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Ser Mãe,
Ser Pai
Os Desafios da Parentalidade
(Durante e Após a Pandemia)
As mães e os pais dizem, frequentemente, que ser mãe ou pai é a melhor e mais difícil tarefa do
mundo. Por um lado, dá um sentido de propósito e significado à nossa vida, traz-nos satisfação, gratifi-
cação e sentimentos de realização e bem-estar. Por outro, as responsabilidades e exigências de educar
crianças/jovens saudáveis e com bem-estar também podem desafiar os nossos limites, gerar stresse e
sentimentos de sobrecarga.
É-se mãe e pai ao longo da vida da criança, adolescente, jovem e adulto que é nosso filho ou filha. A
parentalidade vai desenvolvendo-se e transformando-se conforme as necessidades, características
e desejos dos filhos/as e das mães/pais, mas pode sempre impactar de forma significativa, positiva ou
negativa, o desenvolvimento das nossas filhas e filhos.
No caso de quem escolhe ser pai ou mãe, a parentalidade é uma das tarefas mais importantes da vida
adulta, interferindo na forma como vivemos as restantes esferas da nossa vida. Para além disso, hoje
em dia somos bombardeados com conselhos e informação sobre práticas e estratégias de parentali-
dade – na rua, nas redes sociais, na televisão, nas livrarias. A expectativa e a pressão sobre os pais
e as mães são enormes. Ser pai ou mãe, de várias formas, parece ser mais desafiante do que era há
algumas décadas, no tempo dos nossos avós ou bisavós. A abordagem à parentalidade e a relação que
estabelecemos com os nossos filhos e filhas também parece ser, em muitos casos, bastante diferente.
Ser Mãe, Ser Pai
A parentalidade envolve assegurar a saúde e a segurança dos nos-
sos filhos e filhas. Amá-los, cuidá-los, aceitá-los, encorajá-los
e orientá-los. E ainda transmitir-lhes valores sociais e culturais,
ajudá-los a desenvolver competências e recursos, de modo a
tornarem-se crianças, jovens e depois adultos competentes e ca-
pazes de atingirem os seus objectivos. As mães e os pais, por vezes
outros cuidadores, oferecem às crianças um contexto de protecção
e cuidado onde podem desenvolver-se física, cognitiva, emocional
e socialmente de forma de forma positiva.
Os laços afectivos de vinculação segura entre os pais/mães e os
filhos/as permitem-lhes estabelecer relações saudáveis com os out-
ros e com o ambiente em que vivem. Quando a relação entre pais/
mães e filhos/as é acolhedora, aberta, transmite confiança e é co-
municativa, quando inclui o estabelecimento de limites adequados,
regras e razões para os comportamentos esperados, as crianças
e jovens revelam maior segurança, auto-estima, saúde psicológica,
maior capacidade para estabelecerem relações positivas com os out-
ros e melhor desempenho escolar. Pelo contrário, cuidados parentais
desadequados aumentam o risco de problemas físi-
cos (obesidade ou problemas cardíacos, por exem-
plo) e psicológicos (agressividade, ansiedade ou
problemas de comportamento, por exemplo),
com consequência diversas, entre as quais
maior risco de insucesso e abandono
escolar precoce.
A parentalidade – laços afectivos, bem como os
conhecimentos, as atitudes e os comportamentos
das mães e dos pais – é influenciada por vários fac-
tores, entre os quais, as experiências com os respectivos
pais e mães (incluindo as da sua infância), as suas circun-
stâncias (por exemplo, fontes de stresse provenientes da situ-
ação laboral), as características da própria criança/jovem (tempera-
mento), as expectativas e práticas que os pais e mães percepcionam
e observam nos outros à sua volta (família, amigos, redes sociais)
e as crenças pessoais e socioculturais. Mas também, o sentido de
competência pessoal, a relação conjugal ou com o outro progeni-
tor, a rede de apoio que têm, os serviços disponíveis (por exemplo,
existência ou não de creches e outros apoios sociais e cuidados de
saúde) e outras situações de desigualdade ou vulnerabilidade (por
exemplo, discriminação, pobreza ou exclusão).
