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Baixar para ler offline
Por que avaliar o impacto de políticas
públicas?
Claudio Ferraz
Professor da PUC-Rio
Pesquisador afiliado do J-PAL
Objetivos
• Entender o que é uma avaliação de impacto
• Compreender a importância das avaliações de impacto
• Conhecer os principais obstáculos para a produção e o uso das avaliações
de impacto
2
Questão central em políticas públicas
Se recursos humanos e financeiros usados para o desenho e
implementação de políticas públicas são limitados
...em que iniciativas devemos focar para
enfrentar os problemas sociais?
3
Como aumentar a participação escolar?
(número de matrículas e frequência)
Suponha que você trabalhe no Ministério da
Educação e uma das prioridades do governo é
aumentar a frequência escolar
O ministro diz que há R$ 10 milhões disponíveis para
investir em um programa para alcançar esse objetivo
Ele te pergunta em que programa você recomenda
investir. O que você responde?
Fonte:
J-PAL
Como aumentar a frequência escolar?
5
Uniformes
escolares
Novas
escolas
Livros
gratuitos
Informação sobre
retornos à
educação
Transferências
monetárias
Bolsas de
estudo por
mérito
Estrutura
1. Tipos de avaliação
2. A importância de se avaliar impacto
3. Produção e uso de avaliações de impacto
4. Conclusão
6
Tipos de avaliação
Avaliação é o processo que consiste em emitir juízos de valor sobre as
atividades e resultados de uma política, estratégia ou projeto
Implica, necessariamente, dois elementos:
• Construir uma descrição detalhada e precisa do desempenho de um
programa
• Comparar com um critério ou padrão pré-estabelecido para julgar o
desempenho
O que é avaliação?
9
O que é avaliação?
Avaliação
Avaliação
de
programas
Avaliação
de impacto
10
Tipos de avaliação de programas
Impact Evaluation
Cost-Effectiveness Analysis
Avaliação de Necessidades
Avaliação Teórica
Avaliação de Processos
Avaliação de Impacto
Avaliação de Eficiência
10
Avaliação de necessidades
Impact Evaluation
Cost-Effectiveness Analysis
Avaliação de Necessidades
Avaliação Teórica
Avaliação de Processos
Avaliação de Impacto
Avaliação de Eficiência
11
Avaliação de necessidades
Estudo sistemático que
• Identifica a natureza, o alcance e as
causas de uma necessidade
• Define e descreve a população-
alvo a ser atendida
• Determina a intervenção necessária
para solucionar a necessidade
Resultados
atuais
Resultados
desejados
Necessidade
Necessidade População-alvo Solução
12
Perguntas que requerem uma avaliação de necessidades
• Qual é a natureza e a magnitude do problema ou necessidade?
• Quais são as possíveis causas?
• Quais são as características da população-alvo?
• Quais programas são os mais pertinentes para essa população?
• Quais programas já existem para resolver o problema?
13
Exemplo: Construção de moradias em comunidades
vulneráveis na América Latina
Fonte: Techo 14
Organização da sociedade civil
que visa superar a situação de
pobreza em comunidades
vulneráveis por meio da
construção de moradias. Atua
em países na América Latina,
inclusive no Brasil
Número de domicílios em favelas (assentamentos
irregulares) no Brasil
15
Fonte: Censos de 1991, 2000 e 2010, em Pasternak e D’Otaviano (2016), “Favelas no Brasil e em São Paulo:
Avanços nas Análises a Partir da Leitura Territorial do Censo de 2010”. Cad. Metrop São Paulo, Vol 18, n° 35, p.79.
0
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1980 1991 2000 2010
Domicílios em comunidades subnormais no Brasil
Avaliação teórica
16
Impact Evaluation
Cost-Effectiveness Analysis
Avaliação de Necessidades
Avaliação Teórica
Avaliação de Processos
Avaliação de Impacto
Avaliação de Eficiência
Avaliação teórica
• Avalia a teoria que está por trás do programa:
– É viável e factível?
– Atende às necessidades da população-alvo?
• Marco Lógico
• Teoria da Mudança
Descrever
a teoria
• Revisão da literatura
• Painel de especialistas
• Entrevistas
Determinar
sua
qualidade
17
Perguntas que requerem uma avaliação da teoria
• Quais são os resultados finais que são esperados alcançar com o
programa?
