SlideShare uma empresa Scribd logo
 
 
Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros Morei numa casa velha, À qual quis como se fora Feita para eu Morar nela...
Cheia dos maus e bons cheiros Das casas que têm história, Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória De antigas gentes e traças, Cheia de sol nas vidraças E de escuro nos recantos, Cheia de medo e sossego, De silêncios e de espantos, - Quis-lhe bem como se fora Tão feita ao gosto de outrora Como as do meu aconchego.
Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De montes e de oliveiras Ao vento suão queimada ( Lá vem o vento suão!, Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave  de algum  desvão...)
Em Portalegre, dizia, Cidade onde então sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem fôr,
 
Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos e sobreiros Era  uma bela varanda, Na quela bela janela!
Serras deitadas nas nuvens, Vagas e azuis da distância, Azuis, cinzentas, lilases, Já roxas quando mais perto, Campos verdes e Amarelos, Salpicados de Oliveiras,
 
 
Ora agora, ?Que havia o vento suão Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, Dói nos peitos sufocados, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão, Que havia o vento suão De se lembrar de fazer?
Em Portalegre, dizia, Cidade onde então sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem for, ?Que havia o vento suão De fazer, Senão trazer Àquela  Minha  Varanda Daquela  Minha  Janela, O documento maior De que Deus É protector Dos seus Que mais faz sofrer?
Lá num craveiro, que eu tinha, Onde uma cepa cansada Mal dava cravos sem vida, Poisou qualquer sementinha Que o vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda, Achara no ar perdida, Errando entre terra e céus...,
E, louvado seja Deus!, Eis que uma folha miudinha Rompeu, cresceu, recortada, Furando a cepa cansada Que dava cravos sem vida Naquela Bela Varanda Daquela Minha Janela Da tal casa tosca e bela Á qual quis como se fora Feita para eu morar nela...
?Como é que o vento suão Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, Dói nos peitos sufocados, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão, Me trouxe a mim que, dizia, Em Portalegre sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem for, Me trouxe a mim essa esmola, Esse pedido de paz Dum Deus que fere ... e consola Com o próprio mal que faz?
 
Senão quando o amor de Deus Ao vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda, Confia uma sementinha Perdida entre terra e céus, E o vento a trás à varanda Daquela Minha Janela Da tal casa tôsca e bela À qual quis como se fôra Feita para eu morar nela!
Lá no craveiro que eu tinha, Onde uma cepa cansada Mal dava cravos sem vida, Nasceu essa acáciazinha Que depois foi transplantada E cresceu; dom do meu Deus!, Aos pés lá da estranha casa Do largo do cemitério, Frente aos ciprestes que em frente Mostram os céus, Como dedos apontados De gigantes enterrados... Quem desespera dos homens, Se a alma lhe não secou,
 
 
 
Vento suão!, obrigado... Pela doce companhia Que em teu hálito empestado Sem eu sonhar, me chegara!
 
 
 

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Portalegre

28
2828
Poemas traduzidos fernando pessoa
Poemas traduzidos  fernando pessoaPoemas traduzidos  fernando pessoa
Poemas traduzidos fernando pessoa
Allisson Freitas
 
Poemas de Fernando Pessoa literatura .
Poemas de Fernando Pessoa literatura .Poemas de Fernando Pessoa literatura .
Poemas de Fernando Pessoa literatura .
SandyChristino
 
Coéforas
CoéforasCoéforas
Coéforas
Ariane Mafra
 
Alexandre herculano mocidade e morte
Alexandre herculano   mocidade e morteAlexandre herculano   mocidade e morte
Alexandre herculano mocidade e morte
Tulipa Zoá
 
Electra
ElectraElectra
Electra
Ariane Mafra
 
2
22
Poemas de Fernando Pessoa
Poemas de Fernando PessoaPoemas de Fernando Pessoa
Poemas de Fernando Pessoa
lucilafiorini
 
Alceste
AlcesteAlceste
Alceste
Ariane Mafra
 
Alexandre herculano a vitória e a piedade
Alexandre herculano   a vitória e a piedadeAlexandre herculano   a vitória e a piedade
Alexandre herculano a vitória e a piedade
Tulipa Zoá
 
Bocage a virtude laureada
Bocage   a virtude laureadaBocage   a virtude laureada
Bocage a virtude laureada
Ariovaldo Cunha
 

Semelhante a Portalegre (11)

28
2828
28
 
Poemas traduzidos fernando pessoa
Poemas traduzidos  fernando pessoaPoemas traduzidos  fernando pessoa
Poemas traduzidos fernando pessoa
 
Poemas de Fernando Pessoa literatura .
Poemas de Fernando Pessoa literatura .Poemas de Fernando Pessoa literatura .
Poemas de Fernando Pessoa literatura .
 
