não se faz questão da cor, na Rua
                           Carneiro Leão, 2K”24

        Ou este outro publicado na Província de São Paulo/OESP em 7 de Outubro de 1902

                                   “Ama. Precisa-se de uma, na Alameda dos Andradas, 44. Dá-se
                           preferência às brasileiras, não se fazendo questão da cor.”25

        Mas mesmo com as manifestações de descontentamento e as reivindicações dos
trabalhadores, os anúncios dando preferência aos imigrantes continuam a estampar as páginas
dos periódicos diariamente. Na edição da Província de São Paulo/OESP de 15 de Setembro de
1891 foi publicado o seguinte anúncio:

                                   “Lavadeira e engommadeira. Precisa-se de uma, preferindo-se
                           allemã. Para tratar na Rua dos Andradas i5-G”26

        O texto deste anúncio nos leva a pensar a mentalidade das classes média paulistanas
deste período. Pessoas letradas, com certo nível de educação, leitoras de um periódico que
trazia artigos sobre as novas descobertas da ciência, o desenvolvimento da tecnologia e a
modernidade, que agora que não tinham mais escravos, e também não contrataria negros
livres, decidia que a lavadeira deveria ser uma moça branca e alemã, que a cozinheira deveria
ser francesa e que a ama seca que cuidaria das crianças seria italiana. E as italianas tinham
23
   ANDREWS, George. op.cit.p.103.
24
   Correio Paulistano, 19/09/1891. Microfilme 04.01.043. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
25
   Província de São Paulo, 07/10/1902. Microfilme 01.01.036. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
26
   Província de São Paulo. 15/09/1891. Microfilme 01.01.017. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
                                                                                                         14
ainda uma especificação a mais. Em anúncio publicado pelo Diário Popular no primeiro
semestre de 1908, pede-se uma “Creada da alta Itália, de meia idade, decente e limpa”. Não
foi possível entender o que esta especificação quanto à geografia da Itália interveria no
trabalho da dita criada, porém, vendo está preferência por imigrantes como um todo e além do
objetivo de branquear o Brasil, levanto a hipótese de que está sociedade, esta elite econômica
estava tão fascinada pelo que vinha de fora, pelo que era europeu que alimentava o fetiche de
“consumir” empregados domésticos estrangeiros, assim como uma vez usava-se como
ostentação de poder e riqueza vestir seus escravos com luxo.

        Esta segregação no mercado de trabalho doméstico da capital teve como consequência
a formação de redes de resistência em modos de vida alternativos e, por isso mesmo,
negativados pelas elites e seus modelos sociais civilizatórios e modernizadores. Expulsos das
funções que antes exerciam como escravos, relegados a rua, os negros organizaram-se de
modo a prover sua subsistência.

                         Homens e mulheres pobres, livres, nacionais ou africanos, com todas as
                         singularidades, resistiam e marcavam nas ruas, praças, pontes e chafarizes.
                         Viviam m chácaras e casebres no centro e nos arredores da cidade, causando
                         desconforto às elites que sonhavam e planejavam um país de brancos,
                         “morigerados”, subordinados, sem questionamentos à hierarquia social por
                         elas estabelecida.27

        Novamente se abre uma contradição no painel ideológico das elites paulistanas. Como
foi discutido anteriormente, o objetivo era disciplinar e adequar os negros para o trabalho livre
civiliza-los para a modernidade, mas o que se vê é que estes eram considerados naturalmente
incapazes para qualquer função, mesmo as mais subalternas e simples como o trabalho
doméstico, sendo então substituídos por imigrantes europeus.

        Em toda esta dinâmica segregacionista estabelecida e ilustrada pelos anúncios de
classificados de empregos dos jornais pesquisados, nota-se que assim como havia uma
demanda de empregadores que desejavam contratar brancos, também surgem os brancos que
se oferecem nos classificados descrevendo sua cor ou nacionalidade como parte da sua
qualificação. Saiu na Província de São Paulo de 5 de Janeiro de 1889 o seguinte anúncio:


27
   Não só a segregação no trabalho era uma das facetas do branqueamento como também a negativização das
atividades que os negros exerciam muitas vezes nas ruas ou locais públicos como a prestação de pequenos
serviços e o comercio ambulante, considerando estas atividades como vadiagem ou vagabundagem a ser
combatida. JACINO, Ramatis. op.cit.p.140
                                                                                                    15
“Ama de leite. Offerece-se uma que tem muito leite. É italiana. Bom Retiro,
                           venda Camillo Antonio, Largo da Immigração.”28

        Já em uma edição do Diário Popular do 2º semestre de 1889 encontra-se outro
exemplo deste nicho de mercado de trabalho doméstico formado aparece no seguinte anúncio:

                                 “Offerece-se um casal, ambos italianos, moços, sem filhos, o marido
                           como jardineiro, a mulher como cosinheira. Tratar-se no Hotel da
                           Hospedaria de Immigrantes, no Braz.”29

        Por outro lado, na categoria “Oferece-se”, existe um grande número de anúncios
publicados e que não fazem nenhuma menção a raça/cor da pele ou nacionalidade. Acredito
que, pelas mesmas razões que levaram os imigrantes a expor sua condição étnica nos
classificados de modo a conseguir melhores colocações, os trabalhadores nacionais talvez
omitissem tais características visando os empregadores que não faziam questão delas. Porém,
assim como a categoria “Precisa-se” com ou sem especificação étnica, estes anúncios se
demoravam nos jornais por meses a fio.

        Há ainda que se levar em conta alguns pouco anúncios onde o empregador anunciava
desta maneira como saiu no Diário Popular do segundo semestre de 1907

                           “CREADA – Precisa-se de uma para copeira e arrumadeira de quartos.
                           Prefere-se de 15 ou 16 annos. É para casa de pequena família estrangeira;
                           rua Augusta, 192 (perto da Avenida Paulista)”30

        Quando o temos a nacionalidade do empregador destacando-se no anúncio pode-se
concluir que a intenção era excluir os candidatos que não estivessem aptos a lidar com a
família estrangeira, supondo que estes seriam mais exigentes do que as famílias brasileiras.
No caso do anúncio a seguir, publicado na Diário Popular do ano seguinte, a intenção da
família estrangeira em contratar trabalhadoras também de origem europeia demonstra que esta
família também não tinha intenção de ter vínculos de trabalho com os nacionais.

                                   “Precisa-se numa família ingleza, a rua Pirapitinguy 18, Liberdade,
                           de uma creada como copeira e arrumadeira de quartos, que seja perita e dê
                           referências. Deve ser branca e prefere-se alleman.”31

        Em menor número, mas mesmo assim significativos, estão os anúncios de “precisa-se”
publicados em outros idiomas, normalmente inglês e francês, destinados claramente a um tipo
28
   Microfilme 01.01.015 Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
29
   Diário Popular 2º semestre de 1889. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
30
   Diário Popular 2º semestre de 1907. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
31
   Diário Popular 1º semestre 1908. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
                                                                                                   16
específico de trabalhadores, estrangeiros e/ou letrados, como professores, governantas e
acompanhantes de senhoras ricas em viagens para a Europa, fechando assim um ciclo de
exclusão da trabalhadora negra ou mestiça.

           E neste ritmo o projeto de modernização da Paulicéia seguiu seu curso, sendo
aplaudido e aplicado sem ressalvas ou maiores protestos além dos próprios nacionais
excluídos. Alinha-se com esta perspectiva o texto de Carlos José Ferreira dos Santos sobre a
marcha conservadora-modernizadora paulistana.

