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    A exploração e o uso de recursos dos principais biomas brasileiros

Waldir Mantovani

Universidade de São Paulo; Curso de Gestão Ambiental (EACH-USP); Av. Arlindo Béttio,
1000, São Paulo-SP, 03828-000. E-mail: wmantova@usp.br


         Principalmente a partir do final da década de 60, a preocupação com problemas ambientais
vem aumentando de maneira muito rápida em todo o mundo. Isto se deve aos impactos causados
pelo crescimento da população humana mundial, sendo que em 1650 o número de habitantes era de
500 milhões, passando a 1 bilhão em 1850, 2 bilhões em 1930 e 4 bilhões em 1975, sendo
atualmente superior a 5 bilhões. O crescimento da população humana deveu-se a vários eventos na
civilização, como o domínio do fogo, a prática da agricultura, a urbanização, a industrialização e os
avanços na medicina, somados ao aumento do uso de recursos naturais.
         Grande parte dos problemas de degradação ambiental no Brasil relaciona-se com a ausência
de uma cultura de ocupação dos espaços tropicais, respeitando as características dos diversos
ecossistemas, notadamente suas riqueza e diversidade e da inadequação dos processos de gestão
dos recursos naturais.
         A deterioração ambiental teve sempre o impulso de empreendimentos econômicos que não
consideraram as alterações do meio em seus custos, iniciando com a extração do pau-brasil, que
acarretou a derrubada de faixas extensas de mata pluvial tropical Atlântica no Nordeste, esteve
associada às práticas agrícolas não conservacionistas, notadamente de monoculturas, seja
canavieira, cafeeira, da soja, de pastagens e de florestas homogêneas, além da tradição itinerante
que algumas destas culturas tiveram no passado, ao estabelecimento de um modelo de propriedade
da terra que favoreceu a sua exploração e não como espaço de vida e, em conseqüência, o
estabelecimento de grande quantidade de latifúndios, à extração de diversos minérios, feita sem
qualquer tecnologia conservacionista, às grandes obras hidrelétricas, rodoviárias e ferroviárias não
planejadas em relação às características ambientais, à ausência de políticas urbanas diante da
crescente metropolização das cidades, estimulada pelo êxodo rural e por fluxos migratórios,
principalmente a partir do Nordeste, à industrialização sem regras ambientais, feita através da
importação de equipamentos obsoletos, altamente poluentes, que vinham sendo substituídos em
países mais desenvolvidos, da ausência de tradição na conservação do patrimônio histórico e
artístico, e da complacência dos órgãos responsáveis pelo cumprimento da legislação ambiental.
         Também ressaltam na desvalorização das questões ambientais problemas econômicos e
sociais que influem em países como o Brasil, como a dívida externa e as ações para o seu
pagamento, comprometendo grande parte das divisas do país, a pobreza de grande parte da
população, com conseqüência na saúde e na educação, a desigualdade social que vem se
acentuando com a concentração de renda, o analfabetismo que impede o exercício pleno da
cidadania, o desemprego que gera um conjunto de problemas sociais, e a falta do exercício pleno da
democracia, levando a que os problemas ambientais não sejam considerados pela sociedade como
problemas de qualidade de vida.
         Além desse conjunto, um dos mais importantes indutores do conflito que existe à conservação
da diversidade biológica é a mudança, ao longo da história, na relação entre o homem e a natureza,
posicionados atualmente como opostos, sendo que poucas ações são concretizadas considerando o
homem como componente da própria natureza.
       Bioma é a mais ampla comunidade biótica reconhecida no nível geográfico, sendo definido
como uma subdivisão biológica que reflete as características ecológicas e fisionômicas da vegetação.
Corresponde, de um modo geral, às regiões climáticas, ainda que outros fatores ambientais possam
ser importantes, como o solo e o fogo, sendo caracterizado em termos de todos os organismos vivos
e de suas interações com o ambiente. É equivalente aos termos formação vegetal e tipos de
formação, que são tipos de vegetação mundiais, com uma aparência e formas de vida uniformes
(ALARY, 1994). Os biomas que contêm muitas formas de vida são os mais ricos em espécies de
2

