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Motor de Combustão Interna – Ciclo Otto

       Neste item descrito será descrito o princípio de funcionamento de um motor de
combustão interna. Embora a maioria das turbinas a gás também opere por combustão
interna, este termo é normalmente aplicado a motores alternativos de combustão interna,
do tipo convencional, utilizados em carros, caminhões e ônibus [1].
       Os dois principais tipos de motores alternativos de combustão interna são os
motores de ignição à centelha – ciclo Otto – (“spark ignition”) e motores de ignição à
compressão – ciclo Diesel – (“compression ignition”). Neste item será ilustrado o motor
de combustão interna ciclo Otto.
       O motor ciclo Otto opera de maneira conhecido como quatro-tempos. Cada
cilindro necessita de quatro estágios de pistão – duas revoluções do girabrequim – para
completar a seqüência de eventos que produz um ciclo de potência. Cada estágio do
ciclo de quatro-tempos são descritos a seguir:


   Estágio de Admissão (“intake stroke”): Estágio iniciado quando o pistão está no
ponto morto superior e encerrado quando o curso do pistão está no ponto morto inferior.
Neste estágio, a depressão (“vácuo”) criada pelo pistão – ao descer até o ponto morto
inferior – dentro do cilindro é responsável pela admissão da mistura ar-combustível
fresca. A válvula de admissão se abre imediatamente antes deste estágio começar, e se
fecha logo após o fim deste estágio.
   Estágio de Compressão (“compression stroke”): Estágio na qual ambas as válvulas
estão fechadas e a mistura dentro do cilindro é comprimida a uma pequena fração de seu
volume inicial. Ocorre uma compressão isoentrópica e próximo ao fim deste estágio –
avanço de ignição – a combustão é iniciada e a pressão no cilindro aumenta
substancialmente e rapidamente.
   Estágio de Expansão (“power stroke” ou “expansion stroke”): Estágio que se inicia
com o pistão no ponto morto superior e termina no ponto morto inferior. No início deste
estágio, os gases a altas temperatura e pressão empurram o pistão para baixo e forçam a
rotação do virabrequim. Neste estágio, o trabalho realizado pelos gases de combustão
sobre o pistão é, aproximadamente, cinco vezes maior do que o trabalho realizado pelo
pistão sobre a mistura ar-combustível no estágio anterior. Conforme pistão se aproxima
do ponto morto inferior, a válvula de expansão se abre para iniciar o processo de
exaustão dos gases. Há uma queda de pressão no interior do cilindro, atingindo valores
próximos à pressão de exaustão.
    Estágio de Exaustão (“exhaust stroke”): estágio no qual o restante dos gases
queimados deixam o cilindro. Primeiro, porque a pressão no interior do cilindro pode
ser substancialmente maior do que a pressão de exaustão, e segundo porque os gases são
expulsos pelo pistão quando este sobe dentro do cilindro até o ponto morto superior. À
medida que o pistão se aproxima do ponto morto superior, a válvula de admissão se
abre, e, imediatamente após este ponto a válvula de exaustão se fecha e o ciclo se
reinicia.
        A figura abaixo é a representação de cada estágio do ciclo.




            Figura 1: Estágios de operação de um motor quatro-tempos – ciclo Otto



        A figura 2 representa o diagrama p x V de um ciclo Otto.




              Figura 2: Diagrama pressão-deslocamento para um ciclo alternativo
                              de um motor de combustão interna.
Combustão
       Como o próprio nome indica, a combustão é o fenômeno químico responsável
pela operação dos motores de combustão interna. A combustão é o processo de reações
químicas produzidas durante a oxidação completa ou parcial do carbono, do hidrogênio
e do enxofre contidos em um combustível. Esta reação química do oxigênio com
materiais combustíveis é um processo que apresenta luz e rápida produção de calor. A
diferença entre a reação química de oxidação clássica (ferrugem, zinabre, alumina, etc.)
e a de combustão é a velocidade com que esta última ocorre, independente da
quantidade de calor liberado.
       São características importantes da combustão, o estado, a composição e
temperatura do combustível, as pressões em que esta reação ocorre e o formato da
câmara de combustão. Listados a seguir, estão importantes conceitos e características da
combustão:


   Combustão Estequiométrica : É a reação de oxidação teórica que determina a
quantidade exata de moléculas de oxigênio necessárias para efetuar a completa oxidação
de um combustível.
    Combustão Completa: É a reação de combustão em que todos os elementos
oxidáveis constituintes do combustível se combinam com o oxigênio, particularmente o
carbono e o hidrogênio (H2), que se convertem integralmente em dióxido de
carbono(CO2) e água(H2O) independentemente da existência de excesso de
oxigênio(O2) para a reação.
     Combustão       Incompleta     ou    Parcial: Nesta reação aparecem produtos
intermediários da combustão, especialmente o monóxido de carbono(CO) e o
hidrogênio, resultado da oxidação incompleta dos elementos do combustível. Ela pode
ser induzida pela limitação na quantidade de oxigênio oferecido para a reação, pelo
resfriamento ou sopragem da chama, no caso de combustão atmosférica .
   Relação Ar/Combustível: É uma relação entre a quantidade de ar e a quantidade
de combustível utilizadas na reação de combustão. Para combustíveis sólidos e líquidos
a relação é entre as massas, para combustíveis gasosos a relação é calculada entre os
volumes envolvidos. Um índice muito utilizado em motores de combustão interna é λ,
que significa a razão entre as relações ar/combustível real e estequiométrica:
λ = (A/C)Real/(A/C)Esteq. . Neste caso, para combustões pobres (falta de combustível)
tem-se λ< 1, e para combustões ricas (excesso de combustível) λ> 1.
   Ar Teórico: As reações de combustão são normalmente realizadas com o oxigênio
contido no ar atmosférico. A composição do ar atmosférico é, aproximadamente, 21%
de oxigênio e 79% de nitrogênio (N2). O ar teórico é a quantidade de ar atmosférico que
fornece a quantidade exata de moléculas de oxigênio necessárias para efetuar a
combustão estequiométrica.

a. Combustão de Combustíveis Gasosos

       Em virtude do estado físico destes compostos, a combustão utilizando
combustíveis gasosos apresenta algumas diferenças em relação à combustão realizada a
partir dos combustíveis líquidos convencionais. Estes processos são utilizados nos
queimadores a jato e nos motores a jato ou a pistão, onde a combustão é realizada após
compressão do ar e injeção do gás a alta pressão (até 20 bar). O motor a explosão utiliza
uma mistura gás/ar e um sistema de ignição após a compressão da mistura.
       Vale ressaltar dois conceito importantes utilizados neste tipo de combustão:


