Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental apresentação...
Rima menor
1.
2.
3.
4. Equipe Técnica Meio Físico
Ana Mônica Correia, MSc.
Geógrafa
Adauto Gomes Barbosa
Coordenação Geral Geógrafo
Ivan Dornelas, MSc. Antônio Vicente Ferreira Júnior
Engº. Cartógrafo Geógrafo
Bruno Ferreira
Coordenação Técnica Geógrafo
Maria do Carmo Martins Sobral, Drª Doris Regina Alves Veleda
Engª Civil Meteorologista
Fabíola de Souza Gomes
Apoio a Coordenação Técnica Engª Civil
Rita de Cássia Barreto Figueiredo Glauber Matias de Souza
Engª Química Geólogo
Gustavo Lira de Melo Márcia Cristina de Souza Matos Carneiro
Biólogo Engª Cartógrafa
Alessandra Maciel de Lima Barros Maria das Neves Gregório
Engª Civil Geógrafa
Maria das Vitórias do Nascimento, Msc
Engª Civil
Análise do Projeto
Romilson Ferreira da Silva
Ana Paula Batista Lemos Ferreira
Meteorologista
Engª. Civil
Simone Karine Silva da Paixão, Especª.
Engª Civil
Supervisão Geral E. Ambientais
Wanderson Dos Santos Sousa
Wbaneide Martins de Andrade, MSc.
Meteorologista
Bióloga/Botânica
Weronica Meira de Souza
Meteorologista
Supervisão Meio Físico
Simone Karine Silva da Paixão
Meio Biótico
Engª Civil
Alfredo Matos Moura Júnior, Dr.
Biólogo/Botânico
Supervisão Meio Biótico
Cristiane Maria V. A. de Castro, Drª.
Maristela Casé Costa Cunha, Drª
Bióloga/Oceanógrafa
Bióloga
Geraldo Jorge Barbosa de Moura, Dr.
Biólogo/Zoólogo
Supervisão do Meio Socioeconômico Hélida Karla Philippini da Silva
Lúcia de Fátima Soares Escorel Química
Arquiteta e Urbanista
Karine Matos Magalhães, Drª.
Bióloga/ Botânica
Análise Jurídica Marcondes Albuquerque de Oliveira, Drº
Talden Queiroz Farias, MSc. Biólogo
Advogado Maristela Casé Costa Cunha, Drª
Bióloga/Oceanógrafa
5. Mauro Melo Júnior Aramis Leite de Lima, MsC.
Biólogo Engº. Cartógrafo
Paula Braga Gomes Daniel Quintino Silva
Bióloga Tecnólogo em Geoprocessamento
Paulo Guilherme Vasconcelos de Oliveira Diego Quintino Silva
Engº de Pesca Tecnólogo em Geoprocessamento
Petrônio Alves Coelho Filho Felipe José Alves de Albuquerque
Biólogo Geógrafo
Flávio Porfírio Alves, MsC.
Meio Sócioeconômico Engº. Cartógrafo
Beatriz Mesquita Jardim Pedrosa
Engª de Pesca Apoio Técnico
Carlos Celestino Rios e Souza Anthony Epifânio Alves
Arqueólogo Biólogo/Macroinvertebrados bentônicos
George F. C. de Souza Cacilda Michele Cardoso Rocha
Historiador Biólogo/Avifauna
José Geraldo Pimentel Neto Elizardo Batista F. Lisboa
Geógrafo Biólogo/Herpetologia
Lúcia de Fátima Soares Escorel Ericarlos Neiva Lima
Arquiteta e Urbanista Engº. de Pesca/Ictiologia
Lúcia Maria Goés Moutinho Jana Ribeiro de Santana
Economista Engª. de Pesca/Ictiologia
Luís Henrique Romani Campos Josinaldo Alves da Silva
Economista Biólogo/Botânica
Marcos Antônio G. Matos de Albuquerque Milena Duarte de Oliveira Souza
Arqueólogo Arqueóloga
Maria Eleônora da Gama Guerra Curado Tatiana de Oliveira Calado
Arqueóloga Bióloga
Osmil Torres Galindo Filho
Economista Apoio Administrativo
Paulo Alves Silva Filho, Msc. Eva Luzia Nesso
Geógrafo Analista de Sistemas
Veleda Christina Lucena de Albuquerque Marlúcia Alves Rodrigues
Arqueóloga Pedagoga
Solange C. da Costa e Silva
Geoinformação Advogada
Daniel Quintino Silva Viviane Cabral Gomes
Tecnólogo em Geoprocessamento Administradora
Diego Quintino Silva Simone Rosa de Oliveira, MSc.
Tecnólogo em Geoprocessamento Bibliotecária
Cartografia Mobilização e Articulação Social
Ana Carolina Schuler, MSc. Cândida Maria Jucá Gonçalves
Engª. Cartógrafa Assistente Social
Ana Mônica Correia, MSc
Geógrafa
6. 6
ESTADO DE
PERNAMBUCO
Governador Instituto de Tecnologia de Pernambuco
Eduardo Henrique Accioly Campos (ITEP-OS)
Vice-Governador Diretor Presidente
João Soares Lyra Neto Frederico Cavalcanti Montenegro
Secretaria de Meio Ambiente e Diretor Técnico
Ivan Dornelas Falcone de Melo
Sustentabilidade – SEMAS
Sérgio Xavier
Diretora Administrativa Financeira
Fabiana Albuquerque de Freitas
Secretário Executivo de Meio Ambiente
e Sustentabilidade – SEMAS
Hélvio Polito Lopes Filho
Superintendente de Inovação
Tecnológica
Márcia Maria Pereira Lira
Superintendência Técnica de Meio
Ambiente e Sustentabilidade – SEMAS
Leslie Tavares
Coordenador da UGP Barragens
Ivan Dornelas Falcone de Melo
Gerente Geral de Planejamento e Gestão
de Meio Ambiente e Sustentabilidade –
SEMAS
Benedito Parente
8. Apresentação
“Uma das experiências mais recifenses que o adventício pode ter no
Recife: um mar de água morna, um sol que em pouco tempo amorena
o corpo do europeu ou do brasileiro do Sul”
Gilberto Freyre,
Guia prático, histórico e sentimental da Cidade do Recife
O Recife e a sua Região Metropolitana nasceram a partir do mar.
A cidade costeira e mercantil é também portuária e turística. A sua
urbanização é forte na região costeira, a ocupação é disputada, densa,
vertical. O metro quadrado próximo à praia tem valorização constan-
te. A infraestrutura pública da orla é boa. As praias do Grande Recife
representam a mais democrática opção de lazer do pernambucano e
também o mais atraente cartão postal do Estado.
Essa história, semelhante à de outras capitais no litoral brasileiro, pos-
sui problemas específicos. A erosão costeira está entre os problemas
mais persistentes. Contra seus efeitos, algumas alternativas foram co-
locadas em prática, como os muros de proteção, diques, quebra-mares,
espigões, molhes e outras construções com a finalidade de manter o
recorte do litoral. A erosão continua e ignora a ação do homem.
Os estudos ambientais presentes neste relatório representam uma
resposta do Governo de Pernambuco, manifestada pela Secretaria de
Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), ao contratar a Associação
Instituto de Tecnologia de Pernambuco – ITEP/OS. A missão dada foi a
de acompanhar e coordenar os estudos ambientais do Projeto de Recu-
peração da Orla Marítima dos Municípios de Jaboatão dos Guararapes,
do Recife, de Olinda e do Paulista.
É um projeto estruturador, uma iniciativa do Governo do Estado. Faz
parte da política pública de controle dos efeitos causados pelas mu-
danças climáticas. Recuperar a praia e sua areia tem repercussão
direta no desenvolvimento socioeconômico e ambiental de importantes
9. municípios litorâneos. Representa a criação de novas oportunidades
em um espaço democrático e público.
O presente Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresenta uma
síntese dos estudos desenvolvidos para obtenção de licenciamento
junto à Agência Ambiental de Pernambuco (CPRH). O RIMA relaciona
os principais resultados dos estudos realizados para os meios físico,
para os seres vivos e o ambiente socioeconômico, no que se refere
ao diagnóstico ambiental atual, os prováveis impactos e as formas de
mitigação e controle que poderão ser implantadas. O relatório contém
dados sobre o empreendimento e sobre os responsáveis envolvidos no
projeto de recuperação da orla e nos estudos ambientais.
10. 159 INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE PERNAMBUCO
Relatório de impacto ambiental-RIMA:
Recuperação da Orla Marítima – Municípios
de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e
Paulista (Pernambuco)/ Instituto de Tecnologia
de Pernambuco. –Recife, 2012.
98p.: il.
ISBN:
11. Sumário
POR QUE ESSA OBRA? 14
A ÁREA DO EMPREENDIMENTO 18
QUAL A ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO? 42
COMO É O MEIO FÍSICO NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO? 46
COMO SE APRESENTA O MEIO BIÓTICO NA ÁREA
DOEMPREENDIMENTO? 76
QUAIS OS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DA ÁREA DO
EMPREENDIMENTO? 100
QUAIS SÃO OS IMPACTOS DO EMPREENDIMENTO? 110
12.
13. EMPREENDEDOR O RESPONSÁVEL PELOS ESTUDOS AMBIENTAIS
Secretaria de Meio Ambiente Associação Instituto de Tecnologia
e Sustentabilidade – SEMAS de Pernambuco – ITEP OS
Responsável: Sérgio Luís de Carvalho Xavier Responsável: Frederico Cavalcanti Montenegro
CNPJ: 13.471.612/000-04 CNPJ : 05.774.391/0001-15
Avenida Marquês de Olinda, 222 Av. Professor Luiz Freire, 700
Bairro do Recife, Recife - PE, CEP - 50030– 000 Cidade Universitária – Recife/PE
Telefone: (081) 31835506 / 31835513 Telefone: (81) 3183-4399
http://www2.semas.pe.gov.br/web/sectma http://www.itep.br
14. 1
14
Por que essa obra?
