1. ão! )
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dezembro 2007 EDIÇÃO 9
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Bovary de Gustave Flaubert
conseguiria, hoje, um álibi
na internet
Para entender o fenômeno
do beijar sem compromisso
Os “enlatados” que
fazem bem
A primeira parada é o
consulado
2. ponto_e_virgula
[s u m á r io]
MÊS 2007 EDIÇÃO 9
ESPAÇOS NESTA EDIÇÃO
Adriana Seguro
Madame Infidelidade.com
Perfil Juliana Sakae
Luisa Frey
Joel Silveira: A víbora que injetou seu Assim como fazia Madame Bovary, hoje se paga por álibis; Lucas Sarmanho
veneno no jornalismo brasileiro desta vez pela internet Marina Almeida
Quer ficar comigo? Marina Veshagem
Cinema Pedro Santos
Prazer momentâneo: o “ficar” como comportamento
Cineterapia: O Virgem de 40 Anos,
da sociedade contemporânea
Huckabees e Hora de Voltar
Fernanda Volkerling
Literatura Intercâmbio Gastronômico Luisa Frey
Marina Veshagem
Comilanças, guloseimas, pratos típicos e até estranhos na
Pai rico, pai pobre: conselhos para lidar
terra da batata
com o emprego, o mundo dos negócios e
Carolina Moura
das finanças e, principalmente, o dinheiro
Juliana Sakae
Thiago Bora
Entrevista
Lisa Belkin e os contos reais do New York
Juliana Sakae
Times
Viagem
Adriana Seguro
Antes da viagem propriamente dita, uma Lucas Sarmanho
Marina Almeida
aventura no consulado norte-americano
Rodrigo Tonetti
Fotografia
Na última ediçlão (ou não) da revista, uma
Fernanda Dutra
homenagem à equipe ponto-e-vírgula
Maurício Tussi
Matheus Joffre
Criação
À beira da piscina, the fire is out of control
;
Causos&Coisas Florianópolis - SC
www.revistapontoevirgula.com
3. [c ar t a ao leitor ]
Ponto final
A ponto-e-vírgula, nascida de uma crise coletiva na faculdade de
Jornalismo, encerra (ou não) o expediente para análise psiquiátrica.
Enlouquecidos, os escritores, diagramadores, editores e revisores
esperneiam-se; pedem um tempo para tratamento médico após nove
meses de intensa atividade.
Foram duas dezenas de reuniões nervosas, alguns litros de cafeína e
novecentos e-mails de discussão para criar -- e recriar -- a ponto-e-
vírgula. Chegávamos ao dia primeiro de cada mês exaustos, porém
orgulhosos com a filha.
Não sabemos quando, mas nossa primogênita tornou-se um produto.
Repetiria a palavra até que esta gritasse o conceito por trás das letras.
Funcionalista, tecnicista, pragmatista e tantos -istas... Palavras tão
presentes no nosso cotidiano mas contrárias ao propósito inicial da
revista.
Faremos uma pausa. A ponto-e-vírgula sentará em um divã ao lado de
Morin, Hall e Bourdieu até encontrarmos uma resposta.
O bebê, vulgo cabeçudo, terá nosso carinho eterno.
carta ao leitor
Você, leitor, deguste nossa-última-ou-não edição;
A Redação
4. [p er fil ] 4
O repórter dissidente
A vida, as histórias e a personalidade da brilhante víbora do jornalismo
por Marina Veshagem
“Eu
não levaria João Gil- te e uma catarata que o impedia de ler. simplesmente: ‘Dramático!’. Fui embo-
berto de forma ne- Por ironia - em se tratando de ra. Nosso único diálogo resumiu-se a
nhuma, com aquele Joel não poderia deixar de ser – a casa estas duas exclamações – ‘patético’ e
violãozinho, uma coisa horrorosa. Ali- do repórter parece uma fortaleza forma- ‘dramático’.”
ás, o melhor talvez fosse deixá-lo numa da por uma biblioteca com cerca de 18 Conta-se também que certa vez o
ilha deserta, sem violão! Assim, eu po- mil volumes. “Só falta livro no banheiro repórter teria roubado a amante de JK.
deria ir embora.” Essa é a resposta de e na cozinha. Mas eu já li tudo, não tem Joel confirmou a história, não se sabe
Joel Silveira para quem ele não leva- mais nada do que ler”. Joel viveu a his- se por vaidade ou veracidade. “É, mas
ria para uma ilha deserta. É estranho tória brasileira das últimas décadas. Di- depois nós fizemos as pazes no Panamá.
como nada, além das próprias palavras versas dessas situações inusitadas ele Ele tinha acabado de ser eleito governa-
de Joel, pode descrevê-lo tão bem. Se o contou em entrevistas. dor de Minas Gerais (1950) e queria le-
estilo de escrever do jornalista o revela, var a fulana. E eu disse para ela ‘Como
também o torna um dos maiores repór- é, você quer ir pra Minas? Tem que es-
As histórias da víbora
teres que o Brasil já teve. colher’. E ela escolheu.”
Joel Silveira - mais de 60 anos de Como réptil que se preze, Joel
carreira - era Sergipano. Nasceu em 23 Quem vai para a Guerra?
cultivou alguns desafetos. É o caso do
de setembro de 1918 e faleceu em 15 de dramaturgo e jornalista Nelson Rodri-
agosto de 2007. O jornalista mudou-se gues, com quem trabalhou no Diários Quando o Brasil entrou na Se-
para o Rio de Janeiro em 1937 e traba- Associados. Joel narrou algumas ve- gunda Guerra Mundial, o Diários As-
lhou em grandes publicações, como O sociados – rede de jornais, revistas e
zes a ocasião de troca de palavras entre
Cruzeiro, Diretrizes, Última Hora, O Es- os dois. “Uma vez, eu estava escreven- emissoras de rádio e televisão de Assis
tado de São Paulo, Correio da Manhã e do alguma coisa - escrevo depressa na Chateaubriand – tinha três opções de
a revista Manchete. No apartamento da máquina. De repente, Nelson Rodrigues repórteres experientes para enviar para
Rua Francisco Sá, em Copacabana, no caminha em minha direção, fica para- a cobertura: Carlos Lacerda, David Nas-
Rio de Janeiro, o “homem mais temido do diante de mim com um cigarro pen- ser e Edmar Morel. Ele escolheu Joel
do Brasil” – apelido dado por Assis Cha- dendo na boca e exclama: Patético! Em Silveira, que tinha 26 anos de idade e
teaubriand - passou seus últimos anos. seguida, vai embora, em silêncio. Quan- vinte dias de jornal. Ao despedir-se dele,
Somente a velhice conseguiu enganar o do acabei de escrever, fui até a mesa de o patrão alertava: “O senhor vai para a
jornalista; um problema não diagnostica- Nelson – que batia à máquina com dois guerra, mas não me morra, seu Silveira!
do nas pernas dificultava seu caminhar, dedos – e fiz a mesma coisa. Fiquei em Não me morra! Repórter é para mandar
além de uma doença na próstata, diabe- silêncio vendo-o escrever. Depois, disse, notícia, não é para morrer!”
