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AGROECOLOGIA - TÓPICOS
ESPECIAIS
CURSO ON-LINE. MÓDULO 1
SÚMULA DA AULA
Dra. Alineaurea Florentino Silva (EMBRAPA Semiárido)
Dr. Lucivânio Jatobá ( UFPE/PROFCIAMB)
Recife, maio de 2020
Módulo 1
Caracterização
geoambiental de áreas
dependentes de chuva
Curso on line
REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM AGROECOSSISTEMA
http://www.correiogoianotv.com.br/site/index.php/artigos/ver/127/a-gestao-do-
agroecossistema-na-agroecologia
Agricultura natural: Suas práticas
estão baseadas em conceitos
ecológicos e trata de manter os
sistemas de produção iguais aos
encontrados na natureza. Resultou
do trabalho do Biólogo Masanobu
Fujuosa na década de 50.
Agricultura biológica: Surgiu na França, na
década de 60, a partir dos trabalhos de
Francis Dhaboussou e outros. Destaca-se
pelo controle biológico, do Manejo Integrado
de pragas e doenças e pela Teoria da
Trofobiose (efeito dos agroquímicos na
resistência das plantas).
Permacultura: Pode ser definida
como uma agricultura integrada com
o ambiente, que envolve plantas
semi-permanentes e permanentes,
incluindo a atividade produtiva dos
animais. Ela se diferencia das demais
atividades produtivas porque no
planejamento leva-se em conta os
aspectos paisagísticos e energéticos.
Agricultura biodinâmica Esta agricultura se
desenvolve em relação aos princípios
filosóficos do humanista científico Rudolph
Steiner (década de 30). Ele julga possível
praticar uma agricultura que tem como
princípio integrar os recursos naturais da
agricultura em conexão com as forças
cósmicas e suas diversas formas de
valores espirituais e éticos, para chegar a
ter uma aproximação mais compreensível
das relações: agricultura e estilos de vida.
É um sistema de organização da produção agrícola com vistas a
promover e destacar a saúde do meio ambiente, preservar a
biodiversidade, os ciclos e as atividades biológicas do solo. Esse
modelo de agricultura enfatiza o uso de práticas de manejo em
oposição ao uso de elementos estranhos ao meio rural. Isso
abrange, sempre que possível, a administração de conhecimentos
agronômicos, biológicos e até mesmo mecânicos. Mas exclui a
adoção de substâncias químicas ou outros materiais sintéticos que
desempenhem no solo funções estranhas às desempenhadas pelo
ecossistema. É tida por muitos autores como substituição de
insumos.
Agricultura Orgânica:
Agroecologia
É um estudo holístico dos agroecossistemas que
busca imitar os processos naturais, aplicando um
enfoque de manejo de recursos naturais que está
concebido para condições específicas de cada local e
que responde as necessidade e aspirações dos
agricultores de cada região. A agroecologia vai além da
simples substituição de insumos.
Agroecologia
AGROECOLOGIA
Bases econômicas
Insumos sintéticos
Agricultura
convencional
Certificação Biodiversidade funcional
Equidade
social Diversidade
cultural
Agricultura Integrada
(MIP, PIF, etc.)
Agricultura Orgânica
(substituição de insumos)
Redesenho dos sistemas
de produção (diversidade)
Insumos alternativos Agroecossistemas
(processos e sinergias)
Agricultura
Sustentável
Viabilidade
econômica
Integridade do
ecossistema
Fonte: adaptado de Altieri e Nicholls, 2004
Evolução da agricultura sustentável
Módulo 1
Caracterização
geoambiental de áreas
dependentes de chuva
Lucivânio Jatobá
Caracterização geoambiental de
áreas dependentes de chuva
Dra. Alineaurea Florentino Silva
Dr. Lucivânio Jatobá
Olá, pessoal
Nesta aula vamos tratar da Caracterização Geoambiental de Áreas Dependentes de Chuvas,
particularmente de um amplo espaço geográfico denominado Semiárido brasileiro. As noções que serão aqui
debatidas servirão como material instrucional para o curso intensivo de Agroecologia proposto.
Os ambientes semiáridos encontrados sobretudo na Região Nordeste do Brasil já vêm sendo
estudados há séculos, em face das adversas condições ambientais que apresentam , sobretudo aquelas direta
ou indiretamente relacionadas às condições climáticas ambientais.
São ambientes que possuem um ´déficit hidrico anual, haja vista que a evapotranspiração
potencial excede a precipitação, fato esse que repercute no regime dos rios, na formação e evolução dos solos,
nas formações vegetais xerófilas e , em especial, no desenvolvimento das atividades agrícolas.
Serão abordados, entre outros, nesta aula, os seguintes assuntos:
a) A caracterização do ambiente semiárido; b) Roteiro metodológico para a caracterização geoambiental de
áreas com déficit hídrico anual e c) algumas considerações sobre os aspectos que deverão ser observados na
fase de gabinete de pesquisa agroecológica dessas áreas secas. -
Para melhor aprendizado desse tema é muito importante que você acompanhe
atentamente as aulas, leia o texto básico apresentado, realize as atividades propostas e consulte as sugestões
bibliográficas no final do texto. Bom estudo !
1. OS AMBIENTES SECOS
O ambiente seco é aquele em que a evapotranspiração potencial anual supera a
precipitação anual. Em outras palavras é aquele espaço geográfico em que há um
déficit hídrico.
Entende-se por evapotranspiração potencial o conjunto de processos físicos e
fisiológicos que promovem a transformação do vapor d’água precipitada na
superfície terrestre ( GARCEZ, 1976).
Os ambientes secos podem ser classificados em : ambientes desérticos e ambientes
semiáridos ( Figura 1).
Os ambientes desérticos possuem precipitação média anual inferior a 250mm,
períodos secos que se prolongam por anos, forte insolação diária e anual e uma
cobertura vegetal inexpressiva e , às vezes, inexistentes.
Figura 1. Distribuição geográficas das principais áreas secas do Globo
Fonte: https://www.um.es/docencia/geobotanica/ficheros/tema24.pdf
AS ORIGENS DAS ÁREAS SECAS
a) Causas geomorfológicas: áreas a
sotavento de grandes sistemas
montanhosos interpostos a fluxos de ar
dominantes.
b) Correntes marinhas frias
permanentemente instaladas nas
proximidades de determinadas áreas
costeiras.
c) Instalação permanente sobre
determinada área de centros de alta
pressão atmosférica
Complementos
• Área a sotavento- é aquela que fica
resguardada dos fluxos de ar. E´ uma área
mais seca.
