SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
PeloEstado
Entrevista
“Não se muda 60 anos em seis meses”
O atual presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina
(Celesc)assumiuocargoemjaneirodesteanoejáestápromovendo
uma verdadeira transformação na empresa. Com o corte de
despesas e a busca pelo aumento da receita, ele propõe uma série
de medidas calcadas nos princípios da administração pública,
envolvendo nas decisões os empregados e as entidades sindicais
que os representam. Siewert passou oito anos na Secretaria de
Estado da Fazenda e durante nove meses chegou a ser o titular da
pasta. Experiência que está sendo usada agora, na reestruturação
da Celesc. Nesta entrevista exclusiva concedida em seu gabinete
à CNR-SC/ADI-SC/Central de Diários, o presidente da maior
empresa pública de Santa Catarina e terceira maior entre todas
as empresas instaladas no estado fala sobre as primeiras ações, o
futuro da Celesc e de como os princípios da gestão privada podem
ser aplicados - com sucesso - em uma empresa pública. Bem-
humorado, recebeu a equipe de reportagem com um efusivo “Luz e
Força”, numa referência às atividades da empresa que comanda.
[PeloEstado] - Como será a re-
estruturação da Celesc?
Cléverson Siewert - O setor
de energia é extremamente
complexo, cerne do desenvol-
vimento do país e fator de com-
petitividade. Isso faz com que
ele seja muito dinâmico, esteja
em constante inovação e tenha
muitos desafios. O nosso prin-
cipal desafio é a modicidade
tarifária, da Medida Provisória
579, convertida em lei no início
desse ano, que é a captura, por
meio do órgão regulador, dos
ganhos e da produtividade que
a companhia teve ao longo do
ano para entregar isso à socie-
dade, sempre buscando dimi-
nuir a tarifa. Temos, em 2013,
um valor para fazer custeio e
investimentos que é o mesmo
de dez anos atrás, sendo que
nesse mesmo período houve
65% de inflação e 40% de cresci-
mento de sistema. Então, fica a
pergunta: como iremos tocar a
Celesc, a maior empresa públi-
ca de Santa Catarina e a terceira
maior empresa do estado, com
os mesmos valores de dez anos
atrás? Esse processo todo fez
com que interpretássemos essa
mudança e aí a empresa teve
consciência da necessidade de
reestruturação. Queremos ace-
lerar o processo para recuperar
o tempo perdido.
[PE] - Qual a principal necessi-
dade da empresa?
CS - Nossos custos operacio-
nais de 2013 são em torno de R$
150 milhões acima da receita re-
colhida com tarifa. Esse custo a
mais é acumulado dos últimos
dez anos. Então, em função da
modicidade tarifária e desse
custo acima do normal, nós to-
mamos a decisão de fazer um
novo planejamento. Constru-
ímos um novo estatuto social
para a Celesc, com regras para
investimento, administração
e até mesmo no setor pessoal.
Também tivemos que estabele-
cer o nosso Plano Diretor, com
metas físicas, financeiras e com
20 iniciativas estratégicas que
nos permitirão levar a empresa
de forma sustentável até 2030.
Outro foco importante foi o pla-
no de adequação de quadros,
reduzindo despesas com Pro-
grama de Demissão Voluntária
(PDV), reposicionamento de
pessoal e, agora, com o Plano de
Eficiência Operacional, com no-
vos procedimentos e processos.
[PE] - O que já foi feito?
CS - Reduzimos duas direto-
rias. A Celesc possui cerca de 3
milservidoresefetivosesomen-
te oito cargos comissionados. E
mesmo assim cortamos quatro
deles. Estamos definindo cortes
em outros setores. Na última
semana, definimos o corte de
30% dos cargos gerenciais da
empresa, um número bastante
significativo. Isso representa-
rá cerca de R$ 3,5 milhões de
economia ao ano. Mais do que
o valor, trata-se de um indica-
tivo para a sociedade e para o
próprio corpo funcional de que
precisamos fazer mais com me-
nos. Esses funcionários não dei-
xam de ser efetivos da Celesc,
mas deixam de receber um va-
lor extra por ser chefe de depar-
tamento, assessor ou chefe de
divisão. O plano foi construído
pelos funcionários da empresa
em parceria com a diretoria. Fi-
zemos tudo isso trocando infor-
mações com as forças sindicais,
mostrando para eles os planos e
tirando todas as dúvidas.
[PE] - Por onde iniciou a rees-
truturação?
CS - Iniciamos nos Postos de
Atendimento a Subestações, os
PAS. A estrutura existente hoje
custa R$ 20 milhões por ano. A
nova estrutura, desenhada com
os funcionários, custará R$ 7
milhões ao ano. Para chegar a
esse valor, mudamos a quanti-
dade de pessoas que irão atu-
ar e a escala de atendimento,
com menos sobreaviso, menos
hora- extra, mantendo a quali-
dade do serviço e suprindo as
necessidades dos consumido-
res. Obviamente teve gente que
perdeu dinheiro nesse proces-
so, mas se não abrirem mão de
algo, a companhia pode sofrer.
Há ainda os Centros de Ope-
ração de Distribuição (COD),
que ficam em cada uma das
16 agências regionais. Existia a
ideia de transformá-los em um
só, mas estamos fazendo um
trabalho escalonado. Nossa
primeira ação é fazer com que
desses 16 COD, somente cin-
co funcionem no período no-
turno, das 22 às 6 horas. Com
isso, já economizamos escala e
hora-extra. Não vamos tirar R$
150 milhões de um ano para o
outro, mas precisamos mon-
tar a situação para isso ano a
ano, mostrando para a Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica) que somos viáveis.
[PE] - Quando acontece a reno-
vação da concessão?
CS - No dia 15 de julho de 2015
encerra o contrato atual. Nossa
expectativa é que em três anos
recuperemos esses R$ 150 mi-
CLÉVERSON SIEWERT
lhões. Se conseguirmos antes,
ótimo, mas é um passo de cada
vez.Se,juntos,encontrarmosR$
50 milhões em ganho neste ano
já é muito. A Aneel é um órgão
regulador de controle externo
que está olhando nossas contas.
Imaginem no dia da reunião
para renovação da concessão
eles olharem nossas contas e
verem que gastamos R$ 150 mi-
lhões a mais do que arrecada-
mos em tarifa e sem indicado-
res adequados. Eles vão dar a
concessão para outro que possa
fazer melhor. Mas se eles anali-
sarem que estamos com indica-
dores positivos e recuperando o
valor gasto a mais, é mais fácil
renovaremaconcessãoparaque
continuemos fazendo um bom
trabalho. É esse sentimento que
