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RENDA
BÁSICA
DIFERENCIANDO CONCEITOS
Renda mínima Inclusão minimalista para pobreza extrema; alívio da
pobreza; em geral condicional
Renda básica Inclusão básica, em geral, incondicional e individual
(adultos)
Ingresso básico
universal
Inclusão básica generalizada, para todos, incondicional e
individual
Renda cidadã Inclusão que permite, além da quantidade, a qualidade de
vida, para todos
Ensaio 529 - Renda Básica - Pedro Demo
HISTÓRICO
Surgimento: Século XVI
Thomas Moore, na obra
Utopia (1516)
Continuidade: Século XVII/XVIII
Condorcet (Esquisse d’un tableau
historique des progrès de l’esprit
humain, 1795) e Thomas Paine (panfleto
Agrarian Justice, 1796)
Evolução (limitada): Século XIX
Charles Fourier (La Fausse Industrie,
1836); John Stuart Mill (Principles of
Political Economy, 1848); Joseph
Charlier (Solution du problème social
ou constitution humanitaire, 1848)
Século XX: Aprimoramento e Expansão
1920
Primeiro movimento
social em favor da
renda básica
no Reino Unido
1940
Proposta para sistema
abrangente de segurança
social; primeiro modelo de
imposto negativo sobre
ingresso; o Reino Unido
implementa assistências
incondicionais a famílias a
partir do segundo filho
1960 e 1970
Estados Unidos e Canadá
experimentam a taxação negativa
do ingresso; apoiado por Milton
Friedman, Nixon substitui vários
programas federais por imposto
negativo sobre ingresso; o
Congresso eventualmente aprova o
ingresso mínimo para os idosos e
PcDs
1980
Primeira experiência
concreta no Alasca; assunto
deslancha na Europa, surgem
as organizações Citizen’s
Basic Income Trust e Basic
Income Earth Network
Século XXI: Experimentos pelo mundo
Brasil: Bolsa Família (2003 - 2020)
e Município de Maricá, RJ (2013 -
atual); Namíbia (2008/09); Índia
(2011/12); Finlândia e Canadá
(2017/18) e Quênia (2016 a 2028)
POR QUE RENDA BÁSICA?
PAPÉIS SOCIAIS
POR QUE RENDA BÁSICA?
AUTOMAÇÃO E MERCADO
DE TRABALHO
POR QUE RENDA BÁSICA?
PROMOTORA DA IGUALDADE
DE GÊNERO
PROGRAMAS
ASSISTENCIAIS:
BOLSA FAMÍLIA
● Programa de transferência
condicional de renda
mínima criado em 2003;
● Tem sobrevivido mesmo com
a alternância política;
● Cadastro Único;
● Agrega outros programas;
● Lei nº 10.836/2004;
● Objetivo: contribuir para
a superação da pobreza.
PROGRAMAS
ASSISTENCIAIS:
BOLSA FAMÍLIA
Eixos de Apoio:à saúde, à educação, à
assistência social - em que se propõe:
● alívio imediato da pobreza
por meio da transferência
direta de renda às famílias;
● ampliação do acesso a
serviços públicos que
representam direitos básicos
-(romper com ciclo
intergeracional de reprodução
da pobreza);
● coordenação com outras ações
e programas de governo nas
suas três esferas X superar a
situação e vulnerabilidade.
PROGRAMAS
ASSISTENCIAIS:
BOLSA FAMÍLIA
● Condicionalidade - família
sem renda comprovada e
famílias com renda per
capita mensal (R$105,01 A
R$210,00) por pessoa;
● Adicional de (R$ 150,00)
limitado a dois por
família;
● Total R$ 600,00.
● Atualmente: 21,6% milhões
(mds.gov.br) sendo que,
aproximadamente 62,5
milhões de pessoas vivem
abaixo da linha de pobreza
(IBGE).
PROGRAMAS
ASSISTENCIAIS:
BOLSA FAMÍLIA
● Desafio: incluir de fato
quem precisa do benefício
(17,9 milhões)= extrema
pobreza (IBGE);
● Diminuir as burocracias de
cadastro do CadÚnico e
controle.
● Conclusão: O alívio da
pobreza é um efeito
econômico relativamente
pequeno que encobre a
pobreza política que
continua intata. (Demo
2007).
PROGRAMAS
ASSISTENCIAIS:
BOLSA FAMÍLIA
Reflexão: Bolsa família
(política social) X
Capitalismo (dinheiro) X
Liberalismo (escolha do
beneficiário) X
Hipercapitalismo
(economia/inflação).