                                      Ao que tudo indica, por um lado seriam conservadas as antigas
                              desigualdades sociais e o status quo, por outro buscariam o moderno e a
                              prosperidade ao estilo europeu. O que e quem não pertencessem ao anterior
                              status e nem possuísse características europeias, confundidas com
                              modernidade, não teria por que permanecer naqueles espaços mais centrais.
                              Representava, aliás, um obstáculo e por isso deveria ser removido. 32

           Com o avançar dos anos, após a virada do século, as sessões de classificados dos
jornais parece engessar-se. Talvez sofrendo os agravos das crises econômicas dos primeiros
anos da república ou por uma crescente oferta de mão de obra disponível na capital, o fato é
que os anúncios passam a repetir-se com maior frequência, indicando que as vagas não eram
preenchidas por algum motivo, ou pela falta de qualificação exigida pelas patroas ou porque
as promessas de bons pagamentos e serviços leves e poucos eram tão vãs quanto pareciam. E,
talvez sendo uma consequência disto, os anúncios que não se referem à cor da pele ou a
nacionalidade aumentam significativamente. No Diário Popular do primeiro semestre de 1908
até 1910 os anúncios deste tipo são maioria esmagadora diante dos discriminatórios. É notável
também observar o aumento significativo dos anúncios de trabalhadores se oferecendo para
possíveis vagas de emprego.

Conclusão

            A historiografia sobre a escravidão os processos de abolição e emancipação traçam
um panorama de como esses processos ocorreram e suas consequências na formação da
sociedade brasileira após séculos de escravidão negra como uma das bases da economia.
Percebo através dos textos analisados para este trabalho que, tendo sido a propriedade de
pessoas por outras, baseada em diferenças étnicas e culturais, fez com que o fim da escravidão
tenha sido, em alguns aspectos, traumático para aqueles que perdiam suas propriedades e seu

32
     SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Op.cit. p.74.
                                                                                                    17
sacro santo direito sobre elas. Tratar com negros como livres ter relações de trabalho onde o
ex-escravo agora era um trabalhador comum, que não poderia mais ser coisificado e, muito
provavelmente, reagiria aos maus tratos de seu patrão, não pareceu soar bem aos ouvidos dos
agora ex-senhores de escravos.

        Somando-se a isto temos o florescer da ciência na forma de ideologias sociais
excludentes divulgadas largamente pelos jornais. A ideia do negro como um sujeito de pouca
confiança e de hábitos estranhos e selvagens, que já fazia parte do imaginário das elites bem
antes da abolição, contribui significativamente para a construção paranoica de que a presença
do elemento negro na sociedade é fator negativo. Sendo assim toda e qualquer ação que venha
a excluir esse elemento é considerada positiva e sua prática difundida e encorajada.

       No que diz respeito às relações de trabalho doméstico, o que posso afirmar diante do
que foi pesquisado é que o encorajamento à imigração e a substituição dos negros libertos por
trabalhadores europeus era não só uma medida de branqueamento e de modernização, sendo
estas ideias levadas a cabo de maneira muitas vezes exagerada e desmedida, mas uma
expulsão daqueles que agora são legalmente livres e, como tal, são (ainda que virtualmente)
cidadãos portadores de direitos. O que antes era uma propriedade, agora era um alguém. Um
alguém com hábitos culturais, condutas sociais que por mais que se tentou reprimir resistiu e
permaneceu. Sendo assim, levando em conta as transformações que a dinâmica de trabalho
deveriam sofrer para que o negro livre fosse incluído no mercado de trabalho e os
preconceitos das elites quanto a eles, foi mais fácil tentar retirar as negras de dentro das casas
paulistanas, do convívio com as famílias e trazer as brancas imigrantes para as funções mais
básicas e cotidianas, num esforço pelo progresso e modernização do Brasil republicano.

       Parece óbvio que a febre de modernidade e branqueamento arrefeceu ao longo da
primeira década do século XX, com a contribuição dos movimentos operários, da insujeição
dos imigrantes às condições precárias de trabalho e de vida nos centros urbanos e da
resistência de negros e mestiços à exclusão pretendida. É óbvio também que os resultados a
longo prazo desses projetos não foram muito longe, ficando no meio do caminho. São Paulo
realmente se tornou uma metrópole moderna, um grande centro de negócios e de agitação
cultural, advinda justamente da quantidade impressionante de nacionalidades distintas que a
cidade atrai desde os tempos da imigração. Por outro lado a capital paulista cresceu desigual,


                                                                                               18
conservando e aumentando os abismos entre centro e periferia, brancos e negros, ricos e
pobres.




Bibliografia:

Fontes:

Arquivo Público do Estado de São Paulo – Seção de Acervo: Biblioteca e
Hemeroteca Jornais:

“A Província de São Paulo/ O Estado de São Paulo” (1888-1910)
“Correio Paulistano” (1888-1910)
“Diário Popular” (1888-1910)


Livros:
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
ANDREWS, George Reid. Negros e Brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, SP. EDUSC.
1998.
AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda Negra, medo branco; o negro no imaginário das
elites – século XIX. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São
Paulo: Brasiliense, 1984.

FREYRE, Gilberto. Os escravos nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São
Paulo. Global. 2010.
GAY, Peter. O século de Schnitzler: a formação da cultura da classe media: 1815-1914. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 4ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010.
GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo. Brasil Imperial. Vol.3. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010.
JACINO, Ramatis. O branqueamento do trabalho. São Paulo: Nefertiti, 2008.
MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: movimentos sociais na década da
abolição.Rio de Janeiro: Editora UFRJ, EDUSP,1994.
                                                                                      19
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar. A utopia da cidade disciplinar-Brasil 1890-1930. São
Paulo,Paz e Terra. 1997.
SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915.
Annablume, 1998.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro. Jornais, escravos e cidadãos São
Paulo no Final do século XIX. Cia das Letras, São Paulo. 1987.
_______________________. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial
no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.




                                                                                       20

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Trabalho doméstico no pós-abolição em SP por meio de anúncios