Pernambuco vive um momento de grande crescimento econômico. O
desenvolvimento é maior na região costeira, com a valorização urbana e
atração de novos empreendimentos residenciais turísticos, concentração
de empresariais, projetos comerciais e industriais. O litoral possui a maior
densidade demográfica do Estado, uma das maiores do Nordeste. A pre-
sença humana gera problemas ambientais e desequilíbrio.
A erosão costeira é uma reação da natureza à urbanização. Os processos
erosivos são evidentes ao longo da costa e variam apenas na intensidade.
Pedras com função de quebra-mar, diques, espigões, muros de proteção
e outras tentativas para conter a erosão foram construídas em busca da
solução de um problema local. Essas ações passaram a induzir a erosão
em áreas próximas e o problema atingiu regiões vizinhas.
O litoral de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
foi atingida pela erosão marinha ou mesmo em consequência das estrutu-
ras de contenção instaladas. A erosão destruiu parte do potencial da orla
para o turismo e o lazer. Os dois setores representam a base de empre-
gos, geração de renda e riqueza de parte da população do Estado: afeta o
vendedor de picolé e a indústria alimentícia, o movimento do quiosque na
beira-mar e a ocupação do hotel de luxo, atinge o orçamento do motorista
de táxi e da agência de turismo.
A irregular faixa de areia das praias desses quatro municípios evidencia
a necessidade da implantação de projetos de engenharia, integrados de
forma regional. A partir de uma solução técnica que permita corrigir os
impactos ambientais, que atenda à legislação e às exigências dos órgãos
ambientais e que leve em consideração as fragilidades ambientais de cada
um dos setores, além das características de cada um dos municípios.
Com esse panorama, as prefeituras decretaram situação de emergência
15. 15
em algumas áreas da orla. Essa decisão levou o governo de Pernambuco a realizar medidas para
reduzir esses impactos, com uma visão mais ampla do litoral e dos municípios envolvidos.
Esse projeto está limitado ao sul pela foz do rio Jaboatão e ao norte pela foz do rio Timbó, compre-
endendo os municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista. São os
trechos definidos como Pontos Críticos de Erosão (MAI, 2009). A recuperação da orla marítima e
recomposição da areia das praias vão criar melhores condições para o desenvolvimento socioeco-
nômico e ambiental. Representam novas oportunidades, melhores condições e praias com quali-
dade.
Localização da área de estudo. Municípios de Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e
Paulista. Região Metropolitana de Recife (RMR).
Fonte: Coastal Planning & Engineering do Brasil
16. 16
Características dos municípios – situação atual das praias
EXTENSÃO DE ORLA PRAIAS FORMAÇÃO DE PRAIAS TIPOS DE OBRAS
JABOATÃO DOS GUARARAPES
7.961 m Piedade, Candeias, 58,9% Sedimentos Enrocamentos, Espigões,
Barra de Jangada 41,1% Obras Rígidas Muros
RECIFE
13.444 m Boa Viagem, Pina 44,6% Sedimentos Arrecifes
Brasília Teimosa 55,4% Obras Rígidas Enrocamentos
OLINDA
12.261 m Praia dos Milagres 34,4% Sedimentos Enrocamentos
Praia do Carmo 65,6% Obras Rígidas Espigões
São Francisco, Farol Muros
Bairro Novo Casa Caiada
,
Rio Doce
PAULISTA
14.468 m Praia de Enseadinha 66,5% Sedimentos Enrocamentos
Janga, Pau Amarelo 33,5% Obras Rígidas Espigões
Nossa Senhora do Ó Muros
Conceição, Maria Farinha
18. 2
18
A área do
empreendimento
A urbanização da zona costeira pernambucana com diferentes objetivos
e componentes culturais começa com a criação das primeiras vilas e
cidades. As primeiras ocupações eram de grupos com interesse na pesca
– praias e bordas das lagunas (AB’SABER, 1990).
É esse o contexto do espaço urbano no litoral em Jaboatão dos Guarara-
pes, no Recife, em Olinda e no Paulista resultante de relações sociais que
se manifestam desde o período colonial, reflexo na urbanização presente
nas cidades brasileiras.
A pesquisa de Carneiro (2003) constatou que, em um período de trinta
anos, considerando a série dos censos demográficos de 1970 até 2000, o
aumento da população é multiplicado por seis. Esse dado, até mesmo de
forma isolada, comprova o impacto ambiental.
A pesquisa de Carneiro (2003) comprova os momentos de transformação
estrutural na orla olindense. Foram mudanças sociais, políticas e econômi-
cas, que refletiram no adensamento urbano desse espaço do litoral.
Em outro estudo realizado em maio de 2003, Araújo et al. (2004) registra
uma caminhada nas praias do litoral pernambucano, nas duas horas antes
e nas duas horas depois da maré baixa. O estudo fez a identificação do
ponto, com demarcação georreferenciada (GPS GARMIM) relacionada à
ocupação urbana. A pesquisa também observa a presença, ou não, de
edificações próximas à praia.
A metodologia foi objetiva. Adotou trechos de praia e classificou em três
graus de ocupação: ausência de ocupação da pós-praia; ocupação da
pós-praia; e ocupação concomitante da pós-praia e da praia (estirâncio).
19. 19
Compartimentação geomorfológica do ambiente praial
Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)
O resultado do estudo de Araújo et al. (2004) demonstrou que o setor metropolitano é o mais for-
temente ocupado, seguido pelos setores Norte e Sul pernambucanos respectivamente, conforme a
tabela abaixo.
Setores do litoral pernambucano X extensão (km) e percentual do litoral
X percentual de ocupação por edificações e/ou obras de contenção
Setores Extensão (km) % do litoral Ausência de ocupação Ocupação na pós-praia (%) Ocupação associada da
na pós-praia (%) pós-praia e da praia (%)
Norte 58 31 79.1 5.6 5.3
Metropolitano 42 22.5 49.0 4.0 47
Sul 87 46.5 78.7 9.7 11.6
Total 187 100 72.1 7.13 20.63
Fonte: Adaptada de Araújo et al. (2004)
O setor metropolitano, de acordo com a pesquisa de Araújo et al. (2004), representa 22,5% do li-
toral pernambucano. Associado a esse indicador, metade do ambiente praial encontra-se ocupado.
Essa ocupação ganhou nova dinâmica na década de 1970. As casas de veraneio se transformaram
em residências. Em seguida, começa a substituição das casas por edifícios residenciais e hotéis.
Cinquenta por cento das praias da região metropolitana apresentam áreas construídas que se es-
tendem até o estirâncio. O elevado percentual de ocupação da praia, principalmente por
20. residências ou obras de contenção, ocorre maior impacto é facilmente verificado nessas
porque o setor possui as maiores aglomerações praias. São as obras de engenharia que alteram
urbanas do estado, em especial o Recife, Jabo- ou retêm a deriva de sedimentos arenosos,
atão dos Guararapes e Olinda. Os trechos mais fundamentais para a alimentação da areia das
críticos corresponderam às praias em Jaboatão praias.
e em Olinda. Elas possuem diversas obras de
contenção, como exemplo, os 38 diques com A urbanização no litoral dos quatro municípios
intervalos de 50m de Olinda e, em Jaboatão ocorreu sobre as dunas frontais, de forma de-
dos Guararapes, enrocamentos e outras cate- sordenada. A inadequação provoca e intensifi-
gorias de intervenção. ca a erosão costeira. Em seguida, a construção
de estruturas para mitigar os efeitos da erosão
Olinda apresentou a pior situação em termos agrava o problema. As obras de contenção
de ocupação do ambiente na praia. O litoral têm sido construídas com o intuito de proteger
é praticamente todo ocupado por grandes propriedades ameaçadas. Essas estruturas (em
obras públicas de contenção. As poucas praias especial os enrocamentos e muros de conten-
existentes ocorreram com a engorda de praia ção) são levantadas em frente da escarpa das
artificial (PEREIRA et al., 2003). dunas e se têm mostrado economicamente
inviáveis. Proprietários ou mesmo o poder
A ocupação observada próxima ao litoral em público gastaram recursos a tentar solucionar
Jaboatão dos Guararapes, no Recife, em Olinda os problemas da erosão costeira que afetam as
e no Paulista é semelhante a de outras cidades obras construídas em locais indevidos. A cons-
no mundo. A urbanização não deixou espaço trução dessas obras na pós-praia e na praia
para a praia, gerando prejuízos de toda ordem. altera a dinâmica sedimentar, compromete a
O principal são as construções que impedem o estética do local, interfere na visão cênica e no
suprimento de areia. seu valor econômico.
A infraestrutura urbana representada por ruas, Essa zona costeira precisa de ações corretivas
calçadas, residências em área sob a ação do e preventivas (como o estabelecimento de
mar são as intervenções mais comuns. Confor- limites para construção) para promover uma
me estudos como o de Carneiro (2003), Araújo ocupação mais adequada da orla. A ordenação
et al. (2004), Manso (2004) e MAI (2009), o desse espaço é uma prioridade e um desafio.
21. 21
Histórico da ocupação da costa de Olinda:
primeiras décadas do século XX e depois de 1960 e 2010
Fonte: SEMAS, 2011.
Histórico da ocupação da costa em Jaboatão dos Guararapes
Fonte: SEMAS, 2011.
22. 22
Histórico da ocupação da costa do Paulista e variação da linha de costa
da praia do Janga.
Fonte: Patrícia de Oliveira, Hewerton da Silva, Neiva de Santana, Elisabeth Silva, Valdir Manso.
Histórico das obras e intervenção
de contenção do avanço do mar
Os primeiros registros de erosão costeira no o avanço do mar na praia dos Milagres. A praia
estado de Pernambuco são de 1914 (COUTI- perdeu 80 metros no período 1914 a 1950.
NHO, 1997). Eles tratam dos danos causados Desde esta época, os problemas de erosão vêm
pelo molhe localizado no istmo de Olinda. O sendo registrados em vários trechos do litoral,
molhe em construção, na primeira década do em especial em áreas urbanas onde foram
século XX, fazia parte das obras de ampliação implantadas obras costeiras de proteção (COU-
do Porto de Recife. As figuras abaixo mostram TINHO, 1997).