• Como se pretende chegar a esses resultados finais? (Por meio de quais
insumos, atividades, produtos e resultados intermediários?)
• Que suposições e riscos estão implícitos em nossa teoria da mudança?
• Quão razoáveis são essas suposições, e quão grandes são os riscos?
18
Teoria da Mudança do TECHO
19
Altos níveis de pobreza em
assentamentos precários
Voluntários
Maior satisfação
Maior disposição à
acumulação de ativos
Maior sensação de
segurança
Melhores relações
familiares
Melhores moradias
Material de
construção
Maior
empregabilidade
Problema /
necessidade
Resultados
finais
Resultados
intermediários
Produto
Insumos /
atividades
Avaliação de processos
Impact Evaluation
Cost-Effectiveness Analysis
Avaliação de Necessidades
Avaliação Teórica
Avaliação de Processos
Avaliação de Impacto
Avaliação de Eficiência
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Da teoria à prática
• A teoria da mudança nos diz como o programa deveria funcionar, mas
implementar um programa de acordo com o planejado não é fácil
• Assim, é importante estudar o que acontece na prática, e uma avaliação
de processos avalia a implementação de um programa
21
Perguntas que requerem uma avaliação de processos
O programa está sendo implementado corretamente?
• Segundo o planejado?
• Cumpre com os padrões relevantes?
• Permite alcançar os objetivos?
– Quantas pessoas estão recebendo o serviço? São as pessoas certas?
– O serviço recebido é adequado em termos de quantidade, qualidade e tipo?
– A equipe que executa o programa conta com todas as competências requeridas?
– Como os recursos são geridos?
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Avaliação de processos do TECHO
0%
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20%
30%
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90%
Tutorias
educativas
Fomento
produtivo
Assessorias
jurídicas
Oficinas
optativas
Plano de
saúde
Bibliotecas Oficinas
populares
% de áreas onde foram implementadas intervenções
Fonte: CIS 2009, Processos de intervenção social de UTP CH em acampamentos em que se formaram comités na região metropolitana.
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Avaliação de processos do TECHO
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0%
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Coordenação com
o escritório
Participação nas
atividades de
campo além da sua
atribuição
Constância da
atividade
Compromisso com
a comunidade
Relação com as
familias
Aspectos em que se deve melhorar o trabalho dos
voluntários nas comunidades
Fonte: CIS 2009, Processos de intervenção social de UTP CH em
acampamentos em que se formaram comités na região metropolitana.
Avaliação de impacto
25
Impact Evaluation
Cost-Effectiveness Analysis
Avaliação de Necessidades
Avaliação Teórica
Avaliação de Processos
Avaliação de Impacto
Avaliação de Eficiência
O que é impacto?
Mudanças diretamente atribuíveis ao programa
(Gertler et al.)
26
Contrafactual
O que é impacto?
27
Resultado dos beneficiários
depois de participarem
do programa
Resultado que esses mesmos
beneficiários obteriam, no caso
hipotético de não terem
participado do programa
IMPACTO
Perguntas que requerem uma avaliação de impacto
O programa teve os efeitos esperados sobre os beneficiários?
• Esses efeitos se mantiveram com o tempo?
• Todos os componentes do programa são necessários para obter impacto?
• Alguns grupos de beneficiários estão mais afetados pela intervenção do que outros?
• Existem efeitos adversos não planejados?
28
Fonte:
Techo
Avaliação de impacto - TECHO
Avaliação de impacto
das casas emergenciais
em comunidades
vulneráveis de três países
• El Salvador
• Uruguai
• México
Qual foi o impacto?
30
Satisfação com a qualidade de vida
Satisfação com a proteção que a residência
oferece contra a chuva
20%
16%
Não houve impacto em:
• Consumo de bens
• Mercado de trabalho
• Saúde
Processos
vs.
Impacto
Avaliação de Processos
Como? Por que?
Mede o progresso em
relação aos objetivos
Monitoramento contínuo e
frequente
Realizada durante a
implementação do
programa
Pode ser realizada pela
equipe do programa ou
parceiro externo
Evidência descritiva
Avaliação de Impacto
Quanto?