É preciso notar que, para além da diversidade dos conhecimentos,
atitudes e práticas parentais, também existe uma diversidade de out-
ras influências na vida das crianças e jovens. Embora as mães
e os pais sejam centrais para o desenvolvimento saudável dos fil-
hos e filhas, outros familiares, amigos, professores, pares ou institu-
ições sociais, por exemplo, também influenciam e contribuem para o
crescimento e desenvolvimento das crianças e jovens. Sendo que, as
próprias crianças e jovens são os contribuidores mais essenciais
para o seu próprio desenvolvimento.
Os Desafios de Ser Mãe
e Ser Pai
Ser mãe ou pai não está apenas associado a prazer e recompensas.
Ser mãe ou ser pai, por muito competentes que sejamos, também é
lidar com frustrações, medos, falhas e desafios.
Os desafios e dificuldades de se ser mãe e pai, na actualidade, pre-
cisam de ser compreendidos no âmbito das complexidades, ambigui-
dades e dinâmicas do nosso contexto social e cultural, das carac-
terísticas e circunstâncias individuais do pai e da mãe, bem como da
criança/jovem (por exemplo, o stresse económico ou aquele que é
provocado pela doença ou necessidades específicas de um filho/filha
agrava as dificuldades e desafios de ser mãe e pai).
Ainda assim, alguns desafios parecem ser comuns à maior parte
das mães e pais.
(DES)EQUILÍBRIO ENTRE A VIDA
FAMILIAR E PROFISSIONAL
As mães e os pais sentem-se, com frequência, divididos entre as
suas responsabilidades profissionais e parentais. Quando se focam
numa, sentem-se a negligenciar a outra e vice-versa. Organizar o
trabalho e a vida familiar de forma a permitir uma integração sinér-
gica de ambas as dimensões na nossa vida, pode parecer, às vezes,
uma “missão impossível” (embora essencial à nossa saúde, física e
psicológica, bem-estar e qualidade de vida da família).
RITMO DE VIDA ACELERADO
A vida na sociedade actual enfatiza a produtividade e a actividade.
A maior parte dos adultos (sobretudo aqueles que são pais e
mães) queixa-se de “não ter tempo” e parece ser difícil “abrandar”.
É difícil respeitar o tempo que uma criança leva a atar os sapatos
quando já estamos atrasados para o trabalho. É difícil deixá-los es-
tar mais tempo a brincar no parque porque, quando chegarmos a
casa, ainda temos de tratar dos banhos e do jantar e,
por vezes, voltar a trabalhar. As próprias crianças
e jovens têm, em muitos casos, um horário de
actividades preenchido, que lhes deixa pouco
tempo para estarem, simplesmente, com
os pais e outros familiares, aproveitan-
do a companhia uns dos outros ou
para realizarem actividades não
programadas ou organizadas.
SOBRECARGA DE INFORMAÇÃO
As mães e pais estão expostos a tanta informação sobre como
devem exercer a sua parentalidade e educar as filhas e os filhos,
que pode ser mais difícil tomarem decisões ou encontrarem a sua
própria forma de serem mães e pais. Sobre o mesmo assunto (seja
ele, começar pela papa ou pela sopa, fazer o desfralde, ajudar ou não
com os trabalhos de casa, lidar com as saídas à noite e os potenciais
namorados ou namoradas, por exemplo) há dezenas de pontos de
vista e perspectivas, muitos deles antagónicos e nem todos credíveis.
Os pais ou mães podem questionar-se sobre qual é a melhor escolha,
perante orientações, frequentemente, conflituantes, bem como po-
dem ter dificuldades em compatibilizar essas escolhas com as suas
crenças ou mesmo vivenciá-las com sentimentos de culpa.
