SlideShare uma empresa Scribd logo
Economia
24 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 02 DE JUNHO DE 2019
MURILLO BARBOSA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE TERMINAIS PORTUÁRIOS PRIVADOS
PrivatizaçãodaCodesa
vaiatrairinvestimentos
Tipo de desestatização
a ser adotado está em
estudo e o Estado pode
se fortalecer como
polo exportador,
segundo especialista
Fernando Bianchi
A
desestatização da Compa-
nhia Docas do Espírito San-
to (Codesa) vai atrair inves-
timentos para o setor portuário no
Espírito Santo, e o complexo da
Barra do Riacho, em Aracruz, é o
que tem maior potencial de desen-
volvimento com a medida.
A avaliação é do presidente da
Associação de
Terminais Por-
tuários Priva-
dos (ATP), Mu-
rillo Barbosa,
que na última
semana reuniu-
se em Vitória
com empresá-
rios do setor
portuário e re-
presentantes do governo para ava-
liar os impactos da desestatização
daCodesaparaosoperadorespor-
tuários privados do Estado.
O governo, por meio do Banco
Nacional do Desenvolvimento
(BNDES), já escolheu as empresas
responsáveis pelos estudos, com
custo de R$ 1,9 milhão, que defini-
rão qual modelo de desestatização
é mais adequado para a Codesa.
Segundo Barbosa, para o porto
deBarradoRiacho,quehojeopera
somente com terminais privados,
a melhor saída seria a privatização
total. O complexo movimenta,
principalmente, celulose, gás e
combustíveis.
“Defendemos que Barra do Ria-
cho seja transformado em um
complexoportuárioprivado.ACo-
desa hoje não presta nenhum ser-
viçolá,quemfaztudosãoostermi-
nais privados”, disse Barbosa.
A TRIBUNA – Como foi a visita
ao Estado?
MURILLO BARBOSA – Quere-
mossaberqualvaiseroprocesso,e
que os possíveis acordos e contra-
tos existentes hoje entre a admi-
nistração da Codesa e os terminais
de uso privado (TUPs) sejam res-
peitadosemumprocessodepossí-
vel concessão ao setor privado.
Há várias possibilidades sendo
estudadas, como vender, colocar
ações à venda e concessão total. De
136 milhões de toneladas que o Es-
tado movimentou no ano passado,
130milhõesforamdentrodetermi-
nais de uso privado, e não no porto
da Codesa. Aproximadamente 100
milhões foram da Vale, mas esses
outros 30 milhões foram movi-
mentados em terminais privados.
O modelo da Codesa depois será
replicado em outros portos do
Brasil, que também estão dentro
da área de por-
tos públicos.
> Quais são
os desafios da
desestatização
para o Estado?
O E s p í r i t o
Santo tem uma
vocação portuá-
ria muito gran-
de, está nas proximidades dos
camposdepetróleo,temprodução
própria, a ferrovia Vitória a Minas,
várias coisas que facilitam ser um
polo exportador e importador.
Tem um eixo rodoviário muito
importante, que é a BR-101. A rodo-
via é uma alternativa, mas o que o
portoprecisamesmoédeumalinha
férrea para atender a esses projetos
todos. A ferrovia Vitória-Rio seria
uma alternativa, mesmo que seja
feita por trechos. O martelo ainda
nãofoibatidopelogoverno,mases-
sanecessidadeéindiscutível.
> Por que o porto de Barra do
Riacho é mais atrativo para a
iniciativa privada?
Hoje, não há nenhum arrenda-
mento estabelecido, só tem TUPs.
Defendemos que Barra do Riacho
seja transformado em um comple-
xo portuário privado. Seria uma
grande experiência.
A Codesa hoje não presta ne-
nhum serviço lá, quem faz tudo
são os terminais privados, então,
por que não continuamos neste
modelo? Quem faz a manutenção
dos balizamentos lá são os TUPs.
O Porto de Vitória pode ter outro
modelo de concessão, mas em