Mede quanto do progresso em
relação aos objetivos é
causado pelo programa
Pontual, limitada no tempo
Desenhada antes da
implementação, com resultados
finais após programa ser
implementado
De preferência, realizada
externamente com apoio das
equipes do programa
Evidência causal
Avaliação de eficiência
32
Impact Evaluation
Cost-Effectiveness Analysis
Avaliação de Necessidades
Avaliação Teórica
Avaliação de Processos
Avaliação de Impacto
Avaliação de Eficiência
Avaliação de eficiência
Análise custo-benefício: compara os benefícios do
programa com seus custos
• Implica monetizar os custos e benefícios
• É realizada geralmente ex-ante
Análise custo-efetividade: compara a mudança
na variável de impacto principal com os custos do
programa
• Permite comparar o impacto relativo de diferentes
intervenções
• É realizada geralmente ex-post
33
Perguntas que requerem uma avaliação de eficiência
O impacto foi alcançado de uma maneira eficiente?
• O custo do programa é razoável em relação à magnitude do impacto?
• Existem intervenções alternativas que cumpririam os mesmos objetivos a um menor
custo?
• Os recursos são usados de maneira eficiente?
34
Análise custo-benefício em casas emergenciais
Mudança na medida de impacto (taxa de pobreza)
dividido por
medida de custo (reais)
Custo do
programa
35
Em resumo
•O programa está baseado em uma boa conceituação
do problema que se busca solucionar?
Avaliação de Necessidades
•A teoria por trás do programa é factível?
Avaliação Teórica
•O programa está sendo implementado segundo o
planejado?
Avaliação de Processos
•O programa alcançou os objetivos para os quais foi
desenhado?
Avaliação de Impacto
•O impacto foi alcançado de maneira eficiente?
Avaliação de Eficiência
38
A importância de se avaliar impacto
Por que avaliar impacto?
Existem vários motivos pelos quais estamos interessados em avaliar um programa:
1. Melhorar o programa
2. Tornar o gasto público mais eficiente
3. Gerar conhecimento sobre políticas públicas
41
1. Melhorar o programa
Gerar informação focada no desenho ou na reformulação do programa,
com a finalidade de melhorar seu desempenho e resultados
• Encontrar soluções concretas e as implementar em curto prazo
• Permite entender a importância relativa dos componentes e processos
do programa
42
2. Tornar o gasto público mais eficiente
Emitir um juízo sobre o uso eficiente dos recursos
• Útil para tomar decisões em relação à alocação de recursos,
continuidade do programa
• Interessa aos tomadores de decisão de alto nível (ex. governadores,
prefeitos, legisladores)
43
3. Responder perguntas de relevância geral
Gerar bens públicos, contribuindo para o conhecimento em ciências
sociais e econômicas
– Produz conhecimento sobre mecanismos e efeitos de uma
intervenção
– Serve de base para inovações e novos enfoques, com potencial
para replicações e ganhos de escala
44
Exemplo: Programas de transferência de renda
(ex. Bolsa Família)
Fonte: Fiszbein y Schady, Banco Mundial; 2009
Grande crescimento em dez anos
Relevância global de
se conhecer o impacto
desta política
Fonte: Fiszbein y Schady, Banco Mundial; 2009
O exemplo do programa no México
47
Exemplo: programa de transferência de renda no México
O que permitiu o êxito do programa?
• Evidência científica sobre impactos
• Avaliação rigorosa feita por acadêmicos externos sem interesses políticos
48
Exemplo: programa de transferência de renda no
México
Qual foi o papel da evidência?
• Deu sustentabilidade política ao programa no tempo
• Entregou informação ao mundo sobre a efetividade da inovação
(a custo político e financeiro muito baixo)
• Ajudou a melhorar o desenho do programa ao longo do tempo
49
Avaliações de impacto e o uso de seus
resultados
Como decidimos quais programas implementar?
48
Programas/
Políticas
Conhecimento
Evidência
Experiência
pessoal ou
coletiva
Ideologia
Própria
Externa
Apoio
Orçamento
Político
Capacidade
49
Política pública baseada
em ideologia e opinião
Política pública baseada
em evidência
Como decidimos quais programas implementar?
Fonte: Brandon Reynolds, apoiado pela University of Cape Town Graduate School of Development Policy and Practice
Precisamos de mais evidência e de um
maior uso da evidência existente
50
Crescimento de avaliações aleatorizadas
51
Número de avaliações aleatorizadas publicadas na área de desenvolvimento internacional
Ano de publicação
Fonte: Cameron et al (2016)
Fonte: https://ClinicalTrials.gov
11 de janeiro de 2017
Mas ainda há muito trabalho a ser feito
Evidência em medicina
234.107 estudos clínicos
53
1. Medir impacto fora do laboratório é complexo
• Problema de confiabilidade do impacto estimado
• Importância de uma análise de dados adequada e bem justificada
– Estamos isolando o efeito do programa de outros elementos relevantes?