precisamos mostrar ao órgão
regulador: de que sabemos nos-
sos problemas, diagnosticamos
e estamos sabendo recuperar.
A atual concessão foi dada em
1996 e a próxima, comentam,
deve ser entre 20 e 25 anos.
[PE] - Como está o relaciona-
mento com a Aneel?
CS - Melhorou muito e eles
têm as melhores impressões
da Celesc. Muito disso é pelo
tratamento que o ex-presiden-
te Gavazzoni (Antonio Marcos
Gavazzoni, hoje secretário es-
tadual da Fazenda) tem com
as pessoas e também porque
firmamos muitos compro-
missos nos últimos dois anos,
cumprindo todos eles, como
investimento em pesquisa e
desenvolvimento e redução de
custos. Isso dá confiança não só
ao órgão regulador, mas tam-
bém ao investidor, que quer a
valorização de suas ações.
[PE] - Essa situação de dese-
quilíbrio ocorre em outras con-
cessionárias?
CS - Em várias outras, por con-
ta da modicidade tarifária. Pro-
cedimentos semelhantes aos
que estamos implantando estão
sendo feitos na Copel (Compa-
nhia Paranaense de Energia) e
na Cemig (Companhia Ener-
gética de Minas Gerais). Qual o
futuro da Celesc? De um lado,
a renovação da concessão com
toda essa reestruturação interna
da empresa; do outro, o aumen-
to de receita. Assim, equilibra-
mos a balança.
[PE] - Como pretende aumen-
tar a receita?
CS - Novos negócios e Geração
são focos muito fortes para que
consigamos crescer mais, já que
o crescimento da Distribuição
é muito pequeno, porque o es-
tado cresce pouco também em
sua população. A Celesc nunca
foi agressiva nesse nicho. Não
temos praticamente nada. A
capacidade atual instalada é de
somente 81 megawatts (MW)
para um consumo anual gigan-
tesco, perto de 20 giga watts
(GW). Somos o oitavo maior
PIB (Produto Interno Bruto) do
país e o quinto maior consumi-
dor de energia elétrica. Diante
disso, lançamos uma chamada
públicaparanovosnegóciosem
Geração e já temos 1,1 mil MW
em estudo. Assim, poderemos
ser sócios em projetos de dife-
rentes fontes. O dinheiro não é
o principal problema, já que há
muitas pessoas querendo finan-
ciar projetos de Geração. Temos
é que tirá-los do papel por meio
de uma metodologia que está
sendo criada. Se o projeto en-
Não somos uma secretaria de Estado.
Precisamos de lucro para atender empregados e
sociedade adequadamente.
quadrar-se na metodologia, a
empresa investirá após aprova-
ção do Conselho. Se a Celesc for
sócia minoritária, com 49% de
um empreendimento de Gera-
ção, e comprar a energia desse
investimento, ela precisará ti-
rar “do bolso” apenas 10% de
todo o investimento. Então, se
a nossa metodologia der certo,
dos cerca de R$ 30 milhões que
a Celesc Geração tem por ano
parainvestir,podemosmultipli-
car por dez, transformando em
R$ 300 milhões. É uma questão
de gestão e uma grande sacada
para a empresa deslanchar.
[PE] - E os novos negócios?
CS - Esses se enquadram em
telefonia e a geração distribuí-
da, que é compra por parte da
Celesc da energia excedente
gerada a partir de geradores so-
lares residenciais ou até mesmo
tendo a Celesc como principal
ativo de uma empresa criada
para geração de energia. Po-
demos fazer negócio também
em iluminação pública, que é
responsabilidade da prefeitura,
mas sabemos da dificuldade
dos municípios. Uma série de
oportunidades que precisa-
mos tirar do papel. Precisamos
enxergar e superar as dificul-
dades. A Distribuição é nosso
ganha-pão, mas, para lucrar de
verdade, precisamos ir para a
Geração e para novos negócios,
já que 97% do faturamento é
Distribuição. Somos uma em-
presa pública que precisa atuar
com as premissas de mercado,
pois 80% do nosso capital é pri-
vado e 20% é público, mesmo
que 50,2% das ações da empre-
sa com direito a voto sejam do
Estado. Não somos uma secre-
taria de Estado. Precisamos de
lucro para atender empregados
e sociedade adequadamente.
[PE] - Como é a relação com o
setor produtivo, em especial
com a Federação das Indús-
trias (Fiesc)?
CS - Quanto mais transparente
e aberto formos, mais iremos
acertar. Na Fiesc, por exemplo,
fomos convocados para uma
reunião de emergência, já que
determinadas regiões estavam
com problemas sérios. De fato
eles existem, por mais que seja
robusto e bom o nosso sistema.
Fomos informados de proble-
mas como o de um frigorífico
de Santa Cecília. Outro proble-
ma que nos foi relatado era de
uma empresa de laticínio em
Treze Tílias. Isso me surpreen-
deu, pois recém havíamos feito
uma subestação. Estudamos
minuciosamente in loco e volta-
mos na última semana para dar
o resultado. A sociedade espera
isso,queCelescdêrespostascla-
ras e objetivas às demandas que
são trazidas. Em Santa Cecília,
já conversamos com o prefeito e
a construção da subestação que
estava agendada para 2015 será
feita neste ano. Em Treze Tílias,
durante os 15 dias que estive-
mos lá não houve nenhum pro-
blema. A equipe técnica disse
que não havia mais problema,
mas a gerência achou que tinha.
Ou seja, o problema era de co-
municação interna.
[PE] - Isso será recorrente?
CS - Realizaremos mensal-
mente, na primeira sexta-fei-
ra de cada mês, uma reunião
entre Celesc e Fiesc para troca
de informações. A Federação é
responsável por colher as de-
mandas que serão repassadas
à companhia para análise. Na
mesma reunião, a Celesc repas-
sa as informações das deman-
das colhidas anteriormente.
[PE] - E a relação com as re-
gionais?
CS - Para que as demandas
sejam menores, estamos orien-
tando nossos gerentes regionais
que atuem de maneira pró-ati-
va.Issopareceóbvio,masnãoé.
Peço para os gerentes descobri-
rem seus 20 maiores consumi-
dores, ligarem para eles, verem
as demandas, necessidades e
dificuldades. É importante que
os gerentes visitem câmaras de
vereadores e associações em-
presariais. Muitas vezes o con-
sumidor só quer que o escutem.
Somos concessão de serviço
público e nossa primeira tare-
fa é atender bem à sociedade.
Não se muda 60 anos em seis
meses. É um processo que es-
tamos construindo aos poucos.
Todos que tiverem problemas
devem se comunicar com a Ce-
lesc, porque queremos ajudar e
acertar. Trabalhamos com três
premissas: que a Celesc seja
financeiramente forte, transpa-
rente em suas ações e decisões,
e seja adequada na prestação de
