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ponto_e_virgula
      SETEMBRO 2007 EDIÇÃO 6




          . . entrevista
          . pablo villaça
          . . culinária bruxa
          . o que come harry potter
          . . ontogênese de um bar
          . a história. do início ao fim


                                                        a
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[ su mário ]
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                                                                                                                         ESCRITORES
                                                                                                                        Adriana Seguro
    ESPAÇOS                                         NESTA EDIÇÃO
                                                                                                                        Fernanda Dutra
                                                                                                                         Juliana Sakae

                                                    15
    04
                                                                                                                           Luisa Frey
            Perfil                                          Memória: um exercício diário                               Lucas Sarmanho
                                                                                                                         Marina Ferraz
                                                    Pra não esquecer de como cuidar da memória
    Sarará: em foco, a vida do fotógrafo
                                                                                                                       Marina Veshagem
    gaúcho
                                                                                                                        Matheus Joffre
                                                    18
    07                                                      Desequilíbrios
            Cinema                                                                                                       Pedro Santos
                                                                                                                        Rodrigo Tonetti
                                                    Cuplados ou inocentes, o sagüis transformaram a                       Thiago Bora
    Bobby, de Emílio Esteves, narra os últimos
                                                    paisagem de Florianópolis
    momentos de Robert Kennedy

                                                    22
    09
                                                                                                                          ESPECIAL
                                                            Culinária Bruxa: Chocolate
            Música                                                                                                      Daniel Ludwich
                                                            Mágico é ainda melhor                                       Felipe Parucci
    A banda do Sargento Pimenta existe! Em MG,
    grupo cover vai além dos sucessos dos Beatles   O que come Harry Potter, o bruxo mais famoso do planeta                EDIÇÃO

                                                    25
    13      Literatura                                                                                                Fernanda Volkerling
                                                           Ontogênese de um Bar                                           Luisa Frey
                                                                                                                       Marina Veshagem
    O vôo do Anjo Negro, de Nelson Rodrigues        Da pintura das paredes ao fechamento. Um bar do
                                                    início ao fim.
                                                                                                                        DIAGRAMAÇÃO
    28      Entrevista                                                                                                  Carolina Moura
                                                                                                                         Juliana Sakae
    Pablo Vilaça, crítico de cinema:                                                                                    Maurício Tussi
    “Um grande abraço e bons filmes!”                                                                                     Thiago Bora

    33      Esporte                                                                                                    CAPA e ARTE FINAL
                                                                                                                  Maurício Tussi - diagramação
    Confissões de uma apaixonado pelo
                                                                                                                   Thiago Bora - diagramação
    esporte como ele é                                                                                              Felipe Parucci - ilustração

    35      Viagem                                                                                                          REVISÃO
    Setembro em Toledo, Espanha - Arquietura,                                                                            Adriana Seguro
    turismo, ecumenismo e curisidades                                                                                   Lucas Sarmanho
                                                                                                                         Marina Almeida
    38      Fotografia                                                                                                   Rodrigo Tonetti
                                                                                                                          Pedro Santos




                                                                                                                             ;
    Imagens de uma visita a Porto Alegre
                                                                                                                       Florianópolis - SC
    39      Criação
    Procura-se novo craque - A crônica de uma
    lembrança do futebol

    40      Causos&Coisas
                                                                                                                www.revistapontoevirgula.com
[ca r ta ao lei tor ]




                        É
                                com muito orgulho que apresentamos
                                a você, caro leitor, a edição de setem-
                                bro da revista ponto-e-vírgula.
                              Os meses vão passando e a vida vai
                        ficando mais difícil. Daqui a pouco todos
                        nós da redação seremos pais - ou não; todos
                        teremos nossos trabalhos; teremos nossas
                        casas - que, Deus queira, venham com um
                        botão de auto-limpeza. Enfim.
                              Muito embora ninguém saiba do fu-
                        turo, nós - todos os seres humanos, acre-
                        ditamos - encarecidamente esperamos que
                        os conhecimentos tecnologógicos avancem
                        mais e mais. Até os robôs adquirirem vida
                        própria e se libertarem do domínio humano
                        por uma revolução. A razão emancipatória
                        das máquinas!
                              Ou não. Na verdade, é bom que as ca-
                        sas sejam autolimpantes - e nada de robôs,
                        nem revolução.
                              E enquanto o futuro não chega para
                        sabermos os resultados dessas previsões,
                        continue com a gente. Produzimos a pon-
                        to-e-vírgula especialmente para você, caro
                        leitor. Para você que sonha alto!
                              Boa leitura!
4
[p e r fil]
                  Sarará; do laboratório de revelação
                      para o mundo da fotografia
                          A trajetória do menino que começou como office boy de Redação e
                          se tornou um dos mais prestigiados fotojornalistas no Sul do país
                                                                            o Silva
                                                              fotos: Cláudi
                                                                                                                  fotos: Cláudio Silva




   por Matheus Joffre


   C
                                                de fotografia do jornal O Estado e editor
          láudio Silva – ou simplesmente                                                     menino que antes acordava toda madru-
                                                de fotografia no jornal Notícias do Dia. O
          Sarará, como é conhecido no meio                                                   gada para ajudar o pai a distribuir pão
          jornalístico – é o típico fotógrafo   fotojornalista acumulou vários prêmios       pelas padarias da cidade. Aos poucos, o
   que começou de baixo, trabalhando no         importantes durante os mais de trinta        garoto da Zona Sul foi adquirindo o gosto
   laboratório de revelação, até conquis-       anos de carreira.                            pela fotografia e em três meses já estava
   tar seu espaço na redação. Nascido em              Sarará recebeu o apelido por conta     trabalhando no laboratório de revelação.
   Porto Alegre, iniciou a carreira no jornal   do tom moreno de pele, assim que entrou      Começou como auxiliar e depois se firmou
   Zero Hora, na capital gaúcha, e de lá foi    como office boy no Zero Hora, aos 16 anos    como laboratorista, responsável pelas fo-
   transferido a Florianópolis para partici-    de idade. Nem negro, nem branco. “Cor de     tos de quase trinta fotógrafos diferentes.
   par da elaboração do projeto gráfico do      burro quando foge”, brinca o irreverente     Sarará afirma que essa fase foi muito
   jornal, então em fase embrionária Diá-       fotógrafo. O trabalho na redação era ape-    importante para obter experiência sobre
   rio Catarinense. Também foi sub-editor       nas mais um como outro qualquer para o       técnicas de luz, enquadramento etc.
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                               fotos: Cláudio Silva




                                                                                                              Antagonismo entre postura da Polícia Militar e
                                                       Desgaste físico e psicológico de bombeiro após ho-
Acidente de Christian Fittipaldi na Fórmula Indy,
                                                                                                              o protesto de estudante durante o Movimento
                                                       ras de trabalho durante o Apagão da Ilha em 2005
após invadir a pista depois de já encerrado o treino
                                                                                                              do Passe Livre em 2005




                                                       tarinense – jornal filiado ao Zero Hora
       Na mesma época, realizava plantões                                                                   positivo acarretou sua demissão.
 de madrugada para a editoria de polícia,              – fundado no ano seguinte. Eleito três                     Sarará acredita que a empresa usou
 cobrindo folga de outros fotógrafos. Sara-            vezes consecutivas o melhor fotógrafo do             a ocasião como pretexto para demiti-lo
 rá conta que a única vez em que “tremeu               jornal, foi demitido por justa causa em              sem pagar os direitos que lhe pertenciam,
 na base” foi quando cobria o plantão de               2005. Sarará cobria a Manifestação do                uma vez que tinha quase 14 anos de casa.
 um colega de trabalho e teve que fotogra-             Passe Livre – movimento estudantil pela              O fotógrafo nunca foi acomodado, nem se
 far um assalto a banco. Diante das cir-               redução da tarifa do transporte público –            deixava subordinar sem questionamen-
 cunstâncias e do fato inusitado, preferiu             no centro de Florianópolis e havia parado            tos; procurava sempre discutir a edição de
 contatar o colega que foi lá e tirou a foto           no Mercado Público para descansar um                 suas imagens, a questão dos créditos de
 que foi capa do jornal no dia seguinte.               pouco. Ele e o repórter estavam senta-               suas fotografias e seus direitos autorais
 Sarará acha que fez a coisa certa naquele             dos, tomando uma cerveja, e de repente,              e inclusive o próprio salário. O fotojorna-
 momento e que observar o colega em ação               a polícia militar prendeu um dos líderes             lista tinha o salário mais alto dentre os
 foi importante para lhe servir de apren-              militantes. O repórter fotográfico sacou a           outros profissionais da área na empresa.
 dizado. Com a prática, o fotógrafo expan-             câmera para registrar a cena, mas foi im-            O processo está na justiça trabalhista e,
                                                                                                            de acordo com Sarará, o Diário está ten-
 diu sua área de atuação e passou a tirar              pedido pelos policiais. Sarará insistiu no
 fotos de shows, esporte, política, desen-             cumprimento de seu ofício, e levado para             tando um acordo para manter o sigilo ju-
 volvendo a própria linguagem fotográfica.             a delegacia, foi processado por desaca-              dicial e excluir a ação, a fim de readquirir
        Em 1985, Sarará foi transferido                to à autoridade – ação que já ganhou na              alguns benefícios – excludente para em-
 para Florianópolis e participou da ela-               Justiça. Lá foi obrigado a fazer o teste do          presas envolvidas em processos -, como
 boração do projeto gráfico do Diário Ca-              bafômetro por duas vezes e o resultado               investimento público, por exemplo.
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                              fotos: Cláudio Silva




Espiríto aventureiro e transgressor de jovens                                                          Rotina de trabalho de jovem agricultora no
                                                       A estética e o glamour do carnaval dos anos
no trânsito de Florianópolis                                                                           Oeste de Santa Catarina
                                                       90 na capital catarinense




      Além dos trabalhos em jornal, Sa-              ambos se dava principalmente pelo fato          um curso de cinegrafia. Amante do ci-
rará também realiza várias exposições                dos dois terem tido a mesma trajetória          nema em geral, o fotógrafo considera a
e sempre desenvolve ensaios fotográfi-               profissional, começando como office-            fotografia do cinema francês uma das
cos pelas cidades aonde passa. Um de                 boys dentro da redação. Sarará é um dos         melhores.
seus ensaios mais bem sucedidos foi o                curadores da exposição que está prevista             Quase sempre carregando uma
Caminhos entre quilombos, em 2004. O                 para novembro deste ano.                        mochila pesada na costa, transbordan-
fotógrafo percorreu diversas cidades do                    Outra atividade a qual Sarará vem         do papéis e documentos, um acessório
Norte e Nordeste do Brasil retratando                se dedicando hoje é a fotografia de ci-         que não falta na bolsa de Sarará é a
comunidades negras. Suas fotografias                 nema. O fotógrafo participou de parte           agenda cuja primeira página traz escri-
                                                     das gravações do filme A Antropóloga,
também estiveram presentes no Fórum                                                                  to toda sua filosofia de vida: “Ética, Li-
Social Mundial, nos anos de 2004 e 2005              do cineasta catarinense Zeca Pires, e           berdade, Verdade e Justiça”. Baseado
em Porto Alegre. Atualmente, Sarará pre-             foi convidado para fazer a fotografia das       nesses ideais, o fotógrafo tentar levar a
tende promover sua própria exposição: o              cenas do novo filme de Sylvio Back so-          vida da melhor forma possível. “Essa é
Prêmio Olívio Lamas de Fotojornalismo                bre a guerra do Contestado. Sarará diz          minha Bíblia”, ele diz. Apaixonado pelo
– em homenagem ao amigo e colega de                  que busca colocar em prática sua visão          que faz, só se ajoelha para tirar algu-
profissão falecido em junho deste ano.               de jornalista junto ao olhar artístico ci-      mas fotos do navegador Amyr Klink,
Sarará alimentava uma amizade de mais                nematográfico. Além de tentar adaptar           que participava de uma coletiva no “ó
de 34 anos com Lamas, quem admira-                   sua linguagem fotojornalística às filma-        do borogodó” – como Sarará se referiu à
                                                                                                     Assembléia Legislativa. ;
va profundamente e no qual buscava es-               gens, Sarará também se preocupa com
pelhar seu trabalho. A identificação de              a parte técnica do novo projeto e iniciou
7
[ci nema]



               E a moda das teias
               continua                                                                                     por Luisa Frey

              Bobby entrelaça a vida de 22 personagens envolvidos                          japonês e sua filha adolescente em Tó-
                                                                                           quio e as crianças do mesmo casal ame-
              com o hotel onde Robert Kennedy foi assassinado
                                                                                           ricano levadas dos Estados Unidos para o



                                            E
                                                                                           México pela babá. Crash liga, a partir de
                                                    m 2004, saiu Crash – No Limite. Dois   um assalto, a vida de pessoas de diversas
                                                    anos depois, foi a vez de Babel. Re-   classes sociais em Los Angeles. Apesar de
                                                    centemente, no final de julho, che-    se passar na mesma cidade californiana,
                                                                                           Bobby não chega a abranger o âmbito de
                                            gou ao Brasil mais um filme baseado na
Bobby                                       conexão entre as múltiplas histórias de        toda a Los Angeles, muito menos de di-
                                            seus personagens. Com elenco de peso           versos países. Tudo se passa no luxuoso
                                            e roteiro que mistura ficção e realidade,      Ambassador Hotel.
                                            Bobby, dirigido pelo ator Emilio Estevez,            Lá ocorre o anúncio da vitória nas
                                            foi indicado à categoria de melhor filme no    eleições primárias da Califórnia (prece-
                                            Globo de Ouro.                                 diam a indicação a candidato à presidên-
                                                  O filme narra o assassinato do sena-     cia pelo Partido Democrata) e um discurso
             Babel                          dor, e possível candidato à presidência da     de Robert Kennedy, cuja campanha se ba-
                                            República dos Estados Unidos em 1968,          seava em recuperar os ideais anti-racistas
                                            Robert Kennedy. Estevez optou por mos-         do assassinado Martin Luther King e aca-
                                            trar a campanha eleitoral terminada em         bar com a Guerra do Vietnã. Apesar de o
                                            tragédia a partir da visão de 22 hóspedes e    filme se chamar Bobby¸ pouco se aproxi-
                                            funcionários do hotel onde se deu o crime.     ma de um documentário sobre Kennedy.
                                                  A diferença principal com as outras      A campanha eleitoral serve como pano de