plantas e de animais, já que esta é uma característica das espécies, e situa-se em regiões sob
temperaturas elevadas, precipitações pluviais regulares e solos desenvolvidos, o que determina, pela
ausência de limites físicos do ambiente, interações bióticas muito fortes, outro fator relevante à
riqueza e à diversidade biológicas.
       A distribuição dos biomas na superfície terrestre relaciona-se principalmente com os climas e,
dentre os seus fatores, mais diretamente com a temperatura e a precipitação. Em regiões de climas
transicionais, o fogo e características do solo são os maiores determinantes. Quando são respostas
às características de climas, os biomas são denominados zonais e quando são determinados por
outros fatores, em geral o substrato ou o fogo, são chamados azonais.
                                                                                 2
       A maior parte do território brasileiro, de aproximadamente 8.512.000Km , situa-se em região
tropical, no Hemisfério Sul (AZEVEDO, 1972), e por sua posição no globo terrestre, sua grande
extensão territorial, a forma do continente sul-americano, as diversas características
geomorfológicas, a ação de correntes atmosféricas e oceânicas e de massas de ar, contém diversas
regiões climáticas. Associadas à influência de substratos variados, incluindo tipos de solos, e à
história pretérita do continente sul-americano, seja relacionada à deriva continental, a movimentos de
massa diversos, paleoclimas e fluxos migratórios de plantas e de animais, grupos de plantas e
animais evoluíram conjuntamente, sob condições particulares de clima, solo e diversos outros níveis
de interações, diferenciando-se de maneira a compor faunas e floras características de seus vários
biomas ou formações vegetais, que ainda preservam grande parte da diversidade biológica de todo o
planeta.
       Está predominantemente sob a ação de Massas Tropicais, Continentais e Oceânicas, e da
Massa Polar Oceânica, na região Sul, até o estado de São Paulo e, como conseqüência, a maioria
de seu território está sob climas tropicais, apresentando, ainda, clima semi-árido no Nordeste e
climas mesotérmicos, temperados quentes e úmidos, no Sul e no Sudeste, com precipitações que
vão de 250 mm a até mais de 4000 mm por ano. Podem-se sintetizar os tipos de clima no Brasil da
seguinte maneira: Clima Tropical de Floresta Pluvial, na Amazônia e na costa Atlântica no Sul,
Sudeste e Nordeste, Clima Tropical de Savana, no Brasil Central, Clima Semiárido Estépico, de
baixas altitudes, da Caatinga no Nordeste, Clima Mesotérmico Subtropical Úmido, sem estação seca
e verões quentes, da Floresta Ombrófila Mista, ou com Araucaria, e dos Campos Sulinos, Clima
Mesotérmico Oceânico, sem período seco, quente a moderadamente frio, da Floresta Ombrófila
Mista, e Clima Mesotérmico Subtropical Úmido, com inverno seco, da Floresta Estacional
Semidecidual, (NIMER, 1989).
                                2
       Cerca de 5.000.000Km do território nacional correspondem a áreas cristalinas fortemente
trabalhadas pelo tectonismo e pela erosão - serras e planaltos cristalinos representadas
principalmente pelos Maciços das Guianas, do Brasil Central e Atlântico, e a bacias de sedimentação
muito antigas, paleozóicas, ressaltando-se as Bacias do São Francisco, Corumbá, Itajaí, Parnaíba,
Amazônica e do Paraná, e mesozóicas, onde se salientam o deserto Botucatu e o vulcanismo
                                                                                                     2
basáltico, a Bacia do Alto Paraná - chapadas e planaltos sedimentares. Os restantes 3.500.000 km
constituem as terras baixas do país - tabuleiros e planícies, de natureza sedimentar e de formação
recente, terciárias, onde salienta a série Barreiras, e Quaternárias, destacando-se o pantanal mato-
grossense e os depósitos litorâneos (AZEVEDO, 1972; ALMEIDA, 1972).
       Apesar de sua extensão territorial, o Brasil não possui grandes amplitudes altimétricas,
variando a distribuição de suas terras em 60% até 300 de altitude e aproximadamente 3% acima de
900m (AB’SABER, 1972).
       O conjunto da ação do clima sobre rochas matrizes diversas, mais os depósitos e movimentos
de massa, determinam a existência de diversos tipos de solo, salientando-se os Latossolos
(Oxisolos) na maior parte do território brasileiro. São caracterizados como solos antigos, profundos,
bem drenados, ácidos, geralmente oligotróficos, na maioria das suas variações arenosos, e os
Podzólicos (Ultisolos), encontrados em grande extensão da Amazônia, nas costas Nordeste-Sudeste,
no centro do Paraná e do Rio Grande do Sul, no oeste e centro-nordeste de São Paulo, no leste de
Minas Gerais e em manchas dispersas no Centro-Oeste e no interior do Nordeste, sendo solos
estruturados, com horizontes bem definidos, geralmente oligotróficos, ácidos, arenosos; Luvissosolos
(Bruno-não-Cálcico), que são solos moderadamente rasos, com muitas pedras na superfície, que
ocorrem na Caatinga nordestina, juntamente com Litossolos (Entisolos), que são solos não
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desenvolvidos, que também aparecem em regiões montanhosas, às vezes formado por depósitos
recentes de areias quartzosas, caracterizando-se como solos incipientes, rasos ou não estruturados,
com características físicas e químicas variadas, e Cambissolos ou Inceptisolos, que aparecem nas
margens do Rio Amazonas, no Pantanal, em Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, e no litoral
Sudeste, sendo fracamente estruturados, recentes, podendo ter origem aluvial ou de depósitos
marinhos (EMBRAPA, 1999; IBGE, 1992; PRADO, 2000).
       A relação das características físicas e químicas dos solos com o relevo acarreta em que grande
parte do território brasileiro seja impróprio à ocupação agrícola (IBGE, 1997).
       Este conjunto de características encontradas no território brasileiro é responsável pela
existência atual de diversos biomas, enquanto o seu grau de conservação tem relação com os usos e
ocupações das áreas de sua ocorrência.
       No Brasil existem várias categorias de Unidades de Conservação, que são áreas protegidas e
representativas de biomas significativos do território federal, que podem ser estabelecidas nos níveis
federal, estaduais e/ou municipais, entre elas as de uso indireto de recursos, que não prevê a
ocupação humana, onde se insere a categoria de Reserva Científica, que é a mais restritiva,
incluindo-se as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas e as Reservas Ecológicas, os que
permitem a visitação pública, como os Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, os Parques
Florestais, os Bosques Municipais e os Parques Ecológicos, os Monumentos Naturais, como as
Áreas Tombadas, as Áreas Especiais de Interesse Turístico e Locais de Interesse Turístico e as
Cavernas, os Santuários de Vida Silvestre, como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural, as
Áreas de Relevante Interesse Ecológico e as Áreas sob Proteção Especial. As Unidades de
Conservação que permitem a ocupação humana são as de uso direto dos recursos, como as Áreas
de Proteção Ambiental, as Reservas Indígenas, as Áreas de Recursos Manejados, as Florestas
Nacionais, Estaduais e Municipais e as Reservas Extrativistas. Uma categoria que preserva áreas
para posterior destinação é a Reserva de Destinação, como são as Reservas Florestais e as
Florestas de Domínio Privado (BRUCK et al, 1995).
       Há diversas Unidades de Conservação, com diferentes graus de restrição, estabelecidas em
áreas de tensão ecológica, ou de transição entre biomas, como entre a Floresta Ombrófila Densa e a
Floresta Estacional Semidecidual, entre o Cerrado e a Caatinga, entre a Floresta Ombrófila Mista e a
Floresta Ombrófila Densa ou a Estacional Decidual, entre o Cerrado e a Floresta Estacional
Semidecidual, entre outras, não tratadas neste trabalho.
       Embora a legislação ambiental brasileira seja considerada das mais modernas e amplas,
protegendo as águas e suas margens, parte da flora e da fauna, o solo, diversos biomas e
paisagens, há baixa eficiência em sua aplicação, o que tem permitido a continuidade da degradação
de áreas dos diversos biomas brasileiros, alguns dos quais já incapazes de representar toda a
heterogeneidade que continham, principalmente a sua riqueza e diversidade biológica.
       Aqui serão tratados os biomas: Florestas Pluviais Tropicais, Floresta Temperada Quente e
Úmida. Floresta Estacional Semidecidual, Complexos da Caatinga, do Cerrado, do Pantanal e da
Planície Litorânea

Florestas Pluviais Tropicais - Florestas Ombrófilas Densas ou Florestas Perenifólias Higrófilas -
Encontram-se no norte, oeste e leste da América do Sul a, até, 30ºS nas cadeias montanhosas no
leste do Brasil, ocupando mais de 3,57 milhões de quilômetros quadrados, ou 30% da área de todas
as florestas tropicais existentes no mundo (EMBRAPA, 1996).
       Os solos sob estas florestas são bastante lixiviados, em geral pobres em nutrientes e ácidos,
contendo uma camada de húmus bastante desenvolvida. A ciclagem de nutrientes é essencialmente
biológica, tendo os decompositores e detritívoros papéis preponderantes no processo.
       São os biomas terrestres mais ricos e diversos, apresentando complexidade estrutural que
favorece a existência de muitos nichos ou funções ecológicas para as espécies. Por situarem-se em
regiões de alta produtividade, sem estresses climáticos, que favorecem interações biológicas
complexas, têm a maioria das suas populações estenoéca, isto é, com amplitude ecológica muito
estreita, especializando-se na obtenção de certos recursos e compondo nichos muito estreitos.
       Estas florestas são encontradas sob climas tropicais chuvosos, sem nenhuma estação seca
(Af) ou de monção, com breve estação seca, que pode extender-se a até 3 meses, e chuvas intensas
4

no resto do ano (Am) e, por isto, suas espécies de plantas não apresentam padrões fenológicos
marcados por sazonalidade climática.
      No Brasil há duas diferentes Florestas Pluviais Tropicais: a Floresta Pluvial Tropical Amazônica,
que corresponde à maior extensão das genericamente denominadas Florestas Amazônicas, e a
Floresta Pluvial Tropical Atlântica, que equivale à Floresta Costeira das chamadas Matas Atlânticas.

