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Reportagem                                                                                                                                                                  • por João Marinho


                          ELAS VÃO SE AMARRAR!
                                                                                                                  Conheça o shibari e mantenha sua gata sob controle

                                                                         T
                                                                            udo começou no Ja-                                              dente. “Existe o bondage, que é a arte da imobiliza-
    REPRODUÇÃO (TENGALGORHYTHM.BLOGSPOT.COM)




                                                                            pão      dos     samurais,                                      ção erótica e que pode ser feito com várias coisas:
                                                                            guerreiros que possuí-                                          algemas, cordas, cintos, etc. Dentro do bondage,
                                                                         am, entre suas técnicas,                                           existe o bondage com cordas, e, dentro deste, há
                                                                         o hojojutsu. Considera-                                            um tipo muito específico de amarras e nós [...]. É o
                                                                         do uma arte marcial em                                             shibari”, explica Mister K.
                                                                         si mesmo, o hojojutsu foi                                            O shibari diferencia-se do bondage ocidental por-
                                                                         desenvolvido para contro-                                          que, ao contrário deste, não se esgota apenas na
                                                                         lar, restringir ou impedir os                                      imobilização: além da já referida compressão es-
                                                                         movimentos de um inimi-                                            tratégica da corda, há a estética. “No bondage oci-
                                                                         go ou prisioneiro. O ele-                                          dental, basta seguir algumas regras de segurança
                                                                         mento essencial é uma                                              e deixar a criatividade correr solta. No shibari, não:
                                                                         corda, que os samurais                                             tem de seguir a técnica. É comum utilizar um pa-
                                                                         traziam presa ao cinto.                                            drão de cordas com 7 m [...], e nem sempre ele é
                                                                         Depois de subjugar o ad-                                           utilizado para imobilizar. Algumas amarras são fei-
                                               versário, o samurai fazia com a corda um elabora-                                            tas para serem ‘usadas’ no corpo, como se fossem
                                               do traçado sobre o corpo daquele, lançando mão                                               uma espécie de lingerie”, diz Mister K.
                                               de diferentes métodos de acordo com o domínio
                                               da arte e a intenção – de apenas restringir até imo-                                         Desatando nós
                                               bilizar, ou ainda provocar perda de consciência. O                                             De onde viria, porém, esse “tesão pelas cordas”?
                                               hojojutsu existe até hoje e conta com entusiastas                                            O psicólogo e analista do comportamento João Pe-
                                               pelo mundo.                                                                                  drosa, 51, dá uma explicação: “Nosso repertório
                                                 Muito interessante, mas o leitor deve estar se                                             comportamental sexual é alicerçado na infância e
                                               perguntando o motivo dessa introdução. É que, ao                                             adolescência [...]. Numa visão da análise do com-
                                               longo do tempo, algumas pessoas passaram a ver                                               portamento, são as contingências passadas que
                                               naquelas cordas um quê altamente sensual – e as-                                             determinam nosso comportamento atual”.
                                               sim nasceu o primo do hojojutsu: o shibari!                                                    “Vamos a um exemplo”, continua ele. “Um ho-
                                                                                                                                            mem [...] associou, através de condicionamento,
                                               Presas do prazer                                                                             ser dominado com excitação sexual. Aí, se estabe-
                                                  O shibari se torna interessante por causa de sua                                          leceu o comportamento de ser submisso. Na idade
                                               finalidade erótica. A ideia é dar prazer ao (à) domi-                                        adulta, ele refinou esse comportamento, pedindo
                                               nador ou dominatrix, que                                                                                              para ser amarrado, alge-
                                                                           REPRODUÇÃO (WWW.CHARLEROI-DANSES.BE)