5. 5
“Estive no front nove meses e 11 dias. Naquele Guerra Mundial – e Joel ganhou prestígio com a
tempo era preciso acompanhar as tropas, o jor- cobertura do conflito. O período mais longo que
nalista era como um soldado, estava lá na fren- o repórter ficou preso foi em 13 de dezembro de
te com eles. Era um trabalho terrível. Era risco 1968, o dia do AI-5. Ele passou o fim do ano na
verdadeiro. A guerra é uma coisa horrorosa. O cadeia e só saiu na véspera do carnaval.
pior não é propriamente o combate. O pior é por
onde a guerra passa, o que ela deixa para trás. É O repórter pobre
a subversão de todos os valores. A gente vê um
pai entregando a filha por uma barra de choco- Joel orgulhava-se de refutar a crença de
late, uma coisa horrorosa”, relatou Joel sobre a que jornalista que não enriquecesse seria bur-
experiência. ro. “Bom, então eu sou uma besta quadrada,
porque sou o jornalista mais pobre do Brasil”. O
A repressão da Ditadura repórter garantia nunca ter sido jornalista para
adquirir status, o que considerava trair a profis-
No período do Regime Militar (1964 - 1984) são. “Podem me chamar de feio - o que eu sou.
Joel Silveira foi preso sete vezes. Só depois do É uma opinião. Podem dizer que eu escrevo mal,
AI-5 (1968), foram cinco prisões: três pelo Exér- é uma opinião, eu respeito. Agora, dizer que eu
cito, uma pela Marinha e outra pela Aeronáu- sou desonesto, isso não. Aí eu processo!”
tica. Para o jornalista, a pergunta era sempre Joel deve o respeito adquirido como jorna-
a mesma. “Você é comunista?”. Ele dizia: “Eu lista a sua honestidade e fidelidade à profissão.
não sou comunista, não pertenço ao Partido Co- O “jornalista mais pobre do Brasil” foi agracia-
munista. Os senhores estão cansados de saber do com o prêmio Machado de Assis em 1998, o
que eu sou é socialista, democrático. Podem me mais importante da Academia Brasileira de Le-
prender, fazer o diabo, mas eu não vou dizer que tras, pelo conjunto de sua obra. Foi ganhador
não sou. Sou contra esse cinismo, porque não dos prêmios Líbero Badaró, Prêmio Esso Espe-
considero revolução. Os senhores deram foi um cial, Prêmio Jabuti e o Golfinho de Ouro. Também
golpe”. foi homenageado pelo Segundo Congresso Inter-
Apesar disso, Joel afirmou nunca ter so- nacional de Jornalismo Investigativo, realizado
frido maus-tratos, principalmente porque vários entre os dias 17 e 19 de maio de 2007 pela Asso-
dos golpistas eram da FEB (Força Expedicio- ciação Brasileira de Jornalismo Investigativo. ;
nária Brasileira) – que participou da Segunda
6. 6
[ cinema ]
cineterapia a) Estou entediado, mas sou feliz
b) Por que a grama é verde?
c) Estou virando um vegetal
por Juliana Sakae
A
lguns enlatados americanos, na hora certa, melhoram
o humor e proporcionam horas de reflexão sem dor.
Existencialismo, virgindade e depressão são trata-
dos em Huckabees, Hora de Voltar e O Virgem de 40 Anos
a) “Let the sun shine” de uma maneira irreverente, com bom-humor, lágrimas e,
claro, sexo. Se você enquadra o seu humor atual em alguma
das alternativas, alugue um destes filmes e boa sorte.
aborda a virgindade de uma forma singular,
sem cair nos clichês de comédias românticas.
No primeiro dia em que Andy vai ao trabalho,
depois que todos sabem do seu segredo, o es-
pectador espera a discriminação ou sarcas-
mo e encontra uma cena irreverente: “o seu
problema é que você coloca a vagina em um
O Virgem de 40 Anos
pedestal”, diz o colega de trabalho.
O Virgem de 40 anos é ideal para ver com
Um homem de meia-idade que coleciona
os amigos em um domingo à tarde ou naque-
super-heróis na caixa original, assiste a vários
las madrugadas sem absolutamente nada
pornôs por dia e vai ao trabalho de bicicleta e
para fazer. Se você sabe onde estará daqui a
capacete, é o protagonista de uma história clás-
dez dias às 10h49, tem dominação sobre sua
sica de superação, contada de maneira pouco
rotina e acha que sua vida é maravilhosa por
ortodoxa.
isso, assista ao filme, “tire a vagina do pedes-
Andy Stitzer (Steve Carrel, o Evan de Todo
tal” and let the sun shine.
Poderoso 2) é metódico, politicamente correto e
tem seu apartamento próprio. Sua vida está sob
Assista também
controle, até o dia em que os colegas de trabalho
Borat
descobrem que ele é virgem. David (Paul Rudd,
Não assista
o Mike de Friends), Jay (Romany Malco) e Cal
American Pie 4
(Seth Rogan) fazem de tudo para que Andy ten-
ha sua primeira noite com uma mulher. O filme
7. “You rock, rock” 7
b) “Are You Really Retarded?”
I Heart Huckabees
Albert Markovski (Jason Schwartzman, o Luis
XV de Maria Antonieta) está intrigado com as coin-
cidências da vida e procura uma dupla de “existen-
cialistas”, Bernard (Dustin Hoffman) e Vivian Jaffe
(Lily Tomlin, de A Família Buscapé). Aos poucos,
Markovski descobre que a vida é muito mais compl-
c)
exa do que pensa, e o espectador mergulha em teorias
bizarras sem questionar sua veracidade – no filme, Garden State (Hora de Voltar)
as teorias encaixam-se ao roteiro e à trilha sonora.