PROGRAMAS
ASSISTENCIAIS: BPC
● Previsto na Lei Orgânica
da Assistência Social –
LOAS, é a garantia de um
salário mínimo por mês:
○ ao idoso com idade igual ou
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qualquer idade.
● Para ter direito ao BPC, é
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pessoa do grupo familiar
seja igual ou menor que
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PROGRAMAS
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Renda básica
Art. 1º É instituída, a partir de 2005, a
renda básica de cidadania, que se
constituirá no direito de todos os
brasileiros residentes no País e
estrangeiros residentes há pelo menos 5
(cinco) anos no Brasil, não importando sua
condição socioeconômica, receberem,
anualmente, um benefício monetário.
§ 1º A abrangência mencionada no caput deste
artigo deverá ser alcançada em etapas, a
critério do Poder Executivo, priorizando-se
as camadas mais necessitadas da população.
§ 2º O pagamento do benefício deverá ser de
igual valor para todos, e suficiente para
atender às despesas mínimas de cada pessoa
com alimentação, educação e saúde,
considerando para isso o grau de
desenvolvimento do País e as possibilidades
orçamentárias.
Entrevista com Eduardo Suplicy
57:17 a 1:03:03
Decisão do STF (MI 7300)
● O caso: autor em situação de rua, desempregada, com deficiência intelectual moderada e
sobrevive apenas com recursos recebidos do Programa Bolsa Família, no valor de R$ 81, após
ter requerido, sem sucesso, benefício de prestação continuada destinado a pessoas com
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● STF determinou a implementação, a partir de 2022, do pagamento do programa de renda básica
de cidadania para os brasileiros em situação de extrema pobreza e pobreza, com renda per
capita inferior a R$ 89 e R$ 178, respectivamente (hoje: R$ 105 e R$ 210).
● Prevaleceu, no julgamento, o voto do ministro Gilmar Mendes, no sentido de determinar o
pagamento do benefício a partir de 2022, mas sem fixar valor.Ele citou, em seu voto,
balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) segundo o
qual o Brasil alcançou, em 2020, a marca de aproximadamente 9 milhões de pessoas em
situação de extrema pobreza, com renda per capita inferior a R$ 89, segundo critério de
elegibilidade do Bolsa Família. Outros estudos recentes do IBGE apontam que 16 milhões de
cidadãos brasileiros estão em condição de pobreza, com renda per capita inferior a R$ 178.
● “Não é necessário grande esforço argumentativo para demonstrar a imprescindibilidade de
programas assistenciais em uma economia pujante, porém extremamente desigual, como a do
Brasil”, afirmou.
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mundo indo para a Disneylândia, empregada
doméstica indo para a Disneylândia, uma festa
danada”
Paulo Guedes, Ex-ministro da Fazenda
"É a fala de um senhor de engenho."
Creuza Oliveira, secretária Nacional da FENATRAD
BRASIL: SALÁRIO MÍNIMO ABUSIVAMENTE MÍNIMO
BRASIL: DESIGUALDADE E POBREZA POLÍTICA
CARACTERÍSTICAS DE UMA SOCIEDADE DESIGUAL (THEODORO, 2022)
1. Sociedades que convivem com a situação de desigualdade em
detrimento de um grupo racialmente discriminado;
2. Produzem assimetrias em áreas diversas e importantes da
dinâmica social (mercado de trabalho, educação, saúde,
distribuição espacial da população);
3. Estabelecem mecanismos jurídico-institucionais e repressivo
que funcionam para estabilização social e preservação da
desigualdade;
4. Enfraquecem forças contrárias ao status quo.
Pobreza não é estritamente de caráter material - 'ter' (renda, emprego,
habitação, alimentos etc.
A esfera 'ser' alcança intensidades maior comprometedoras;
Pobreza tem fundamento na desigualdade social - dinâmica política;
Saber pensar é, possivelmente, o 'recurso' mais escasso e disputado na história
da humanidade;
Combate à pobreza - política social do conhecimento é estratégia mais aguda;
Pobreza política começa com ignorância - historicamente cultivada;
Carolina Maria de Jesus.
BRASIL: DESIGUALDADE E POBREZA POLÍTICA
Pobre não sabe que é pobre - é imbecilizado;
Confrontar-se é a habilidade da cidadania democrática, dentro das
regras do jogo (Estado de Direito);
O pobre deve estar no comando desse processo;
Não é suficiente distribuir, é imprescindível redistribuir renda.