  • 1. 1 “Precisa-se de creada branca. Prefere-se estrangeira.”Os libertos e as relações de trabalho doméstico no pós-abolição nos anúncios dos jornais paulistanos. São Paulo (1888-1910) Maira Oliveira Santos* Resumo: Após o fim da escravidão no Brasil, e mesmo antes da assinatura da Lei Áurea, o destino dos negros libertos era amplamente discutido. As teorias raciais e positivistas do fim do século XIX endossaram o ideal de branqueamento almejado pela sociedade brasileira e fomentou a vinda massiva de imigrantes europeus para as lavouras e indústrias. A exclusão da mão de obra negra foi sumária e nos jornais paulistanos a faceta mais cotidiana desta realidade se ilustra e exemplifica através dos anúncios de empregos domésticos. Palavras-chave: Trabalho doméstico, pós-abolição, São Paulo. A abolição da escravidão no Brasil não foi um evento aleatório ou isolado, como a própria historiografia mais recente comprova. Até a assinatura da Lei Áurea em 13 de Maio de 1888, desenrolaram-se diversos processos e movimentos pró-abolição em todo o país, levando o tema a ser discutido e analisado tanto nas esferas políticas e sociais quanto no panorama econômico. A arquitetura legislativa que culminou na lei final foi um processo gradualista de erradicação do trabalho escravo. Tal processo idealizava a transição lenta e gradual, amortizando os impactos dos movimentos abolicionistas, o fim da relação senhor/escravo, as possíveis perturbações da ordem e o avanço das ações violentas e revoltas que aconteciam por todo o país principalmente em regiões com maior concentração de escravos. No que diz respeito aos conflitos e revoltas de escravos, a manutenção da ordem pública e dos direitos dos senhores sobre suas propriedades demandou a ação das forças policiais na repressão de movimentos abolicionistas e prisão de escravos, como bem nos mostra Maria Helena Machado. A ruína evidente da escravidão desestabilizou as relações sociais criando casos em que a questão do direito dos senhores e as reivindicações dos escravos não poderiam mais ser ignoradas ou minimizadas pela sociedade. * Graduanda de Licenciatura em História pela Universidade Nove de Julho. Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso sob a orientação do Professor Ms. Juliano Custódio Sobrinho. 1
  • 2. O acirramento das tensões envolvendo escravos, já nos primeiros anos da década de 80, colocando a questão servil na ordem do dia, atraía para as atividades policiais de controle dos movimentos escravos a atenção da opinião pública que, informada pelos jornais, os quais no seu dia-a-dia procuravam acompanhar a evolução dos conflitos entre senhores e escravos, sensibilizava-se pelas denúncias das arbitrariedades policiais. De fato, a atuação dos jornais com relação à questão servil, no decorrer da década de 80, foi bastante expressiva, buscando acompanhar o mais detalhadamente possível a atuação policial e, através dela, os conflitos envolvendo escravos, libertos e abolicionistas.1 Mesmo com o apoio de diversos grupos e tendo o acompanhamento da imprensa e da opinião pública a discussão da abolição e as opiniões a respeito desta eram conflitantes. Pensar a economia brasileira sem o trabalho escravo era muito difícil para muitos conservadores que não acreditavam em relações de trabalho livre entre negros e brancos após a abolição. Por isso mesmo o Estado Imperial dá início desde meados do século XIX a um longo processo gradualista que consistiu basicamente em uma forma legal de experimentar a libertação de negros e mediar os poderes dos senhores, assim como tomar a dianteira do processo abolição da escravidão, evitando o crescimento dos movimentos populares. Todo este conjunto de ações acabaram por dar ao processo abolicionista brasileiro um aspecto de luta lenta e, de fato, gradual para os que acompanhavam a evolução das discussões. Tão longo e socialmente penoso foi o processo de abolição que, aos contemporâneos – acostumados a décadas de intermináveis discussões parlamentares que acabavam resultando em tentativas fracassadas ou tímidos projetos emancipacionistas e/ou gradualistas, que a todos frustravam e a ninguém atendiam –, parecia que não viria nunca. Talvez por isso, apesar de tão tardia, tenha sido tão comemorada pelos populares como evento auspicioso e surpreendente que, de certa forma, parecia anunciar nova onda de esperança e otimismo, capaz de restaurar a crença na sociedade brasileira. No entanto, ao contrário do que apontavam as aparências e afirmavam os parlamentares e a burocracia imperial, que correram para assumir as glórias do feito, o fato social da abolição foi realizado em outra parte, nas esferas menos visíveis da sociedade, nas dobras do mundo parlamentar, no contexto das militâncias populares nascentes e nas franjas da política formalista e excludente do império.2 1 MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro: UFRJ, EDUSP, 1994. p. 72 2 MACHADO, Maria Helena. “Teremos grandes desastres, se não houver providências enérgicas e imediatas”: a rebeldia dos escravos e a abolição da escravidão. In: Brasil Imperial. Vol.3. GRINBERG, Keila. SALLES, Ricardo (orgs). RJ. Civilização Brasileira, 2010.p.369 2
  • 3. A existência dos movimentos em prol do fim da escravidão e as ações de resistência dos próprios escravos contribuíram para que este contexto estivesse permeado pela tensão entre os grupos que defendiam o gradualismo como forma de sustentar este sistema por quanto tempo fosse possível e os que lutavam para que o processo fosse acelerado e que o trabalhador negro fosse inserido numa nova dinâmica de relações de trabalho. Somou-se a isso a própria negativação do elemento de cor como um sujeito incapaz de estar nesta dinâmica de trabalho mais compatível com as expectativas liberais de mercado de trabalho, por sua presença nos movimentos e por sua própria resistência cotidiana. Diante disso, ainda seguindo o processo gradualista de transição de escravidão para trabalho livre, a possibilidade mais acertada para que a abolição não colapsasse a economia brasileira por falta de braços seria a imigração endossada pelo conjunto de idéias higienistas, raciais, civilizatórias e modernizadoras que vieram a fundamentar o ideal de branqueamento social. O texto de Wlamyra Albuquerque traz o panorama tanto do gradualismo quanto da imigração como partes de um processo para substituir o escravo como força de trabalho e base da produção nacional sem necessariamente incluí-lo no mundo do trabalho Às vésperas da abolição, a busca de alternativas ao trabalho escravo fazia-se então mais incisiva, mais direta. As expectativas dos barões (...) tiveram eco na presidência da província, João Capistrano Bandeira, que desde então não poupou esforços para impulsionar a imigração de europeus. Em fevereiro de 1887, ele enviou a todas as Câmaras Municipais um questionário sobre as necessidades da agricultura e do comércio, a nacionalidade dos estrangeiros e as possibilidades de acomodarem imigrantes “laboriosos e civilizados” 3 O que podemos perceber pela historiografia é que os escravos urbanos, tanto homens como mulheres, mas em especial as mulheres, tinham uma mobilidade pela cidade, que poderia incomodar aos idealizadores da modernidade e urbanização de São Paulo. Estas mulheres estavam presentes pelos espaços, ocupando lugares públicos, trabalhando para si ou para suas senhoras, traçando relações e conexões, transitando de forma quase impossível de se reprimir pelas autoridades, causando pequenas confusões e discussões. O espaço de sobrevivência das mulheres pobres, brancas, escravas e forras na cidade de São Paulo coincidia com a margem tolerada da relativa autonomia dos desclassificados sociais; difícil, se não impossível, de ser devidamente policiada, cresceu com a urbanização, multiplicando 3 ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 101-2 3