A comédia é sutil, sem procurar a piada clichê, mas Andrew Largeman (Zach Braff, da série Scrubs) é um ator mal-suce-
você conseguirá rir (se não tiver preconceito). O bom- dido que vive sob dominação do pai, seu psiquiatra, mesmo morando a
beiro Tommy Corn (Mark Wahlberg, de O Planeta dos mais de 4.000 quilômetros de distância. Largeman perde a mãe e deve
Macacos) torna-se o melhor amigo de Markovski, na voltar à cidade natal para o enterro, ponto de partida do filme. Sob efeito
busca por respostas existenciais. Naomi Watts e Jude de inúmeros calmantes e anti-depressivos prescritos pelo pai, Largeman
Law também estão presentes em personagens este- tem dificuldade de sentir a morte da mãe, assim como os pequenos mo-
reotipados – Watts é uma garota loira e ignorante e mentos da vida. Decide, então, procurar um psiquiatra próprio, quando
Law o dono do shopping Huckabees, machista e mul- conhece Sam (Natalie Portman, de Closer), uma garota com uma doença
herengo, mas ambos reforçam a singularidade do psíquica singular que trará luz à inércia de Largeman. O coveiro, an-
protagonista e seu companheiro. tigo amigo de infância, (Peter Sarsgaard, de Plano de Vôo) acompanha a
I Heart Huckabees é ideal para quando você quer trajetória de Largeman na pequena cidade e o guia para uma vida mais
rir sem se esforçar, e está de saco cheio do pastelão intensa, de emoções e dor.
norte-americano. A trilha sonora ajuda você a lem- Hora de Voltar consegue perceber a sutileza da depressão sem tomar
brar do filme por muito tempo e a refletir sobre coin- o tema como pano de fundo. Na primeira cena, Largeman permanece en-
cidências, destino e transcendentalismo – mesmo que torpecido químico e emcionalmente, mesmo em uma forte turbulência
você não acredite em absolutamente nada disso. no avião. Aos poucos, somos apresentados ao mundo da não-sensação,
quando nada é engraçado ou triste. O filme é perfeito para momentos de
Assista também inércia, quando você escolhe olhar para o teto em vez de sair de casa ou
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças prefere a solidão a qualquer companhia viva. ;
Não assista
Assista também Não assista
As Branquelas
O Amor Não Tira Férias Tudo Acontece em Elizabeth Town
Um Salão do Barulho
8. [l i teratu ra] 8
A
por Lucas Sarmanho cumular dinheiro não é mais uma questão de quanto você ganha por mês
nem de qual é a sua profissão. É com essa idéia que o livro Pai Rico, Pai
Pobre, conta os segredos dos ricos, que os trabalhadores de classe baixa
ou média não vêem. Tudo através de uma visão de simples empreendedorismo:
“Os ricos não trabalham por dinheiro. Eles fazem o dinheiro trabalhar
pra eles”.
Escrito por Robert Kiyosaki, Pai Rico, Pai Pobre faz parte de textos escri-
tos ao longo de sete anos, sobre a educação financeira que tivera em sua vida
e principalmente durante a infância e lhe proporcionara a chance de se tornar
milionário. Em um de seus cursos sobre educação financeira, Kiyosaki des-
perta o interesse da contadora Sharon L. Lechter.
Junto de sua filha adolescente, ela participou do jogo de tabuleiro Cash-
flow, criado pelo milionário havaiano, que desafia os jogadores a usar difer-
entes métodos de lidar com o dinheiro para sair da Corrida dos Ratos para a
Pista Rápida. Um paralelo entre a vida de trabalhadores e a vida dos ricos.
Lechter então ajuda Kiyosaki a organizar os textos e criar o livro.
Nascido no Havaí, o autor conta como desenvolveu seu conhecimento fi-
nanceiro através do convívio com seus dois “pais”: o pai de Mike, um amigo de
infância, e o seu próprio pai biológico. Daí o pai rico e o pai pobre. Seu pai ver-
dadeiro, o pai pobre, era funcionário público e ganhava um bom salário. O pai
de Mike, seu amigo, possuía vários pequenos negócios, nenhum com grande
visibilidade, e era considerado pobre, mas possuía um grande conhecimento
sobre dinheiro. Com o passar dos anos, pai rico conseguiu se tornar o homem
mais rico do Havaí, enquanto o pai de Kiyosaki apenas pagava dívidas.
Assim, Pai Rico, Pai Pobre vai mostrando ao leitor uma visão diferen-
ciada de se ver o emprego, o mundo dos negócios e das finanças e, principal-
mente, o dinheiro. Tudo através das experiências do próprio autor, a partir
dos ensinamentos de seu pai rico, e de sua decisão de não seguir os conselhos
de seu pai pobre.
9. 9
Mas Kiyosaki alerta: não se trata de ensinar as pessoas a
ficarem ricas. Isto, segundo ele, é um dever do leitor descobrir. O
que ele propõe é mostrar como a educação financeira pode ser fun-
damental para que as pessoas possam sair da Corrida dos Ratos.
Educação financeira que não se baseia apenas em ganhar
dinheiro, mas em saber mantê-lo. Por que mesmo pessoas ricas
No Brasil Pai Rico, Pai Po-
podem empobrecer rapidamente se não tiverem controle sobre seu
bre foi lançado em 2000,
patrimônio. E o segredo de tudo, segundo ele, é simples: “A maio-
e desde então tem feito
ria das pessoas tem dificuldades financeiras porque não conhece a
grande sucesso. Na inter-
diferença entre um ativo e um passivo”.
net, é possível inclusive
Para diferenciá-los, basta considerar bens ativos, tudo aqui-
encontrar até sites dedi-
lo que gera lucros por si só, como imóveis para venda ou alu-
cados às idéias de Robert
Kiyosaki, como o fórum guel, ações, títulos, propriedade intelectual, entre outros. O que
Clube do Pai Rico (www. acontece, no entanto, é que as pessoas investem todo seu dinheiro
clubedopairico.com.br). em bens passivos, como casas e carros e bens de consumo cada
vez mais caros. Como exemplo, Kiyosaki cita seus dois “pais”: En-
quanto pai pobre encarava sua casa como o maior patrimônio da
família, pai rico considerava a própria casa como um prejuízo, que
lhe obrigava a pagar impostos e manutenção.
E é assim que, quando a pessoa percebe, está presa na Cor-
rida dos Ratos. Quanto mais dinheiro elas têm, mais elas gastam
com passivos, e mais dinheiro elas precisam para manter esses
198 páginas
passivos. Para evitar tal destino e conseguir chegar a Pista Rápida,
Autor: Robert Kiyosaki
segundo ensina o pai rico de Kiyosaki, tudo o que se deve fazer é
e Sharon L. Lechter
usar a própria inteligência. Não ser refém do dinheiro, não traba-
Editora Campus
lhar por ele. Ao invés disso, trabalhar para adquirir conhecimentos
Maria Monteiro
que possam ser úteis no futuro. E principalmente, aprender a usar
Preço: R$28,20
o dinheiro para conseguir mais dinheiro. ;
10. 10
No ano em que o romance francês Madame
por Marina Almeida
Bovary completa 150 anos, um serviço de
venda de álibis on-line se populariza em todo
o mundo
E
mma Bovary, personagem central da obra de Gus-
tave Flaubert, vive presa ao casamento com Car-
los, um marido entediante, provinciano e que não
a faz feliz. Uma das poucas alegrias da personagem é ler
romances nos quais as heroínas são felizes para sempre.
Nem o nascimento de sua filha a fez sair do vazio em que
estava mergulhada. Emma não se encontrava em uma
sociedade onde as mulheres foram criadas para casarem,
serem fiéis, cuidarem da casa, do marido e dos filhos. Em
busca da felicidade, Emma cede às investidas de Rodolfo
e, posteriormente, de Léon. A partir daí, sua vida é repleta
de mentiras para encontrar os amantes sem que o marido
e os habitantes da pequena cidade francesa de Yonville
descubram a infidelidade.