Floresta Pluvial Tropical Amazônica - As florestas na Amazônia compõem a maior extensão de
Florestas Pluviais Tropicais em toda a Terra, ocupando no território brasileiro principalmente os
Estados do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima e áreas dos estados de Mato
                                                                                                     2
Grosso, Tocantins e Maranhão, num total aproximado de 40% do território nacional (3.300.000Km )
(EMBRAPA, 1996).
      São encontradas sob climas com pluviosidades superiores a 1750mm chegando a 3500mm,
com até dois meses de seca, temperaturas médias anuais de 24ºC a 26ºC, variando entre as
temperaturas absolutas de 8ºC e 38ºC (NIMER, 1989), com maiores variações diuturnas que anuais.
Na porção centro-ocidental da Amazônia situa-se a região sob clima de maior precipitação e menor
sazonalidade de toda a região, sem mês seco, que gradualmente apresenta transições aos climas
savânicos, mais secos, no sul e norte, e do semi-árido, no leste desta região. A posição da bacia
amazônica próxima do Equador e a topografia plana na qual, em geral, está situada, permitem que
grande quantidade de radiação solar e, portanto, de energia, chegue diretamente à sua superfície.
      Estabelecem-se predominantemente sobre Latossolos, de baixa fertilidade, ácidos e arenosos.
O número elevado de rios que drenam a região amazônica promove interações complexas entre
biomas terrestres e aquáticos.
      A extensão ocupada por estas florestas garante que contenham a maior quantidade de
espécies de plantas e de animais dentre os biomas terrestres. Situam-se em região pouco povoada,
com paisagens naturais pouco alteradas (MOREIRA, 1998).
      Distingue-se como a principal Floresta Pluvial Tropical Amazônica a de Terra Firme ou Hiléia,
que se situa sobre o tabuleiro da Formação Barreiras, sobre os planaltos amazônicos, as serras e
superfícies de arrasamento do Maciço Guiano e sobre as superfícies de arrasamento do Brasil
Central (IBGE, 1972). A Floresta Ombrófila Densa de Terra Firme é a Floresta Amazônica mais
desenvolvida, com árvores que chegam a 60m de altura, apresentando-se muito complexa em sua
estrutura vertical.
      São distintos seis tipos de Florestas de Terra Firme na Amazônia: Floresta Densa, Floresta
Aberta sem palmeiras, Floresta Aberta com palmeiras, Floresta de cipós, Floresta Seca, na transição
com a Savana no Brasil Central – Semidecidual, e Floresta Montana (PIRES & PRANCE, 1985).
      A Floresta Amazônica foi explorada de forma extrativista desde o século XVIII, quando
incursões a partir de São Paulo foram feitas pelas entradas na busca de minérios, escravos e,
principalmente, de produtos da floresta, genericamente chamados de drogas do sertão: plantas e
ervas medicinais, aromáticas e alimentícias.
      No século XIX inicia-se o ciclo da exploração da borracha, que é o látex extraído da seringueira
(Hevea brasiliensis - Euphorbiaceae), que se distribui na margem direita dos rios Solimões e
Amazonas, nos estados do Amazonas, Pará, Acre e Rondônia, ensejando uma onda migratória,
principalmente do Nordeste, com o conseqüente aumento da população na região, estabelecidas nas
margens dos rios, e iniciando a produção agrícola em áreas florestadas ou de várzeas, além de
ampliar a caça e a pesca, sendo a sua exploração feita sem a derrubada da árvore. A sua
importância econômica levou ao estabelecimento de projeto fracassado de exploração da borracha,
com plantio em larga escala pelo capital estrangeiro, que construiu uma cidade, Fordlândia, com uma
indústria de processamento primário da borracha (JOFFILY, 1998). Este fracasso foi devido ao
ataque de um fungo (Microcyclus ulei - Dothideaceae), que em condições naturais não configura um
agente patogênico importante. No início do século XX, o plantio homogêneo da seringueira no
Oriente, onde não há o fungo patogênico do Brasil, substituiu a produção brasileira.
      Diversos projetos agropecuários estabeleceram-se ao longo do tempo, ressaltando-se a
produção de pimenta, por colonos japoneses, e da juta. Das atividades de exploração e de extração,
podem-se ressaltar a obtenção da castanha-do-Pará (Bertholetia excelsa – Lecythidaceae), do pau-
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rosa (Aniba rosaefolia – Lauraceae), de plantas medicinais e a caça, que podem ser atividade
predatórias.
       Atividades de extração de madeira nesta floresta extremamente diversificada, invariavelmente
levam à derrubada de uma grande quantidade de árvores que não têm elevado valor econômico.
Entre as espécies exploradas para madeira, salienta-se a extração do mogno (Swietenia macrophylla
– Meliaceae), que tem densidade maior entre os domínios das Florestas Ombrófilas Densa e Aberta.
       A história recente da devastação de grandes áreas de Floresta Ombrófila Densa Amazônica
está estreitamente ligada às políticas estabelecidas pelos governos militares, que se instalaram no
poder em 1964, especificamente a partir do Plano de Integração Nacional, implantado durante o
governo do general Emílio Garrastazu Médici em resposta às secas no Nordeste e ao vazio
demográfico da Amazônia. São desta época os incentivos fiscais à ocupação da Amazônia, em Mato
Grosso e no Pará, através de grandes projetos agropecuários de, em média, 47 mil hectares, assim
como os projetos agrícolas de assentamento em Rondônia, Pará, Acre e Mato Grosso,
principalmente ocupados por agricultores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e a construção
de grandes vias de acesso, como a fracassada rodovia Transamazônica, ao redor da qual propunha-
se o assentamento de 70 mil famílias (JOFFILY, 1998). Salientam-se as áreas ocupadas
recentemente pela cultura da soja no norte do Mato Grosso e em Rondônia, sobre chapadas de solos
férteis, com desmatamento de grandes áreas de floresta.
       Também faz parte deste processo o estabelecimento do Projeto Jari, de 1,6 milhão de hectares
ou, segundo o Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, 6 milhões de hectares, na divisa
entre o Pará e o Amapá, um complexo que envolvia a agropecuária (gado, madeira e arroz), a
mineração (caulim) e a indústria (celulose), que foi inviabilizado, em parte, pelo fracasso da
introdução de uma espécie de árvore asiática, a gmelina (Gmelina arborea - Verbenaceae), para a
produção de celulose.
       A derrubada e as queimadas que vêm ocorrendo em trechos da Floresta de Terra Firme
liberam para a atmosfera e para o solo quantidades elevadas de nutrientes, que são carregados para
as camadas mais profundas pelas altas precipitações pluviométricas, diminuindo rapidamente a
produtividade. Com a exposição da matéria orgânica e do húmus da superfície do solo, há oxidação
acelerada alterando as suas características físicas e químicas. Nestes processos é liberada para a
atmosfera uma grande quantidade de gás carbônico (CO2) incorporado na biomassa, considerado
fator relevante à ampliação do efeito estufa.
       A topografia plana da porção central da Bacia Amazônica faz com que as barragens de
hidrelétricas formem lagos que ocupam grandes extensões de áreas, alterando radicalmente os
biomas de interface e parte da floresta sobre terra firme. Além disto, as águas que drenam a Bacia
Amazônica correm lentamente, havendo depósitos de sedimentos nos leitos, que ficam rasos e
diminuem a vazão, com conseqüências também para as Florestas de Várzea e de Igapó e para os
Campos de Várzea.
       A Bacia Amazônica contém em seu interior diversos depósitos minerais, incluindo a, talvez,
maior província mineral de todo o mundo, a de Carajás, que ocupa uma área aproximada de 895 mil
    2
km com minério de ferro, bauxita, manganês, cobre, associado a ouro, prata e molibdênio,
cassiterita, níquel, zinco, tungstênio, caulim, cromo e, em leitos de rios ou jazidas, o ouro (JOFFILY,
1998), cujo garimpo tem representado dos maiores problemas ambientais na Amazônia,
principalmente devido ao mercúrio e à quantidade de sedimentos que é levada para o interior dos
rios.
       As maiores extensões da Floresta Ombrófila Densa Amazônica preservadas em Unidades de
Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais, Reservas Biológicas Nacionais e
Estações Ecológicas, somando 7.218.227ha, e em Unidades de Conservação de uso direto,
principalmente em Reservas Indígenas, Florestas Nacionais e em Reservas Florestais Nacionais,
somando 9.396.593ha (BRUCK et al, 1995).