  Limites de Inflamabilidade : Uma mistura de gás inflamável é aquela em que a
chama se propaga, sendo que a iniciação da chama é realizada por uma fonte externa.
Este conceito é equivalente ao índice λ, que se utiliza para combustíveis líquidos.
Valores muito altos ou muito baixos de λ, bem como do limite de inflamabilidade,
inviabilizam a combustão.
   Temperatura de ignição ou de inflamação: É a menor temperatura na qual o calor
é gerado pela combustão em velocidade superior ao calor dissipado para a vizinhança,
dando à mistura condições de se auto-propagar. Abaixo desta temperatura a combustão
da mistura ar gás só ocorrerá continuamente mediante o fornecimento ininterrupto de
calor externo. A temperatura de ignição não é uma propriedade fixa de um gás pois
varia de forma significativa com parâmetros como o excesso de ar, a taxa de diluição do
gás na mistura, a concentração de oxigênio no ar de combustão, a composição do gás
combustível, a velocidade da mistura ar gás, pressão da mistura, leis do escoamento dos
fluidos, fontes de ignição e gradientes de temperatura. Apesar desta variabilidade, a
temperatura de ignição é um importante parâmetro de medida da tendência de um objeto
quente provocar a ignição de uma mistura e portanto, base técnica para considerações de
segurança. A temperatura de ignição de muitas substâncias combustíveis se reduz com o
aumento da pressão, o que representa um importante fator para a operação dos motores
alternativos e turbinas a gás [7].
Combustões Anormais


       Após uma breve apresentação sobre a reação de combustão e suas
características, é importante citar e explicar os tipos de combustões indesejáveis ao
motor. Este item se fundamenta na tradução da referência [2].
       A combustão anormal revela-se de diversas maneiras. Dos vários processos
anormais de combustão que são importantes na prática, os dois fenômenos principais
são: a auto-ignição e a superfície de ignição. Estes fenômenos anormais de combustão
são preocupantes, pois: (1) quando severos, podem causar graves danos ao motor; e (2)
mesmo que não sejam severos, podem se tornar uma possível fonte de ruído do motor,
perceptível pelo motorista do veículo. A "batida de pino" (do inglês "knock") é o
nome dado ao ruído transmitido através da estrutura do motor quando uma ignição
espontânea ocorre a partir de uma porção do "end-gas" – região que contém gases
residuais e mistura ar-combustível, ainda não-queimada, à frente da frente de chama.
Quando este processo anormal de combustão acontece, ocorre um desprendimento
rápido de energia química no end-gas, causando altas pressões localizadas e a
propagação de ondas de pressão de amplitude substancial ao longo da câmara de
combustão. A ignição através de superficie de ignição ("surface ignition") é a ignição
da mistura ar-combustível causada por um ponto quente na parede da câmara de
combustão, por uma válvula de exaustão superaquecida, vela de ignição ou algum
resíduo incandescente incrustado; enfim, por qualquer meio que não a centelha da vela.
Pode ocorrer antes do momento em que a faísca é gerada (pré-ignição) ou depois (pós-
ignição). Após a ignição causada por uma superficie de ignição (ponto quente), uma
chama turbulenta se desenvolve a partir de cada ponto de ignição e se propaga ao longo
da câmara, de maneira análoga ao que ocorre na ignição por centelhamento.
       De todos os fenômenos causados por pontos quentes, a pré-ignição é
potencialmente o mais danoso. Qualquer processo que antecipe o início da combustão
do ponto (avanço de ignição) que produz torque máximo, causará maior rejeição de
calor, resultando em um aumento das pressões e das temperaturas da mistura queimada.
Maiores rejeições de calor aumentam ainda mais a temperatura dos componentes, os
quais, reciprocamente, podem cada vez mais adiantar o ponto de pré-ignição até a falha
dos componentes. As partes que podem causar pré-ignição são aquelas menos resfriadas
e onde partículas podem se incrustar e adicionar maior isolamento térmico: exemplos
mais comuns são as velas, válvulas de exaustão e irregularidades de superfície e formas
nos metais como arestas na tampa do cabeçote ou sulcos da cabeça do pistão.
       Sob condições normais, usando-se velas adequadas à temperatura, a pré-ignição
normalmente inicia-se na válvula de exaustão, coberta por depósitos vindos do
combustível ou do lubrificante, que penetra na câmara de combustão.Válvulas de
exaustão mais frias e menor consumo de óleo lubrificante geralmente aliviam este
problema. Características de desenho do motor que minimizam a probabilidade de uma
pré-ignição são: velas com faixa de temperatura adequada, remoção de irregularidades
superficiais, arredondamentos das arestas e válvulas de exaustão bem resfriadas, com
inserto de sódio como uma opção em casos mais críticos.
    Até agora não há uma explicação completa sobre o fenômeno de knock, que ocorre
em uma ampla variedade de condições de operação do motor. Geralmente, concorda-se
que o knock se origina da liberação extremamente rápida de energia contida no end gas,
à frente de uma propagação turbulenta de chama, resultando em altas pressões locais. A
natureza não uniforme desta distribuição de pressão causa ondas de presssão e ondas de
choque que se propagam ao longo da câmara de combustão. Essas ondas podem causar
a ressonância do cilindro, fazendo-o vibrar a uma freqüência igual à sua freqüência
natural. Duas teorias têm avançado para explicar a origem do knock: a teoria da auto-
ignição e a teoria da detonação.
    A primeira teoria explica que, quando a mistura ar-combustível contida na região
do end gas é comprimida a pressões e temperaturas suficientemente altas, o processo de
oxidação do combustível – iniciando com uma pré-chama química e terminando com
uma rápida liberação de energia – pode ocorrer espontaneamente em algumas partes ou
em toda região do end gas. A liberação espontânea de parte da energia química contida
no combustível do end-gas, resulta em flutuações do pico de pressão dos gases no
interior do cilindro. Isto produz um aumento local de temperatura e pressão do gás,
causando assim uma onda de choque que se propaga ao longo da câmara de combustão,
oriundas da região do end-gas. Esta onda de choque, a expansão da onda que se segue, e
a reflexão destas ondas nas paredes da câmara cria a pressão oscilatória. Verifica-se que
uma vez ocorrido o knock, a distribuição da pressão ao longo da câmara de combustão
deixa de ser uniforme.
       A segunda teoria postula que, sob condições de knock, o avanço da frente de
chama se acelera a velocidade sônica e consome o end gas a uma taxa muito mais
rápida que consumiria com a chama a uma velocidade normal. Nesta teoria (detonação),
a propagação de ondas de choque, que são ondas de velocidade sônica, causam picos de
pressão localizada. Esse pico de pressão induz a ignição da mistura e,
conseqüentemente, há uma rápida liberação de energia química e um aumento ainda
maior do pico de pressão local, que já assumira valores altíssimos. A propagação destas
ondas de altíssima pressão ocorre então a velocidade supersônica, dissipando energia
em forma de ruído, conhecido por “batida de pino” (knock).
       Estas teorias tentam descrever o que causa a rápida liberação de energia química
no end-gas, criando, localmente, altas pressões nesta região.O fenômeno de knock no
motor inclui também a propagação de fortes ondas de pressão pela câmara, ressonância
na câmara e transmissão de som através do bloco do motor. A teoria da detonação tem
levado muitas pessoas a chamar knock de detonação, entretanto o knock é fenômeno no
motor mais amplo do que apenas o desprendimento de energia no end-gas. Há muito
menos evidências para se adotar a teoria da detonação, como um processo inicial de
knock, do que para se aceitar teoria da auto-ignição. Evidências mais recentes indicam
que o knock se origina com a auto-ignição ou ignição espontânea de um ou mais locais
dentro da região do end-gas. Outras regiões (algumas adjacentes às regiões já
queimadas bem como as regiões separadas, ou seja, opostas) então, são ignitadas até que
toda mistura contida no end-gas seja completamente consumida. Esta seqüência de
processos ocorre de maneira extremamente rápida. Sendo assim, a teoria da auto-
ignição é mais completamente aceita.
       A auto-ignição ocorre principalmente sob condições de abertura máxima da
borboleta, sendo por isso, uma restrição direta à performance dos motores. Também
restringe a eficiência dos motores, visto que limita a temperatura e pressão do end-gas,
restringindo assim o valor da taxa de compressão do motor. A ocorrência e a severidade
do knock depende da capacidade anti-detonante do combustível e das características
anti-detonantes do motor. O número de octanagem requerido por um motor depende de
como o desenho e as condições sob as quais ele opera, afetam a temperatura e a pressão
do end-gas à frente da chama, e do tempo necessário para queimar a massa da mistura
no cilindro. A tendência de um motor à auto-ignição, definido por octanagem requerida,
é aumentada por fatores que produzem temperaturas e pressões mais altas ou estendem
o tempo de queima da mistura. Assim, a auto-ignição é uma restrição que depende tanto
da qualidade do combustível como da habilidade do projetista em atingir o
comportamento normal de combustão, simultaneamente mantendo a propensão do
motor a suportar knock mínimo.
A variação de pressão durante uma combustão com knock indica com maior
precisão o que realmente ocorre. A figura 6.2 mostra a variação de pressão do cilindro
em três ciclos individuais do motor, para uma combustão normal, knock leve e knock
grave, respectivamente. Quando a auto-ignição acontece, flutuações de pressão em altas
freqüências são observadas e a amplitude decai ao longo do tempo. As figuras 6.2 (a) e
(b) têm as mesmas condições de operação e avanço da ignição. Aproximadamente um
terço dos ciclos desse motor, nestas condições, não apresentam traços de knock,
possuindo uma variação normal e suave da pressão no interior do cilindro, como
mostrado na fig. 6.2(a). Knock de diferentes intensidades ocorreram nos ciclos
remanescentes. Com knock leve, mas perceptível, a auto-ignição ocorre tardiamente no
processo de queima, e a amplitude de flutuação da pressão é pequena, figura 6.2(b).
Com knock grave, devido a alto avanço de ignição, e selecionando-se especialmente um
ciclo de alta intensidade de knock, a auto-ignição ocorre antecipadamente, mais próxima
ao ponto morto superior, tornando a flutuação inicial da amplitude da pressão muito
maior. Estas flutuações de pressão produzem a “batida-de-pino” (um agudo som
metálico).