• Área a barlavento- é a que se encontra
exposta aos ventos. E´uma área úmida ou
mais chuvosas. Diz-se no Nordeste brasileiro
que há brejos de exposição, que são aqueles
que se situa numa área a barlavento.
• O deserto da Patagônia é uma decorrência da
influência do relevo sobre o clima.
• Trata-se de uma área a sotavento do sistema
orogenético conhecido como Cordilheira dos
Andes (Figura 2)
DESERTO DA PATAGÔNIA
Figura 2.
Fonte: http://fernandod.com.br/index.php?texto=2090
AS ÁREAS COSTEIRAS DO SUDOESTE
DO CONTINENTE AFRICANO
• O sudoeste e o sul da África apresentam
extensas áreas desérticas (deserto da
Namíbia, deserto do Kalahari, deserto de
Moçâmedes - Figura 3)
• Essas áreas desérticas derivam da
interferência de dois fatores: a presença
constante no Atlântico da Corrente Fria de
Benguela.
Deserto da Namíbia
Figura 3
Fonte: google.com.br
AS INFLUÊNCIAS DE ANTICICLONES NA FORMAÇÃO
DE ÁREAS SECAS
Figura 4
• Anticiclone corresponde a uma área na
atmosfera em que são elevados os valores da
pressão atmosférica.
• Num anticiclone, o ar é divergente e subsidente.
Esse sistema se permanecer por muito tempo
sobre uma determinada área gerará uma área
desértica ou semiárida.
• Área ciclônica- é aquela em que são baixos os
valores de pressão atmosférica. Nela, o ar é
convergente e ascendente. Associa-se a fortes
chuvas e, portanto, a área úmidas.
CENTROS DE ALTAS E BAIXAS PRESSÕES
Figura 4
Fonte: https://www.monolitonimbus.com.br/ventos-e-ciclones/
O SAARA
• O Saara ( Figura 5) é um dos maiores
desertos do planeta. Sua origem está
associada à instalação permanente de um
centro de altas pressões ( Anticiciclone
Saariano).
SAARA
Figura 5
Fonte: NASA
AS CÉLULAS DE ALTAS E DE BAIXAS PRESSÕES
PLANETÁRIAS
Figura 6
• As células de Hadley e de Ferrel permitem
compreender a circulação geral atmosférica
• Na zona equatorial ( baixas latitudes) instala-se
um importante sistema atmosférico de baixas
pressões. Trata-se da Zona de Convergência
Intertropical( ZCIT), numa faixa de baixas
pressões..
• A ZCIT desempenha um importante papel no
regime de chuvas de verão-outono em boa parfte
do Nordeste semiárido brasileiro.
AS PRINCIPAIS CÉLULAS DA CIRCULAÇÃO
ATMOSFÉRICA GLOBAL
Figura 6
• Os ambientes semiáridos, que representam áreas de
transição para ambientes desérticos, são aqueles que ( no Brasil)
apresentam precipitação média anual igual ou inferior a 800mm,
forte insolação, temperaturas constantes e relativamente altas e
por um regime pluviométrico marcado pela escassez ,
irregularidades e concentração das precipitações num curto
período de aproximadamente três meses ( CALDAS LINS e
BURGOS, 1989) ( Figura 7).
• Na figura mencionada, de uma área do Sertão do
Estado de Pernambuco, Brasil, situada num dos trechos mais
secos do Nordeste ( a Depressão semiárida do São Francisco),
apresenta um ritmo anual de precipitações bastante irregular, o
que é algo como em climas designados como BSh ( clima seco
semiárido de baixas latitudes). O período compreendido entre
1965 e 1970 foi bastante seco, enquanto o período de 1971 a
1979, as chuvas ficaram acima da média..
Figura 7 . PLUVIOGRAMA DE PETROLINA-PE ( CLIMA SEMIÁRIDO)
Elaborado por Alineaurea Florentino Silva, 2020
O SEMIÁRIDO DO NORDESTE
BRASILEIRO
Breve caracterização
Foto Alineaurea F. Silva
O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
Breve caracterização
• 1. UM ESPAÇO GEOGRÁFICO DE CARÁTER
AZONAL
• Uma área de transição climática que foi
frustrada no Brasil
• - Em outras partes do mundo, o semiárido
representa uma transição de clima tropical
úmido para clima desértico. Não é o caso
brasileiro!
UMA TRANSIÇÃO CLIMÁTICA QUE FOI
FRUSTRADA
http://www.cartafundamental.com.br/2019/02/climas-do-brasil.html
Figura 8. A transição climática no Brasil
O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
Breve caracterização
2. AS RAZÕES DA EXISTÊNCIA DO CLIMA
SEMIÁRIDO NO NORDESTE DO BRASIL
A) Causas topográficas ( não são as principais)
B) A dinâmica atmosférica ( Circulação
atmosférica extremamente complexa)
CAUSA PRINCIPAL
O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
Breve caracterização
• A TOPOGRAFIA E A SEMIARIDEZ NO
NORDESTE BRASILEIRO ( Figura 9)
- As superfícies mais elevadas pouco superam
a cota de 1000m e são pontuais ( Brejos
nordestinos; os maciços residuais; superfícies
de cimeira)
- - O “planalto” da Borborema
- - As cristas residuais e os sistemas de serras
Figura 9- O “Planalto da Borborema” e os
fluxos dos alísios de sudeste
A circulação atmosférica
• https://earth.nullschool.net/pt/#current/wind
/surface/level/orthographic=-33.64,-
11.24,1905
AS ÁREAS DE EXCEÇÃO DO NORDESTE
• No Nordeste semiárido existem unidades de
paisagem denominadas Maciços Residuais .
Nelas se instalam as superfícies topográficas de
cimeira, ou seja, as mais elevadas ( Figura 10,
11, 12 e 13). Em geral tem cotas entre 800 e um
pouco mais de 1000m acima do nivel do mar.
• Essas superfícies mais elevadas “ilhadas” nos
pediplanos rebaixados são as áreas de exceção.
São assim chamadas porque apresentam climas
locais úmidos ou subúmidos.
