Existem dois caminhos para a concretização do desejo da parentalidade: o caminho biológico e o caminho da Adoção. Esse caminho possui especificidades próprias que a fazem um percurso de vários obstáculos até a efetivação do desejo de ser pai ou mãe.
Especificidades estas que favorecem o seu aspecto burocrático que, em certo ponto, faz-se necessário para a sua concretização.
Essa apresentação busca, baseada na pesquisa realizada em 2017, contribuir para a melhoria da experiência dos pretendentes a pais neste processo, mais especificadamente no período de espera entre a entrada no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e a concretização da Adoção, com a chegada do filho tão esperado. Este procedimento foi investigado a partir da perspectiva do Design Anthropology que possui os meios necessários para uma pesquisa mais aprofundada de um problema tão complexo quanto a Adoção.
Esta nova disciplina, nascida do encontro do Design e da Antropologia, oferece ferramentas para uma percepção mais profunda dos problemas sociais, assim, possibilitando a capacidade de influenciar fortemente os processos de Design. Para este estudo foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, etnografia digital e, também, pesquisa bibliográfica. Os dados foram triangulados para que pudesse ser feito um retrato mais completo do grupo de pessoas estudado.
21. Incompatibilidade entre o perfil da criança
desejada e da criança disponível para adoção
A maioria das crianças
cadastradas está acima dos 6
anos de idade, são pardas ou
negras, são do sexo masculino,
tem irmãos e tem histórico de
doenças.
x
A maioria dos pretendentes
desejam bebês e crianças até 3
anos, brancos, do sexo feminino,
sem irmãos e sem doenças.
23. Detalhe importante!
Antigamente o objetivo da Adoção era
encontrar filhos para casais inférteis. Com a
criação do ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente), a prioridade do processo passou
a ser as crianças.
A Adoção visa encontrar famílias para as
crianças.
24. A adoção é um sistema que tem
vários atores.
Adoção
Pretendentes
Pais biológicos
Crianças/
Adolescentes
Profissionais
25. As crianças são a parte
mais vulnerável
Mas os pretendentes
também estão em um
momento de
vulnerabilidade
27. A infertilidade ainda é a grande
motivação para a Adoção
Tristeza Angústia Insegurança
Medo Culpa Frustração
28. Luto dos pretendentes
Luto pelo filho que foi desejado e que não foi
gerado biologicamente.
E pessoas inférteis podem se sentir
discriminadas na sociedade por não poderem
cumprir os papéis esperados por elas e
sentemse diferentes das outras pessoas que
conseguem ter filhos biológicos.
29. Papéis esperados
A mulher só é “plena” quando
se torna mãe
O homem comprova sua
virilidade e masculinidade
através da gravidez feminina
30. Muitas vezes, antes de procurarem a adoção, os
pretendentes submetemse à exames e
tratamentos médicos complexos.
Esses tratamentos além de caros, causam
grande desgaste emocional e físico quando não
são bem sucedidos.
O grande valor dado pela sociedade aos laços de
sangue e continuidade genética justificaria todo
o esforço e sacrifício.
Laços sanguíneos
31. A carga emocional dos
pretendentes é muito pesada
Medo da rejeição
Angústia
Medo da condição de saúde dos pais biológicos
Medo da falta de semelhança física
Insegurança Culpa
Tristeza
Medo da herança genética
Medo
32. Como melhorar a experiência
desse período de espera
dos pretendentes a pais?
34. Entrevista
Motivação para adoção
Relação com o processo de adoção
Relação com os profissionais da Vara da
Infância e Juventude
Relação com os Grupos de Apoio à Adoção
1.
2.
3.
4.
36. Análise dos dados
Categorias
DESEJO
Motivação para
adoção;
Perfil desejado
da criança.
EXPECTATIVA
Preparação
para a adoção;
Percepção do
processo e do
tempo de
espera;
Medos e
ansiedades.
FRUSTRAÇÃO
Dificuldades,
críticas e
frustrações em
relação ao
processo e aos
profissionais
envolvidos.
ESPERANÇA
Sugestões de
melhoria do
processo;
Relacionamento
com Grupos de
Apoio à Adoção.
37. Achados principais
“A gente sempre tinha essa opção. Por exemplo eu
acho muito mais estressante a questão de você
saber que não pode gerir e insistir e falhar todas as
vezes. [...] A adoção sempre esteve lá. Tanta criança
precisando. Sempre esteve na mesa. “
Motivação para adoção
A infertilidade foi o principal motivo
38. A ansiedade varia de acordo com o tempo de espera
Como é um processo que não acontece às vistas dos
pretendentes, ele gera ansiedade e todo tipo de fantasias.
“Eu não quero nem pensar nisso. Quando bateu um ano é
que deu uma certa agonia que a gente pegou pra ir
conversar de novo com eles. Pra ver como é que está!
Porque vai que eles esquecem da gente. Vai que
escorregou aquela folha que a gente passou, que caiu no
chão e ninguém atualizou cadastro nem nada. Com um ano
a gente ficou assim meio agoniado. [...] ”
Achados principais
Ansiedade
39. Os pretendentes dependem dos profissionais da vara
para qualquer tipo de alteração em seu cadastro.
“Consulta no perfil, mas como está demorando a gente
sempre vai lá, pede processo. A gente dá uma olhada.
Duas vezes já aconteceu. Como foi o endereço quando a
gente voltou e o outro foram os telefones que mudou o
celular e não foi alterado. ”
Achados principais
Dependência de terceiros
40. A participação em grupos de apoio melhora a
experiência da espera.
No entanto só a participação nesses grupos não é o suficiente
para eliminar a ansiedade e as inseguranças em relação ao
processo.
Achados principais
“Então o grupo te dá um senso de família, né? O grupo te
dá uma sensação de participar de alguma coisa, de uma
família mesmo, né? O grupo é apoio.”
Participação em grupos de apoio à adoção
41. Este é um momento delicado e ansiogênico para os
pretendentes e a experiência dos mesmos depende de
diversos fatores como:
A motivação para a Adoção;
O estado de espírito do pretendente neste momento;
O tempo de cadastramento no CNA;
A participação ou não em grupos de apoio à Adoção;
A relação com a equipe psicossocial ;
E a experiência com os próprios trâmites do processo.
43. Contato com o processo
Dar acesso de visibilidade ao seu cadastro no CNA, sem
necessitar da ajuda de terceiros pra isso. Ou ainda o sistema
poderia enviar de tempos em tempos um email com o perfil
dos pretendentes para que eles pudessem ver suas
informações e saber que seu cadastro está “vivo”no sistema.
44. Autonomia no CNA
Permitir que os pretendentes atualizem as suas informações
de contato sem a necessidade de terceiros.
Por que não dar os pretendentes a responsabilidade pela
manutenção dos seus dados de contato? É do interesse deles
que esses dados estejam atualizados.
45. Acompanhamento dos processos de adoção
Dar visibilidade das adoções que ocorrem na vara através de
informações periódicas.
Apresentar dados de três em três meses sobre as adoções
concretizadas, informando o perfil das crianças e dos pais.
Dessa forma seria possível ter uma noção do andamento da
“fila”.
46. A maioria das sugestões são muito simples e
contribuiriam e muito para a melhoria da
experiência dos pretendentes em período de
espera. Os dados já existem, só seria
necessária boa vontade para a
disponibilização dos mesmos.