“CULTURA DA CULPA”
Existe muita pressão para que os (nossos) filhos e filhas sejam os que
dormem melhor, os que deixam a fralda mais cedo, os mais espertos
e bons alunos, os mais giros e bem vestidos, etc. Existe pressão a
propósito da amamentação, da alimentação, da actividade física
ou das actividades culturais com que estimulamos
as crianças e jovens. Frequentemente os pais e a
mães sentem-se culpados porque não estão a
fazer “o que deviam” (porque o filho ou a fil-
ha bebe biberão, porque ainda usa chucha,
porque se deita tarde, porque vê tele-
visão ou está no telemóvel demasiado
tempo, etc.), porque não são “per-
feitos”. A maior parte das mães
e dos pais já se sentiu julgado e criticado por
cônjuges, familiares, amigos, vizinhos, co-
legas de trabalho, profissionais das áre-
as da educação, saúde ou social ou até
por desconhecidos (ainda que, na realidade,
não exista uma “forma certa” de ser pai ou
mãe ou uma solução única para os desafios da
parentalidade).
PARENTALIDADE DIGITAL
A forma como a tecnologia está presente na nossa vida colocou os
pais e as mães perante novos desafios, para os quais não existem
respostas consensuais: devemos incentivar as crianças e os jovens
a usar as novas tecnologias? O que é tempo a mais no tablet ou no
telemóvel? Como encontrar o equilíbrio entre os limites e a autono-
mia (por exemplo, entre respeitar a privacidade dos jovens, mas si-
multaneamente, estar atento a situações de bullying, violência sexual
ou outras)? As mães e pais têm um papel importante na promoção
de hábitos seguros e saudáveis de interacção com a tecnologia,
mas também têm dúvidas sobre como fazê-lo e temem os seus
efeitos no desenvolvimento dos filhos e filhas.
EXIGÊNCIA DE FELICIDADE E
SUCESSO
A situação económica, social e cultural que vivemos coloca ainda
mais pressão nos pais e mães para que criem fil-
hos/as bem-sucedidos, garantindo que têm um
sucesso escolar e académico que os coloque
em vantagem competitiva no mercado de
trabalho. Esta “vantagem competitiva” parece
aplicar-se também à necessidade de garantir a
satisfação, realização e felicidade permanente das
crianças e jovens (parecendo, às vezes, ignorar-se ou
desvalorizar-se o papel fundamental que as adversidades,
os sentimentos de frustração ou outras emoções e sentimen-
tos têm no desenvolvimento e crescimento das crianças e jov-
ens).
PANDEMIA COVID-19
Recentemente, e devido à pandemia de COVID-19, as mães e os pais
viram-se (e vêem-se) confrontados com situações de dever de recol-
himento, que os obrigam a ser pai/mãe, professor/professora, tra-
balhador/trabalhadora, simultaneamente e no mesmo espaço. As
mães e os pais tiveram de cuidar dos filhos e dar resposta às suas
necessidades (para além das necessidades básicas, houve necessi-
dade de reforçar a atenção às necessidades de afecto e segurança),
supervisionar as tarefas escolares, gerir situações de (potencial)
conflito, realizar teletrabalho e tarefas domésticas, bem como de lidar
com um contexto geral de incerteza, insegurança, medo e ansiedade,
ou experiência de perda. Frequentemente, os pais e as mães du-
vidaram das suas competências, sentiram dificuldades em criar uma
rotina ou definir limites.
Foi um período que intensificou o tempo que passamos em interacção
com os nossos filhos/filhas e que nos deu oportunidade de nos ob-
servar mais enquanto pais e mães – qual é o impacto das nossas
acções no bem-estar e no mal-estar dos nossos filhos/as? Quais são
as nossas principais áreas de competência e de dificuldade?
Nalguns casos, para além de stresse parental, as mães e os pais
sentiram burnout parental – uma exaustão intensa associada ao pa-
pel parental (por exemplo, sentir-se emocionalmente esgotado, sen-
tir que se atingiu o limite, que não se vai conseguir cuidar da criança
nem mais um dia e que não se consegue retirar prazer desse cuidar).
O impacto psicológico da pandemia também foi sentido pelos pais e
mães, individualmente ou enquanto casal, influenciando a sua paren-
talidade.
SAÍDA TARDIA DE CASA
Os filhos e filhas adultos demoram cada vez mais a alcançar a
independência económica e a saírem de casa dos pais. Esta re-
alidade é explicada por factores como o prolongamento dos anos
de estudo, a instabilidade e precaridade laboral, salários reduzidos
ou os custos elevados da habitação. Hoje é frequente que até cerca
dos 30 anos, algumas pessoas ainda não se tenham emancipado,
da mesma forma que os pais e as mães também não os
consideram autónomos e, por isso, os pais continuam
a sentir necessidade de dar um apoio (financeiro e
emocional) mais próximo aos filhos e filhas.
Tendo em conta as décadas de investimen-
to activo por parte dos pais e mães no
desenvolvimento dos filhos e filhas,
estabelece-se uma relação entre o
bem-estar dos filhos/as, mes-
mo já adultos, e o bem-estar dos pais/mães. Quando os filhos/as
têm sucesso na sua vida adulta, a saúde psicológica dos pais/mães
beneficia desse triunfo. O contrário também sucede: quando os filhos
ou filhas enfrentam problemas – físicos, relacionais, emocionais, fi-
nanceiros, laborais – a Saúde Psicológica e a percepção de bem-es-
tar dos pais diminui.
Os pais e mães podem sentir tristeza, uma sensação de perda e de
sentido para a vida com a saída dos filhos/as de casa. No entanto,
também podem sentir satisfação, felicidade e orgulho e experimen-
tar maior liberdade e energia para investir noutras relações, incluin-
do a conjugal, e perseguir objectivos pessoais.
O Bem-Estar das Mães e dos Pais
Compreender os desafios e o(s) contexto(s) da parentalidade é essencial para o bem-estar das mães e dos pais que, por sua vez, é essencial
ao bem-estar e ao desenvolvimento das crianças e, em termos gerais, das comunidades e da sociedade.
As evidências científicas demonstram que ser mãe e pai, hoje, pode ser mais stressante do que era há décadas. Por isso, é maior a necessi-
dade e torna-se essencial:
Investir no autocuidado e prevenir a exaustão parental. Educar os nossos filhos/as é uma tarefa muito importante e, por isso, para o
fazermos bem é necessário cuidarmos de nós – da nossa saúde física e psicológica, das nossas relações, do nosso bem-estar. O autocuida-
do é bom para nós, mas também para os nossos filhos/filhas. Saiba mais sobre autocuidado: Factsheet sobre Autocuidado e Bem-Estar,
Checklist Cuido de Mim?.
Gerir o equilíbrio entre a vida familiar e profissional, conciliando os diferentes papéis e objectivos. Saiba mais sobre esta necessidade
básica aqui.
Lidar com alguns mitos como o de que existem pais e mães perfeitos ou o da necessidade de superprotecção das crianças e jovens.
Na realidade, não existe a parentalidade perfeita, existem mães e pais que tentam ser os melhores pais e mães pos-
síveis dos seus filhos e filhas, com as circunstâncias que têm, oferecendo-lhes afecto, um sentimento de confiança e
segurança e estrutura. E é isso que abre caminho para o desenvolvimento de pessoas saudáveis, confiantes, com-
petentes, autónomas e capazes de tomar as suas próprias decisões.
Na realidade, é necessário ensinarmos os nossos filhos e filhas a lidar com o risco, a imprevisibilidade,
a incerteza e promovermos a sua resiliência.
Os Pais e Mães também
precisam de Ajuda
O stresse de cuidar de uma criança ou jovem pode fazer-nos sentir ansiosos, zan-
gados, culpados ou completamente esgotados. Podemos até questionarmo-nos se
somos bons pais/mães. Estas tensões são normais e inevitáveis, fazem parte da
parentalidade. Contudo, o stresse parental pode tornar-se um problema quando nos
sentimos tão desgastados que não conseguimos lidar com o que acontece ou per-
demos o controlo. Preencha a Checklist Stresse Parental.
Quando somos pais e mães é natural que haja momentos em que possamos pre-
cisar de apoio adicional. Procure informação e recursos em www.eusinto.me ou
ajuda especializada junto de um Psicólogo ou Psicóloga.
Os Psicólogos e Psicólogas podem ajudar as mães e os pais a compreender o desen-
volvimento dos filhos e filhas, a estabelecer uma relação e uma comunicação sau-
dável e positiva e a lidar com dificuldades e problemas que possam surgir ao longo
da parentalidade. Podem ajudar os pais e mães a reflectir sobre o seu papel, apoian-
do-os em processos de melhoria da estrutura, funcionalidade e satisfação familiares.
DOCUMENTO ELABORADO COM O APOIO DE:
Mariana Negrão (CP 8066)
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  • 1. Ser Mãe, Ser Pai Os Desafios da Parentalidade (Durante e Após a Pandemia)
  • 2. As mães e os pais dizem, frequentemente, que ser mãe ou pai é a melhor e mais difícil tarefa do mundo. Por um lado, dá um sentido de propósito e significado à nossa vida, traz-nos satisfação, gratifi- cação e sentimentos de realização e bem-estar. Por outro, as responsabilidades e exigências de educar crianças/jovens saudáveis e com bem-estar também podem desafiar os nossos limites, gerar stresse e sentimentos de sobrecarga. É-se mãe e pai ao longo da vida da criança, adolescente, jovem e adulto que é nosso filho ou filha. A parentalidade vai desenvolvendo-se e transformando-se conforme as necessidades, características e desejos dos filhos/as e das mães/pais, mas pode sempre impactar de forma significativa, positiva ou negativa, o desenvolvimento das nossas filhas e filhos. No caso de quem escolhe ser pai ou mãe, a parentalidade é uma das tarefas mais importantes da vida adulta, interferindo na forma como vivemos as restantes esferas da nossa vida. Para além disso, hoje em dia somos bombardeados com conselhos e informação sobre práticas e estratégias de parentali- dade – na rua, nas redes sociais, na televisão, nas livrarias. A expectativa e a pressão sobre os pais e as mães são enormes. Ser pai ou mãe, de várias formas, parece ser mais desafiante do que era há algumas décadas, no tempo dos nossos avós ou bisavós. A abordagem à parentalidade e a relação que estabelecemos com os nossos filhos e filhas também parece ser, em muitos casos, bastante diferente.
  • 3. Ser Mãe, Ser Pai A parentalidade envolve assegurar a saúde e a segurança dos nos- sos filhos e filhas. Amá-los, cuidá-los, aceitá-los, encorajá-los e orientá-los. E ainda transmitir-lhes valores sociais e culturais, ajudá-los a desenvolver competências e recursos, de modo a tornarem-se crianças, jovens e depois adultos competentes e ca- pazes de atingirem os seus objectivos. As mães e os pais, por vezes outros cuidadores, oferecem às crianças um contexto de protecção e cuidado onde podem desenvolver-se física, cognitiva, emocional e socialmente de forma de forma positiva. Os laços afectivos de vinculação segura entre os pais/mães e os filhos/as permitem-lhes estabelecer relações saudáveis com os out- ros e com o ambiente em que vivem. Quando a relação entre pais/ mães e filhos/as é acolhedora, aberta, transmite confiança e é co- municativa, quando inclui o estabelecimento de limites adequados, regras e razões para os comportamentos esperados, as crianças e jovens revelam maior segurança, auto-estima, saúde psicológica, maior capacidade para estabelecerem relações positivas com os out- ros e melhor desempenho escolar. Pelo contrário, cuidados parentais desadequados aumentam o risco de problemas físi- cos (obesidade ou problemas cardíacos, por exem- plo) e psicológicos (agressividade, ansiedade ou problemas de comportamento, por exemplo), com consequência diversas, entre as quais maior risco de insucesso e abandono escolar precoce. A parentalidade – laços afectivos, bem como os conhecimentos, as atitudes e os comportamentos das mães e dos pais – é influenciada por vários fac- tores, entre os quais, as experiências com os respectivos pais e mães (incluindo as da sua infância), as suas circun- stâncias (por exemplo, fontes de stresse provenientes da situ- ação laboral), as características da própria criança/jovem (tempera- mento), as expectativas e práticas que os pais e mães percepcionam e observam nos outros à sua volta (família, amigos, redes sociais) e as crenças pessoais e socioculturais. Mas também, o sentido de competência pessoal, a relação conjugal ou com o outro progeni- tor, a rede de apoio que têm, os serviços disponíveis (por exemplo, existência ou não de creches e outros apoios sociais e cuidados de saúde) e outras situações de desigualdade ou vulnerabilidade (por exemplo, discriminação, pobreza ou exclusão). É preciso notar que, para além da diversidade dos conhecimentos, atitudes e práticas parentais, também existe uma diversidade de out- ras influências na vida das crianças e jovens. Embora as mães e os pais sejam centrais para o desenvolvimento saudável dos fil- hos e filhas, outros familiares, amigos, professores, pares ou institu- ições sociais, por exemplo, também influenciam e contribuem para o crescimento e desenvolvimento das crianças e jovens. Sendo que, as próprias crianças e jovens são os contribuidores mais essenciais para o seu próprio desenvolvimento.
  • 4. Os Desafios de Ser Mãe e Ser Pai Ser mãe ou pai não está apenas associado a prazer e recompensas. Ser mãe ou ser pai, por muito competentes que sejamos, também é lidar com frustrações, medos, falhas e desafios. Os desafios e dificuldades de se ser mãe e pai, na actualidade, pre- cisam de ser compreendidos no âmbito das complexidades, ambigui- dades e dinâmicas do nosso contexto social e cultural, das carac- terísticas e circunstâncias individuais do pai e da mãe, bem como da criança/jovem (por exemplo, o stresse económico ou aquele que é provocado pela doença ou necessidades específicas de um filho/filha agrava as dificuldades e desafios de ser mãe e pai). Ainda assim, alguns desafios parecem ser comuns à maior parte das mães e pais. (DES)EQUILÍBRIO ENTRE A VIDA FAMILIAR E PROFISSIONAL As mães e os pais sentem-se, com frequência, divididos entre as suas responsabilidades profissionais e parentais. Quando se focam numa, sentem-se a negligenciar a outra e vice-versa. Organizar o trabalho e a vida familiar de forma a permitir uma integração sinér- gica de ambas as dimensões na nossa vida, pode parecer, às vezes, uma “missão impossível” (embora essencial à nossa saúde, física e psicológica, bem-estar e qualidade de vida da família). RITMO DE VIDA ACELERADO A vida na sociedade actual enfatiza a produtividade e a actividade. A maior parte dos adultos (sobretudo aqueles que são pais e mães) queixa-se de “não ter tempo” e parece ser difícil “abrandar”. É difícil respeitar o tempo que uma criança leva a atar os sapatos quando já estamos atrasados para o trabalho. É difícil deixá-los es- tar mais tempo a brincar no parque porque, quando chegarmos a casa, ainda temos de tratar dos banhos e do jantar e, por vezes, voltar a trabalhar. As próprias crianças e jovens têm, em muitos casos, um horário de actividades preenchido, que lhes deixa pouco tempo para estarem, simplesmente, com os pais e outros familiares, aproveitan- do a companhia uns dos outros ou para realizarem actividades não programadas ou organizadas.
  • 5. SOBRECARGA DE INFORMAÇÃO As mães e pais estão expostos a tanta informação sobre como devem exercer a sua parentalidade e educar as filhas e os filhos, que pode ser mais difícil tomarem decisões ou encontrarem a sua própria forma de serem mães e pais. Sobre o mesmo assunto (seja ele, começar pela papa ou pela sopa, fazer o desfralde, ajudar ou não com os trabalhos de casa, lidar com as saídas à noite e os potenciais namorados ou namoradas, por exemplo) há dezenas de pontos de vista e perspectivas, muitos deles antagónicos e nem todos credíveis. Os pais ou mães podem questionar-se sobre qual é a melhor escolha, perante orientações, frequentemente, conflituantes, bem como po- dem ter dificuldades em compatibilizar essas escolhas com as suas crenças ou mesmo vivenciá-las com sentimentos de culpa. “CULTURA DA CULPA” Existe muita pressão para que os (nossos) filhos e filhas sejam os que dormem melhor, os que deixam a fralda mais cedo, os mais espertos e bons alunos, os mais giros e bem vestidos, etc. Existe pressão a propósito da amamentação, da alimentação, da actividade física ou das actividades culturais com que estimulamos as crianças e jovens. Frequentemente os pais e a mães sentem-se culpados porque não estão a fazer “o que deviam” (porque o filho ou a fil- ha bebe biberão, porque ainda usa chucha, porque se deita tarde, porque vê tele- visão ou está no telemóvel demasiado tempo, etc.), porque não são “per- feitos”. A maior parte das mães e dos pais já se sentiu julgado e criticado por cônjuges, familiares, amigos, vizinhos, co- legas de trabalho, profissionais das áre- as da educação, saúde ou social ou até por desconhecidos (ainda que, na realidade, não exista uma “forma certa” de ser pai ou mãe ou uma solução única para os desafios da parentalidade). PARENTALIDADE DIGITAL A forma como a tecnologia está presente na nossa vida colocou os pais e as mães perante novos desafios, para os quais não existem respostas consensuais: devemos incentivar as crianças e os jovens a usar as novas tecnologias? O que é tempo a mais no tablet ou no telemóvel? Como encontrar o equilíbrio entre os limites e a autono- mia (por exemplo, entre respeitar a privacidade dos jovens, mas si- multaneamente, estar atento a situações de bullying, violência sexual ou outras)? As mães e pais têm um papel importante na promoção de hábitos seguros e saudáveis de interacção com a tecnologia, mas também têm dúvidas sobre como fazê-lo e temem os seus efeitos no desenvolvimento dos filhos e filhas. EXIGÊNCIA DE FELICIDADE E SUCESSO A situação económica, social e cultural que vivemos coloca ainda
