Rafael Chambouleyron discute sua trajetória como historiador focado na escravidão no Maranhão e Pará nos séculos XVII-XVIII. Ele destaca a importância de figuras como José Lopes que atuavam entre o sertão e as cidades, e define o conceito de "Atlântico Equatorial" para caracterizar as relações atlânticas da região, incluindo o tráfico de escravos vindos de Cabo Verde e outros locais.
Sessão especial em homenagem aos 370 anos da expedição de Pedro Teixeira, deb...Aloizio Mercadante
O Brasil tem heróis desconhecidos ou pouco conhecidos. Um deles, talvez o maior, é Pedro Teixeira.
Com efeito, poucos brasileiros conhecem bem Pedro Teixeira e sua importância para formação histórico-geográfica do nosso país. Recentemente, proferi palestra no Instituto Rio Branco, a academia de alto nível de nossos jovens diplomatas.
Perguntei sobre Pedro Teixeira e não obtive pronta resposta.
Entretanto, Pedro Teixeira merece o reconhecimento de todos os brasileiros. Além de ter se destacado na luta contra os franceses, ingleses e holandeses no Baixo Amazonas, Pedro Teixeira, esse intrépido português nascido em Cantanhede, foi o protagonista de uma das maiores façanhas sertanistas que o Brasil conheceu.
Referimo-nos à sua famosa expedição pelo Amazonas. Com 47 grandes canoas, 70 soldados e 1.200 índios flecheiros, a expedição de Pedro Teixeira partiu de Gurupá, em outubro de 1637. Enfrentando dificuldades quase intransponíveis, subiu os rios Amazonas e Negro e, inacreditavelmente, chegou até a cidade de Quito, atual capital do Equador. Na viagem de volta, a expedição de Pedro Teixeira fundou a cidade de Franciscana, “para servir de baliza aos domínios das casas de Portugal e Espanha”. Em 12 de dezembro de 1639, mais de dois anos depois de iniciada, a expedição chegava ao seu fim no porto de Belém.
Os objetivos desse monumental esforço de exploração foram tomar posse das terras em nome do Rei de Portugal e estabelecer Belém como rota de escoamento das mercadorias que saíam do Peru para a Espanha pelo Pacífico.
Essa façanha hercúlea foi descrita no livro “Novo Descobrimento do Grande Rio Amazonas”, lançado em Madri, em 1641. As autoridades espanholas, no entanto, mandaram imediatamente queimar todos os exemplares da obra, pois ela dava sustentáculo às reivindicações territoriais de Portugal na Amazônia ocidental, para além do que dispunha o Tratado de Tordesilhas.
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria femininaPantanal Editoral
O romance folhetim é uma modalidade literária que teve o seu auge no século XIX, quando era publicado no rodapé dos jornais, de forma fatiada, ou seja, em capítulos que visavam fidelizar os leitores e garantir uma longevidade para a história contada.
A estrutura do folhetim mantém-se viva nas telenovelas diárias e também pelo fato de muitos de seus elementos reaparecerem em obras contemporâneas, como é o caso das duas narrativas que são estudadas nesse livro, cujo objetivo é realizar um estudo comparativo entre o romance Verão no aquário, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles e Os armários vazios, da autora portuguesa Maria Judite de Carvalho, partindo de uma premissa recorrente que sustenta os enredos desses dois textos, a existência dos triângulos amorosos que, nas duas obras, é formado por mãe e filha que disputam o amor do mesmo homem e que continuam presentes na ficção contemporânea.
Nesse sentido, foi possível verificar que as histórias terminam tragicamente para as protagonistas Raíza e Dora Rosário, respectivamente. No entanto, em Verão no aquário, a tragédia permite que mãe e filha reaproximem-se, enquanto em Os armários vazios, Dora afasta-se de todos, vive isolada e sozinha e o final feliz dos romances folhetins não acontece em nenhum dos dois livros estudados.
Autor: Altamir Botoso.
Pantanal Editora. ISBN 978-65-990641-0-4
Sessão especial em homenagem aos 370 anos da expedição de Pedro Teixeira, deb...Aloizio Mercadante
O Brasil tem heróis desconhecidos ou pouco conhecidos. Um deles, talvez o maior, é Pedro Teixeira.
Com efeito, poucos brasileiros conhecem bem Pedro Teixeira e sua importância para formação histórico-geográfica do nosso país. Recentemente, proferi palestra no Instituto Rio Branco, a academia de alto nível de nossos jovens diplomatas.
Perguntei sobre Pedro Teixeira e não obtive pronta resposta.
Entretanto, Pedro Teixeira merece o reconhecimento de todos os brasileiros. Além de ter se destacado na luta contra os franceses, ingleses e holandeses no Baixo Amazonas, Pedro Teixeira, esse intrépido português nascido em Cantanhede, foi o protagonista de uma das maiores façanhas sertanistas que o Brasil conheceu.
Referimo-nos à sua famosa expedição pelo Amazonas. Com 47 grandes canoas, 70 soldados e 1.200 índios flecheiros, a expedição de Pedro Teixeira partiu de Gurupá, em outubro de 1637. Enfrentando dificuldades quase intransponíveis, subiu os rios Amazonas e Negro e, inacreditavelmente, chegou até a cidade de Quito, atual capital do Equador. Na viagem de volta, a expedição de Pedro Teixeira fundou a cidade de Franciscana, “para servir de baliza aos domínios das casas de Portugal e Espanha”. Em 12 de dezembro de 1639, mais de dois anos depois de iniciada, a expedição chegava ao seu fim no porto de Belém.
Os objetivos desse monumental esforço de exploração foram tomar posse das terras em nome do Rei de Portugal e estabelecer Belém como rota de escoamento das mercadorias que saíam do Peru para a Espanha pelo Pacífico.
Essa façanha hercúlea foi descrita no livro “Novo Descobrimento do Grande Rio Amazonas”, lançado em Madri, em 1641. As autoridades espanholas, no entanto, mandaram imediatamente queimar todos os exemplares da obra, pois ela dava sustentáculo às reivindicações territoriais de Portugal na Amazônia ocidental, para além do que dispunha o Tratado de Tordesilhas.
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria femininaPantanal Editoral
O romance folhetim é uma modalidade literária que teve o seu auge no século XIX, quando era publicado no rodapé dos jornais, de forma fatiada, ou seja, em capítulos que visavam fidelizar os leitores e garantir uma longevidade para a história contada.
A estrutura do folhetim mantém-se viva nas telenovelas diárias e também pelo fato de muitos de seus elementos reaparecerem em obras contemporâneas, como é o caso das duas narrativas que são estudadas nesse livro, cujo objetivo é realizar um estudo comparativo entre o romance Verão no aquário, da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles e Os armários vazios, da autora portuguesa Maria Judite de Carvalho, partindo de uma premissa recorrente que sustenta os enredos desses dois textos, a existência dos triângulos amorosos que, nas duas obras, é formado por mãe e filha que disputam o amor do mesmo homem e que continuam presentes na ficção contemporânea.
Nesse sentido, foi possível verificar que as histórias terminam tragicamente para as protagonistas Raíza e Dora Rosário, respectivamente. No entanto, em Verão no aquário, a tragédia permite que mãe e filha reaproximem-se, enquanto em Os armários vazios, Dora afasta-se de todos, vive isolada e sozinha e o final feliz dos romances folhetins não acontece em nenhum dos dois livros estudados.
Autor: Altamir Botoso.
Pantanal Editora. ISBN 978-65-990641-0-4
Projeto de articulação curricular:
"aLeR+ o Ambiente - Os animais são nossos amigos" - Seleção de poemas da obra «Bicho em perigo», de Maria Teresa Maia Gonzalez
proposta curricular da educação de jovens e adultos da disciplina geografia, para os anos finais do ensino fundamental. planejamento de unidades, plano de curso da EJA- GEografia
para o professor que trabalha com a educação de jovens e adultos- anos finais do ensino fundamental.
livro em pdf para professores da educação de jovens e adultos dos anos iniciais ( alfabetização e 1º ano)- material excelente para quem trabalha com turmas de eja. Material para quem dar aula na educação de jovens e adultos . excelente material para professores
proposta curricular para educação de jovens e adultos- Língua portuguesa- anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano). Planejamento de unidades letivas para professores da EJA da disciplina língua portuguesa- pode ser trabalhado nos dois segmentos - proposta para trabalhar com alunos da EJA com a disciplina língua portuguesa.Sugestão de proposta curricular da disciplina português para turmas de educação de jovens e adultos - ensino fundamental. A proposta curricular da EJa lingua portuguesa traz sugestões para professores dos anos finais (6º ao 9º ano), sabendo que essa modalidade deve ser trabalhada com metodologias diversificadas para que o aluno não desista de estudar.
proposta curricular ou plano de cursode lingua portuguesa eja anos finais ( ...