– Qual é a estratégia de identificação causal?
– Estamos trabalhando com grupos comparáveis?
Por que existe tão pouca evidência?
Por que existe tão pouca evidência?
54
2. Difícil pensar na avaliação a tempo
• Precisamos pensar na avaliação de um programa antes
de ser implementado
3. Incentivos
• Governos querem respostas rápidas, mas avaliações bem
feitas tomam tempo
• Conhecimento sobre políticas públicas é um bem público
55
Mesmo quando existe evidência rigorosa, muitas vezes ela não é usada
sistematicamente para o desenho de programas
• Dificuldade em identificar a diferença entre a evidência “rigorosa” e
aquela que não é…
– Baixa credibilidade por seu mau uso
– Pouco conhecimento de causalidade
• Falta de cultura de avaliação e aprendizagem
• Validade externa: resultados de uma avaliação se aplicam a outros
contextos?
Uso de evidência
Quando não avaliar impacto?
• Quando já existe evidência suficiente sobre a efetividade de uma intervenção
• Quando o programa não está maduro e seu desenho está sujeito a alterações
• Quando não é possível identificar um grupo de comparação válido
60
Quando avaliar impacto?
• Quando existem perguntas causais sem resposta
• Quando existe incerteza sobre a melhor estratégia de intervenção para
atacar um problema
• Quando está sendo implementado um programa-piloto
• Quando se prevê ampliar um programa
• Quando um programa está sendo implementado de maneira gradual
• Quando o programa incorpora novos serviços ou beneficiários
61
Conclusões
Em resumo
• Existem diferentes tipos de avaliações. Neste curso, focaremos em
avaliações de impacto, que respondem a perguntas sobre causa e efeito
• Avaliar impacto pode ajudar a melhorar o desenho dos programas
sociais, aumentar a eficiência do gasto público e aprender sobre políticas
bem sucedidas
• Há grande espaço para mais produção e uso de evidência empírica
rigorosa
59

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  • 1. Por que avaliar o impacto de políticas públicas? Claudio Ferraz Professor da PUC-Rio Pesquisador afiliado do J-PAL
  • 2. Objetivos • Entender o que é uma avaliação de impacto • Compreender a importância das avaliações de impacto • Conhecer os principais obstáculos para a produção e o uso das avaliações de impacto 2
  • 3. Questão central em políticas públicas Se recursos humanos e financeiros usados para o desenho e implementação de políticas públicas são limitados ...em que iniciativas devemos focar para enfrentar os problemas sociais? 3
  • 4. Como aumentar a participação escolar? (número de matrículas e frequência) Suponha que você trabalhe no Ministério da Educação e uma das prioridades do governo é aumentar a frequência escolar O ministro diz que há R$ 10 milhões disponíveis para investir em um programa para alcançar esse objetivo Ele te pergunta em que programa você recomenda investir. O que você responde? Fonte: J-PAL
  • 5. Como aumentar a frequência escolar? 5 Uniformes escolares Novas escolas Livros gratuitos Informação sobre retornos à educação Transferências monetárias Bolsas de estudo por mérito
  • 6. Estrutura 1. Tipos de avaliação 2. A importância de se avaliar impacto 3. Produção e uso de avaliações de impacto 4. Conclusão 6
  • 8. Avaliação é o processo que consiste em emitir juízos de valor sobre as atividades e resultados de uma política, estratégia ou projeto Implica, necessariamente, dois elementos: • Construir uma descrição detalhada e precisa do desempenho de um programa • Comparar com um critério ou padrão pré-estabelecido para julgar o desempenho O que é avaliação? 9
  • 9. O que é avaliação? Avaliação Avaliação de programas Avaliação de impacto 10
  • 10. Tipos de avaliação de programas Impact Evaluation Cost-Effectiveness Analysis Avaliação de Necessidades Avaliação Teórica Avaliação de Processos Avaliação de Impacto Avaliação de Eficiência 10
  • 11. Avaliação de necessidades Impact Evaluation Cost-Effectiveness Analysis Avaliação de Necessidades Avaliação Teórica Avaliação de Processos Avaliação de Impacto Avaliação de Eficiência 11
  • 12. Avaliação de necessidades Estudo sistemático que • Identifica a natureza, o alcance e as causas de uma necessidade • Define e descreve a população- alvo a ser atendida • Determina a intervenção necessária para solucionar a necessidade Resultados atuais Resultados desejados Necessidade Necessidade População-alvo Solução 12
