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1
Miguel Torga

   O Homem, o Escritor, o Tempo,
      a Terra e a Democracia
Diaporama de Luís Aguilar e Vitália Rodrigues
Concebido a partir do livro Fotobiografias de Clara Rocha.

                      Consulado-Geral de Portugal

                             em Montreal                     2
Miguel Torga
  O Homem




               3
Ter um destino
  é não caber no berço
  onde o corpo nasceu,
é transpor as fronteiras
      uma a uma
e morrer sem nenhuma.

            Miguel Torga
         In Fernão de Magalhães,
Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, 1999.



                                                4
Miguel Torga
     (pseudónimo de Adolfo Correia Rocha)
   nasceu em S. Martinho de Anta há cem anos,
  a 12.08.1907 e morreu em Coimbra a 17.01.1995.


Nasci como um cabrito ou como um pé de milho
                                                   5
6
O destino plantou-me aqui
e arrancou-me daqui.
E nunca mais as raízes
me seguraram bem em nenhuma terra.




                                     7
Os pais, Francisco Correia Rocha e Maria da
     Conceição Barros, e a irmã Maria         8
Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa
apalaçada do Porto, habitada por parentes da
família.

O pequeno criado ganhava quinze tostões por mês
e dormia num cubículo de campainha à cabeceira.

Fardado de branco servia de porteiro, “moço de
recados”, regava o jardim, “limpava o pó e polia
os metais da escadaria nobre”, “atendia
campainhas”.
Foi despedido um ano depois, devido à constante
insubmissão.
                                                   9
Em 1918 vai para o Seminário de
Lamego, onde viveu “um dos anos
cruciais”da sua vida, tendo melhorado
os conhecimentos de português, da
geografia, da história, aprendido o
latim e ganhado familiaridade com os
textos sagrados .
No fim das férias comunicou ao pai
que não seria padre.

                                        10
A grande aventura juvenil
          1919


          Foi então enviado, aos doze
          anos, para o Brasil (Minas
          Gerais), a fim de trabalhar
          numa fazenda que pertencia
          a um tio.




                                        11
Fazenda de Santa Cruz (Minas Gerais)
                                       12
Simples máquina de trabalho era o último a deitar-
-me e o primeiro a erguer-me, sem domingos nem
dias santos para que a engrenagem funcionasse com
perfeição.    




Carregar o moinho, mungir as vacas, tratar dos porcos, ir
buscar os cavalos da cocheira ao pasto, limpá-los e arreá-
los, rachar lenha, varrer o pátio e atender a freguesia que
vinha comprar fumo, cachaça, carne seca, feijão, ou trocar
grão por fubá; ir buscar o correio à povoação; fazer a
escrita da fazenda, verificar à noite se as portas e as janelas
estavam bem fechadas.

                                                                  13
Quatro anos decorridos o tio matriculou-o
no Ginásio de Leopoldina.


                                            14
Em 1925, na convicção de que ele havia de
vir a ser “doutor em Coimbra”, o tio
propôs-se pagar-lhe os estudos como
recompensa dos cinco anos de serviço.




                                            15
Crescera por fora e por dentro. Aprendera a
objectivar a vida, embora sempre tivesse
sentido aquele chão como fabuloso e mágico
e aonde pudera ser selvagem e natural.




                                              16
Um dos seus títulos de glória é ter passado a
adolescência no Brasil” ,
…o Brasil amei-o eu sempre, foi o
meu segundo berço, sinto-o na
memória, trago-o no pensamento.




                                                17
De regresso a Portugal, fez em dois anos, os
cinco do primeiro e segundo ciclo do curso
liceal de sete.


No Liceu José Falcão completou o terceiro
ciclo num só ano, ficando apto a cursar uma
Universidade.



                                               18
1928 - Adolfo Rocha estudante
                 universitário da Faculdade de
 .                Medicina da Universidade de
                           Coimbra




     A caneta que escreve e a que prescreve
revezam-se harmoniosamente na mesma mão.
                                                 19
Uma pobre colectânea de
sonetos e canções que
mereceu apenas críticas
reprovativas e Torga nunca
reimprimiu.



                             20
.




    Grupo da República Estrela do Norte
                                          21
Foi com
                             Balada da Morgue
                             que, verdadeiramente
                             assinei pacto com
                             Orfeu .




                                                22
Presença, 24, Janeiro 1930
Em 1929, com 22 anos, deu
início à colaboração na revista
Presença, folha de arte e
crítica, com o poema
“Altitudes…”.

A revista, fundada em 1927
pelo “grupo literário avançado”
de José Régio, Gaspar Simões
e Branquinho da Fonseca, era
bandeira “literária do grupo
modernista” e era também,
“bandeira libertária”da
Revolução Modernista.
                              23
Golpe Militar de 1926


A intervenção literária, já então a
entendia Adolfo Rocha, como o
único modo de combate
numa pátria que é o cemitério da
própria língua.