R chambouleyron
1. Outros Tempos Volume 6, número 8, dezembro de 2009 - Dossiê Escravidão
163
Entrevista de Rafael Chambouleyron, professor da
Universidade Federal do Pará, sobre o tema “escravidão”,
concedida a Revista Outros Tempos.
Outros Tempos - Especifique um pouco sobre o desenvolvimento de seus trabalhos e
trajetórias enquanto historiador.
Rafael Chambouleyron – Desde que comecei a trabalhar na Universidade Federal do Pará,
tenho me dedicado a discutir a história do Estado do Maranhão e Pará, de início, sobre o
século XVII, mas agora também sobre a primeira metade do século XVIII. Antes disso,
trabalhei sobre o apostolado jesuítico no Brasil quinhentista (como bolsista de graduação, na
Unicamp, e no mestrado, na USP). Justamente o tema dos jesuítas foi o que comecei a
desenvolver como pesquisa junto ao Departamento de História da UFPA, em 1996. Assim,
mantive a temática da graduação e do mestrado, mas desta vez, voltada para as missões do
norte da América portuguesa. Essa também foi a temática do doutorado, que iniciei, em 2001,
na Universidade de Cambridge (Inglaterra). Interessava-me naquela altura em compreender o
governo jesuítico da missão do Maranhão. Entretanto, a pesquisa, notadamente com o acervo
do Arquivo Histórico Ultramarino, me levou a pensar uma problemática mais ampla, que
acabei incorporando ao meu doutorado. Os jesuítas então ficaram “de lado”, e me concentrei
nas políticas da Coroa para o Estado do Maranhão, em relação à ocupação do território, à
questão da força de trabalho (tanto africana como indígena) e ao desenvolvimento das
atividades econômicas. Esse foi o tema da tese de doutorado (que abrange o período de 1640 a
1706) e tem sido a perspectiva de trabalho que tenho desenvolvido desde que voltei do
doutoramento. O que me interessa agora é compreender as dinâmicas próprias (embora
conectadas) que ajudam a compreender as especificidades da experiência histórica do Estado
do Maranhão e Pará dos séculos XVII até meados do XVIII.
OT - Como poderia situar a escravidão indígena dentro do panorama atual da produção
historiográfica brasileira, como objeto, importância – sobretudo para o eixo norte-nordeste?
RC – Não há dúvida que a escravidão indígena tem sido um tema secundário em relação à
escravidão africana, no contexto geral da historiografia brasileira. De qualquer modo, parece-
me que a temática indígena tem recebido cada vez mais atenção. O desenvolvimento dos
programas de pós-graduação no norte e também no nordeste tem dado um novo impulso a
essas questões. O que me parece, entretanto, é que, em grande medida, ainda concebemos
essas duas experiências como dicotômicas. Nesse sentido, o universo criado no Estado do
Maranhão e Grão-Pará (mas também o de outras capitanias da costa leste-oeste) pode ser
elucidativo, na medida em que os mundos do trabalho africano e indígena se entrecruzaram de
uma forma singular. A experiência desse vasto território, apesar de suas heterogeneidades,
deu margem a uma sociedade que se organizava a partir de múltiplas relações, como as que se
2. Outros Tempos Volume 6, número 8, dezembro de 2009 - Dossiê Escravidão
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construíram entre trabalho livre (indígena) e escravo, entre litoral e sertão como realidades
geográficas complementares, entre outras. Não me parece que podemos continuar a pensar
como temas separados – pelo menos para boa parte das conquistas portuguesas da América –
o indígena e o africano. O problema do trabalho era um só e central para entender o tipo de
sociedade que se construiu no Estado do Maranhão e Pará com a conquista. Parece-me que
essa perspectiva mais ampla, que incorpore trabalho africano e indígena, tanto livre como
escravo, é central para reescrever a história desta imensa região, e também,
conseqüentemente, a do Brasil.