FIGURA 10. A INFLUÊNCIA DO RELEVO SOBRE AS
ÁREAS SECAS E DE EXCEÇÃO NO NORDESTE
SEMIÁRIDO
O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
Breve caracterização
• AS ÁREAS DEPRIMIDAS E OS EXTREMOS DE
DEFICIT HÍDRICO
• As áreas mais secas do Nordeste brasileiro
encontram-se em espaços deprimidos
(Depressão Sertaneja)
BELO JARDIM-PE
FIGURA 11. CLIMAS LOCAIS ÚMIDOS EM PLENO DOMÍNIO
SEMIÁRIDO DE PERNAMBUCO- ÁREAS DE EXCEÇÃO
URUBURETAMA-CE
FIGURA 12
FIGURA 13- MACIÇOS
RESIDUAIS NO CEARÁ
FIGURA 14 -OS PRINCIPAIS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS E OS EFEITOS
OROGRÁFICOS
Fonte;- Modilficado de Hidrologia das Pequenas Bacias do Nordeste semiárido, SUDENE,
1994
FIGURA 15- RELEVO E SEMIARIDEZ
EM PERNAMBUCO
Fonte: https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/relevobr/pe/index.htm
FIGURA 16 -RELEVO E SEMIARIDEZ
NA PARAÍBA
Fonte: https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/relevobr/pb/index.htm
SERTÃO PARAIBANO
BORBOREMA
FIGURA 17 ZONAS FISIOGRÁFICAS DO
NORDESTE BRASILEIRO
Fonte;- Modilficado de Hidrologia das Pequenas Bacias do
Nordeste semiárido, SUDENE, 1994
FIGURA 18 PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL DO NORDESTE
DO BRASIL
Fonte; Modilficado de Hidrologia das Pequenas Bacias do
Nordeste semiárido, SUDENE, 1994
A CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA E O
SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO
• AOS FLUXOS DE AR DO ATLÂNTICO E DAS ÁREAS
DESÉRTICAS MERIDIONAIS DA ÁFRICA
• A CORRENTE FRIA DE BENGUELA
• A CAMADA DE INVERSÃO DOS ALÍSIOS
• ( Sugestão de leitura:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/view/233914/2740
0 (Artigo de Lucivanio, Alineaurea e Josicleda. In Revista brasileira
de Geografia Física)
FIGURA 18- A PROJEÇÃO DO CLIMA SECO (B) SOBRE O
NORDESTE BRASILEIRO
FIGURA 19- A CORRENTE DE BENGUELA E O
SEMIÁRIDO NORDESTINO
http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2012/03/blog-post_28.html
FIGURA 21- A CAMADA DE INVERSÃO DOS ALÍSIOS E
A SEMIARIDEZ DO NORDESTE BRASILEIRO
Fonte: Revista Bras. de Geogr. Física, v.10, n} 1 , 2017.
COMO REALIZAR UM ESTUDO CLIMÁTICO DE
ÁREAS SEMIÁRIDAS DO NORDESTE BRASILEIRO
• -1. Ter o cuidado de obter dados de uma série
temporal a mais longa possível. Evitar dados de
poucos anos ( 02 anos, por exemplo)
• 2. Priorizar dados pluviométricos, e de
evapotranspiração potencial mensais e anuais.
• 3. Analisar o trimestre mais chuvoso 4- Examinar a
questão da insolação
• 5. Não esquecer de analisar os sistemas atmosféricos (
características, época de atuação e
efeitos sobre o plantio etc)
6. Enfatizar o estudo dos climas locais para a
Agroecologia.
FIGURA 22- EXEMPLO DE PLUVIOGRAMA DE UMA
ÁREA SEMIÁRIDA NO NORDESTE DO BRASIL
A dinâmica climática do semiárido em Petrolina – PE
• Lucivânio Jatobá, Alineaurea Florentino Silva Josiclêda Domiciano Ga
• Extraido da Revista Brasileira de Geografia Física v.10, n.01 (2017) 136-149.
Introdução
Petrolina é um município que se encontra no coração do Sertão, na Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo
Petrolina/PE e Juazeiro/BA que foi criada pela Lei Complementar nº 113, de 2001, e regulamentada pelo Decreto nº 4.366, de
2002, localizada no Semiárido brasileiro, extremo oeste de Pernambuco (Figura 1), entre outros dois estados (Bahia e Piauí). No
município co-existem na paisagem a vasta caatinga hiperxerófila com os verdes campos irrigados que dão um aspecto singular a
área. Essa paisagem não somente confere ao município de Petrolina um cenário de contrastes, como também interfrere no
mercado com a produção agrícola que evolui claramente para altos patamares da economia, consequência da exportação cada
vez maior de frutas frescas.
O município de Petrolina (Latitude 09º 23' 55“ sul e Longitude: 40º 30' 03" Oeste) faz parte do Vale Médio do Rio São Francisco e
se insere num pólo xérico, ou seja, uma área que apresenta uma baixa pluviosidade média anual (435mm), aliada a elevadas taxas
de evapotranspiração potencial (1520,9 mm) e consequentemente um expressivo déficit hídrico ao longo do ano. O tipo climático
regional de Petrolina, segundo Köopen, é BShw com chuvas concentradas de verão (Teixeira, 2010).
Grande quantidade de dados da região de Petrolina é ofertada pelos diversos centros de pesquisas em meteorologia e
climatologia, conferindo enorme facilidade para a construção dos principais cenários climáticos e, consequentemente, facilitando
a identificação e a correlação entre os destacados fatores responsáveis pela semiáridez no local. A facilidade de obtenção de
dados meteorológicos passíveis de serem trabalhados dentro do ambiente do Climap, bem como a localização extremamente
imersa no semiárido, constituiram as principais razões para a escolha da área a ser estudada no presente trabalho.
A relevância do tema
É importante salientar a grande utilidade em se trabalhar e compreender os ambientes semiáridos. Esses ambientes, que há bem
pouco tempo eram marginalizados em toda a gama de estratégias de trabalhos científicos, começaram a ser “descobertos” e
analisados pela pesquisa propriamente dita, após as informações veiculadas sobre aquecimento global, com consequências
catastróficas sobre a fauna e a flora locais. No Nordeste brasileiro, os impactos das condições climáticas semiáridas sobre a
população são consideráveis, especialmente quando se consumam periodicamente as secas.
Petrolina, como de resto a Depressãpo Sertaneja impõe uma subsidência na camada de inversão dos alísios,
contribuindo assi, para o aumento do déficit hídrico local. A área de Petrolina, na bacia do São Francisco,
transformou-se num pólo hortifrutigranjeiro de expressão nacional. Conhecer melhor a dinâmica climática
desse espaço geográfico é essencial, portanto, para o desenvolvimento de atividades agrícolas nele
desenvolvidas.