  • 4. oportunidades de improvisação de papeis informais; na cidade as mulheres pobres circulavam pelo espaço social – fontes, lavadouros, ruas e praças –, onde se alteravam e se sobrepunham o convívio das vizinhanças e dos forasteiros, do fisco municipal e do pequeno comercio clandestino, as fimbrias da escravidão e do comércio livre. 4 Podemos então relacionar todo este panorama social do período pré e pós abolição no qual as mulheres negras estavam inseridas como uma das razões pelas quais as classes dominantes paulistanas acharam justo e plausível determiná-las como trabalhadoras indesejáveis e não confiáveis. Seguindo os ecos das ruas, os jornais começam a trazer a visão das elites para esta movimentação dos negros no espaço urbano. A imprensa paulista e paulistana demorou a se tornar forte e sólida. Apenas após a chegada da família real em 1808 é que os jornais em todo Brasil, e principalmente em São Paulo, tornaram-se um veículo de grande alcance e influência na vida cotidiana. O jornal do século XIX era muito diferente do jornal que conhecemos, porém algumas características continuam as mesmas. O jornal é um segmento desta sociedade, uma extensão de seus pensamentos, sua mentalidade, a ideologia de seu tempo e de seus anseios por modernidade e civilização. No século XIX, era pelos jornais que as notícias do mundo chegavam, sobre política, sobre tecnologia e ciência. Mesmo sendo um veículo relativamente novo no Brasil, a imprensa foi muito disputada pelos grupos políticos que queriam propagar suas ideias e acabaram ilustrando como a sociedade brasileira do século XIX realmente via e entendia o escravo negro e seu lugar na hierarquia social. Apesar do grande número de analfabetos no Brasil e as tiragens pequenas, os jornais já tinham um alcance considerável, sendo passado de um leitor para o outro e muitas vezes lido para grupos. Esse alcance servia em muitos casos para criar redes de relações sociais, troca de informações e divulgação de ideias de ambos os lados. Na obra de Lilia M. Schwarcz “Retrato em branco e negro” traz um panorama dos primórdios da imprensa paulista e de como os negros eram retratados pelos jornais e toda a ideologia cientificista do período apresentada pelos editoriais publicados nos principais periódicos paulistas. Os conceitos sobre a evolução das espécies, o positivismo filosófico e os recentes estudos antropológicos sobre as raças e culturas eram os assuntos mais comuns e os jornais eram uma das formas mais eficientes de divulgar tais teorias entre o público. 4 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984.p.11 4
  • 5. Os diversos jornais, no entanto, não só se utilizavam das teorias evolucionistas para informar os diferentes artigos buscavam mostrar que na verdade compactuavam com essas novas ideias. Ou seja, principalmente a Província de São Paulo, (...), aparentava manipular cotidianamente esses conceitos que a “aproximavam dos países mais desenvolvimentos”. Nesse sentido, a noção de civilização transformava-se aos poucos num dos valores mais “caros”, sendo que São Paulo parecia ter, nesse ponto, uma de suas grandes metas.5 Estas teorias e novas ideias eram a base de políticas sociais muito sólidas para disciplinar os nacionais pobres, em especial os negros recém libertos. Tal disciplina era voltada para a devoção ao trabalho, como forma de ser útil à sociedade, e também de repúdio total ao ócio e a vadiagem, renunciando aos hábitos “incivilizados e primitivos”, com a adoção de práticas sociais mais condizentes com o modelo moderno e europeu que se desejava à época. Rago demonstra as nuances desta política social ideológica de disciplina pensada e executada pelas elites paulistas e endossadas pelo estado, como forma de por os trabalhadores livres em seus lugares, indicando-lhes quais posturas deveriam ter daquele momento em diante, uma vez que, com o fim da escravidão, toda a dinâmica do trabalho livre estava sendo reestruturada. Era mais do que necessário que o trabalhador estivesse focado apenas em suas funções, obediente aos seus superiores e nunca vinculado aos crescentes movimentos de contestação. Se, pelo lado dos patrões, o período que vai de 1918 a 1922 aproximadamente assiste a uma redefinição dos procedimentos de disciplinarização do trabalho, que apela para as noções de ciência, de técnica e de progresso, configurando um projeto de construção da “nova fábrica”, pelo lado dos operários, a intensificação das formas de resistência aponta para a luta pelo controle do processo de trabalho. Ao lado do trabalho subterrâneo da resistência cotidiana que se trava no interior da produção, evidencia-se nos horizontes do movimento operário a questão da toada das fábricas e da reorganização do processo produtivo, neste momento histórico preciso. 6 5 Este trabalho apresenta desde a história da imprensa paulista e paulistana como também as várias maneiras que os grandes jornais faziam referência aos escravos e negros livres e libertos, destacando as teorias científicas do fim do século XIX e início do XX. SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final do século XIX. São Paulo, Cia das Letras, 1987.p109. 6 A temática do trabalho citado está focada no operariado formado basicamente por imigrantes, porém, no que diz respeito aos processos de disciplinarização dos trabalhadores, tanto europeus quanto nacionais, esta temática se aproxima do tema deste trabalho. RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890-1930 São Paulo, Paz e Terra. 1997.p.47. 5
  • 6. Uma das sessões dos jornais que serve de termômetro para o que acontecia nas ruas paulistanas é a dos classificados que, no período estudado, chamavam-se anúncios. O espaço destinado variava de acordo com o jornal e a quantidade de anúncios, principalmente se comparada aos espaços ocupados por anúncios publicitários de grandes empresas, lojas e fábricas, mas mesmo assim conseguiam demonstrar o que permeava as relações entre sociedade, economia e trabalho do período do pós-abolição e início da imigração europeia. O negro nas páginas dos jornais George Andrews traz à tona o plano imigrantista já como parte das políticas de transição e gradualistas para o fim da escravidão e uma realidade após a abolição. Numa possibilidade de o negro, uma vez livre do trabalho forçado, não se adequar a rotina de trabalho livre e regrado e pensando nas situações em que os negros já livres não permaneciam nas fazendas, a salvação seria trazer um contingente de imigrantes europeus que garantiriam a força de trabalho da economia brasileira. Mais nefasto ainda era um artigo escrito um ano depois da abolição, intitulado “A Segregação do Liberto”, que anunciava a conclusão virtual da competição do mercado de trabalho e a vitória definitiva dos imigrantes. Ignorando a substância dos debates legislativos anteriores, o artigo dizia que tal competição não havia sido pretendida ou antecipada. (...)E agora “o vazio deixado pelo primitivo trabalhador foi preenchido para sempre... O liberto esta seggregado, inutilizado, perdido para a vida produtiva. 7 Desde antes do fim da escravidão o negro já era um elemento presente nas páginas dos jornais e não só como personagem das notícias de crimes e atividades “selvagens” ou nos artigos sobre inferioridade racial e as estranhas culturas dos países africanos, mas apareciam também nos anúncios sobre fugas e como “artigos” de compra e venda. Neste aspecto as referências claras às características físicas e aos hábitos do escravo em questão já fazem parte da linguagem de tais anúncios e esta linguagem permanece após a abolição demonstrando que tais características eram importantes na relação de trabalho livre que se estabeleceria. Mas ainda no tema da disciplina para o trabalho, Gilberto Freyre apresenta um estudo referente aos escravos nos jornais e sobre os instrumentos de controle para que os negros fossem normatizados de acordo com a relação senhor-escravo/patrão-empregado. 7 ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, SP: EDUSC, 1998.p 101. 6