  • 13. Perguntas que requerem uma avaliação de necessidades • Qual é a natureza e a magnitude do problema ou necessidade? • Quais são as possíveis causas? • Quais são as características da população-alvo? • Quais programas são os mais pertinentes para essa população? • Quais programas já existem para resolver o problema? 13
  • 14. Exemplo: Construção de moradias em comunidades vulneráveis na América Latina Fonte: Techo 14 Organização da sociedade civil que visa superar a situação de pobreza em comunidades vulneráveis por meio da construção de moradias. Atua em países na América Latina, inclusive no Brasil
  • 15. Número de domicílios em favelas (assentamentos irregulares) no Brasil 15 Fonte: Censos de 1991, 2000 e 2010, em Pasternak e D’Otaviano (2016), “Favelas no Brasil e em São Paulo: Avanços nas Análises a Partir da Leitura Territorial do Censo de 2010”. Cad. Metrop São Paulo, Vol 18, n° 35, p.79. 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 3.000.000 3.500.000 1980 1991 2000 2010 Domicílios em comunidades subnormais no Brasil
  • 16. Avaliação teórica 16 Impact Evaluation Cost-Effectiveness Analysis Avaliação de Necessidades Avaliação Teórica Avaliação de Processos Avaliação de Impacto Avaliação de Eficiência
  • 17. Avaliação teórica • Avalia a teoria que está por trás do programa: – É viável e factível? – Atende às necessidades da população-alvo? • Marco Lógico • Teoria da Mudança Descrever a teoria • Revisão da literatura • Painel de especialistas • Entrevistas Determinar sua qualidade 17
  • 18. Perguntas que requerem uma avaliação da teoria • Quais são os resultados finais que são esperados alcançar com o programa? • Como se pretende chegar a esses resultados finais? (Por meio de quais insumos, atividades, produtos e resultados intermediários?) • Que suposições e riscos estão implícitos em nossa teoria da mudança? • Quão razoáveis são essas suposições, e quão grandes são os riscos? 18
  • 19. Teoria da Mudança do TECHO 19 Altos níveis de pobreza em assentamentos precários Voluntários Maior satisfação Maior disposição à acumulação de ativos Maior sensação de segurança Melhores relações familiares Melhores moradias Material de construção Maior empregabilidade Problema / necessidade Resultados finais Resultados intermediários Produto Insumos / atividades
  • 20. Avaliação de processos Impact Evaluation Cost-Effectiveness Analysis Avaliação de Necessidades Avaliação Teórica Avaliação de Processos Avaliação de Impacto Avaliação de Eficiência 20
  • 21. Da teoria à prática • A teoria da mudança nos diz como o programa deveria funcionar, mas implementar um programa de acordo com o planejado não é fácil • Assim, é importante estudar o que acontece na prática, e uma avaliação de processos avalia a implementação de um programa 21
  • 22. Perguntas que requerem uma avaliação de processos O programa está sendo implementado corretamente? • Segundo o planejado? • Cumpre com os padrões relevantes? • Permite alcançar os objetivos? – Quantas pessoas estão recebendo o serviço? São as pessoas certas? – O serviço recebido é adequado em termos de quantidade, qualidade e tipo? – A equipe que executa o programa conta com todas as competências requeridas? – Como os recursos são geridos? 22
  • 23. Avaliação de processos do TECHO 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Tutorias educativas Fomento produtivo Assessorias jurídicas Oficinas optativas Plano de saúde Bibliotecas Oficinas populares % de áreas onde foram implementadas intervenções Fonte: CIS 2009, Processos de intervenção social de UTP CH em acampamentos em que se formaram comités na região metropolitana. 23
  • 24. Avaliação de processos do TECHO 24 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% Coordenação com o escritório Participação nas atividades de campo além da sua atribuição Constância da atividade Compromisso com a comunidade Relação com as familias Aspectos em que se deve melhorar o trabalho dos voluntários nas comunidades Fonte: CIS 2009, Processos de intervenção social de UTP CH em acampamentos em que se formaram comités na região metropolitana.