                                      24
Em 1930 rompe definitivamente com a revista
Presença, por razões de discordância estética e
razões de liberdade humana.




                                                  25
Adolfo Rocha e
Branquinho da Fonseca
fundam a revista Sinal,
que saiu em Julho de
1930.




                          26
Publica o seu segundo livro em Junho de 1930.




                                                27
Em 1931, contista em Pão Ázimo e poeta em
Tributo, Adolfo Rocha já aparecia a público em
edição de autor, como aconteceu com Abismo,
no ano seguinte, e como aconteceria pela vida fora.




                                                      28
Conclui o curso universitário de medicina em 1933.

Na hora em que esperava merecer da vida a alegria
íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o
terror fundo que não diz donde vem nem para onde
vai, anotou no dia da formatura. .




                                                     29
Regressa a S. Martinho de Anta com fama de
revolucionário.


Perdera definitivamente o lugar
privilegiado no seio da tribo.
Estava sem estar.

Mudou-se, para Vila Nova, a meio do ano de 1934,
concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra.


                                                     30
Miguel Torga
A Vida Familiar




                  31
Miguel Torga com a mãe
que falece em 1948.



                         32
A vida afectiva. A única que vale a pena.
Casa com Andrée Crabbé em 1940, estudante de
nacionalidade belga - aluna de Estudos Portugueses,
ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas - que viera a
Portugal para frequentar um curso de férias na Universidade
de Coimbra.
                                                         33
Vou tentar ser bom marido,
cumpridor. Mas quero que
saibas, enquanto é tempo, que
em todas as circunstâncias te
troco por um verso.
            (A Criação do Mundo, V)




                                      34
Miguel Torga e a filha Clara Rocha,
nascida em 3 de Outubro de 1955.


                                      35
36
Diário VII
Apresentação da neta ao avô,
que falece algumas semanas depois em 1955.
                                             37
Em   27   de   Julho   de   1990   celebra   os
cinquenta anos de casado. Os sins de que
eu fui capaz contra os nãos da vida.
                                                  38
Miguel Torga
   A Obra




               39
Adolfo Correia Rocha
         aos 27 anos em 1934,
auto-define-se pelo pseudónimo que criou

         Miguel     e   Torga


                                           40
Miguel
                    Homenagem a dois
                    grandes vultos da
                     cultura ibérica:
                  Miguel de Cervantes
                  e Miguel de Unamuno




                                        41
João Abel Manta
Torga (Erica lusitanica)

Designação nortenha da urze,
planta brava da montanha,
que deita raízes fortes sob a
aridez da rocha, de flor branca,
arroxeada ou cor de vinho.


                                42
A Terceira Voz, em 1934 é
publicado por Miguel Torga,
com prefácio de Adolfo
Rocha:
Somos irmãos e temos a
mesma riqueza: despeço-me
de cena e dou a minha palavra
de honra que não reapareço;
…a minha voz mudou –
porque o horizonte é maior…


                           43
Em Janeiro de 1936 funda,
com Albano Nogueira,
Manifesto, Revista de Arte e
Crítica:
Procurávamos um caminho
de liberdade assumida onde
nem o homem fosse traído,
nem o artista negado, uma
arte rebelde enraizada no
circunstancial.
                               44
Afonso Duarte, Alvaro Salema, Bento de
Jesus Caraça, Branquinho da Fonseca,
Joaquim Namorado, Lopes Graça, Paulo
Quintela, Vitorino Nemésio acompanha-
vam-no nessa intervenção contrária ao
individualismo presencista, alienado do real
(que Eduardo Lourenço identificou, em
1957, no Comércio do Porto, com o artigo
Presença, ou a Contra-Revolução do
Modernismo Português ).
Fernando Pessoa tinha lugar, naquele
primeiro número, com o poema Nevoeiro.
                                           45
Pode considerar-se Miguel Torga
pioneiro e representante por
antonomásia da escrita diarística
portuguesa, por ser, juntamente com
Virgílio Ferreira, com Conta Corrente,
dos que lhe conferiram maior
significância. O Diário torguiano, que o
autor publicou ininterruptamente entre
1941 e 1993, retrata o pulsar do autor
sobre o homem, o mundo e a vida, entre
3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro
de 1993.
                                         46
Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de
ler a notícia no jornal, fechei a porta do
consultório e meti-me pelos montes a cabo.
Fui chorar com os pinheiros e com as
fragas a morte do nosso maior poeta de
hoje, que Portugal viu passar num caixão
para a eternidade, sem ao menos perguntar
quem era.
In Diário I (3 de Dezembro de 1935)


                                             47
No Dia de Camões de 1948, a propósito do artifício da
figura de “escritor oficial” alheio à alma colectiva, havia de
sugerir que Pessoa substituísse Camões, vastíssimo poeta,
mas “cristalizado numa época”:




                                                                 48
Fernando Pessoa, culturalmente
considerado, não será muito mais poeta
nacional deste século do que Camões?

Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido
emblematicamente a glória do poeta. Glória pura
que, como poucas, merecia a graça desse póstumo
calor materno. Ninguém antes tinha realizado o
milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.