            Crash                           experiências semelhantes – Crash e Babel       fundo para a trama e contextualiza a si-
                                            – está no fato de o número de personagens      tuação política norte-americana da época.
                                            ser muito maior e a interligação entre suas    Os ideais e a morte do líder pacifista unem
                                            histórias ser mais próxima em termos es-       a vida dos personagens. Acima de política,
                                            paciais. Em Babel, a conexão se dá entre       Bobby trata de relacionamentos e conflitos
                                            um casal de americanos no Marrocos, um         humanos – tema que nunca se esgota.
                 fotos: filmposters.it
                 montagem: Maurício Tussi
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 Curiosidades sobre Bobby
||    Apenas algumas cenas foram filmadas
     no Ambassador Hotel em Los Angeles,
     que estava sendo demolido.
||    Robert Kennedy é representado quase
     que somente através de imagens suas
     gravadas.
||    A personagem de Lindsay Lohan foi
     baseada na garçonete do motel onde
     Emilio Estevez escreveu parte do
     roteiro.
||    Helen Hunt recebeu o roteiro um dia
     antes de começarem as filmagens.                                                                                fotos: bobby-the-movie.com
      Emilio Estevez demorou sete anos para
     escrever o filme.
||                                                    O alcoolismo aparece na pele da fa-            O pai do diretor, Martin Sheen, e He-
      A cena em que Miriam (Sharon Stone)
     corta o cabelo de seu marido (William      mosa cantora Virginia Fallon (Demi Moo-       len Hunt interpretam Jack – rico financia-
     H. Macy) não estava no roteiro. A atriz
                                                re), cujo marido e empresário, Tim, é in-     dor da campanha de Kennedy – e Samantha
     deveria fingir, mas ela realmente cortou
                                                terpretado pelo próprio Emilio Estevez. As    – sua esposa muito mais jovem. O relacio-
     o cabelo. A tensão visível de Macy era
                                                drogas ilícitas também têm vez: os jovens     namento marido-mulher está presente
     real.
                                                Cooper (Brian Geraghty) e Jimmy (Shia La-     também entre a cabeleireira do hotel,
                                                Beouf) – voluntários da campanha de Ken-      Miriam (Sharon Stone), e o gerente Paul
                                                nedy – provam, através do traficante hippie   (William H. Macy), que mantém um ro-
                                                (Ashton Kutcher) hospedado no Ambassa-        mance com a bela telefonista Angela (He-
                                                dor, os efeitos do LSD.                       ather Graham). Outro casal demonstra a
 A trágica família Kennedy                            O racismo é polemizado através de       coragem da juventude e a descoberta do
                                                Miguel (Jacob Vargas), revoltado com o        amor: Lindsay Lohan é Diane, jovem que
     A família Kennedy foi marcada por
                                                tratamento dado a mexicanos como ele.         se propõe a casar com o amigo William
     inúmeras mortes trágicas. A mais
     famosa é a do Presidente John F. Ken-      Em contrapartida, seu conterrâneo e co-       (Elijah Wood) para livrá-lo da Guerra do
     nedy, assassinado em 1963, cinco
                                                lega na cozinha do hotel, José (Freddy        Vietnã.
     anos antes do irmão Robert. Ainda
                                                Rodriguez), e o cozinheiro negro Edward             Esses são apenas alguns dos 22 per-
     antes, morre o irmão mais velho,
                                                (Laurence Fishburne) aprendem a lidar         sonagens e seus conflitos. É uma pena
     Joseph P. Kennedy em uma explosão
                                                com o preconceituoso gerente Timmons          que atores consagrados como Anthony
     aérea durante uma missão na Se-
     gunda Guerra Mundial. A irmã Kath-         (Christian Slater).                           Hopkins tenham papéis de pouco desta-
     leen também havia morrido em um
                                                                                              que – risco que se corre ao lançar mão de
     acidente de avião. Para terminar, nos
                                                                                              tantos subenredos. Na pele de John Casey
     anos 1980 e 1990, dois dos 11 filhos
                                                                                              – porteiro aposentado e fiel ao Ambassa-
     de Robert Kennedy, Michael Kennedy e
                                                                                              dor – Hopkins é o primeiro a recepcionar
     David Kennedy, morrem relativamente
     jovens.                                                                                  Kennedy. ;
9
[ m ús ica]

                        A banda do Sargento Pimenta
                              existe (e é mineira)
                         O grupo fictício que completou 40 anos este ano vive há 17 em BH


   “It was twenty years ago today, Sgt. Pepper taught the band to play” (Foi há 20 anos,
                                                                                                            por Adriana Seguro
   Sargento Pimenta ensinou a banda a tocar) - John Lennon/Paul McCartney.
   Da música tema do CD Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band (1967)




                                                                                             E
                                                                                                    xtrair do Universo The Beatles
                   “A idéia original e aceita de imediato por todos integrantes é a de que          a sua natureza peculiar e
                     nós seríamos a tal banda que o Sgt. Pepper teria ensinado a tocar.”            projetá-la     detalhadamente
                                                                                Jô Rocha     para o público. Ideal musical que a
                                                                                             Sgt. Pepper’s Band cumpre há 17
                                                                                             anos. Era outono de 1990, em Belo
    Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band (Banda do Clube de Corações Solitários do           Horizonte, quando os amigos e músicos
   Sargento Pimenta, em português) foi o oitavo álbum dos Beatles, gravado na volta de       Jô Rocha e Mauro Mendes tomaram
   uma viagem espiritual do quarteto à Índia e comemorou 40 anos em junho de 2007.           uma decisão. Fundaram a banda -
                                                                                             cover dos Beatles -concretizando a
                                                                                             paixão mútua por um dos maiores
                               fotos: Dea Tomachi e Roberto Caiafa arte: Thiago Bora
                                                                                             ícones do pop e do rock mundial. “O
                                                                                             nosso foco inicial era reproduzir o
                                                                                             que escutávamos nos discos o mais
                                                                                             próximo possível. O grande prazer
                                                                                             era descobrir como eles faziam e o
                                                                                             que faziam, tanto nos vocais quanto
                                                                                             na parte instrumental”, explica o
                                                                                             baixista Jô. E é o que realizam os
                                                                                             atuais integrantes da SPB: Jô Rocha,
                                                                                             Marcos Gauguin, Marcelo Carrato,
                                                                                             Victor Mendes e André Katz.
10
                                                                                          Vocal, guitarra solo
                                                                                        Belo Horizontino, 48 anos

                                                                                       É também produtor musical
                                                                                     A entidade “Beatles” é maior do
                                                                                     que a soma de seus indivíduos
                                                                                     “A Beatle Week é um encontro
                                                                                       anual de Beatlemaníacos do
                                                                                    mundo inteiro, dá pra se imaginar
                                                                                     um lugar melhor para se estar?
     A grande oportunidade para que a Sgt. Pepper’s mostrasse seu trabalho e
                                                                                      Dá pra se imaginar um lugar
fosse reconhecida no Brasil e no exterior veio em 1994. A cidade dos Beatles -
                                                                                      melhor para se tocar? Visitar
Liverpool - a recebeu no Mersey Beatle Festival (Beatles Week). Nos sete anos
                                                                                      locais da história dos Beatles
seguintes, voltou a tocar no evento, que presenteia os beatlemaníacos com shows
                                                                                      que a gente sempre conheceu
de bandas cover, exposições e outras atrações. “Nós tivemos o prazer deles nos
                                                                                    pelos livros é uma emoção muito
considerarem uma das três melhores bandas que lá se apresentaram nas edições
                                                                                                 grande.”
em que participamos”, conta Jô.

Gravações

C    ome and Get It – o primeiro CD independente – saiu em 1998, resultado de
     cuidadosa pesquisa para recriar um pacote de músicas que os Beatles não
gravaram. Segundo o conhecimento da banda, ou porque foram compostas para
outros artistas ou por terem achado que não estavam boas o suficiente. É só ouvir
o CD para convir que os arranjos do cover mineiro triunfaram no resgate de um
tesouro beatleniano escondido. “Tentamos dar às músicas a forma que poderiam
ter tido com a gravação dos Beatles, usando o máximo de citação, do clima, da
vocalização deles”, explica Marcos Gauguin, produtor e guitarrista solo da SPB.
“O maior elogio foi receber um e-mail do próprio Paul MacCartney, que escutou o
disco, achou legal e deu todo apoio.” No ano seguinte, continuaram o projeto no
disco Abbey Road com Afonso Pena - suposta intersecção da célebre rua em que
fica o estúdio homônimo com uma das principais avenidas de Belo Horizonte.
      Pode-se dizer que esse cruzamento existiu - ou aconteceu - em 1998.
Foi quando o cover de BH gravou duas músicas no Abbey Road Studios, local
responsável por eternizar quase toda a obra do The Beatles. Além de interpretarem
o clássico “Hey Jude”, criaram uma música própria, intitulada “Two Wars”, para o
                                                                                        Marcos Gauguin
álbum Why Don’t We Do It in Abbey Road. O projeto reuniu faixas de 16 covers de
oito países (inclusive da também brasileira Túnel do Tempo, do Rio de Janeiro).
11
                                         Bateria e percussão
                                       Belo Horizontino, 37 anos

                                                                                  Jo Rocha
                                    Empresário artístico e técnico em
                                                                                 (Alan Rocha)
     Victor Mendes                  transações imobiliárias. Toca na
                                          SPB desde o início .

                                      “Me identifico com cada um:
                                        Ringo, a simpatia; Paul, a
                                       energia; John, o carisma; e
                                    George, a competência.” (sobre os
                                       integrantes do The Beatles)




                                                                                     Baixo
    Guitarra base e vocal
                                                                         Carioca, 52 anos, mora em BH
Mineiro de Pedra Azul, 41 anos
                                                                                   desde 1975


    Concilia a atividade de
                                                                          Engenheiro formado, hoje se
administrador com a de músico,
                                                                          dedica somente à banda que
    na banda desde 2004.
                                                                               ajudou a fundar.
                                      Marcelo Carrato
 “A intenção é executar as suas
                                                                         “Nunca tivemos a intenção de
(dos Beatles) canções da melhor
                                                                           fazer um ‘teatro’ em nossas
forma possível e levar ao público
                                                                        apresentações. A essência é fazer
  a mesma emoção que ele tem
                                                                        soar no palco aquilo que se ouve
    quando escuta os Beatles
                                                                                  nos discos.”
          realmente.”
12
       André Katz
     (André Kaczmarkiewicz)




                                     Shows

                                     A   banda inglesa que marcou a década de 1960 coleciona
                                         gerações de fãs desde então. Essa renovação é vivenciada
                                     de perto pelo quinteto mineiro, que reunia admiradores em
                                     apresentações semanais na casa de shows Mr. Beef na década
                                     de 1990 e hoje toca no Pau & Pedra, quase todos os sábados.
                                     “Atualmente, o público presente em nossos eventos são, na
                                     grande maioria, jovens que aprenderam a gostar da música dos
                                     Beatles através das gerações anteriores”, atesta Jô. E prevê:
                                     “Beatles já é a música clássica do ano 2060. É eterna.”
                                          Num show da SPB, estão – é claro - aquelas composições
                                     na ponta da língua do público, como “Help” e “Don’t Let Me
         Teclado e vocal             Down” e ainda músicas menos comerciais como “Devil in Her
Carioca, 24 anos, mora em Minas      Heart”, “I Me Mine” e “Every Little Thing”. ;
           desde 2002

                                                                          Pau & Pedra, às 23h.
Trancou a faculdade de jornalismo                                  Avenida Getúlio Vargas, 489,
  quando se juntou à banda, em                                             bairro Funcionários,
              2004.                                                             Belo Horizonte.
                                                                               (031) 3284-2397
 “Em 1992, descobri o (CD) Sgt.
  Pepper’s. Eu já era louco por
   música, mas a sensação de
escutar aquele disco foi incrível.
  Percebi que os Beatles eram
demais! Hoje sou um membro da
 banda que tem o mesmo nome
do primeiro disco que ouvi. Acho
 uma coincidência muito legal.”
13
[ l i teratura ]


             egro, njo pornográfico
        njo N nde a
      A
             osso gra
        do n
                                                 “(...) A partir de Álbum de família – drama que se seguiu a
                                                 Vestido de noiva – enveredei por um caminho que pode me
                           por Marina Veshagem
                                                 levar a qualquer destino, menos ao êxito. Que caminho será
                                                 este? Respondo: de um teatro que se poderia chamar assim –
                                                 ‘desagradável’. (...) E por que ‘peças desagradáveis’? Segundo já
                                                 disse, porque são obras pestilentas, fétidas, capazes, por si sós, de
                                                 produzir o tifo e a malária na platéia.” (Nelson Rodrigues)
      Um homem negro que cega a filha e
      renega a própria       cor; sua


                                                     E
      mulher branca           que afoga os                  m se tratando de Nelson Rodrigues, já se espera
      filhos mestiços.         Esses são                    alguma história de certa forma angustiante. An-
      os personagens            principais                  gustia de tão verdadeiro e espanta pela tragicidade
                                                     tão real. Entre os temas recorrentes em suas obras estão:
      da peça Anjo             Negro, de
                                                     adultério, sexo, incesto, solidão, obsessões e taras. A lin-
      Nelson Rodrigues
                                                     guagem do autor é simples e direta, com diálogos rápidos.
                                                           Anjo Negro, escrita em 1946, esteve dois anos sob
                                                     censura (só estreou em abril de 1948) e foi recebida com
                                                     duras críticas, acusada de “obscenidade” e “desrespei-
                                                     to à moral”. Nelson faz um retrato do preconceito ra-
                                                     cial e destaca a violência como base dos fundamentos
                                                     estruturais do modelo étnico-social brasileiro. Talvez a
                                                     aversão à peça tenha sido provocada pelo choque entre
                                                     o que o público comum poderia esperar de uma peça
                                                     teatral e o que era apresentado no palco: textos com
                                                     estruturas clássicas, como as das peças em três atos,
                                                     mas com profundidade dramática e temas polêmicos.
14




     Por conseqüência de uma maldição, Ismael e Virgínia             A peça explicita a vivência de amor e ódio num casal
se casam. O homem, negro, vestido de branco, aprisiona a       inter-racial e a ambigüidade diante de sua linhagem mes-
mulher na casa de muros altos. A mulher, branca e precon-      tiça. Trata-se de uma peça mítica, que seria um “mergulho
ceituosa, afoga no tanque os três filhos mestiços do casal.    no inconsciente primitivo do homem”, sendo, portanto, his-
A atmosfera de assassinato alimenta uma relação doentia        tórias atemporais e repletas de significados místicos. Uma
de amor e ódio. “Os crimes nos uniam ainda mais; e por         marca dessa característica é encontrada no início da obra
que meu desejo é maior depois que te sei assassina”, diz       através da seguinte citação: “a ação se passa em qualquer
Ismael. O irmão cego e branco do homem chega para com-         tempo, em qualquer lugar”. Outras marcas são os elemen-
pletar sua maldição e consumar a tragédia.                     tos poéticos e metafóricos, como a presença de dois cegos
     Ismael repudiava tudo o que remetesse a sua cor:          em cena, os infanticídios cometidos pela mãe preconcei-
nunca se aproximou de mulheres negras, não toma-               tuosa, a linguagem poética e delirante, a mistura confusa
va cachaça - que considerava bebida de negro -, ti-            entre atração e repulsão.
rou da parede o quadro de São Jorge e se casou com                   O objetivo não é esclarecer sobre o racismo nem levar
uma branca para provar sua “superioridade”. Virgínia           a platéia pensar sobre ele, mas sim envolver o espectador e
era o arquétipo do preconceito racial. Sua relação com         fazê-lo reparar nessa característica do brasileiro. A carac-
o marido sugere dependência, ódio, repulsa e atração.          terização dos personagens mostra a preocupação do autor
                                                               de não tratar o negro como uma figura folclórica ou deco-
  “Se eu quis viver aqui, se fiz esses muros; se ninguém en-   rativa. Fica claro também que es-
                                                               ses personagens possuem dramas
  tra na minha casa - é porque estou fugindo. Fugindo do       universais, como o ciúme patoló-
  desejo dos outros homens. Se mandei abrir janelas muito      gico, o combate entre mãe e filha
                                                               o incesto e as relações de depen-
  altas, foi para isso, para que você esquecesse, para que a   dência entre casais. É nesse ponto
  memória morresse em você para sempre. Virgínia, olha         que a realidade da obra pode es-
                                                               tar muito próxima de todos nós. ;
  para mim, assim! Eu fiz tudo isso para que só existisse
  eu. Compreende agora? Não existe rosto nenhum - ne-
                                                                                         Anjo Negro
  nhum rosto branco! - só o meu, que é preto...” (Ismael)               Editora Nova Fronteira, 2005
                                                                                        112 páginas
                                                                                             15 reais
15




                                                 Assim como o corpo, a memória precisa
                                                 de cuidados diários para funcionar bem




                         A
           : iário
                                                           lguém é capaz de decorar a seqüência




        ria d
                                                           das cartas de um baralho em apenas três
                                                           minutos? O homem-memória brasileiro


       ó io
                                                    é. Aos 27 anos, o mineiro Alberto Dell’Isola
                                            az
                                        rr

   em cíc
                                                    se prepara para participar do Campeonato
                                     Fe             Mundial de Memória, que acontece entre os
                                na
                            ari                     dias 31 de agosto a 2 de setembro deste ano, no


 M er
                         M
                     r                              Bahrain. É a primeira vez que um competidor
                  po                                sul-americano participa da competição.