23. 23
Fotografia da praia dos Milagres, em 1950, onde ocorreu um avanço de
80 metros da linha de costa
Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950
Fonte: Cedida pelo Sr. José Maria, 1950
24. 24
Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e
praia dos Milagres (1960)
Fonte: Coutinho (1997)
Fonte: Coutinho (1997)
25. 25
Nos últimos vinte anos, diversas foram as obras lógicas provocadas por essas intervenções na
de contenção construídas nas praias dos qua- foz do rio Jaboatão, inclusive com significativa
tro municípios. Em Jaboatão dos Guararapes, redução de área na extremidade do pontal
instalaram-se estruturas do tipo guia corrente, do Paiva (Ilha do Amor, ao longo da margem
espigões, enrocamentos aderentes e muros, direita do rio). Os efeitos da erosão também
desde a margem esquerda do rio Jaboatão até são visíveis com as perdas de área de praia em
as praias de Piedade e Candeias. Nas figuras Candeias e Piedade (MAI, 2009).
a seguir, é mostrada as modificações morfo-
Foz do rio Jaboatão em 1989 (a) e (b) detalhe da área com obras
costeiras do tipo molhes e espigões ao longo da margem esquerda do
rio em 2004
Fonte: a - Laborel (1963); b - Google Earth e fotografias CPRH (2006)
26. 26
Trecho das praias de Candeias e Piedade em 1963 (a) e em 2004 (b)
No Recife, foram colocados pedras-rachão naturais, presentes até hoje. Na figura a seguir,
e sacos de areia em resposta a erosão que vê-se a fotografia aérea de 1974, que retrata o
destruiu parte do calçadão a praia de Boa Via- litoral da Praia de Boa Viagem, com a presen-
gem, em 1994. No ano seguinte, novo estudo ça de dunas frontais preservadas e vegetação
concluiu que a obra mais adequada à proteção (MAI, 2009).
do calçadão seria o revestimento de blocos
Fotografia aérea de 1974 da praia de Boa viagem, com o ambiente
praial preservado e a presença de dunas frontais e vegetação
Fonte: MAI (2009)
27. 27
A seguir, percebe-se a alteração que essa região sofreu com o processo de urbanização nos últi-
mos 36 anos. As fotografias em detalhe (a e b) mostram a descaracterização da praia em um
Fotografias de ruína de antigas residências em Olinda: praia do Carmo e
praia dos Milagres (1960)
Fonte: a - Fidem; b - Google Earth; fotografias de Tereza Araújo, 2004
As primeiras obras de contenção do mar em Ela provocou diversos danos às construções si-
Olinda ocorreram em 1950. As modificações tuadas entre as praias dos Milagres e do Farol.
para a ampliação do Porto do Recife (1909- Uma mudança notável foi a realocação do farol
1917) e da Base Naval do Recife são aponta- de Olinda, que funcionava à beira-mar.
das como uma das causas da erosão.
Fotografia de sobrevoo mostra a praia do Farol, Olinda
Nota: No detalhe, antiga posição do farol de Olinda, 1940. A seta em amarelo mostra a posição atual do
farol, construído no alto do morro do Serapião.
Fonte: CPRH; fotografia de Alexandre Berzin, acervo da Fundação Joaquim Nabuco
28. 28
A ampliação do Porto do Recife e, em seguida, de ser ampliados. Na figura abaixo, de 1974,
a construção das obras de contenção em Olin- podem-se perceber recifes naturais submer-
da interferiram no balanço sedimentar costeiro sos, que serviram de suporte para o sistema
nessa orla, provocando a erosão costeira em de quebra-mares. As modificações podem ser
Paulista. Como forma de contenção da erosão, visualizadas na figura a seguir. Há formação de
criou-se um sistema de quebra-mares asso- saliências e reentrâncias na zona de sombra
ciados a espigões, que posteriormente tiveram dos quebra-mares (MAI, 2009).
Fotografia da zona costeira do município de Paulista em 1974 (a) e
em 2004 (b) depois da implantação do sistema de quebra-mares
29. 29
Em resposta à erosão, as prefeituras dos mu- Essas intervenções representaram altos custos
nicípios decidiram por fixar a linha de costa. sem resultados satisfatórios. A erosão era trans-
Obras de contenção foram executadas ao longo ferida para praias ao lado.
do litoral, em geral de forma pontual e sem
maior conhecimento da dinâmica costeira. A
praia foi profundamente modificada e a beleza
cênica desvalorizada.
Recuperação da orla marítima e
seus resultados na contenção dos
processos erosivos
Em todo mundo, as zonas costeiras convivem • Alteração do transporte litorâneo – inter-
com problemas. Os mais comuns estão ligados rupção ou modificação da movimentação
ao recuo (erosão) ou avanço da linha de costa. de sedimentos ao longo da costa, sob
Normalmente, relacionados com a retirada ou a ação das ondas e correntes. Como a
deposição de sedimentos. Os problemas estão construção de um espigão perpendicular à
mais associados à erosão, pelo risco de danos praia e molhes de proteção portuária, entre
materiais. A erosão é de difícil controle. outras.
• Alterações nos padrões das correntes
De acordo com o estudo do MAI (2009), litorâneas. Por exemplo, a construção de
podem ser citadas entre as causas de erosão obras na pós-praia, na zona de arrebenta-
costeira: (a) ação dos agentes naturais que ção, causando alteração das correntes.
atuam ao longo da costa e (b) ações do homem • Remoção de sedimentos por dragagem.
ligadas à implantação de estruturas artificiais, • Lançamento do produto de dragagem de
seja para criar áreas (equipamentos de lazer e canais e de portos.
turismo, portos entre outras), seja para a tenta- • Modificação das características das on-
tiva de correção de problemas. das por efeito de refração e/ou difração
em estruturas. Interrupção do aporte de
Como exemplos dos problemas causados pela sedimentos por obras nos rios (barragens,
interferência de estruturas artificiais, podem ser fixação de margens e leito). (MAI, 2009, v.
citados: 2, p. 127).
30. 30
Podemos citar como exemplos de alterações da A implantação de obras de proteção costeiras
linha de costa por meio de causas naturais: depende do tipo, do tamanho e da localização
das necessidades; da eficiência do método
• Alterações climáticas (efeito estufa, natu- utilizado; dos efeitos sobre as praias adjacentes
rais), gerando modificações no regime de e do impacto econômico resultante da obra
ventos, como agente diretamente transpor- costeira.
tador de sedimentos (transporte eólico) ou Busca-se eleger o tipo de proteção a ser
indiretamente, como gerador de ondas e definido, como muro de proteção, espigão e
responsável, juntamente com as correntes alimentação artificial, procurando suprir as
e ondas, pela dinâmica dos sedimentos. necessidades de acordo com a disponibilidade
econômica local. Aliado a essa premissa, é
• Ondas e correntes, como principais agen- necessária a realização de estudos ambientais,
tes de transporte na zona imersa. como o monitoramento dos diferentes parâme-
• Variação do nível de água, marés astronô- tros envolvidos no fenômeno, como a dinâmica
micas, ressacas (marés de tempestades), das ondas, dos ventos, dos níveis de água, as
alterações do nível médio do mar. alterações na movimentação e no abasteci-
• Alterações naturais no aporte sedimentar mento dos sedimentos, e as variações do perfil
dos rios. topobatimétrico de praia, como condicionan-
• Chuvas intensas. (MAI, 2009, v. 2, p. tes para um adequado manejo costeiro (MAI,
127). 2009).
As ondas geradas por ventos são as principais
agentes de alteração da linha de costa, aliadas
às variações do nível de água (maré, ressacas),
combinados com a falta ou o excesso de aporte
de sedimentos.
31. 31
Principais métodos usados na
proteção costeira
Os principais métodos utilizados na prote- • Grupos de espigões – reduzem o transpor-
ção costeira buscam, no primeiro momento, te longitudinal e, consequentemente, o
prevenir ou eliminar os efeitos. É denominado recuo da linha de costa. Algumas vezes,
método direto. O outro método procura a cor- podem forçar a deposição de sedimentos e
reção do problema por meio de eliminação das a reconstituição da área erodida. Podem,
causas (MAI, 2009). entretanto, estar na origem (devido à redu-
ção do transporte sedimentar) da erosão de
De acordo com MAI (2009), são exemplos de praias a sotamar. Exigem monitoramento e
medidas indiretas: manutenção periódicos.
• Retomada dos aportes sólidos retidos em • Quebra-mar destacado – construído em pa-
barragens, ao sistema costeiro. ralelo à certa distância da linha de costa.
Protege a praia, alterando a capacidade
• Correção do transporte litorâneo por meio de transporte litorâneo, pela interceptação
de modificações definidas, adequadamen- das ondas, total ou parcialmente (quebra-
te, através de um estudo de monitora- mares com interrupções ou submersos).
mento – no projeto de espigões, molhes, Podem originar a formação de tômbolos
quebra-mares, muros novos ou existentes, (acréscimos na faixa de areia). Algumas
entre outros (MAI, 2009, v. 2, p 128) dessas estruturas têm efeitos a sotamar,
comparáveis aos dos espigões. Podem ser
Vale acrescentar os exemplos de medidas isolados ou em grupos. Exigem monitora-
diretas: mento e manutenção periódicos.
Alimentação artificial – utilizada na reposição • Quebra-mar em T – quebra-mar ligado
de material de áreas erodidas. Este método pa- à praia através de espigão. Tem efeito
rece, à primeira vista, economicamente dispen- comparável ao anterior, com maior impacto
dioso, além da necessidade de monitoramento sobre o transporte longitudinal de sedi-
e manutenção. Seu uso, no entanto, pode ser mentos, devido à existência do espigão.
vantajoso, por manter o aspecto de praia natu- Podem ser isolados ou em grupos. Exigem
ral, agradável ao lazer e à contemplação. monitoramento e manutenção periódicos.