                                                        49
Camões fez versos a martelo.




                               50
Em 1937 começou a imprimir
A Criação do Mundo, génese
progressiva, numa
consciência, da imagem da
realidade circunstancial, visão
de um mundo criado à nossa
medida, original e único,
povoado de seres reais que o
tempo foi transformando em
fantasmas.



                                  51
Em 1937, colabora na Revista
 de Portugal , de Vitorino
         Nemésio




                               52
Bichos surge em 1940, reeditado pouco
depois, traduções sucessivas para
variadíssimas línguas. Animais com sentir
humano ou seres humanos vestidos de
animais. Ou uma irmandade de animais e
homens. Tudo numa argamassa de vida. O
cão Nero, o galo Tenório, o jerico Morgado,
o Ladino, o Ramiro. E a Madalena,
caminhando na contra mão da contradição
entre cultura e vida.



                                          53
Ficção
1931 - Pão Ázimo.
1931 - Criação do Mundo.
1934 - A Terceira Voz.
1937 - Os Dois Primeiros Dias.
1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo.
1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo.
1940 - Bichos.
1941 - Contos da Montanha.
1942 - Rua.
1943 - O Senhor Ventura.
1944 - Novos Contos da Montanha.
1945 - Vindima.
1951 - Pedras Lavradas
1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo.
1976 - Fogo Preso.
1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo.
1982 - Fábula de Fábulas.
                                             54
Poesia

1928 - Ansiedade.
1930 - Rampa.
1931 - Tributo.
1932 - Abismo.
1936 - O Outro Livro de Job.
1943 - Lamentação.
1944 - Libertação.
1946 - Odes.
1948 - Nihil Sibi.
1950 - Cântico do Homem.
1952 - Alguns Poemas Ibéricos.
1954 - Penas do Purgatório.
1958 - Orfeu Rebelde.
1962 - Câmara Ardente.
1965 - Poemas Ibéricos.
                                 55
Peças de Teatro


1941 - "Terra Firme" e "Mar".
1947 - Sinfonia.
1949 - O Paraíso.
1950 - Portugal.
1955 - Traço de União.




                                56
Traduções


Livros seus estão traduzidos para diversas línguas,
algumas vezes publicados com um prefácio seu:
espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês,
croata, romeno, norueguês, sueco, holandês,
búlgaro.




                                                      57
Prémios
1969 - Prémio do Diário de Notícias.
1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist.
1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos
       Drummond de Andrade.
1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S.

1989 - É-lhe imposta a condecoração de Oficial na Ordem
      das Artes e Letras da República Francesa.

1989 - Prémio Camões.
       Os meus leitores mereciam-no . (Miguel Torga)

1991 - Prémio Personalidade do Ano.
1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de
      Escritores.
1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.
                                                           58
Prémio Vida Literária da Associação Portugesa de Escritores
                           1992

                                                              59
Se existe alguém que escreve em português e
merece o Nobel é Miguel Torga, não eu.
                                         Jorge Amado




Foi proposto para o Prémio Nobel em 1960.
Sem êxito, possivelmente por interferências do Poder
de então.
Voltará a ser considerado uns anos mais tarde, não lhe
tendo sido atribuído.

                                                         60
1º Congresso Internacional de Miguel Torga

É organizado pela Universidade Fernando Pessoa
                   em 1994




                                                 61
Uma literatura que produz, no mesmo século,
dois vultos do calibre de Pessoa e Torga,
pode considerar-se
uma literatura de excelente saúde.
                                             Torrente Ballester
                              In Entrevista a Miguel Viqueira em 1986




                                                                        62
Hoje
 sei apenas gostar
duma nesga de terra
 debruada de mar.




                      63
Miguel Torga
  O Político




               64
A política é para eles (os políticos)
         uma promoção e,
             para mim,
            uma aflição.




                                        65
Foi preso várias vezes devido aos seus escritos,
sendo a primeira em 1939, em Aljube.

A PIDE negar-lhe-ia , várias vezes o pedido de visto
para sair do país.

Andrée Rocha é suspensa do seu lugar académico,
passou a fazer traduções e a ajudar o marido na sua
actividade profissional.




                                                       66
Na Candidatura do General Humberto Delgado
                    1958                     67
Em 1967, assina um manifesto no qual é pedida a aprovação
de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a
interposição de recurso no caso de apreensão de livros.
                                                            68
Revolução de 25 de Abril



Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares.


                                                69
Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem
sempre ardentemente a desejou.

Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da
História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá
decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma
probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa
roleta de loucos, que tanto anda como desanda.
O espectáculo que damos neste momento é o de um
manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e
atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um
electrochoque aberrante e desumano.
                                            20 de Junho de 1975
                                                          70
Sobre a descolonização escreveria:

Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos
dele em traineiras.
Afanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a
irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim
sem a grandeza de uma grande aventura.
 Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.



                                                        71
Primeiras eleições livres em democracia
                                          72
Ramalho Eanes torna-se seu amigo
  e Torga dá-lhe um conselho.




Seja sério, mas não se leve a sério.



                                       73
Conheceram-se depois do 25 de Abril,
quando Torga se afirmou como um dos
sustentáculos do Partido Socialista na
zona de Coimbra.




                                         74
Nunca se filiou em partido algum:


         É ESCUSADO.
 NÃO POSSO TER OUTRO PARTIDO
    SENÃO O DA LIBERDADE.


O meu partido é o mapa de Portugal



                                       75
Em Outubro de 1983, Samora Machel,
Presidente     de    Moçambique,       visita
oficialmente Portugal.
Apresentados        em   Coimbra,     Miguel
Torga fez questão de mostrar-lhe a
região       duriense     percorrida      de
helicóptero na companhia do Presidente
português, em conversa fraterna acerca
das duas pátrias e da indissolubilidade
dos seus destinos.
No diário de 20 de Outubro de 1986
lamentaria o fim trágico e prematuro
daquela vida agitada e carismática.
                                                76
Entrada de Portugal em 12 de Junho de 1985
                    no Mercado Comum


Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia.
Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria.
Insurge-se contra a ideia da subserviência às ordens de uma
Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela
sempre os teve... É o repúdio de um poeta português pela
irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe
alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa
indelével na memória da Europa.
                                                                77
É também contra a regionalização:

O mundo a braços com o drama das diversidades
e nós, que há oitocentos anos temos a unidade
nacional no território, na língua, nos costumes e
na religião, vamos desmioladamente destruí-la?




                                                    78
Miguel Torga
 As Viagens




               79
Viajar, num sentido profundo, é morrer.


   Em 1937, Dezembro pardo viaja por
        Espanha, França e Itália.



       O fascismo em Espanha
    completava o cerco à liberdade

                                          80
Em Istambul em 1953
                      81
Em 1954, No Centro Transmontano de S. Paulo (Brasil)
                                                       82
Em 1973, no intuito de sentir pulsar o coração austral, de
contemplar os cenários das nossas grandezas passadas e das nossas
misérias presentes, empreende uma extensa viagem pela África
lusófona no pressentimento de que chegara o fim da epopeia” lusa..




                                                                83
Lá, como cá, um quadro não muda um homem. Mas um verso sim.




                 No México em 1983.

                                                         84
Em Abril de 1987, no processo de
                         “assinatura da transmissão a curto
                         prazo da soberania de Macau”,
                         Miguel Torga aceita falar na
                         celebração do
                         Dia de Camões naquele
                         recanto da pátria, últimos confins de
                         Portugal.
Macau, Gruta de Camões


                                                                 85
Em Hong-Kong
               86
Em busca da presença portuguesa da qual só restam
                igrejas e baluartes




                   Em Goa
                                                    87
Em 19 de Novembro de 1986, declama oitenta poemas para
 o disco comemorativo dos seus oitenta anos de vida que
      saíu a público em 30 de Junho do ano seguinte.
                                                          88
Miguel Torga
Para os Outros




                 89
Miguel Torga
                       é um poeta em que um país se diz.
                              Sophia de Mello Breyner Andresen



              Torga podia escrever e publicar sem parar,
                  mas ia construindo, ao mesmo tempo,
                      um dos monólogos mais radicais
                            de toda a poesia portuguesa
                                            Eduardo Lourenço



       Reencarnação de um poeta mítico por excelência
- daqueles que vive na intimidade das forças elementares
                          (a terra, o sol, o vento, a água)
                        para celebrá-las com o seu canto.
                                        David Mourão Ferreira

                                                                 90
Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco
comunicativo, falando com mais convicção do que
razão.
 Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é
a sua forretice. Chega a comprar livros com
exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava
sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas
vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando
sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros
a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca
confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo
sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no
papel mais barato possível.
                                  Antônio Freire, in Lendo M.T..
                                                              91
Nem sempre escrevi que sou
intransigente, duro, capaz de uma
lógica que toca a desumanidade.
[...] Nem sempre admiti que estava
irritado com este camarada e
aquele amigo. [...] A desgraça é que
não me deixam estar só, pensar só,
sentir só.




                                       92
O HOMEM é,
 por desgraça, uma solidão:
Nascemos sós, vivemos sós e
            morremos sós.




                              93
REQUIEM POR MIM

Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido de corpo
E tolhido da alma…


   In Diário XVI, Coimbra, 10 de Dezembro de 1993




                                                    94
A Morte

                                          E o Poeta morreu.
                                   A sombra do cipreste pôde enfim
                                          Abraçar o cipreste.
                                               O torrão
                                         Caiu desfeito ao chão
                                         Da aventura celeste.
                                Nenhum tormento mais, nenhuma imagem
                                      (No caixão, ninguém pode
                                              Fantasiar).
Em 17 de Janeiro de 1995                 Pronto para a viagem
morrem o médico Adolfo Rocha                  De acabar.
e o poeta Miguel Torga. Ambos          Só no ouvido dos versos,
repousam, sob uma única lage,           Onde a seiva não corre,
em campa rasa no cemitério de             Uma rima perdura
S. Martinho de Anta.                    A dizer com brandura
                                       Que um Poeta não morre.

                                                                 95
96
Grande parte deste diaporama foi construído a partir do livro Fotobiografias
publicado pela sua filha, Clara Rocha.




                                                                               97
http://purl.pt/13860/1/




© 2007 Biblioteca Nacional de Portugal , todos os direitos reservados

                                                                             98
Alguns Sítios na Rede sobre Miguel Torga




              Casa-Museu
                Miguel
                Torga

           Vidas Lusófonas
                                           99
Diaporama
Concepção e pesquisa