                 “ estacionado o carro, onde estava
     x
   e               Sempre me esquecia onde havia

um
                                                                                            ”
                   a chave ou até mesmo o nome
                                                         Para quem tem uma memória fraca e
                                                    acha que não se pode mudá-la, Alberto avisa
                                                    que tudo é uma questão de hábito: “Antes de
                                                    me tornar o homem-memória brasileiro, eu já
                                                    tinha conquistado um título de memorização:
                                                    o da pior memória do mundo. Sempre me
                                                    esquecia onde havia estacionado o carro,
                                                    onde estava a chave ou até mesmo o nome
                                                    das pessoas que conviviam comigo. Até que,
                                                    em 2004, comecei a me sentir incomodado e
                                                    resolvi treinar a minha memória”.

               ilustração: Felipe Parucci
16



                                                                    No artigo Memória: o que é e como
                                                               melhorá-la, a neurocientista Silvia Helena
Perda de memória                                               Cardoso explica que existem três tipos de
                                                               memória: a ultra-rápida, que não dura mais
      Existem inúmeros fatores responsáveis por
                                                               que alguns segundos; a de curto prazo,
prejuízos à memória. As doenças mais comuns que
                                                               com duração de minutos ou horas (é o que
acarretam perda da capacidade de reter informações
                                                               permite guardar um número de telefone até
são a amnésia e o mal de Alzheimer.
                                                               que seja possível anotá-lo) e a de longo prazo,
      A amnésia - perda parcial ou total da memória
- pode ser causada por distúrbios no funcionamento             que permanece por dias, semanas ou anos.
das células nervosas ou por fatores psicológicos. O
                                                               Essa última é a mais difícil, as informações
primeiro caso é chamado de amnésia orgânica e o
                                                               precisam ser consolidadas, para que sejam
segundo, de amnésia psicogênica.




                                                           “
                                                               retidas por mais tempo.
      O mal de Alzheimer é caracterizado pela perda
progressiva de memória, principalmente devido à re-
                                                           O apresentador pode escolher
dução de neurônios na região do hipocampo. O doente
esquece o que perguntou, nomes de pessoas e, em
                                                           qualquer página da revista, e
muitos casos, se aliena do convívio social.
      Entretanto, não é só através de doenças que a

                                                           eu digo a posição das fotos e
memória é prejudicada. A falta de vitamina B1 - en-
contrada em alimentos integrais, na ervilha, no feijão,




                                                                                         ”
entre outros - também altera seu funcionamento. A
                                                           disposição de texto
tiamina (nome químico da vitamina B1) melhora a ati-
tude mental e o raciocínio. O álcool, café e cigarro são
considerados seus inimigos.
                                                                     Foi justamente a memória de longo-prazo
      O álcool, mesmo ingerido em baixa quantidade,
                                                               que Alberto teve que treinar. Ele estudou a fun-
afeta a memória de curto prazo. Um estudo da Univer-
sidade da Califórnia, coordenado pela psiquiatra Susan         do o assunto e começou a fazer as demonstra-
Tapert, revela que o consumo regular de álcool afeta
                                                               ções exigidas nos Campeonatos de Memória.
o hipocampo, principalmente quando começa na ado-
                                                               A mais difícil, na opinião de Alberto, é memo-
lescência.
                                                               rizar uma revista na íntegra. “O apresentador
                                                               pode escolher qualquer página da revista e eu
                                                               digo a posição das fotos e disposição de todo
                                                               o texto da mesma. Ela é a mais difícil pela
                                                               quantidade de informação que deve ser me-
                                                               morizada no menor tempo possível, geralmen-
                                                               te memorizo em menos de três horas”, diz.
17


Dicas para concentração                                                                        Alberto é autor do livro Super-Memória:
                                                                                          você também pode ter uma, onde dá dicas e
(fonte: http://memorizacao.blogspot.com/)
                                                                                          propõe exercícios para treinar a memória (ver
Fique aqui agora                                                                          box). Ele acredita que qualquer pessoa pode
Toda vez que você se distrair, diga: “Fique aqui agora”. Se possível, diga
                                                                                          ter uma super-memória e, inclusive integrar
em voz alta. Caso contrário, apenas repita a frase diversas vezes em sua
                                                                                          a equipe brasileira de memória (hoje formada
mente. Em seguida, volte suas atenção para a atividade que estava fa-
                                                                                          por Eduardo Costa e Ricardo Kossatz, além de
zendo. No início, talvez diga essa frase diversas vezes. No entanto, com o
passar do tempo, a concentração deve melhorar.                                            Alberto): “basta memorizar a ordem das cartas
                                                                                          de um baralho recém embaralhado em menos
Marcando os parágrafos                                                                    de dois minutos e memorizar 100 dígitos em
                                                                                          menos de três minutos”. ;
Caso esteja lendo um livro ou revista, marque com um lápis cada pará-
grafo enquanto faz a leitura. Após a automatização, possivelmente ele
será um bom exercício para a concentração.


Relatório de distrações                                                                        Flash cards
Toda vez que se distrair, faça um traço ou marque a                                            Flash card é um pedaço de papel (geralmente
                                                         Algumas dicas do homem-memória
hora exata daquele momento. Esse será seu relatório                                            cartolina), utilizado como ferramenta para o
                                                         brasileiro para quem quer melhorar
de distrações. O simples fato de estar marcando suas                                           aprendizado. O tamanho de cada flash card é
                                                         a memória:
distrações já vai ajudar no aumento de sua atenção.                                            variável. Recomendo que seja compatível com
                                                                                               o tamanho de sua carteira ou bolso da calça.
                                                         Fenômeno da reminiscência             Em cada cartão você escreve alguma pequena
Trocando tópicos                                         A primeira regra da reminiscência     informação que deseja aprender: leis, fórmulas
Procure não estudar exaustivamente apenas um tópi-       para o aprendizado (não apenas de     ou até mesmo tabuada. Você deve guardar to-
co. Se alternar entre assuntos diferentes, certamente    números) é: um momento de des-        dos esses pequenos cartões em um local de fácil
aumentará a atenção e se desgastará muito menos.         canso vale mais do que dois mo-       acesso (geralmente a carteira), para que possa
O cérebro adora diversidade e recompensa com uma         mentos seguidos de repetição.         verificá-los durante todo o dia.
maior concentração.                                      Depois de haver repetido a infor-     Os flash cards funcionam por dois grandes mo-
                                                         mação a ser memorizada, faça uma      tivos:
                                                         pequena pausa e repita-a outra vez.   a) respeitam o fenômeno da reminiscência;
                                                         Depois, faça outra pausa e repita-a   b) causam um melhor aproveitamento do tem-
                                                         novamente. Cada pausa permite a       po livre, visto que você pode dar uma pequena
                                                         atuação do fenômeno da reminis-       olhada em cada um deles no ponto de ônibus, na
                                                         cência, aumentando a probabilidade    sala de espera do dentista ou até mesmo no tra-
                                                         de que você se lembre mais tarde.     balho (se você não for piloto de avião, é claro).
                                                         Assim, nada de ficar repetindo fór-
                                                         mulas matemáticas ou leis como um
                                                         papagaio! A memória precisa de tem-
                                                         po para processar cada repetição.
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                                 por Daniel Ludwich



                               I
                                   nício de uma tarde de domingo. O cheiro do churrasco vizinho
                                   invade a casa de dois pisos localizada numa rua tranqüila entre
                                   os bairros do Córrego Grande e Santa Mônica, em Florianópolis.
                               No quintal dos fundos, Sexta-Feira aproveita para tomar um solzinho.
                               Da janela, fechada por causa da fumaça, escuta-se a voz abafada de
                               Galvão Bueno. Parece que o Rubinho não vai conseguir completar
                               a prova. Sexta-Feira não se importa com isso, ainda mais quando
                               percebe que não está sozinho. Do alto da ameixeira, quatro pares
                               de olhos o observam. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, o
                               pobre papagaio é atacado à covardia. Enquanto dois sagüis seguram
                               as suas asas, o resto da gangue aproveita para lhe roubar a comida.



   sequilíbrios
                               O tormento do louro só teve fim com a providencial ajuda de Steban,
                               o cão amigo, que afugentou os malfeitores.


 e                                   O papagaio teve azar. Pelo menos é o que se conclui conversando


D
                               com a engenheira agrônoma Cláudia de Miranda Queiroz Lopes,
                               responsável pelo setor de educação ambiental do Parque Ecológico do
    A polêmica dos sagüis na
                               Córrego Grande, onde vivem cerca de 30 sagüis. De acordo com ela,
     ilha de Santa Catarina    são raras as reclamações de vizinhos envolvendo esses animais. A
                               única que se tem registro, aliás, foi feita por um criador de curiós que,
                               ao chegar em casa, encontrou dois sagüis dentro de uma gaiola onde
                               antes havia 12 ovinhos. O criador ainda afirmou que a tela da gaiola
                               estava arrebentada e os sagüis “de barriga cheia”. Dada a chacina de
                               uma dúzia de futuros curiós, diriam alguns que o papagaio teve sorte.
                               Segundo o professor Rogério Guerra, do Laboratório de Psicologia
                               Experimental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o
                               pequeno grupo de sagüis poderia até ter “dado cabo” do assustado
                               Sexta-Feira e “dividido a presa” entre si. Matias Garcez, testemunha
                               ocular do ocorrido, não acredita na hipótese e qualifica a ação como
                               um simples roubo, descartando qualquer possibilidade de tentativa de
                               latrocínio, estupro ou coisa que o valha. “Eles só encheram um pouco o
                               saco do louro, roubaram a comida e foram embora”, contemporiza.
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      Culpados ou inocentes, a verdade é            Tudo começou há algumas déca-
que as histórias de sagüis em Florianópo-    das. Um caminhoneiro, cujos parentes
lis têm se reproduzido mais rapidamente      possivelmente estavam cansados de ga
do que os próprios. Não há como dar dez      nhar sempre as mesmas fitinhas do Se
passos sem esbarrar em um primatólogo        nhor do Bonfim, teve a brilhante idéia de
em potencial.                                capturar um sagüi para presentear a pa-
      - Sagüis? Meu filho, isso é uma pes-   troa. Estava aberta a porteira. De repente,
te! Eles se reproduzem mais rápido que       virou moda trazer os bichinhos para o sul
coelhos e, como não são daqui, não pos-      do país. Traficantes de animais desco-
suem predadores. Os desgraçados estão        briram o filão e passaram a vender sagüis
acabando com todas as nossas aves na-        bêbados nas beiras das estradas. Refeitos
tivas!                                       do porre, muitos fugiam ao chegar em
      - Todas? – pergunta o interlocutor     terra estranha – outros eram abandonados
assustado.                                   por pessoas que prefeririam ter ganhado
      - Sim, todas! E ainda transmitem       um pônei. Assim, os sagüis começaram
doenças. São piores do que ratos!            a povoar as matas da ilha. O Poder Públi-
       Cabreiro, o sujeito segue a cami      co – sempre alerta! - resolveu acabar com
nhada temendo que um bando de sagüis         a festa. Através do Instituto Brasileiro de
lhe roube a carteira. E as histórias anti-   Desenvolvimento Florestal (IBDF), ante-
sagüis são apenas algumas das faces          cessor do atual IBAMA, o governo passou a
deste caleidoscópio ideológico em que se     fazer grandes apreensões desses animais.
transformou a discussão. A situação é tão    E o que o IBDF fazia com eles? Soltava
confusa que, muitas vezes, lados com-        nas áreas de mata atlântica preservada.
pletamente antagônicos compartilham                Obedecendo ao instinto criador,
da mesma visão sobre determinado as-         os sagüis cresceram e se multiplicaram.
pecto – como dos possíveis prejuízos que     O quanto eles cresceram é um mistério.
uma espécie introduzida pode causar no       De acordo com a bióloga Cristina Valéria
ecossistema local – enquanto se engalfi      Santos, é impossível determinar ao certo
nham mortalmente em dezenas de outros.       o número de sagüis existentes em Flori-
Indiferentes e sempre fofinhos, os sagüis    anópolis. Doutora em Comportamento
seguem a sua vida. Ora, bolas... Quem        Animal pela USP, ela realizou uma pes-
poderia imaginar que estes pequenos pri-     quisa na qual procurou, entre outras coi-
matas da família Callithrichidae seriam      sas, mapear os locais da ilha habitados
capazes de despertar ira e paixão na pac-    por sagüis e verificar se eles estavam real-
ata ilha de Santa Catarina?                  mente afetando a ave-fauna da região.
20

      O resultado confirmou que são três as es-       em saber sobre a situação dos sagüis na ilha e
pécies de sagüis existentes na ilha: o Callithrix     a vocação polêmica do professor, amparada por
geoffroyi ou sagüi-de-cara-branca – presente          dez anos de experiência com esses animais, é
no sul da Bahia, Minas Gerais e Espírito San-         sempre garantia de uma boa matéria.
to; Callithrix jacchus ou sagüi-de-tufos-bran-              Guerra acredita que os sagüis são re-
cos – vindo do Nordeste; e o Callithrix penici        sponsáveis pelo desaparecimento de algumas
llata ou sagüi-de-tufos-pretos – originário das       espécies de aves, répteis e anfíbios da ilha de
regiões de cerrado do país e o melhor adaptado        Santa Catarina. Ele afirma ainda que, por não
ao ecossistema da ilha. A área ocupada por eles       possuírem predadores naturais, encontrarem
é a do Maciço da Costeira, que abrange bair-          abrigo com facilidade e comida em abundân-
ros como Rio Tavares, Saco dos Limões, Pan-           cia, a população desses animais está em con-
tanal, Córrego Grande e Lagoa da Conceição. A         stante e vertiginoso crescimento. Afirmações
pesquisadora concluiu que os sagüis não são           com as quais Cristina Santos não concorda. Ao
responsáveis pela diminuição das aves da ilha         menos, em parte. A bióloga afirma que, mesmo
– e que essa redução pode mesmo nem estar             fazendo parte do cardápio dos sagüis, os ovos
ocorrendo. A poucos metros dali, no Laboratório       não são a principal fonte de alimentos desses
de Psicologia Experimental, o professor Guerra        animais. Cristina também desacredita a tese
tem opiniões bem diferentes.                          de que os sagüis levam uma vida mansa, afir-
      Para se chegar à sala do professor Rogério      mando que eles podem ser predados tanto por
Guerra é necessário passar pelo que deve ter sido     pequenas aves de rapina quanto por gatos do-
parte do sistema de segurança do laboratório –        mésticos, além de serem vítimas fáceis de um
uma lembrança de tempos mais agitados. Próx-          frio mais intenso. O frio e a diminuição da oferta
ima ao planetário da UFSC, a pequena casa de          de alimentos durante o inverno seriam as for-
madeira se destaca pela tela que circunda toda        mas pelas quais esses animais seriam natural-
a construção. Junto à porta, uma pesada grade         mente controlados. O problema – e nisto os dois
de ferro ainda oferece a última resistência ao vis-   professores concordam – é que a maioria das
itante. Em tempos áureos, o laboratório chegou        pessoas não resiste à tentação de alimentar os
a abrigar mais de 150 sagüis, usados pelos pes-       bichinhos, garantindo a eles alimentação farta
quisadores em estudos comportamentais. Desde          durante todo o ano.
2002, entretanto, não há mais nenhum deles por              “As pessoas gostam desses animais, acham
lá. De acordo com Guerra, o alto custo de ma-         bonitos, mas eles são um problema seríssimo de
nutenção dos viveiros impediu que as pesquisas        saúde pública”, diz Guerra. Atrás de uma mesa
continuassem. Nas paredes da sala do                  sobre a qual repousam alguns animais ental-
professor, alguns recortes de jornal dos tempos       hados em madeira e cercado de livros por todos
em que o laboratório era notícia. Vez ou outra,       os lados, o professor reclama da pouca atenção
ele conta, os repórteres ainda o procuram. Quer-      dada ao assunto.
21

