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Recomendações de terapia antirretroviral para
adultos vivendo com HIV/aids no Brasil – 2012



                        VERSÃO PRELIMINAR


        Início de TARV para pessoas vivendo com HIV em parcerias sorodiscordantes


        Diferentes fatores estão associados à transmissão sexual do HIV, entre eles a carga
viral, tipo de relação sexual, presença de doenças sexualmente transmissíveis, momento do
ciclo menstrual, ocorrência de traumatismos, entre outros. De um modo geral, a magnitude da
replicação viral é o principal fator biológico associado à transmissão sexual.

        O aconselhamento de casais e parcerias sorodiscordantes deve ser contínuo, assim
como a abordagem a respeito da sexualidade, esclarecendo sobre potenciais riscos associados
às práticas sexuais. A testagem da parceria sexual soronegativa deve ser oferecida quando
ocorrer exposição sexual de risco ou mesmo periodicamente: esta decisão deve ser
individualizada e definida conjuntamente com o casal.

        Vários estudos demonstram que o uso de antirretrovirais representa uma potente
intervenção para prevenção de transmissão do HIV. Uma metanálise de 11 estudos de coorte
que incluiram 5.021casais heterossexuais sorodiscordantes, descreveu 461 episódios de
transmissão e nenhum deles quando o parceiro infectado estava sob tratamento e com carga
viral plasmática abaixo de 400 cópias/ml (Attia, Egger, Müller et al., 2009).

        Posteriormente foram publicados resultados de um estudo prospectivo em uma coorte
africana envolvendo 3.381 casais heterossexuais sorodiscordantes em que 349 indivíduos
iniciaram tratamento durante o período de seguimento (Donnell, Baeten, Kiarie et al., 2010).
Apenas um caso de transmissão ocorreu nas parcerias dos participantes que estavam em
tratamento e 102 quando a pessoa infectada pelo HIV não estava em tratamento, o que
representando redução de 92% no risco de transmissão (Donnell, Baeten, Kiarie et al., 2011).


        Mais recentemente foram publicados resultados do estudo HPTN052, o primeiro
ensaio clínico randomizado que avaliou a transmissão sexual do HIV entre casais
sorodiscordantes (Cohen et al, 2011). Foram randomizados 1.763 casais com contagem LT-
3
CD4+ entre 350 e 550 células/mm para início imediato do tratamento ou iniciá-lo quando a
                                                     3
contagem LT-CD4+ caísse abaixo de 250 células/mm (Cohen et al, 2011).


       Durante o estudo ocorreram 39 episódios de transmissão, dos quais 28 foram
virologicamente vinculados ao parceiro infectado e apenas um ocorreu no grupo de terapia
precoce, observando-se diminuição de 96% na taxa de transmissão quando a pessoa que vive

com HIV estava em tratamento: o grupo que alcançou este resultado possuía contagem LT-
CD4+ entre 350 e 550 células/mm3 (Cohen et al, 2011).


        Ressalta-se que 97% dos casais envolvidos no estudo eram heterossexuais, que
majoritariamente os casais reportavam parceiro único e sexo protegido e não foi avaliada a
transmissão em faixas de LT-CD4+ superiores a 550 células (Cohen et al, 2011).


       Diante do exposto, informações sobre o efeito da TARV na transmissibilidade do HIV
devem ser discutidas com as pessoas inseridas em relações sorodiscordantes, no contexto da
estratégia de prevenção e também da inexistência de dados conclusivos a respeito do
benefício clínico de se iniciar o tratamento em faixas de LT- CD4+ acima de 500 células/ mm3.


       A TARV deve ser iniciada desde que a pessoa que vive com HIV esteja esclarecida sobre
benefícios e riscos, fortemente motivada, e preparada para o tratamento, respeitando-se a
autonomia da pessoa. Deve ser enfatizado que uma vez iniciada a TARV não deverá ser
interrompida.


       Apesar da escassa evidência de benefício de TARV para prevenção em populações de
homens que fazem sexo com homens (HSH), considera-se que a recomendação deva ser
estendida a esta população. No entanto, a magnitude do efeito protetor pode ser diferente,
uma vez que a probabilidade de transmissão difere de acordo com o tipo de práticas sexuais.


       O emprego do tratamento antirretroviral com a finalidade de reduzir o risco de
transmissão do HIV deve ser discutido e oferecido a pessoas que vivem com HIV e inseridas
em relacionamentos sorodiscordantes, independentemente de sua orientação sexual. Deve-
se informar sobre riscos e benefícios da antecipação do tratamento, respeitando a decisão
autônoma da pessoa que vive com HIV
Caso ocorra alguma exposição sexual de risco, deve ser utilizada profilaxia pós
exposição sexual (PEP sexual) para o parceiro soronegativo, especialmente em contatos
sexuais que tenha ocorrido acidente durante a relação sexual – como ruptura - ou não
utilização do preservativo.


        Ressalta-se que a utilização da TARV para pessoa que vive com HIV não dispensa a
adoção de práticas seguras, com uso de preservativos: o emprego de estratégias combinadas
potencializa a prevenção da transmissão do HIV e previne a transmissão das Hepatites B e C,
Sífilis e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis.