O romance chocou a sociedade do século XIX. Flau-
bert foi julgado por ofensa à moral e à religião. As partes
consideradas mais picantes foram retiradas do livro e, só
após o autor ser inocentado, voltaram a integrar o roman-
ce. Nos dias atuais o adultério não causa mais tanta po-
lêmica quanto em 1857 (ano do lançamento de Madame
Bovary). A sociedade acostumou-se a conviver com casais
infiéis nos livros, filmes e novelas.
Porém, a infidelidade não é apenas tolerável, tornou-
se um negócio rentável e que cada dia mais toma conta
do mundo. Hoje é possível comprar álibis pela internet.
O pioneiro nesse ramo foi o site norte-americano Álibi
network, em funcionamento há dois anos. Mas agora esse
serviço se popularizou e se espalhou por todo o mundo.
11. 11
Podemos dizer que Emma foi precursora desse ofício. Para
encontrar seu segundo amante, Léon, inventava aulas de piano
na cidade vizinha. Diante das insinuações do marido (que en-
controu a suposta professora, a qual alegou não conhecer sua
mulher), correu atrás de um comprovante do pagamento das
aulas. Pagando uma boa quantia, Emma conseguiu que a pro-
fessora confirmasse que vinha tendo aulas por meses.
Providenciar comprovantes de pagamentos de restau-
rantes, hotéis e passagens aéreas é um dos serviços ofereci-
dos pelos sites. Basta se cadastrar, solicitar e pagar. Pron-
Dom casmurro (1899) – Uma das obras primas to, está comprovada uma viagem de negócios. Por
da literatura brasileira. O livro de Machado de mais algum dinheiro, ainda pode haver um cartão
Assis é uma das mais bem construídas histórias
postal e uma ligação com DDD ou DDI da cida-
de infidelidade. Ao contrário da obra de Flaubert,
de possivelmente visitada, bem como certifica-
apenas pela leitura é impossível saber se Capitu
do de participação em congressos e simpósios.
traiu seu marido, Bentinho, com Escobar.
O romance apresenta diversas cenas e fatos que Os serviços não se restringem aos papéis:
sugerem a traição – a semelhança do filho do profissionais dos sites ligam para a casa do
casal com Escobar, a capacidade de Capitu em
cliente, convocando-os para reuniões de emer-
dissimular, o desespero da personagem com a
gência, avisando da doença ou falecimento de
morte de Escobar. Mas, ao mesmo tempo, não
um primo distante, dentre outras desculpas.
há nada que realmente comprove a infidelidade.
Assim como em Madame Bovary, pagar
Também se deve levar em conta que o romance
é narrado em primeira pessoa, por Bentinho, o para sustentar uma mentira ainda custa caro.
que confere uma visão parcial dos fatos.
No romance, além de pagar pelo recibo da pro-
Pecados íntimos (Little children - 2006) – O filme fessora de música, Emma paga a ama de sua
retrata a sociedade americana do século XXI, mas
filha para receber as cartas do amante e, pres-
se assemelha em muitos aspectos ao romance
sionada pelo comerciante local (que sabe das
de Flaubert. Assim como em Madame Bovary, a
aventuras da personagem), faz um empréstimo
personagem principal, Sarah Pierce (Kate Winslet),
em cima de outro. A falência é um dos motivos
vive em uma cidade onde as mulheres se dedicam
integralmente aos filhos e marido. Uma sociedade do suicídio da personagem. O preço de um
onde o adultério é intolerável. Sarah, cansada da
álibi virtual varia de acordo com a
vida que leva, conhece Brad Adamson (Patrick
complexidade e pode chegar
Wilson) e começa com ele uma intensa relação. Os
a U$200,00. Pode ser caro,
sentimentos que levaram Emma e Sarah a traírem
mas pela rapidez com que
seus maridos são parecidos. Tanto que em uma
cena Sarah diz ter se apaixonado por Emma por os sites surgem, parece que
entendê-la perfeitamente.
existem pessoas dispostas
a pagar o que for preciso
para manter o segredo. ;
12. Quer ficar comigo?
12
por Pedro Santos
V
O “ficar” e as relações de estindo calça jeans e uma camisa com uma pessoa sem um vínculo afetivo
troca, prazer, descarte, branca com uma pequena estam- de longo prazo existe há muito tempo.”
pa no peito, Rafael, 20 anos, pega Eles concordam entretanto, que na
liberdade e experimentação
um frasco de vidro sem rótulo e passa o sociedade do século XXI as práticas do
perfume nos pulsos e em volta do pesco- “ficar” se tornaram, digamos assim, mais
ço. São 21h30 de um sábado e ele está livres. “A partir da Revolução Sexual
pronto para a balada. Vinte e cinco mi- houve certa flexibilização dos costumes e
nutos depois, longe dali, quem está na as pessoas ficaram tranqüilas para ‘ficar’
rua esperando pelas amigas é Ana, 17 mais”, ressalta Jairo Bouer.
anos, que está de calça jeans e com uma Aquilo que se convencionou cha-
blusa decotada cor de rosa. Eles não se mar de Revolução Sexual trata de movi-
conhecem, mas no final da “night” am- mentos ocorridos após a 2ª Guerra Mun-
bos terão ficado com alguém. dial com o objetivo de dar visibilidade
Difícil de definir exatamente – o sexo aos adolescentes, até então relegados a
também está incluído ou são só beijos e segundo plano na sociedade. São exem-
plos a geração beat – jovens intelectuais
alguns amassos? –, o “ficar” está longe
de produzir consenso entre quem “fica” norte-americanos que, cansados da mo-
ou entre quem estuda esse comporta- notonia da vida, resolvem, fazer uma re-
mento. A psicóloga Jaqueline Chaves, volução cultural por meio da literatura,
autora de “Ficar com”: um estudo sobre sempre regada a sexo livre, drogas e pé-
um código de relacionamento no Brasil na-estrada – e o movimento hippie, cujos
(Revan, 2001), defende que, no início da hábitos de vida eram um pouco diferente
dos beats, valorizando sobretudo a vida
década de 80, “surgiu um novo tipo de
relacionamento, nomeado pelos jovens comunitária, o amor livre e as religiões
como ‘ficar’ e que é marcado pela falta de orientais. Foram manifestações que de-
compromisso e pela pluralidade de dese- ram visibilidade aos jovens, que, por sua
jos, sendo o objetivo principal a busca de vez, mudaram valores, quebraram estig-
prazer”. mas e revolucionaram o comportamen-
O médico Jairo Bouer, 41 anos de to sexual. Agora sem amarras, sem cor-
idade, referência nos meios de comuni- rentes e sem repressão, o sexo passou
cação quando o assunto é sexualidade a ser encarado como qualidade humana
juvenil, discorda. “O ‘ficar’ sempre exis- natural e livre. Com o surgimento da pí-
tiu entre os jovens. Na época em que eu lula, na década de 60, tais idéias sobre a
comecei, a gente ia pra festas, ficava, sexualidade se expandiram. Às mulheres
mas não tinha esse nome. Esse compor- foi permitido o prazer sexual desvincula-
tamento de ter uma intimidade maior do da gravidez.
13. 13
Os jovens de hoje são filhos daqueles que te unicamente do lado masculino. Ana diz que
se casaram entre os anos 70 e 80, e, portanto, raramente “chega” em meninos, mas já ajudou
frutos da juventude contestadora – “sexo, dro- uma amiga a ficar com alguém. “Eu só cutuquei
gas e rock n’ roll” – e da época em que tabus fo- o guri e apontei para trás, onde estava minha
ram quebrados. O entusiasmo foi reprimido pela amiga. Ele foi para lá, eles conversaram e depois
descoberta do vírus HIV. Com a AIDS, a idéia de se beijaram.”
“amor livre” é substituída por “sexo seguro”. A Jairo Bouer confirma que as meninas tam-
conseqüência foi a modificação nas formas de bém querem ficar sem compromissos, mas há
relacionamento, mas o espaço aberto pela Revo- certas diferenças entre os sexos, como não pode-
lução Sexual jamais seria fechado. ria deixar de ser. “O que a gente percebe é que a
O sexólogo Moacir Costa, autor de Sexu- mulher tende a enxergar a estabilidade em uma
alidade na adolescência: dilemas e crescimento relação mais do que o homem. O ‘ficar’ algumas
(L&PM, 2002) acredita que a iniciação sexual de vezes seguidas, para a menina, é um indicativo
hoje tem menos fantasmas do que a de gerações de estabilidade, pode significar namoro. Para o
anteriores porque o “ficar” representa uma etapa cara há uma pressão do grupo social de que ele
intermediária para o namoro. Assim, os jovens tem que ficar mais, é aquela coisa de não poder
chegariam à primeira relação sexual mais bem sair ‘zerado’ da balada.”
preparados do que seus pais e avós. Apesar de começar na adolescência, esse
Na sociedade globalizada em que estamos comportamento ultrapassa o público de 12 a 18
inseridos – lembrando sempre que o “estamos anos e não tem idade certa para se extinguir.
inseridos” se refere aos grandes centros urbanos Festas universitárias, com pessoas acima de 25
do mundo (no interiorzão do Brasil, por exem- anos, mostram como a experiência dita juvenil
plo, as condições e comportamentos são comple- se prolonga. Como explica o doutor Jairo, o “fi-
tamente diferentes) -, vivemos um mundo de re- car” é bom pela liberdade de experimentar coi-
sultados rápidos, em que consumir traz prazer e sas diferentes e ruim quando o comportamento
há pouca espera para o que se deseja, exemplos se torna banal: “A gente tem que entender que o
disso são o fast-food, o video-clip e o sistema de ‘ficar’ tende a ser um comportamento de transi-
delivery. O “ficar” se encaixa perfeitamente na ção. Você fica enquanto não está afim de namo-
busca por prazer individual e pelo desprendi- rar, quando não quer levar uma história mais a
mento. “É massa porque não tem aquela coisa sério. Tem uma característica de aprendizagem,
do compromisso, de ficar sempre dando satis- passagem, transição. Vejo problema quando al-
fação. Você fica com a menina, curte o momen- guém fica retido nessa fase, sem passar para o
to e deu. Depois é sair logo pra próxima”, conta estágio seguinte, que é encarar a outra pessoa
Rafael, que na noite daquele sábado beijou duas como outra pessoa, não só como um instrumen-
to do seu prazer. (risos)” ;
meninas.
Engana-se quem pensa que a atitude par-
14. Intercâmbio Gastronômico
14
Saudade, lugar novo, comida nova. O resultado? Comer, comer e... comer
por Luisa Frey
A
gastronomia faz parte da cultura de um povo. Não há como viajar pensando
em calorias e, para os enjoados, uma viagem não deve ter nem metade da
foto: Luisa Frey graça. Desafortunados também aqueles que têm medo de provar o novo e se
lamentam o tempo todo por não poder comer arroz e feijão, mesmo que fiquem ape-
nas uma semana longe. O mesmo vale para os estrangeiros que acham a feijoada
estranha ou nossos quitutes doces demais.
Em 2005, em pleno inverno europeu, uma adolescente desembarca na Ale-
manha, ou melhor, “Batatolândia”. Sim, lá se come batata quase todos os dias:
cozida, frita, purê, sala-da de batatas. E isso é apenas uma amostra do que minha
querida “mãe de intercâmbio”, Angelika, me oferecia. Logo que cheguei, me indicou
na sala uma escrivaninha daquelas antigas, com o tampo que fecha, onde ficavam
os doces: bombons, línguas de gato, marzipan (doce à base de amêndoas e açúcar),
Gummibärchen (balinhas de goma em forma de ursinhos). Na mesa de centro, res-
quícios do Natal: deliciosos biscoitos feitos em casa. Na geladeira, a gaveta destina-
da a verduras estava também lotada de chocolates.
Além das comidas caseiras e dos fartos lanches preparados por Angelika
para as excursões às cidades vizinhas, qualquer hora era tempo de uma guloseima.
Sempre se passava por um supermercado (onde até os chocolates Lindt são bara-
tos), por uma padaria de dar água na boca com seus pãezinhos de nozes e amên-
doas, uma confeitaria com um belo chocolate quente para esquentar e um típico
Apfelstrudel.
disponível em:
Café da manhã
www.flickr.com
Imagine um sucrilhos recheado com Nutella. Sim, essa maravilha existe e
era meu café da manhã quase todos os dias. Também havia milhares de tipos de
pães pretos e cheios de grãos, principalmente domingo, quando Angelika ia à pa-
daria cedo. Para acompanhar, geléias, mel, manteiga com granulado (não sei se
era invenção da minha “irmã”, Stephanie) e Nutella, é claro. Também tinha a opção
dos iogurtes, de sabores dos mais variados: café com amêndoas, framboesa, Apfels-
disponível em:
trudel, pêra com raspas de chocolate, cereja, avelã, e um que era uma espécie de
www.gastronomiepreis.de
pudim, de chocolate ou baunilha.
15. disponível em:
15
www.oberstdorf.de
Comida típica
No dia em que cheguei, Angelika preparou para o jantar verduras,
carne de porco (e não adianta os brasileiros torcerem o nariz, porque é gos-
toso) e Knödel (bolinhos à base de farinha e batata) - parte do repertório de
receitas de minha avó. Outras comidas típicas que eu já conhecia: Kassler
(costeleta de porco), Sauerkraut (chucrute, que é repolho em con-serva), lin-
güiça branca, Apfelmuss (purê de maçã que se come como acompanhamen-
Pequenos vícios
to de pratos salgados).