 Figura 6.1: Pressão no cilindro pelo ângulo do virabrequim. (a) Combustão normal, (b) Knock de
intensidade suave e (c) Knock severo. Motor de um cilindro com 381 cm3 de cilindrada, operando a
                       4000RPM e borboleta completamente aberta (WOT).


       A amplitude da flutuação da pressão é uma medida útil da intensidade do knock,
porque ela depende da quantidade de end-gas que entra em combustão espontânea e
rápida, e também, porque danos ao motor devido a knock ocorreram em virtude de altas
pressões (e temperaturas) do gás na região de end-gas.
O impacto do knock depende de sua intensidade e duração. Knock leve não
apresenta efeitos significativos na performance ou durabilidade do motor. Knock severo
causa danos graves ao motor. Em aplicações automobilísticas, uma distinção
normalmente é feita entre “knock de aceleração” e “knock de velocidade constante”.
Knock de aceleração é primordialmente um incômodo e devido à sua curta duração
provoca poucos danos ao motor. Knock de velocidade constante, entretanto, pode
acarretar em dois tipos de dano ao motor. Ele é problemático especialmente em motores
de alta rotação, onde é mascarado por outros tipos de ruído do motor e não pode ser
facilmente detectado.
7. Importantes características de um motor

       Neste item são descritos alguns parâmetros comumente usados para caracterizar
as condições de operação de um motor e uma relação geométrica básica, a taxa de
compressão. Os fatores importantes utilizados em uma análise de desempenho de um
motor são:
   A potência máxima (ou torque máximo) disponível em cada rotação dentro de uma
faixa de operação útil.
   A faixa de rotação e potência, sob a qual a operação do motor é satisfatória.


       A seguir estão apresentadas os parâmetros que caracterizam um motor:


7.1.   Torque


       O torque de um motor é normalmente medido por um dinamômetro. O motor é
fixado em uma bancada de testes e o eixo é conectado ao rotor do dinamômetro. O rotor
é acoplado eletromagneticamente, hidraulicamente ou por atrito mecânico ao estator,
que é apoiado por um mancal de baixo atrito [2].




                  Figura 7.1: Esquema do princípio de operação de um dinamômetro.


       Utilizando a notação da figura 7.1, o torque exercido pelo motor no
dinamômetro é T = Fxb. Podemos verificar que o torque é a medida da capacidade de
um motor em realizar trabalho. O resultado do torque no motor significa retomada de
velocidade, ou aceleração [2].
7.2.   Potência


       A potência é uma grandeza em função do tempo. A potência entregue pelo motor
e absorvida pelo dinamômetro é o produto do torque pela velocidade angular.


                                            P = 2 ⋅π ⋅ N ⋅ T ,


onde N é a rotação do virabrequim. No sistema internacional de unidades:


                        P ( kW ) = 2 ⋅ π ⋅ N ( rev / s ) ⋅ T ( N ⋅ m) ⋅ 10 −3


       Nota-se que a potência é a taxa pela qual o trabalho é feito. O valor da potência
do motor, como descrita neste item, é chamada de potência de freio (“break power”).
Esta é a potência útil transmitida pelo motor à célula de carga do dinamômetro. A
potência de freio, é a potência necessária dissipada pelo dinamômetro para manter o
motor sob uma determinada rotação e carga [2].


7.3.   Pressão Média Efetiva


       Embora o torque seja uma grandeza indicadora da capacidade de um motor em
particular realizar trabalho, seu valor depende do tamanho do motor. Uma medida mais
útil de desempenho do motor é obtida pelo quociente entre o trabalho por ciclo e o
deslocamento volumétrico do cilindro por ciclo. Portanto, o parâmetro obtido tem a
unidade de força por área e é chamada de pressão média efetiva (mep – “mean effective
pressure”) [1].
       Da equação do trababalho:


                                                           P ⋅ nR
                         Trabalho _ por _ ciclo =                 (Equação 7.3.I)
                                                             N


Onde: 1) nR é o número de revolução do virabrequim por tempo do cilindro do motor
(dois para motores quatro-tempos e um para motores dois-tempos).
2) N é a rotação do motor.
3) P é a potência do motor.
P ⋅ nR
       Então: mep =          (Equação 7.3.II)
                      Vd ⋅ N


       Para um motor de ignição à centelha e unidade no SI:


                                P(kW ) ⋅ n R x10 3
                mep(kPa) =                               (Equação 7.3.III)
                           Vd (dm 3 ) ⋅ N (rotação / s )


       A pressão média efetiva também pode ser expressa em função do torque através
da equação:
                                6,28 ⋅ n R ⋅ T ( N ⋅ m)
                   mep(kPa) =                           (Equação 7.3.IV)
                                     Vd (dm 3 )


       Valores típicos de bmep (“maximum breake mean effective pressure” – relativo
ao “breake torque” medido pelo dinamômetro) são mencionados a seguir. Para motores
de ignição à centelha naturalmente aspirados, os valores máximos estão na faixa de 850
a 1050 kPa, na rotação do motor em que o torque máximo é obtido (em torno de 3000
RPM). Já para a potência máxima medida, os valores de bmep são de 10% a 15% mais
baixos. Para automóveis turbocarregados (“turbocharged”), também com motores por
ignição à centelha, o máximo bmep estão em torno de 1250 a 1700 kPa. Por outro lado,
os valores de bmep para a potência máxima obtida é de 900 a 1400 kPa. Para os motores
quatro-tempos diesel, aspirados, o máximo bmep varia de 700 a 900 kPa, e de 700 kPa
para potência máxima. Já nos motores quatro-tempos diesel, turbocarregados, os valores
máximos de bmep estão tipicamente na faixa de 1000 a 1200 kPa [2].


7.4.   Consumo Específico e Eficiência de Conversão de Combustível


       Em motores de teste, o consumo de combustível é medido através da taxa de
fluxo – vazão mássica por unidade de tempo: m f . Neste caso, o parâmetro de maior
                                            &

utilidade é o consumo específico de combustível (“specific fuel consumption” – sfc) – a
taxa do fluxo de combustível por potência de saída do motor. Este parâmetro mede quão
eficientemente um motor está utilizando o combustível fornecido para produzir trabalho
[2].
                                           mf
                                           &
                                   sfc =        , (Equação 7.4.I)
                                           P


                                    m f ( g / s)
                                    &                                       m f ( g / h)
                                                                            &
cuja unidade é: sfc(mg / J ) =                     ou sfc ( g / kW ⋅ h) =
                                     P(kW )                                  P(kW )


       Evidentemente, baixos valores de sfc são desejáveis. Para motores de ignição
por centelha, os melhores valores de consumo específico de combustível – sfc para
“break power” estão em torno de 75µg/J = 270g/kWh. Para motores de ignição por
compressão (Diesel), estes valores (os melhores) são menores e em grandes motores
pode ficar abaixo de 55µg/J = 200g/kWh [2].
       O consumo específico de combustível é um parâmetro, cuja unidade relaciona a
saída do motor –output – desejada (trabalho por ciclo ou potência) com a entrada –
input – necessária (fluxo de combustível) para obtenção do devido output. Esta relação
apresenta valores mais consistentes para efeito de análise. A razão entre trabalho
produzido por ciclo e a quantidade de energia do combustível fornecida por ciclo, que
pode ser liberada pelo processo de combustão, também é comumente usada com o
propósito de análise. O valor energético liberado por este combustível é dado pelo
produto da massa de combustível fornecida ao motor por ciclo e pelo valor do poder
calorífico do respectivo combustível. O poder calorífico de um combustível, QHV,
define seu conteúdo energético [2].
       Esta medida de “eficiência” de um motor, que pode ser chamada de eficiência de
conversão de combustível, é dada por:


                                           P ⋅ nR
                       Wciclo                 N         P
               ηf =                =              =                    , (Equação 7.4.II)
                      m f ⋅ Q HV      m f ⋅ nR 
                                       &            m f ⋅ Q HV
                                                    &
                                     
                                      N  ⋅ Q HV
                                                
                                               


onde mf é a massa de combustível injetada por ciclo.
       Substituindo P / m f da equação 7.4.II pela equação 7.4.I, temos:
                        &
1
                                 ηf =              (Equação 7.4.III)
                                        sfc ⋅ Q HV


        Assim, o consumo específico de combustível é inversamente proporcional à
eficiência de conversão de combustível para os combustíveis hidrocarbonetos normais.
Valores típicos de poder calorífico de combustíveis hidrocarbonetos comerciais estão na
faixa de 42 a 44 MJ/kg [2].