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  • 1. Recomendações de terapia antirretroviral para adultos vivendo com HIV/aids no Brasil – 2012 VERSÃO PRELIMINAR Início de TARV para pessoas vivendo com HIV em parcerias sorodiscordantes Diferentes fatores estão associados à transmissão sexual do HIV, entre eles a carga viral, tipo de relação sexual, presença de doenças sexualmente transmissíveis, momento do ciclo menstrual, ocorrência de traumatismos, entre outros. De um modo geral, a magnitude da replicação viral é o principal fator biológico associado à transmissão sexual. O aconselhamento de casais e parcerias sorodiscordantes deve ser contínuo, assim como a abordagem a respeito da sexualidade, esclarecendo sobre potenciais riscos associados às práticas sexuais. A testagem da parceria sexual soronegativa deve ser oferecida quando ocorrer exposição sexual de risco ou mesmo periodicamente: esta decisão deve ser individualizada e definida conjuntamente com o casal. Vários estudos demonstram que o uso de antirretrovirais representa uma potente intervenção para prevenção de transmissão do HIV. Uma metanálise de 11 estudos de coorte que incluiram 5.021casais heterossexuais sorodiscordantes, descreveu 461 episódios de transmissão e nenhum deles quando o parceiro infectado estava sob tratamento e com carga viral plasmática abaixo de 400 cópias/ml (Attia, Egger, Müller et al., 2009). Posteriormente foram publicados resultados de um estudo prospectivo em uma coorte africana envolvendo 3.381 casais heterossexuais sorodiscordantes em que 349 indivíduos iniciaram tratamento durante o período de seguimento (Donnell, Baeten, Kiarie et al., 2010). Apenas um caso de transmissão ocorreu nas parcerias dos participantes que estavam em tratamento e 102 quando a pessoa infectada pelo HIV não estava em tratamento, o que representando redução de 92% no risco de transmissão (Donnell, Baeten, Kiarie et al., 2011). Mais recentemente foram publicados resultados do estudo HPTN052, o primeiro ensaio clínico randomizado que avaliou a transmissão sexual do HIV entre casais sorodiscordantes (Cohen et al, 2011). Foram randomizados 1.763 casais com contagem LT-
  • 2. 3 CD4+ entre 350 e 550 células/mm para início imediato do tratamento ou iniciá-lo quando a 3 contagem LT-CD4+ caísse abaixo de 250 células/mm (Cohen et al, 2011). Durante o estudo ocorreram 39 episódios de transmissão, dos quais 28 foram virologicamente vinculados ao parceiro infectado e apenas um ocorreu no grupo de terapia precoce, observando-se diminuição de 96% na taxa de transmissão quando a pessoa que vive com HIV estava em tratamento: o grupo que alcançou este resultado possuía contagem LT- CD4+ entre 350 e 550 células/mm3 (Cohen et al, 2011). Ressalta-se que 97% dos casais envolvidos no estudo eram heterossexuais, que majoritariamente os casais reportavam parceiro único e sexo protegido e não foi avaliada a transmissão em faixas de LT-CD4+ superiores a 550 células (Cohen et al, 2011). Diante do exposto, informações sobre o efeito da TARV na transmissibilidade do HIV devem ser discutidas com as pessoas inseridas em relações sorodiscordantes, no contexto da estratégia de prevenção e também da inexistência de dados conclusivos a respeito do benefício clínico de se iniciar o tratamento em faixas de LT- CD4+ acima de 500 células/ mm3. A TARV deve ser iniciada desde que a pessoa que vive com HIV esteja esclarecida sobre benefícios e riscos, fortemente motivada, e preparada para o tratamento, respeitando-se a autonomia da pessoa. Deve ser enfatizado que uma vez iniciada a TARV não deverá ser interrompida. Apesar da escassa evidência de benefício de TARV para prevenção em populações de homens que fazem sexo com homens (HSH), considera-se que a recomendação deva ser estendida a esta população. No entanto, a magnitude do efeito protetor pode ser diferente, uma vez que a probabilidade de transmissão difere de acordo com o tipo de práticas sexuais. O emprego do tratamento antirretroviral com a finalidade de reduzir o risco de transmissão do HIV deve ser discutido e oferecido a pessoas que vivem com HIV e inseridas em relacionamentos sorodiscordantes, independentemente de sua orientação sexual. Deve- se informar sobre riscos e benefícios da antecipação do tratamento, respeitando a decisão autônoma da pessoa que vive com HIV
  • 3. Caso ocorra alguma exposição sexual de risco, deve ser utilizada profilaxia pós exposição sexual (PEP sexual) para o parceiro soronegativo, especialmente em contatos sexuais que tenha ocorrido acidente durante a relação sexual – como ruptura - ou não utilização do preservativo. Ressalta-se que a utilização da TARV para pessoa que vive com HIV não dispensa a adoção de práticas seguras, com uso de preservativos: o emprego de estratégias combinadas potencializa a prevenção da transmissão do HIV e previne a transmissão das Hepatites B e C, Sífilis e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis.