1. Aluna Clarita Mitiko Isago Klober.
Texto transdisciplinar do projeto Marrecoville.
O projeto Marrecoville pressupõe o desenvolvimento sustentável da região, numa tentativa de superar a
dicotomia humano/natureza, de resgatar os elos de responsabilidade esquecidos ao longo da história da
humanidade. O desenvolvimento humano, até agora, ocorreu ao preço do domínio da natureza, da sua devastação e
da degradação humana. Há uma gritante dissociação entre o progresso científico ou técnico e o progresso moral,
exemplificada nos noticiários: lixão no oceano Pacífico... morte de 40 mil crianças diariamente pela fome ...derrame
de óleo no Golfo do México... O projeto busca apontar um caminho de cooperação entre humanos e humanos,
humanos e natureza, partilhantes de um mesmo destino. (Dimensão afetiva)
O vislumbrar de uma economia sustentável do marreco será possível ao adotar-se um novo paradigma que
se apresenta como uma luz em meio ao breu da irresponsabilidade com o porvir: o paradigma da sustentabilidade.
Ele se baseia no respeito aos ecossistemas, os espaços nos quais “ diversas espécies vivem cooperativamente entre
si e com a natureza.” Os profissionais envolvidos no projeto, com seus saberes específicos, tecerão
cooperativamente, uma rede de relações harmoniosa, como ensina a mãe-natureza e preconiza a ecologia.
(Dimensão conceitual)
As estratégias expostas a seguir serão apresentadas à comunidade de agricultores, interessados diretos no
sucesso do mesmo, discutidas e avaliadas pela mesma, embasadas na ideia de Paulo Freire de empoderamento,
onde o sujeito ou grupo empoderado, realiza por si mesmo, as mudanças e ações que o levam a evoluir e a se
fortalecer.
Para despertar o sentimento de pertencimento do humano à natureza e o sentimento de cooperação, o projeto
prevê a exibição de filmes e documentários como “Avatar” e “Uma Verdade Inconveniente”, e diálogos com a
comunidade envolvida após as exibições. Para desenvolver a consciência ecológica nas crianças e adolescentes, o
projeto propõe o planejamento de hortas orgânicas nas escolas e aulas de campo para conhecimento de
experiências sustentáveis como a Usina de Reciclagem e Museu do Lixo em Curitiba e a Escola Agrícola de Joinville.
No que tange a participação direta da comunidade, indica-se o estudo dos parâmetros obedecidos pelas empresas
que conquistam e mantém o certificado ISSO 14000, o estudo das características da governança corporativa e
adaptações à realidade rural e visitas a locais que experimentam gestão coletiva no meio agrícola, como o
Assentamento Justino Draszevsky em Araquari. (Dimensão estratégica)
O projeto tem como característica essencial o religare entre humano/natureza através do empoderamento
das pessoas envolvidas enquanto sujeitos de sua história e da história planetária. Diante de máximas reducionistas,
tão comuns que parecem normais como “O ser humano não tem jeito” ou “A História se repete”, resgata-se
novamente Paulo Freire e suas máximas libertadoras : “ O mundo não é. O mundo está sendo.” “Mudar é difícil mas
é possível.” A perspectiva utilitarista, que reifica seres humanos como recursos humanos e a natureza como recursos
naturais, pode ser superada por uma perspectiva humanista, ecológica e planetária que religue o humano a si
mesmo e à natureza. A mudança é possível e começa no sujeito empoderado.(Dimensão conceptiva)
Tal sujeito empoderado, ou melhor, por extensão, a comunidade envolvida com o projeto
empoderada criará uma rede de cooperação que ultrapassa as expectativas do projeto. Empoderada da consciência
de que seus atos afetam os seres humanos e a todos terrestres, a comunidade terá condições de desenvolver a idéia
de que o eu-individual só existe mediante o contato com o outro, de substituir a máxima “a minha liberdade termina
onde começa a sua” pela proposta de que a minha liberdade é garantida pela liberdade dos outros. Será o conceito
de alteridade superando o conceito da individualidade. Esta interdependência efetivar-se-á no diálogo constante
com as entidades ligadas à preservação do meio ambiente, bem como àquelas que, à primeira vista, não são mas se
sensibilizam e se reconhecem membros da humanidade como comunidade planetária, nos termos de Edgar Morin.
(Dimensão Cognitiva)
Tal agregação, comunidade – demais entidades, enriquece e solidifica o projeto pois fortalece o sentimento
de proteção, de pertencimento à comunidade planetária e será acompanhado pelos geradores do projeto que não
abandonarão sua “cria”, mantendo o diálogo constante através de visitas à comunidade envolvida, de reuniões com
as entidades agregadas-agregadoras e de avaliações periódicas do projeto, online e in loco. Sintetizando, o projeto
Marrecoville objetiva desenvolver a cidadania local com vistas à cidadania terrestre, construindo um paradigma que
considere o conhecimento prudente para uma vida decente, como ensina Boaventura de Souza Santos, e
alimentando o sonho de um mundo mais humano e natural. (Dimensão Efetiva)
Fim...