7.5.    Taxa de Compressão


        A taxa de compressão é um parâmetro que define a geometria básica de motores
alternativos, sendo obtida através de uma razão entre volumes. A taxa de compressão é
calculada pelo quociente entre o volume máximo do cilindro – volume do cilindro
quando o pistão ocupa a posição de ponto morto inferior – e o volume mínimo do
cilindro, também chamado de volume morto, ou seja, volume do cilindro quando o
pistão está no ponto morto superior.
        Seguindo a definição, temos:


                              volume _ máximo _ do _ cilindro VC + VM
                       rC =                                   =       ,
                              volume _ mínimo _ do _ cilindro   VM


onde:
VM é o volume morto do cilindro;
VC é o volume correspondente ao curso percorrido pelo pistão.

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Motor de Combustão Interna - Ciclo Otto

  • 1. Motor de Combustão Interna – Ciclo Otto Neste item descrito será descrito o princípio de funcionamento de um motor de combustão interna. Embora a maioria das turbinas a gás também opere por combustão interna, este termo é normalmente aplicado a motores alternativos de combustão interna, do tipo convencional, utilizados em carros, caminhões e ônibus [1]. Os dois principais tipos de motores alternativos de combustão interna são os motores de ignição à centelha – ciclo Otto – (“spark ignition”) e motores de ignição à compressão – ciclo Diesel – (“compression ignition”). Neste item será ilustrado o motor de combustão interna ciclo Otto. O motor ciclo Otto opera de maneira conhecido como quatro-tempos. Cada cilindro necessita de quatro estágios de pistão – duas revoluções do girabrequim – para completar a seqüência de eventos que produz um ciclo de potência. Cada estágio do ciclo de quatro-tempos são descritos a seguir: Estágio de Admissão (“intake stroke”): Estágio iniciado quando o pistão está no ponto morto superior e encerrado quando o curso do pistão está no ponto morto inferior. Neste estágio, a depressão (“vácuo”) criada pelo pistão – ao descer até o ponto morto inferior – dentro do cilindro é responsável pela admissão da mistura ar-combustível fresca. A válvula de admissão se abre imediatamente antes deste estágio começar, e se fecha logo após o fim deste estágio. Estágio de Compressão (“compression stroke”): Estágio na qual ambas as válvulas estão fechadas e a mistura dentro do cilindro é comprimida a uma pequena fração de seu volume inicial. Ocorre uma compressão isoentrópica e próximo ao fim deste estágio – avanço de ignição – a combustão é iniciada e a pressão no cilindro aumenta substancialmente e rapidamente. Estágio de Expansão (“power stroke” ou “expansion stroke”): Estágio que se inicia com o pistão no ponto morto superior e termina no ponto morto inferior. No início deste estágio, os gases a altas temperatura e pressão empurram o pistão para baixo e forçam a rotação do virabrequim. Neste estágio, o trabalho realizado pelos gases de combustão sobre o pistão é, aproximadamente, cinco vezes maior do que o trabalho realizado pelo pistão sobre a mistura ar-combustível no estágio anterior. Conforme pistão se aproxima do ponto morto inferior, a válvula de expansão se abre para iniciar o processo de
  • 2. exaustão dos gases. Há uma queda de pressão no interior do cilindro, atingindo valores próximos à pressão de exaustão. Estágio de Exaustão (“exhaust stroke”): estágio no qual o restante dos gases queimados deixam o cilindro. Primeiro, porque a pressão no interior do cilindro pode ser substancialmente maior do que a pressão de exaustão, e segundo porque os gases são expulsos pelo pistão quando este sobe dentro do cilindro até o ponto morto superior. À medida que o pistão se aproxima do ponto morto superior, a válvula de admissão se abre, e, imediatamente após este ponto a válvula de exaustão se fecha e o ciclo se reinicia. A figura abaixo é a representação de cada estágio do ciclo. Figura 1: Estágios de operação de um motor quatro-tempos – ciclo Otto A figura 2 representa o diagrama p x V de um ciclo Otto. Figura 2: Diagrama pressão-deslocamento para um ciclo alternativo de um motor de combustão interna.
  • 3. Combustão Como o próprio nome indica, a combustão é o fenômeno químico responsável pela operação dos motores de combustão interna. A combustão é o processo de reações químicas produzidas durante a oxidação completa ou parcial do carbono, do hidrogênio e do enxofre contidos em um combustível. Esta reação química do oxigênio com materiais combustíveis é um processo que apresenta luz e rápida produção de calor. A diferença entre a reação química de oxidação clássica (ferrugem, zinabre, alumina, etc.) e a de combustão é a velocidade com que esta última ocorre, independente da quantidade de calor liberado. São características importantes da combustão, o estado, a composição e temperatura do combustível, as pressões em que esta reação ocorre e o formato da câmara de combustão. Listados a seguir, estão importantes conceitos e características da combustão: Combustão Estequiométrica : É a reação de oxidação teórica que determina a quantidade exata de moléculas de oxigênio necessárias para efetuar a completa oxidação de um combustível. Combustão Completa: É a reação de combustão em que todos os elementos oxidáveis constituintes do combustível se combinam com o oxigênio, particularmente o carbono e o hidrogênio (H2), que se convertem integralmente em dióxido de carbono(CO2) e água(H2O) independentemente da existência de excesso de oxigênio(O2) para a reação. Combustão Incompleta ou Parcial: Nesta reação aparecem produtos intermediários da combustão, especialmente o monóxido de carbono(CO) e o hidrogênio, resultado da oxidação incompleta dos elementos do combustível. Ela pode ser induzida pela limitação na quantidade de oxigênio oferecido para a reação, pelo resfriamento ou sopragem da chama, no caso de combustão atmosférica . Relação Ar/Combustível: É uma relação entre a quantidade de ar e a quantidade de combustível utilizadas na reação de combustão. Para combustíveis sólidos e líquidos a relação é entre as massas, para combustíveis gasosos a relação é calculada entre os volumes envolvidos. Um índice muito utilizado em motores de combustão interna é λ, que significa a razão entre as relações ar/combustível real e estequiométrica:
  • 4. λ = (A/C)Real/(A/C)Esteq. . Neste caso, para combustões pobres (falta de combustível) tem-se λ< 1, e para combustões ricas (excesso de combustível) λ> 1. Ar Teórico: As reações de combustão são normalmente realizadas com o oxigênio contido no ar atmosférico. A composição do ar atmosférico é, aproximadamente, 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio (N2). O ar teórico é a quantidade de ar atmosférico que fornece a quantidade exata de moléculas de oxigênio necessárias para efetuar a combustão estequiométrica. a. Combustão de Combustíveis Gasosos Em virtude do estado físico destes compostos, a combustão utilizando combustíveis gasosos apresenta algumas diferenças em relação à combustão realizada a partir dos combustíveis líquidos convencionais. Estes processos são utilizados nos queimadores a jato e nos motores a jato ou a pistão, onde a combustão é realizada após compressão do ar e injeção do gás a alta pressão (até 20 bar). O motor a explosão utiliza uma mistura gás/ar e um sistema de ignição após a compressão da mistura. Vale ressaltar dois conceito importantes utilizados neste tipo de combustão: Limites de Inflamabilidade : Uma mistura de gás inflamável é aquela em que a chama se propaga, sendo que a iniciação da chama é realizada por uma fonte externa. Este conceito é equivalente ao índice λ, que se utiliza para combustíveis líquidos. Valores muito altos ou muito baixos de λ, bem como do limite de inflamabilidade, inviabilizam a combustão. Temperatura de ignição ou de inflamação: É a menor temperatura na qual o calor é gerado pela combustão em velocidade superior ao calor dissipado para a vizinhança, dando à mistura condições de se auto-propagar. Abaixo desta temperatura a combustão da mistura ar gás só ocorrerá continuamente mediante o fornecimento ininterrupto de calor externo. A temperatura de ignição não é uma propriedade fixa de um gás pois varia de forma significativa com parâmetros como o excesso de ar, a taxa de diluição do gás na mistura, a concentração de oxigênio no ar de combustão, a composição do gás combustível, a velocidade da mistura ar gás, pressão da mistura, leis do escoamento dos fluidos, fontes de ignição e gradientes de temperatura. Apesar desta variabilidade, a temperatura de ignição é um importante parâmetro de medida da tendência de um objeto quente provocar a ignição de uma mistura e portanto, base técnica para considerações de
  • 5. segurança. A temperatura de ignição de muitas substâncias combustíveis se reduz com o aumento da pressão, o que representa um importante fator para a operação dos motores alternativos e turbinas a gás [7].
  • 6. Combustões Anormais Após uma breve apresentação sobre a reação de combustão e suas características, é importante citar e explicar os tipos de combustões indesejáveis ao motor. Este item se fundamenta na tradução da referência [2]. A combustão anormal revela-se de diversas maneiras. Dos vários processos anormais de combustão que são importantes na prática, os dois fenômenos principais são: a auto-ignição e a superfície de ignição. Estes fenômenos anormais de combustão são preocupantes, pois: (1) quando severos, podem causar graves danos ao motor; e (2) mesmo que não sejam severos, podem se tornar uma possível fonte de ruído do motor, perceptível pelo motorista do veículo. A "batida de pino" (do inglês "knock") é o nome dado ao ruído transmitido através da estrutura do motor quando uma ignição espontânea ocorre a partir de uma porção do "end-gas" – região que contém gases residuais e mistura ar-combustível, ainda não-queimada, à frente da frente de chama. Quando este processo anormal de combustão acontece, ocorre um desprendimento rápido de energia química no end-gas, causando altas pressões localizadas e a propagação de ondas de pressão de amplitude substancial ao longo da câmara de combustão. A ignição através de superficie de ignição ("surface ignition") é a ignição da mistura ar-combustível causada por um ponto quente na parede da câmara de combustão, por uma válvula de exaustão superaquecida, vela de ignição ou algum resíduo incandescente incrustado; enfim, por qualquer meio que não a centelha da vela. Pode ocorrer antes do momento em que a faísca é gerada (pré-ignição) ou depois (pós- ignição). Após a ignição causada por uma superficie de ignição (ponto quente), uma chama turbulenta se desenvolve a partir de cada ponto de ignição e se propaga ao longo da câmara, de maneira análoga ao que ocorre na ignição por centelhamento. De todos os fenômenos causados por pontos quentes, a pré-ignição é potencialmente o mais danoso. Qualquer processo que antecipe o início da combustão do ponto (avanço de ignição) que produz torque máximo, causará maior rejeição de calor, resultando em um aumento das pressões e das temperaturas da mistura queimada. Maiores rejeições de calor aumentam ainda mais a temperatura dos componentes, os quais, reciprocamente, podem cada vez mais adiantar o ponto de pré-ignição até a falha dos componentes. As partes que podem causar pré-ignição são aquelas menos resfriadas e onde partículas podem se incrustar e adicionar maior isolamento térmico: exemplos
  • 7. mais comuns são as velas, válvulas de exaustão e irregularidades de superfície e formas nos metais como arestas na tampa do cabeçote ou sulcos da cabeça do pistão. Sob condições normais, usando-se velas adequadas à temperatura, a pré-ignição normalmente inicia-se na válvula de exaustão, coberta por depósitos vindos do combustível ou do lubrificante, que penetra na câmara de combustão.Válvulas de exaustão mais frias e menor consumo de óleo lubrificante geralmente aliviam este problema. Características de desenho do motor que minimizam a probabilidade de uma pré-ignição são: velas com faixa de temperatura adequada, remoção de irregularidades superficiais, arredondamentos das arestas e válvulas de exaustão bem resfriadas, com inserto de sódio como uma opção em casos mais críticos. Até agora não há uma explicação completa sobre o fenômeno de knock, que ocorre em uma ampla variedade de condições de operação do motor. Geralmente, concorda-se que o knock se origina da liberação extremamente rápida de energia contida no end gas, à frente de uma propagação turbulenta de chama, resultando em altas pressões locais. A natureza não uniforme desta distribuição de pressão causa ondas de presssão e ondas de choque que se propagam ao longo da câmara de combustão. Essas ondas podem causar a ressonância do cilindro, fazendo-o vibrar a uma freqüência igual à sua freqüência natural. Duas teorias têm avançado para explicar a origem do knock: a teoria da auto- ignição e a teoria da detonação. A primeira teoria explica que, quando a mistura ar-combustível contida na região do end gas é comprimida a pressões e temperaturas