                                               tem domínio sobre o cor-                                                                                              mado, entre outras práti-
                                               po de um (a) submisso                                                                                                 cas. Hoje, se diz adepto
                                               (a) – que, por sua vez, en-                                                                                           do bondage”.
                                               contra o prazer tanto na                                                                                                Uma      das    questões
                                               sensação de estar à mer-                                                                                              que envolvem o universo
                                               cê de outrem quanto na                                                                                                BDSM é o fato de que há
                                               compressão das amar-                                                                                                  pessoas que consideram
                                               ras, já que, no shibari, a                                                                                            essas práticas bizarras e
                                               corda passa em pontos                                                                                                 até doentias. Pergunta-
                                               estratégicos e sensíveis                                                                                              mos a João Pedrosa se
                                               do corpo. “Muitas amar-                                                                                               há respaldo para isso.
                                               ras costumam causar                                                                                                     “Os     comportamentos
                                               uma certa excitação, por                                                                                              sexuais atípicos ou pou-
                                               passarem por esses lu-                                                                                                co comuns [...] hoje são
                                               gares”, diz Mister K(1), 31                                                                                           chamados de parafilias.
                                               anos, adepto da arte.                                                                                                 O Manual Diagnóstico e
                                                  A relação com o bon-                                                                                               Estatístico de Transtornos
                                               dage, popular entre o                                                                                                 Mentais (DSM), da As-
                                               povo do BDSM(2), é evi-                                                                                               sociação Americana de



6   Sexsites
www.sexsites.com.br

Psiquiatria, que serve de guia para diagnósticos no        No entanto, se você se in-