      “Eu tenho impressão que a sociedade        diminuição do número de pássaros, aliás,       mais. Eu sinto muita falta deles”, lamen-
ainda não se escandalizou porque não             é um fenômeno percebido por todos os           ta. O filho temporão, Paulo Kruel Herre-
houve nenhuma transmissão de doença,             moradores. “Só tem aumentado o núme-           ra, apressa-se em corrigir: “Não sumiram
algum caso de epidemia que tenha sur-            ro de andorinhas e gaivotas. E se a gente      nada, vó. A senhora que está acordando
gido.” E, lembrando que “a AIDS veio do          reparar, são os pássaros que fazem os          muito tarde”. Com uma risada, Vozinha
babuíno”, faz o vaticínio final: “Logo, logo,    ninhos nos beirais das casas – aonde os        concorda. “É, enquanto não são 10h eu
Florianópolis terá que estudar uma forma         sagüis não chegam”, observa Nelson Ma-         não levanto.”
de diminuir a população desses animais”.         noel Pereira, presidente da associação de            Os sagüis sem coração que aban-
Cristina faz pouco caso do catastrofismo         moradores do bairro.                           donaram Vozinha não estavam realmente
de Guerra e diz que os sagüis “não são a               Na Costa, as aves não tem sido as        muito longe dali. Alguns metros abaixo,
praia” do professor. “O trabalho dele é com      únicas vítimas dos sagüis. Ildo Sebastião      um grupo brinca nas árvores que mar-
roedores, ele não é primatólogo”, provoca.       dos Santos, 45 anos, conta que um grupo        geiam um pequeno córrego. Ao percebe-
Mas, ainda que não fale em epidemias e           deles destruiu a plantação de milho do         rem a presença humana, aproximam-se.
no perigo de algum vírus desconhecido,           sogro. “Cada vez mais vai ser uma in-          “Querem comida”, diz a moradora Elite
a bióloga reconhece que a proximidade            vasão”, afirma o morador que – fique bem       Vieira Comicholi. Segundo ela, a senhora
filogenética entre humanos e primatas faz        claro! – não conhece o professor Guerra.       que mora na casa ao lado alimenta os ani-
com que ambos tenham doenças em co-              Acordado todos os dias pelo “berreiro”         mais com freqüência. “Ela compra cachos
mum e, existindo a doença, pode haver o          dos animais, Ildo diz que não pode mais        e cachos de bananas só para alimentar os
contágio. Como exemplo, ela afirma que os        deixar a porta da cozinha aberta. “É só sen-   sagüis.” Concorrência desleal para a hu-
sagüis podem transmitir raiva, mas não           tir cheiro de comida que eles vêm”, reclama.   milde cesta de frutas da Vozinha.
a transmitem em Florianópolis porque a                 Há, entretanto, quem não se importe            A noite chega. Enquanto a Costa
doença já foi erradicada do estado.              com os pequenos furtos. Celi Domingues         da Lagoa vai ficando para trás, as pala-
      Alheios ao quiprocó acadêmico,             Kruel Fonseca, 87 anos, sente falta dos        vras do professor Guerra voltam embala-
os moradores da Costa da Lagoa têm               seus bichinhos. Conhecida como Voz-            das pelo barulho monótono do motor do
opiniões e impressões próprias a respeito        inha, a gaúcha radicada há 16 anos na          barco: “Florianópolis vai precisar estu-
do fenômeno dos sagüis. Ronaldo San-             Costa teve uma relação bastante intensa        dar uma forma de diminuir a população
tos, 34 anos, afirma que quando criança,         com os sagüis. Na casa onde mora sozin-        de sagüis”. De repente, um ruído. Muda
mesmo com o costume de se embrenhar              ha, localizada no alto de um morro próx-       a cadência do motor e o que se ouve é a
na mata, nunca havia visto um sagüi. “Há         imo ao ponto oito do ancoradouro, havia        voz da bióloga Cristina entrando na dis-
dez anos ainda era raro de vê-los por aqui”,     uma grande goiabeira cujos galhos se           cussão: “A população de sagüis não está
completa. Ronaldo é um dos poucos na             misturavam com a casa. Foi através dela        aumentando, eles não estão acabando
Costa que liga o aparecimento dos sagüis         que os animais se aproximaram. “Eles en-       com a as aves e não podemos dizer que
ao desaparecimento de algumas espécies           travam dentro de casa e comiam as fru-         ele esteja competindo com alguma espécie
de pássaros. “Tinha passarinho de penca          tas que eu deixava em cima da geladeira.       nativa”. Um pequeno engasgo e aflora a
quando eu tinha 10 anos. Aracuã, gralha          Coisa mais linda!”, lembra Vozinha. “Eles      indignação de Ildo: “Eu só queria pegar
                                                                                                um deles e dar uma surra”. ;
azul, sabiá, coleira, saíra, tié. Hoje, dá pra   passeavam pelo cordão do varal, subiam
dizer que diminuiu em 50%”, analisa. A           no meu colo... Mas agora eles não vêm
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     A culinária do mundo de Harry Potter

                                  por Fernanda Dutra

V
       iver no mundo mágico parece fácil. Se faltar roupa,
       é só agitar a varinha e o problema será resolvido. Se,
       de repente, surgir o desejo de viajar até o Peru, mais
uma vez a varinha dá conta. Mas o mundo idealizado pela
britânica J.K. Rowling não seria o cenário para a história
de Harry Potter se todos os problemas pudessem ser solu-
cionados com uma varinha.
       De acordo com a Lei de Gamp para Transfiguração
Elemental, comida é uma das cinco coisas que não apa-
recem do nada. Os bruxos podem transformar coisas em
comida, aumentar a quantidade da que já têm ou trazê-la
de algum lugar em que esteja armazenada. Mas do nada,
não.
      Apesar disso, foram poucos os momentos em que fal-
tou comida no prato de Harry. A Escola de Magia e Bruxa-
ria de Hogwarts é conhecida pelos maravilhosos banquetes
fartos; a Sra. Weasley - mãe do melhor amigo Rony - co-
zinha como ninguém; e as opções de doces encontradas
na Dedosdemel, no povoado vizinho à escola, Hogsmeade,
dão água na boca.
       A culinária bruxa tem influências tanto da Inglater-
ra, quanto dos povos da Antigüidade. O café da manhã de
Hogwarts sempre tem salsichas e ovos mexidos, assim

                                                                Cena do filme Harry Potter e o Cálice de Fogo
23

 como o das casas inglesas. A bebida preferida de
 Dumbledore - diretor da Escola - é o hidromel,
 fabricada antes mesmo do vinho e da cerveja.
       A maior parte das comidas criadas por Ro-
 wling são doces: Feijõezinhos de todos os sa-
 bores, sapos de chocolate, varinhas de alcaçuz,
 bolos de caldeirão, chicletes de baba-bola, vo-
 mitilhas, febricolate, delícias gasosas, cremes
 de canário, entre outros. Já podemos comprar
 vários desses produtos em lojas de nosso mun-
 do trouxa – nome dado ao mundo não-bruxo na
                                                           O último livro da série Harry Potter
 série - , como os dois primeiros da lista.
                                                    foi lançado em inglês no fim de julho. Har-
       A abóbora, muito relacionada à bruxaria
                                                    ry Potter and The Deathly Hollows vendeu
 em outras histórias, é base de vários pratos e
                                                    8,3 milhões de cópias em apenas 24 horas,
 bebidas: suco de abóbora, abóbora assada, tor-
                                                    batendo o próprio recorde, atingido com o
 tinhas de abóbora, doce de abóbora...
                                                    volume anterior. No Brasil, Harry Potter e as
        Em Hogwarts, as refeições são carregadas
                                                    Relíquias da Morte, título provisório, tem o
 de calorias. Além de salsichas e ovos, as carnes
                                                    lançamento previsto para o dia 10 de no-
 de porco, carneiro e boi são base para várias
                                                    vembro.
 refeições, como pudim de carne, bacon, bife e
                                                           O enredo do livro acompanha a primei-
 pudim de rim, costelas. Peixes, massas, saladas
                                                    ra vez que Harry perde o ano letivo em Hog-
 ou arroz dificilmente são servidos.
                                                    warts. Na companhia dos melhores amigos,
       A cozinha não é lugar para os alunos de
                                                    o protagonista vai em busca dos horcruxes,
 Hogwarts. Harry, Rony e Hermione, a melhor
                                                    objetos que precisam ser destruídos para
 amiga do protagonista, a conheceram somente
                                                    que o vilão Lord Voldemort morra.
 em seu quarto ano na escola, no livro Harry Pot-
                                                            Em julho, também chegou aos cin-
 ter e o Cálice de Fogo. Quem prepara a comida
                                                    emas o quinto filme da série, baseado no
 para as centenas de estudantes são os elfos do-
                                                    livro Harry Potter e a Ordem da Fênix. O
 mésticos - seres mágicos escravos dos bruxos.
                                                    filme - dirigido por David Yates - mostra o
 Hogwarts tem mais de cem elfos trabalhando na
                                                    ressurgimento de Voldemort e a preparação
 cozinha, que é ampla, com teto alto e cheia de
                                                    da comunidade bruxa para lutar contra ele,
 tachos e panelas de latão empilhados. Há qua-
                                                    mas se foca no protagonista, angustiado
 tro grandes mesas logo abaixo das que ficam no
                                                    pela adolescência.
 salão principal, onde os alunos se sentam. O
                                                            Assim como o livro, o filme também
 que os elfos colocam à mesa aparece no salão.
                                                    bateu recordes. Só na sessão de estréia, à
       Algumas das delícias doces do mundo
                                                    meia-noite de uma quarta-feira, arrecadou
 mágico são fáceis de se encontrar no mercado
                                                    12 milhões de dólares. A marca anterior era
 após o sucesso do jovem bruxo. Outras podem
                                                    de O Senhor dos Anéis – O regresso do Rei,
 ser cozinhadas em casa. Mas bom mesmo seria
                                                    que conseguiu oito milhões de dólares em
 poder sentir-se flutuando ao beber uma delícia
                                                    2003.
 gasosa!


Cena do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix
24
Sapos de Chocolate
                                                                                               Cerveja
Chocolates ao leite em forma de sapo são encantados                                            Amanteigada
para pularem assim que o pacote é aberto. Vêm com
figurinhas colecionáveis dos bruxos mais                                                       Uma das bebidas
famosos da História. No primeiro livro,                                                        mais famosas no
Harry Potter e a Pedra Filosofal, uma des-                                                     mundo bruxo. Tem
sas figurinhas ajuda o protagonista a des-                                                     baixo teor alcoólico,
vendar um dos muitos mistérios que tem                                                         mas elfos domésticos
que resolver.                                                                                  são muito sensíveis a
                                                                                               ela. Quando servida
Receita                                                                                        em garrafas, é ge-
Ingredientes                                                                                   lada e, em canecas,
-1/4 de uma lata de leite condensado                                                           quente. No mundo
-1 colher de sobremesa de qualquer tipo de chocolate                                           trouxa, existe uma
em pó                                                                                          bebida de nome se-
- Pouca bolacha (salgada ou maizena) ralada                                                    melhante, mas com
- Pequenos pedaços de chocolate ao leite                                                       sabor diferente e não-
-2 colheres de sorvete de creme                                                                alcóolica. A receita
-Cobertura de caramelo                                                                         abaixo foi criada
                                                                                               como uma mistura
Modo de fazer                                                                                  da bebida bruxa e da
1. Esquente no microondas por 3 minutos o leite con-                                           trouxa.
densado com o chocolate em pó e a cobertura de cara-
melo.                                                                                          Receita:
                                                         Feijõezinhos de todos os sabores
2. No momento em que tirar do microondas, jogue a                                              Ingredientes
bolacha, o sorvete de creme e os pedaços de chocolate.                                         -25 g de cobertura de
3. Misture bem.                                                        Morango, uva, cara-     sorvete sabor cara-
4. Coloque no microondas por mais 3 minutos.                           melo, cera de ouvido,   melo
5. Misture bem e faça a forma de 1 ou 2 sapos.                         vômito... Realmente     -570 ml de leite
                                                                       todos os sabores        -275 ml de sorvete de
                                                                       podem ser encontra-     creme derretido.
                                                                       dos em um pacote de
      Delícias Gasosas                                                 Feijõezinhos de todos   Modo de fazer
                                                                       os sabores.             Coloque tudo no
      Feitas somente com sorvete de frutas e                                                   liquidificador, bata e
      ferrão de gira-gira - ingrediente comum                                                  sirva. ;
      em poções que fazem flutuar. O doce,
      vendido na Dedosdemel, faz com que o
      bruxo saia alguns centímetros do chão.
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                               Ontogênese de um Bar                                 das mulheres que corriam no verão para
                                                                                    plantar um jardim – soterrado pela neve
                                                                                    três meses depois. Como surfista, Igor
                                                                 florianópolis


                                       O
                                                                                    encontrou na Lagoa da Conceição um
                                               relógio na entrada da ponte da       lugar muito mais apropriado que o lago
                                               Lagoa marca 0:00, mas eram dez       Ontário (um dos cinco Grandes Lagos
                                               para as onze. Um pouco mais à        da América do Norte, em cujas margens
                                       frente, na Avenida das Rendeiras, gran-      está localizada a cidade de Toronto).
                                       des janelas revelam um ambiente ilumi-             Em abril deste ano, o irmão de John
                                       nado por lâmpadas fracas e velas sobre       casou-se no Guarujá, e a família austra-
                                       as mesas. “______ Café”, lê-se em uma        liana toda o acompanhou na lua-de-mel
                                       placa na calçada. A porta abriu-se para      no Brasil. John leu sobre Florianópolis
                                       mostrar um pequeno grupo de pessoas.         no avião, em uma revista que prometia
                                       John, sentado à mesa, rabisca em um          ser uma cidade “surpreendente”. O pri-
                                       caderno. Igor, com os braços estendidos,     meiro lugar que visitou ao chegar a praia
                                       ocupa quase todo sofá de três lugares.       da Joaquina: o céu azul, a areia branca,
       A história.                          No local reside a grande diferença.     a água: “Surpreendente”. Foi o bastante
                                       Duas semanas antes, eu quase passara         para conquistar mais um surfista.
       Do começo ao fim
                                       direto pelas colunas marrons e os len-             Quando os dois se conheceram,
                                       çóis que escondiam um amontoado de           Igor precisava de dinheiro e John esta-
                                       latas de tinta e garrafas de refrigerante    va hospedado em uma pousada, pagan-
       por Carolina Moura              vazias. Conhecera Igor e John de pincel      do diária. “Vamos alugar um bar e ficar
                                       em punho, e o pequeno bar ainda em re-       morando lá”, sugeriu John. Ele entrou
                                       forma. “Vai abrir amanhã à noite”, pro-      com o aluguel, Igor pagava o que podia.
                                       meteu Igor.                                  Os dois começaram a reformar o lugar,
                                            Igor é de Ribeirão Preto, São Paulo.    cheios de idéias. “Você conhece algum
                                       Formado em Marketing, estudou em To-         artista plástico daqui?”, perguntou-me
                                       ronto, Canadá. Trabalhando lá, ganha-        John, no dia em que nos conhecemos.
                                       va 4 mil dólares por mês; fazia cruzeiro     O objetivo era expor quadros de artis-
                                       no lago, viajava de avião, ia para Nova      tas locais e fazer leilões. Um espaço para
                                       Iorque. Mas, para ele, isso não era quali-   arte, música e língua inglesa, já que o
                                       dade de vida. Passava sete meses e meio      sócio australiano só fala “o livro está so-
                                       debaixo de neve. “As pessoas lá dão valor    bre a mesa” em português – e com difi-
                                       a outras coisas”, observa. Dá o exemplo      culdade.
foto: globalrestaurant.co.uk
arte: Maurício Tussi
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                                     O bar é pequeno. Um balcão baixo      saber quando, afinal, é meia-noite.
                               não chega a esconder a cozinha, onde              - Que tipo de bolo você quer? – per-
                               ficam expostas as garrafas de bebida. As    guntou Ciara, americana de Los Angeles.
                               velas descansam sobre quatro ou cinco             - De Manga.
                               mesas redondas, rodeadas por algumas              - Então você não vai ganhar bolo.
                               cadeiras fora de lugar. As paredes os-            Quando se chega à conclusão de
                               tentam alguns quadros, as luminárias        que já é meia noite, elevam-se os ânimos:
                               são coloridas. Uma cortina improvisada      “Happy Birthday to you!”, “Pode entrar,
                               esconde uma das “camas” – a outra é o       Marylin Monroe!”. Mas John confessa que
                               sofá, antes ocupado pelos braços de Igor.   não gosta de aniversários. Há um ano, ele
                               Não me aventurei no banheiro, cuja lo-      estava com os aborígenes, na Austrália.
                               calização demorei a descobrir. “Até que     Teve que ir trabalhar, mas foi “absoluta-
                               não é tão ruim, porque nós estamos bê-      mente o melhor”: ninguém sabia sobre a
                               bados o tempo todo”, diz John, conser-      data. Ele passou o dia todo rindo. Todos
                               tando em seguida: “Na verdade somos         lhe perguntavam, “de que você está rin-
                               bem controlados”.                           do?”. John respondia, por trás do sorriso:
                                     As pessoas presentes intervêm na      “Vocês são tão engraçados!”
                               conversa, tanto em inglês quanto por-             Mas não foi só a festa de aniversário
                               tuguês. Daniela, estudante de admi-         do John que aconteceu no ______ Café.
                               nistração, convidou-os para ir à Praia      “Nós tivemos algumas noites boas”, con-
                               Mole na manhã seguinte. “Vamos surfar       formam-se os donos. O bar esteve aberto
                               numa praia que não tenha peixe voador”      todos os dias, desde que foi inaugurado.
                               (uma espécie de peixe que pula para fora    “Demos algumas festas, tivemos que pa-
                               d’água, podendo alcançar uma altura de      gar pelos clientes”, brinca. “A economia
                               seis metros e planar por até 90 metros).    daqui é fraca.” Mas, mesmo assim, ga-
                               Cristiano, outro brasileiro, pergunta a     nharam uns freqüentadores. Quando o
                               John se ele conhece o fly fish, como ele    sistema de som do bar quebrou, os do-
                               traduz o nome do animal que, segundo        nos tiveram a sorte de ter vários músicos
                               ele, aparece na época de lua cheia. “Não    no local. A maioria deles foi pago com
                               posso negar um convite dela”, flerta Igor   cerveja. “Tínhamos dez, vinte pessoas
                               dirigindo-se a Daniela. “Aí você pára o     cantando junto”. Os vizinhos – pai, mãe
                               seu carro aqui e nós vamos correndo até     e filha (todos médicos) – ficam aliviados
                               lá”, brinca.                                quando a festa acaba.
                                     Todos são amigos. O motivo da               – Irish guys! – exclama John, depois
                               reunião é o aniversário de John, no dia     de recusar, ceder, experimentar e apro-
                               seguinte – ou já é o dia? Ninguém parece    var o quentão de vinho. Cinco irlan-
foto: globalrestaurant.co.uk
arte: Maurício Tussi
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                               deses, que foram ao bar na noite ante-      próximo – quem sabe fazer uma viagem
                               rior, passavam pela rua. Sem pressa,        “ao redor do mundo”. Igor quer passar
                               John foi até o meio da avenida e gritou:    o verão no Canadá – enquanto é inver-
                               “Garotos irlandeses! Nós temos cerve-       no no sul. “A vida aqui é muito dura”,
                               ja!” Logo cinco rapazes com um sotaque      diz ele, referindo-se ao lado financeiro.
                               bem mais leve que o australiano esta-       Quando decidiu abrir o bar, pensava nas
                               vam sentados no sofá, onde dormem os        belezas da ilha e no surfe, achava ser o
                               donos da casa, contando histórias.          suficiente. Agora se pergunta: “Dinheiro
                                     Estudantes de Arquitetura, viajam     ou qualidade de vida?”. Por enquanto,
                               pela América do Sul. Dois dias antes, es-   pensa em dosar os dois: passar o verão
                               tavam em Montevidéu, no Uruguai. Para       do hemisfério norte lá; e o do sul, aqui.
                               fugir do frio, enfrentaram vinte horas de          A economia flutuante de Florianó-
                               ônibus – três DVDs, apenas duas refei-      polis poderia ter beneficiado os sócios do
                               ções. Mas dizem que valeu a pena. Mes-      _____ Café, se eles tivessem aberto o bar
                               mo assim, continuam falando o pouco         no verão. Com o frio de agora, a clientela
                               espanhol que aprenderam. Breve silên-       tem se limitado a pessoas como Ciara, que
                               cio; Alex, o mais falador, foi ao banhei-   lia um livro quando foi convidada a en-
                               ro. Aos poucos os outros quatro entra-      trar; ou os irlandeses chamados aos gri-
                               ram na conversa, especialmente quando       tos, com promessa de cerveja grátis. Eis
                               falamos de Oscar Niemeyer ou sobre o        outro motivo pelo qual a sociedade não
                               gosto musical que compartilhamos.           gera lucros: quem não tem dinheiro, não
                                     – Daqui, para onde vocês vão?         precisa pagar. Seja no bar, seja nos gru-
                                     – Para Lima. Estamos no barco cer-    pos de conversação em inglês com John
                               to? – risos.                                – que também se limitam a um pequeno
                                     Dois dias depois, os garotos irlan-   círculo de amigos. Depois de ouvir toda
                               deses seguiriam viagem. Os donos do bar     a história, esqueci de pagar pelo copo de
                               já têm planos de fazer o mesmo. John        vinho tinto e pelo drink que meu colega
                                                                           bebeu – cujo nome não entendi. ;
                               pretende viajar para a Austrália em se-
                               tembro e voltar definitivamente em abril