suficientemente altas, o processo de oxidação do combustível – iniciando com uma pré-chama química e terminando com uma rápida liberação de energia – pode ocorrer espontaneamente em algumas partes ou em toda região do end gas. A liberação espontânea de parte da energia química contida no combustível do end-gas, resulta em flutuações do pico de pressão dos gases no interior do cilindro. Isto produz um aumento local de temperatura e pressão do gás, causando assim uma onda de choque que se propaga ao longo da câmara de combustão, oriundas da região do end-gas. Esta onda de choque, a expansão da onda que se segue, e a reflexão destas ondas nas paredes da câmara cria a pressão oscilatória. Verifica-se que uma vez ocorrido o knock, a distribuição da pressão ao longo da câmara de combustão deixa de ser uniforme. A segunda teoria postula que, sob condições de knock, o avanço da frente de chama se acelera a velocidade sônica e consome o end gas a uma taxa muito mais rápida que consumiria com a chama a uma velocidade normal. Nesta teoria (detonação),
  • 8. a propagação de ondas de choque, que são ondas de velocidade sônica, causam picos de pressão localizada. Esse pico de pressão induz a ignição da mistura e, conseqüentemente, há uma rápida liberação de energia química e um aumento ainda maior do pico de pressão local, que já assumira valores altíssimos. A propagação destas ondas de altíssima pressão ocorre então a velocidade supersônica, dissipando energia em forma de ruído, conhecido por “batida de pino” (knock). Estas teorias tentam descrever o que causa a rápida liberação de energia química no end-gas, criando, localmente, altas pressões nesta região.O fenômeno de knock no motor inclui também a propagação de fortes ondas de pressão pela câmara, ressonância na câmara e transmissão de som através do bloco do motor. A teoria da detonação tem levado muitas pessoas a chamar knock de detonação, entretanto o knock é fenômeno no motor mais amplo do que apenas o desprendimento de energia no end-gas. Há muito menos evidências para se adotar a teoria da detonação, como um processo inicial de knock, do que para se aceitar teoria da auto-ignição. Evidências mais recentes indicam que o knock se origina com a auto-ignição ou ignição espontânea de um ou mais locais dentro da região do end-gas. Outras regiões (algumas adjacentes às regiões já queimadas bem como as regiões separadas, ou seja, opostas) então, são ignitadas até que toda mistura contida no end-gas seja completamente consumida. Esta seqüência de processos ocorre de maneira extremamente rápida. Sendo assim, a teoria da auto- ignição é mais completamente aceita. A auto-ignição ocorre principalmente sob condições de abertura máxima da borboleta, sendo por isso, uma restrição direta à performance dos motores. Também restringe a eficiência dos motores, visto que limita a temperatura e pressão do end-gas, restringindo assim o valor da taxa de compressão do motor. A ocorrência e a severidade do knock depende da capacidade anti-detonante do combustível e das características anti-detonantes do motor. O número de octanagem requerido por um motor depende de como o desenho e as condições sob as quais ele opera, afetam a temperatura e a pressão do end-gas à frente da chama, e do tempo necessário para queimar a massa da mistura no cilindro. A tendência de um motor à auto-ignição, definido por octanagem requerida, é aumentada por fatores que produzem temperaturas e pressões mais altas ou estendem o tempo de queima da mistura. Assim, a auto-ignição é uma restrição que depende tanto da qualidade do combustível como da habilidade do projetista em atingir o comportamento normal de combustão, simultaneamente mantendo a propensão do motor a suportar knock mínimo.
  • 9. A variação de pressão durante uma combustão com knock indica com maior precisão o que realmente ocorre. A figura 6.2 mostra a variação de pressão do cilindro em três ciclos individuais do motor, para uma combustão normal, knock leve e knock grave, respectivamente. Quando a auto-ignição acontece, flutuações de pressão em altas freqüências são observadas e a amplitude decai ao longo do tempo. As figuras 6.2 (a) e (b) têm as mesmas condições de operação e avanço da ignição. Aproximadamente um terço dos ciclos desse motor, nestas condições, não apresentam traços de knock, possuindo uma variação normal e suave da pressão no interior do cilindro, como mostrado na fig. 6.2(a). Knock de diferentes intensidades ocorreram nos ciclos remanescentes. Com knock leve, mas perceptível, a auto-ignição ocorre tardiamente no processo de queima, e a amplitude de flutuação da pressão é pequena, figura 6.2(b). Com knock grave, devido a alto avanço de ignição, e selecionando-se especialmente um ciclo de alta intensidade de knock, a auto-ignição ocorre antecipadamente, mais próxima ao ponto morto superior, tornando a flutuação inicial da amplitude da pressão muito maior. Estas flutuações de pressão produzem a “batida-de-pino” (um agudo som metálico). Figura 6.1: Pressão no cilindro pelo ângulo do virabrequim. (a) Combustão normal, (b) Knock de intensidade suave e (c) Knock severo. Motor de um cilindro com 381 cm3 de cilindrada, operando a 4000RPM e borboleta completamente aberta (WOT). A amplitude da flutuação da pressão é uma medida útil da intensidade do knock, porque ela depende da quantidade de end-gas que entra em combustão espontânea e rápida, e também, porque danos ao motor devido a knock ocorreram em virtude de altas pressões (e temperaturas) do gás na região de end-gas.
  • 10. O impacto do knock depende de sua intensidade e duração. Knock leve não apresenta efeitos significativos na performance ou durabilidade do motor. Knock severo causa danos graves ao motor. Em aplicações automobilísticas, uma distinção normalmente é feita entre “knock de aceleração” e “knock de velocidade constante”. Knock de aceleração é primordialmente um incômodo e devido à sua curta duração provoca poucos danos ao motor. Knock de velocidade constante, entretanto, pode acarretar em dois tipos de dano ao motor. Ele é problemático especialmente em motores de alta rotação, onde é mascarado por outros tipos de ruído do motor e não pode ser facilmente detectado.