        de

Vitália Rodrigues
 e Luís Aguilar

  Dezembro de 2007




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Miguel Torga

  • 1. 1
  • 2. Miguel Torga O Homem, o Escritor, o Tempo, a Terra e a Democracia Diaporama de Luís Aguilar e Vitália Rodrigues Concebido a partir do livro Fotobiografias de Clara Rocha. Consulado-Geral de Portugal em Montreal 2
  • 3. Miguel Torga O Homem 3
  • 4. Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor as fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma. Miguel Torga In Fernão de Magalhães, Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, 1999. 4
  • 5. Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia Rocha) nasceu em S. Martinho de Anta há cem anos, a 12.08.1907 e morreu em Coimbra a 17.01.1995. Nasci como um cabrito ou como um pé de milho 5
  • 6. 6
  • 7. O destino plantou-me aqui e arrancou-me daqui. E nunca mais as raízes me seguraram bem em nenhuma terra. 7
  • 8. Os pais, Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros, e a irmã Maria 8
  • 9. Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes da família. O pequeno criado ganhava quinze tostões por mês e dormia num cubículo de campainha à cabeceira. Fardado de branco servia de porteiro, “moço de recados”, regava o jardim, “limpava o pó e polia os metais da escadaria nobre”, “atendia campainhas”. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. 9
  • 10. Em 1918 vai para o Seminário de Lamego, onde viveu “um dos anos cruciais”da sua vida, tendo melhorado os conhecimentos de português, da geografia, da história, aprendido o latim e ganhado familiaridade com os textos sagrados . No fim das férias comunicou ao pai que não seria padre. 10
  • 11. A grande aventura juvenil 1919 Foi então enviado, aos doze anos, para o Brasil (Minas Gerais), a fim de trabalhar numa fazenda que pertencia a um tio. 11
  • 12. Fazenda de Santa Cruz (Minas Gerais) 12
  • 13. Simples máquina de trabalho era o último a deitar- -me e o primeiro a erguer-me, sem domingos nem dias santos para que a engrenagem funcionasse com perfeição.    Carregar o moinho, mungir as vacas, tratar dos porcos, ir buscar os cavalos da cocheira ao pasto, limpá-los e arreá- los, rachar lenha, varrer o pátio e atender a freguesia que vinha comprar fumo, cachaça, carne seca, feijão, ou trocar grão por fubá; ir buscar o correio à povoação; fazer a escrita da fazenda, verificar à noite se as portas e as janelas estavam bem fechadas. 13
  • 14. Quatro anos decorridos o tio matriculou-o no Ginásio de Leopoldina. 14
  • 15. Em 1925, na convicção de que ele havia de vir a ser “doutor em Coimbra”, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço. 15
  • 16. Crescera por fora e por dentro. Aprendera a objectivar a vida, embora sempre tivesse sentido aquele chão como fabuloso e mágico e aonde pudera ser selvagem e natural. 16
  • 17. Um dos seus títulos de glória é ter passado a adolescência no Brasil” , …o Brasil amei-o eu sempre, foi o meu segundo berço, sinto-o na memória, trago-o no pensamento. 17
  • 18. De regresso a Portugal, fez em dois anos, os cinco do primeiro e segundo ciclo do curso liceal de sete. No Liceu José Falcão completou o terceiro ciclo num só ano, ficando apto a cursar uma Universidade. 18
  • 19. 1928 - Adolfo Rocha estudante universitário da Faculdade de . Medicina da Universidade de Coimbra A caneta que escreve e a que prescreve revezam-se harmoniosamente na mesma mão. 19
  • 20. Uma pobre colectânea de sonetos e canções que mereceu apenas críticas reprovativas e Torga nunca reimprimiu. 20
  • 21. . Grupo da República Estrela do Norte 21
  • 22. Foi com Balada da Morgue que, verdadeiramente assinei pacto com Orfeu . 22 Presença, 24, Janeiro 1930
  • 23. Em 1929, com 22 anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema “Altitudes…”. A revista, fundada em 1927 pelo “grupo literário avançado” de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, era bandeira “literária do grupo modernista” e era também, “bandeira libertária”da Revolução Modernista. 23
  • 24. Golpe Militar de 1926 A intervenção literária, já então a entendia Adolfo Rocha, como o único modo de combate numa pátria que é o cemitério da própria língua. 24
  • 25. Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, por razões de discordância estética e razões de liberdade humana. 25
  • 26. Adolfo Rocha e Branquinho da Fonseca fundam a revista Sinal, que saiu em Julho de 1930. 26
  • 27. Publica o seu segundo livro em Junho de 1930. 27
  • 28. Em 1931, contista em Pão Ázimo e poeta em Tributo, Adolfo Rocha já aparecia a público em edição de autor, como aconteceu com Abismo, no ano seguinte, e como aconteceria pela vida fora. 28
  • 29. Conclui o curso universitário de medicina em 1933. Na hora em que esperava merecer da vida a alegria íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o terror fundo que não diz donde vem nem para onde vai, anotou no dia da formatura. . 29
  • 30. Regressa a S. Martinho de Anta com fama de revolucionário. Perdera definitivamente o lugar privilegiado no seio da tribo. Estava sem estar. Mudou-se, para Vila Nova, a meio do ano de 1934, concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra. 30
  • 31. Miguel Torga A Vida Familiar 31
  • 32. Miguel Torga com a mãe que falece em 1948. 32
  • 33. A vida afectiva. A única que vale a pena. Casa com Andrée Crabbé em 1940, estudante de nacionalidade belga - aluna de Estudos Portugueses, ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas - que viera a Portugal para frequentar um curso de férias na Universidade de Coimbra. 33
  • 34. Vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso. (A Criação do Mundo, V) 34
  • 35. Miguel Torga e a filha Clara Rocha, nascida em 3 de Outubro de 1955. 35
  • 37. Apresentação da neta ao avô, que falece algumas semanas depois em 1955. 37