  • 7. Aculturação dirigida. Trabalho forçado. Mas aculturação e trabalho dirigidos que preparavam o escravo para a própria liberdade dentro da nova sociedade ou da nova cultura de que ele passava a ser elemento ou membro; e à qual trazia ou acrescentava alguma coisa de seu, ao mesmo tempo que adquiria dela, juntamente com a língua portuguesa, nem sempre bem aprendida, e com a religião cristã, nem sempre bem assimilada, todo um conjunto de ritos, de técnicas, de valores, de hábitos de trajo e de alimentação, que importavam na sua maior ou menor integração num novo gênero de vida. 8 Nesta sessão de anúncios e classificados, que neste período não era tão extensa ou elaborada como veio a ser no futuro, encontram-se, lado a lado, anúncios de “precisa-se”, “compra-se” ou “vende-se”, dos mais diversos produtos e serviços, cebolas, velocípedes, jumentos e professores, ilustrando a fase de transição que a capital paulista passava, entre o moderno e o rural ao mesmo tempo. Mas destes anúncios de “precisa-se” os que chamam a atenção são os que solicitam empregados para serviços domésticos. Mesmo antes de 13 de Maio de 1888 os anúncios que declaravam intenção de contratar escravos ou livres para trabalhos como cozinhar, lavar ou para serviços da roça superavam os de escravos fugidos. E mesmo que “os jornais não dessem conta de todo o mercado de trabalho eles ajudam a entender o mundo do trabalho na cidade” 9 A abolição da escravatura foi não só um ato político como o resultado de movimentos sociais e transformações econômicas internas e externas, simbolizando também uma reformulação nas estruturas sociais da época. O lugar dos negros no novo cenário social e econômico mostrou-se uma questão complicada para o pensamento modernizador influenciado pelas teorias cientificistas e as correntes racistas. Tanto industriais quanto senhores de terras não acreditavam que os ex-escravos ou até mesmo os negros já livres fossem capazes de serem introduzidos na lógica do trabalho livre, sendo assim, a imigração de europeus supriria tanto a demanda por mão de obra qualificada quanto a do branqueamento da sociedade brasileira, pré-requisito para a formação de um Estado forte e moderno. 8 O texto trás o olhar antropológico sobre as relações estabelecidas entre escravos e senhores no Brasil e como as particularidades destas relações ficavam referenciadas nos anúncios de jornais, destacando também as nuances culturais e os discursos que se fazem notar através destes. FREYRE, Gilberto. Os escravos nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São Paulo. Global. 2010.p.71 9 As dinâmicas cotidianas do mercado de trabalho as quais os escravos e negros livres estavam submetidos e se apresentavam de formas variadas tanto em jornais da época como em documentos de órgãos do estado e relatos de viajantes e cronistas, ilustrando o processo de substituição do trabalhador negro pelo branco europeu. JACINO, Ramatis. O Branqueamento do Trabalho. São Paulo. Nefertiti. 2008.p.108-109. 7
  • 8. Ao seguirmos esta linha podemos ver que é aqui que se abre um grande paradoxo, pois a intenção disciplinadora apresentada anteriormente era a de adequar o ex-escravo ao mundo do trabalho, porém o que se viu na prática foi uma preferência pela mão de obra imigrante e branca, desconsiderando o que, anteriormente, “tratava-se simplesmente de tornar ocupados os desocupados ou manter ocupados aqueles que se fossem alforriando, de modo a se instituir um controle estrito e cotidiano do Estado sobre suas vidas”, para agora ser a exclusão do mercado de trabalho. Em 1888, nas páginas d’A Província de São Paulo10 os anúncios de emprego poderiam passar despercebidos, mas depois da Lei Áurea os anúncios de “precisa-se” ganham uma característica que traduzia alguns pensamentos correntes na época. Tal particularidade que chamou minha atenção ao examinar as fontes foram os anúncios que faziam clara referência à cor da pele ou da nacionalidade do empregado que se desejava contratar, quando antes se pedia apenas que o candidato à vaga fosse qualificado e com boas referências. Através dos anúncios de jornais pesquisados, foi possível entender como a substituição acontecia no tocante ao trabalho doméstico, mas dando uma ideia do que ocorria em todo o mercado da cidade de São Paulo 11. Sob a influência das teorias cientificas raciais que então se produziam na Europa e nos Estados Unidos (...), vários reformadores passaram a tratar o tema do negro livre não mais do ângulo inicialmente proposto – o da coação do ex-escravo e demais nacionais livres ao trabalho –, mas sim da perspectiva de sua substituição física pelo imigrante tanto na agricultura como nas diversas atividades urbanas.12 A historiografia sobre as relações de trabalho neste período diz que os negros libertos foram excluídos da crescente industrialização e de São Paulo e também do comércio, acusados de indolentes, indisciplinados e incivilizados. A preferência pelos trabalhadores europeus era endossada pela ideia de que estes seriam mais disciplinados para o trabalho livre, acostumados com as rotinas das fábricas e postos de trabalho regrados, serem originários de sociedades civilizadas e culturalmente evoluídas e serem brancos. O branqueamento do 10 O jornal em questão, assim como o Diário Popular e o Correio Paulistano citados neste artigo, encontra-se no acervo da hemeroteca do Arquivo Público do Estado de São Paulo, tendo sido pesquisadas edições entre os anos de 1888 e 1910. 11 JACINO, Ramatis. Op.cit.p.60. 12 As perspectivas destes processos de exclusão baseavam-se em parte pelo caráter “selvagem” e “incivilizado” dos nacionais livres, fossem eles indígenas ou afro-brasileiros, o que era indesejado e temido pela burguesia brasileira e pelo Estado. AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco; o negro no imaginário das elites – século XIX. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987. 8
  • 9. trabalho parecia ser a solução, mas óbvia para esta questão uma vez que a pauta do dia era a europeização da sociedade brasileira como um todo. Antes do fim da escravidão o que se tem em toda a sociedade brasileira é o escravo inserido em relações sociais de diversos graus, resistindo às opressões da relação senhor- escravo e galgando sua liberdade através destas relações estabelecidas no cotidiano com outros escravos e homens livres. O estudo de Maria Cristina Wisselbach sobre essas relações sociais nas quais os negros escravos estavam inseridos demonstram como a opressão do trabalho forçado levou os cativos a buscarem novas formas de vivência que os permitissem uma situação menos sofrida. Sujeitos a um regime baseado na coerção, que os obrigava ao trabalho e às punições vistas como necessárias, que delimitavam suas vidas por condicionantes, das quais na maior parte das vezes não conseguiam escapar, os escravos tinham a possibilidade de desenvolver outras relações e práticas sociais, seja no âmbito do grupo de parceiros ou de escravos de uma mesma vizinhança, seja ainda nos contatos mantidos, num sentido mais amplo, com os homens livres com os quais conviviam. No interior dessa complexa rede social, de caráter aparentemente residual, construíam os elementos mais significativos para remir, em parte, sua escravidão, dimensionando uma série de estratégias de independência no lastro dos vínculos sociais primários que acabavam por estabelecer.13 Voltando mais uma vez ao período anterior a abolição, temos os escravos em todos os postos disponíveis no mercado de trabalho brasileiro, convivendo ou competindo com trabalhadores livres, muitas vezes brancos pobres e imigrantes. Neste quadro os escravos domésticos que não tinham uma produção economicamente interessante poderiam ser numerosos em casas mais abastadas e, “apesar da preocupação ostentatória, tamanha abundância de domésticos induzia, numa medida ou noutra o seu aproveitamento rentável”14, “aí o interesse lucrativo prevaleceu e, justamente pela grande demanda, tornou-se bom negocio vender ou alugar escravos domésticos”. Podemos então vislumbrar um mercado de trabalho doméstico quase que exclusivamente dominado pela mão de obra negra. Se, após a abolição da escravidão, nas fábricas e no comércio as vagas de empregos eram dos imigrantes brancos, deduz-se que trabalhos domésticos mais subalternos e pesados 13 WISSELBACH, Maria Cristina. O escravo e o mundo caipira na comarca de São Paulo. In: Sonhos africanos vivências ladinas. Escravos e forros em São Paulo (1850 – 1880). São Paulo. Hucitec, 2009.p.110 14 As relações de trabalho escravo durante o período colonial pouco ou nada mudaram durante o Império, sugerindo que após o fim da escravidão as disparidades e contradições destas relações vazaram para as relações de trabalho livre entre brancos e negros. GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 4ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010.p.505. 9