Assim, diante da importância do tema e da disponibilidade dos dados de pluviometria e temperatura, foi
realizado o presente trabalho que objetivou analisar as razões da existência do semiárido no Nordeste
brasileiro, examinar os fatores responsáveis pelas secas nessa região, correlacionando-as com a altitude da
camada de inversão dos alísios e estudar a pluviometria e quadro térmico do município de Petrolina-PE.
Revisitando antigos conceitos da climatologia do Nordeste semiárido
O bolsão de semiáridez existente anomalamente no Nordeste brasileiro vem sendo estudado desde o início
do século XX. O escritor Euclides da Cunha (1982), no clássico “Os Sertões”, publicado originalmente em
1902, já se referia ao “martírio secular” do semiárido nordestino e, em especial, à periodicidade das secas
que atingem esse espaço geográfico.
A costa oriental do Nordeste brasileiro apresenta uma pluviometria que acusa média anual de chuvas de
2000mm ou mais, ao passo que áreas da Depressão Sertaneja mostram-se com precipitações médias anuais
da ordem de 400mm, como é o caso da região de Petrolina-PE.
Freitas (1915) realizou uma análise das chuvas em Quixeramobim-CE, com dados correspondentes ao
período de 1909 a 1914. Delgado de Carvalho (1023) confeccionou um Atlas Pluviométrico do Nordeste
brasileiro, em que se visualiza um bolsão semiárido. A partir da década de 1920, os trabalhos climatológicos
sobre essa macrorregião do país passaram a ser mais direcionados às secas. Freise (1938) definiu as áreas
do Nordeste do Brasil como “Zonas de Calamidade”.
A causa tida como principal da existência do semiárido nordestino foi atribuida a um fator de ordem
geomorfológica, ou seja, ao “Planalto” da Borborema, ou seja, ao conjunto de grandes e pequenos maciços
residuais que foram realçados
Andrade e Lins (1965), no célebre trabalho intitulado “Introdução à Morfoclimatologia do Nordeste do Brasil”,
apresentaram a hipótese segundo a qual o semiárido brasileiro é a projeção do ar seco do deserto do Kalahari
sobre o saliente nordestino. a umidade relativa mantém-se sempre baixa.
‘O Nordeste Oriental é o domínio, dessarte, duma projeção transatlântica da mesma atmosfera que responde pelo
deserto do Sudoeste Africano. Propusemos denominar essa projeção de “ar calaariano”, a exemplo do “ar
saariano” dos meteorologistas boreais que transpõe o Mediterrâneo durante o verão Europeu (Andrade e Lins,
1965. p. 22 e 23)
Posteriormente, Andrade (1972) analisou com mais profundidade essa projeção do ar do Kalahari sobre o
Nordeste brasileiro (Figura 4) e o centro de altas pressões subtropicais do Atlântico Sul, em especial o seu setor
oriental (Figura 5).
Atualmente, as modernas informações obtidas por sensoriamento remoto, especialmente as imagens de satélite,
confirmam a antiga hipótese de Andrade e Lins, como pode ser visto na Figura 5. .
Conclusões
1. O semiárido nordestino é uma consequência da circulação atmosférica e não simplesmente do resultado das
influências topográficas e do efeito de continentalidade;
2. A altitude mais baixa camada de inversão dos alísios é o fator determinante da semiaridez do vale médio do
São Francisco.
3. É possível correlacionar a altitude da camada de inversão dos alísios de SE verificada sobre a corrente fria de
Benguela e o Sudoeste africano desértico com a semiaridez instalada sobre o saliente nordestino brasileiro.
4. Os dados térmicos do município de Petrolina-PE demonstram uma tendência para acréscimos de temperatura
no período de 1961 e 2012
5. Os dados de pluviosidade do município de Petrolina-PE permitem concluir que há uma tendência para
diminuição das precipitações anuais no período de 1961 até 2012.
6. Nos anos em que se verifica o “Nino Benguela” há um desvio positivo das precipitações pluviométricas.
( As figuras do text original fora aqui omitidas)
REFERÊNCIAS
• Andrade, G.O., 1972. Climas, in: Azevedo, A.de. Brasil, a Terra e o Homem. Ed. Nacional, São Paulo.
• Andrade, G.O.de, Lins, R.C., 1965. Introdução à morfoclimatologia do Nordeste do Brasil. Revista Arquivos
do ICT 3, 5-19.
• Andrade. M.C.de., 1998. Geografia Econômica. Editora Atlas, São Paulo.
• Damangeot, J., 1974. O Continente Brasileiro. Difel, São Paulo.
• Delgado de Carvalho, C.M., 1923. Atlas Pluviométrico do Nordeste do Brasil. IFOCS, Rio de Janeiro.
• Freise, F.W., 1938. The drouth region of Northeastern Brazil. Geographical Review 28, 363-378.
• Freitas, C.N., 1915. Estações Meteorológicas de Quixeramobim. Precipitações de 1909-1914. Revista do
Instituto do Ceará 29, 348-350.
• INMET. Instituto Nacional de Meteorologia, 20116. Eixo Monumental Sul Via S1 - Sudoeste - Brasília-DF -
CEP: 70680-900. Disponível: http://www.inmet.gov.br/. Acesso: 1 jul. 2016.
• Markham, C.G., 1972. Aspectos climatológicos da Seca no Brasil – Nordeste. Sudene, Recife.
• Reason, C.J.C., Jagadheesha, D., 2005. Relationships between South Atlantic SST Variability and
Atmospheric Circulation over the South African Region during Austral Winter. Journal of Climate 18, 3339-
3355.
• Repossi, P.delV., Canziani, P.O., 2009. Detección y estúdio de las perturbaciones generadas em la atmosfera
por los eventos “El Niño Benguela”. Revista de Climatologia 9, 15-23.
• Riehl, H., 1965. Meteorologia Tropical. Missão Norte Americana de Cooperação Econômica Técnica no
Brasil, Rio de Janeiro.
• Serra, A., Ratisbonna, L., 1959. As massas de ar da América do Sul. Revista Geográfica 51.
• Suárez, V.K.N., 2014. Cálculo y analisis de lá inversion térmica y el espesor de la capa de aire comprendida
entre 500 y 1000 hPa em Canarias para los últimos 30 anos. Disponível:
http://riull.ull.es/xmlui/handle/915/429. Acesso: 4 jul. 2016.
