O documento apresenta três poemas sobre pontes, poesia e o poeta alemão Hölderlin. O primeiro poema descreve como as pontes conectam terras separadas por rios e são um símbolo de união. O segundo poema fala sobre a paixão de Hölderlin pela poesia e como ele buscava capturar a beleza do mundo através de suas palavras. O terceiro poema reflete sobre a vida solitária de Hölderlin e como sua poesia deixou um legado eterno.
1. Pontes
Nas terras e terras cruzadas por correntes de água,
Nos caminhos e caminhos mutilados por correntes de água,
À beira da água o homem parou a cismar:
Assim nasceram as pontes.
O ser humano, cansado de digressões penosas,
Sente gratidão pelas pontes.
Pontes que ligam terras e terras
São o amor entre rios e caminhos;
Postos de mudas onde barcos e veículos se cumprimentam,
Lugar onde se despedem os que partem e os que ficam.
Ai Qing, poeta chinês, (1910-1996)
M. C. Escher, Bond of Union, 1956
«Eu quero encantar com a mais pequena coisa, basta uma pequena borboleta M. C. Escher, Hand with Reflecting Sphere, 1935
com pouco mais de 2 cm de diâmetro pousada num pedaço de rocha para me
fazer tentar atingir aquilo que desejo à tanto tempo, incluindo a cópia destes
pedacinhos de nada de forma tão rigorosa quanto possível apenas para
descobrir o quão grandes são.»
Maurits Cornelis Escher (1898-1972)
2. Hőlderlin
Fantasia do Anoitecer A Paulo Quintela
O íntimo dos deuses e das fontes,
Frente à choupana tranquilo na sombra está sentado Divino louco, amado de astros, amplo
O lavrador; fumega a lareira ao homem frugal. Amante e mago de eras e horizontes:
Hospitaleiro soa ao caminhante na aldeia Para tudo dizer — Hőlderlin, prumo do templo.
Pacífica o sino da tarde. Tocou fímbrias de lume nas palavras,
Deu sua mão incauta às quedas:
Talvez voltem agora também os barqueiros ao porto, Cobrindo de semente etéreas lavras,
Em cidades longínquas morre alegre o rumor Teve dedos para o grão na haste das medas.
Afanoso da feira; em tranquila ramada Seu destino de sangue o aparelhou
Brilha o banquete em convívio aos amigos. Como à nau que se afunda ou desarvora
Ébria de sal e vento.
Para onde irei eu? Vivem os mortais A Terra lhe foi dura, o Mar o amou:
De soldo e trabalho; alternando en fadiga e repouso Por isso a gota de água clara chora
Tudo se alegra; porque não dorme então Nos versos que entoou
Nunca em meu peito o espinho? E neles demora
Um eterno momento.
No céu da tarde floresce toda uma Primavera;
Incontáveis florescem as rosas, e tranquilo aparece Amigo que trouxeste à nossa voz
O mundo áureo; oh! Levai-me p’ra lá, O seu indecifrado chamamento,
Nuvens purpúreas! E que lá em cima Bem hajas de todos nós, Hőlderlin (1770-1843), por
Tão pobres sem o novo sentimento. Franz Karl Hiemer, c. 1792
Em luz e ar se dissolvam meu amor e dor! — Pois só no rigor a fogo
Mas, como corrido da súplica louca, foge Das palavras exactas e sofridas
O encanto; faz-se escuro, e solitário Abre o estame de amor, pólen do Logo,
Sob o céu, como sempre, me encontro. — Que é maneira de Deus com nossas vidas.
Vem tu agora, sono suave! Demasiado cobiça Vitorino Nemésio, (1901-1978), 9/9/1959
O coração; mas ao fim, juventude, também tu amorteces,
Sonhadora, inquieta!
Serena e pacífica é então a velhice. «Quando jovem, o homem acredita estar tão próximo do seu objectivo!
De todas as ilusões criadas pela natureza para socorrer a fragilidade do
Johann Christian Friedrich Hőlderlin (1770-1843) nosso ser, esta é a mais bela.»
Tradução de Paulo Quintela (1905-1987) Johann Christian Friedrich Hőlderlin (1770-1843)