Barra do Riacho defendemos o
terminal totalmente privado.
> Quais são as principais difi-
culdades do modelo público?
Você tem de fazer um processo
licitatório para arrendar uma área
do porto. Em alguns países da Eu-
ropa, isso não é nem preciso. Mas
vamosadmitirqueénecessáriofa-
zer licitação, porque é uma área
pública. Mas é preciso fazer licita-
ção até para comprar papel, coisas
paraodiaadia,entãoaautoridade
portuária não tem flexibilidade
nenhuma para operar.
As autoridades portuárias têm
muita dificuldade, por exemplo,
para fazer um processo de draga-
gem. Lutam atrás de dinheiro, e
quando conse-
guem, iniciam
um processo de
licitação.
O s e g u n d o
colocado fatal-
mente vai en-
trar na Justiça
pedindo a para-
lisação do pro-
cesso,eascoisas
não andam nes-
sa relação do público-privado.
Porisso,oMinistériodaInfraes-
truturaestáestudandoumproces-
so para que essa gestão portuária
melhore. Hoje, o Brasil é olhado
comumcertoreceio,porquesabe-
se das dificuldades.
> O que representa a Codesa
ser escolhida como modelo das
futuras desestatizações dos
portos?
NoBrasil,osativospertencemao
Estado, a União é a grande admi-
nistradoradocondomínioeexerce
aautoridadedefiscalizaçãodentro
do porto, e a renda toda parte da
operação da iniciativa privada.
Masnorestodomundo,essaau-
toridade portuária tem uma flexi-
bilidade de operação muito gran-
de, e no Brasil não temos essa pos-
sibilidade.
Então, o governo está estudando
um processo para que os portos
públicos que nós temos passem a
apresentar uma melhor perfor-
mance, aumentando a produtivi-
dade, atraindo investimentos.
> Quais devem ser as princi-
pais mudanças?
Estão sendo
feitos estudos
paraquatropor-
tos públicos. O
de Vitória; o de
São Sebastião,
em São Paulo;
Suape, em Per-
nambuco; e Ita-
jaí, em Santa
Catarina.
Cada modelo,
a consultoria do BNDES vai defi-
nir o que é melhor. Mas o objetivo
é aumentar a competitividade, a
flexibilidade de investimentos es-
trangeiros dentro deles.
Os TUPs são um exemplo espe-
tacular e registraram um cresci-
mento expressivo nos últimos
anos, porque eles têm total liber-
dade. Isso é uma razão de atrativi-
dade muito grande.
O Ministério está procurando
um modelo que possa levar o por-
to público para uma condição de
operação parecida com a instala-
ção portuária privada.
DIVULGAÇÃO
MURILLO afirmou que o modelo de desestatização aplicado na Codesa será replicado em outros portos do Brasil
BETO MORAIS — 03/03/2019
PORTO DE
VITÓRIA: várias
possibilidades
estão sendo
estudadas,
como vender,
colocar ações
à venda e a
concessão
total. De 136
milhões de
toneladas
que o Estado
movimentou no
ano passado,
130 milhões
foram dentro
de terminais de
uso privado, e
não no porto
da Codesa
MurilloBarbosa
Diretor-presidente da Associação de
Terminais Portuários Privados (ATP),
entidade que atua em defesa do seg-
mento portuário privado no Brasil.
Murillo Barbosa exerce o cargo de di-
retor desde a criação da entidade, em
2013. Serviu à Marinha do Brasil por 42
anos, onde teve contato com o setor
portuário. Foi diretor da Agência Nacio-
nal de Transportes Aquaviários (Antaq)
entre 2006 e 2010.
“
O martelo ainda
não foi batido
pelo governo, mas a
necessidade da ferrovia
Rio-Vitória para os
portos é indiscutível
” “
No resto do
mundo, a
autoridade portuária tem
flexibilidade de operação
muito grande, e no Brasil
não temos isso
”
“
Defendemos que
Barra do Riacho
seja transformado em
um complexo portuário
privado. Seria uma
grande experiência
”
QUEM É