• Teixeira, A.H.deC., 2010. Balanço hídrico climático de Petrolina. Disponível:
http://www.eng.warwick.ac.uk/ircsa/pdf/9th/03_06.pdf. Acesso: 29 jul. 2016.
Bibliografia Básica
• 1.
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Slides aula 1 - Geral sobre Agroecologia

  • 1. AGROECOLOGIA - TÓPICOS ESPECIAIS CURSO ON-LINE. MÓDULO 1 SÚMULA DA AULA Dra. Alineaurea Florentino Silva (EMBRAPA Semiárido) Dr. Lucivânio Jatobá ( UFPE/PROFCIAMB) Recife, maio de 2020
  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5.
  • 6. Módulo 1 Caracterização geoambiental de áreas dependentes de chuva Curso on line
  • 7. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DE UM AGROECOSSISTEMA http://www.correiogoianotv.com.br/site/index.php/artigos/ver/127/a-gestao-do- agroecossistema-na-agroecologia
  • 8. Agricultura natural: Suas práticas estão baseadas em conceitos ecológicos e trata de manter os sistemas de produção iguais aos encontrados na natureza. Resultou do trabalho do Biólogo Masanobu Fujuosa na década de 50. Agricultura biológica: Surgiu na França, na década de 60, a partir dos trabalhos de Francis Dhaboussou e outros. Destaca-se pelo controle biológico, do Manejo Integrado de pragas e doenças e pela Teoria da Trofobiose (efeito dos agroquímicos na resistência das plantas). Permacultura: Pode ser definida como uma agricultura integrada com o ambiente, que envolve plantas semi-permanentes e permanentes, incluindo a atividade produtiva dos animais. Ela se diferencia das demais atividades produtivas porque no planejamento leva-se em conta os aspectos paisagísticos e energéticos. Agricultura biodinâmica Esta agricultura se desenvolve em relação aos princípios filosóficos do humanista científico Rudolph Steiner (década de 30). Ele julga possível praticar uma agricultura que tem como princípio integrar os recursos naturais da agricultura em conexão com as forças cósmicas e suas diversas formas de valores espirituais e éticos, para chegar a ter uma aproximação mais compreensível das relações: agricultura e estilos de vida.
  • 9. É um sistema de organização da produção agrícola com vistas a promover e destacar a saúde do meio ambiente, preservar a biodiversidade, os ciclos e as atividades biológicas do solo. Esse modelo de agricultura enfatiza o uso de práticas de manejo em oposição ao uso de elementos estranhos ao meio rural. Isso abrange, sempre que possível, a administração de conhecimentos agronômicos, biológicos e até mesmo mecânicos. Mas exclui a adoção de substâncias químicas ou outros materiais sintéticos que desempenhem no solo funções estranhas às desempenhadas pelo ecossistema. É tida por muitos autores como substituição de insumos. Agricultura Orgânica:
  • 10. Agroecologia É um estudo holístico dos agroecossistemas que busca imitar os processos naturais, aplicando um enfoque de manejo de recursos naturais que está concebido para condições específicas de cada local e que responde as necessidade e aspirações dos agricultores de cada região. A agroecologia vai além da simples substituição de insumos.
  • 12. AGROECOLOGIA Bases econômicas Insumos sintéticos Agricultura convencional Certificação Biodiversidade funcional Equidade social Diversidade cultural Agricultura Integrada (MIP, PIF, etc.) Agricultura Orgânica (substituição de insumos) Redesenho dos sistemas de produção (diversidade) Insumos alternativos Agroecossistemas (processos e sinergias) Agricultura Sustentável Viabilidade econômica Integridade do ecossistema Fonte: adaptado de Altieri e Nicholls, 2004 Evolução da agricultura sustentável
  • 13. Módulo 1 Caracterização geoambiental de áreas dependentes de chuva Lucivânio Jatobá
  • 14. Caracterização geoambiental de áreas dependentes de chuva Dra. Alineaurea Florentino Silva Dr. Lucivânio Jatobá
  • 15. Olá, pessoal Nesta aula vamos tratar da Caracterização Geoambiental de Áreas Dependentes de Chuvas, particularmente de um amplo espaço geográfico denominado Semiárido brasileiro. As noções que serão aqui debatidas servirão como material instrucional para o curso intensivo de Agroecologia proposto. Os ambientes semiáridos encontrados sobretudo na Região Nordeste do Brasil já vêm sendo estudados há séculos, em face das adversas condições ambientais que apresentam , sobretudo aquelas direta ou indiretamente relacionadas às condições climáticas ambientais. São ambientes que possuem um ´déficit hidrico anual, haja vista que a evapotranspiração potencial excede a precipitação, fato esse que repercute no regime dos rios, na formação e evolução dos solos, nas formações vegetais xerófilas e , em especial, no desenvolvimento das atividades agrícolas. Serão abordados, entre outros, nesta aula, os seguintes assuntos: a) A caracterização do ambiente semiárido; b) Roteiro metodológico para a caracterização geoambiental de áreas com déficit hídrico anual e c) algumas considerações sobre os aspectos que deverão ser observados na fase de gabinete de pesquisa agroecológica dessas áreas secas. - Para melhor aprendizado desse tema é muito importante que você acompanhe atentamente as aulas, leia o texto básico apresentado, realize as atividades propostas e consulte as sugestões bibliográficas no final do texto. Bom estudo !
  • 16. 1. OS AMBIENTES SECOS O ambiente seco é aquele em que a evapotranspiração potencial anual supera a precipitação anual. Em outras palavras é aquele espaço geográfico em que há um déficit hídrico. Entende-se por evapotranspiração potencial o conjunto de processos físicos e fisiológicos que promovem a transformação do vapor d’água precipitada na superfície terrestre ( GARCEZ, 1976). Os ambientes secos podem ser classificados em : ambientes desérticos e ambientes semiáridos ( Figura 1). Os ambientes desérticos possuem precipitação média anual inferior a 250mm, períodos secos que se prolongam por anos, forte insolação diária e anual e uma cobertura vegetal inexpressiva e , às vezes, inexistentes.
  • 17. Figura 1. Distribuição geográficas das principais áreas secas do Globo Fonte: https://www.um.es/docencia/geobotanica/ficheros/tema24.pdf
  • 18. AS ORIGENS DAS ÁREAS SECAS a) Causas geomorfológicas: áreas a sotavento de grandes sistemas montanhosos interpostos a fluxos de ar dominantes. b) Correntes marinhas frias permanentemente instaladas nas proximidades de determinadas áreas costeiras. c) Instalação permanente sobre determinada área de centros de alta pressão atmosférica
  • 19. Complementos • Área a sotavento- é aquela que fica resguardada dos fluxos de ar. E´ uma área mais seca. • Área a barlavento- é a que se encontra exposta aos ventos. E´uma área úmida ou mais chuvosas. Diz-se no Nordeste brasileiro que há brejos de exposição, que são aqueles que se situa numa área a barlavento.