BRASIL: DESIGUALDADE E POBREZA POLÍTICA
BRASIL: ENTRE DISTRIBUIR E REDISTRIBUIR
Redistribuir renda é necessariamente retirar de quem tem demais;
Para focalizar o pobre é necessário 'prejudicar' o rico;
A mulher empregada doméstica como exemplo da pobreza política:
A falta de consciência sobre sua posição social revela a pobreza
política.
Principal motor de transformação em prol da equidade funciona de
forma a reforçar as desigualdades - CF 1988 (THEODORO, 2022);
Proposta cidadã tida como ameaça pelos conservadores;
Vítima de movimento de descaracterização;
1. Emendas e regulamentações para limitar o alcance e efetividade;
2. Omissão como estratégia de desmonte.
BRASIL: ENTRE DISTRIBUIR E REDISTRIBUIR
Algumas
considerações
de Piketty
“A distribuição da riqueza é uma das
questões mais vivas e polêmicas da
atualidade.” (PIKETTY, 2013, p.11)
“A história da renda e da riqueza é
sempre profundamente política,
caótica e imprevisível” (PIKETTY,
2013, p.45)
“Quero apenas deixar claro aqui a
importância do sistema de renda
básica no contexto do Estado de
bem-estar social e da sociedade
justa.” (PIKETTY, 2019, p.992)
OSTAS DE
PIKETTY
“A justiça social não deve se resumir à renda básica. […] A ambição deve ser
construir uma sociedade fundada na justa remuneração do trabalho; em outras
palavras, no salário justo. A renda básica pode ajudar a melhorar a renda das
pessoas com baixa remuneração, mas isso também exige repensar um conjunto de
dispositivos institucionais complementares e independentes.” (PIKETTY, 2019,
p.993)
“É preciso evitar transformar a renda básica numa espécie de solução milagrosa que
permitiria dispensar todos os outros dispositivos institucionais. No passado, a
ideia de renda básica foi por vezes instrumentalizada para promover uma espécie de
“quitação de qualquer dívida” justificando fortes cortes nos outros programas
sociais. Por isso, é importante pensar a renda básica como um elemento
constitutivo de um todo mais ambicioso que inclua o imposto progressivo sobre a
propriedade e a renda, a dotação de capital e o Estado de bem- estar social.”
(PIKETTY, 2019, p.994)
As propostas
de Piketty
“Imposto progressivo sobre a propriedade
(financiamento da dotação de capital
transferida para cada jovem adulto)”
(PIKETTY, 2019, p.976)
“Imposto progressivo sobre a renda
(financiamento da renda básica e do
Estado de bem-estar social e ecológico)”
(PIKETTY, 2019, p.976)
“Esse sistema de circulação da propriedade é
um dos elementos constitutivos do socialismo
participativo. O outro é o compartilhamento
dos direitos de voto (50/50) entre os
representantes dos assalariados e os
acionistas das empresas.” (PIKETTY, 2019,
p.976).
OSTAS DE
PIKETTY
Piketty (2022, p. 247- 248) defende a “possibilidade de um socialismo
democrático e federal, descentralizado e participativo, ecológico e
diversificado, calcado na expansão no Estado social e do imposto progressivo;
na divisão do poder nas empresas; nas reparações pós-coloniais e na luta
contra as discriminações; na igualdade educacional e nos créditos de carbono;
na desmercantilização gradual da economia; na garantia do emprego e da
herança para todos; na drástica redução das desigualdades monetárias; e em
sistema eleitoral e midiático enfim a salvo do poder do dinheiro”.
QUESTIONAMENTOS
REFERÊNCIAS
www.ibge.gov.br/portal (acesso26/01/2023).
www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/cartilha_bolsafamilia (acesso: janeiro/2023).
www.recivitas.org/o-que-e-renda-basica (acesso: janeiro/2023).
DEMO, Pedro. Pobreza Política – A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. 2007. Autores
Associados, Campinas.
DEMO, Pedro. RENDA BÁSICA. 2020. Disponível em:
http://pedrodemo.blogspot.com/2020/07/ensaio-529-renda-basica.html. Acesso em: 28 jan. 2023.
PIKETTY, T. O Capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013.
PIKETTY, T. Capital e Ideologia. Tradução de Dorothée de Bruchard e Maria de Fátima Oliva
do Coutto. 1.ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.