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Privatização da Codesa vai atrair investimentos

Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013
Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013
Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013
Confederação Nacional da Indústria
 
Bndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário p
Bndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário pBndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário p
Bndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário p
Isis Perdigão
 
Apresentacao Sergio - FENOP.pptx
Apresentacao Sergio - FENOP.pptxApresentacao Sergio - FENOP.pptx
Apresentacao Sergio - FENOP.pptx
Marcos Boaventura
 
Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013
Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013
Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013
Confederação Nacional da Indústria
 
Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013
Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013
Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013
Confederação Nacional da Indústria
 
Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012
Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012
Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012
Confederação Nacional da Indústria
 
“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...
“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...
“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...
aplop
 
Nota Técnica - Programa de Investimento em Logística: Portos
Nota Técnica - Programa de Investimento em Logística: PortosNota Técnica - Programa de Investimento em Logística: Portos
Nota Técnica - Programa de Investimento em Logística: Portos
TRAMPO Comunicação e Eventos Soares
 
Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013
Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013
Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013
Confederação Nacional da Indústria
 
Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)
Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)
Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)
Fernando S. Marcato
 
Diz Jornal 178
Diz Jornal 178Diz Jornal 178
Diz Jornal 178
dizjornal jornal
 
Entrevista com willen mantelli
Entrevista com willen mantelliEntrevista com willen mantelli
Entrevista com willen mantelli
Polibio Braga
 
Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013
Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013
Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013
Confederação Nacional da Indústria
 
Sines no clube dos 14 mil - Cargo
Sines no clube dos 14 mil - CargoSines no clube dos 14 mil - Cargo
Sines no clube dos 14 mil - Cargo
Cláudio Carneiro
 
Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013
Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013
Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013
Confederação Nacional da Indústria
 
As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...
As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...
As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...
Pedro Dique
 
Opinião 24 dez 2
Opinião 24 dez 2Opinião 24 dez 2
Opinião 24 dez 2
Sergyo Vitro
 
Realidade da Cabotagem no Brasil
Realidade da Cabotagem no Brasil Realidade da Cabotagem no Brasil
Realidade da Cabotagem no Brasil
aplop
 
INFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃ
INFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃINFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃ
INFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃ
PLANORS
 
Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)
Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)
Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)
Donaldson Gomes
 

Semelhante a Privatização da Codesa vai atrair investimentos (20)

Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013
Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013
Novidades Legislativas Nº08 | 13/03/2013
 
Bndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário p
Bndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário pBndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário p
Bndes dimensionamento do potencial de investimento para o setor portuário p
 
Apresentacao Sergio - FENOP.pptx
Apresentacao Sergio - FENOP.pptxApresentacao Sergio - FENOP.pptx
Apresentacao Sergio - FENOP.pptx
 
Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013
Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013
Novidades Legislativas Nº64 | 12/09/2013
 
Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013
Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013
Novidades Legislativas Nº11 | 26/03/2013
 
Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012
Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012
Novidades Legislativas Nº 35 | 23/05/2012
 
“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...
“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...
“INTEGRAÇÃO DOS PORTOS DE TRANSHIPMENT NA AMÉRICA, ÁFRICA, EUROPA e ÁSIA” - A...
 
Nota Técnica - Programa de Investimento em Logística: Portos
Nota Técnica - Programa de Investimento em Logística: PortosNota Técnica - Programa de Investimento em Logística: Portos
Nota Técnica - Programa de Investimento em Logística: Portos
 
Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013
Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013
Novidades Legislativas Nº35 | 06/06/2013
 
Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)
Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)
Seminário sobre a Nova Lei dos Portos (Lei n° 12.815/2013)
 
Diz Jornal 178
Diz Jornal 178Diz Jornal 178
Diz Jornal 178
 
Entrevista com willen mantelli
Entrevista com willen mantelliEntrevista com willen mantelli
Entrevista com willen mantelli
 
Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013
Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013
Novidades Legislativas Nº04 | 06/03/2013
 
Sines no clube dos 14 mil - Cargo
Sines no clube dos 14 mil - CargoSines no clube dos 14 mil - Cargo
Sines no clube dos 14 mil - Cargo
 
Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013
Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013
Novidades Legislativas Nº67 | 25/09/2013
 
As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...
As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...
As-elites-do-Governo-e-do-Judiciario-que-ficaram-com-o-espaco-do-antigo-Merca...
 