Na Floresta Negra, tive o privilégio de experimentar um autêntico bolo Depois de poucos dias, Angelika não precisava
homônimo, com cerejas naturais e, em Estrasburgo – França - comi um ver- mais perguntar o que eu queria beber. A resposta era
dadeiro bolo “mil folhas” em um Salon de Thé. Para o Ano Novo, ganhei um sempre “Apfelsaft” (suco de maçã). O de lá é transpa-
porquinho (lá é símbolo de sorte) de marzipan e em primeiro de janeiro, se rente e não grosso como o daqui. Uma delícia!
compra na padaria um Pretzel gigante, do tamanho de um prato, que parti- De sobremesa, Angelika e Stephanie criaram
algo inusitado: Mohrenkopf (conhecemos como nhá
mos e comemos com geléia no café da manhã.
benta ou dan top) no microondas. Esquentados por
Esquisito, mas gostoso alguns segundos, o chocolate e o marshmallow der-
Algumas vezes, a refeição era algo que para nós seria sobremesa. Um retiam de leve. Bem light.
dia, o almoço foi um prato fundo de arroz doce. Era cozido no leite e acres- No jantar, normalmente lanchávamos e, além
centávamos o que queríamos: açúcar e canela ou uma divina compota de dos diversos frios, eu gostava muito de comer no pão
cerejas. Outra vez, comemos um prato que se chama Kaiserschmarren (veja filés de salmão ou outro peixe defumado e também
o box com a receita) – são pedaços de uma massa como de panqueca, co- queijo brie. Coisas que aqui no Brasil são luxo e lá
bertos de açúcar e com uvas passas, acompanhados de pêssego em calda. são comuns.
Na França, também aconteceu uma refeição inusitada. Uma amiga pe-
Os chocolates
diu em uma lanchonete hambúrguer com batatas fritas e quase morremos
de rir quando chegou uma baguete gigante, envolta por papel alumínio, É uma tentação ter todos os chocolates suíços,
como o Lindt, e os também maravilhosos alemães
recheada com um filé (não era hambúrguer) e batatas fritas. Sim, elas esta-
vam dentro do sanduíche! E o pior é que era gostoso. sempre à disposição e em conta. Um dos mais gos-
Acho que a coisa mais diferente que tive coragem de comer - e não me tosos é o da marca Rittersport, vendido em peque-
nas barras quadradas, com recheios diversos: nougat
arrependi - foi estômago de porco recheado. Nada de cara de nojo, por favor.
Os tios de Stephanie nos levaram para jantar na Weinhaus Henninger (casa (creme de avelã), biscoito, cappuccino, café, iogurte,
de vinhos Henninger) - um restaurante bem antigo em uma cidade que de marzipan. Também há milhares de tipos de chocola-
tão pequena é quase um vilarejo, Kallstadt, na região de Rheinpfalz. Dá até tes da Milka, Ferrero e Kinder.
para pegar de lembrança uma reprodução de um cardápio do ano de 1937, Em Berlin, na maior loja de departamento que
quando eram servidos sopa de tartaruga e porco selvagem assado. Eu não já vi – a KaDeWe – um dos andares é só de chocola-
podia deixar de comer o que tinha de mais típico: um prato de chucrute com tes! É de dar água na boca! Tiramos foto com um sino
Leberknödel (bolinho de fígado – confesso que deste não gostei muito), lin- gigante de chocolate em uma vitrine e nos encanta-
güiça e o tal estômago de porco – surpreendentemente bom. mos com as coisas de Páscoa, apesar de ainda ser
janeiro.
16. 16
UMA ALEMÃ NO BRASIL
De julho a setembro daquele mesmo ano de 2005, minha “irmã ale- disponível em:
mã” Stephanie ficou em minha casa. Ela veio para cá exatamente kuechenruf.blog.de
com o mesmo espírito que fui para lá: o de experimentar tudo e não
ligar para as calorias. Dava gosto preparar todas as nossas comidas
típicas e a ver repetir e lamber os beiços. Ela adorou feijoada, goiaba-
da, musse de maracujá, pão de queijo, guaraná, creme de abacate,
pé-de-moleque, doce de leite, leite condensado e brigadeiro, é claro.
Em São Paulo, não é aconselhável uma alemã sair andando a pé so-
zinha. E, o frio do inverno brasileiro não queima tantas calorias como
o do europeu. Acreditem se quiser, ela acabou engordando mais no
Ingredientes:
Kaiserschmarren
Brasil do que eu na “Batatolândia” (batata, chocolate, biscoito, pão-
50g de uvas passas
lândia!).
2 colheres de sopa de rum
100g de farinha de trigo
Lanches e guloseimas 4 colheres de sopa de creme de leite
É muito vantajosa a proximidade com outros 1/8 de litro de leite
países europeus. Além do chocolate suíço, há o ma- sal
ravilhoso sorvete italiano por toda a parte, em divinos 3 ovos
1 pacote de açúcar baunilha (se não tiver, substitua por meia colher de chá de es-
sabores como marzipan, avelã ou café.
sência de baunilha)
Outra coisa que eu gostava de comer na rua
30g de manteiga
(bem melhor que McDonald‘s ou Burger King) não era
40g de lascas de amêndoas (opcional)
nada alemã, mas vendida em toda parte. Trazido pe-
2 colheres de sopa de açúcar
los imigrantes turcos, o Döner Kebab é uma opção
10g de açúcar de confeiteiro
barata (acho que o pequeno custava 2,50 euros) e
de sustância. É um tipo de pão sírio cortado ao meio Modo de preparo:
recheado com salada de pepino, carne de carneiro Deixe as uvas passas de molho no rum por cerca de 30 minutos. Enquanto isso,
(aquele churrasquinho grego que fica girando) e mo- misture bem a farinha, o creme de leite e o leite. Adicione uma pitada de sal.
lho de iogurte. Muito gostoso. Separe os ovos, reserve as claras e adicione as gemas à massa. Deixe a massa
Nas padarias, também havia algo bom e barato. Cha- descansar por cerca de 30 minutos. Bata, então, as claras com o açúcar baunilha
em ponto de neve e misture levemente à massa. (Se for substituir por essência
ma-se Berliner, é uma espécie de sonho recheado com
de baunilha, bata as claras em neve, acrescente-as à massa e só então adicione
geléia e coberto com açúcar de confeiteiro.
a essência). Derreta em uma frigideira a manteiga e adicione as lascas de amên-
Por sorte, durante meus dois meses na Alema-
doas. Despeje a massa por cima, virando a frigideira para que cubra toda a sua
nha, morei no quarto andar de um prédio sem eleva-
su-perfície como uma panqueca. Jogue as uvas passas peneiradas por cima. Frite
dor. Além disso, eu ia a pé para a escola, andávamos
por cerca de 4-5 minutos, em fogo médio, até que o fundo fique dourado. Vire as
bastante nas excursões e o frio consome muitas calo-
panquecas e doure o outro lado. Rasgue (e não corte) com o garfo em pequenos
rias. Mesmo assim, o saldo de quilos ao final da via- pedaços e polvilhar com açúcar. Aumente o fogo e sacuda a frigideira para que o
gem foi positivo: quatro! Mas, sem arrependimentos. ; açúcar caramelize de leve. Polvilhe o açú-car de confeiteiro e sirva imediatamente.