seu serviço. Tenho certeza de
que, se atuarmos assim, estare-
mos dinamizando a economia,
dando competitividade a nos-
sos negócios e trabalhando bem
para a sociedade.
[PE] - Mudar cultura organiza-
cional não é fácil.
CS - O que fazemos aqui em
4 ou 5 anos, poderíamos fazer
na iniciativa privada em um
ou dois. Mas é realmente pra-
zeroso ver os resultados. A Ce-
lesc, ao longo de seus 60 anos,
foi tratada como secretaria de
Estado e pouco se cobrava dos
seus funcionários. Hora-extra,
custeio e sobreaviso eram ques-
tões sazonais e não sistemati-
zadas. Como presidente, estou
cobrando dos meus diretores.
Conversei pessoalmente com
todos os gerentes e perguntei a
eles sobre custeio e horas-extras
feitas.Alguns disseram que não
sabiam. Como não sabem? Eu
sei e cobro que saibam também,
porque o Conselho da empresa
me cobra. São dados básicos
que não preciso pedir aos ge-
rentes, é tarefa deles saberem
isso. Estamos em processo de
profissionalização da Celesc.
[PE] - Na gestão de pessoas,
terá mais mudança?
CS - Para o profissional ser che-
fe de departamento precisará
ter requisitos mínimos. Isso não
existia na Celesc, nem mesmo
para a presidência da empre-
sa. Isso não quer dizer que não
possahaverindicaçãopolítica.É
claro que pode, desde que cum-
pram uma série de requisitos.
Somos uma empresa pública e
precisamosdessetrânsitopolíti-
co,queéabsolutamentenormal.
Quero deputados e governador
aqui dentro da empresa, mas,
como disse, respeitando regras.
Quando chega aqui um deputa-
do pedindo algo, respondemos
se pode ou não, de acordo com
as regras. Eles não ficam chate-
ados, porque o sim ou o não se-
guem os mesmos critérios para
todos. Sei disso porque traba-
lhei com concessão de recursos
por oito anos na Secretaria da
Fazenda. Se cabe na regra é con-
cedido, se não cabe não é, sob
pena de eu me prejudicar e de
o governador, como ordenador
primário, ser prejudicado tam-
bém. O que sai de “não” aqui
na Celesc é algo extraordinário,
massão“nãos”explicados,com
Andréa Leonora e Nícola Martins �������������� ��Florianópolis - 08Jul13
TRINTA INTEGRADOS
CENTRAL DE DIÁRIOS
TRINTA INTEGRADOS
DIÁRIOS
INTEGRADOS
PRESENÇA EM
62% DE SC
PeloEstado
peloestado@centraldediarios.com.br
www.centraldediarios.com.br
coerência, lógica e embasamen-
to. No que dá para fazer, temos
o maior prazer em ajudar. Essa
blindagem é muito importante.
[PE] - O número de terceiriza-
dos cairá?
CS - Estamos trabalhando a
primarização da Celesc, que é
trabalhar com funcionários pró-
prios. A melhor empresa distri-
buidora de energia do Brasil é a
Coelce (Companhia Energética
do Ceará), que possui 85% de
terceirização. A segunda me-
lhor é a Elektro, de São Paulo,
com 0% de terceirização. O im-
portante é a boa gestão de pes-
soas. A Celesc, seus funcioná-
rios e sindicatos optaram pela
primarização e vamos fazer dar
certo,comnovoplanodesaúde,
de previdência e uma série de
benefícios. Fizemos, durante os
últimos nove meses, um Plano
de Demissão Voluntário (PDV),
que teve a saída de 750 funcio-
nários e estamos recompondo
no máximo 55% desse número,
todos em áreas fins.
[PE] - O atendimento mudará?
CS - Sei que a empresa não
atende adequadamente à socie-
dade, pois nosso call center não é
bom e a nossa ação na internet
ainda é ruim. Estamos contra-
tando um novo contact center,
saindo de 30 para 100 posições
de atendimento. Percebemos
que 90% do nosso estado têm
acesso à internet e 70% dos
atendimentos feitos nas lojas
da Celesc poderiam ser feitos
via internet. Portanto, estamos
fazendo um grande web site que
terá capacidade de receber toda
essa demanda por serviços via
internet. Com isso, diminuo o
trânsito nas lojas e facilito a vida
dos consumidores. Melhora-
remos também o atendimento
comercial, com mais atendentes
para dar o carinho e a atenção
que o nosso consumidor preci-
sa. O segundo semestre será de
revolução no atendimento.
[PE] - Como está a situação fi-
nanceira da empresa?
CS - Em 2012 tivemos um pre-
juízo de R$ 250 milhões, em
decorrência do PDV, contabili-
zado de uma só vez, ainda que
seja pago em parcelas. Somado
ao PDV, teve a questão da uti-
lização de térmicas, que no ano
passado não representou mui-
to em nossa contabilidade. Em
2013, no entanto, a energia das
térmicas, que é mais cara, foi
mais utilizada em função da es-
tiagem. Isso desequilibrou nos-
sas finanças e o reajuste tarifário
deve ter a incidência do valor
da compra de energia dessas
usinas, revertendo o resultado
da companhia para positivo.
[PE] - A repotenciação de Pery
II, em Curitibanos, representa
muito para a Celesc?
CS - Em 11 de julho estaremos
inaugurando essa obra, com o
maior investimento da história
da Celesc, cerca de R$ 125 mi-
lhões. É a retomada da Celesc
na área de Geração. A usina vai
sairde4,4MWpara30MW,um
aumento de 20% na Geração da
empresa como um todo. Quere-
mos mostrar que o investimen-
to em Geração não é somente
diretriz, mas que está realmente
acontecendo. Um momento ím-
par da Celesc.
[PE] - A capacidade energética
do interior catarinense é boa?
CS - Sim, mas há um projeto
muito importante, em parceria
com o Estado, para melhorar.
Vamos transformar os ramais
de monofásico para trifásico, o
que dará estrutura e segurança
energética para as cidades do
interior. Descobrimos que seria
interessante transformar 6 mil
quilômetros de ramais e linhas
a um custo de R$ 300 milhões.
Levei o projeto ao governador
Raimundo Colombo e ele se
propôs a estudar a viabiliza-
ção de parte disso por meio do
Pacto por SC. Classificamos três
regiões do estado como “vazios
elétricos”, pois não possuem
rede de alta tensão: Planalto
Norte, em Irineópolis, o entor-
no de Lages e o Extremo Oeste,
emAbelardo Luz.Ali há menos
oferta de energia elétrica, e, con-
sequentemente, são regiões me-
nos industrializadas. O próprio
governador, o vice-governador
Eduardo Moreira e o secretário
de Planejamento, Murilo Flores
(também secretário-executivo
do Pacto por SC) estudam fa-
zer um aumento de capital na
Celesc para que a empresa pos-
sa realizar esse investimento.
Nos últimos 25 anos, nenhum
governador se preocupou em
imaginar infraestrutura energé-
tica para Santa Catarina.