  • 11. 7. Importantes características de um motor Neste item são descritos alguns parâmetros comumente usados para caracterizar as condições de operação de um motor e uma relação geométrica básica, a taxa de compressão. Os fatores importantes utilizados em uma análise de desempenho de um motor são: A potência máxima (ou torque máximo) disponível em cada rotação dentro de uma faixa de operação útil. A faixa de rotação e potência, sob a qual a operação do motor é satisfatória. A seguir estão apresentadas os parâmetros que caracterizam um motor: 7.1. Torque O torque de um motor é normalmente medido por um dinamômetro. O motor é fixado em uma bancada de testes e o eixo é conectado ao rotor do dinamômetro. O rotor é acoplado eletromagneticamente, hidraulicamente ou por atrito mecânico ao estator, que é apoiado por um mancal de baixo atrito [2]. Figura 7.1: Esquema do princípio de operação de um dinamômetro. Utilizando a notação da figura 7.1, o torque exercido pelo motor no dinamômetro é T = Fxb. Podemos verificar que o torque é a medida da capacidade de um motor em realizar trabalho. O resultado do torque no motor significa retomada de velocidade, ou aceleração [2].
  • 12. 7.2. Potência A potência é uma grandeza em função do tempo. A potência entregue pelo motor e absorvida pelo dinamômetro é o produto do torque pela velocidade angular. P = 2 ⋅π ⋅ N ⋅ T , onde N é a rotação do virabrequim. No sistema internacional de unidades: P ( kW ) = 2 ⋅ π ⋅ N ( rev / s ) ⋅ T ( N ⋅ m) ⋅ 10 −3 Nota-se que a potência é a taxa pela qual o trabalho é feito. O valor da potência do motor, como descrita neste item, é chamada de potência de freio (“break power”). Esta é a potência útil transmitida pelo motor à célula de carga do dinamômetro. A potência de freio, é a potência necessária dissipada pelo dinamômetro para manter o motor sob uma determinada rotação e carga [2]. 7.3. Pressão Média Efetiva Embora o torque seja uma grandeza indicadora da capacidade de um motor em particular realizar trabalho, seu valor depende do tamanho do motor. Uma medida mais útil de desempenho do motor é obtida pelo quociente entre o trabalho por ciclo e o deslocamento volumétrico do cilindro por ciclo. Portanto, o parâmetro obtido tem a unidade de força por área e é chamada de pressão média efetiva (mep – “mean effective pressure”) [1]. Da equação do trababalho: P ⋅ nR Trabalho _ por _ ciclo = (Equação 7.3.I) N Onde: 1) nR é o número de revolução do virabrequim por tempo do cilindro do motor (dois para motores quatro-tempos e um para motores dois-tempos). 2) N é a rotação do motor. 3) P é a potência do motor.
  • 13. P ⋅ nR Então: mep = (Equação 7.3.II) Vd ⋅ N Para um motor de ignição à centelha e unidade no SI: P(kW ) ⋅ n R x10 3 mep(kPa) = (Equação 7.3.III) Vd (dm 3 ) ⋅ N (rotação / s ) A pressão média efetiva também pode ser expressa em função do torque através da equação: 6,28 ⋅ n R ⋅ T ( N ⋅ m) mep(kPa) = (Equação 7.3.IV) Vd (dm 3 ) Valores típicos de bmep (“maximum breake mean effective pressure” – relativo ao “breake torque” medido pelo dinamômetro) são mencionados a seguir. Para motores de ignição à centelha naturalmente aspirados, os valores máximos estão na faixa de 850 a 1050 kPa, na rotação do motor em que o torque máximo é obtido (em torno de 3000 RPM). Já para a potência máxima medida, os valores de bmep são de 10% a 15% mais baixos. Para automóveis turbocarregados (“turbocharged”), também com motores por ignição à centelha, o máximo bmep estão em torno de 1250 a 1700 kPa. Por outro lado, os valores de bmep para a potência máxima obtida é de 900 a 1400 kPa. Para os motores quatro-tempos diesel, aspirados, o máximo bmep varia de 700 a 900 kPa, e de 700 kPa para potência máxima. Já nos motores quatro-tempos diesel, turbocarregados, os valores máximos de bmep estão tipicamente na faixa de 1000 a 1200 kPa [2]. 7.4. Consumo Específico e Eficiência de Conversão de Combustível Em motores de teste, o consumo de combustível é medido através da taxa de fluxo – vazão mássica por unidade de tempo: m f . Neste caso, o parâmetro de maior & utilidade é o consumo específico de combustível (“specific fuel consumption” – sfc) – a taxa do fluxo de combustível por potência de saída do motor. Este parâmetro mede quão
  • 14. eficientemente um motor está utilizando o combustível fornecido para produzir trabalho [2]. mf & sfc = , (Equação 7.4.I) P m f ( g / s) & m f ( g / h) & cuja unidade é: sfc(mg / J ) = ou sfc ( g / kW ⋅ h) = P(kW ) P(kW ) Evidentemente, baixos valores de sfc são desejáveis. Para motores de ignição por centelha, os melhores valores de consumo específico de combustível – sfc para “break power” estão em torno de 75µg/J = 270g/kWh. Para motores de ignição por compressão (Diesel), estes valores (os melhores) são menores e em grandes motores pode ficar abaixo de 55µg/J = 200g/kWh [2]. O consumo específico de combustível é um parâmetro, cuja unidade relaciona a saída do motor –output – desejada (trabalho por ciclo ou potência) com a entrada – input – necessária (fluxo de combustível) para obtenção do devido output. Esta relação apresenta valores mais consistentes para efeito de análise. A razão entre trabalho produzido por ciclo e a quantidade de energia do combustível fornecida por ciclo, que pode ser liberada pelo processo de combustão, também é comumente usada com o propósito de análise. O valor energético liberado por este combustível é dado pelo produto da massa de combustível fornecida ao motor por ciclo e pelo valor do poder calorífico do respectivo combustível. O poder calorífico de um combustível, QHV, define seu conteúdo energético [2]. Esta medida de “eficiência” de um motor, que pode ser chamada de eficiência de conversão de combustível, é dada por: P ⋅ nR Wciclo N P ηf = = = , (Equação 7.4.II) m f ⋅ Q HV  m f ⋅ nR  & m f ⋅ Q HV &   N  ⋅ Q HV    onde mf é a massa de combustível injetada por ciclo. Substituindo P / m f da equação 7.4.II pela equação 7.4.I, temos: &
  • 15. 1 ηf = (Equação 7.4.III) sfc ⋅ Q HV Assim, o consumo específico de combustível é inversamente proporcional à eficiência de conversão de combustível para os combustíveis hidrocarbonetos normais. Valores típicos de poder calorífico de combustíveis hidrocarbonetos comerciais estão na faixa de 42 a 44 MJ/kg [2]. 7.5. Taxa de Compressão A taxa de compressão é um parâmetro que define a geometria básica de motores alternativos, sendo obtida através de uma razão entre volumes. A taxa de compressão é calculada pelo quociente entre o volume máximo do cilindro – volume do cilindro quando o pistão ocupa a posição de ponto morto inferior – e o volume mínimo do cilindro, também chamado de volume morto, ou seja, volume do cilindro quando o pistão está no ponto morto superior. Seguindo a definição, temos: volume _ máximo _ do _ cilindro VC + VM rC = = , volume _ mínimo _ do _ cilindro VM onde: VM é o volume morto do cilindro; VC é o volume correspondente ao curso percorrido pelo pistão.