  • 6. mais pressão nos pais e mães para que criem fil- hos/as bem-sucedidos, garantindo que têm um sucesso escolar e académico que os coloque em vantagem competitiva no mercado de trabalho. Esta “vantagem competitiva” parece aplicar-se também à necessidade de garantir a satisfação, realização e felicidade permanente das crianças e jovens (parecendo, às vezes, ignorar-se ou desvalorizar-se o papel fundamental que as adversidades, os sentimentos de frustração ou outras emoções e sentimen- tos têm no desenvolvimento e crescimento das crianças e jov- ens). PANDEMIA COVID-19 Recentemente, e devido à pandemia de COVID-19, as mães e os pais viram-se (e vêem-se) confrontados com situações de dever de recol- himento, que os obrigam a ser pai/mãe, professor/professora, tra- balhador/trabalhadora, simultaneamente e no mesmo espaço. As mães e os pais tiveram de cuidar dos filhos e dar resposta às suas necessidades (para além das necessidades básicas, houve necessi- dade de reforçar a atenção às necessidades de afecto e segurança), supervisionar as tarefas escolares, gerir situações de (potencial) conflito, realizar teletrabalho e tarefas domésticas, bem como de lidar com um contexto geral de incerteza, insegurança, medo e ansiedade, ou experiência de perda. Frequentemente, os pais e as mães du- vidaram das suas competências, sentiram dificuldades em criar uma rotina ou definir limites. Foi um período que intensificou o tempo que passamos em interacção com os nossos filhos/filhas e que nos deu oportunidade de nos ob- servar mais enquanto pais e mães – qual é o impacto das nossas acções no bem-estar e no mal-estar dos nossos filhos/as? Quais são as nossas principais áreas de competência e de dificuldade? Nalguns casos, para além de stresse parental, as mães e os pais sentiram burnout parental – uma exaustão intensa associada ao pa- pel parental (por exemplo, sentir-se emocionalmente esgotado, sen- tir que se atingiu o limite, que não se vai conseguir cuidar da criança nem mais um dia e que não se consegue retirar prazer desse cuidar). O impacto psicológico da pandemia também foi sentido pelos pais e mães, individualmente ou enquanto casal, influenciando a sua paren- talidade. SAÍDA TARDIA DE CASA Os filhos e filhas adultos demoram cada vez mais a alcançar a independência económica e a saírem de casa dos pais. Esta re- alidade é explicada por factores como o prolongamento dos anos de estudo, a instabilidade e precaridade laboral, salários reduzidos ou os custos elevados da habitação. Hoje é frequente que até cerca dos 30 anos, algumas pessoas ainda não se tenham emancipado, da mesma forma que os pais e as mães também não os consideram autónomos e, por isso, os pais continuam a sentir necessidade de dar um apoio (financeiro e emocional) mais próximo aos filhos e filhas. Tendo em conta as décadas de investimen- to activo por parte dos pais e mães no desenvolvimento dos filhos e filhas, estabelece-se uma relação entre o bem-estar dos filhos/as, mes-
  • 7. mo já adultos, e o bem-estar dos pais/mães. Quando os filhos/as têm sucesso na sua vida adulta, a saúde psicológica dos pais/mães beneficia desse triunfo. O contrário também sucede: quando os filhos ou filhas enfrentam problemas – físicos, relacionais, emocionais, fi- nanceiros, laborais – a Saúde Psicológica e a percepção de bem-es- tar dos pais diminui. Os pais e mães podem sentir tristeza, uma sensação de perda e de sentido para a vida com a saída dos filhos/as de casa. No entanto, também podem sentir satisfação, felicidade e orgulho e experimen- tar maior liberdade e energia para investir noutras relações, incluin- do a conjugal, e perseguir objectivos pessoais.