Opinião 24 dez 2
Opinião 24 dez 2Opinião 24 dez 2
Opinião 24 dez 2
 
Realidade da Cabotagem no Brasil
Realidade da Cabotagem no Brasil Realidade da Cabotagem no Brasil
Realidade da Cabotagem no Brasil
 
INFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃ
INFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃINFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃ
INFRAESTRUTURA REGIÃO SUL-DESAFIOS-ARTIGO REVISTA AMANHÃ
 
Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)
Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)
Coluna Tendências e Mercado (08-12-2013)
 

Privatização da Codesa vai atrair investimentos

  • 1. Economia 24 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 02 DE JUNHO DE 2019 MURILLO BARBOSA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE TERMINAIS PORTUÁRIOS PRIVADOS PrivatizaçãodaCodesa vaiatrairinvestimentos Tipo de desestatização a ser adotado está em estudo e o Estado pode se fortalecer como polo exportador, segundo especialista Fernando Bianchi A desestatização da Compa- nhia Docas do Espírito San- to (Codesa) vai atrair inves- timentos para o setor portuário no Espírito Santo, e o complexo da Barra do Riacho, em Aracruz, é o que tem maior potencial de desen- volvimento com a medida. A avaliação é do presidente da Associação de Terminais Por- tuários Priva- dos (ATP), Mu- rillo Barbosa, que na última semana reuniu- se em Vitória com empresá- rios do setor portuário e re- presentantes do governo para ava- liar os impactos da desestatização daCodesaparaosoperadorespor- tuários privados do Estado. O governo, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), já escolheu as empresas responsáveis pelos estudos, com custo de R$ 1,9 milhão, que defini- rão qual modelo de desestatização é mais adequado para a Codesa. Segundo Barbosa, para o porto deBarradoRiacho,quehojeopera somente com terminais privados, a melhor saída seria a privatização total. O complexo movimenta, principalmente, celulose, gás e combustíveis. “Defendemos que Barra do Ria- cho seja transformado em um complexoportuárioprivado.ACo- desa hoje não presta nenhum ser- viçolá,quemfaztudosãoostermi- nais privados”, disse Barbosa. A TRIBUNA – Como foi a visita ao Estado? MURILLO BARBOSA – Quere- mossaberqualvaiseroprocesso,e que os possíveis acordos e contra- tos existentes hoje entre a admi- nistração da Codesa e os terminais de uso privado (TUPs) sejam res- peitadosemumprocessodepossí- vel concessão ao setor privado. Há várias possibilidades sendo estudadas, como vender, colocar ações à venda e concessão total. De 136 milhões de toneladas que o Es- tado movimentou no ano passado, 130milhõesforamdentrodetermi- nais de uso privado, e não no porto da Codesa. Aproximadamente 100 milhões foram da Vale, mas esses outros 30 milhões foram movi- mentados em terminais privados. O modelo da Codesa depois será replicado em outros portos do Brasil, que também estão dentro da área de por- tos públicos. > Quais são os desafios da desestatização para o Estado? O E s p í r i t o Santo tem uma vocação portuá- ria muito gran- de, está nas proximidades dos camposdepetróleo,temprodução própria, a ferrovia Vitória a Minas, várias coisas que facilitam ser um polo exportador e importador. Tem um eixo rodoviário muito importante, que é a BR-101. A rodo- via é uma alternativa, mas o que o portoprecisamesmoédeumalinha férrea para atender a esses projetos todos. A ferrovia Vitória-Rio seria uma alternativa, mesmo que seja feita por trechos. O martelo ainda nãofoibatidopelogoverno,mases- sanecessidadeéindiscutível. > Por que o porto de Barra do Riacho é mais atrativo para a iniciativa privada? Hoje, não há nenhum arrenda- mento estabelecido, só tem TUPs. Defendemos que Barra do Riacho seja transformado em um comple- xo