OT - Ainda sobre a escravidão indígena, qual a importância de personagens como o preto
José Lopes, trabalhado em um de seus artigos publicado na revista Boletín Americanista com
o título de “O ‘senhor absoluto dos sertões’. O ‘capitão preto’ José Lopes, a Amazônia e o
Cabo Verde”?
RC – Infelizmente, sobre gente como José Lopes temos poucas informações. É um tipo de
indivíduo que transita em muitos ambientes e estabelece intermediações entre eles. Houve
inúmeras pessoas como ele, e de diferentes origens: portugueses, indígenas africanos,
mestiços. São esses sujeitos que justamente permitem entender algumas das relações entre os
distintos mundos que construíram o Estado do Maranhão e Pará. O sertão e as cidades,
especialmente o ambiente do trabalho, eram certamente lugares de fecunda interação, como a
que conseguiu estabelecer o cabo-verdiano. O acervo da Inquisição, tanto os processos como
as denúncias contidas nos chamados Cadernos do Promotor, pode nos ajudar a desvendar um
pouco dessas histórias cruzadas. Felizmente, a Direcção Geral de Arquivos, em Portugal, está
digitalizando todo o acervo da Inquisição de Lisboa; graças a um acordo institucional, o
Centro de Memória da Amazônia, da UFPA, ajudará a organizar toda a parte relativa ao
Estado do Maranhão e Pará, até o século XIX. Uma vez disponível, esse material ajudará a
fazer emergir figuras intrigantes como José Lopes.
OT - Qual a importância e a peculiaridade daquilo chamado por você de Atlântico
Equatorial em seu artigo intitulado “Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para
o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII)” publicado pela Revista
Brasileira de História?
RC - O Atlântico Equatorial surgiu como uma idéia para caracterizar uma relação atlântica
que dava sentido ao Estado do Maranhão e Pará, pelo menos para o século XVII e boa parte
do século XVIII. Inicialmente tinha pensado em Atlântico Norte, mas por sugestão do prof.
Aldrin Moura de Figueiredo, acabei adotando a denominação “equatorial”. Isto posto, o que
me parece central é insistir que as diversas conquistas de Portugal na América tinham espaços
distintos em que se formavam e se organizavam. O Atlântico Sul, tão bem estudado pela
historiografia, não fazia parte da lógica de construção e reprodução do Estado do Maranhão e
Pará, pelo menos até meados do século XVIII (a baliza temporal é aqui muito importante). A
relação direta de São Luís e Belém com Lisboa, com os diversos arquipélagos atlânticos
(Açores, Madeira e Cabo Verde) e com a região da Senegâmbia, torna clara a importância de
não reduzir a experiência dessas realidades aos horizontes explicativos construídos para outras
partes do que hoje é o Brasil. Das ilhas vieram povoadores, soldados e escravos, cuja chegada,
notadamente em fins do século XVII, teve um impacto demográfico muito significativo na
região. Essa especificidade, assim, tem que ser mais bem compreendida, inclusive a partir de
suas transformações ao longo do tempo.
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OT - Sobre o abastecimento de escravos para o norte e nordeste do país como você avalia a
presença das companhias de comércio neste processo?
RC - Não há dúvida que as Companhias de Comércio, principalmente as do período
pombalino, tiveram um papel significativo para entender o tráfico de escravos para a costa
leste-oeste. Isso é mais do que claro no caso do então Estado do Grão-Pará e Maranhão, pelo
volume de escravos transportados, e pela própria documentação por produzida pela
Companhia. Não sem razão, a Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão foi objeto
de dois estudos hoje clássicos, de Manuel Nunes Dias e António Carreira. O que me parece
importante hoje, além é claro de se revisitar e reescrever o tema das companhias de comércio
pombalinas (incluindo também a de Pernambuco) é aprofundar o estudo dos períodos
anteriores e posteriores a elas. No caso do Maranhão e Pará, excetuando-se trabalhos recentes,
defendidos em programas de pós-graduação do norte e nordeste, ainda há muito que se fazer
no sentido de aprofundar não só uma história do tráfico, mas também suas implicações sobre
o universo colonial que se construiu nesta região.