  • 8. O Bem-Estar das Mães e dos Pais Compreender os desafios e o(s) contexto(s) da parentalidade é essencial para o bem-estar das mães e dos pais que, por sua vez, é essencial ao bem-estar e ao desenvolvimento das crianças e, em termos gerais, das comunidades e da sociedade. As evidências científicas demonstram que ser mãe e pai, hoje, pode ser mais stressante do que era há décadas. Por isso, é maior a necessi- dade e torna-se essencial: Investir no autocuidado e prevenir a exaustão parental. Educar os nossos filhos/as é uma tarefa muito importante e, por isso, para o fazermos bem é necessário cuidarmos de nós – da nossa saúde física e psicológica, das nossas relações, do nosso bem-estar. O autocuida- do é bom para nós, mas também para os nossos filhos/filhas. Saiba mais sobre autocuidado: Factsheet sobre Autocuidado e Bem-Estar, Checklist Cuido de Mim?. Gerir o equilíbrio entre a vida familiar e profissional, conciliando os diferentes papéis e objectivos. Saiba mais sobre esta necessidade básica aqui. Lidar com alguns mitos como o de que existem pais e mães perfeitos ou o da necessidade de superprotecção das crianças e jovens. Na realidade, não existe a parentalidade perfeita, existem mães e pais que tentam ser os melhores pais e mães pos- síveis dos seus filhos e filhas, com as circunstâncias que têm, oferecendo-lhes afecto, um sentimento de confiança e segurança e estrutura. E é isso que abre caminho para o desenvolvimento de pessoas saudáveis, confiantes, com- petentes, autónomas e capazes de tomar as suas próprias decisões. Na realidade, é necessário ensinarmos os nossos filhos e filhas a lidar com o risco, a imprevisibilidade, a incerteza e promovermos a sua resiliência.
  • 9. Os Pais e Mães também precisam de Ajuda O stresse de cuidar de uma criança ou jovem pode fazer-nos sentir ansiosos, zan- gados, culpados ou completamente esgotados. Podemos até questionarmo-nos se somos bons pais/mães. Estas tensões são normais e inevitáveis, fazem parte da parentalidade. Contudo, o stresse parental pode tornar-se um problema quando nos sentimos tão desgastados que não conseguimos lidar com o que acontece ou per- demos o controlo. Preencha a Checklist Stresse Parental. Quando somos pais e mães é natural que haja momentos em que possamos pre- cisar de apoio adicional. Procure informação e recursos em www.eusinto.me ou ajuda especializada junto de um Psicólogo ou Psicóloga. Os Psicólogos e Psicólogas podem ajudar as mães e os pais a compreender o desen- volvimento dos filhos e filhas, a estabelecer uma relação e uma comunicação sau- dável e positiva e a lidar com dificuldades e problemas que possam surgir ao longo da parentalidade. Podem ajudar os pais e mães a reflectir sobre o seu papel, apoian- do-os em processos de melhoria da estrutura, funcionalidade e satisfação familiares. DOCUMENTO ELABORADO COM O APOIO DE: Mariana Negrão (CP 8066)