PIKETTY, T. Uma breve história da igualdade. Tradução Maria de Fátima Oliva do Coutto. 1.
ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022.
THEODORO, Mário. A sociedade desigual: racismo e branquitude na formação do brasil. Rio de
Janeiro: Zahar, 2022.

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RENDA BÁSICA NO BRASIL: DESIGUALDADE, POBREZA E PROPOSTAS

  • 2. DIFERENCIANDO CONCEITOS Renda mínima Inclusão minimalista para pobreza extrema; alívio da pobreza; em geral condicional Renda básica Inclusão básica, em geral, incondicional e individual (adultos) Ingresso básico universal Inclusão básica generalizada, para todos, incondicional e individual Renda cidadã Inclusão que permite, além da quantidade, a qualidade de vida, para todos Ensaio 529 - Renda Básica - Pedro Demo
  • 3. HISTÓRICO Surgimento: Século XVI Thomas Moore, na obra Utopia (1516) Continuidade: Século XVII/XVIII Condorcet (Esquisse d’un tableau historique des progrès de l’esprit humain, 1795) e Thomas Paine (panfleto Agrarian Justice, 1796) Evolução (limitada): Século XIX Charles Fourier (La Fausse Industrie, 1836); John Stuart Mill (Principles of Political Economy, 1848); Joseph Charlier (Solution du problème social ou constitution humanitaire, 1848)
  • 4. Século XX: Aprimoramento e Expansão 1920 Primeiro movimento social em favor da renda básica no Reino Unido 1940 Proposta para sistema abrangente de segurança social; primeiro modelo de imposto negativo sobre ingresso; o Reino Unido implementa assistências incondicionais a famílias a partir do segundo filho 1960 e 1970 Estados Unidos e Canadá experimentam a taxação negativa do ingresso; apoiado por Milton Friedman, Nixon substitui vários programas federais por imposto negativo sobre ingresso; o Congresso eventualmente aprova o ingresso mínimo para os idosos e PcDs 1980 Primeira experiência concreta no Alasca; assunto deslancha na Europa, surgem as organizações Citizen’s Basic Income Trust e Basic Income Earth Network
  • 5. Século XXI: Experimentos pelo mundo Brasil: Bolsa Família (2003 - 2020) e Município de Maricá, RJ (2013 - atual); Namíbia (2008/09); Índia (2011/12); Finlândia e Canadá (2017/18) e Quênia (2016 a 2028)
  • 6. POR QUE RENDA BÁSICA? PAPÉIS SOCIAIS
  • 7. POR QUE RENDA BÁSICA? AUTOMAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO
  • 8. POR QUE RENDA BÁSICA? PROMOTORA DA IGUALDADE DE GÊNERO
  • 9. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: BOLSA FAMÍLIA ● Programa de transferência condicional de renda mínima criado em 2003; ● Tem sobrevivido mesmo com a alternância política; ● Cadastro Único; ● Agrega outros programas; ● Lei nº 10.836/2004; ● Objetivo: contribuir para a superação da pobreza.
  • 10. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: BOLSA FAMÍLIA Eixos de Apoio:à saúde, à educação, à assistência social - em que se propõe: ● alívio imediato da pobreza por meio da transferência direta de renda às famílias; ● ampliação do acesso a serviços públicos que representam direitos básicos -(romper com ciclo intergeracional de reprodução da pobreza); ● coordenação com outras ações e programas de governo nas suas três esferas X superar a situação e vulnerabilidade.
  • 11. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: BOLSA FAMÍLIA ● Condicionalidade - família sem renda comprovada e famílias com renda per capita mensal (R$105,01 A R$210,00) por pessoa; ● Adicional de (R$ 150,00) limitado a dois por família; ● Total R$ 600,00. ● Atualmente: 21,6% milhões (mds.gov.br) sendo que, aproximadamente 62,5 milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza (IBGE).
  • 12. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: BOLSA FAMÍLIA ● Desafio: incluir de fato quem precisa do benefício (17,9 milhões)= extrema pobreza (IBGE); ● Diminuir as burocracias de cadastro do CadÚnico e controle. ● Conclusão: O alívio da pobreza é um efeito econômico relativamente pequeno que encobre a pobreza política que continua intata. (Demo 2007).
  • 13. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: BOLSA FAMÍLIA Reflexão: Bolsa família (política social) X Capitalismo (dinheiro) X Liberalismo (escolha do beneficiário) X Hipercapitalismo (economia/inflação).