Mais conteúdo relacionado

Destaque (20)

Los deditos
Los deditosLos deditos
Los deditos
 
YA SOY VIEJO
YA SOY VIEJOYA SOY VIEJO
YA SOY VIEJO
 
Before and after
Before and afterBefore and after
Before and after
 
Planeta Venus
Planeta VenusPlaneta Venus
Planeta Venus
 
Cachaco
CachacoCachaco
Cachaco
 
Arboles frutales
Arboles frutalesArboles frutales
Arboles frutales
 
Tutorial de MS Word
Tutorial de MS WordTutorial de MS Word
Tutorial de MS Word
 
Jenny armijos utpl
Jenny armijos utplJenny armijos utpl
Jenny armijos utpl
 
Fatla
FatlaFatla
Fatla
 
CULTO DE REENCONTRO
CULTO DE REENCONTROCULTO DE REENCONTRO
CULTO DE REENCONTRO
 
Lamonjayelhippie
LamonjayelhippieLamonjayelhippie
Lamonjayelhippie
 
documentouta
documentoutadocumentouta
documentouta
 
Coisas inusitadas pelo Brasil afora
Coisas inusitadas pelo Brasil aforaCoisas inusitadas pelo Brasil afora
Coisas inusitadas pelo Brasil afora
 
Bill wong chap.2
Bill wong chap.2Bill wong chap.2
Bill wong chap.2
 
Creative commons
Creative commonsCreative commons
Creative commons
 
Immune system
Immune systemImmune system
Immune system
 
Mary
MaryMary
Mary
 
Mapa ComposiciOn BAsica-D.G
Mapa ComposiciOn BAsica-D.GMapa ComposiciOn BAsica-D.G
Mapa ComposiciOn BAsica-D.G
 
Romans 6 6 & 7 outline 04 17 11
Romans 6 6 & 7 outline 04 17 11Romans 6 6 & 7 outline 04 17 11
Romans 6 6 & 7 outline 04 17 11
 
Socialización rica
Socialización ricaSocialización rica
Socialización rica
 

Semelhante a Pelo estado entrevista pres celesc cléverson siewert 08 07-13 duas pag

Administração Financeira e Orçamentária I
Administração Financeira e Orçamentária IAdministração Financeira e Orçamentária I
Administração Financeira e Orçamentária IRogerioSales10
 
Loja virtual análise econômica financeira
Loja virtual   análise econômica financeiraLoja virtual   análise econômica financeira
Loja virtual análise econômica financeiraCG - Choque de Gestao
 
Resultado do 3° trimestre da Via Varejo
Resultado do 3° trimestre da Via VarejoResultado do 3° trimestre da Via Varejo
Resultado do 3° trimestre da Via VarejoLucas Eurico Simões
 
Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014
Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014
Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014chapadacategoria1
 
resiliencia-rmpresarial.pdf
resiliencia-rmpresarial.pdfresiliencia-rmpresarial.pdf
resiliencia-rmpresarial.pdfSaraHarris45
 
Análise Contábil - Financeira da ITAUTEC
Análise Contábil - Financeira da ITAUTECAnálise Contábil - Financeira da ITAUTEC
Análise Contábil - Financeira da ITAUTECgabyzzinhaa
 
Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresas
Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresasPronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresas
Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresasarmandosenador
 
12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual
12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual
12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO AnualFasup
 
Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...
Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...
Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...Nivaldo L. Figueiredo
 
Créditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadora
Créditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadoraCréditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadora
Créditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadoraEdiane Oliveira
 
Espanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia Concursos
Espanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia ConcursosEspanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia Concursos
Espanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia Concursosadinoel sebastiao
 
Boletim SINDSEP novembro2011
Boletim SINDSEP novembro2011Boletim SINDSEP novembro2011
Boletim SINDSEP novembro2011Sergio Antiqueira
 
Apresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPs
Apresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPsApresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPs
Apresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPsEdson Fernando de Souza
 
3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial
3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial
3º Edição - Direto ao Ponto - eSocialEloGroup
 

Semelhante a Pelo estado entrevista pres celesc cléverson siewert 08 07-13 duas pag (20)

Hora do Sul
Hora do SulHora do Sul
Hora do Sul
 
Administração Financeira e Orçamentária I
Administração Financeira e Orçamentária IAdministração Financeira e Orçamentária I
Administração Financeira e Orçamentária I
 
Loja virtual análise econômica financeira
Loja virtual   análise econômica financeiraLoja virtual   análise econômica financeira
Loja virtual análise econômica financeira
 
Resultado do 3° trimestre da Via Varejo
Resultado do 3° trimestre da Via VarejoResultado do 3° trimestre da Via Varejo
Resultado do 3° trimestre da Via Varejo
 
Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014
Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014
Boletim FNP - Fevereiro/Março 2014
 
resiliencia-rmpresarial.pdf
resiliencia-rmpresarial.pdfresiliencia-rmpresarial.pdf
resiliencia-rmpresarial.pdf
 
Análise Contábil - Financeira da ITAUTEC
Análise Contábil - Financeira da ITAUTECAnálise Contábil - Financeira da ITAUTEC
Análise Contábil - Financeira da ITAUTEC
 
Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresas
Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresasPronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresas
Pronunciamento efeitos danosos da st sobre as micro e pequenas empresas
 
Mudança Positiva-MP Nº 13 - Agosto/2011
Mudança Positiva-MP Nº 13 - Agosto/2011Mudança Positiva-MP Nº 13 - Agosto/2011
Mudança Positiva-MP Nº 13 - Agosto/2011
 
12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual
12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual
12 3 CapíTulo 03 OrçEmpr PreparaçãO Anual
 
12
1212
12
 
Case de Negócio
Case de NegócioCase de Negócio
Case de Negócio
 
Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...
Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...
Apresentação Previdenciárias - CPRB Contribuição Receita Bruta - Desoneração ...
 
Inf rh 72_2011
Inf rh 72_2011Inf rh 72_2011
Inf rh 72_2011
 
Case day horc
Case day horcCase day horc
Case day horc
 
Créditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadora
Créditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadoraCréditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadora
Créditos de pis e cofins na atividade de empresa preponderantemente exportadora
 
Espanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia Concursos
Espanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia ConcursosEspanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia Concursos
Espanhol - Tradução Livre 22/2016 - Estratégia Concursos
 
Boletim SINDSEP novembro2011
Boletim SINDSEP novembro2011Boletim SINDSEP novembro2011
Boletim SINDSEP novembro2011
 
Apresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPs
Apresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPsApresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPs
Apresentação da Concepção da pesquisa Controller em EPPs
 
3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial
3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial
3º Edição - Direto ao Ponto - eSocial
 

Pelo estado entrevista pres celesc cléverson siewert 08 07-13 duas pag

  • 1. PeloEstado Entrevista “Não se muda 60 anos em seis meses” O atual presidente das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc)assumiuocargoemjaneirodesteanoejáestápromovendo uma verdadeira transformação na empresa. Com o corte de despesas e a busca pelo aumento da receita, ele propõe uma série de medidas calcadas nos princípios da administração pública, envolvendo nas decisões os empregados e as entidades sindicais que os representam. Siewert passou oito anos na Secretaria de Estado da Fazenda e durante nove meses chegou a ser o titular da pasta. Experiência que está sendo usada agora, na reestruturação da Celesc. Nesta entrevista exclusiva concedida em seu gabinete à CNR-SC/ADI-SC/Central de Diários, o presidente da maior empresa pública de Santa Catarina e terceira maior entre todas as empresas instaladas no estado fala sobre as primeiras ações, o futuro da Celesc e de como os princípios da gestão privada podem ser aplicados - com sucesso - em uma empresa pública. Bem- humorado, recebeu a equipe de reportagem com um efusivo “Luz e Força”, numa referência às atividades da empresa que comanda. [PeloEstado] - Como será a re- estruturação da Celesc? Cléverson Siewert - O setor de energia é extremamente complexo, cerne do desenvol- vimento do país e fator de com- petitividade. Isso faz com que ele seja muito dinâmico, esteja em constante inovação e tenha muitos desafios. O nosso prin- cipal desafio é a modicidade tarifária, da Medida Provisória 579, convertida em lei no início desse ano, que é a captura, por meio do órgão regulador, dos ganhos e da produtividade que a companhia teve ao longo do ano para entregar isso à socie- dade, sempre buscando dimi- nuir a tarifa. Temos, em 2013, um valor para fazer custeio e investimentos que é o mesmo de dez anos atrás, sendo que nesse mesmo período houve 65% de inflação e 40% de cresci- mento de sistema. Então, fica a pergunta: como iremos tocar a Celesc, a maior empresa públi- ca de Santa Catarina e a terceira maior empresa do estado, com os mesmos valores de dez anos atrás? Esse processo todo fez com que interpretássemos essa mudança e aí a empresa teve consciência da necessidade de reestruturação. Queremos ace- lerar o processo para recuperar o tempo perdido. [PE] - Qual a principal necessi- dade da empresa? CS - Nossos custos operacio- nais de 2013 são em torno de R$ 150 milhões acima da receita re- colhida com tarifa. Esse custo a mais é acumulado dos últimos dez anos. Então, em função da modicidade tarifária e desse custo acima do normal, nós to- mamos a decisão de fazer um novo planejamento. Constru- ímos um novo estatuto social para a Celesc, com regras para investimento, administração e até mesmo no setor pessoal. Também tivemos que estabele- cer o nosso Plano Diretor, com metas físicas, financeiras e com 20 iniciativas estratégicas que nos permitirão levar a empresa de forma sustentável até 2030. Outro foco importante foi o pla- no de adequação de quadros, reduzindo despesas com Pro- grama de Demissão Voluntária (PDV), reposicionamento de pessoal e, agora, com o Plano de Eficiência Operacional, com no- vos procedimentos e processos. [PE] - O que já foi feito? CS - Reduzimos duas direto- rias. A Celesc possui cerca de 3 milservidoresefetivosesomen- te oito cargos comissionados. E mesmo assim cortamos quatro deles. Estamos definindo cortes em outros setores. Na última semana, definimos o corte de 30% dos cargos gerenciais da empresa, um número bastante significativo. Isso representa- rá cerca de R$ 3,5 milhões de economia ao ano. Mais do que o valor, trata-se de um indica- tivo para a sociedade e para o próprio corpo funcional de que precisamos fazer mais com me- nos. Esses funcionários não dei- xam de ser efetivos da Celesc, mas deixam de receber um va- lor extra por ser chefe de depar- tamento, assessor ou chefe de divisão. O plano foi construído pelos funcionários da empresa em parceria com a diretoria. Fi- zemos tudo isso trocando infor- mações com as forças sindicais, mostrando para eles os planos e tirando todas as dúvidas. [PE] - Por onde iniciou a rees- truturação? CS - Iniciamos nos Postos de Atendimento a Subestações, os PAS. A estrutura existente hoje custa R$ 20 milhões por ano. A nova estrutura, desenhada com os funcionários, custará R$ 7 milhões ao ano. Para chegar a esse valor, mudamos a quanti- dade de pessoas que irão atu- ar e a escala de atendimento, com menos sobreaviso, menos hora- extra, mantendo a quali- dade do serviço e suprindo as necessidades dos consumido- res. Obviamente teve gente que perdeu dinheiro nesse proces- so, mas se não abrirem mão de algo, a companhia pode sofrer. Há ainda os Centros de Ope- ração de Distribuição (COD), que ficam em cada uma das 16 agências regionais. Existia a ideia de transformá-los em um só, mas estamos fazendo um trabalho escalonado. Nossa primeira ação é fazer com que desses 16 COD, somente cin- co funcionem no período no- turno, das 22 às 6 horas. Com isso, já economizamos escala e hora-extra. Não vamos tirar R$ 150 milhões de um ano para o outro, mas precisamos mon- tar a situação para isso ano a ano, mostrando para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que somos viáveis. [PE] - Quando acontece a reno- vação da concessão? CS - No dia 15 de julho de 2015 encerra o contrato atual. Nossa expectativa é que em três anos recuperemos esses R$ 150 mi- CLÉVERSON SIEWERT lhões. Se conseguirmos antes, ótimo, mas é um passo de cada vez.Se,juntos,encontrarmosR$ 50 milhões em ganho neste ano já é muito. A Aneel é um órgão regulador de controle externo que está olhando nossas contas. Imaginem no dia da reunião para renovação da concessão eles olharem nossas contas e verem que gastamos R$ 150 mi- lhões a mais do que arrecada- mos em tarifa e sem indicado- res adequados. Eles vão dar a concessão para outro que possa fazer melhor. Mas se eles anali- sarem que estamos com indica- dores positivos e recuperando o valor gasto a mais, é mais fácil renovaremaconcessãoparaque continuemos fazendo um bom trabalho. É esse sentimento