32. 32
• Muros longitudinais – podem ser verticais • Enrocamento aderente – tem finalidade e
ou com perfil adaptado (construídos em efeito semelhante ao muro, com a vanta-
concreto, gabiões, entre outros), cons- gem de apresentar menor coeficiente de
truídos próximos à linha de costa, com reflexão, reduzindo o efeito da erosão do
a finalidade de fixá-la. Neste método, a fundo. Exigem monitoramento e manuten-
erosão no perfil de praia se restringe à ção periódicos. (MAI, 2009, v. 2, p. 129).
erosão do fundo imediatamente à frente do
muro, podendo ainda causar problemas de No entanto, toda intervenção de proteção cos-
instabilidade da estrutura, redução da pós- teira, seja estrutural ou não, demanda cons-
praia e, finalmente, acarretar seu completo tante monitoramento e manutenção, de acordo
desaparecimento. São mais agressivos ao com o tipo. O monitoramento permite detectar
perfil praial, devido a um maior poder de as alterações ocorridas durante a vida útil
reflexão. Exigem monitoramento e manu- das intervenções e orienta com relação à boa
tenção periódicos. manutenção. A descrição e avaliação das obras
costeiras no Jaboatão dos Guararapes, no Reci-
fe, em Olinda e em Paulista estão relatadas no
diagnóstico do meio físico, Seção 8.8.
33. 33
Resultados das obras costeiras
na contenção dos processos
erosivos
Dois fatores são condicionantes na análise da Com o plano de reduzir os problemas, foram
eficiência das intervenções em um dado trecho implantadas diferentes tipos de obras nas
de praia. São eles: (i) o tipo de obra adotado e praias dos quatro municípios para proteção de
(ii) a qualidade dos dados hidrossedimentológi- propriedades privadas e infraestrutura públi-
cos existentes. ca. Muitas dessas estruturas se apresentam
ineficientes quanto à proteção pretendida.
As praias em Jaboatão dos Guararapes, do (MAI,2009,v2).
Recife, de Olinda e do Paulista possuem uma
dinâmica diferenciada, que depende dos As obras do tipo enrocamento aderente, pre-
fatores físicos costeiros locais. Até então, esses sente no litoral dos quatro municípios, foram
agentes ambientais e a localização das obras construídas como soluções emergenciais.
favoreceram a erosão costeira, que se agrava Elas têm por objetivo a proteção do terreno (e
com a ocupação inadequada da orla, como não da praia) aos danos produzidos pela ação
ilustra a Figura 3.2-9 (MAI, 2009, v. 2). das ondas, particularmente sob condições das
ondas de tempestade.
Estrutura 004 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes,
ocupando totalmente a faixa de praia
Fonte: MAI (2009, v. 2, p. 134)
34. 34
Essa intervenção é efetiva na proteção do ção da linha de costa. Se essas estruturas fo-
terreno contra a erosão, na proteção da parte rem construídas próximas da praia ou se forem
mais elevada da praia. No entanto, as estru- muito extensas em relação ao comprimento das
turas que não protegem a orla dos efeitos das ondas incidentes, ou ainda muito impermeá-
inundações, nem da erosão dos sedimentos da veis, podem desenvolver uma saliência, que
porção mais baixa do perfil praial, nem contra a passa a funcionar como um espigão, a barrar a
redução da intensidade das tempestades. Essa deriva litorânea e causando efeitos erosivos nas
intervenção pode contribuir para o rebaixamen- praias à jusante. Nessas condições, a deriva
to dos depósitos de areia do perfil praial, com litorânea é forçada a se desenvolver no lado
alteração significativa da paisagem. externo do quebra-mar, desviando a deriva
litorânea do sistema praial (MAI, 2009, v. 2).
Outra técnica presente no litoral em análise
são os espigões. Esse tipo de obra é construída Segundo estudos desenvolvidos pelo MAI
para ampliar na zona a barlamar a largura da (2009), as obras costeiras, ao longo da orla dos
pós-praia ou para reduzir as taxas de deriva municípios de Jaboatão dos Guararapes, do
litorânea. “A implantação dessas estruturas, Recife, de Olinda e do Paulista, somam uma
dependendo do seu número e tamanho, pode extensão de 20.090m de estruturas cons-
causar significativa retenção de sedimentos truídas, das quais 4.390m encontram-se em
e, consequentemente, um déficit no balanço Jaboatão dos Guararapes; 3.440m no Recife;
de areia, com redução no suprimento para as 7.610m em Olinda e 4.650m no Paulista.
praias a jusante.” (MAI, 2009, v. 2, p. 144). Em Jaboatão dos Guararapes, de acordo com
MAI (2009), as estruturas são as seguintes:
Os quebra-mares são usados principalmen-
te para reduzir a intensidade de energia das • 3.260m de enrocamentos e muros (74%);
ondas durante os ventos de tempestade. Esse • 30m de espigões e molhes (12%);
tipo de estrutura possibilita o desenvolvimento • 600m de quebra-mar (14%).
de uma ampla e estável praia na sua área de
sombra. Os efeitos adversos estão relaciona- Com esta distribuição de estruturas, pode-se
dos com a redução da deriva litorânea para as concluir que nas praias de Jaboatão predomi-
praias que se encontram à jusante do quebra- nam obras de proteção do terreno, do tipo en-
mar. rocamentos aderentes e muros. O objetivo é a
proteção do terreno, com a fixação da “linha de
Outro efeito hidrodinâmico do quebra-mar é o costa”, em detrimento da faixa de praia, com o
desenvolvimento de tômbolos de areia, peque- consequente impacto à paisagem e à vocação
nas barras de areia que resultam na deforma- turística local.
35. 35
No Recife, a principal estrutura costeira é um Nas praias do Paulista, os enrocamentos,
enrocamento com 2.100m de comprimento espigões e quebra-mares protegem os terrenos.
na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na Contudo, os quebra-mares, embora construídos
praia de Brasília Teimosa conforme estudo do com altura elevada, causam proteção parcial da
MAI (2009). A obra protege o terreno e não a linha de costa. Esse tipo de intervenção, aliado
praia. ao engordamento da praia, com sedimentos de
composição e tamanhos inadequados, pode es-
Na praias de Olinda, predominam obras de tar relacionado com os focos de erosão instala-
proteção do terreno na forma de enrocamen- dos em alguns trechos. As estruturas presentes
tos, espigões e quebra-mares que causam boa na orla de Paulista têm a seguinte distribuição:
proteção da linha de costa. Entretanto, essas
estruturas causam significativa modificação nas • 1.850m de enrocamentos e muros (40%);
taxas de deriva litorânea, com efeitos negativos • 80m de espigões e molhes (6%);
à jusante, aliados ao impacto na vocação turís- • 2.520m de quebra-mares (54%).
tica. As estruturas têm a seguinte distribuição:
• 1.700m de enrocamentos e muros (22%);
• 250m de espigões e molhes (3%);
• 5.660m de quebra-mares (75%).
36. 36
Histórico da evolução da linha
de praia: processo natural x
interferência antrópica
Os registros comprovam que a alteração da po- O estudo histórico evolutivo da linha de praia
sição da linha de praia no litoral pernambucano dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
é antigo, em especial na costa de Olinda, que, do Recife, de Olinda e do Paulista foi feito pelo
entre 1915 e 1950, experimentou um signifi- MAI (2009). Esse estudo mediu por meio de
cativo recuo de aproximadamente 80 metros, o coordenadas, de precisão geodésica, de pontos
que resultou em um intenso processo erosivo, a linha de praia dos municípios. A linha de cos-
que se instalou, principalmente nas praias dos ta é uma feição extremamente dinâmica (BIRD,
Milagres, do Carmo e de São Francisco. 1996) e, para sua medição, é necessário iden-
tificar no ambiente praial as feições que melhor
A zona costeira pernambucana apresenta altu- a representem. A linha de costa, neste estudo,
ras médias de maré de sizígia de 2,07 metros, foi definida como a feição no plano horizontal,
de acordo com a Diretoria de Hidrografia e Na- limite entre a área seca do continente, ou de
vegação (DHN). A zona de espraiamento (zona uma ilha, e a parte onde há efetiva ação das
situada entre o limite superior da preamar e o águas. Considera-se que o local está fora do
limite inferior da baixa-mar) pode atingir até 60 alcance das águas, incluindo as maiores marés
metros de largura na praia. de sizígia (MENDONÇA, 2005).
Mapa ilustrando a posição da Linha de Costa em 1915 e 1950 (praia
dos Milagres – Olinda/PE)
Fonte: BRASIL (1985)
37. 37
No estudo do MAI (2009), foram utilizados dois se, principalmente, de trechos com obras
receptores GPS, sempre utilizados no modo do tipo enrocamentos, espigões e muros.
relativo, com um permanecendo fixo em um • (2) Paulista tem 14.468,36m de litoral,
ponto enquanto o outro era conduzido no modo sendo que em 9.626,93m (66,5%) é
cinemático sobre a feição que identificava a formado por praias com sedimento, e em
linha de costa. Os dados coletados pelos recep- 4.841,43m (33,5%) sem praias com sedi-
tores durante os deslocamentos e os obtidos na mentos, constituindo-se, principalmente,
estação base foram pós-processados no softwa- em trechos com obras do tipo enrocamen-
re GPSurvey 2.35 Dual Frequency Kinematic tos, espigões e muros.
Processor, desenvolvido pela Trimble. As coor- • (3) Olinda possui 12.261,14m de litoral,
denadas são referenciadas ao Sistema Geodé- sendo que em 4.222,33m (34,4%) é
sico Brasileiro (SGB), por meio de uma estação formado por praias com sedimento e em
da rede nacional (estação da RBMC – Rede de 8.038,81m (65,6%) sem praias com sedi-
Monitoramento Contínuo do IBGE) no campus mentos, constituindo-se, principalmente,
da Universidade Federal de Pernambuco. O de trechos com obras do tipo enrocamen-
estudo concluiu que o litoral dos municípios do tos, espigões e muros.