Floresta Pluvial Tropical Atlântica - A costa atlântica brasileira, desde o norte do estado do Rio
Grande do Sul até Vitória, no Espírito Santo, é acompanhada por elevações ou cadeias de
montanhas costeiras que atingem 2900m de altitude. Estas serras e elevações são barreiras físicas
às massas de ar que provêm o ano todo do Oceano Atlântico, saturadas de vapor de água. Ao
6

depararem-se com estas barreiras, estas massas de ar se elevam, resfriam e causam precipitações
pluviométricas elevadas, que chegam a atingir 4000mm anuais.
       Do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, as serras costeiras, onde salientam as Serras do
Mar e da Mantiqueira, são formadas por rochas do Complexo Cristalino, compondo escarpas que
favoreceram a manutenção do maior trecho contínuo deste tipo florestal, e daí, até o Rio Grande do
Norte, há elevações do arenito da Formação Barreiras, compondo os tabuleiros, que raramente
atingem 200m de altitude. Estes tabuleiros sustentam a Floresta Ombrófila Densa Atlântica em todo
o Nordeste, exceto o sul da Bahia, até o norte do estado do Rio de Janeiro, quando são substituídos
pelas escarpas da Serra do Mar. Esta floresta também ocupa as planícies litorâneas, mais próximas
das serras costeiras, onde os solos são mais profundos e férteis, oriundos das rochas do cristalino,
                                       2
num total aproximado de 500.000Km .
       Nas diferentes latitudes há influência de massas de ar que promovem variações climáticas, de
tal forma que no sul no país a Floresta Pluvial Tropical Atlântica contém várias espécies da Floresta
Temperada Quente e Úmida, enquanto no nordeste há várias espécies comuns à Mata Ombrófila
Densa Amazônica.
       É encontrada sob climas com precipitações pluviométricas superiores a 1500mm, até 4000mm,
com, no máximo, dois meses de seca, e até 35% das chuvas concentradas em 3 meses,
temperaturas médias anuais de 20ºC a 24ºC, variando entre as temperaturas absolutas de 12ºC e
38ºC (NIMER, 1989).
       Por encontrar-se em altitudes variadas que, muitas vezes, superam 2000m, há mudanças nesta
floresta desde as planícies litorâneas, sobre solos aluviais ou depósitos marinhos, quase no nível do
mar, até os topos das serras. Por isto fala-se em diversas florestas na encosta atlântica: nos topos
de morros (Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana), nas encostas e nos fundos de vales (Floresta
Ombrófila Densa Montana e Sub-Montana), e nos sopés das serras e sobre as planícies costeiras
(Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas e Aluvial).
       Situa-se em geral em encostas que favorecem a penetração de luz difusa em seu interior e, por
isto, é extremamente complexa em sua estrutura vertical, composta por muitas espécies de líquens,
musgos, ptridófitas e ervas no solo, arbustos, arvoretas e palmeiras no seu interior, lianas e epífitas,
entre as quais muitas espécies de bromeliáceas, orquidáceas, gesneriáceas e pteridófitas, que
recobrem a maioria das árvores de grande porte.
       A ocupação do território brasileiro pelos portugueses, a partir de 1500, iniciou-se pelo litoral,
principalmente no Nordeste, e o primeiro ciclo econômico baseou-se na extração de um corante da
madeira do pau-brasil (Caesalpinia echinata - Leguminosae), uma espécie característica da Floresta
Pluvial Tropical Atlântica, com distribuição original desde o Rio Grande do Norte ao sul do estado do
Rio de Janeiro.
       O segundo ciclo econômico relevante no Brasil foi o da cultura da cana-de-açucar, que
estabeleceu-se inicialmente no litoral Sudeste e desenvolveu-se, principalmente, no litoral Nordeste,
sobre solo do tipo massapê (Vertissolos ou Grumossolos), rico em montmorilonita, e sobre os
tabuleiros, na chamada Zona da Mata, que se extende do Rio Grande do Norte ao Sergipe,
exatamente na região do domínio da Floresta Pluvial Tropical Atlântica, que já nesta época teve sua
cobertura original bastante reduzida.
       Esta cultura exigiu grande quantidade de mão de obra, inexistente no país na época, induzindo
o estabelecimento do escravismo, com incursões ao interior do país na busca de mão-de-obra
indígena, um dos fatores da expansão do território brasileiro, notadamente pelos bandeirantes
paulistas e, posteriormente, da chegada de escravos africanos, entre 1531 e 1780, o que fez com
que ingressassem no Brasil, aproximadamente, 1.900.000 escravos (CAMPOS & DOLHNIKOFF,
1993), ampliando a necessidade de terras para a agricultura, em geral obtidas de áreas florestadas,
e aumentou a exigência de lenha proveniente de florestas para o número crescente de moendas. Foi
praticada em grandes propriedades ou latifúndios, principalmente no Nordeste.
       A busca de ouro, prata e de pedras preciosas no interior do Brasil, teve início a partir de São
Vicente, inicialmente no Rio Paraguai, até o genericamente denominado império inca, na Bolívia e no
Paraguai. Posteriormente, foram descobertos depósitos de ouro na serra do Espinhaço, desde Belo
Horizonte até São João Del Rey, iniciando a época do ouro, no século XVIII. Posteriormente foram
descobertas minas de diamantes, o que favoreceu a abertura de caminhos através das serras
7