que precisamos mostrar ao órgão regulador: de que sabemos nos- sos problemas, diagnosticamos e estamos sabendo recuperar. A atual concessão foi dada em 1996 e a próxima, comentam, deve ser entre 20 e 25 anos. [PE] - Como está o relaciona- mento com a Aneel? CS - Melhorou muito e eles têm as melhores impressões da Celesc. Muito disso é pelo tratamento que o ex-presiden- te Gavazzoni (Antonio Marcos Gavazzoni, hoje secretário es- tadual da Fazenda) tem com as pessoas e também porque firmamos muitos compro- missos nos últimos dois anos, cumprindo todos eles, como investimento em pesquisa e desenvolvimento e redução de custos. Isso dá confiança não só ao órgão regulador, mas tam- bém ao investidor, que quer a valorização de suas ações. [PE] - Essa situação de dese- quilíbrio ocorre em outras con- cessionárias? CS - Em várias outras, por con- ta da modicidade tarifária. Pro- cedimentos semelhantes aos que estamos implantando estão sendo feitos na Copel (Compa- nhia Paranaense de Energia) e na Cemig (Companhia Ener- gética de Minas Gerais). Qual o futuro da Celesc? De um lado, a renovação da concessão com toda essa reestruturação interna da empresa; do outro, o aumen- to de receita. Assim, equilibra- mos a balança. [PE] - Como pretende aumen- tar a receita? CS - Novos negócios e Geração são focos muito fortes para que consigamos crescer mais, já que o crescimento da Distribuição é muito pequeno, porque o es- tado cresce pouco também em sua população. A Celesc nunca foi agressiva nesse nicho. Não temos praticamente nada. A capacidade atual instalada é de somente 81 megawatts (MW) para um consumo anual gigan- tesco, perto de 20 giga watts (GW). Somos o oitavo maior PIB (Produto Interno Bruto) do país e o quinto maior consumi- dor de energia elétrica. Diante disso, lançamos uma chamada públicaparanovosnegóciosem Geração e já temos 1,1 mil MW em estudo. Assim, poderemos ser sócios em projetos de dife- rentes fontes. O dinheiro não é o principal problema, já que há muitas pessoas querendo finan- ciar projetos de Geração. Temos é que tirá-los do papel por meio de uma metodologia que está sendo criada. Se o projeto en- Não somos uma secretaria de Estado. Precisamos de lucro para atender empregados e sociedade adequadamente.
  • 2. quadrar-se na metodologia, a empresa investirá após aprova- ção do Conselho. Se a Celesc for sócia minoritária, com 49% de um empreendimento de Gera- ção, e comprar a energia desse investimento, ela precisará ti- rar “do bolso” apenas 10% de todo o investimento. Então, se a nossa metodologia der certo, dos cerca de R$ 30 milhões que a Celesc Geração tem por ano parainvestir,podemosmultipli- car por dez, transformando em R$ 300 milhões. É uma questão de gestão e uma grande sacada para a empresa deslanchar. [PE] - E os novos negócios? CS - Esses se enquadram em telefonia e a geração distribuí- da, que é compra por parte da Celesc da energia excedente gerada a partir de geradores so- lares residenciais ou até mesmo tendo a Celesc como principal ativo de uma empresa criada para geração de energia. Po- demos fazer negócio também em iluminação pública, que é responsabilidade da prefeitura, mas sabemos da dificuldade dos municípios. Uma série de oportunidades que precisa- mos tirar do papel. Precisamos enxergar e superar as dificul- dades. A Distribuição é nosso ganha-pão, mas, para lucrar de verdade, precisamos ir para a Geração e para novos negócios, já que 97% do faturamento é Distribuição. Somos uma em- presa pública que precisa atuar com as premissas de mercado, pois 80% do nosso capital é pri- vado e 20% é público, mesmo que 50,2% das ações da empre- sa com direito a voto sejam do Estado. Não somos uma secre- taria de Estado. Precisamos de lucro para atender empregados e sociedade adequadamente. [PE] - Como é a relação com o setor produtivo, em especial com a Federação das Indús- trias (Fiesc)? CS - Quanto mais transparente e aberto formos, mais iremos acertar. Na Fiesc, por exemplo, fomos convocados para uma reunião de emergência, já que determinadas regiões estavam com problemas sérios. De fato eles existem, por mais que seja robusto e bom o nosso sistema. Fomos informados de proble- mas como o de um frigorífico de Santa Cecília. Outro proble- ma que nos foi relatado era de uma empresa de laticínio em Treze Tílias. Isso me surpreen- deu, pois recém havíamos feito uma subestação. Estudamos minuciosamente in loco e volta- mos na última semana para dar o resultado. A sociedade espera isso,queCelescdêrespostascla- ras e objetivas às demandas que são trazidas. Em Santa Cecília, já conversamos com o prefeito e a construção da subestação que estava agendada para 2015 será feita neste ano. Em Treze Tílias, durante os 15 dias que estive- mos lá não houve nenhum pro- blema. A equipe técnica disse que não havia mais problema, mas a gerência achou que tinha. Ou seja, o problema era de co- municação interna. [PE] - Isso será recorrente? CS - Realizaremos mensal- mente, na primeira sexta-fei- ra de cada mês, uma reunião entre Celesc e Fiesc para troca de informações. A Federação é responsável por colher as de- mandas que serão repassadas à companhia para análise. Na mesma reunião, a Celesc repas- sa as informações das deman- das colhidas anteriormente. [PE] - E a relação com as re- gionais? CS - Para que as demandas sejam menores, estamos orien- tando nossos gerentes regionais que atuem de maneira pró-ati- va.Issopareceóbvio,masnãoé. Peço para os gerentes descobri- rem seus 20 maiores consumi- dores, ligarem para eles, verem as demandas, necessidades e dificuldades. É importante que os gerentes visitem câmaras de vereadores e associações em- presariais. Muitas vezes o con- sumidor só quer que o escutem. Somos concessão de serviço público e nossa primeira tare- fa é atender bem à sociedade. Não se muda 60 anos em seis meses. É um processo que es- tamos construindo aos poucos. Todos que tiverem problemas devem se comunicar com a Ce- lesc, porque queremos ajudar e acertar. Trabalhamos com três premissas: que a Celesc seja financeiramente forte, transpa- rente em suas ações e decisões, e seja adequada na prestação de