Paulista, de Olinda, do Recife e de Jaboatão • (4) Recife tem 13.444,38m de litoral,
dos Guararapes totaliza 48.135,07m de linha sendo que em 5.999.25m (44,6%) é
de costa; desses, são formados por praias com formado de praias com sedimento, e em
sedimentos 24.539,45m (51%) e 23.595,63m 7.445,13m (55,4%) sem praias com se-
(49%) não têm praias com sedimentos. Nesse dimentos, constituindo-se de dois trechos:
segundo segmento, o litoral é marcado pela um com recifes e outro com enrocamentos.
presença de recifes e obras costeiras, tais como
enrocamentos, espigões e muros (MAI, 2009). O estudo CPEB (2011, v. 2) permitiu o cálculo
evolutivo da linha de praia dos municípios de
Os resultados do estudo do MAI (2009, v. 1, p. Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
58-59) apresentam uma distribuição da linha e do Paulista; para tal, utilizando fotografias
de costa ao longo dos litorais dos municípios aéreas e dois conjuntos de imagens extraídos
de: do Google Earth®. O voo aerofotogramétrico
realizou-se em 1974 e as imagens do Google
• (1) Jaboatão dos Guararapes possui Earth® são de 2007 e 2010. A escolha do local
7.961,20m de litoral, sendo que em de linha de costa baseou-se num indicador que
4.690,94m (58,9%) é formado por praias não sofresse muita influência da variação de
com sedimento, e em 3.270,26m (41,1%) um ciclo de maré. De acordo com o estudo do
sem praias com sedimentos, constituindo- CPEB (2011, v. 2), decidiu-se extrair a linha de
38. 38
costa por meio da posição da berma da praia, e entre 2007 e 2010, calculadas pelo método
que se mostrou aparente em todas as fotogra- EPR (End Point Rate), e a incerteza associada
fias aéreas e imagens. O objetivo dessa análise a cada variação; (iv) a taxa de deslocamento da
foi identificar áreas historicamente vulneráveis linha de costa em metros por ano entre 1974
à erosão e, de posse dessa informação, ter e 2007, e entre 1974 e 2010, calculadas pelo
embasamento para a escolha de alternativas de método EPR e a incerteza associada. Esses
intervenção que serão sugeridas pela CPE. resultados encontram-se detalhados no diag-
nóstico do meio físico (CPEB, 2011, v. 2).
Conforme o diagnóstico do CPEB (2011, v. 2),
a costa dos quatro municípios tem aproxima- A análise do diagnóstico (CPEB, 2011) foi feito
damente 50km de extensão; analisada com o a partir de uma série temporal de trinta e seis
enfoque de determinar taxas de variação de anos e composta de três linhas de costa em
linha de costa (LC) para cada município, feita diferentes momentos. Nesse contexto, percebe-
por meio de transectos perpendiculares à linha se que a evolução recente da linha de costa
de costa, com espaçamento de 50 metros. Um dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
total de 923 transectos na análise, 185 para o do Recife, de Olinda e do Paulista está firme-
município de Jaboatão dos Guararapes, 241 mente atrelada à instalação das estruturas cos-
para o município do Recife, 206 no município teiras. Nota-se que as variações mais acentua-
de Olinda e 291 para o município do Paulista. das coincidem, na maior parte, com a presença
Cada taxa de variação gerada por um transecto de estruturas rígidas naturais, como os arre-
é a média entre o próprio transecto analisado e cifes, ou introduzidas pelo homem, como os
os dois adjacentes. Isso suaviza as discrepân- quebra-mares e espigões e guias correntes.
cias entre os resultados.
A partir do resultado obtido pelo estudo CPEB
Para apresentação dos resultados da análise, (2011) pode-se afirmar que a linha de praia no
foram feitas imagens em que os segmentos de litoral dos municípios de Jaboatão dos Guarara-
costa se dividiram para cada município. Além pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, apre-
da localização da área de estudo, em cada senta uma acentuada interferência antrópica,
figura, apresentam-se gráficos contendo: (i) resultando numa linha de praia atual experi-
o deslocamento linear total da linha de costa mentando erosão em diversos trechos e perdas
para 2007 e 2010, tendo por base a linha de patrimoniais elevadas (CPEB, 2011, v. 2).
1974; (ii) o deslocamento linear total da linha
de costa de 2010, tendo por base a linha de
2007; (iii) a taxa de deslocamento da linha de
costa em metros por ano entre 1974 e 2007,
39. 39
Ocupação do solo e erosão
costeira
O litoral pernambucano tem 187 quilômetros Atualmente não existem estudos que possam
de extensão, 21 municípios e é o mais impor- comprovar a contribuição relativa de cada
tante aglomerado populacional do Estado, com um desses fatores, no entanto, sabe-se que a
44% de sua população (ARAÚJO et al., 2004). ocupação do ambiente da praia por edificações
Essa zona costeira apresenta uma densidade ou outras estruturas modifica a manutenção
populacional maior do que 900 hab/km2, sig- do equilíbrio sedimentar natural (MAI,2009).
nificando uma das maiores concentrações do Nessas franjas costeiras, observa-se, com fre-
Brasil, que tende a aumentar considerando os quência, a presença de muitas obras (prédios,
novos empreendimentos que estão instalando- muros de contenção, estradas e estruturas de
se na região nos últimos anos (MAPLAC, 2010). engenharia costeira) que foram construídas
sobre o pós-praia, setor da praia essencial para
Diferentes pesquisas (CARNEIRO,2003; GRE- o suprimento de sedimentos, comprometendo
GÓRIO, 2009; MAI, 2009) feitas ao longo da assim vários trechos de praia que estão sob um
zona costeira pernambucana e, em especial, forte processo de erosão (SOUZA, 2006).
na região metropolitana do Recife, comprovam
que estão ocorrendo intensos processos erosi- Nos trechos críticos da zona costeira da região
vos, com muitos trechos da costa em desequilí- metropolitana do Recife, que experimentam o
brio, apresentando erosão marinha progressiva processo de erosão, o manejo desse problema
(CPRH, 1998 apud SOUZA, 2006). A combina- tem sido realizado por meio da colocação de
ção de diversos fatores tem resultado nos pro- muros aderentes, enrocamentos, espigões e
cessos erosivos constados atualmente: o aporte quebra-mares sem o devido suporte de in-
sedimentar para as praias é deficiente pela formações (MAI, 2010). Ao longo do tempo,
ausência de grandes rios; a plataforma conti- observa-se que essas intervenções frequente-
nental é estreita e dificulta o armazenamento mente resultam em insucessos ou mesmo na
de sedimentos para remobilização; as linhas de intensificação do processo erosivo, localmente
arrecifes submersos na plataforma dificultam ou em áreas adjacentes, implicando investi-
a remobilização de sedimentos; a ocupação mento de somas elevadas para a manutenção
desordenada do ambiente praial imobiliza as e, também, em prejuízo estético (SOUZA,
dunas e dificulta a reconstrução das praias no 2006; MAPLAC, 2010).
período de verão.
40. 40
Os primeiros relatos à erosão costeira nos problemas de erosão em vários trechos do
municípios litorâneos pernambucanos são de litoral e mais notadamente nas áreas urba-
1914 e mencionam os danos causados pela nas (MAI, 2009). A próxima figura apresenta
intervenção no molhe localizado no istmo de fotografias de diversas épocas das praias dos
Olinda, parte das obras de ampliação do Porto municípios de Jaboatão dos Guararapes, do
do Recife. A partir de então, constataram-se Recife, de Olinda e do Paulista.
Ocupação do solo e erosão costeira
Nota: As fotografias A, B e C mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos da orla de Jaboatão
dos Guararapes, assim como as obras de contenção do avanço do mar, tipo enrocamento; as fotografias D,
E e F mostram a ocupação atual do solo e processos erosivos do litoral do Recife, assim como as obras de
contenção do avanço do mar, tipo enrocamento na praia de Boa Viagem; a fotografia da ocupação do litoral
de Olinda (no alto, à direita) retrata uma praia ocupada por obras de contenção costeira do tipo espigão,
enrocamento e quebra-mares. A fotografia aérea da ocupação do litoral do Paulista retrata uma praia
ocupada por obras de contenção costeira do tipo quebra-mares.
Projeto MAI (2009) estudou a variação da ocu- de 2008 (Agência Condepe/Fidem). A área cos-
pação do solo por trinta e quatro anos no litoral teira selecionada, considerada para monitorar
dos quatro municípios da Região Metropolitana a ocupação do solo, foi uma faixa demarcada
do Recife com o objetivo de comprovar que por quadras e vias, afastada da linha de costa
o aumento da ocupação do solo tem relação entre 200 e 300 metros. Conforme o estudo
direta com a erosão. Essa pesquisa foi realizada do Projeto MAI (2009), foram consideradas na
com a análise de fotografias aéreas de 1974 análise as seguintes faixas de densidade para a
(Agência Condepe/Fidem) e imagens Quickbird área ocupada:
41. 41
• Baixa densidade – menor que 30% de Para ilustrar a metodologia utilizada, selecio-
ocupação; nou-se um recorte costeiro no município de
• Média densidade – entre 30% e 70% de Jaboatão dos Guararapes, com praia arenosa
ocupação; em 1974, e atualmente, com problemas de
• Alta densidade – maior que 70% de ocu- erosão. Para tanto, a classificação realizada
pação. para ocupação do solo foi disposta sob uma
mesma base cartográfica, para 1974 e 2008 e
os resultados encontrados são apresentados na
tabela abaixo.