foto: globalrestaurant.co.uk
arte: Maurício Tussi
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Setembro2007

  • 1. ponto_e_virgula SETEMBRO 2007 EDIÇÃO 6 . . entrevista . pablo villaça . . culinária bruxa . o que come harry potter . . ontogênese de um bar . a história. do início ao fim a l de r iair o a id cu rá o om óio di c e rd e mrcíc c e qu ee es o nã mum a pr ex
  • 2. ponto_e_virgula [ su mário ] SETEMBRO 2007 EDIÇÃO 6 ESCRITORES Adriana Seguro ESPAÇOS NESTA EDIÇÃO Fernanda Dutra Juliana Sakae 15 04 Luisa Frey Perfil Memória: um exercício diário Lucas Sarmanho Marina Ferraz Pra não esquecer de como cuidar da memória Sarará: em foco, a vida do fotógrafo Marina Veshagem gaúcho Matheus Joffre 18 07 Desequilíbrios Cinema Pedro Santos Rodrigo Tonetti Cuplados ou inocentes, o sagüis transformaram a Thiago Bora Bobby, de Emílio Esteves, narra os últimos paisagem de Florianópolis momentos de Robert Kennedy 22 09 ESPECIAL Culinária Bruxa: Chocolate Música Daniel Ludwich Mágico é ainda melhor Felipe Parucci A banda do Sargento Pimenta existe! Em MG, grupo cover vai além dos sucessos dos Beatles O que come Harry Potter, o bruxo mais famoso do planeta EDIÇÃO 25 13 Literatura Fernanda Volkerling Ontogênese de um Bar Luisa Frey Marina Veshagem O vôo do Anjo Negro, de Nelson Rodrigues Da pintura das paredes ao fechamento. Um bar do início ao fim. DIAGRAMAÇÃO 28 Entrevista Carolina Moura Juliana Sakae Pablo Vilaça, crítico de cinema: Maurício Tussi “Um grande abraço e bons filmes!” Thiago Bora 33 Esporte CAPA e ARTE FINAL Maurício Tussi - diagramação Confissões de uma apaixonado pelo Thiago Bora - diagramação esporte como ele é Felipe Parucci - ilustração 35 Viagem REVISÃO Setembro em Toledo, Espanha - Arquietura, Adriana Seguro turismo, ecumenismo e curisidades Lucas Sarmanho Marina Almeida 38 Fotografia Rodrigo Tonetti Pedro Santos ; Imagens de uma visita a Porto Alegre Florianópolis - SC 39 Criação Procura-se novo craque - A crônica de uma lembrança do futebol 40 Causos&Coisas www.revistapontoevirgula.com
  • 3. [ca r ta ao lei tor ] É com muito orgulho que apresentamos a você, caro leitor, a edição de setem- bro da revista ponto-e-vírgula. Os meses vão passando e a vida vai ficando mais difícil. Daqui a pouco todos nós da redação seremos pais - ou não; todos teremos nossos trabalhos; teremos nossas casas - que, Deus queira, venham com um botão de auto-limpeza. Enfim. Muito embora ninguém saiba do fu- turo, nós - todos os seres humanos, acre- ditamos - encarecidamente esperamos que os conhecimentos tecnologógicos avancem mais e mais. Até os robôs adquirirem vida própria e se libertarem do domínio humano por uma revolução. A razão emancipatória das máquinas! Ou não. Na verdade, é bom que as ca- sas sejam autolimpantes - e nada de robôs, nem revolução. E enquanto o futuro não chega para sabermos os resultados dessas previsões, continue com a gente. Produzimos a pon- to-e-vírgula especialmente para você, caro leitor. Para você que sonha alto! Boa leitura!
  • 4. 4 [p e r fil] Sarará; do laboratório de revelação para o mundo da fotografia A trajetória do menino que começou como office boy de Redação e se tornou um dos mais prestigiados fotojornalistas no Sul do país o Silva fotos: Cláudi fotos: Cláudio Silva por Matheus Joffre C de fotografia do jornal O Estado e editor láudio Silva – ou simplesmente menino que antes acordava toda madru- de fotografia no jornal Notícias do Dia. O Sarará, como é conhecido no meio gada para ajudar o pai a distribuir pão jornalístico – é o típico fotógrafo fotojornalista acumulou vários prêmios pelas padarias da cidade. Aos poucos, o que começou de baixo, trabalhando no importantes durante os mais de trinta garoto da Zona Sul foi adquirindo o gosto laboratório de revelação, até conquis- anos de carreira. pela fotografia e em três meses já estava tar seu espaço na redação. Nascido em Sarará recebeu o apelido por conta trabalhando no laboratório de revelação. Porto Alegre, iniciou a carreira no jornal do tom moreno de pele, assim que entrou Começou como auxiliar e depois se firmou Zero Hora, na capital gaúcha, e de lá foi como office boy no Zero Hora, aos 16 anos como laboratorista, responsável pelas fo- transferido a Florianópolis para partici- de idade. Nem negro, nem branco. “Cor de tos de quase trinta fotógrafos diferentes. par da elaboração do projeto gráfico do burro quando foge”, brinca o irreverente Sarará afirma que essa fase foi muito jornal, então em fase embrionária Diá- fotógrafo. O trabalho na redação era ape- importante para obter experiência sobre rio Catarinense. Também foi sub-editor nas mais um como outro qualquer para o técnicas de luz, enquadramento etc.
  • 5. 5 fotos: Cláudio Silva Antagonismo entre postura da Polícia Militar e Desgaste físico e psicológico de bombeiro após ho- Acidente de Christian Fittipaldi na Fórmula Indy, o protesto de estudante durante o Movimento ras de trabalho durante o Apagão da Ilha em 2005 após invadir a pista depois de já encerrado o treino do Passe Livre em 2005 tarinense – jornal filiado ao Zero Hora Na mesma época, realizava plantões positivo acarretou sua demissão. de madrugada para a editoria de polícia, – fundado no ano seguinte. Eleito três Sarará acredita que a empresa usou cobrindo folga de outros fotógrafos. Sara- vezes consecutivas o melhor fotógrafo do a ocasião como pretexto para demiti-lo rá conta que a única vez em que “tremeu jornal, foi demitido por justa causa em sem pagar os direitos que lhe pertenciam, na base” foi quando cobria o plantão de 2005. Sarará cobria a Manifestação do uma vez que tinha quase 14 anos de casa. um colega de trabalho e teve que fotogra- Passe Livre – movimento estudantil pela O fotógrafo nunca foi acomodado, nem se far um assalto a banco. Diante das cir- redução da tarifa do transporte público – deixava subordinar sem questionamen- cunstâncias e do fato inusitado, preferiu no centro de Florianópolis e havia parado tos; procurava sempre discutir a edição de contatar o colega que foi lá e tirou a foto no Mercado Público para descansar um suas imagens, a questão dos créditos de que foi capa do jornal no dia seguinte. pouco. Ele e o repórter estavam senta- suas fotografias e seus direitos autorais Sarará acha que fez a coisa certa naquele dos, tomando uma cerveja, e de repente, e inclusive o próprio salário. O fotojorna- momento e que observar o colega em ação a polícia militar prendeu um dos líderes lista tinha o salário mais alto dentre os foi importante para lhe servir de apren- militantes. O repórter fotográfico sacou a outros profissionais da área na empresa. dizado. Com a prática, o fotógrafo expan- câmera para registrar a cena, mas foi im- O processo está na justiça trabalhista e, de acordo com Sarará, o Diário está ten- diu sua área de atuação e passou a tirar pedido pelos policiais. Sarará insistiu no fotos de shows, esporte, política, desen- cumprimento de seu ofício, e levado para tando um acordo para manter o sigilo ju- volvendo a própria linguagem fotográfica. a delegacia, foi processado por desaca- dicial e excluir a ação, a fim de readquirir Em 1985, Sarará foi transferido to à autoridade – ação que já ganhou na alguns benefícios – excludente para em- para Florianópolis e participou da ela- Justiça. Lá foi obrigado a fazer o teste do presas envolvidas em processos -, como boração do projeto gráfico do Diário Ca- bafômetro por duas vezes e o resultado investimento público, por exemplo.
  • 6. 6 fotos: Cláudio Silva Espiríto aventureiro e transgressor de jovens Rotina de trabalho de jovem agricultora no A estética e o glamour do carnaval dos anos no trânsito de Florianópolis Oeste de Santa Catarina 90 na capital catarinense Além dos trabalhos em jornal, Sa- ambos se dava principalmente pelo fato um curso de cinegrafia. Amante do ci- rará também realiza várias exposições dos dois terem tido a mesma trajetória nema em geral, o fotógrafo considera a e sempre desenvolve ensaios fotográfi- profissional, começando como office- fotografia do cinema francês uma das cos pelas cidades aonde passa. Um de boys dentro da redação. Sarará é um dos melhores. seus ensaios mais bem sucedidos foi o curadores da exposição que está prevista Quase sempre carregando uma Caminhos entre quilombos, em 2004. O para novembro deste ano. mochila pesada na costa, transbordan- fotógrafo percorreu diversas cidades do Outra atividade a qual Sarará vem do papéis e documentos, um acessório Norte e Nordeste do Brasil retratando se dedicando hoje é a fotografia de ci- que não falta na bolsa de Sarará é a comunidades negras. Suas fotografias nema. O fotógrafo participou de parte agenda cuja primeira página traz escri- das gravações do filme A Antropóloga, também estiveram presentes no Fórum to toda sua filosofia de vida: “Ética, Li- Social Mundial, nos anos de 2004 e 2005 do cineasta catarinense Zeca Pires, e berdade, Verdade e Justiça”. Baseado em Porto Alegre. Atualmente, Sarará pre- foi convidado para fazer a fotografia das nesses ideais, o fotógrafo tentar levar a tende promover sua própria exposição: o cenas do novo filme de Sylvio Back so- vida da melhor forma possível. “Essa é Prêmio Olívio Lamas de Fotojornalismo bre a guerra do Contestado. Sarará diz minha Bíblia”, ele diz. Apaixonado pelo – em homenagem ao amigo e colega de que busca colocar em prática sua visão que faz, só se ajoelha para tirar algu- profissão falecido em junho deste ano. de jornalista junto ao olhar artístico ci- mas fotos do navegador Amyr Klink, Sarará alimentava uma amizade de mais nematográfico. Além de tentar adaptar que participava de uma coletiva no “ó de 34 anos com Lamas, quem admira- sua linguagem fotojornalística às filma- do borogodó” – como Sarará se referiu à Assembléia Legislativa. ; va profundamente e no qual buscava es- gens, Sarará também se preocupa com pelhar seu trabalho. A identificação de a parte técnica do novo projeto e iniciou
  • 7. 7 [ci nema] E a moda das teias continua por Luisa Frey Bobby entrelaça a vida de 22 personagens envolvidos japonês e sua filha adolescente em Tó- quio e as crianças do mesmo casal ame- com o hotel onde Robert Kennedy foi assassinado ricano levadas dos Estados Unidos para o E México pela babá. Crash liga, a partir de m 2004, saiu Crash – No Limite. Dois um assalto, a vida de pessoas de diversas anos depois, foi a vez de Babel. Re- classes sociais em Los Angeles. Apesar de centemente, no final de julho, che- se passar na mesma cidade californiana, Bobby não chega a abranger o âmbito de gou ao Brasil mais um filme baseado na Bobby conexão entre as múltiplas histórias de toda a Los Angeles, muito menos de di- seus personagens. Com elenco de peso versos países. Tudo se passa no luxuoso e roteiro que mistura ficção e realidade, Ambassador Hotel. Bobby, dirigido pelo ator Emilio Estevez, Lá ocorre o anúncio da vitória nas foi indicado à categoria de melhor filme no eleições primárias da Califórnia (prece- Globo de Ouro. diam a indicação a candidato à presidên- O filme narra o assassinato do sena- cia pelo Partido Democrata) e um discurso Babel dor, e possível candidato à presidência da de Robert Kennedy, cuja campanha se ba- República dos Estados Unidos em 1968, seava em recuperar os ideais anti-racistas Robert Kennedy. Estevez optou por mos- do assassinado Martin Luther King e aca- trar a campanha eleitoral terminada em bar com a Guerra do Vietnã. Apesar de o tragédia a partir da visão de 22 hóspedes e filme se chamar Bobby¸ pouco se aproxi- funcionários do hotel onde se deu o crime. ma de um documentário sobre Kennedy. A diferença principal com as outras A campanha eleitoral serve como pano de Crash experiências semelhantes – Crash e Babel fundo para a trama e contextualiza a si- – está no fato de o número de personagens tuação política norte-americana da época. ser muito maior e a interligação entre suas Os ideais e a morte do líder pacifista unem histórias ser mais próxima em termos es- a vida dos personagens. Acima de política, paciais. Em Babel, a conexão se dá entre Bobby trata de relacionamentos e conflitos um casal de americanos no Marrocos, um humanos – tema que nunca se esgota. fotos: filmposters.it montagem: Maurício Tussi
  • 8. 8 Curiosidades sobre Bobby || Apenas algumas cenas foram filmadas no Ambassador Hotel em Los Angeles, que estava sendo demolido. || Robert Kennedy é representado quase que somente através de imagens suas gravadas. || A personagem de Lindsay Lohan foi baseada na garçonete do motel onde Emilio Estevez escreveu parte do roteiro. || Helen Hunt recebeu o roteiro um dia antes de começarem as filmagens. fotos: bobby-the-movie.com Emilio Estevez demorou sete anos para escrever o filme. || O alcoolismo aparece na pele da fa- O pai do diretor, Martin Sheen, e He- A cena em que Miriam (Sharon Stone) corta o cabelo de seu marido (William mosa cantora Virginia Fallon (Demi Moo- len Hunt interpretam Jack – rico financia- H. Macy) não estava no roteiro. A atriz re), cujo marido e empresário, Tim, é in- dor da campanha de Kennedy – e Samantha deveria fingir, mas ela realmente cortou terpretado pelo próprio Emilio Estevez. As – sua esposa muito mais jovem. O relacio- o cabelo. A tensão visível de Macy era drogas ilícitas também têm vez: os jovens namento marido-mulher está presente real. Cooper (Brian Geraghty) e Jimmy (Shia La- também entre a cabeleireira do hotel, Beouf) – voluntários da campanha de Ken- Miriam (Sharon Stone), e o gerente Paul nedy – provam, através do traficante hippie (William H. Macy), que mantém um ro- (Ashton Kutcher) hospedado no Ambassa- mance com a bela telefonista Angela (He- dor, os efeitos do LSD. ather Graham). Outro casal demonstra a A trágica família Kennedy O racismo é polemizado através de coragem da juventude e a descoberta do Miguel (Jacob Vargas), revoltado com o amor: Lindsay Lohan é Diane, jovem que A família Kennedy foi marcada por tratamento dado a mexicanos como ele. se propõe a casar com o amigo William inúmeras mortes trágicas. A mais famosa é a do Presidente John F. Ken- Em contrapartida, seu conterrâneo e co- (Elijah Wood) para livrá-lo da Guerra do nedy, assassinado em 1963, cinco lega na cozinha do hotel, José (Freddy Vietnã. anos antes do irmão Robert. Ainda Rodriguez), e o cozinheiro negro Edward Esses são apenas alguns dos 22 per- antes, morre o irmão mais velho, (Laurence Fishburne) aprendem a lidar sonagens e seus conflitos. É uma pena Joseph P. Kennedy em uma explosão com o preconceituoso gerente Timmons que atores consagrados como Anthony aérea durante uma missão na Se- gunda Guerra Mundial. A irmã Kath- (Christian Slater). Hopkins tenham papéis de pouco desta- leen também havia morrido em um que – risco que se corre ao lançar mão de acidente de avião. Para terminar, nos tantos subenredos. Na pele de John Casey anos 1980 e 1990, dois dos 11 filhos – porteiro aposentado e fiel ao Ambassa- de Robert Kennedy, Michael Kennedy e dor – Hopkins é o primeiro a recepcionar David Kennedy, morrem relativamente jovens. Kennedy. ;