litorâneas (DEAN, 1997). Este garimpo era efetuado por escravos negros e, também, atraiu grande
contigente de europeus, aumentando a população residente, a produção de alimentos e as áreas
ocupadas.
       Durante todo o período da ocupação inicial, feita principalmente na faixa litorânea, as serras
costeiras no Sudeste e Sul do Brasil foram vencidas para atingirem-se os planaltos interiores, na
busca de produtos de origem animal e vegetal, as drogas do sertão, em diversos biomas,
principalmente da Amazônia, para a expansão das atividades agropecuárias e na busca de mão-de-
obra escrava indígena, sempre com alterações na Floresta Pluvial Atlântica. Também nas áreas da
Serra do Mar próximas às planícies litorâneas, a extração do ouro ainda ocorre em áreas restritas,
principalmente em São Paulo e Paraná.
       O café (Coffea arabica – Rubiaceae) teve sua introdução no Brasil feita em Belém, sendo
plantado para consumo doméstico, mas como cultura econômica a cafeicultura estabeleceu-se no
Rio de Janeiro, no início do século XIX, extendendo-se pelo Vale do Rio Paraíba em direção a São
Paulo, ocupando áreas no domínio da Floresta Ombrófila Densa Atlântica.
       Também neste século estabeleceu-se no sul da Bahia a cultura do cacau (Theobroma cacao -
Sterculiaceae), praticada em um sistema denominado de cabruca, que consiste na manutenção da
estrutura dominante da floresta e o plantio do cacau no sub-bosque, em condições sombreadas.
Atualmente, com problemas de doenças - vassoura-de-bruxa, a cacauicultura está em declínio,
levando à derrubada da floresta para o estabelecimento de pastos.
       Várias plantas do domínio da Floresta Pluvial Atlântica foram extraídas por seu valor comercial,
sejam produtoras de madeira, como a peroba: Aspidosperma parvifolium – Apocynaceae, o pau-
ferro: Caesalpinia ferrea, o jacarandá-da-Bahia, Dalbergia nigra – Leguminosae, e a maçaranduba,
Manilkara salzmannii - Sapotaceae, de palmito, Euterpe edulis - Palmae, medicinais ou ornamentais,
como várias espécies de Orchidaceae, Marantaceae, Bromeliaceae e Gesneriaceae, entre outras.
                                                       2                                              2
       Cobrindo originalmente cerca de 1.200.000Km , hoje resta em aproximadamente 92.000Km
(7,5% do total original) (MITTERMEIER et al. 1999), nem sempre preservada, restrita às encostas
íngremes, de difícil ocupação, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
       As maiores extensões da Floresta Ombrófila Densa Atlântica preservadas em Unidades de
Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas
Nacionais e Estaduais e Estações Ecológicas, principalmente nas Unidades de Conservação
estaduais, somando 2.503.798ha, e em UCs de uso direto, principalmente em Áreas de Proteção
Ambiental, somando 1.158.829ha (BRUCK et al, 1995).

Floresta Temperada Quente e Úmida - Floresta Úmida de Coníferas, Floresta de Coníferas, Mata
dos Pinhais, Floresta Subtropical, Floresta de Araucaria, Floresta Pluvial Subtropical, Floresta Pluvial
de Araucaria, Floresta Ombrófila Mista, Mata Alta Subtropical ou Floresta Temperada Quente e
Úmida - Distribui-se de forma contínua desde a porção central do estado do Rio Grande do Sul ao
sudeste do estado de São Paulo, reaparecendo em manchas disjuntas nas elevações mais altas das
serras da Mantiqueira e da Bocaina, no nordeste do estado de São Paulo e sudeste de Minas Gerais,
                                        2
em área aproximada de 1.200.000Km . Esta floresta tem registros de ter ocupado uma área mais
extensa no passado, quando da ocorrência de climas mais frios em áreas extensas do Sudeste,
parecendo representar relito no domínio de florestas de dicotiledôneas, relacionado com altas
altitudes de cadeias de montanhas costeiras.
       Situa-se sob climas com precipitação média anual entre 1250mm a 2250mm, sem período de
seca, embora apresente períodos de maior precipitação, quando 25%-33% do total de chuvas caem
no intervalo de 3 meses (NIMER, 1989).
       As maiores precipitações a que estão sujeitas permitem as existência de plantas muito
desenvolvidas e uma complexidade estrutural superior à observada nas florestas boreais de
coníferas, embora ainda haja dominância de uma espécie.
       Encontra-se sob clima temperado chuvoso e quente, sem estação seca e verão
moderadamente quente, com o mês mais quente com temperatura média menor que 22ºC. As
temperaturas médias anuais variam de 16ºC a 20ºC, com temperaturas absolutas de -10ºC a 40ºC.
sobre solos pouco desenvolvidos, dos tipos Litossolos e Cambissolos, ou sobre solos desenvolvidos,
principalmente Podzólico Vermelho-Amarelo ou Alissolo.
8