  • 25. Avaliação de impacto 25 Impact Evaluation Cost-Effectiveness Analysis Avaliação de Necessidades Avaliação Teórica Avaliação de Processos Avaliação de Impacto Avaliação de Eficiência
  • 26. O que é impacto? Mudanças diretamente atribuíveis ao programa (Gertler et al.) 26
  • 27. Contrafactual O que é impacto? 27 Resultado dos beneficiários depois de participarem do programa Resultado que esses mesmos beneficiários obteriam, no caso hipotético de não terem participado do programa IMPACTO
  • 28. Perguntas que requerem uma avaliação de impacto O programa teve os efeitos esperados sobre os beneficiários? • Esses efeitos se mantiveram com o tempo? • Todos os componentes do programa são necessários para obter impacto? • Alguns grupos de beneficiários estão mais afetados pela intervenção do que outros? • Existem efeitos adversos não planejados? 28
  • 29. Fonte: Techo Avaliação de impacto - TECHO Avaliação de impacto das casas emergenciais em comunidades vulneráveis de três países • El Salvador • Uruguai • México
  • 30. Qual foi o impacto? 30 Satisfação com a qualidade de vida Satisfação com a proteção que a residência oferece contra a chuva 20% 16% Não houve impacto em: • Consumo de bens • Mercado de trabalho • Saúde
  • 31. Processos vs. Impacto Avaliação de Processos Como? Por que? Mede o progresso em relação aos objetivos Monitoramento contínuo e frequente Realizada durante a implementação do programa Pode ser realizada pela equipe do programa ou parceiro externo Evidência descritiva Avaliação de Impacto Quanto? Mede quanto do progresso em relação aos objetivos é causado pelo programa Pontual, limitada no tempo Desenhada antes da implementação, com resultados finais após programa ser implementado De preferência, realizada externamente com apoio das equipes do programa Evidência causal
  • 32. Avaliação de eficiência 32 Impact Evaluation Cost-Effectiveness Analysis Avaliação de Necessidades Avaliação Teórica Avaliação de Processos Avaliação de Impacto Avaliação de Eficiência
  • 33. Avaliação de eficiência Análise custo-benefício: compara os benefícios do programa com seus custos • Implica monetizar os custos e benefícios • É realizada geralmente ex-ante Análise custo-efetividade: compara a mudança na variável de impacto principal com os custos do programa • Permite comparar o impacto relativo de diferentes intervenções • É realizada geralmente ex-post 33
  • 34. Perguntas que requerem uma avaliação de eficiência O impacto foi alcançado de uma maneira eficiente? • O custo do programa é razoável em relação à magnitude do impacto? • Existem intervenções alternativas que cumpririam os mesmos objetivos a um menor custo? • Os recursos são usados de maneira eficiente? 34
  • 35. Análise custo-benefício em casas emergenciais Mudança na medida de impacto (taxa de pobreza) dividido por medida de custo (reais) Custo do programa 35
  • 36. Em resumo •O programa está baseado em uma boa conceituação do problema que se busca solucionar? Avaliação de Necessidades •A teoria por trás do programa é factível? Avaliação Teórica •O programa está sendo implementado segundo o planejado? Avaliação de Processos •O programa alcançou os objetivos para os quais foi desenhado? Avaliação de Impacto •O impacto foi alcançado de maneira eficiente? Avaliação de Eficiência 38
  • 37. A importância de se avaliar impacto
  • 38. Por que avaliar impacto? Existem vários motivos pelos quais estamos interessados em avaliar um programa: 1. Melhorar o programa 2. Tornar o gasto público mais eficiente 3. Gerar conhecimento sobre políticas públicas 41
  • 39. 1. Melhorar o programa Gerar informação focada no desenho ou na reformulação do programa, com a finalidade de melhorar seu desempenho e resultados • Encontrar soluções concretas e as implementar em curto prazo • Permite entender a importância relativa dos componentes e processos do programa 42
  • 40. 2. Tornar o gasto público mais eficiente Emitir um juízo sobre o uso eficiente dos recursos • Útil para tomar decisões em relação à alocação de recursos, continuidade do programa • Interessa aos tomadores de decisão de alto nível (ex. governadores, prefeitos, legisladores) 43