                                                                                                                               © LUMACA ARTE (REPRODUÇÃO)
Brasil, trata das parafilias, que são fantasias, an-     teressou, mas esse não é
seios sexuais ou comportamentos recorrentes, in-         seu caso, não se desespe-
tensos e sexualmente excitantes, geralmente en-          re. Mister K., que já deu au-
volvendo objetos não-humanos, sofrimento ou hu-          las e workshops de bondage
milhação, próprios ou dos parceiros; ou crianças         básico, deixa seu contato:
ou outras pessoas sem seu consentimento”.                misterkrock77@gmail.com .
   “O sadomasoquismo”, continua Pedrosa, “é clas-        Boa sorte e boas amarras!
sificado como parafilia no DSM [...]. O DSM não
classifica todas as parafilias, que são inúmeras,                      O shibari tem algumas regras básicas:
apenas: exibicionismo, fetichismo, frotteurismo,         1. Utilizar cordas muito macias. Não pode queimar
pedofila, masoquismo sexual, sadismo sexual, tra-        nem pinicar. “No exterior, usam corda de juta ou
vestismo fetichista e voyeurismo. Excetuando-se a        cânhamo. No Brasil, as de algodão são ótimas”,
pedofilia [...], as demais parafilias, desde que não     diz Mister K;
tragam sofrimento para um dos parceiros, danos
emocionais a terceiros e sejam algo consentido pe-       2. Imobilizar a pessoa de forma que ela não consi-
los dois, não devem ser consideradas desvios”.           ga se soltar, a menos que outra o faça;
   Vale lembrar que o BDSM é regido pelo princípio
do SSC (são, seguro e consensual). Portanto, Mis-        3. Garantir a integridade física da pessoa amarra-
ter K. pode dizer, sem medo: “sempre gostei de           da. Não há o intuito de causar dor;
bondage com cordas. Sempre pesquisei sites, ví-
deos, revistas, etc. Nos últimos anos, o shibari tem     4. Ficar bonito;
se popularizado por esses canais. Eu comecei a
me interessar pela estética que ele tem. Existe uma      5. Ter uma palavra de segurança (safeword), com-
simetria nas cordas, a pessoa fica realmente bonita      binada previamente. Quando o (a) amarrado (a)
[...]. Mulheres amarradas são a minha tara!”.            quiser parar, ele (a) a usa. Prefira palavras fora do
                                                         contexto;
Na corda bamba
   O site Desejo Secreto (www.desejosecreto.com.         6. Manter os instrumentos de escape – canivetes,
br) diz sobre o shibari: “A pessoa envolvida no pa-      facas, tesouras (sempre sem pontas) – por perto.
pel receptivo [...] deve ter noção do que é estar
imobilizada [...], sem defesa, saber negociar, ter
muito respeito próprio, confiança no parceiro – e
ambos precisam aprender a se entender da ma-
                                                         .                          Curiosidades
                                                            A diferença entre nós e amarras é que os nós
                                                         prendem corda com corda, e as amarras prendem
neira mais completa possível, mas o parceiro ativo       a corda em algo – no caso, uma pessoa. E os nós
[...] também tem muito a aprender e treinar. Precisa
ter uma personalidade balanceada e ser capaz de
abrir mão de suas motivações pessoais em favor
                                                         .
                                                         têm nomes próprios!
                                                            “Shibari” significa “amarrar”. A arte se populari-
                                                         zou com esse nome no Ocidente, mas é chamada
do esforço do ‘grupo’”.
   Como dá pra perceber, treino e paciência são es-      .
                                                         de kinbaku ou kinbaku-bi no Japão;
                                                            Embora algumas técnicas do shibari derivem do
senciais. “Até ter um básico de alicerce no shibari,
entre o zero e passar a pesquisar, se informar e
praticar até chegar a dominar dez amarras bem
                                                         .
                                                         hojojutsu, o shibari é bem mais suave;
                                                            Ito Seiu é geralmente considerado o “pai” do
                                                         shibari. Ele começou a estudar e pesquisar o
aprendidas, diria que pode levar cerca de um ano”,       hojojutsu em 1908 e posteriormente o transformou
diz Mister K.
   Claro que, com esse grau de elaboração, encon-
trar shibaristas experientes e disponíveis não é fá-
                                                         .
                                                         num tipo de arte;
                                                            Uma amarra de corpo todo ou de tronco e bra-
                                                         ços leva, em média, “uns cinco ou 10 minutos para
cil – daí, termos entrevistado Mister K. como fonte      ser feita, dois a cinco para ser desfeita, e de 10 a 30
privilegiada. “Existe uma carência muito grande de
material sobre shibari no Brasil”, confirma ele. “A
coleta de informações é mais um garimpo. A gen-
                                                         .
                                                         minutos de imobilização”, diz Mister K;
                                                            Homens amarram mais. “Por uma questão de
                                                         gênero [...], o desejo de amarrar e dominar é mais
te encontra muita coisa em japonês ou inglês, ou         comum nos homens e de ser amarrada nas mu-
acaba aprendendo visualmente mesmo [...] e lendo         lheres”, diz Pedrosa – mas também há mulheres
muita coisa sobre a história do shibari, requisitos de   dominadoras e homens submissos.
segurança e tal. É possível importar DVDs do Ja-
pão, mas ainda tem a barreira da língua. Quem tiver      (1)
                                                             por motivos de privacidade, o entrevistado utilizou seu pseudô-
                                                         nimo usual como praticante.
boas noções de inglês pode conversar com gente           (2)
                                                             sigla para bondage, disciplina, dominação, submissão, sadis-
do exterior, onde a informação é mais acessível”.        mo e masoquismo.