portuário privado. Seria uma grande experiência. A Codesa hoje não presta ne- nhum serviço lá, quem faz tudo são os terminais privados, então, por que não continuamos neste modelo? Quem faz a manutenção dos balizamentos lá são os TUPs. O Porto de Vitória pode ter outro modelo de concessão, mas em Barra do Riacho defendemos o terminal totalmente privado. > Quais são as principais difi- culdades do modelo público? Você tem de fazer um processo licitatório para arrendar uma área do porto. Em alguns países da Eu- ropa, isso não é nem preciso. Mas vamosadmitirqueénecessáriofa- zer licitação, porque é uma área pública. Mas é preciso fazer licita- ção até para comprar papel, coisas paraodiaadia,entãoaautoridade portuária não tem flexibilidade nenhuma para operar. As autoridades portuárias têm muita dificuldade, por exemplo, para fazer um processo de draga- gem. Lutam atrás de dinheiro, e quando conse- guem, iniciam um processo de licitação. O s e g u n d o colocado fatal- mente vai en- trar na Justiça pedindo a para- lisação do pro- cesso,eascoisas não andam nes- sa relação do público-privado. Porisso,oMinistériodaInfraes- truturaestáestudandoumproces- so para que essa gestão portuária melhore. Hoje, o Brasil é olhado comumcertoreceio,porquesabe- se das dificuldades. > O que representa a Codesa ser escolhida como modelo das futuras desestatizações dos portos? NoBrasil,osativospertencemao Estado, a União é a grande admi- nistradoradocondomínioeexerce aautoridadedefiscalizaçãodentro do porto, e a renda toda parte da operação da iniciativa privada. Masnorestodomundo,essaau- toridade portuária tem uma flexi- bilidade de operação muito gran- de, e no Brasil não temos essa pos- sibilidade. Então, o governo está estudando um processo para que os portos públicos que nós temos passem a apresentar uma melhor perfor- mance, aumentando a produtivi- dade, atraindo investimentos. > Quais devem ser as princi- pais mudanças? Estão sendo feitos estudos paraquatropor- tos públicos. O de Vitória; o de São Sebastião, em São Paulo; Suape, em Per- nambuco; e Ita- jaí, em Santa Catarina. Cada modelo, a consultoria do BNDES vai defi- nir o que é melhor. Mas o objetivo é aumentar a competitividade, a flexibilidade de investimentos es- trangeiros dentro deles. Os TUPs são um exemplo espe- tacular e registraram um cresci- mento expressivo nos últimos anos, porque eles têm total liber- dade. Isso é uma razão de atrativi- dade muito grande. O Ministério está procurando um modelo que possa levar o por- to público para uma condição de operação parecida com a instala- ção portuária privada. DIVULGAÇÃO MURILLO afirmou que o modelo de desestatização aplicado na Codesa será replicado em outros portos do Brasil BETO MORAIS — 03/03/2019 PORTO DE VITÓRIA: várias possibilidades estão sendo estudadas, como vender, colocar ações à venda e a concessão total. De 136 milhões de toneladas que o Estado movimentou no ano passado, 130 milhões foram dentro de terminais de uso privado, e não no porto da Codesa MurilloBarbosa Diretor-presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), entidade que atua em defesa do seg- mento portuário privado no Brasil. Murillo Barbosa exerce o cargo de di- retor desde a criação da entidade, em 2013. Serviu à Marinha do Brasil por 42 anos, onde teve contato com o setor portuário. Foi diretor da Agência Nacio- nal de Transportes Aquaviários (Antaq) entre 2006 e 2010. “ O martelo ainda não foi batido pelo governo, mas a necessidade da ferrovia Rio-Vitória para os portos é indiscutível ” “ No resto do mundo, a autoridade portuária tem flexibilidade de operação muito grande, e no Brasil não temos isso ” “ Defendemos que Barra do Riacho seja transformado em um complexo portuário privado. Seria uma grande experiência ” QUEM É