  • 20. • O deserto da Patagônia é uma decorrência da influência do relevo sobre o clima. • Trata-se de uma área a sotavento do sistema orogenético conhecido como Cordilheira dos Andes (Figura 2)
  • 21. DESERTO DA PATAGÔNIA Figura 2. Fonte: http://fernandod.com.br/index.php?texto=2090
  • 22. AS ÁREAS COSTEIRAS DO SUDOESTE DO CONTINENTE AFRICANO • O sudoeste e o sul da África apresentam extensas áreas desérticas (deserto da Namíbia, deserto do Kalahari, deserto de Moçâmedes - Figura 3) • Essas áreas desérticas derivam da interferência de dois fatores: a presença constante no Atlântico da Corrente Fria de Benguela.
  • 23. Deserto da Namíbia Figura 3 Fonte: google.com.br
  • 24. AS INFLUÊNCIAS DE ANTICICLONES NA FORMAÇÃO DE ÁREAS SECAS Figura 4 • Anticiclone corresponde a uma área na atmosfera em que são elevados os valores da pressão atmosférica. • Num anticiclone, o ar é divergente e subsidente. Esse sistema se permanecer por muito tempo sobre uma determinada área gerará uma área desértica ou semiárida. • Área ciclônica- é aquela em que são baixos os valores de pressão atmosférica. Nela, o ar é convergente e ascendente. Associa-se a fortes chuvas e, portanto, a área úmidas.
  • 25. CENTROS DE ALTAS E BAIXAS PRESSÕES Figura 4 Fonte: https://www.monolitonimbus.com.br/ventos-e-ciclones/
  • 26. O SAARA • O Saara ( Figura 5) é um dos maiores desertos do planeta. Sua origem está associada à instalação permanente de um centro de altas pressões ( Anticiciclone Saariano).
  • 28. AS CÉLULAS DE ALTAS E DE BAIXAS PRESSÕES PLANETÁRIAS Figura 6 • As células de Hadley e de Ferrel permitem compreender a circulação geral atmosférica • Na zona equatorial ( baixas latitudes) instala-se um importante sistema atmosférico de baixas pressões. Trata-se da Zona de Convergência Intertropical( ZCIT), numa faixa de baixas pressões.. • A ZCIT desempenha um importante papel no regime de chuvas de verão-outono em boa parfte do Nordeste semiárido brasileiro.
  • 29. AS PRINCIPAIS CÉLULAS DA CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA GLOBAL Figura 6
  • 30. • Os ambientes semiáridos, que representam áreas de transição para ambientes desérticos, são aqueles que ( no Brasil) apresentam precipitação média anual igual ou inferior a 800mm, forte insolação, temperaturas constantes e relativamente altas e por um regime pluviométrico marcado pela escassez , irregularidades e concentração das precipitações num curto período de aproximadamente três meses ( CALDAS LINS e BURGOS, 1989) ( Figura 7). • Na figura mencionada, de uma área do Sertão do Estado de Pernambuco, Brasil, situada num dos trechos mais secos do Nordeste ( a Depressão semiárida do São Francisco), apresenta um ritmo anual de precipitações bastante irregular, o que é algo como em climas designados como BSh ( clima seco semiárido de baixas latitudes). O período compreendido entre 1965 e 1970 foi bastante seco, enquanto o período de 1971 a 1979, as chuvas ficaram acima da média..
  • 31. Figura 7 . PLUVIOGRAMA DE PETROLINA-PE ( CLIMA SEMIÁRIDO) Elaborado por Alineaurea Florentino Silva, 2020
  • 32. O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO Breve caracterização Foto Alineaurea F. Silva
  • 33. O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO Breve caracterização • 1. UM ESPAÇO GEOGRÁFICO DE CARÁTER AZONAL • Uma área de transição climática que foi frustrada no Brasil • - Em outras partes do mundo, o semiárido representa uma transição de clima tropical úmido para clima desértico. Não é o caso brasileiro!
  • 34. UMA TRANSIÇÃO CLIMÁTICA QUE FOI FRUSTRADA http://www.cartafundamental.com.br/2019/02/climas-do-brasil.html
  • 35. Figura 8. A transição climática no Brasil
  • 36. O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO Breve caracterização 2. AS RAZÕES DA EXISTÊNCIA DO CLIMA SEMIÁRIDO NO NORDESTE DO BRASIL A) Causas topográficas ( não são as principais) B) A dinâmica atmosférica ( Circulação atmosférica extremamente complexa) CAUSA PRINCIPAL
  • 37. O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO Breve caracterização • A TOPOGRAFIA E A SEMIARIDEZ NO NORDESTE BRASILEIRO ( Figura 9) - As superfícies mais elevadas pouco superam a cota de 1000m e são pontuais ( Brejos nordestinos; os maciços residuais; superfícies de cimeira) - - O “planalto” da Borborema - - As cristas residuais e os sistemas de serras
  • 38. Figura 9- O “Planalto da Borborema” e os fluxos dos alísios de sudeste
  • 39. A circulação atmosférica • https://earth.nullschool.net/pt/#current/wind /surface/level/orthographic=-33.64,- 11.24,1905
  • 40. AS ÁREAS DE EXCEÇÃO DO NORDESTE • No Nordeste semiárido existem unidades de paisagem denominadas Maciços Residuais . Nelas se instalam as superfícies topográficas de cimeira, ou seja, as mais elevadas ( Figura 10, 11, 12 e 13). Em geral tem cotas entre 800 e um pouco mais de 1000m acima do nivel do mar. • Essas superfícies mais elevadas “ilhadas” nos pediplanos rebaixados são as áreas de exceção. São assim chamadas porque apresentam climas locais úmidos ou subúmidos.