seu serviço. Tenho certeza de que, se atuarmos assim, estare- mos dinamizando a economia, dando competitividade a nos- sos negócios e trabalhando bem para a sociedade. [PE] - Mudar cultura organiza- cional não é fácil. CS - O que fazemos aqui em 4 ou 5 anos, poderíamos fazer na iniciativa privada em um ou dois. Mas é realmente pra- zeroso ver os resultados. A Ce- lesc, ao longo de seus 60 anos, foi tratada como secretaria de Estado e pouco se cobrava dos seus funcionários. Hora-extra, custeio e sobreaviso eram ques- tões sazonais e não sistemati- zadas. Como presidente, estou cobrando dos meus diretores. Conversei pessoalmente com todos os gerentes e perguntei a eles sobre custeio e horas-extras feitas.Alguns disseram que não sabiam. Como não sabem? Eu sei e cobro que saibam também, porque o Conselho da empresa me cobra. São dados básicos que não preciso pedir aos ge- rentes, é tarefa deles saberem isso. Estamos em processo de profissionalização da Celesc. [PE] - Na gestão de pessoas, terá mais mudança? CS - Para o profissional ser che- fe de departamento precisará ter requisitos mínimos. Isso não existia na Celesc, nem mesmo para a presidência da empre- sa. Isso não quer dizer que não possahaverindicaçãopolítica.É claro que pode, desde que cum- pram uma série de requisitos. Somos uma empresa pública e precisamosdessetrânsitopolíti- co,queéabsolutamentenormal. Quero deputados e governador aqui dentro da empresa, mas, como disse, respeitando regras. Quando chega aqui um deputa- do pedindo algo, respondemos se pode ou não, de acordo com as regras. Eles não ficam chate- ados, porque o sim ou o não se- guem os mesmos critérios para todos. Sei disso porque traba- lhei com concessão de recursos por oito anos na Secretaria da Fazenda. Se cabe na regra é con- cedido, se não cabe não é, sob pena de eu me prejudicar e de o governador, como ordenador primário, ser prejudicado tam- bém. O que sai de “não” aqui na Celesc é algo extraordinário, massão“nãos”explicados,com Andréa Leonora e Nícola Martins �������������� ��Florianópolis - 08Jul13 TRINTA INTEGRADOS CENTRAL DE DIÁRIOS TRINTA INTEGRADOS DIÁRIOS INTEGRADOS PRESENÇA EM 62% DE SC PeloEstado peloestado@centraldediarios.com.br www.centraldediarios.com.br coerência, lógica e embasamen- to. No que dá para fazer, temos o maior prazer em ajudar. Essa blindagem é muito importante. [PE] - O número de terceiriza- dos cairá? CS - Estamos trabalhando a primarização da Celesc, que é trabalhar com funcionários pró- prios. A melhor empresa distri- buidora de energia do Brasil é a Coelce (Companhia Energética do Ceará), que possui 85% de terceirização. A segunda me- lhor é a Elektro, de São Paulo, com 0% de terceirização. O im- portante é a boa gestão de pes- soas. A Celesc, seus funcioná- rios e sindicatos optaram pela primarização e vamos fazer dar certo,comnovoplanodesaúde, de previdência e uma série de benefícios. Fizemos, durante os últimos nove meses, um Plano de Demissão Voluntário (PDV), que teve a saída de 750 funcio- nários e estamos recompondo no máximo 55% desse número, todos em áreas fins. [PE] - O atendimento mudará? CS - Sei que a empresa não atende adequadamente à socie- dade, pois nosso call center não é bom e a nossa ação na internet ainda é ruim. Estamos contra- tando um novo contact center, saindo de 30 para 100 posições de atendimento. Percebemos que 90% do nosso estado têm acesso à internet e 70% dos atendimentos feitos nas lojas da Celesc poderiam ser feitos via internet. Portanto, estamos fazendo um grande web site que terá capacidade de receber toda essa demanda por serviços via internet. Com isso, diminuo o trânsito nas lojas e facilito a vida dos consumidores. Melhora- remos também o atendimento comercial, com mais atendentes para dar o carinho e a atenção que o nosso consumidor preci- sa. O segundo semestre será de revolução no atendimento. [PE] - Como está a situação fi- nanceira da empresa? CS - Em 2012 tivemos um pre- juízo de R$ 250 milhões, em decorrência do PDV, contabili- zado de uma só vez, ainda que seja pago em parcelas. Somado ao PDV, teve a questão da uti- lização de térmicas, que no ano passado não representou mui- to em nossa contabilidade. Em 2013, no entanto, a energia das térmicas, que é mais cara, foi mais utilizada em função da es- tiagem. Isso desequilibrou nos- sas finanças e o reajuste tarifário deve ter a incidência do valor da compra de energia dessas usinas, revertendo o resultado da companhia para positivo. [PE] - A repotenciação de Pery II, em Curitibanos, representa muito para a Celesc? CS - Em 11 de julho estaremos inaugurando essa obra, com o maior investimento da história da Celesc, cerca de R$ 125 mi- lhões. É a retomada da Celesc na área de Geração. A usina vai sairde4,4MWpara30MW,um aumento de 20% na Geração da empresa como um todo. Quere- mos mostrar que o investimen- to em Geração não é somente diretriz, mas que está realmente acontecendo. Um momento ím- par da Celesc. [PE] - A capacidade energética do interior catarinense é boa? CS - Sim, mas há um projeto muito importante, em parceria com o Estado, para melhorar. Vamos transformar os ramais de monofásico para trifásico, o que dará estrutura e segurança energética para as cidades do interior. Descobrimos que seria interessante transformar 6 mil quilômetros de ramais e linhas a um custo de R$ 300 milhões. Levei o projeto ao governador Raimundo Colombo e ele se propôs a estudar a viabiliza- ção de parte disso por meio do Pacto por SC. Classificamos três regiões do estado como “vazios elétricos”, pois não possuem rede de alta tensão: Planalto Norte, em Irineópolis, o entor- no de Lages e o Extremo Oeste, emAbelardo Luz.Ali há menos oferta de energia elétrica, e, con- sequentemente, são regiões me- nos industrializadas. O próprio governador, o vice-governador Eduardo Moreira e o secretário de Planejamento, Murilo Flores (também secretário-executivo do Pacto por SC) estudam fa- zer um aumento de capital na Celesc para que a empresa pos- sa realizar esse investimento. Nos últimos 25 anos, nenhum governador se preocupou em imaginar infraestrutura energé- tica para Santa Catarina.