Pode ser acompanhado de calda de baunilha, al-guma compota ou pêssegos em
calda.
17. [ e nt revista] 17
Histórias do New York Times
por Marina Ferraz
Lisa Belkin faz parte da equipe do jornal americano New York
Times. Além de repórter e editora, é responsável pela seleção
das histórias que integram o livro Histórias do New York Times,
lançado esse ano no Brasil pela editora Ediouro. Em entrevista
por e-mail, Belkin fala sobre o Times e do processo de produção
do livro.
ponto-e-vírgula - Como você decidiu organizar o livro Histórias
do New York Times?
Lisa Belkin - Eu faço parte da equipe de repórteres e editores do
Times. As conversas sempre nos remetiam ao fato de que fazíamos
nossos filhos dormirem com histórias que saíam no jornal do dia.
Não aquelas sobre crimes, guerras ou tragédias, mas as emocionan-
tes, que nos fazem pensar ou são alegres. Os contos reais. Então
nós dissemos: por que não publicar essas histórias em livro? E por
algum motivo, acabei ficando com o trabalho.
; - Como as histórias foram selecionadas?
Belkin - Primeiro eu perguntei a muitos repórteres quais histórias
eles lembravam – que eles escreveram ou que leram. Depois passei
a procurar nos arquivos as histórias mais antigas. Passei um tempo
maravilhoso apenas lendo.
; - O leitor não sabe quando as histórias foram publicadas. Foi
uma opção ou esquecimento?
Belkin - As datas não foram incluídas nos artigos, pois assim ficam
eternos. Algumas histórias ficavam confusas sem as datas, então
incluímos.
18. 18
; - Qual a diferença entre as histórias do Times e dos demais jornais?
Por que as histórias desse livro são interessantes para o leitor?
Belkin - O Times é considerado um jornal mais intelectual que os outros. E
porque nós temos vários repórteres ao redor do mundo, temos o luxo de pu-
blicar pequenas histórias que interessam a pessoas dos lugares mais dis-
tantes. Coisa que os outros jornais não têm pessoal e dinheiro para fazer.
; - Como os repórteres encontram as pessoas que ilustram as histó-
rias?
Belkin - Algumas vezes as pessoas entram em contato conosco para con-
tar suas histórias. Algumas vezes outras pessoas nos chamam a atenção
para determinada história. Algumas vezes nós realmente lemos sobre essas
pessoas em jornais locais – isso acontece mais em países estrangeiros ou
lugares fora da área de Nova York. E nossos repórteres gastam muito tempo
apenas conversando com as pessoas sobre nada em especial, e as histórias
surgem disso.
; - Você acredita que exista uma maneira específica de escrever para o
Times, diferente dos outros jornais?
Belkin - Eu penso que ainda existam muitos bons jornais nos Estados Uni-
dos. O Times não tem o monopólio. Mas eu estou muito orgulhosa do quão
duro o Times me faz trabalhar para ter certeza de que meus fatos estão
precisos e minhas histórias são imparciais.
; - Lendo o livro, percebe-se que as histórias são totalmente humanas.
Os leitores vêem que o jornalista passou um longo tempo com os per-
sonagens da matéria. Isso é uma característica do jornalismo america-
no ou do Times em especial?
Belkin - Infelizmente não é uma característica do jornalismo americano.
Mas nenhum profissional é 100% perfeito.
;
Lisa Belkin
19. 19
[v i a g em]
A viagem para conseguir um fureceu muitos pais: desde a carteira de funcionário da agência nos cha-
“sim” dos norte-americanos
D
motorista à escritura da casa e extrato ma e junta todos do ônibus em
epois de fazer o passaporte, pagar bancário. frente à porta do consulado. De-
taxas, arranjar um emprego, pagar ??:?? - exibição do DVD pirata de vem ser mais umas dicas para a
taxas, ter um lugar para morar nos Tropa de Elite, enquanto o longa brasilei-
Estados Unidos e... pagar taxas, o próximo ro está nos cinemas de todo o país. Durmo
passo é enfrentar a “indústria do visto”. ao som de risadas e imitações que surgem
Além de juntar duas dezenas de papéis, é nos cantos do ônibus:
preciso se deslocar para São Paulo, Rio de - Fanfarrão!
Janeiro, Recife ou Brasília, com a possibi- - Desiste, 02! Pede para desistir, 02!
lidade de voltar sem o dito cujo. Ter o vis- 06:04 – Após duas paradas durante
to negado significa desperdício de tempo e o trajeto, o ônibus estaciona próximo ao
dinheiro, e o principal: planos frustrados. consulado com quase todos dormindo.
2ª feira, 19:15h - Saída da antiga ro- Sob o céu indeciso entre noite e dia,
doviária de Florianópolis. Mais uma leva vamos à lanchonete estrategicamente lo-
de estudantes universitários brasileiros calizada em frente ao consulado. Dezenas
que quer trabalhar nos Estados Unidos de adolescentes recém-chegados de ou-
neste verão. Só falta o visto. O ônibus para tras cidades do país disputam a frente do
nos levar a São Paulo é alugado pela agên- balcão para fazerem seus pedidos. Nada
cia de intercâmbio. Algumas pessoas pu- como forrar a barriga, escovar os dentes e
xam papo logo, outras ainda estão tímidas disfarçar a cara de noite mal dormida com
e se contentam em observar as primeiras um pouco de água no rosto e uma ajeitada
conversas. no cabelo! Tendo conferido mais uma vez
O funcionário da agência de viagens os documentos, aos poucos nos dirigimos
distribui pastas para cada um organizar a em bando à fila, enquanto alguns entram
sua papelada: “Coloque tudo nos lugares no estabelecimento para despertarem com
indicados na pasta, para não ficar perdido um café.
na hora. É nessa ordem que eles vão pe- Não faz nem dez minutos que esta-
dir, e só entregue o que pedirem!” Quatro mos na fila – e essa ainda não chega a
formulários, recibos de taxas, passaporte, ter uma centena de pessoas. É nessa hora
foto e uma lista de documentos que en- que o “jeitinho brasileiro” vem a calhar. O
20. 20
de 40 reais, faz-se a contar?”.
“entrevista”... Se o vis- - A chamada é aleatória, explica a
to for aprovado, é só funcionária.
entrar na fila do paga- A verdade é que pulam um ou dois
mento do “Sedex”. números em cada dezena. Não demorou
entrevista - pensamos -, mas já esta-
No consulado dos EUA, enquanto muito e eu, assim como os outros retar-
mos lá dentro quando percebemos
uma multidão espera para ser entrevis- datários, fui direcionada à impressão di-
que furamos a fila. Sabe-se lá o
tada, o clima é de uma tensão tênue e gital e à entrevista, em inglês.
que temos de diferente em relação
amizade instantânea. - O quê você estuda?