  • 38. Em 27 de Julho de 1990 celebra os cinquenta anos de casado. Os sins de que eu fui capaz contra os nãos da vida. 38
  • 39. Miguel Torga A Obra 39
  • 40. Adolfo Correia Rocha aos 27 anos em 1934, auto-define-se pelo pseudónimo que criou Miguel e Torga 40
  • 41. Miguel Homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno 41 João Abel Manta
  • 42. Torga (Erica lusitanica) Designação nortenha da urze, planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho. 42
  • 43. A Terceira Voz, em 1934 é publicado por Miguel Torga, com prefácio de Adolfo Rocha: Somos irmãos e temos a mesma riqueza: despeço-me de cena e dou a minha palavra de honra que não reapareço; …a minha voz mudou – porque o horizonte é maior… 43
  • 44. Em Janeiro de 1936 funda, com Albano Nogueira, Manifesto, Revista de Arte e Crítica: Procurávamos um caminho de liberdade assumida onde nem o homem fosse traído, nem o artista negado, uma arte rebelde enraizada no circunstancial. 44
  • 45. Afonso Duarte, Alvaro Salema, Bento de Jesus Caraça, Branquinho da Fonseca, Joaquim Namorado, Lopes Graça, Paulo Quintela, Vitorino Nemésio acompanha- vam-no nessa intervenção contrária ao individualismo presencista, alienado do real (que Eduardo Lourenço identificou, em 1957, no Comércio do Porto, com o artigo Presença, ou a Contra-Revolução do Modernismo Português ). Fernando Pessoa tinha lugar, naquele primeiro número, com o poema Nevoeiro. 45
  • 46. Pode considerar-se Miguel Torga pioneiro e representante por antonomásia da escrita diarística portuguesa, por ser, juntamente com Virgílio Ferreira, com Conta Corrente, dos que lhe conferiram maior significância. O Diário torguiano, que o autor publicou ininterruptamente entre 1941 e 1993, retrata o pulsar do autor sobre o homem, o mundo e a vida, entre 3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro de 1993. 46
  • 47. Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade, sem ao menos perguntar quem era. In Diário I (3 de Dezembro de 1935) 47
  • 48. No Dia de Camões de 1948, a propósito do artifício da figura de “escritor oficial” alheio à alma colectiva, havia de sugerir que Pessoa substituísse Camões, vastíssimo poeta, mas “cristalizado numa época”: 48
  • 49. Fernando Pessoa, culturalmente considerado, não será muito mais poeta nacional deste século do que Camões? Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido emblematicamente a glória do poeta. Glória pura que, como poucas, merecia a graça desse póstumo calor materno. Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos. 49
  • 50. Camões fez versos a martelo. 50
  • 51. Em 1937 começou a imprimir A Criação do Mundo, génese progressiva, numa consciência, da imagem da realidade circunstancial, visão de um mundo criado à nossa medida, original e único, povoado de seres reais que o tempo foi transformando em fantasmas. 51
  • 52. Em 1937, colabora na Revista de Portugal , de Vitorino Nemésio 52
  • 53. Bichos surge em 1940, reeditado pouco depois, traduções sucessivas para variadíssimas línguas. Animais com sentir humano ou seres humanos vestidos de animais. Ou uma irmandade de animais e homens. Tudo numa argamassa de vida. O cão Nero, o galo Tenório, o jerico Morgado, o Ladino, o Ramiro. E a Madalena, caminhando na contra mão da contradição entre cultura e vida. 53
  • 54. Ficção 1931 - Pão Ázimo. 1931 - Criação do Mundo. 1934 - A Terceira Voz. 1937 - Os Dois Primeiros Dias. 1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo. 1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo. 1940 - Bichos. 1941 - Contos da Montanha. 1942 - Rua. 1943 - O Senhor Ventura. 1944 - Novos Contos da Montanha. 1945 - Vindima. 1951 - Pedras Lavradas 1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo. 1976 - Fogo Preso. 1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo. 1982 - Fábula de Fábulas. 54
  • 55. Poesia 1928 - Ansiedade. 1930 - Rampa. 1931 - Tributo. 1932 - Abismo. 1936 - O Outro Livro de Job. 1943 - Lamentação. 1944 - Libertação. 1946 - Odes. 1948 - Nihil Sibi. 1950 - Cântico do Homem. 1952 - Alguns Poemas Ibéricos. 1954 - Penas do Purgatório. 1958 - Orfeu Rebelde. 1962 - Câmara Ardente. 1965 - Poemas Ibéricos. 55
  • 56. Peças de Teatro 1941 - "Terra Firme" e "Mar". 1947 - Sinfonia. 1949 - O Paraíso. 1950 - Portugal. 1955 - Traço de União. 56
  • 57. Traduções Livros seus estão traduzidos para diversas línguas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro. 57
  • 58. Prémios 1969 - Prémio do Diário de Notícias. 1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist. 1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade. 1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. 1989 - É-lhe imposta a condecoração de Oficial na Ordem das Artes e Letras da República Francesa. 1989 - Prémio Camões. Os meus leitores mereciam-no . (Miguel Torga) 1991 - Prémio Personalidade do Ano. 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra. 58
  • 59. Prémio Vida Literária da Associação Portugesa de Escritores 1992 59
  • 60. Se existe alguém que escreve em português e merece o Nobel é Miguel Torga, não eu. Jorge Amado Foi proposto para o Prémio Nobel em 1960. Sem êxito, possivelmente por interferências do Poder de então. Voltará a ser considerado uns anos mais tarde, não lhe tendo sido atribuído. 60
  • 61. 1º Congresso Internacional de Miguel Torga É organizado pela Universidade Fernando Pessoa em 1994 61
  • 62. Uma literatura que produz, no mesmo século, dois vultos do calibre de Pessoa e Torga, pode considerar-se uma literatura de excelente saúde. Torrente Ballester In Entrevista a Miguel Viqueira em 1986 62
  • 63. Hoje sei apenas gostar duma nesga de terra debruada de mar. 63
  • 64. Miguel Torga O Político 64
  • 65. A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição. 65