  • 9. 9 [ m ús ica] A banda do Sargento Pimenta existe (e é mineira) O grupo fictício que completou 40 anos este ano vive há 17 em BH “It was twenty years ago today, Sgt. Pepper taught the band to play” (Foi há 20 anos, por Adriana Seguro Sargento Pimenta ensinou a banda a tocar) - John Lennon/Paul McCartney. Da música tema do CD Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band (1967) E xtrair do Universo The Beatles “A idéia original e aceita de imediato por todos integrantes é a de que a sua natureza peculiar e nós seríamos a tal banda que o Sgt. Pepper teria ensinado a tocar.” projetá-la detalhadamente Jô Rocha para o público. Ideal musical que a Sgt. Pepper’s Band cumpre há 17 anos. Era outono de 1990, em Belo Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band (Banda do Clube de Corações Solitários do Horizonte, quando os amigos e músicos Sargento Pimenta, em português) foi o oitavo álbum dos Beatles, gravado na volta de Jô Rocha e Mauro Mendes tomaram uma viagem espiritual do quarteto à Índia e comemorou 40 anos em junho de 2007. uma decisão. Fundaram a banda - cover dos Beatles -concretizando a paixão mútua por um dos maiores fotos: Dea Tomachi e Roberto Caiafa arte: Thiago Bora ícones do pop e do rock mundial. “O nosso foco inicial era reproduzir o que escutávamos nos discos o mais próximo possível. O grande prazer era descobrir como eles faziam e o que faziam, tanto nos vocais quanto na parte instrumental”, explica o baixista Jô. E é o que realizam os atuais integrantes da SPB: Jô Rocha, Marcos Gauguin, Marcelo Carrato, Victor Mendes e André Katz.
  • 10. 10 Vocal, guitarra solo Belo Horizontino, 48 anos É também produtor musical A entidade “Beatles” é maior do que a soma de seus indivíduos “A Beatle Week é um encontro anual de Beatlemaníacos do mundo inteiro, dá pra se imaginar um lugar melhor para se estar? A grande oportunidade para que a Sgt. Pepper’s mostrasse seu trabalho e Dá pra se imaginar um lugar fosse reconhecida no Brasil e no exterior veio em 1994. A cidade dos Beatles - melhor para se tocar? Visitar Liverpool - a recebeu no Mersey Beatle Festival (Beatles Week). Nos sete anos locais da história dos Beatles seguintes, voltou a tocar no evento, que presenteia os beatlemaníacos com shows que a gente sempre conheceu de bandas cover, exposições e outras atrações. “Nós tivemos o prazer deles nos pelos livros é uma emoção muito considerarem uma das três melhores bandas que lá se apresentaram nas edições grande.” em que participamos”, conta Jô. Gravações C ome and Get It – o primeiro CD independente – saiu em 1998, resultado de cuidadosa pesquisa para recriar um pacote de músicas que os Beatles não gravaram. Segundo o conhecimento da banda, ou porque foram compostas para outros artistas ou por terem achado que não estavam boas o suficiente. É só ouvir o CD para convir que os arranjos do cover mineiro triunfaram no resgate de um tesouro beatleniano escondido. “Tentamos dar às músicas a forma que poderiam ter tido com a gravação dos Beatles, usando o máximo de citação, do clima, da vocalização deles”, explica Marcos Gauguin, produtor e guitarrista solo da SPB. “O maior elogio foi receber um e-mail do próprio Paul MacCartney, que escutou o disco, achou legal e deu todo apoio.” No ano seguinte, continuaram o projeto no disco Abbey Road com Afonso Pena - suposta intersecção da célebre rua em que fica o estúdio homônimo com uma das principais avenidas de Belo Horizonte. Pode-se dizer que esse cruzamento existiu - ou aconteceu - em 1998. Foi quando o cover de BH gravou duas músicas no Abbey Road Studios, local responsável por eternizar quase toda a obra do The Beatles. Além de interpretarem o clássico “Hey Jude”, criaram uma música própria, intitulada “Two Wars”, para o Marcos Gauguin álbum Why Don’t We Do It in Abbey Road. O projeto reuniu faixas de 16 covers de oito países (inclusive da também brasileira Túnel do Tempo, do Rio de Janeiro).
  • 11. 11 Bateria e percussão Belo Horizontino, 37 anos Jo Rocha Empresário artístico e técnico em (Alan Rocha) Victor Mendes transações imobiliárias. Toca na SPB desde o início . “Me identifico com cada um: Ringo, a simpatia; Paul, a energia; John, o carisma; e George, a competência.” (sobre os integrantes do The Beatles) Baixo Guitarra base e vocal Carioca, 52 anos, mora em BH Mineiro de Pedra Azul, 41 anos desde 1975 Concilia a atividade de Engenheiro formado, hoje se administrador com a de músico, dedica somente à banda que na banda desde 2004. ajudou a fundar. Marcelo Carrato “A intenção é executar as suas “Nunca tivemos a intenção de (dos Beatles) canções da melhor fazer um ‘teatro’ em nossas forma possível e levar ao público apresentações. A essência é fazer a mesma emoção que ele tem soar no palco aquilo que se ouve quando escuta os Beatles nos discos.” realmente.”
  • 12. 12 André Katz (André Kaczmarkiewicz) Shows A banda inglesa que marcou a década de 1960 coleciona gerações de fãs desde então. Essa renovação é vivenciada de perto pelo quinteto mineiro, que reunia admiradores em apresentações semanais na casa de shows Mr. Beef na década de 1990 e hoje toca no Pau & Pedra, quase todos os sábados. “Atualmente, o público presente em nossos eventos são, na grande maioria, jovens que aprenderam a gostar da música dos Beatles através das gerações anteriores”, atesta Jô. E prevê: “Beatles já é a música clássica do ano 2060. É eterna.” Num show da SPB, estão – é claro - aquelas composições na ponta da língua do público, como “Help” e “Don’t Let Me Teclado e vocal Down” e ainda músicas menos comerciais como “Devil in Her Carioca, 24 anos, mora em Minas Heart”, “I Me Mine” e “Every Little Thing”. ; desde 2002 Pau & Pedra, às 23h. Trancou a faculdade de jornalismo Avenida Getúlio Vargas, 489, quando se juntou à banda, em bairro Funcionários, 2004. Belo Horizonte. (031) 3284-2397 “Em 1992, descobri o (CD) Sgt. Pepper’s. Eu já era louco por música, mas a sensação de escutar aquele disco foi incrível. Percebi que os Beatles eram demais! Hoje sou um membro da banda que tem o mesmo nome do primeiro disco que ouvi. Acho uma coincidência muito legal.”
  • 13. 13 [ l i teratura ] egro, njo pornográfico njo N nde a A osso gra do n “(...) A partir de Álbum de família – drama que se seguiu a Vestido de noiva – enveredei por um caminho que pode me por Marina Veshagem levar a qualquer destino, menos ao êxito. Que caminho será este? Respondo: de um teatro que se poderia chamar assim – ‘desagradável’. (...) E por que ‘peças desagradáveis’? Segundo já disse, porque são obras pestilentas, fétidas, capazes, por si sós, de produzir o tifo e a malária na platéia.” (Nelson Rodrigues) Um homem negro que cega a filha e renega a própria cor; sua E mulher branca que afoga os m se tratando de Nelson Rodrigues, já se espera filhos mestiços. Esses são alguma história de certa forma angustiante. An- os personagens principais gustia de tão verdadeiro e espanta pela tragicidade tão real. Entre os temas recorrentes em suas obras estão: da peça Anjo Negro, de adultério, sexo, incesto, solidão, obsessões e taras. A lin- Nelson Rodrigues guagem do autor é simples e direta, com diálogos rápidos. Anjo Negro, escrita em 1946, esteve dois anos sob censura (só estreou em abril de 1948) e foi recebida com duras críticas, acusada de “obscenidade” e “desrespei- to à moral”. Nelson faz um retrato do preconceito ra- cial e destaca a violência como base dos fundamentos estruturais do modelo étnico-social brasileiro. Talvez a aversão à peça tenha sido provocada pelo choque entre o que o público comum poderia esperar de uma peça teatral e o que era apresentado no palco: textos com estruturas clássicas, como as das peças em três atos, mas com profundidade dramática e temas polêmicos.
  • 14. 14 Por conseqüência de uma maldição, Ismael e Virgínia A peça explicita a vivência de amor e ódio num casal se casam. O homem, negro, vestido de branco, aprisiona a inter-racial e a ambigüidade diante de sua linhagem mes- mulher na casa de muros altos. A mulher, branca e precon- tiça. Trata-se de uma peça mítica, que seria um “mergulho ceituosa, afoga no tanque os três filhos mestiços do casal. no inconsciente primitivo do homem”, sendo, portanto, his- A atmosfera de assassinato alimenta uma relação doentia tórias atemporais e repletas de significados místicos. Uma de amor e ódio. “Os crimes nos uniam ainda mais; e por marca dessa característica é encontrada no início da obra que meu desejo é maior depois que te sei assassina”, diz através da seguinte citação: “a ação se passa em qualquer Ismael. O irmão cego e branco do homem chega para com- tempo, em qualquer lugar”. Outras marcas são os elemen- pletar sua maldição e consumar a tragédia. tos poéticos e metafóricos, como a presença de dois cegos Ismael repudiava tudo o que remetesse a sua cor: em cena, os infanticídios cometidos pela mãe preconcei- nunca se aproximou de mulheres negras, não toma- tuosa, a linguagem poética e delirante, a mistura confusa va cachaça - que considerava bebida de negro -, ti- entre atração e repulsão. rou da parede o quadro de São Jorge e se casou com O objetivo não é esclarecer sobre o racismo nem levar uma branca para provar sua “superioridade”. Virgínia a platéia pensar sobre ele, mas sim envolver o espectador e era o arquétipo do preconceito racial. Sua relação com fazê-lo reparar nessa característica do brasileiro. A carac- o marido sugere dependência, ódio, repulsa e atração. terização dos personagens mostra a preocupação do autor de não tratar o negro como uma figura folclórica ou deco- “Se eu quis viver aqui, se fiz esses muros; se ninguém en- rativa. Fica claro também que es- ses personagens possuem dramas tra na minha casa - é porque estou fugindo. Fugindo do universais, como o ciúme patoló- desejo dos outros homens. Se mandei abrir janelas muito gico, o combate entre mãe e filha o incesto e as relações de depen- altas, foi para isso, para que você esquecesse, para que a dência entre casais. É nesse ponto memória morresse em você para sempre. Virgínia, olha que a realidade da obra pode es- tar muito próxima de todos nós. ; para mim, assim! Eu fiz tudo isso para que só existisse eu. Compreende agora? Não existe rosto nenhum - ne- Anjo Negro nhum rosto branco! - só o meu, que é preto...” (Ismael) Editora Nova Fronteira, 2005 112 páginas 15 reais
  • 15. 15 Assim como o corpo, a memória precisa de cuidados diários para funcionar bem A : iário lguém é capaz de decorar a seqüência ria d das cartas de um baralho em apenas três minutos? O homem-memória brasileiro ó io é. Aos 27 anos, o mineiro Alberto Dell’Isola az rr em cíc se prepara para participar do Campeonato Fe Mundial de Memória, que acontece entre os na ari dias 31 de agosto a 2 de setembro deste ano, no M er M r Bahrain. É a primeira vez que um competidor po sul-americano participa da competição. “ estacionado o carro, onde estava x e Sempre me esquecia onde havia um ” a chave ou até mesmo o nome Para quem tem uma memória fraca e acha que não se pode mudá-la, Alberto avisa que tudo é uma questão de hábito: “Antes de me tornar o homem-memória brasileiro, eu já tinha conquistado um título de memorização: o da pior memória do mundo. Sempre me esquecia onde havia estacionado o carro, onde estava a chave ou até mesmo o nome das pessoas que conviviam comigo. Até que, em 2004, comecei a me sentir incomodado e resolvi treinar a minha memória”. ilustração: Felipe Parucci
  • 16. 16 No artigo Memória: o que é e como melhorá-la, a neurocientista Silvia Helena Perda de memória Cardoso explica que existem três tipos de memória: a ultra-rápida, que não dura mais Existem inúmeros fatores responsáveis por que alguns segundos; a de curto prazo, prejuízos à memória. As doenças mais comuns que com duração de minutos ou horas (é o que acarretam perda da capacidade de reter informações permite guardar um número de telefone até são a amnésia e o mal de Alzheimer. que seja possível anotá-lo) e a de longo prazo, A amnésia - perda parcial ou total da memória - pode ser causada por distúrbios no funcionamento que permanece por dias, semanas ou anos. das células nervosas ou por fatores psicológicos. O Essa última é a mais difícil, as informações primeiro caso é chamado de amnésia orgânica e o precisam ser consolidadas, para que sejam segundo, de amnésia psicogênica. “ retidas por mais tempo. O mal de Alzheimer é caracterizado pela perda progressiva de memória, principalmente devido à re- O apresentador pode escolher dução de neurônios na região do hipocampo. O doente esquece o que perguntou, nomes de pessoas e, em qualquer página da revista, e muitos casos, se aliena do convívio social. Entretanto, não é só através de doenças que a eu digo a posição das fotos e memória é prejudicada. A falta de vitamina B1 - en- contrada em alimentos integrais, na ervilha, no feijão, ” entre outros - também altera seu funcionamento. A disposição de texto tiamina (nome químico da vitamina B1) melhora a ati- tude mental e o raciocínio. O álcool, café e cigarro são considerados seus inimigos. Foi justamente a memória de longo-prazo O álcool, mesmo ingerido em baixa quantidade, que Alberto teve que treinar. Ele estudou a fun- afeta a memória de curto prazo. Um estudo da Univer- sidade da Califórnia, coordenado pela psiquiatra Susan do o assunto e começou a fazer as demonstra- Tapert, revela que o consumo regular de álcool afeta ções exigidas nos Campeonatos de Memória. o hipocampo, principalmente quando começa na ado- A mais difícil, na opinião de Alberto, é memo- lescência. rizar uma revista na íntegra. “O apresentador pode escolher qualquer página da revista e eu digo a posição das fotos e disposição de todo o texto da mesma. Ela é a mais difícil pela quantidade de informação que deve ser me- morizada no menor tempo possível, geralmen- te memorizo em menos de três horas”, diz.