Distâncias e percentuais da ocupação do litoral dos municípios de
Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
MUNICÍPIO 1974 2008 CLASSIFICAÇÃO
Jaboatão dos Guararapes 414.411,92 m² 25,2% 1.086.408,01 m² 66,1% Alta densidade
464.950,26 m² 28,3% 439.471,14 m² 26,7% Média densidade
764.863,87 m² 46,5% 118.346,9 m² 7,2% Baixa densidade
Recife 1.525.669,83 m2 72,6% 1.896.909,94 m2 90,3% Alta densidade
358.328,85 m2 17,1% 95.549,73 m2 4,5% Média densidade
216.650,35 m2 10,3% 108.189,68 m2 5,2% Baixa densidade
Olinda 887.321,60 m2 50,9% 1.135.018,63 m2 65,1% Alta densidade
451.465,43 m2 25,9% 467.874,07 m2 26,8% Média densidade
405.829,62 m2 23,2% 141.723,95 m2 8,1% Baixa densidade
Paulista 273.203,12 m2 6,7% 1.637.269,64 m2 40,4% Alta densidade
555.163,67 m2 13,7% 1.202.753,91 m2 29,7% Média densidade
3.220.752,67 m2 79,6% 1.209.095,92 m2 29,9% Baixa densidade
Fonte: MAI (2009)
42. 3
42
Qual a área de influência
do empreendimento?
A área de influência do empreendimento corresponde aos espaços geográ-
ficos passíveis de alterações em termos de dinâmica ambiental a partir da
projeção de cenários relacionados à implantação e operação do mesmo,
tratando-se aqui da Recuperação da Orla Marítima – Jaboatão, Recife, Olinda
e Paulista – Pernambuco. Conforme legislação ambiental vigente e exigências
do Termo de Referência 14/2011 emitido pela CPRH (Agência Estadual de
Meio Ambiente de Pernambuco) em 14 de setembro de 2011, serão aborda-
dos e justificados de forma distinta, os meios físico, biótico e socioeconômico.
As áreas de influência do empreendimento serão estabelecidas segundo os
seguintes níveis hierárquicos (CPRH, 2011, p. 9):
• Área de Influência Indireta (AII): aquela onde os impactos provenien-
tes da implantação e operação do empreendimento se fazem sentir
de maneira indireta e com menor intensidade em relação à área de
influência direta.
• Área de Influência Direta (AID): aquela sujeita aos impactos diretos
provenientes da implantação e operação do empreendimento, incluí-
do faixa marítima a ser utilizada para transporte de matéria prima.
• Área Diretamente Afetada (ADA): aquela onde ocorrem as interven-
ções relacionadas ao empreendimento, incluindo áreas de apoio
como canteiros de obra, acessos, áreas de jazida, etc.
O diagrama na próxima página mostra uma representação hierárquica das
áreas de influência do empreendimento:
43. 43
Níveis Hierárquicos das Áreas de Influência do Empreendimento
Fonte: ITEP – UGP Barragens 2011
É importante lembrar que os meios físico, biótico entre outros aspectos. Vale frisar o estreitamen-
e socieconômico compõem o universo de estudos to da faixa de areia, o fim do ambiente praial e
integrados do meio ambiente, previstos na elabo- pós-praial em muitos pontos ao longo da costa
ração do EIA/RIMA. Para efeitos de elaboração metropolitana ocorre por fatores relacionados à
do diagnóstico e prognóstico ambiental, impactos evolução histórica das formas de uso dessa faixa
e planos de controle ambiental, os três meios de orla, associada a outros fatores, como a dimi-
citados devem ser entendidos de forma interrela- nuição da quantidade de sedimentos carreados
cionada e interdisciplinar. pelos rios, como a dinâmica de correntes maríti-
É necessário ressaltar o caráter de localização do mas e padrões de ventos e ondas. Nesse sentido
empreendimento. O projeto de Recuperação da estabeleceu-se a seguinte delimitação para efeitos
Orla Marítima dos municípios de Jaboatão dos de estudo:
Guararapes, do Recife, de Olinda e do Paulista
concentra-se na faixa de orla destes municí- MEIO FÍSICO
pios, a qual se insere no contexto de uma região
metropolitana brasileira com elevados níveis de A Área de Influência Indireta (AII) corresponde
impermeabilização do solo, grande concentração aos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de
populacional, valorização do metro quadrado, Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,
forte especulação imobiliária, limitações de áreas do Paulista, de Abreu e Lima, Igarassu e Itama-
verdes, áreas estuarinas ocupadas e poluídas, racá. Ao se considerar esse nível hierárquico é
44. 44
importante ter como foco a área de jazida de MEIO BIÓTICO
areia (no litoral do Cabo de Santo Agostinho), as
áreas que irão sofrer intervenção por meio da A delimitação da Área de Influência Indireta
obra (municípios de Jaboatão dos Guararapes, (AII) segue os mesmos procedimentos utilizados
do Recife, de Olinda e do Paulista) e uma impor- para o meio físico. Supõe-se que a delimitação
tante zona estuarina nos municípios de Igarassu dos municípios do Cabo de Santo Agostinho, de
e Itamaracá. A AII engloba os seguintes relevos: i) Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda,
semi-plano: predominam as áreas baixas e englo- do Paulista, de Abreu e Lima, de Igarassu e de
ba a área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros Itamaracá abrange uma área significativa em ter-
e os terraços; ii) ondulado: formado por morros e mos de diversidade de espécies da flora e fauna,
colinas, com declividades acentuadas. A inserção além de contemplar possíveis rotas de migração
de Itamaracá nessa regionalização reflete uma de espécies com a implementação do empreen-
preocupação relacionada à Ilhota da Coroa do dimento. Assim, tem-se a importância do Cabo
Avião, uma vez que representa uma formação de Santo Agostinho quanto à posição da jazida e
emersa de origem recente (menos de 50 anos). prováveis impactos nas espécies subaquáticas,
Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista
A Área de Influência Direta (AID) se estende da com relação à zona de intervenção física e impac-
linha de costa até a isóbata (linhas de profundi- tos em espécies terrestres e subaquáticas e, em
dade) de 20m. Essa área foi projetada para todo Itamaracá, no que diz respeito à Coroa do Avião
o litoral dos quatro municípios, já que apresenta e sua necessidade por recomendações, a fim de
os processos erosivos que serão focos de análise viabilizar a manutenção de espécies vivas desse
dos estudos e concentra as principais dinâmicas ambiente recentemente formado.
marinhas relacionadas ao transporte de sedimen-
tos e incidência de ondas na costa. A Área de Influência Direta (AID) corresponde à
área inserida entre a linha de costa e limite médio
A Área Diretamente Afetada (ADA) segue os mes- de 3km no sentido leste em relação à costa
mos critérios de delimitação adotados na AID (se (plataforma marinha). Considera em sua delimi-
estende da linha de costa até a isóbata de 20m), tação à diversidade verificada nos beach rocks e
porém restringe-se apenas aos quatro municípios áreas de prováveis concentração e deslocamento
que irão receber o empreendimento: Jaboatão de tubarões (aproximadamente a 2km da linha
dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista. de costa). A Área Diretamente Afetada (ADA)
respeita como limite a área inserida entre a linha
de costa e os beach rocks e enroncamentos.
45. 45
MEIO SOCIOECONÔMICO A Área Diretamente Afetada (ADA) obedece à fai-
xa de orla marítima enquanto unidade geográfica
A Área de Inlfuência Indireta (AII) é representada inclusa na zona costeira. Sua delimitação segue
pela totalidade dos espaços territoriais represen- as recomendações do Ministério do Meio Am-
tados pelos municípios de Jaboatão dos Guarara- biente (2006, p.28), o qual estabelece um limite
pes, do Recife, de Olinda e do Paulista, uma vez para a área terrestre de 50m em áreas urbaniza-
que o empreendimento proposto contempla uma das e de 200m em áreas não urbanizadas. Dado
área pública urbanizada. os elevados níveis de densidade de ocupação do
solo deste empreendimento, resolveu-se fazer
A Área de Influência Direta (AID) corresponde uma ampliação na faixa de área terrestre em
aos setores censitários que contém os trechos de áreas urbanizadas, passando de 50m para 100m
orla destes municípios. Essa escolha se deve ao e mantendo os mesmos 200m para áreas não ur-
fato dessa ser a menor unidade de medida onde banizadas. A área é correspondente às praias que
é possível obter informações com dados secun- sofrerão a intervenção e aos prédios em frente a
dários. essas. Para os estudos de patrimônio cultural, a
ADA também considerou regiões subaquáticas, a
exemplo dos pontos de naufrágio na costa destes
municípios.
46. 4
46
Como é o meio
físico na área do
empreendimento?
Geologia e Geomorfologia
Geologicamente, a área de estudo do projeto de Proteção Costeira, que
engloba os Municípios de Jaboatão dos Guararapes, do Recife, de Olinda
e do Paulista, está inserida nos domínios das bacias de Pernambuco e
Paraíba.
Mapa de localização das bacias de Pernambuco e
Paraíba com ênfase nos seus limites estruturais
Fonte: Barbosa & Lima Filho (2006).
47. 47
Essas bacias possuem características estrutu- do Gelo, ocorreram diversas glaciações, que
rais, geocronológicas e estratigráficas diferen- representaram eventos de variações climáticas
tes, as quais refletem o processo de formação extremas e que repercutiram sobre todos os
diferenciado. As bacias de Pernambuco e Pa- ambientes terrestres.
raíba se relacionam geneticamente ao processo
de rifteamento que afetou o paleocontinente A sedimentação de ambientes costeiros está di-
de Gondwana durante o Cretáceo Inferior. A retamente relacionada às variações do nível do
bacia de Pernambuco seria controlada por mar, ao espaço de acomodação e ao suprimen-
um sistema de falhas normais, com direção to sedimentar. O nível do mar sofre variações ao
principalmente NE, e falhas de transferência, longo do tempo geológico, de ordem global, de-
predominantemente, de direção NW, sendo vido à eustasia que é consequência da variação
que ambas definem um eixo principal de dis- de volume de água dos oceanos, decorrente de
tensão (s3) de orientação NW. A bacia Paraíba glaciações e deglaciações, e variações na capa-
sofreu eventos tectônicos diferenciados dos cidade reservatória dos oceanos, causadas pela
fenômenos ocorridos nas bacias adjacentes ao dinâmica das placas tectônicas. Localmente ou
norte e ao sul (Barbosa, 2004 apud Asmus & regionalmente, o nível do mar se modifica devi-
Carvalho, 1978). A preservação de uma ligação do à isostasia. A costa brasileira foi submetida,
(landbridge) entre a África e a América do Sul, durante o Quaternário, a diversas oscilações do
durante o Cretáceo Superior (Barbosa, 2004 nível do mar que ficaram registradas em teste-
apud Rand, 1985; Rand & Mabesoone, 1982) munhos fósseis. Grande parte desses registros
possivelmente é responsável pela diferenciação fósseis foi submetida a estudos, utilizando
entre a bacia Paraíba e as bacias de Alagoas, métodos de datação isotópicos, paleontológi-
Pernambuco e Potiguar. Conforme Barbosa & cos, arqueológicos para definição da idade de
Lima Filho (2006), a bacia Paraíba comparti- formação do registro.
menta-se em sub-bacias que se baseiam nas
principais feições tectônicas da área. Geomorfologicamente, a área de estudo
apresenta-se inserida em um único domínio
A sub-bacia Olinda é limitada pelo Lineamento morfoestrutural denominado de Domínio Rifte.