Coéforas
CoéforasCoéforas
Coéforas
 
Alexandre herculano mocidade e morte
Alexandre herculano   mocidade e morteAlexandre herculano   mocidade e morte
Alexandre herculano mocidade e morte
 
Electra
ElectraElectra
Electra
 
2
22
2
 
Poemas de Fernando Pessoa
Poemas de Fernando PessoaPoemas de Fernando Pessoa
Poemas de Fernando Pessoa
 
Alceste
AlcesteAlceste
Alceste
 
Alexandre herculano a vitória e a piedade
Alexandre herculano   a vitória e a piedadeAlexandre herculano   a vitória e a piedade
Alexandre herculano a vitória e a piedade
 
Bocage a virtude laureada
Bocage   a virtude laureadaBocage   a virtude laureada
Bocage a virtude laureada
 

Último

05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx
05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx
05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx
ValdineyRodriguesBez1
 
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptxSlides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 
GÊNERO TEXTUAL - POEMA.pptx
GÊNERO      TEXTUAL     -     POEMA.pptxGÊNERO      TEXTUAL     -     POEMA.pptx
GÊNERO TEXTUAL - POEMA.pptx
Marlene Cunhada
 
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptxSlides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Biblioteca UCS
 
Testes + soluções_Mensagens12 )11111.pdf
Testes + soluções_Mensagens12 )11111.pdfTestes + soluções_Mensagens12 )11111.pdf
Testes + soluções_Mensagens12 )11111.pdf
lveiga112
 
Atividade de reforço de matemática 2º ano
Atividade de reforço de matemática 2º anoAtividade de reforço de matemática 2º ano
Atividade de reforço de matemática 2º ano
fernandacosta37763
 
000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf
000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf
000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf
YeniferGarcia36
 
O que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdf
O que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdfO que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdf
O que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdf
Pastor Robson Colaço
 
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
LucianaCristina58
 
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números RacionaisPotenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
wagnermorais28
 
1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.
1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.
1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.
LeticiaRochaCupaiol
 
Aula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptx
Aula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptxAula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptx
Aula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptx
LILIANPRESTESSCUDELE
 
Livro: Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire
Livro: Pedagogia do Oprimido - Paulo FreireLivro: Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire
Livro: Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire
WelberMerlinCardoso
 
OS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdf
OS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdfOS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdf
OS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdf
AmiltonAparecido1
 
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptxRedação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
DECIOMAURINARAMOS
 
759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf
759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf
759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf
MessiasMarianoG
 
Leis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.ppt
Leis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.pptLeis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.ppt
Leis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.ppt
PatriciaZanoli
 
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
Eró Cunha
 
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdfUFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
Manuais Formação
 

Último (20)

05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx
05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx
05-os-pre-socraticos sociologia-28-slides.pptx
 
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptxSlides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
 
GÊNERO TEXTUAL - POEMA.pptx
GÊNERO      TEXTUAL     -     POEMA.pptxGÊNERO      TEXTUAL     -     POEMA.pptx
GÊNERO TEXTUAL - POEMA.pptx
 
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptxSlides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, CPAD, A Realidade Bíblica do Inferno, 2Tr24.pptx
 
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
Sistema de Bibliotecas UCS - Chronica do emperador Clarimundo, donde os reis ...
 
Testes + soluções_Mensagens12 )11111.pdf
Testes + soluções_Mensagens12 )11111.pdfTestes + soluções_Mensagens12 )11111.pdf
Testes + soluções_Mensagens12 )11111.pdf
 
Atividade de reforço de matemática 2º ano
Atividade de reforço de matemática 2º anoAtividade de reforço de matemática 2º ano
Atividade de reforço de matemática 2º ano
 
000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf
000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf
000. Para rezar o terço - Junho - mês do Sagrado Coração de Jesús.pdf
 
O que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdf
O que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdfO que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdf
O que é um Ménage a Trois Contemporâneo .pdf
 
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
- TEMPLATE DA PRATICA - Psicomotricidade.pptx
 
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números RacionaisPotenciação e Radiciação de Números Racionais
Potenciação e Radiciação de Números Racionais
 
1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.
1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.
1ª LEI DE OHN, CARACTERISTICAS IMPORTANTES.
 