  • 41. FIGURA 10. A INFLUÊNCIA DO RELEVO SOBRE AS ÁREAS SECAS E DE EXCEÇÃO NO NORDESTE SEMIÁRIDO
  • 42. O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO Breve caracterização • AS ÁREAS DEPRIMIDAS E OS EXTREMOS DE DEFICIT HÍDRICO • As áreas mais secas do Nordeste brasileiro encontram-se em espaços deprimidos (Depressão Sertaneja)
  • 43. BELO JARDIM-PE FIGURA 11. CLIMAS LOCAIS ÚMIDOS EM PLENO DOMÍNIO SEMIÁRIDO DE PERNAMBUCO- ÁREAS DE EXCEÇÃO
  • 46. FIGURA 14 -OS PRINCIPAIS SISTEMAS ATMOSFÉRICOS E OS EFEITOS OROGRÁFICOS Fonte;- Modilficado de Hidrologia das Pequenas Bacias do Nordeste semiárido, SUDENE, 1994
  • 47. FIGURA 15- RELEVO E SEMIARIDEZ EM PERNAMBUCO Fonte: https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/relevobr/pe/index.htm
  • 48. FIGURA 16 -RELEVO E SEMIARIDEZ NA PARAÍBA Fonte: https://www.cnpm.embrapa.br/projetos/relevobr/pb/index.htm SERTÃO PARAIBANO BORBOREMA
  • 49. FIGURA 17 ZONAS FISIOGRÁFICAS DO NORDESTE BRASILEIRO Fonte;- Modilficado de Hidrologia das Pequenas Bacias do Nordeste semiárido, SUDENE, 1994
  • 50. FIGURA 18 PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL DO NORDESTE DO BRASIL Fonte; Modilficado de Hidrologia das Pequenas Bacias do Nordeste semiárido, SUDENE, 1994
  • 51. A CIRCULAÇÃO ATMOSFÉRICA E O SEMIÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO • AOS FLUXOS DE AR DO ATLÂNTICO E DAS ÁREAS DESÉRTICAS MERIDIONAIS DA ÁFRICA • A CORRENTE FRIA DE BENGUELA • A CAMADA DE INVERSÃO DOS ALÍSIOS • ( Sugestão de leitura: https://periodicos.ufpe.br/revistas/rbgfe/article/view/233914/2740 0 (Artigo de Lucivanio, Alineaurea e Josicleda. In Revista brasileira de Geografia Física)
  • 52. FIGURA 18- A PROJEÇÃO DO CLIMA SECO (B) SOBRE O NORDESTE BRASILEIRO
  • 53. FIGURA 19- A CORRENTE DE BENGUELA E O SEMIÁRIDO NORDESTINO http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2012/03/blog-post_28.html
  • 54.
  • 55. FIGURA 21- A CAMADA DE INVERSÃO DOS ALÍSIOS E A SEMIARIDEZ DO NORDESTE BRASILEIRO Fonte: Revista Bras. de Geogr. Física, v.10, n} 1 , 2017.
  • 56. COMO REALIZAR UM ESTUDO CLIMÁTICO DE ÁREAS SEMIÁRIDAS DO NORDESTE BRASILEIRO • -1. Ter o cuidado de obter dados de uma série temporal a mais longa possível. Evitar dados de poucos anos ( 02 anos, por exemplo) • 2. Priorizar dados pluviométricos, e de evapotranspiração potencial mensais e anuais. • 3. Analisar o trimestre mais chuvoso 4- Examinar a questão da insolação • 5. Não esquecer de analisar os sistemas atmosféricos ( características, época de atuação e efeitos sobre o plantio etc) 6. Enfatizar o estudo dos climas locais para a Agroecologia.
  • 57. FIGURA 22- EXEMPLO DE PLUVIOGRAMA DE UMA ÁREA SEMIÁRIDA NO NORDESTE DO BRASIL
  • 58. A dinâmica climática do semiárido em Petrolina – PE • Lucivânio Jatobá, Alineaurea Florentino Silva Josiclêda Domiciano Ga • Extraido da Revista Brasileira de Geografia Física v.10, n.01 (2017) 136-149. Introdução Petrolina é um município que se encontra no coração do Sertão, na Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina/PE e Juazeiro/BA que foi criada pela Lei Complementar nº 113, de 2001, e regulamentada pelo Decreto nº 4.366, de 2002, localizada no Semiárido brasileiro, extremo oeste de Pernambuco (Figura 1), entre outros dois estados (Bahia e Piauí). No município co-existem na paisagem a vasta caatinga hiperxerófila com os verdes campos irrigados que dão um aspecto singular a área. Essa paisagem não somente confere ao município de Petrolina um cenário de contrastes, como também interfrere no mercado com a produção agrícola que evolui claramente para altos patamares da economia, consequência da exportação cada vez maior de frutas frescas. O município de Petrolina (Latitude 09º 23' 55“ sul e Longitude: 40º 30' 03" Oeste) faz parte do Vale Médio do Rio São Francisco e se insere num pólo xérico, ou seja, uma área que apresenta uma baixa pluviosidade média anual (435mm), aliada a elevadas taxas de evapotranspiração potencial (1520,9 mm) e consequentemente um expressivo déficit hídrico ao longo do ano. O tipo climático regional de Petrolina, segundo Köopen, é BShw com chuvas concentradas de verão (Teixeira, 2010). Grande quantidade de dados da região de Petrolina é ofertada pelos diversos centros de pesquisas em meteorologia e climatologia, conferindo enorme facilidade para a construção dos principais cenários climáticos e, consequentemente, facilitando a identificação e a correlação entre os destacados fatores responsáveis pela semiáridez no local. A facilidade de obtenção de dados meteorológicos passíveis de serem trabalhados dentro do ambiente do Climap, bem como a localização extremamente imersa no semiárido, constituiram as principais razões para a escolha da área a ser estudada no presente trabalho. A relevância do tema É importante salientar a grande utilidade em se trabalhar e compreender os ambientes semiáridos. Esses ambientes, que há bem pouco tempo eram marginalizados em toda a gama de estratégias de trabalhos científicos, começaram a ser “descobertos” e analisados pela pesquisa propriamente dita, após as informações veiculadas sobre aquecimento global, com consequências catastróficas sobre a fauna e a flora locais. No Nordeste brasileiro, os impactos das condições climáticas semiáridas sobre a população são consideráveis, especialmente quando se consumam periodicamente as secas.