  • 14. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: BPC ● Previsto na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, é a garantia de um salário mínimo por mês: ○ ao idoso com idade igual ou superior a 65 anos; ou ○ à pessoa com deficiência de qualquer idade. ● Para ter direito ao BPC, é necessário que a renda por pessoa do grupo familiar seja igual ou menor que 1/4 do salário-mínimo. Renda mínima?
  • 15. PROGRAMAS ASSISTENCIAIS: Lei 10.835/04 Renda básica Art. 1º É instituída, a partir de 2005, a renda básica de cidadania, que se constituirá no direito de todos os brasileiros residentes no País e estrangeiros residentes há pelo menos 5 (cinco) anos no Brasil, não importando sua condição socioeconômica, receberem, anualmente, um benefício monetário. § 1º A abrangência mencionada no caput deste artigo deverá ser alcançada em etapas, a critério do Poder Executivo, priorizando-se as camadas mais necessitadas da população. § 2º O pagamento do benefício deverá ser de igual valor para todos, e suficiente para atender às despesas mínimas de cada pessoa com alimentação, educação e saúde, considerando para isso o grau de desenvolvimento do País e as possibilidades orçamentárias.
  • 16. Entrevista com Eduardo Suplicy 57:17 a 1:03:03
  • 17. Decisão do STF (MI 7300) ● O caso: autor em situação de rua, desempregada, com deficiência intelectual moderada e sobrevive apenas com recursos recebidos do Programa Bolsa Família, no valor de R$ 81, após ter requerido, sem sucesso, benefício de prestação continuada destinado a pessoas com deficiência. ● STF determinou a implementação, a partir de 2022, do pagamento do programa de renda básica de cidadania para os brasileiros em situação de extrema pobreza e pobreza, com renda per capita inferior a R$ 89 e R$ 178, respectivamente (hoje: R$ 105 e R$ 210). ● Prevaleceu, no julgamento, o voto do ministro Gilmar Mendes, no sentido de determinar o pagamento do benefício a partir de 2022, mas sem fixar valor.Ele citou, em seu voto, balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) segundo o qual o Brasil alcançou, em 2020, a marca de aproximadamente 9 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, com renda per capita inferior a R$ 89, segundo critério de elegibilidade do Bolsa Família. Outros estudos recentes do IBGE apontam que 16 milhões de cidadãos brasileiros estão em condição de pobreza, com renda per capita inferior a R$ 178. ● “Não é necessário grande esforço argumentativo para demonstrar a imprescindibilidade de programas assistenciais em uma economia pujante, porém extremamente desigual, como a do Brasil”, afirmou.
  • 18. Questões a se pensar no Brasil “Não tem negócio de câmbio a R$1,80. [Era] todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada” Paulo Guedes, Ex-ministro da Fazenda "É a fala de um senhor de engenho." Creuza Oliveira, secretária Nacional da FENATRAD
  • 19. BRASIL: SALÁRIO MÍNIMO ABUSIVAMENTE MÍNIMO
  • 20. BRASIL: DESIGUALDADE E POBREZA POLÍTICA CARACTERÍSTICAS DE UMA SOCIEDADE DESIGUAL (THEODORO, 2022) 1. Sociedades que convivem com a situação de desigualdade em detrimento de um grupo racialmente discriminado; 2. Produzem assimetrias em áreas diversas e importantes da dinâmica social (mercado de trabalho, educação, saúde, distribuição espacial da população); 3. Estabelecem mecanismos jurídico-institucionais e repressivo que funcionam para estabilização social e preservação da desigualdade; 4. Enfraquecem forças contrárias ao status quo.
  • 21. Pobreza não é estritamente de caráter material - 'ter' (renda, emprego, habitação, alimentos etc. A esfera 'ser' alcança intensidades maior comprometedoras; Pobreza tem fundamento na desigualdade social - dinâmica política; Saber pensar é, possivelmente, o 'recurso' mais escasso e disputado na história da humanidade; Combate à pobreza - política social do conhecimento é estratégia mais aguda; Pobreza política começa com ignorância - historicamente cultivada; Carolina Maria de Jesus. BRASIL: DESIGUALDADE E POBREZA POLÍTICA
  • 22. Pobre não sabe que é pobre - é imbecilizado; Confrontar-se é a habilidade da cidadania democrática, dentro das regras do jogo (Estado de Direito); O pobre deve estar no comando desse processo; Não é suficiente distribuir, é imprescindível redistribuir renda. BRASIL: DESIGUALDADE E POBREZA POLÍTICA
  • 23. BRASIL: ENTRE DISTRIBUIR E REDISTRIBUIR Redistribuir renda é necessariamente retirar de quem tem demais; Para focalizar o pobre é necessário 'prejudicar' o rico; A mulher empregada doméstica como exemplo da pobreza política: A falta de consciência sobre sua posição social revela a pobreza política.