       Acha-se em regiões de abaixamento acentuado da temperatura no inverno, inclusive ocorrência
de geadas, que impõe um ritmo sazonal aos seus eventos fenológicos. É um tipo vegetacional que é
melhor conhecido quando representada pelo domínio de Araucaria angustifolia - Araucariaceae, o
pinheiro-do-Paraná, espécie de pinheiro que se caracteriza por sua forma típica de candelabro. É
denominada genericamente, por isto, de Floresta de Araucaria. No Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná pode aparecer associada a outra gimnosperma, o podocarpus (Podocarpus
lambertii - Podocarpaceae). Apesar do domínio da araucária em muitas regiões, esta floresta contém
fauna e flora muito ricas, com muitas espécies características.
       Salienta-se nesta floresta a ação dispersora de sementes de araucária feita pelas gralhas, que
enterram muitas das sementes coletadas para posterior alimentação e algumas, esquecidas, têm
melhores condições para germinação.
       No século XIX a cultura do fumo extendia-se pela porção centro-leste do estado do Rio Grande
do Sul, em áreas do domínio da Floresta Ombrófila Mista. No início do século XX a cultura do mate
expandiu-se desde o interior do Rio Grande do Sul pelo oeste do Paraná ao Mato Grosso do Sul
(CAMPOS & DOLHNIKOFF, 1993).
       A ocupação das áreas sob seu domínio deu-se a partir do século XVII, com a entrada de
bandeirantes e, principalmente, dos criadores de gado, embora apenas no século XIX instalam-se os
migrantes no Rio Grande do Sul, nas encostas sulriograndenses, em Santa Catarina, nos Vales dos
rios Itajaí, Itapocu e Tubarão, e no Paraná, no Planalto de Curitiba, em pequenas colônias,
inicialmente de alemães e, posteriormente, também de italianos, franceses e eslavos, entre outros,
enquanto no século XX volumosas correntes migratórias processaram-se dentro dos quadros
regionais, com descendentes dos antigos imigrantes e colonos ocupando as matas do oeste
catarinense e paranaense (IBGE, 1972).
       Um modelo diferenciado de colonização estabeleceu-se no Paraná, em Santa Catarina, no Rio
Grande do Sul e, também, no Espírito Santo e em pontos de São Paulo e Rio de Janeiro, baseado
em propriedades pequenas - 20-25ha - inicialmente de alemães e, depois, também de italianos,
poloneses, ucranianos, húngaros, romenos e letões (JOFFILY, 1998). Eram propriedades familiares,
de onde o crescimento das famílias originou grande parte do contingente que ocupou a partir da
década de setenta o Brasil Central e a Amazônia, com projetos agropecuários como os de plantio de
soja.
       As maiores extensões da Floresta Ombrófila Mista preservadas em Unidades de Conservação
restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas Estaduais e
Estações Ecológicas, principalmente nas UCs estaduais, somando 257.680ha, e em Unidades de
Conservação de uso direto, principalmente em Áreas de Proteção Ambiental e em Florestas
Nacionais, somando 143.021ha (BRUCK et al, 1995).