Aula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptx
Aula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptxAula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptx
Aula 2 - Revisando o significado de fração - Parte 2.pptx
 
Livro: Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire
Livro: Pedagogia do Oprimido - Paulo FreireLivro: Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire
Livro: Pedagogia do Oprimido - Paulo Freire
 
OS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdf
OS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdfOS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdf
OS elementos de uma boa Redação para o ENEM.pdf
 
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptxRedação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
 
759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf
759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf
759-fortaleza-resultado-definitivo-prova-objetiva-2024-05-28.pdf
 
Leis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.ppt
Leis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.pptLeis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.ppt
Leis de Mendel - as ervilhas e a maneira simples de entender.ppt
 
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
 
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdfUFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
UFCD_10949_Lojas e-commerce no-code_índice.pdf
 

Portalegre

  • 1.  
  • 2.  
  • 3. Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros Morei numa casa velha, À qual quis como se fora Feita para eu Morar nela...
  • 4. Cheia dos maus e bons cheiros Das casas que têm história, Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória De antigas gentes e traças, Cheia de sol nas vidraças E de escuro nos recantos, Cheia de medo e sossego, De silêncios e de espantos, - Quis-lhe bem como se fora Tão feita ao gosto de outrora Como as do meu aconchego.
  • 5. Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De montes e de oliveiras Ao vento suão queimada ( Lá vem o vento suão!, Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão...)
  • 6. Em Portalegre, dizia, Cidade onde então sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem fôr,
  • 7.  
  • 8. Em Portalegre, cidade Do Alto Alentejo, cercada De serras, ventos, penhascos e sobreiros Era uma bela varanda, Na quela bela janela!
  • 9. Serras deitadas nas nuvens, Vagas e azuis da distância, Azuis, cinzentas, lilases, Já roxas quando mais perto, Campos verdes e Amarelos, Salpicados de Oliveiras,
  • 10.  
  • 11.  
  • 12. Ora agora, ?Que havia o vento suão Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, Dói nos peitos sufocados, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão, Que havia o vento suão De se lembrar de fazer?
  • 13. Em Portalegre, dizia, Cidade onde então sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem for, ?Que havia o vento suão De fazer, Senão trazer Àquela Minha Varanda Daquela Minha Janela, O documento maior De que Deus É protector Dos seus Que mais faz sofrer?
  • 14. Lá num craveiro, que eu tinha, Onde uma cepa cansada Mal dava cravos sem vida, Poisou qualquer sementinha Que o vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda, Achara no ar perdida, Errando entre terra e céus...,
  • 15. E, louvado seja Deus!, Eis que uma folha miudinha Rompeu, cresceu, recortada, Furando a cepa cansada Que dava cravos sem vida Naquela Bela Varanda Daquela Minha Janela Da tal casa tosca e bela Á qual quis como se fora Feita para eu morar nela...
  • 16. ?Como é que o vento suão Que enche o sono de pavores, Faz febre, esfarela os ossos, Dói nos peitos sufocados, E atira aos desesperados A corda com que se enforcam Na trave de algum desvão, Me trouxe a mim que, dizia, Em Portalegre sofria Coisas que terei pudor De contar seja a quem for, Me trouxe a mim essa esmola, Esse pedido de paz Dum Deus que fere ... e consola Com o próprio mal que faz?
  • 17.  
  • 18. Senão quando o amor de Deus Ao vento que anda, desanda, E sarabanda, e ciranda, Confia uma sementinha Perdida entre terra e céus, E o vento a trás à varanda Daquela Minha Janela Da tal casa tôsca e bela À qual quis como se fôra Feita para eu morar nela!
  • 19. Lá no craveiro que eu tinha, Onde uma cepa cansada Mal dava cravos sem vida, Nasceu essa acáciazinha Que depois foi transplantada E cresceu; dom do meu Deus!, Aos pés lá da estranha casa Do largo do cemitério, Frente aos ciprestes que em frente Mostram os céus, Como dedos apontados De gigantes enterrados... Quem desespera dos homens, Se a alma lhe não secou,
  • 20.  
  • 21.  
  • 22.  
  • 23. Vento suão!, obrigado... Pela doce companhia Que em teu hálito empestado Sem eu sonhar, me chegara!
  • 24.  
  • 25.  
  • 26.