  • 41. 3. Responder perguntas de relevância geral Gerar bens públicos, contribuindo para o conhecimento em ciências sociais e econômicas – Produz conhecimento sobre mecanismos e efeitos de uma intervenção – Serve de base para inovações e novos enfoques, com potencial para replicações e ganhos de escala 44
  • 42. Exemplo: Programas de transferência de renda (ex. Bolsa Família) Fonte: Fiszbein y Schady, Banco Mundial; 2009
  • 43. Grande crescimento em dez anos Relevância global de se conhecer o impacto desta política Fonte: Fiszbein y Schady, Banco Mundial; 2009
  • 44. O exemplo do programa no México 47
  • 45. Exemplo: programa de transferência de renda no México O que permitiu o êxito do programa? • Evidência científica sobre impactos • Avaliação rigorosa feita por acadêmicos externos sem interesses políticos 48
  • 46. Exemplo: programa de transferência de renda no México Qual foi o papel da evidência? • Deu sustentabilidade política ao programa no tempo • Entregou informação ao mundo sobre a efetividade da inovação (a custo político e financeiro muito baixo) • Ajudou a melhorar o desenho do programa ao longo do tempo 49
  • 47. Avaliações de impacto e o uso de seus resultados
  • 48. Como decidimos quais programas implementar? 48 Programas/ Políticas Conhecimento Evidência Experiência pessoal ou coletiva Ideologia Própria Externa Apoio Orçamento Político Capacidade
  • 49. 49 Política pública baseada em ideologia e opinião Política pública baseada em evidência Como decidimos quais programas implementar? Fonte: Brandon Reynolds, apoiado pela University of Cape Town Graduate School of Development Policy and Practice
  • 50. Precisamos de mais evidência e de um maior uso da evidência existente 50
  • 51. Crescimento de avaliações aleatorizadas 51 Número de avaliações aleatorizadas publicadas na área de desenvolvimento internacional Ano de publicação Fonte: Cameron et al (2016)
  • 52. Fonte: https://ClinicalTrials.gov 11 de janeiro de 2017 Mas ainda há muito trabalho a ser feito Evidência em medicina 234.107 estudos clínicos
  • 53. 53 1. Medir impacto fora do laboratório é complexo • Problema de confiabilidade do impacto estimado • Importância de uma análise de dados adequada e bem justificada – Estamos isolando o efeito do programa de outros elementos relevantes? – Qual é a estratégia de identificação causal? – Estamos trabalhando com grupos comparáveis? Por que existe tão pouca evidência?
  • 54. Por que existe tão pouca evidência? 54 2. Difícil pensar na avaliação a tempo • Precisamos pensar na avaliação de um programa antes de ser implementado 3. Incentivos • Governos querem respostas rápidas, mas avaliações bem feitas tomam tempo • Conhecimento sobre políticas públicas é um bem público
  • 55. 55 Mesmo quando existe evidência rigorosa, muitas vezes ela não é usada sistematicamente para o desenho de programas • Dificuldade em identificar a diferença entre a evidência “rigorosa” e aquela que não é… – Baixa credibilidade por seu mau uso – Pouco conhecimento de causalidade • Falta de cultura de avaliação e aprendizagem • Validade externa: resultados de uma avaliação se aplicam a outros contextos? Uso de evidência
  • 56. Quando não avaliar impacto? • Quando já existe evidência suficiente sobre a efetividade de uma intervenção • Quando o programa não está maduro e seu desenho está sujeito a alterações • Quando não é possível identificar um grupo de comparação válido 60
  • 57. Quando avaliar impacto? • Quando existem perguntas causais sem resposta • Quando existe incerteza sobre a melhor estratégia de intervenção para atacar um problema • Quando está sendo implementado um programa-piloto • Quando se prevê ampliar um programa • Quando um programa está sendo implementado de maneira gradual • Quando o programa incorpora novos serviços ou beneficiários 61
  • 59. Em resumo • Existem diferentes tipos de avaliações. Neste curso, focaremos em avaliações de impacto, que respondem a perguntas sobre causa e efeito • Avaliar impacto pode ajudar a melhorar o desenho dos programas sociais, aumentar a eficiência do gasto público e aprender sobre políticas bem sucedidas • Há grande espaço para mais produção e uso de evidência empírica rigorosa 59