  • 10. que não exigisse grandes conhecimentos técnicos continuariam para os negros, como já o eram antes do fim da escravidão. Cozinheiras, criadas, amas de leite e secas e lavadeiras pareciam ser os destinos profissionais das mulheres negras, mas o que se vê pelos anúncios dos jornais não é bem isso. Uma preferência discriminatória acontece de forma muito clara e simples nos anúncios de empregos confirmando que era uma tendência social crescente e comum, respaldada pelas teorias cientificistas e racistas da época a ideia de livrar o país da presença dos negros e mestiços. Temos então o seguinte panorama: Na Europa e EUA o pensamento positivista, os crescentes estudos sobre a saúde e higiene, as teorias antropológicas acerca da evolução das culturas, os determinismos geográficos e genéticos ou hereditários e superioridade das ditas “raças-puras” eram uma pauta discutida e praticada, no Brasil todos esses discursos foram apenas adaptados para a realidade mestiça do povo brasileiro, passando também a ser uma prática. Em outro trabalho, Lilia M. Schwarcz apresenta as dinâmicas entre essas teorias cinetificas e realidade social e cultural brasileira. Neste contexto, onde ficariam os pobres brasileiros, constituídos em sua maioria por negros indígenas e mestiços? A suposta inferioridade destes era “comprovada” e afirmada tomando como base os manuais e tratados científicos inquestionáveis naquele período, sendo assim, estariam todos que não fossem brancos desqualificados e/ou inadequados para qualquer atividade de trabalho ou convívio social “civilizado”. Representavam o que o Brasil não deveria mais ser. Para as famílias burguesas da Europa “a conduta indicada na contratação de uma ama de leite era apresentada de forma igualmente direta (...). A mãe que fosse privada do prazer de amamentar seu bebê deve procurar uma ama de leite e examiná-la cuidadosamente”15 ,ou seja, já existia uma preocupação com saúde e higiene. Mas quando transportamos para a realidade nacional, a carga das teorias raciais e do branqueamento associadas aos preconceitos estabelecidos ainda no período da escravatura, temos a necessidade da elite paulistana de excluir os negros livres também dos trabalhos domésticos. 15 GAY, Peter. O século de Schnitzler: a formação da cultura da classe media: 1815-1914. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.p.66. 10
  • 11. Na edição da Província de São Paulo 16, de 29 de janeiro de 1888, encontram-se dois anúncios do mesmo endereço sobre a intenção de se contratar uma criada e um copeiro. Os anúncios são simples e não fazem qualquer menção de cor da pele ou nacionalidade. No mesmo jornal, mas da data de 15 de Maio de 1888 17, somente dois dias após a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, encontra-se o anúncio que requisita a contratação de uma “creada allemã que saiba costurar”. Os anúncios que se seguem nas datas posteriores, tanto na Província quanto no Correio Paulistano e no Diário Popular 18 continuam em padrões bastante parecidos, fazendo vez outra menção a cor da pele ou a nacionalidade, quando não mencionam as duas coisas. Uma família anunciava que precisava com urgência de uma “Cozinheira, boa em sua arte, branca, preferindo-se estrangeira”; uma mãe procurando “Ama de leite com leite novo, prefere-se italiana ou alemã”; criadas e lavadeiras também deveriam ser brancas, limpas e estrangeiras. Esta linguagem tão direta e crua pode parecer estranha aos nossos olhos hoje, mas transparecem as intenções das elites paulistas do fim do século XIX e início do XX, sem margem para muitas dúvidas. Sendo assim, fica claro que o branqueamento do povo brasileiro não era apenas uma teoria, um ideal distante, era uma realidade e um objetivo a ser alcançado. Não bastava apenas impedir que negros e mestiços fizessem parte da modernização de São Paulo, era preciso bani-los dos lares das “boas” famílias paulistanas. Como as teorias afirmavam “os grupos negros, amarelos e miscigenados "seriam povos inferiores não por serem incivilizados, mas por serem incivilizáveis, não perfectíveis e não suscetíveis ao progresso" (Renan, 1872/1961).”19 À primeira vista os anúncios das seções de classificados têm sua versão discriminatória para cada tipo de ocupação, apresentando os “precisa-se” de padeiro francês ou os trabalhadores rurais no dia 20 de Abril de 1895 na Província de São Paulo. Trabalhadores para um sítio. – Precisa-se um casal de trabalhadores italianos, portuguezes ou Ilhéos para tomarem conta de 16 Província de São Paulo, 29/01/1888. Microfilme 01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 17 Província de São Paulo, 15/05/1888. Microfilme.01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 18 Os referidos títulos fazem parte do acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo – Setor de Biblioteca e Hemeroteca, tendo sido pesquisadas as edições entre os anos 1888 e 1910. Podem ser visualizados no original impresso ou em microfilmes. 19 A discussão sobre a negatividade da miscigenação do povo brasileiro e suas consequências para o futuro do país enquadradas pela distorção sobre a “Origem das Espécies” de Darwin, por exemplo, que deu origem ao evolucionismo social, e tantos outros trabalhos científicos que acabaram por se tornar as bases de discursos etnocêntricos eugênicos. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. p.32 11
  • 12. zm pequeno sítio à meia. Para tratar-eu ao Largo do S. Francisco n.1120 Mas estes anúncios de vagas mais variadas são raros no que diz respeito às menções a cor da pele e nacionalidade, ficando a maioria deles para os anúncios para trabalhos domésticos, sendo estes o ponto de maior interesse deste trabalho. Para melhor exemplificar o que foi encontrado na pesquisa, dividi os anúncios em dois tipos: “Precisa-se” e “Oferece- se”, sendo, respectivamente, de empregadores a procura de trabalhadores e de trabalhadores a procura de colocação, contendo ou não especificações ou descrições quanto a cor da pele ou nacionalidade. Na edição do dia 12 de Janeiro de 1893, os classificados de empregos do Correio Paulistano21 traziam um anúncio com a palavra “CREADA” em destaque e logo abaixo o texto dizia que desejava-se contratar uma “à rua Marechal Deodoro (antiga Imperador), n.12 – Prefere-se extrangeira, e paga-se bem – Não sendo boa é inútil apresentar-se.” . Algumas vezes ainda era acrescentada ao anúncio um “paga-se bem” ou “para serviços leves” de modo a atrair as candidatas pelas possíveis vantagens. O Correio Paulistano era o que apresentava menos anúncios, espremidos entre artigos diversos, noticiários e publicidades maiores, os discriminatórios aparecem esporadicamente. A Província de São Paulo tem uma sessão maior e com os anúncios preferindo imigrantes mais frequentes, alguns até mais destacados do que os demais. Já o Diário Popular tem uma sessão muito maior do que os jornais supracitados, chegando a ser o equivalente a uma página inteira de anúncios de empregos apresentados em tamanhos diferentes fazendo menção a brancos e/ou europeus. Vale a pena dizer que estes anúncios não eram maioria nos jornais, eles dividiam espaços com outros que traziam a intenção de uma família em contratar uma empregada, mas não faziam qualquer menção a cor ou nacionalidade, algumas vezes exigindo apenas que fosse bom em seu ofício. É importante destacar que alguns anúncios persistem sendo publicados diariamente por longos períodos. Tanto os que requisitam empregados brancos quanto os que não citam cor ou nacionalidade, seguem sendo publicados por meses. Isso leva a levantar a hipótese de que poderiam ocorrer duas situações: primeira, de que os anúncios que exigem que as candidatas à vaga sejam brancas, no momento em que a mulher comparecia ao endereço 20 Província de São Paulo, 29/01/1888. Microfilme 01.01.014. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 21 Correio Paulistano. 12/01/1893. Microfilme 04.01.045. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 12