  • 17. 17 Dicas para concentração Alberto é autor do livro Super-Memória: você também pode ter uma, onde dá dicas e (fonte: http://memorizacao.blogspot.com/) propõe exercícios para treinar a memória (ver Fique aqui agora box). Ele acredita que qualquer pessoa pode Toda vez que você se distrair, diga: “Fique aqui agora”. Se possível, diga ter uma super-memória e, inclusive integrar em voz alta. Caso contrário, apenas repita a frase diversas vezes em sua a equipe brasileira de memória (hoje formada mente. Em seguida, volte suas atenção para a atividade que estava fa- por Eduardo Costa e Ricardo Kossatz, além de zendo. No início, talvez diga essa frase diversas vezes. No entanto, com o passar do tempo, a concentração deve melhorar. Alberto): “basta memorizar a ordem das cartas de um baralho recém embaralhado em menos Marcando os parágrafos de dois minutos e memorizar 100 dígitos em menos de três minutos”. ; Caso esteja lendo um livro ou revista, marque com um lápis cada pará- grafo enquanto faz a leitura. Após a automatização, possivelmente ele será um bom exercício para a concentração. Relatório de distrações Flash cards Toda vez que se distrair, faça um traço ou marque a Flash card é um pedaço de papel (geralmente Algumas dicas do homem-memória hora exata daquele momento. Esse será seu relatório cartolina), utilizado como ferramenta para o brasileiro para quem quer melhorar de distrações. O simples fato de estar marcando suas aprendizado. O tamanho de cada flash card é a memória: distrações já vai ajudar no aumento de sua atenção. variável. Recomendo que seja compatível com o tamanho de sua carteira ou bolso da calça. Fenômeno da reminiscência Em cada cartão você escreve alguma pequena Trocando tópicos A primeira regra da reminiscência informação que deseja aprender: leis, fórmulas Procure não estudar exaustivamente apenas um tópi- para o aprendizado (não apenas de ou até mesmo tabuada. Você deve guardar to- co. Se alternar entre assuntos diferentes, certamente números) é: um momento de des- dos esses pequenos cartões em um local de fácil aumentará a atenção e se desgastará muito menos. canso vale mais do que dois mo- acesso (geralmente a carteira), para que possa O cérebro adora diversidade e recompensa com uma mentos seguidos de repetição. verificá-los durante todo o dia. maior concentração. Depois de haver repetido a infor- Os flash cards funcionam por dois grandes mo- mação a ser memorizada, faça uma tivos: pequena pausa e repita-a outra vez. a) respeitam o fenômeno da reminiscência; Depois, faça outra pausa e repita-a b) causam um melhor aproveitamento do tem- novamente. Cada pausa permite a po livre, visto que você pode dar uma pequena atuação do fenômeno da reminis- olhada em cada um deles no ponto de ônibus, na cência, aumentando a probabilidade sala de espera do dentista ou até mesmo no tra- de que você se lembre mais tarde. balho (se você não for piloto de avião, é claro). Assim, nada de ficar repetindo fór- mulas matemáticas ou leis como um papagaio! A memória precisa de tem- po para processar cada repetição.
  • 18. 18 por Daniel Ludwich I nício de uma tarde de domingo. O cheiro do churrasco vizinho invade a casa de dois pisos localizada numa rua tranqüila entre os bairros do Córrego Grande e Santa Mônica, em Florianópolis. No quintal dos fundos, Sexta-Feira aproveita para tomar um solzinho. Da janela, fechada por causa da fumaça, escuta-se a voz abafada de Galvão Bueno. Parece que o Rubinho não vai conseguir completar a prova. Sexta-Feira não se importa com isso, ainda mais quando percebe que não está sozinho. Do alto da ameixeira, quatro pares de olhos o observam. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, o pobre papagaio é atacado à covardia. Enquanto dois sagüis seguram as suas asas, o resto da gangue aproveita para lhe roubar a comida. sequilíbrios O tormento do louro só teve fim com a providencial ajuda de Steban, o cão amigo, que afugentou os malfeitores. e O papagaio teve azar. Pelo menos é o que se conclui conversando D com a engenheira agrônoma Cláudia de Miranda Queiroz Lopes, responsável pelo setor de educação ambiental do Parque Ecológico do A polêmica dos sagüis na Córrego Grande, onde vivem cerca de 30 sagüis. De acordo com ela, ilha de Santa Catarina são raras as reclamações de vizinhos envolvendo esses animais. A única que se tem registro, aliás, foi feita por um criador de curiós que, ao chegar em casa, encontrou dois sagüis dentro de uma gaiola onde antes havia 12 ovinhos. O criador ainda afirmou que a tela da gaiola estava arrebentada e os sagüis “de barriga cheia”. Dada a chacina de uma dúzia de futuros curiós, diriam alguns que o papagaio teve sorte. Segundo o professor Rogério Guerra, do Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o pequeno grupo de sagüis poderia até ter “dado cabo” do assustado Sexta-Feira e “dividido a presa” entre si. Matias Garcez, testemunha ocular do ocorrido, não acredita na hipótese e qualifica a ação como um simples roubo, descartando qualquer possibilidade de tentativa de latrocínio, estupro ou coisa que o valha. “Eles só encheram um pouco o saco do louro, roubaram a comida e foram embora”, contemporiza.
  • 19. 19 Culpados ou inocentes, a verdade é Tudo começou há algumas déca- que as histórias de sagüis em Florianópo- das. Um caminhoneiro, cujos parentes lis têm se reproduzido mais rapidamente possivelmente estavam cansados de ga do que os próprios. Não há como dar dez nhar sempre as mesmas fitinhas do Se passos sem esbarrar em um primatólogo nhor do Bonfim, teve a brilhante idéia de em potencial. capturar um sagüi para presentear a pa- - Sagüis? Meu filho, isso é uma pes- troa. Estava aberta a porteira. De repente, te! Eles se reproduzem mais rápido que virou moda trazer os bichinhos para o sul coelhos e, como não são daqui, não pos- do país. Traficantes de animais desco- suem predadores. Os desgraçados estão briram o filão e passaram a vender sagüis acabando com todas as nossas aves na- bêbados nas beiras das estradas. Refeitos tivas! do porre, muitos fugiam ao chegar em - Todas? – pergunta o interlocutor terra estranha – outros eram abandonados assustado. por pessoas que prefeririam ter ganhado - Sim, todas! E ainda transmitem um pônei. Assim, os sagüis começaram doenças. São piores do que ratos! a povoar as matas da ilha. O Poder Públi- Cabreiro, o sujeito segue a cami co – sempre alerta! - resolveu acabar com nhada temendo que um bando de sagüis a festa. Através do Instituto Brasileiro de lhe roube a carteira. E as histórias anti- Desenvolvimento Florestal (IBDF), ante- sagüis são apenas algumas das faces cessor do atual IBAMA, o governo passou a deste caleidoscópio ideológico em que se fazer grandes apreensões desses animais. transformou a discussão. A situação é tão E o que o IBDF fazia com eles? Soltava confusa que, muitas vezes, lados com- nas áreas de mata atlântica preservada. pletamente antagônicos compartilham Obedecendo ao instinto criador, da mesma visão sobre determinado as- os sagüis cresceram e se multiplicaram. pecto – como dos possíveis prejuízos que O quanto eles cresceram é um mistério. uma espécie introduzida pode causar no De acordo com a bióloga Cristina Valéria ecossistema local – enquanto se engalfi Santos, é impossível determinar ao certo nham mortalmente em dezenas de outros. o número de sagüis existentes em Flori- Indiferentes e sempre fofinhos, os sagüis anópolis. Doutora em Comportamento seguem a sua vida. Ora, bolas... Quem Animal pela USP, ela realizou uma pes- poderia imaginar que estes pequenos pri- quisa na qual procurou, entre outras coi- matas da família Callithrichidae seriam sas, mapear os locais da ilha habitados capazes de despertar ira e paixão na pac- por sagüis e verificar se eles estavam real- ata ilha de Santa Catarina? mente afetando a ave-fauna da região.
  • 20. 20 O resultado confirmou que são três as es- em saber sobre a situação dos sagüis na ilha e pécies de sagüis existentes na ilha: o Callithrix a vocação polêmica do professor, amparada por geoffroyi ou sagüi-de-cara-branca – presente dez anos de experiência com esses animais, é no sul da Bahia, Minas Gerais e Espírito San- sempre garantia de uma boa matéria. to; Callithrix jacchus ou sagüi-de-tufos-bran- Guerra acredita que os sagüis são re- cos – vindo do Nordeste; e o Callithrix penici sponsáveis pelo desaparecimento de algumas llata ou sagüi-de-tufos-pretos – originário das espécies de aves, répteis e anfíbios da ilha de regiões de cerrado do país e o melhor adaptado Santa Catarina. Ele afirma ainda que, por não ao ecossistema da ilha. A área ocupada por eles possuírem predadores naturais, encontrarem é a do Maciço da Costeira, que abrange bair- abrigo com facilidade e comida em abundân- ros como Rio Tavares, Saco dos Limões, Pan- cia, a população desses animais está em con- tanal, Córrego Grande e Lagoa da Conceição. A stante e vertiginoso crescimento. Afirmações pesquisadora concluiu que os sagüis não são com as quais Cristina Santos não concorda. Ao responsáveis pela diminuição das aves da ilha menos, em parte. A bióloga afirma que, mesmo – e que essa redução pode mesmo nem estar fazendo parte do cardápio dos sagüis, os ovos ocorrendo. A poucos metros dali, no Laboratório não são a principal fonte de alimentos desses de Psicologia Experimental, o professor Guerra animais. Cristina também desacredita a tese tem opiniões bem diferentes. de que os sagüis levam uma vida mansa, afir- Para se chegar à sala do professor Rogério mando que eles podem ser predados tanto por Guerra é necessário passar pelo que deve ter sido pequenas aves de rapina quanto por gatos do- parte do sistema de segurança do laboratório – mésticos, além de serem vítimas fáceis de um uma lembrança de tempos mais agitados. Próx- frio mais intenso. O frio e a diminuição da oferta ima ao planetário da UFSC, a pequena casa de de alimentos durante o inverno seriam as for- madeira se destaca pela tela que circunda toda mas pelas quais esses animais seriam natural- a construção. Junto à porta, uma pesada grade mente controlados. O problema – e nisto os dois de ferro ainda oferece a última resistência ao vis- professores concordam – é que a maioria das itante. Em tempos áureos, o laboratório chegou pessoas não resiste à tentação de alimentar os a abrigar mais de 150 sagüis, usados pelos pes- bichinhos, garantindo a eles alimentação farta quisadores em estudos comportamentais. Desde durante todo o ano. 2002, entretanto, não há mais nenhum deles por “As pessoas gostam desses animais, acham lá. De acordo com Guerra, o alto custo de ma- bonitos, mas eles são um problema seríssimo de nutenção dos viveiros impediu que as pesquisas saúde pública”, diz Guerra. Atrás de uma mesa continuassem. Nas paredes da sala do sobre a qual repousam alguns animais ental- professor, alguns recortes de jornal dos tempos hados em madeira e cercado de livros por todos em que o laboratório era notícia. Vez ou outra, os lados, o professor reclama da pouca atenção ele conta, os repórteres ainda o procuram. Quer- dada ao assunto.
  • 21. 21 “Eu tenho impressão que a sociedade diminuição do número de pássaros, aliás, mais. Eu sinto muita falta deles”, lamen- ainda não se escandalizou porque não é um fenômeno percebido por todos os ta. O filho temporão, Paulo Kruel Herre- houve nenhuma transmissão de doença, moradores. “Só tem aumentado o núme- ra, apressa-se em corrigir: “Não sumiram algum caso de epidemia que tenha sur- ro de andorinhas e gaivotas. E se a gente nada, vó. A senhora que está acordando gido.” E, lembrando que “a AIDS veio do reparar, são os pássaros que fazem os muito tarde”. Com uma risada, Vozinha babuíno”, faz o vaticínio final: “Logo, logo, ninhos nos beirais das casas – aonde os concorda. “É, enquanto não são 10h eu Florianópolis terá que estudar uma forma sagüis não chegam”, observa Nelson Ma- não levanto.” de diminuir a população desses animais”. noel Pereira, presidente da associação de Os sagüis sem coração que aban- Cristina faz pouco caso do catastrofismo moradores do bairro. donaram Vozinha não estavam realmente de Guerra e diz que os sagüis “não são a Na Costa, as aves não tem sido as muito longe dali. Alguns metros abaixo, praia” do professor. “O trabalho dele é com únicas vítimas dos sagüis. Ildo Sebastião um grupo brinca nas árvores que mar- roedores, ele não é primatólogo”, provoca. dos Santos, 45 anos, conta que um grupo geiam um pequeno córrego. Ao percebe- Mas, ainda que não fale em epidemias e deles destruiu a plantação de milho do rem a presença humana, aproximam-se. no perigo de algum vírus desconhecido, sogro. “Cada vez mais vai ser uma in- “Querem comida”, diz a moradora Elite a bióloga reconhece que a proximidade vasão”, afirma o morador que – fique bem Vieira Comicholi. Segundo ela, a senhora filogenética entre humanos e primatas faz claro! – não conhece o professor Guerra. que mora na casa ao lado alimenta os ani- com que ambos tenham doenças em co- Acordado todos os dias pelo “berreiro” mais com freqüência. “Ela compra cachos mum e, existindo a doença, pode haver o dos animais, Ildo diz que não pode mais e cachos de bananas só para alimentar os contágio. Como exemplo, ela afirma que os deixar a porta da cozinha aberta. “É só sen- sagüis.” Concorrência desleal para a hu- sagüis podem transmitir raiva, mas não tir cheiro de comida que eles vêm”, reclama. milde cesta de frutas da Vozinha. a transmitem em Florianópolis porque a Há, entretanto, quem não se importe A noite chega. Enquanto a Costa doença já foi erradicada do estado. com os pequenos furtos. Celi Domingues da Lagoa vai ficando para trás, as pala- Alheios ao quiprocó acadêmico, Kruel Fonseca, 87 anos, sente falta dos vras do professor Guerra voltam embala- os moradores da Costa da Lagoa têm seus bichinhos. Conhecida como Voz- das pelo barulho monótono do motor do opiniões e impressões próprias a respeito inha, a gaúcha radicada há 16 anos na barco: “Florianópolis vai precisar estu- do fenômeno dos sagüis. Ronaldo San- Costa teve uma relação bastante intensa dar uma forma de diminuir a população tos, 34 anos, afirma que quando criança, com os sagüis. Na casa onde mora sozin- de sagüis”. De repente, um ruído. Muda mesmo com o costume de se embrenhar ha, localizada no alto de um morro próx- a cadência do motor e o que se ouve é a na mata, nunca havia visto um sagüi. “Há imo ao ponto oito do ancoradouro, havia voz da bióloga Cristina entrando na dis- dez anos ainda era raro de vê-los por aqui”, uma grande goiabeira cujos galhos se cussão: “A população de sagüis não está completa. Ronaldo é um dos poucos na misturavam com a casa. Foi através dela aumentando, eles não estão acabando Costa que liga o aparecimento dos sagüis que os animais se aproximaram. “Eles en- com a as aves e não podemos dizer que ao desaparecimento de algumas espécies travam dentro de casa e comiam as fru- ele esteja competindo com alguma espécie de pássaros. “Tinha passarinho de penca tas que eu deixava em cima da geladeira. nativa”. Um pequeno engasgo e aflora a quando eu tinha 10 anos. Aracuã, gralha Coisa mais linda!”, lembra Vozinha. “Eles indignação de Ildo: “Eu só queria pegar um deles e dar uma surra”. ; azul, sabiá, coleira, saíra, tié. Hoje, dá pra passeavam pelo cordão do varal, subiam dizer que diminuiu em 50%”, analisa. A no meu colo... Mas agora eles não vêm