                                                                                                               Sexsites
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Tutorial Shibari

  • 1. Reportagem • por João Marinho ELAS VÃO SE AMARRAR! Conheça o shibari e mantenha sua gata sob controle T udo começou no Ja- dente. “Existe o bondage, que é a arte da imobiliza- REPRODUÇÃO (TENGALGORHYTHM.BLOGSPOT.COM) pão dos samurais, ção erótica e que pode ser feito com várias coisas: guerreiros que possuí- algemas, cordas, cintos, etc. Dentro do bondage, am, entre suas técnicas, existe o bondage com cordas, e, dentro deste, há o hojojutsu. Considera- um tipo muito específico de amarras e nós [...]. É o do uma arte marcial em shibari”, explica Mister K. si mesmo, o hojojutsu foi O shibari diferencia-se do bondage ocidental por- desenvolvido para contro- que, ao contrário deste, não se esgota apenas na lar, restringir ou impedir os imobilização: além da já referida compressão es- movimentos de um inimi- tratégica da corda, há a estética. “No bondage oci- go ou prisioneiro. O ele- dental, basta seguir algumas regras de segurança mento essencial é uma e deixar a criatividade correr solta. No shibari, não: corda, que os samurais tem de seguir a técnica. É comum utilizar um pa- traziam presa ao cinto. drão de cordas com 7 m [...], e nem sempre ele é Depois de subjugar o ad- utilizado para imobilizar. Algumas amarras são fei- versário, o samurai fazia com a corda um elabora- tas para serem ‘usadas’ no corpo, como se fossem do traçado sobre o corpo daquele, lançando mão uma espécie de lingerie”, diz Mister K. de diferentes métodos de acordo com o domínio da arte e a intenção – de apenas restringir até imo- Desatando nós bilizar, ou ainda provocar perda de consciência. O De onde viria, porém, esse “tesão pelas cordas”? hojojutsu existe até hoje e conta com entusiastas O psicólogo e analista do comportamento João Pe- pelo mundo. drosa, 51, dá uma explicação: “Nosso repertório Muito interessante, mas o leitor deve estar se comportamental sexual é alicerçado na infância e perguntando o motivo dessa introdução. É que, ao adolescência [...]. Numa visão da análise do com- longo do tempo, algumas pessoas passaram a ver portamento, são as contingências passadas que naquelas cordas um quê altamente sensual – e as- determinam nosso comportamento atual”. sim nasceu o primo do hojojutsu: o shibari! “Vamos a um exemplo”, continua ele. “Um ho- mem [...] associou, através de condicionamento, Presas do prazer ser dominado com excitação sexual. Aí, se estabe- O shibari se torna interessante por causa de sua leceu o comportamento de ser submisso. Na idade finalidade erótica. A ideia é dar prazer ao (à) domi- adulta, ele refinou esse comportamento, pedindo nador ou dominatrix, que para ser amarrado, alge- REPRODUÇÃO (WWW.CHARLEROI-DANSES.BE) tem domínio sobre o cor- mado, entre outras práti- po de um (a) submisso cas. Hoje, se diz adepto (a) – que, por sua vez, en- do bondage”. contra o prazer tanto na Uma das questões sensação de estar à mer- que envolvem o universo cê de outrem quanto na BDSM é o fato de que há compressão das amar- pessoas que consideram ras, já que, no shibari, a essas práticas bizarras e corda passa em pontos até doentias. Pergunta- estratégicos e sensíveis mos a João Pedrosa se do corpo. “Muitas amar- há respaldo para isso. ras costumam causar “Os comportamentos uma certa excitação, por sexuais atípicos ou pou- passarem por esses lu- co comuns [...] hoje são gares”, diz Mister K(1), 31 chamados de parafilias. anos, adepto da arte. O Manual Diagnóstico e A relação com o bon- Estatístico de Transtornos dage, popular entre o Mentais (DSM), da As- povo do BDSM(2), é evi- sociação Americana de 6 Sexsites