Pernambuco e pela falha de Goiana; a sub- Ela se apresenta, de modo geral, em dois
bacia Alhandra/Miriri é limitada pela falha de conjuntos distintos de relevo: o relevo semi-
Goiana e o Lineamento Paraíba. O período plano e o relevo ondulado. O relevo semi-plano
geológico conhecido como Quaternário com- encontra-se na porção Leste, com maior
preende as Séries do Pleistoceno e Holoceno, presença no município do Recife, englobando a
esses inseridos na Era Cenozóica. Nesse espa- área de planície flúvio-costeira, os tabuleiros e
ço temporal, também conhecido como a Era os terraços. É onde predomina as áreas baixas
48. 48
e ocupa a maior parte da área de estudo. O de extrema importância em análises meteo-
relevo ondulado ocupa uma pequena porção rológicas e climatológicas em zonas costeiras.
da área e é formado por morros e colinas, com Verifica-se que o semestre mais chuvoso
declividades acentuadas. corresponde aos meses de março a agosto, e o
mais seco ao período de setembro a janeiro. Os
Condições meses mais chuvosos correspondem a maio,
junho e julho com precipitação de 295mm,
meteorológicas 362mm e 301mm, respectivamente. Outubro e
hidrodinâmicas novembro são os meses mais secos com preci-
pitação inferior a 40mm.
As condições meteorológicas e o clima são
influenciados por características geográficas
como oceano, latitude, relevo, solo e por siste-
mas de circulação atmosféricos dinâmicos. A
orla marítima dos quatro municípios analisados
está situada em posição geográfica favorável à
atuação simultânea dessas influências, prin-
cipalmente das variáveis atmosféricas como
vento e pressão atmosférica, que provocam
alterações no nível do mar costeiro, afetando de
forma considerável as cidades localizadas na
linha de costa.
A precipitação se apresenta como uma variável
49. 49
Climatologia da precipitação média mensal em Olinda, Recife e
Jaboatão dos Guararapes.
Com relação a vento, na faixa litorânea de Per-
nambuco verificou-se que os maiores valores
Praias
em intensidade foram observados no setor
As praias são depósitos de sedimentos, co-
leste, fator esse que está associado à atuação
mumente arenosos, acumulados pela ação
dos ventos alísios de sudeste, devido o deslo-
das ondas, ventos e marés (MUEHE, 2009).
camento da Alta Subtropical do Atlântico Sul.
Representam um elemento natural de prote-
Os meses de novembro, dezembro e janeiro
ção ao litoral. O perfil transversal de uma praia
apresentam direção predominante de leste
varia com o ganho ou perda de sedimentos, de
com intensidade de 3 a 5m/s em novembro e
acordo com o nível de energia das ondas e com
dezembro, e 2 a 3m/s em janeiro. Em fevereiro
a alternância de tempo bom (acumulação) no
e março, há um aumento na magnitude do
prisma subaéreo ou de tempestade (erosão),
vento com valores em torno de 3 a 4m/s e uma
com a retirada de sedimentos do perfil subaé-
pequena mudança na direção do vento que
reo para o perfil submerso, ocorrendo à erosão.
passa de Leste para Sudeste. Nos meses de
abril, maio, junho, julho, agosto, setembro e ou-
O ambiente praial, segundo Reading e Collin-
tubro, a direção é de sudeste com intensidade
son (1996), consiste em dunas frontais,
de 5 a 6m/s, com exceção dos meses de abril e
pós-praia, praia e antepraia. As dunas frontais
outubro com velocidade entre 4 a 6m/s.
50. 50
limitam-se com a pós-praia na parte inferior da ta. Foi utilizada a nomenclatura morfológica e
escarpa. A pós-praia situa-se acima da linha da hidrodinâmica sugerida por Hoefel (1998) para
preamar, sendo atingida pela ação das ondas a definição da divisão do perfil praial.
em ocasião de tempestades. Praia ou estirâncio
está situada entre o limite superior da preamar O monitoramento realizou 460 nivelamentos
e o limite inferior da baixamar. A antepraia topográficos, distribuídos em 28 perfis localiza-
compreende a parte submersa do perfil e se dos em Jaboatão dos Guararapes, nas praias
delimita com a praia no nível da maré baixa, de Barra de Jangadas (01), Candeias (02) e
estendendo-se em direção offshore, até onde Piedade (02); no Recife, nas praias da Boa Via-
não há remobilização dos sedimentos. Os gem (04) e do Pina (01); em Olinda, nas praias
fatores que influenciam na construção e na dos Milagres (01), do Carmo (03), do Bairro
variação de um perfil praial são condições de Novo (03), de Casa Caiada (02) e do Rio Doce
energia das ondas, o tipo de arrebentação, o (02); no Paulista, nas praias do Janga (03),
sedimento e o seu transporte, que interagem de Pau Amarelo (01), de Nossa Senhora do
com as condições hidrodinâmica locais. Ó (01), de Conceição (01) e de Maria Farinha
(01).
Mudanças no ambiente praial podem ser
medidas por vários métodos, um deles é o De acordo com o projeto MAI, os resultados ob-
método topográfico convencional, tal como o tidos durante o monitoramento correspondem:
teodolito (BIRD, 1996). Esses métodos podem
avaliar e monitorar o avanço ou a recessão da • Jaboatão dos Guararapes apresentou um
linha de costa ao longo do tempo (LARSON e balanço sedimentar positivo para os perfil
KRAUS, 1994; CLARK e ELIOT, 1988; LACEY e 1 (42,4m3/m), perfil 4 (28,5m3/m) e um
PECK, 1998; SWALES, 2002; ANFUSO e DEL balanço negativo para o perfil 2 no valor
RIO, 2003). O nivelamento topográfico tem por de 16,5m3/m, para o perfil 4 na ordem
finalidade verificar a variabilidade vertical do de 22m3/m. O município do Jaboatão dos
perfil praial, se há uma tendência erosiva ou Guararapes apresentou em sua região cen-
deposicional no ambiente. tral um déficit de sedimentos, porém os
perfis 2 e 3 apresentaram o menor volume
O projeto Monitoramento Ambiental Integra- de sedimentos;
do (MAI) foi realizado no ambiente praial da • No Recife, os perfis apresentaram um
Região Metropolitana do Recife (RMR), nos balanço sedimentar positivo, considerando
anos de 2006 e 2007. O nivelamento dos perfis a diferença no volume sedimentar entre
foi determinado a partir de uma Referência de o primeiro mês monitorado e o ultimo
Nível (RN) perpendicularmente à linha de cos- mês. São observados os seguintes valo-
51. 51
res PR1 (7,4m3/m); PR2 (13,7m3/m); A análise sedimentar fornece subsídios para
PR3 (9,6m3/m); PR4 (12,1m3/m); PR5 a correlação entre as características texturais
(+17,8m3/m). Entretanto, Gregório e Arau- dos sedimentos e dos vários ambientes, que
jo (2008) realizaram um monitoramento compõe a dinâmica deposicional, e estabele-
por um período mais longo nas praias de cer parâmetros utilizáveis na identificação e
Boa Viagem e do Pina, entre os anos de característica do ambiente (SUGUIO, 1973).
2001 a 2005, e constataram uma maior Segundo a classificação de WENTWORTH
variação no volume de sedimentos nos (1922 apud MUEHE, 1996) são classificados
extremos das praias, inclusive na praia do em: cascalho (-1 Φ), areia muito grossa (-1 a 0
Pina, e no perfil ao norte da obra de con- Φ), areia grossa (0 a 1 Φ), areia média (1 a 2 Φ),
tenção (enrocamento); areia fina (2 a 3 Φ), areia muito fina (3 a 4 Φ).
• Em Olinda, apresentaram um balanço sedi- O tamanho do grão depende da natureza do
mentar positivo os perfis PO1 (7,46m3/m), material envolvido, do tempo e da distância do
PO2b (13,10m3/m), PO2c (6,85m3/m transporte.
), PO5 (17,59m3/m), PO6 (3,10m3/m ),
PO7 (3,00m3/m), PO8 (4,10m3/m ); e A metodologia utilizada pelo MAI foi a classi-
um balanço sedimentar negativo (Figura ficação proposta por FOLK e WARD (1957).
8.6-2) para os perfis PO2a (0,69m3/m), Os dados foram processados no software
PO3 (19,98m3/m), PO4 (9,49m3/m ) e SYSGRAM, sendo utilizado o tamanho médio
PO9 (2,00m3/m). Os perfis localizados do grão. Para os perfis de Jaboatão dos Gua-
na praia do Carmo se encontram em uma rarapes predominou areia fina nos perfis PJ1
saliência, que corresponde aos vestígios e PJ2 e PJ5, na parte extremas do segmento
da ponte utilizada para a construção do Jaboatão; e em sua parte central PJ3 e PJ4
quebra-mar, aumentando o volume sedi- foi observado areia média. No Recife, há uma
mentar da parte superior do perfil; predominância de areia fina em todo o arco
• No Paulista, os resultados apresentaram praial. Em Olinda, verificou-se a presença de
um balanço sedimentar positivo nos perfis areia grossa em todos os perfis; porém o perfil
PA1 (28,46m3/m), PA2 (0,28m3/m), PA3 PJ3 apresentou uma maior variação de areia
(13,26m3/m), PA4 (27,06m3/m), PA5 média a grossa. Em relação ao município do
(12,57m3/m), PA7 (11,07m3/m); e um Paulista, há predominância de areia média,
balanço sedimentar negativo para o perfil sendo observado também uma variação de
PA6 (48,33m3/m). areia fina a média, principalmente nos perfis
nos perfis PA4 e PA5, correspondendo à parte
central segmento.