àqueles outros jovens, que vieram
- É perto de Miami. E você, vai pra - O quê sua mãe faz?
sozinhos ou com outras agências.
onde? - Você tem irmã ou irmão mais velho?
Na primeira porta, as bolsas
- Está muito nervoso? - Ele mora no Brasil?
são ligeiramente revistadas, e en-
- Como se soletra o meu nome em - Ok, Adriana. Seu visto foi apro-
tão continuamos em outra fila. No-
inglês? vado. Leve esse papel e pague a taxa ali
mes conferidos e, agora sim, entra-
- Vai dar tudo certo, você vai ver! adiante.
mos no prédio. Detector de metais,
- Thank you.
- Dizem que a moça daquela cabine
nada eletrônico passa. Mp3 players
é muito simpática. Tomara que a minha Então, viajei 11 horas, fui atrás -
e celulares ficam guardados até a
entrevista seja com ela. assim como minha mãe -, de papeladas
saída. Seguimos as setas amarelas
- Parece uma humilhação ter que para comprovar que tenho “vínculo com
no chão que indicam: visto.
fazer isso tudo. É como se eu estivesse o país” e que a família tem condições de
As taxas para fazer a entrevis-
implorando pelo visto. me sustentar, tudo para não pedirem
ta somam 280 reais, mais o “Sedex”
- Por que a gente não foi chamado? documento algum e fazerem as mesmas
para o visto, caso você passe. Inte-
Por que algumas pessoas, assim perguntas que estão nos formulários?
ressantes são os termos ouvidos duran-
como eu, não foram chamadas para Ótimo. É nessas horas que a gente acha
te a espera. Parece vestibular: “se eu for
a impressão digital, enquanto senhas que estão rindo da nossa cara. Mas olho
aceito”, “se passar”, “se conseguir”, “se
posteriores já estão na entrevista? Uma em volta e os meus colegas de viagem
der tudo certo”. As filas seguem sobre
moça com microfone, no centro do sa- é que sorriem, foram todos “aceitos” e
bancos de seis metros. “Eita povo orga-
lão, diz os números em ordem crescente, podem entrar nos Estados Unidos. Mais
nizado, nunca vi fila em banco! Ou então
com alguns deles faltando. Nada melhor tarde, recebo uma ligação materna e
isso quer dizer: vai demorar...”
para teorias de conspiração: “Será que mensagens de amigos, reclamando da
O local para solicitar o visto é uma
tem câmera escondida e ouviram eu fa- falta de notícias. É que, para mim, eu
área com esses bancos de um lado e de
tinha ido simplesmente ”pegar” o visto. ;
lar mal dos Estados Unidos? Já fui re-
outro, perpendiculares a uma seqüência
provada? Ou simplesmente não sabem
de guichês. Primeiro, seus documentos
são conferidos, depois são retiradas as
impressões digitais, paga-se uma taxa
23. [ c r i aç ão] 23
Dourada:
Luz do sol.
Mar,
Piscina,
Óculos escuros.
Hum,
Quente:
Gostoso.
Fótons
Sombra,
Computador.
Sol,
De novo.
Walk away
Não.
I love the sound of you walking away
Sorry, vou ficar right here.
This fire
Ã?
Is out of control
Hum.
Uma da tarde.
Calor.
Raios UV.
Piscina?
Não.
So come on home...
Ok.
Almoço (ruim).
Ai!
Vermelho.
Frio e calor.
Mais vermelho!
Ai, ai!
Quilos de pós-sol,
Movimento:
Ai, ai, aaai! ;
por Carolina Moura
24. 24
Acredite se quiser!!!
&
N
usoissas
ca co ão-Me-Toque é o nome por “não-me-toque” na região.
de uma cidade no inte- A outra, defende que quando os
rior do Rio Grande do imigrantes alemães chegaram
Sul. Com 15 mil habitantes, e ao local, no final do séc. XIX, os
emancipada em 1954, a cidade índios que habitavam a região
chegou a mudar de nome em foram expulsos de lá. Um vel-
1971, chamando-se “Campo ho índio, porém, se rejeitava a
Real”, em homenagem ao cere- sair e costumava gritar aos visi-
al rei, maior produto de cultivo tantes “Não me toques de min-
na cidade. Mas a mudança não ha querência!”. Seja qual for
agradou a maioria e através de a verdadeira origem, uma es-
um plebiscito, ficou decidido critura do Cartório de Registro
Quem responderia SIM? que a cidade voltaria ao nome de Imóveis de Passo Fundo-RS,
de origem, em 1976. datada em 20 de julho de 1885,
A origem do nome tão peculiar comprova a existência da Fa-
Alguma vez distribuiu ou vendeu ilegalmente substâncias con-
ainda é duvidosa. Mas possui zenda Não-Me-Toque na região.
troladas (drogas), praticou ou foi agenciador de prostituição?
( ) sim ( ) não
duas hipóteses principais. Uma Ah, e sabe como se chama quem
Pretende entrar nos Estados Unidos para praticar violações no
seria por causa da abundância nasce em Não-Me-Toque? Não,
controle de exportação, ou atividades subversivas ou terroris-
da planta Dasyphyllum spine- não é fresco, é não-me-toquen-
tas, ou qualquer outra atividade ilegal? É membro ou repre-
sentante de alguma organização terrorista atualmente desig-
scens, conhecida popularmente se mesmo!
nada pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos? Alguma
.
vez participou de perseguições sob a orientação do Governo
pena de mim etáforas e
oas sentirem ma mensagem cheia de m . E, no
Nazista da Alemanha, ou participou de genocídio?
mas pess
algu rua
iu
Acho que fiz bro, até receb outro lado da
( ) sim ( ) não
edição de outu le” está me esperando, do o lado da mesa, além dos
Alguma vez manteve uma criança cidadã estadunidense fora
Depois da
ve ali, do outr
endo que “E or trás de
dos Estados Unidos, separada da pessoa a quem a custódia
esperança, diz obri que Ele sempre este O filho de Maria e José. P
foi legalmente concedida por um tribunal nos Estados Unidos;
a.
esc
mesmo dia, d ja e cestinhas de batata frit timidamente.
alguma vez votou nos Estados Unidos em violação de alguma
gramação
e
copos de cerv rancelhas negras, ele sorriu do os erros de texto e dia
lei ou regulamento, ou renunciou à cidadania estadunidense
diente.
b n
sua barba e so opera milagres... Suplanta sé assina em nosso expe
com o propósito de fugir dos impostos?
e Jo
s,
Todos os mese ula. Sim: o filho de Maria
( ) sim ( ) não
írg .
da ponto-e-v der da revisão, eu acredito
o
E Nele, e no p o) ra –
i para o infern e nossa escrito
(aquela que va ças e religiões, inclusive a d
a ou rea
Carolin-e-vMular speita todas as cren
29 Revista Viagem 2007
írg
– A ponto