  • 2. www.sexsites.com.br Psiquiatria, que serve de guia para diagnósticos no No entanto, se você se in- © LUMACA ARTE (REPRODUÇÃO) Brasil, trata das parafilias, que são fantasias, an- teressou, mas esse não é seios sexuais ou comportamentos recorrentes, in- seu caso, não se desespe- tensos e sexualmente excitantes, geralmente en- re. Mister K., que já deu au- volvendo objetos não-humanos, sofrimento ou hu- las e workshops de bondage milhação, próprios ou dos parceiros; ou crianças básico, deixa seu contato: ou outras pessoas sem seu consentimento”. misterkrock77@gmail.com . “O sadomasoquismo”, continua Pedrosa, “é clas- Boa sorte e boas amarras! sificado como parafilia no DSM [...]. O DSM não classifica todas as parafilias, que são inúmeras, O shibari tem algumas regras básicas: apenas: exibicionismo, fetichismo, frotteurismo, 1. Utilizar cordas muito macias. Não pode queimar pedofila, masoquismo sexual, sadismo sexual, tra- nem pinicar. “No exterior, usam corda de juta ou vestismo fetichista e voyeurismo. Excetuando-se a cânhamo. No Brasil, as de algodão são ótimas”, pedofilia [...], as demais parafilias, desde que não diz Mister K; tragam sofrimento para um dos parceiros, danos emocionais a terceiros e sejam algo consentido pe- 2. Imobilizar a pessoa de forma que ela não consi- los dois, não devem ser consideradas desvios”. ga se soltar, a menos que outra o faça; Vale lembrar que o BDSM é regido pelo princípio do SSC (são, seguro e consensual). Portanto, Mis- 3. Garantir a integridade física da pessoa amarra- ter K. pode dizer, sem medo: “sempre gostei de da. Não há o intuito de causar dor; bondage com cordas. Sempre pesquisei sites, ví- deos, revistas, etc. Nos últimos anos, o shibari tem 4. Ficar bonito; se popularizado por esses canais. Eu comecei a me interessar pela estética que ele tem. Existe uma 5. Ter uma palavra de segurança (safeword), com- simetria nas cordas, a pessoa fica realmente bonita binada previamente. Quando o (a) amarrado (a) [...]. Mulheres amarradas são a minha tara!”. quiser parar, ele (a) a usa. Prefira palavras fora do contexto; Na corda bamba O site Desejo Secreto (www.desejosecreto.com. 6. Manter os instrumentos de escape – canivetes, br) diz sobre o shibari: “A pessoa envolvida no pa- facas, tesouras (sempre sem pontas) – por perto. pel receptivo [...] deve ter noção do que é estar imobilizada [...], sem defesa, saber negociar, ter muito respeito próprio, confiança no parceiro – e ambos precisam aprender a se entender da ma- . Curiosidades A diferença entre nós e amarras é que os nós prendem corda com corda, e as amarras prendem neira mais completa possível, mas o parceiro ativo a corda em algo – no caso, uma pessoa. E os nós [...] também tem muito a aprender e treinar. Precisa ter uma personalidade balanceada e ser capaz de abrir mão de suas motivações pessoais em favor . têm nomes próprios! “Shibari” significa “amarrar”. A arte se populari- zou com esse nome no Ocidente, mas é chamada do esforço do ‘grupo’”. Como dá pra perceber, treino e paciência são es- . de kinbaku ou kinbaku-bi no Japão; Embora algumas técnicas do shibari derivem do senciais. “Até ter um básico de alicerce no shibari, entre o zero e passar a pesquisar, se informar e praticar até chegar a dominar dez amarras bem . hojojutsu, o shibari é bem mais suave; Ito Seiu é geralmente considerado o “pai” do shibari. Ele começou a estudar e pesquisar o aprendidas, diria que pode levar cerca de um ano”, hojojutsu em 1908 e posteriormente o transformou diz Mister K. Claro que, com esse grau de elaboração, encon- trar shibaristas experientes e disponíveis não é fá- . num tipo de arte; Uma amarra de corpo todo ou de tronco e bra- ços leva, em média, “uns cinco ou 10 minutos para cil – daí, termos entrevistado Mister K. como fonte ser feita, dois a cinco para ser desfeita, e de 10 a 30 privilegiada. “Existe uma carência muito grande de material sobre shibari no Brasil”, confirma ele. “A coleta de informações é mais um garimpo. A gen- . minutos de imobilização”, diz Mister K; Homens amarram mais. “Por uma questão de gênero [...], o desejo de amarrar e dominar é mais te encontra muita coisa em japonês ou inglês, ou comum nos homens e de ser amarrada nas mu- acaba aprendendo visualmente mesmo [...] e lendo lheres”, diz Pedrosa – mas também há mulheres muita coisa sobre a história do shibari, requisitos de dominadoras e homens submissos. segurança e tal. É possível importar DVDs do Ja- pão, mas ainda tem a barreira da língua. Quem tiver (1) por motivos de privacidade, o entrevistado utilizou seu pseudô- nimo usual como praticante. boas noções de inglês pode conversar com gente (2) sigla para bondage, disciplina, dominação, submissão, sadis- do exterior, onde a informação é mais acessível”. mo e masoquismo. Sexsites Sexsites 7