  • 13. respondendo ao classificado do jornal, a contratante não ficava plenamente satisfeita, apesar de a candidata ser branca e estrangeira; segunda, ao responder ao classificado que não fez qualquer menção racial, a mulher negra ou mestiça era rejeitada na contratação. Nesse aspecto percebe-se que o que se queria deste trabalhador ideal era a salvação modernizadora do Brasil, e São Paulo em franco processo de modernização precisava disto mais do que tudo. Desqualificar os pobres nacionais, negros ou mestiços, negativar seus modos de vida e o lugar onde viviam fazia parte do discurso corrente da sociedade paulistana até os anos 1930. Queria-se que fosse imigrante europeu branco supostamente já bem qualificado e disciplinado para as rotinas de trabalho, porém, “se assim fosse, não seriam necessárias as várias tentativas de reorientar, disciplinar e controlar esses trabalhadores.” Assim, a ressaltada e, na maioria das vezes, elogiada modernização e a expansão incessante de São Paulo sugerem, ao mesmo tempo, a constante tentativa de superar o que era considerado indesejável, bem como a provável resistência do que se procurava transformar. Buscando perceber a presença dos nacionais neste processo, é possível surpreender duas situações: a primeira é quase um silêncio sobre os despossuídos dessa parcela da população e a segunda um discurso desmerecendo e excluindo seus modos de vida em determinados lugares do perímetro urbano municipal. 22 Volto mais uma vez para as fontes deste trabalho, os anúncios de empregos dos jornais paulistanos. O conteúdo dos anúncios vez ou outra traz a exigência de que o candidato tenha boas referências ou que “dê fiança de sua conduta”, às vezes mais do que apresentar qualificação ou experiência para a função. Parece muito significativo que esses termos comecem a fazer parte do anúncio justamente quando a imigração está em seu auge, levantando, então, a hipótese de que nesse período as primeiras manifestações de trabalhadores imigrantes contra as odiosas condições de trabalho nas fábricas começassem a desabonar os estrangeiros da imagem feita pelos defensores da imigração. É fato que os imigrantes que foram para as lavouras do interior de São Paulo e para as frentes de trabalho da indústria paulista não se submeteram às condições subumanas e ao tratamento que antes era dirigido aos escravos. É bem conhecida a luta das organizações de trabalhadores e das greves do período que reivindicavam não só para si como grupo, mas também para outros trabalhadores, independente de suas nacionalidades ou etnias, melhores 22 A política social que pretendia limitar cada vez mais o acesso do negro ao mercado e trabalho livre, tanto em fábricas quanto no comércio, nas lavouras ou nos lares. SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915. Annablume, 1998. p.62 13
  • 14. condições de trabalho e de vida estando “bastante conscientes das oportunidades táticas que uma classe trabalhadora étnica e racialmente dividida oferecia aos patroes e ao Estado” O domínio dos imigrantes no movimento operário paulista, sua insegurança diante das políticas de imigração do governo e o resultante excesso de mão de obra, e ao lado da marginalização dos trabalhadores afro- brasileiros em São Paulo, poderia facilmente ter levado a resultados como aqueles dos EUA e da África do Sul, onde os trabalhadores brancos exigiram – e receberam – barreiras institucionalizadas contra a competição dos negros. Entretanto, não foi isso que aconteceu. Em busca de estratégias para melhorar sua posição e enfrentar seus patrões e o estado, os trabalhadores de São Paulo parecem nunca ter considerado a possibilidade da exclusão e segregação racial que estava sendo buscada em outros lugares.23 Como que confirmando esta possível desilusão das elites com os imigrantes e sua suposta disciplina é que surgem alguns anúncios como publicado no Correio Paulistano de 19 de Setembro de 1891 que dizia “Precisa-se de uma cosinheira, não se faz questão da cor, na Rua Carneiro Leão, 2K”24 Ou este outro publicado na Província de São Paulo/OESP em 7 de Outubro de 1902 “Ama. Precisa-se de uma, na Alameda dos Andradas, 44. Dá-se preferência às brasileiras, não se fazendo questão da cor.”25 Mas mesmo com as manifestações de descontentamento e as reivindicações dos trabalhadores, os anúncios dando preferência aos imigrantes continuam a estampar as páginas dos periódicos diariamente. Na edição da Província de São Paulo/OESP de 15 de Setembro de 1891 foi publicado o seguinte anúncio: “Lavadeira e engommadeira. Precisa-se de uma, preferindo-se allemã. Para tratar na Rua dos Andradas i5-G”26 O texto deste anúncio nos leva a pensar a mentalidade das classes média paulistanas deste período. Pessoas letradas, com certo nível de educação, leitoras de um periódico que trazia artigos sobre as novas descobertas da ciência, o desenvolvimento da tecnologia e a modernidade, que agora que não tinham mais escravos, e também não contrataria negros livres, decidia que a lavadeira deveria ser uma moça branca e alemã, que a cozinheira deveria ser francesa e que a ama seca que cuidaria das crianças seria italiana. E as italianas tinham 23 ANDREWS, George. op.cit.p.103. 24 Correio Paulistano, 19/09/1891. Microfilme 04.01.043. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 25 Província de São Paulo, 07/10/1902. Microfilme 01.01.036. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 26 Província de São Paulo. 15/09/1891. Microfilme 01.01.017. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 14
  • 15. ainda uma especificação a mais. Em anúncio publicado pelo Diário Popular no primeiro semestre de 1908, pede-se uma “Creada da alta Itália, de meia idade, decente e limpa”. Não foi possível entender o que esta especificação quanto à geografia da Itália interveria no trabalho da dita criada, porém, vendo está preferência por imigrantes como um todo e além do objetivo de branquear o Brasil, levanto a hipótese de que está sociedade, esta elite econômica estava tão fascinada pelo que vinha de fora, pelo que era europeu que alimentava o fetiche de “consumir” empregados domésticos estrangeiros, assim como uma vez usava-se como ostentação de poder e riqueza vestir seus escravos com luxo. Esta segregação no mercado de trabalho doméstico da capital teve como consequência a formação de redes de resistência em modos de vida alternativos e, por isso mesmo, negativados pelas elites e seus modelos sociais civilizatórios e modernizadores. Expulsos das funções que antes exerciam como escravos, relegados a rua, os negros organizaram-se de modo a prover sua subsistência. Homens e mulheres pobres, livres, nacionais ou africanos, com todas as singularidades, resistiam e marcavam nas ruas, praças, pontes e chafarizes. Viviam m chácaras e casebres no centro e nos arredores da cidade, causando desconforto às elites que sonhavam e planejavam um país de brancos, “morigerados”, subordinados, sem questionamentos à hierarquia social por elas estabelecida.27 Novamente se abre uma contradição no painel ideológico das elites paulistanas. Como foi discutido anteriormente, o objetivo era disciplinar e adequar os negros para o trabalho livre civiliza-los para a modernidade, mas o que se vê é que estes eram considerados naturalmente incapazes para qualquer função, mesmo as mais subalternas e simples como o trabalho doméstico, sendo então substituídos por imigrantes europeus. Em toda esta dinâmica segregacionista estabelecida e ilustrada pelos anúncios de classificados de empregos dos jornais pesquisados, nota-se que assim como havia uma demanda de empregadores que desejavam contratar brancos, também surgem os brancos que se oferecem nos classificados descrevendo sua cor ou nacionalidade como parte da sua qualificação. Saiu na Província de São Paulo de 5 de Janeiro de 1889 o seguinte anúncio: 27 Não só a segregação no trabalho era uma das facetas do branqueamento como também a negativização das atividades que os negros exerciam muitas vezes nas ruas ou locais públicos como a prestação de pequenos serviços e o comercio ambulante, considerando estas atividades como vadiagem ou vagabundagem a ser combatida. JACINO, Ramatis. op.cit.p.140 15