  • 24. Principal motor de transformação em prol da equidade funciona de forma a reforçar as desigualdades - CF 1988 (THEODORO, 2022); Proposta cidadã tida como ameaça pelos conservadores; Vítima de movimento de descaracterização; 1. Emendas e regulamentações para limitar o alcance e efetividade; 2. Omissão como estratégia de desmonte. BRASIL: ENTRE DISTRIBUIR E REDISTRIBUIR
  • 25. Algumas considerações de Piketty “A distribuição da riqueza é uma das questões mais vivas e polêmicas da atualidade.” (PIKETTY, 2013, p.11) “A história da renda e da riqueza é sempre profundamente política, caótica e imprevisível” (PIKETTY, 2013, p.45) “Quero apenas deixar claro aqui a importância do sistema de renda básica no contexto do Estado de bem-estar social e da sociedade justa.” (PIKETTY, 2019, p.992)
  • 26. OSTAS DE PIKETTY “A justiça social não deve se resumir à renda básica. […] A ambição deve ser construir uma sociedade fundada na justa remuneração do trabalho; em outras palavras, no salário justo. A renda básica pode ajudar a melhorar a renda das pessoas com baixa remuneração, mas isso também exige repensar um conjunto de dispositivos institucionais complementares e independentes.” (PIKETTY, 2019, p.993) “É preciso evitar transformar a renda básica numa espécie de solução milagrosa que permitiria dispensar todos os outros dispositivos institucionais. No passado, a ideia de renda básica foi por vezes instrumentalizada para promover uma espécie de “quitação de qualquer dívida” justificando fortes cortes nos outros programas sociais. Por isso, é importante pensar a renda básica como um elemento constitutivo de um todo mais ambicioso que inclua o imposto progressivo sobre a propriedade e a renda, a dotação de capital e o Estado de bem- estar social.” (PIKETTY, 2019, p.994)
  • 27. As propostas de Piketty “Imposto progressivo sobre a propriedade (financiamento da dotação de capital transferida para cada jovem adulto)” (PIKETTY, 2019, p.976) “Imposto progressivo sobre a renda (financiamento da renda básica e do Estado de bem-estar social e ecológico)” (PIKETTY, 2019, p.976) “Esse sistema de circulação da propriedade é um dos elementos constitutivos do socialismo participativo. O outro é o compartilhamento dos direitos de voto (50/50) entre os representantes dos assalariados e os acionistas das empresas.” (PIKETTY, 2019, p.976).
  • 28. OSTAS DE PIKETTY Piketty (2022, p. 247- 248) defende a “possibilidade de um socialismo democrático e federal, descentralizado e participativo, ecológico e diversificado, calcado na expansão no Estado social e do imposto progressivo; na divisão do poder nas empresas; nas reparações pós-coloniais e na luta contra as discriminações; na igualdade educacional e nos créditos de carbono; na desmercantilização gradual da economia; na garantia do emprego e da herança para todos; na drástica redução das desigualdades monetárias; e em sistema eleitoral e midiático enfim a salvo do poder do dinheiro”.
  • 30. REFERÊNCIAS www.ibge.gov.br/portal (acesso26/01/2023). www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/cartilha_bolsafamilia (acesso: janeiro/2023). www.recivitas.org/o-que-e-renda-basica (acesso: janeiro/2023). DEMO, Pedro. Pobreza Política – A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. 2007. Autores Associados, Campinas. DEMO, Pedro. RENDA BÁSICA. 2020. Disponível em: http://pedrodemo.blogspot.com/2020/07/ensaio-529-renda-basica.html. Acesso em: 28 jan. 2023. PIKETTY, T. O Capital no século XXI. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2013. PIKETTY, T. Capital e Ideologia. Tradução de Dorothée de Bruchard e Maria de Fátima Oliva do Coutto. 1.ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019. PIKETTY, T. Uma breve história da igualdade. Tradução Maria de Fátima Oliva do Coutto. 1. ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022. THEODORO, Mário. A sociedade desigual: racismo e branquitude na formação do brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.