  • 59. Petrolina, como de resto a Depressãpo Sertaneja impõe uma subsidência na camada de inversão dos alísios, contribuindo assi, para o aumento do déficit hídrico local. A área de Petrolina, na bacia do São Francisco, transformou-se num pólo hortifrutigranjeiro de expressão nacional. Conhecer melhor a dinâmica climática desse espaço geográfico é essencial, portanto, para o desenvolvimento de atividades agrícolas nele desenvolvidas. Assim, diante da importância do tema e da disponibilidade dos dados de pluviometria e temperatura, foi realizado o presente trabalho que objetivou analisar as razões da existência do semiárido no Nordeste brasileiro, examinar os fatores responsáveis pelas secas nessa região, correlacionando-as com a altitude da camada de inversão dos alísios e estudar a pluviometria e quadro térmico do município de Petrolina-PE. Revisitando antigos conceitos da climatologia do Nordeste semiárido O bolsão de semiáridez existente anomalamente no Nordeste brasileiro vem sendo estudado desde o início do século XX. O escritor Euclides da Cunha (1982), no clássico “Os Sertões”, publicado originalmente em 1902, já se referia ao “martírio secular” do semiárido nordestino e, em especial, à periodicidade das secas que atingem esse espaço geográfico. A costa oriental do Nordeste brasileiro apresenta uma pluviometria que acusa média anual de chuvas de 2000mm ou mais, ao passo que áreas da Depressão Sertaneja mostram-se com precipitações médias anuais da ordem de 400mm, como é o caso da região de Petrolina-PE. Freitas (1915) realizou uma análise das chuvas em Quixeramobim-CE, com dados correspondentes ao período de 1909 a 1914. Delgado de Carvalho (1023) confeccionou um Atlas Pluviométrico do Nordeste brasileiro, em que se visualiza um bolsão semiárido. A partir da década de 1920, os trabalhos climatológicos sobre essa macrorregião do país passaram a ser mais direcionados às secas. Freise (1938) definiu as áreas do Nordeste do Brasil como “Zonas de Calamidade”. A causa tida como principal da existência do semiárido nordestino foi atribuida a um fator de ordem geomorfológica, ou seja, ao “Planalto” da Borborema, ou seja, ao conjunto de grandes e pequenos maciços residuais que foram realçados
  • 60. Andrade e Lins (1965), no célebre trabalho intitulado “Introdução à Morfoclimatologia do Nordeste do Brasil”, apresentaram a hipótese segundo a qual o semiárido brasileiro é a projeção do ar seco do deserto do Kalahari sobre o saliente nordestino. a umidade relativa mantém-se sempre baixa. ‘O Nordeste Oriental é o domínio, dessarte, duma projeção transatlântica da mesma atmosfera que responde pelo deserto do Sudoeste Africano. Propusemos denominar essa projeção de “ar calaariano”, a exemplo do “ar saariano” dos meteorologistas boreais que transpõe o Mediterrâneo durante o verão Europeu (Andrade e Lins, 1965. p. 22 e 23) Posteriormente, Andrade (1972) analisou com mais profundidade essa projeção do ar do Kalahari sobre o Nordeste brasileiro (Figura 4) e o centro de altas pressões subtropicais do Atlântico Sul, em especial o seu setor oriental (Figura 5). Atualmente, as modernas informações obtidas por sensoriamento remoto, especialmente as imagens de satélite, confirmam a antiga hipótese de Andrade e Lins, como pode ser visto na Figura 5. . Conclusões 1. O semiárido nordestino é uma consequência da circulação atmosférica e não simplesmente do resultado das influências topográficas e do efeito de continentalidade; 2. A altitude mais baixa camada de inversão dos alísios é o fator determinante da semiaridez do vale médio do São Francisco. 3. É possível correlacionar a altitude da camada de inversão dos alísios de SE verificada sobre a corrente fria de Benguela e o Sudoeste africano desértico com a semiaridez instalada sobre o saliente nordestino brasileiro. 4. Os dados térmicos do município de Petrolina-PE demonstram uma tendência para acréscimos de temperatura no período de 1961 e 2012 5. Os dados de pluviosidade do município de Petrolina-PE permitem concluir que há uma tendência para diminuição das precipitações anuais no período de 1961 até 2012. 6. Nos anos em que se verifica o “Nino Benguela” há um desvio positivo das precipitações pluviométricas. ( As figuras do text original fora aqui omitidas)
  • 61. REFERÊNCIAS • Andrade, G.O., 1972. Climas, in: Azevedo, A.de. Brasil, a Terra e o Homem. Ed. Nacional, São Paulo. • Andrade, G.O.de, Lins, R.C., 1965. Introdução à morfoclimatologia do Nordeste do Brasil. Revista Arquivos do ICT 3, 5-19. • Andrade. M.C.de., 1998. Geografia Econômica. Editora Atlas, São Paulo. • Damangeot, J., 1974. O Continente Brasileiro. Difel, São Paulo. • Delgado de Carvalho, C.M., 1923. Atlas Pluviométrico do Nordeste do Brasil. IFOCS, Rio de Janeiro. • Freise, F.W., 1938. The drouth region of Northeastern Brazil. Geographical Review 28, 363-378. • Freitas, C.N., 1915. Estações Meteorológicas de Quixeramobim. Precipitações de 1909-1914. Revista do Instituto do Ceará 29, 348-350. • INMET. Instituto Nacional de Meteorologia, 20116. Eixo Monumental Sul Via S1 - Sudoeste - Brasília-DF - CEP: 70680-900. Disponível: http://www.inmet.gov.br/. Acesso: 1 jul. 2016. • Markham, C.G., 1972. Aspectos climatológicos da Seca no Brasil – Nordeste. Sudene, Recife. • Reason, C.J.C., Jagadheesha, D., 2005. Relationships between South Atlantic SST Variability and Atmospheric Circulation over the South African Region during Austral Winter. Journal of Climate 18, 3339- 3355. • Repossi, P.delV., Canziani, P.O., 2009. Detección y estúdio de las perturbaciones generadas em la atmosfera por los eventos “El Niño Benguela”. Revista de Climatologia 9, 15-23. • Riehl, H., 1965. Meteorologia Tropical. Missão Norte Americana de Cooperação Econômica Técnica no Brasil, Rio de Janeiro. • Serra, A., Ratisbonna, L., 1959. As massas de ar da América do Sul. Revista Geográfica 51. • Suárez, V.K.N., 2014. Cálculo y analisis de lá inversion térmica y el espesor de la capa de aire comprendida entre 500 y 1000 hPa em Canarias para los últimos 30 anos. Disponível: http://riull.ull.es/xmlui/handle/915/429. Acesso: 4 jul. 2016. • Teixeira, A.H.deC., 2010. Balanço hídrico climático de Petrolina. Disponível: http://www.eng.warwick.ac.uk/ircsa/pdf/9th/03_06.pdf. Acesso: 29 jul. 2016.