  • 16. “Ama de leite. Offerece-se uma que tem muito leite. É italiana. Bom Retiro, venda Camillo Antonio, Largo da Immigração.”28 Já em uma edição do Diário Popular do 2º semestre de 1889 encontra-se outro exemplo deste nicho de mercado de trabalho doméstico formado aparece no seguinte anúncio: “Offerece-se um casal, ambos italianos, moços, sem filhos, o marido como jardineiro, a mulher como cosinheira. Tratar-se no Hotel da Hospedaria de Immigrantes, no Braz.”29 Por outro lado, na categoria “Oferece-se”, existe um grande número de anúncios publicados e que não fazem nenhuma menção a raça/cor da pele ou nacionalidade. Acredito que, pelas mesmas razões que levaram os imigrantes a expor sua condição étnica nos classificados de modo a conseguir melhores colocações, os trabalhadores nacionais talvez omitissem tais características visando os empregadores que não faziam questão delas. Porém, assim como a categoria “Precisa-se” com ou sem especificação étnica, estes anúncios se demoravam nos jornais por meses a fio. Há ainda que se levar em conta alguns pouco anúncios onde o empregador anunciava desta maneira como saiu no Diário Popular do segundo semestre de 1907 “CREADA – Precisa-se de uma para copeira e arrumadeira de quartos. Prefere-se de 15 ou 16 annos. É para casa de pequena família estrangeira; rua Augusta, 192 (perto da Avenida Paulista)”30 Quando o temos a nacionalidade do empregador destacando-se no anúncio pode-se concluir que a intenção era excluir os candidatos que não estivessem aptos a lidar com a família estrangeira, supondo que estes seriam mais exigentes do que as famílias brasileiras. No caso do anúncio a seguir, publicado na Diário Popular do ano seguinte, a intenção da família estrangeira em contratar trabalhadoras também de origem europeia demonstra que esta família também não tinha intenção de ter vínculos de trabalho com os nacionais. “Precisa-se numa família ingleza, a rua Pirapitinguy 18, Liberdade, de uma creada como copeira e arrumadeira de quartos, que seja perita e dê referências. Deve ser branca e prefere-se alleman.”31 Em menor número, mas mesmo assim significativos, estão os anúncios de “precisa-se” publicados em outros idiomas, normalmente inglês e francês, destinados claramente a um tipo 28 Microfilme 01.01.015 Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 29 Diário Popular 2º semestre de 1889. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 30 Diário Popular 2º semestre de 1907. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 31 Diário Popular 1º semestre 1908. Original. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo. 16
  • 17. específico de trabalhadores, estrangeiros e/ou letrados, como professores, governantas e acompanhantes de senhoras ricas em viagens para a Europa, fechando assim um ciclo de exclusão da trabalhadora negra ou mestiça. E neste ritmo o projeto de modernização da Paulicéia seguiu seu curso, sendo aplaudido e aplicado sem ressalvas ou maiores protestos além dos próprios nacionais excluídos. Alinha-se com esta perspectiva o texto de Carlos José Ferreira dos Santos sobre a marcha conservadora-modernizadora paulistana. Ao que tudo indica, por um lado seriam conservadas as antigas desigualdades sociais e o status quo, por outro buscariam o moderno e a prosperidade ao estilo europeu. O que e quem não pertencessem ao anterior status e nem possuísse características europeias, confundidas com modernidade, não teria por que permanecer naqueles espaços mais centrais. Representava, aliás, um obstáculo e por isso deveria ser removido. 32 Com o avançar dos anos, após a virada do século, as sessões de classificados dos jornais parece engessar-se. Talvez sofrendo os agravos das crises econômicas dos primeiros anos da república ou por uma crescente oferta de mão de obra disponível na capital, o fato é que os anúncios passam a repetir-se com maior frequência, indicando que as vagas não eram preenchidas por algum motivo, ou pela falta de qualificação exigida pelas patroas ou porque as promessas de bons pagamentos e serviços leves e poucos eram tão vãs quanto pareciam. E, talvez sendo uma consequência disto, os anúncios que não se referem à cor da pele ou a nacionalidade aumentam significativamente. No Diário Popular do primeiro semestre de 1908 até 1910 os anúncios deste tipo são maioria esmagadora diante dos discriminatórios. É notável também observar o aumento significativo dos anúncios de trabalhadores se oferecendo para possíveis vagas de emprego. Conclusão A historiografia sobre a escravidão os processos de abolição e emancipação traçam um panorama de como esses processos ocorreram e suas consequências na formação da sociedade brasileira após séculos de escravidão negra como uma das bases da economia. Percebo através dos textos analisados para este trabalho que, tendo sido a propriedade de pessoas por outras, baseada em diferenças étnicas e culturais, fez com que o fim da escravidão tenha sido, em alguns aspectos, traumático para aqueles que perdiam suas propriedades e seu 32 SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Op.cit. p.74. 17
  • 18. sacro santo direito sobre elas. Tratar com negros como livres ter relações de trabalho onde o ex-escravo agora era um trabalhador comum, que não poderia mais ser coisificado e, muito provavelmente, reagiria aos maus tratos de seu patrão, não pareceu soar bem aos ouvidos dos agora ex-senhores de escravos. Somando-se a isto temos o florescer da ciência na forma de ideologias sociais excludentes divulgadas largamente pelos jornais. A ideia do negro como um sujeito de pouca confiança e de hábitos estranhos e selvagens, que já fazia parte do imaginário das elites bem antes da abolição, contribui significativamente para a construção paranoica de que a presença do elemento negro na sociedade é fator negativo. Sendo assim toda e qualquer ação que venha a excluir esse elemento é considerada positiva e sua prática difundida e encorajada. No que diz respeito às relações de trabalho doméstico, o que posso afirmar diante do que foi pesquisado é que o encorajamento à imigração e a substituição dos negros libertos por trabalhadores europeus era não só uma medida de branqueamento e de modernização, sendo estas ideias levadas a cabo de maneira muitas vezes exagerada e desmedida, mas uma expulsão daqueles que agora são legalmente livres e, como tal, são (ainda que virtualmente) cidadãos portadores de direitos. O que antes era uma propriedade, agora era um alguém. Um alguém com hábitos culturais, condutas sociais que por mais que se tentou reprimir resistiu e permaneceu. Sendo assim, levando em conta as transformações que a dinâmica de trabalho deveriam sofrer para que o negro livre fosse incluído no mercado de trabalho e os preconceitos das elites quanto a eles, foi mais fácil tentar retirar as negras de dentro das casas paulistanas, do convívio com as famílias e trazer as brancas imigrantes para as funções mais básicas e cotidianas, num esforço pelo progresso e modernização do Brasil republicano. Parece óbvio que a febre de modernidade e branqueamento arrefeceu ao longo da primeira década do século XX, com a contribuição dos movimentos operários, da insujeição dos imigrantes às condições precárias de trabalho e de vida nos centros urbanos e da resistência de negros e mestiços à exclusão pretendida. É óbvio também que os resultados a longo prazo desses projetos não foram muito longe, ficando no meio do caminho. São Paulo realmente se tornou uma metrópole moderna, um grande centro de negócios e de agitação cultural, advinda justamente da quantidade impressionante de nacionalidades distintas que a cidade atrai desde os tempos da imigração. Por outro lado a capital paulista cresceu desigual, 18
  • 19. conservando e aumentando os abismos entre centro e periferia, brancos e negros, ricos e pobres. Bibliografia: Fontes: Arquivo Público do Estado de São Paulo – Seção de Acervo: Biblioteca e Hemeroteca Jornais: “A Província de São Paulo/ O Estado de São Paulo” (1888-1910) “Correio Paulistano” (1888-1910) “Diário Popular” (1888-1910) Livros: ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de. O jogo da dissimulação: abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. ANDREWS, George Reid. Negros e Brancos em São Paulo (1888-1988). Bauru, SP. EDUSC. 1998. AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda Negra, medo branco; o negro no imaginário das elites – século XIX. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987. DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984. FREYRE, Gilberto. Os escravos nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX. São Paulo. Global. 2010. GAY, Peter. O século de Schnitzler: a formação da cultura da classe media: 1815-1914. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 4ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2010. GRINBERG, Keila & SALLES, Ricardo. Brasil Imperial. Vol.3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. JACINO, Ramatis. O branqueamento do trabalho. São Paulo: Nefertiti, 2008. MACHADO, Maria Helena. O plano e o pânico: movimentos sociais na década da abolição.Rio de Janeiro: Editora UFRJ, EDUSP,1994. 19
  • 20. RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar. A utopia da cidade disciplinar-Brasil 1890-1930. São Paulo,Paz e Terra. 1997. SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza: 1890-1915. Annablume, 1998. SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em branco e negro. Jornais, escravos e cidadãos São Paulo no Final do século XIX. Cia das Letras, São Paulo. 1987. _______________________. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 20