  • 66. Foi preso várias vezes devido aos seus escritos, sendo a primeira em 1939, em Aljube. A PIDE negar-lhe-ia , várias vezes o pedido de visto para sair do país. Andrée Rocha é suspensa do seu lugar académico, passou a fazer traduções e a ajudar o marido na sua actividade profissional. 66
  • 67. Na Candidatura do General Humberto Delgado 1958 67
  • 68. Em 1967, assina um manifesto no qual é pedida a aprovação de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a interposição de recurso no caso de apreensão de livros. 68
  • 69. Revolução de 25 de Abril Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. 69
  • 70. Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou. Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa roleta de loucos, que tanto anda como desanda. O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um electrochoque aberrante e desumano. 20 de Junho de 1975 70
  • 71. Sobre a descolonização escreveria: Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. Afanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade. 71
  • 72. Primeiras eleições livres em democracia 72
  • 73. Ramalho Eanes torna-se seu amigo e Torga dá-lhe um conselho. Seja sério, mas não se leve a sério. 73
  • 74. Conheceram-se depois do 25 de Abril, quando Torga se afirmou como um dos sustentáculos do Partido Socialista na zona de Coimbra. 74
  • 75. Nunca se filiou em partido algum: É ESCUSADO. NÃO POSSO TER OUTRO PARTIDO SENÃO O DA LIBERDADE. O meu partido é o mapa de Portugal 75
  • 76. Em Outubro de 1983, Samora Machel, Presidente de Moçambique, visita oficialmente Portugal. Apresentados em Coimbra, Miguel Torga fez questão de mostrar-lhe a região duriense percorrida de helicóptero na companhia do Presidente português, em conversa fraterna acerca das duas pátrias e da indissolubilidade dos seus destinos. No diário de 20 de Outubro de 1986 lamentaria o fim trágico e prematuro daquela vida agitada e carismática. 76
  • 77. Entrada de Portugal em 12 de Junho de 1985 no Mercado Comum Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria. Insurge-se contra a ideia da subserviência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela sempre os teve... É o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa. 77
  • 78. É também contra a regionalização: O mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la? 78
  • 79. Miguel Torga As Viagens 79
  • 80. Viajar, num sentido profundo, é morrer. Em 1937, Dezembro pardo viaja por Espanha, França e Itália. O fascismo em Espanha completava o cerco à liberdade 80
  • 81. Em Istambul em 1953 81
  • 82. Em 1954, No Centro Transmontano de S. Paulo (Brasil) 82
  • 83. Em 1973, no intuito de sentir pulsar o coração austral, de contemplar os cenários das nossas grandezas passadas e das nossas misérias presentes, empreende uma extensa viagem pela África lusófona no pressentimento de que chegara o fim da epopeia” lusa.. 83
  • 84. Lá, como cá, um quadro não muda um homem. Mas um verso sim. No México em 1983. 84
  • 85. Em Abril de 1987, no processo de “assinatura da transmissão a curto prazo da soberania de Macau”, Miguel Torga aceita falar na celebração do Dia de Camões naquele recanto da pátria, últimos confins de Portugal. Macau, Gruta de Camões 85
  • 87. Em busca da presença portuguesa da qual só restam igrejas e baluartes Em Goa 87
  • 88. Em 19 de Novembro de 1986, declama oitenta poemas para o disco comemorativo dos seus oitenta anos de vida que saíu a público em 30 de Junho do ano seguinte. 88
  • 89. Miguel Torga Para os Outros 89
  • 90. Miguel Torga é um poeta em que um país se diz. Sophia de Mello Breyner Andresen Torga podia escrever e publicar sem parar, mas ia construindo, ao mesmo tempo, um dos monólogos mais radicais de toda a poesia portuguesa Eduardo Lourenço Reencarnação de um poeta mítico por excelência - daqueles que vive na intimidade das forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las com o seu canto. David Mourão Ferreira 90
  • 91. Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco comunicativo, falando com mais convicção do que razão. Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é a sua forretice. Chega a comprar livros com exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no papel mais barato possível. Antônio Freire, in Lendo M.T.. 91
  • 92. Nem sempre escrevi que sou intransigente, duro, capaz de uma lógica que toca a desumanidade. [...] Nem sempre admiti que estava irritado com este camarada e aquele amigo. [...] A desgraça é que não me deixam estar só, pensar só, sentir só. 92
  • 93. O HOMEM é, por desgraça, uma solidão: Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós. 93
  • 94. REQUIEM POR MIM Aproxima-se o fim. E tenho pena de acabar assim, Em vez de natureza consumada, Ruína humana. Inválido de corpo E tolhido da alma… In Diário XVI, Coimbra, 10 de Dezembro de 1993 94
  • 95. A Morte E o Poeta morreu. A sombra do cipreste pôde enfim Abraçar o cipreste. O torrão Caiu desfeito ao chão Da aventura celeste. Nenhum tormento mais, nenhuma imagem (No caixão, ninguém pode Fantasiar). Em 17 de Janeiro de 1995 Pronto para a viagem morrem o médico Adolfo Rocha De acabar. e o poeta Miguel Torga. Ambos Só no ouvido dos versos, repousam, sob uma única lage, Onde a seiva não corre, em campa rasa no cemitério de Uma rima perdura S. Martinho de Anta. A dizer com brandura Que um Poeta não morre. 95
  • 96. 96
  • 97. Grande parte deste diaporama foi construído a partir do livro Fotobiografias publicado pela sua filha, Clara Rocha. 97
  • 98. http://purl.pt/13860/1/ © 2007 Biblioteca Nacional de Portugal , todos os direitos reservados 98
  • 99. Alguns Sítios na Rede sobre Miguel Torga Casa-Museu Miguel Torga Vidas Lusófonas 99
  • 100. Diaporama Concepção e pesquisa de Vitália Rodrigues e Luís Aguilar Dezembro de 2007 100