52. 52
Variação volumétrica dos perfis topográficos do município de Olinda
Fonte: MAI (2009).
53. 53
Plataforma arenosos, marcas de ondas e os tipos de se-
dimentos (areia, cascalho ou lama). Os dados
Interna batimétricos descritos possibilitaram uma análi-
se de reconhecimento preliminar da morfologia
A plataforma continental de Pernambuco é da plataforma interna da região estudada. Os
caracterizada por uma largura média de 34km, dados compilados de outros projetos foram
variando aproximadamente de 30km no trecho interpolados e com isso foi gerado um modelo
sul a 40km no extremo norte. Possui um relevo digital de terreno para a referida área (ver figura
suave, com a quebra da plataforma na faixa de a seguir).
60metros de profundidade (Araújo et al. 2004).
A morfologia de fundo na área estudada
O levantamento batimétrico detalhado permitiu influencia de forma significativa os processos
a visualização das variações da profundidade, hidrodinâmicos que ocorrem na região, tais
bem como a morfologia da plataforma con- como a dinâmica das correntes, a incidência
tinental interna na área pesquisada. Sendo das ondas e o transporte sedimentar. Portanto,
assim, foi possível identificar as principais fei- são informações imprescindíveis para a com-
ções, tais como os arenitos de praia, os bancos preensão dos problemas de erosão costeira que
arenosos, os paleocanais e os leitos planos e atinge a Região Metropolitana do Recife.
com declives pouco acentuados.
Ao analisar o comportamento dos sedimentos
De forma geral, foi possível observar que a do ambiente praial e da plataforma continental
plataforma interna dos municípios de Olinda interna do Recife, Gregório (2009) observou
e, particularmente, do Paulista apresentam uma forte influência da presença da linha de
gradientes suaves em direção offshore, com arenito de praia, na distribuição e transporte
profundidade máxima em torno de 19m. Na dos sedimentos. Os sedimentos encontrados no
plataforma interna dos municípios do Recife ambiente praial são constituídos, em sua maio-
e de Jaboatão dos Guararapes, os valores de ria, por areia fina a muito fina. Entre o ambiente
profundidade variam abruptamente e a mor- praial e a primeira linha de arenitos de praia
fologia é mais acidentada, com presença de submersos, que corresponde à área do canal, a
paleocanais e diversas linhas de arenitos de predominância é de areia muito fina. Depois da
praia. A área da plataforma interna mostra linha de arenito de praia, há uma variação de
várias estruturas e feições na superfície do areia grossa a cascalho, com presença predo-
fundo marinho, representada por três linhas de minante de areia grossa, e com maior teor de
arenitos de praia, além de paleocanais, bancos carbonato de cálcio.
54. 54
A característica marcante desse fundo marinho No município de Jaboatão dos Guararapes,
é a primeira linha de arenito de praia submerso implantaram-se estruturas do tipo guia corren-
que serve como um divisor entre os sedimen- te, espigões, enrocamentos aderentes e muros,
tos. desde a margem esquerda do rio Jaboatão até
as praias de Piedade e Candeias (MAI, 2009).
Presença de O resultado é um litoral que contempla em
cerca de 20% de sua faixa com algum tipo de
obras costeiras obra costeira de proteção, em que se destacam
estruturas rígidas perpendiculares à praia – de-
Nas últimas décadas, diversas obras de con- nominada de espigões; assim como na praia de
tenção da linha de costa vêm sendo implan- Candeias encontra-se o enrocamento aderente
tadas, no sentido de reduzir o problema de formado por blocos de pedras (ARAÚJO, 2001
erosão costeira. No entanto, os resultados apud MOURA et al., 2010).
dessas intervenções nem sempre tiveram
êxito, acarretando um ambiente praial bastante Em 1994, na Praia de Boa Viagem, no Reci-
modificado, e, em alguns trechos, transferência fe, foram construídas obras de contenção em
do processo erosivo para praias vizinhas (MAI, razão do processo erosivo que destruiu parte
2009). do calçadão. Essa obra consistiu na colocação
55. 55
de pedras-rachão e sacos de areia. No entanto, A ampliação do Porto do Recife e a constru-
o problema da erosão continuava e realizou-se ção das obras de defesa do litoral de Olinda
outro estudo que indicou que a obra mais ade- modificaram o balanço sedimentar costeiro
quada à proteção da praia seria o revestimento original nessa zona, aparentemente provocando
com blocos naturais, atualmente encontrada, uma aceleração da erosão no litoral de Pau-
em contraposição à restauração com reposi- lista. Para contenção da erosão no município,
ção de areia e utilização mista de espigões e implantou-se um sistema de quebra-mares
quebra-mares (MAI, 2009). associados a espigões, que posteriormente am-
pliados. Recifes naturais submersos serviram
A ocupação do espaço litorâneo olindense com de suporte para o sistema de quebra-mares.
obras de proteção costeira contra o avanço do As modificações ocorridas na praia do Paulista
mar data de 1950. A posição da linha de costa ocasionaram a formação de saliências e um
de Olinda, entre 1915 e 1950, experimentou tômbolo na zona de sombra dos quebra-mares
um recuo de aproximadamente 80 metros, o (MAI, 2009). As obras costeiras ao longo dos
que resultou em um intenso processo erosivo, municípios da RMR, identificadas no relatório
principalmente nas praias dos Milagres, do do projeto (MAI, 2009).
Carmo e de São Francisco (CARNEIRO, 2003).
As mudanças decorrentes da ampliação do Na zona costeira dos quatro municípios, cons-
Porto do Recife, entre os anos de 1909 e 1917, tatam-se 19 áreas com intervenções, algumas
assim como da Base Naval do Recife, concluí- ilustradas e descritas, com as estruturas cos-
das em 1948. teiras e respectiva descrição ao longo da orla
dos municípios de Jaboatão dos Guararapes,
Atualmente, a zona costeira do município de Recife, Olinda e Paulista-PE, o tipo de obra
Olinda apresenta dez quebra-mares paralelos à costeira, sua localização, o tamanho, a função,
linha de costa, 34 espigões perpendiculares e o resultado e a similaridade (CPEB, 2011, v1).
diversos trechos com enrocamentos aderentes.
Diversas obras vêm sendo eficientes na prote- Na orla do município de Jaboatão dos Guarara-
ção do patrimônio urbanístico, assim como na pes, prevalecem obras de proteção do terreno,
fixação da linha de costa. Contudo, na época ou seja, as intervenções adotadas são, princi-
de sua instalação, não havia a valorização palmente, as do tipo enrocamentos aderentes
econômica sustentável do uso da praia direcio- e muros. São obras que têm por objetivo a
nado tanto para o turismo quanto para o lazer proteção do terreno, por meio da fixação da
(CPEB, 2011, v1). “linha de costa”, em detrimento da faixa de
praia (MAI, 2009). As estruturas se distribuem
da seguinte maneira: 3.260m de enrocamentos
56. 56
e muros (74%); 530m de espigões e molhes costeira municipal. As estruturas têm a se-
(12%) e 600m de quebra-mar (14%) (CPEB, guinte configuração: 1.700m de enrocamentos
2011, v1). e muros (22%); 250m de espigões e molhes
(3%); e 5.660m de quebra-mares, 75% (MAI,
No Recife, a principal estrutura costeira é um 2009).
enrocamento com 2.100m de comprimento
na praia de Boa Viagem e outro de 1.340m na O litoral do município de Paulista tem o mes-
praia de Brasília Teimosa (MAI, 2009). Entre mo modo de proteção do terreno, na forma
1900 e 1912, realizaram-se obras de ampliação de enrocamentos, espigões e quebra-mares.
do Porto do Recife a fim de protegê-lo de ações Contudo, os quebra-mares vêm protegendo
causadas pelas ondas. Entre elas, destacam- parcialmente a linha de costa apesar de sua
se o prolongado do quebra-mar natural e a altura bastante elevada. Encontra-se nesse
construção dos recifes paralelos à costa, que trecho obra de engordamento da praia, aliada à
atingiram 4 km de comprimento; além de construção dos quebra-mares; contudo utiliza-
construído o molhe de Olinda com 800m e o ram sedimentos de composição e granulome-
quebra-mar do Branco Inglês com 1.150m de tria inadequados, causando, assim, os focos
extensão (CPEB, 2011, v1). de erosão, instalados em alguns trechos desse
litoral (MAI, 2009). As estruturas têm a seguin-
A zona costeira de Olinda apresenta-se com te distribuição: 1.850 metros de enrocamentos
obras de proteção do terreno, constituída de e muros (40%); 280m de espigões e molhes
enrocamento, espigões e quebra-mares que (6%); e 2.520m de quebra-mares, 54 % (MAI,
estabilizaram e protegeram eficientemente essa 2009).
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 001,
002 e 003 no estuário do rio Jaboatão, Jaboatão dos Guararapes - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
57. 57
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 004,
005, 006, 007 e 008 na praia de Candeias, Jaboatão dos Guararapes –
PE
Fonte: MAI (2009, v. 3)
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira 008
e 009 na praia de Candeias, e estrutura 010 na praia de Piedade,
Jaboatão dos Guararapes - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e
detalhe do enrocamento presente na praia de Boa Viagem, Recife - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
58. 58
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira e
detalhe das estruturas presentes na praia de Brasília Teimosa, Recife -
PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)
Posicionamento das estruturas de contenção de erosão costeira
presentes na praia dos Milagres e do Carmo (013), e na praia do Bairro
Novo (014), Olinda - PE
Fonte: MAI (2009, v. 1)