  • 22. 22 A culinária do mundo de Harry Potter por Fernanda Dutra V iver no mundo mágico parece fácil. Se faltar roupa, é só agitar a varinha e o problema será resolvido. Se, de repente, surgir o desejo de viajar até o Peru, mais uma vez a varinha dá conta. Mas o mundo idealizado pela britânica J.K. Rowling não seria o cenário para a história de Harry Potter se todos os problemas pudessem ser solu- cionados com uma varinha. De acordo com a Lei de Gamp para Transfiguração Elemental, comida é uma das cinco coisas que não apa- recem do nada. Os bruxos podem transformar coisas em comida, aumentar a quantidade da que já têm ou trazê-la de algum lugar em que esteja armazenada. Mas do nada, não. Apesar disso, foram poucos os momentos em que fal- tou comida no prato de Harry. A Escola de Magia e Bruxa- ria de Hogwarts é conhecida pelos maravilhosos banquetes fartos; a Sra. Weasley - mãe do melhor amigo Rony - co- zinha como ninguém; e as opções de doces encontradas na Dedosdemel, no povoado vizinho à escola, Hogsmeade, dão água na boca. A culinária bruxa tem influências tanto da Inglater- ra, quanto dos povos da Antigüidade. O café da manhã de Hogwarts sempre tem salsichas e ovos mexidos, assim Cena do filme Harry Potter e o Cálice de Fogo
  • 23. 23 como o das casas inglesas. A bebida preferida de Dumbledore - diretor da Escola - é o hidromel, fabricada antes mesmo do vinho e da cerveja. A maior parte das comidas criadas por Ro- wling são doces: Feijõezinhos de todos os sa- bores, sapos de chocolate, varinhas de alcaçuz, bolos de caldeirão, chicletes de baba-bola, vo- mitilhas, febricolate, delícias gasosas, cremes de canário, entre outros. Já podemos comprar vários desses produtos em lojas de nosso mun- do trouxa – nome dado ao mundo não-bruxo na O último livro da série Harry Potter série - , como os dois primeiros da lista. foi lançado em inglês no fim de julho. Har- A abóbora, muito relacionada à bruxaria ry Potter and The Deathly Hollows vendeu em outras histórias, é base de vários pratos e 8,3 milhões de cópias em apenas 24 horas, bebidas: suco de abóbora, abóbora assada, tor- batendo o próprio recorde, atingido com o tinhas de abóbora, doce de abóbora... volume anterior. No Brasil, Harry Potter e as Em Hogwarts, as refeições são carregadas Relíquias da Morte, título provisório, tem o de calorias. Além de salsichas e ovos, as carnes lançamento previsto para o dia 10 de no- de porco, carneiro e boi são base para várias vembro. refeições, como pudim de carne, bacon, bife e O enredo do livro acompanha a primei- pudim de rim, costelas. Peixes, massas, saladas ra vez que Harry perde o ano letivo em Hog- ou arroz dificilmente são servidos. warts. Na companhia dos melhores amigos, A cozinha não é lugar para os alunos de o protagonista vai em busca dos horcruxes, Hogwarts. Harry, Rony e Hermione, a melhor objetos que precisam ser destruídos para amiga do protagonista, a conheceram somente que o vilão Lord Voldemort morra. em seu quarto ano na escola, no livro Harry Pot- Em julho, também chegou aos cin- ter e o Cálice de Fogo. Quem prepara a comida emas o quinto filme da série, baseado no para as centenas de estudantes são os elfos do- livro Harry Potter e a Ordem da Fênix. O mésticos - seres mágicos escravos dos bruxos. filme - dirigido por David Yates - mostra o Hogwarts tem mais de cem elfos trabalhando na ressurgimento de Voldemort e a preparação cozinha, que é ampla, com teto alto e cheia de da comunidade bruxa para lutar contra ele, tachos e panelas de latão empilhados. Há qua- mas se foca no protagonista, angustiado tro grandes mesas logo abaixo das que ficam no pela adolescência. salão principal, onde os alunos se sentam. O Assim como o livro, o filme também que os elfos colocam à mesa aparece no salão. bateu recordes. Só na sessão de estréia, à Algumas das delícias doces do mundo meia-noite de uma quarta-feira, arrecadou mágico são fáceis de se encontrar no mercado 12 milhões de dólares. A marca anterior era após o sucesso do jovem bruxo. Outras podem de O Senhor dos Anéis – O regresso do Rei, ser cozinhadas em casa. Mas bom mesmo seria que conseguiu oito milhões de dólares em poder sentir-se flutuando ao beber uma delícia 2003. gasosa! Cena do filme Harry Potter e a Ordem da Fênix
  • 24. 24 Sapos de Chocolate Cerveja Chocolates ao leite em forma de sapo são encantados Amanteigada para pularem assim que o pacote é aberto. Vêm com figurinhas colecionáveis dos bruxos mais Uma das bebidas famosos da História. No primeiro livro, mais famosas no Harry Potter e a Pedra Filosofal, uma des- mundo bruxo. Tem sas figurinhas ajuda o protagonista a des- baixo teor alcoólico, vendar um dos muitos mistérios que tem mas elfos domésticos que resolver. são muito sensíveis a ela. Quando servida Receita em garrafas, é ge- Ingredientes lada e, em canecas, -1/4 de uma lata de leite condensado quente. No mundo -1 colher de sobremesa de qualquer tipo de chocolate trouxa, existe uma em pó bebida de nome se- - Pouca bolacha (salgada ou maizena) ralada melhante, mas com - Pequenos pedaços de chocolate ao leite sabor diferente e não- -2 colheres de sorvete de creme alcóolica. A receita -Cobertura de caramelo abaixo foi criada como uma mistura Modo de fazer da bebida bruxa e da 1. Esquente no microondas por 3 minutos o leite con- trouxa. densado com o chocolate em pó e a cobertura de cara- melo. Receita: Feijõezinhos de todos os sabores 2. No momento em que tirar do microondas, jogue a Ingredientes bolacha, o sorvete de creme e os pedaços de chocolate. -25 g de cobertura de 3. Misture bem. Morango, uva, cara- sorvete sabor cara- 4. Coloque no microondas por mais 3 minutos. melo, cera de ouvido, melo 5. Misture bem e faça a forma de 1 ou 2 sapos. vômito... Realmente -570 ml de leite todos os sabores -275 ml de sorvete de podem ser encontra- creme derretido. dos em um pacote de Delícias Gasosas Feijõezinhos de todos Modo de fazer os sabores. Coloque tudo no Feitas somente com sorvete de frutas e liquidificador, bata e ferrão de gira-gira - ingrediente comum sirva. ; em poções que fazem flutuar. O doce, vendido na Dedosdemel, faz com que o bruxo saia alguns centímetros do chão.
  • 25. 25 Ontogênese de um Bar das mulheres que corriam no verão para plantar um jardim – soterrado pela neve três meses depois. Como surfista, Igor florianópolis O encontrou na Lagoa da Conceição um relógio na entrada da ponte da lugar muito mais apropriado que o lago Lagoa marca 0:00, mas eram dez Ontário (um dos cinco Grandes Lagos para as onze. Um pouco mais à da América do Norte, em cujas margens frente, na Avenida das Rendeiras, gran- está localizada a cidade de Toronto). des janelas revelam um ambiente ilumi- Em abril deste ano, o irmão de John nado por lâmpadas fracas e velas sobre casou-se no Guarujá, e a família austra- as mesas. “______ Café”, lê-se em uma liana toda o acompanhou na lua-de-mel placa na calçada. A porta abriu-se para no Brasil. John leu sobre Florianópolis mostrar um pequeno grupo de pessoas. no avião, em uma revista que prometia John, sentado à mesa, rabisca em um ser uma cidade “surpreendente”. O pri- caderno. Igor, com os braços estendidos, meiro lugar que visitou ao chegar a praia ocupa quase todo sofá de três lugares. da Joaquina: o céu azul, a areia branca, A história. No local reside a grande diferença. a água: “Surpreendente”. Foi o bastante Duas semanas antes, eu quase passara para conquistar mais um surfista. Do começo ao fim direto pelas colunas marrons e os len- Quando os dois se conheceram, çóis que escondiam um amontoado de Igor precisava de dinheiro e John esta- latas de tinta e garrafas de refrigerante va hospedado em uma pousada, pagan- por Carolina Moura vazias. Conhecera Igor e John de pincel do diária. “Vamos alugar um bar e ficar em punho, e o pequeno bar ainda em re- morando lá”, sugeriu John. Ele entrou forma. “Vai abrir amanhã à noite”, pro- com o aluguel, Igor pagava o que podia. meteu Igor. Os dois começaram a reformar o lugar, Igor é de Ribeirão Preto, São Paulo. cheios de idéias. “Você conhece algum Formado em Marketing, estudou em To- artista plástico daqui?”, perguntou-me ronto, Canadá. Trabalhando lá, ganha- John, no dia em que nos conhecemos. va 4 mil dólares por mês; fazia cruzeiro O objetivo era expor quadros de artis- no lago, viajava de avião, ia para Nova tas locais e fazer leilões. Um espaço para Iorque. Mas, para ele, isso não era quali- arte, música e língua inglesa, já que o dade de vida. Passava sete meses e meio sócio australiano só fala “o livro está so- debaixo de neve. “As pessoas lá dão valor bre a mesa” em português – e com difi- a outras coisas”, observa. Dá o exemplo culdade. foto: globalrestaurant.co.uk arte: Maurício Tussi
  • 26. 26 O bar é pequeno. Um balcão baixo saber quando, afinal, é meia-noite. não chega a esconder a cozinha, onde - Que tipo de bolo você quer? – per- ficam expostas as garrafas de bebida. As guntou Ciara, americana de Los Angeles. velas descansam sobre quatro ou cinco - De Manga. mesas redondas, rodeadas por algumas - Então você não vai ganhar bolo. cadeiras fora de lugar. As paredes os- Quando se chega à conclusão de tentam alguns quadros, as luminárias que já é meia noite, elevam-se os ânimos: são coloridas. Uma cortina improvisada “Happy Birthday to you!”, “Pode entrar, esconde uma das “camas” – a outra é o Marylin Monroe!”. Mas John confessa que sofá, antes ocupado pelos braços de Igor. não gosta de aniversários. Há um ano, ele Não me aventurei no banheiro, cuja lo- estava com os aborígenes, na Austrália. calização demorei a descobrir. “Até que Teve que ir trabalhar, mas foi “absoluta- não é tão ruim, porque nós estamos bê- mente o melhor”: ninguém sabia sobre a bados o tempo todo”, diz John, conser- data. Ele passou o dia todo rindo. Todos tando em seguida: “Na verdade somos lhe perguntavam, “de que você está rin- bem controlados”. do?”. John respondia, por trás do sorriso: As pessoas presentes intervêm na “Vocês são tão engraçados!” conversa, tanto em inglês quanto por- Mas não foi só a festa de aniversário tuguês. Daniela, estudante de admi- do John que aconteceu no ______ Café. nistração, convidou-os para ir à Praia “Nós tivemos algumas noites boas”, con- Mole na manhã seguinte. “Vamos surfar formam-se os donos. O bar esteve aberto numa praia que não tenha peixe voador” todos os dias, desde que foi inaugurado. (uma espécie de peixe que pula para fora “Demos algumas festas, tivemos que pa- d’água, podendo alcançar uma altura de gar pelos clientes”, brinca. “A economia seis metros e planar por até 90 metros). daqui é fraca.” Mas, mesmo assim, ga- Cristiano, outro brasileiro, pergunta a nharam uns freqüentadores. Quando o John se ele conhece o fly fish, como ele sistema de som do bar quebrou, os do- traduz o nome do animal que, segundo nos tiveram a sorte de ter vários músicos ele, aparece na época de lua cheia. “Não no local. A maioria deles foi pago com posso negar um convite dela”, flerta Igor cerveja. “Tínhamos dez, vinte pessoas dirigindo-se a Daniela. “Aí você pára o cantando junto”. Os vizinhos – pai, mãe seu carro aqui e nós vamos correndo até e filha (todos médicos) – ficam aliviados lá”, brinca. quando a festa acaba. Todos são amigos. O motivo da – Irish guys! – exclama John, depois reunião é o aniversário de John, no dia de recusar, ceder, experimentar e apro- seguinte – ou já é o dia? Ninguém parece var o quentão de vinho. Cinco irlan- foto: globalrestaurant.co.uk arte: Maurício Tussi
  • 27. 27 deses, que foram ao bar na noite ante- próximo – quem sabe fazer uma viagem rior, passavam pela rua. Sem pressa, “ao redor do mundo”. Igor quer passar John foi até o meio da avenida e gritou: o verão no Canadá – enquanto é inver- “Garotos irlandeses! Nós temos cerve- no no sul. “A vida aqui é muito dura”, ja!” Logo cinco rapazes com um sotaque diz ele, referindo-se ao lado financeiro. bem mais leve que o australiano esta- Quando decidiu abrir o bar, pensava nas vam sentados no sofá, onde dormem os belezas da ilha e no surfe, achava ser o donos da casa, contando histórias. suficiente. Agora se pergunta: “Dinheiro Estudantes de Arquitetura, viajam ou qualidade de vida?”. Por enquanto, pela América do Sul. Dois dias antes, es- pensa em dosar os dois: passar o verão tavam em Montevidéu, no Uruguai. Para do hemisfério norte lá; e o do sul, aqui. fugir do frio, enfrentaram vinte horas de A economia flutuante de Florianó- ônibus – três DVDs, apenas duas refei- polis poderia ter beneficiado os sócios do ções. Mas dizem que valeu a pena. Mes- _____ Café, se eles tivessem aberto o bar mo assim, continuam falando o pouco no verão. Com o frio de agora, a clientela espanhol que aprenderam. Breve silên- tem se limitado a pessoas como Ciara, que cio; Alex, o mais falador, foi ao banhei- lia um livro quando foi convidada a en- ro. Aos poucos os outros quatro entra- trar; ou os irlandeses chamados aos gri- ram na conversa, especialmente quando tos, com promessa de cerveja grátis. Eis falamos de Oscar Niemeyer ou sobre o outro motivo pelo qual a sociedade não gosto musical que compartilhamos. gera lucros: quem não tem dinheiro, não – Daqui, para onde vocês vão? precisa pagar. Seja no bar, seja nos gru- – Para Lima. Estamos no barco cer- pos de conversação em inglês com John to? – risos. – que também se limitam a um pequeno Dois dias depois, os garotos irlan- círculo de amigos. Depois de ouvir toda deses seguiriam viagem. Os donos do bar a história, esqueci de pagar pelo copo de já têm planos de fazer o mesmo. John vinho tinto e pelo drink que meu colega bebeu – cujo nome não entendi. ; pretende viajar para a Austrália em se- tembro e voltar definitivamente em abril foto: globalrestaurant.co.uk arte: Maurício Tussi