Floresta Estacional Semidecidual - Florestas Tropicais Semideciduais, Floresta Semidecidual
Tropical, Floresta Estacional Tropical, Florestas Mesófilas, Floresta Pluvial Estacional Tropical,
Floresta Estacional Mesófila Semidecidual, Mata do Rio Paraná, Floresta Tropical Mesofítica
Latifoliada Semidecidual, Floresta Subcaducifolia - O domínio desta floresta situa-se, em sua maior
extensão, no Sudeste do Brasil, com áreas contínuas ao Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste, e ao
Paraná, no Sul, aparecendo, ainda, em regiões descontínuas na borda da Floresta Ombrófila Densa
Amazônica, em Roraima, Mato Grosso e Pará, na escarpa oriental da Serra da Borborema, que se
extende do norte de Alagoas ao sul do Rio Grande do Norte, no agreste nordestino, e nas áreas
transicionais da Floresta Ombrófila Densa Atlântica para o agreste nordestino, na Zona da Mata no
Nordeste. Uma área de Floresta Estacional Semidecidual sob clima Temperado Quente e Úmido,
ocorre no Rio Grande do Sul, ocupando a vertente leste do Planalto e a parte leste da Depressão
Central Gaúcha.
       Situa-se sob climas sazonais, dos tipos tropical chuvoso, com chuvas de verão (Aw) e
temperados chuvosos e quentes (Cwa e Cwb), com chuvas de verão, com verão quente ou
moderadamente quente, com um período marcadamente seco, de 3 a 4 meses, precipitações anuais
entre 1500 e 2000mm, concentradas de 40-50% em três meses, temperaturas médias de 18ºC a
22ºC e temperaturas absolutas de –4ºC a 40ºC, com ocorrência de geadas no Paraná, São Paulo e
Minas Gerais. (NIMER, 1989).
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       Ocorre sobre Latossolos e sobre solos Podzólicos, profundos, lixiviados, distróficos, no oeste
do Estado de São Paulo, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, na Bahia em Alagoas, em
Pernambuco, no Mato Grosso e no sul do Pará, ou sobre Latossolo Roxo, eutrófico, formado de
derrames basálticos que ocorreram de Goiás ao Rio Grande do Sul, formando a Serra Geral,
salientando as regiões na margem das Cuestas Basálticas em São Paulo, na Depressão Periférica, e
no norte do estado do Paraná, além de manchas isoladas no sul do Mato Grosso do Sul e de Goiás.
Sob esta condição esta floresta apresenta composição florística e estrutura diferenciadas da floresta
sobre os solos distróficos, salientando-se a maior quantidade de espécies de madeira de elevado
valor econômico e o seu maior desenvolvimento.
       A ciclagem de nutrientes é rápida, sendo os detritívoros e decompositores que atuam na
serapilheira os responsaveis pelo maior volume de material ciclado.
       É uma floresta bastante desenvolvida, que apresenta arranjos verticais muito complexos,
havendo diversas espécies características da sub-mata, que são plantas herbáceas, arbustos e
árvores de pequeno porte, além de conter lianas e epífitas, sendo que suas espécies de árvores,
emergentes ou do dossel respondem ao clima com um ritmo sazonal, que determina que parte das
suas populações perde folhas no período seco do ano, caracterizando a semi-deciduidade foliar, e
caracterizando padrões de floração e de frutificação relacionados com a sazonalidade climática
(Figura 4).
       Situa-se próximo das regiões do país com as mais altas densidades demográficas humanas,
em topografias que favorecem atividades agropecuárias e, por isto, é o bioma que se encontra mais
alterado para a prática de várias atividades agrícolas. Além disto, contém várias espécies de
interesse econômico, como as perobas, os jequitibás e as canelas, o que resultou em não existirem
mais áreas significativas deste bioma em todo o seu domínio.
       No Nordeste esta floresta tem seu domínio nas regiões interiores do domínio da Floresta Pluvial
Tropical Atlântica, compondo a Zona da Mata, onde deu lugar à cultura da cana-de-açucar e à
pecuária desde o início do século XVI e, posteriormente, a grandes aglomerados urbanos. No século
XVIII a cana-de-açucar expandiu-se no planalto paulista, em áreas da Floresta Estacional
Semidecidual, sendo exportada para Portugal via Porto de Santos, denominado nesta época de porto
do açucar.
       A partir da metade do século XIX, a cafeicultura expandiu-se desde o Vale do rio Paraíba do
Sul em direção ao interior de São Paulo, chegando à sua região central e, no final do século, à sua
região norte, e aos estados de Minas Gerais e Espirito Santo. No início do século XX a cafeicultura
ocupou o oeste do estado de São Paulo e, posteriormente, o norte do Paraná (CAMPOS &
DOLHNIKOFF, 1993), sempre em áreas do domínio da Floresta Estacional Semidecidual.
       No final do século XIX, após a libertação dos escravos, são atraídos migrantes, notadamente
da Itália e da Espanha, para as fazendas de café. Esta ocupação foi acompanhada inicialmente pelo
estabelecimento de uma densa malha ferroviária, para o escoamento da produção, nas margens das
quais ocorreu o estabelecimento de núcleos urbanos que, por sua vez, exigiam o aumento da área
para a produção agropecuária.
       A cafeicultura foi a maior responsável pela destruição do bioma Floresta Estacional
Semidecidual, da qual restam poucos trechos, pequenos, em geral muito alterados, incapazes de
representar as suas riqueza e diversidade e variações dependentes da fertilidade dos solos
(Latossolo Roxo, Terra Roxa Estruturada, Latossolo Vermelho ou Vermelho-Amarelo).
       No início da década de 60 este tipo de floresta ainda estava mantida em áreas extensas nos
estados de Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais e sul da Bahia, de onde desapareceu
até o final da década de 80 (EMBRAPA, 1996). Em meados da década de 70 até o início da de 80, é
estabelecido no país o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que durou até o fim dos anos 80,
que levou à expansão da área de cultivo da cana-de-açucar, principalmente no estado de São Paulo
mas, também, no Paraná e no Mato Grosso do Sul, o que teve como conseqüência a destruição de
muitos fragmentos remanescentes deste tipo florestal.
       Durante este período a cana-de-açucar dividiu grande parte do território paulista com a
citricultura que, com a soja, compõe item importante nas exportações brasileiras. No Paraná, além
da soja e do algodão, o trigo, cultura de inverno, tem expandido sua área cultivada. Esta floresta
10

situa-se em regiões de densidade populacional elevada, onde a agricultura utiliza, em geral,
tecnologia avançada.
      As maiores extensões da Floresta Estacional Semidecidual preservadas em Unidades de
Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas
Estaduais e Estações Ecológicas, principalmente nas UCs estaduais, somando 338.380ha, e em
Unidades de Conservação de uso direto, principalmente em Áreas de Proteção Ambiental, somando
690.730ha (BRUCK et al, 1995).

Complexo do Cerrado - Ocorre no norte da Amazônia, em Roraima, e no Brasil Central. Ocupa, no
                                                          2                         2
Brasil Central, uma área aproximada de 2.100.000Km , dos quais 700.000 Km com forte ação
antrópica (EMBRAPA, 1996).
       Situa-se principalmente sob clima tropical, com precipitações entre 500 e 1500mm anuais,
chuvas de verão (Aw) e invernos secos, de até 5-7 meses, típico de savanas, ou sob clima
temperado chuvoso e quente (Cwa), com mês de maior temperatura média superior a 22ºC.
       Encontra-se predominantemente sobre Latossolos e sobre Solos Podzólicos (Alissolos),
profundos e arenosos, o que acentua o efeito do período de seca, bastante lixiviados, distróficos,
ácidos, com teores elevados de alumínio, e com baixa capacidade de reter nutrientes, pela pequena
quantidade de humus ou, ainda, sobre Areias Quartzosas e sobre camadas lateríticas (Neossolos),
que impedem o desenvolvimento de plantas de grande porte.
       A maioria das plantas perde folhas ou tem morte de seus ramos de brotamento no período
seco do ano, que varia de 3 a 5 meses, acarretando no acúmulo de material combustível sobre o
solo. Os eventos fenológicos, como a floração, frutificação, brotamento e queda de folhas são
marcados pelos ritmos climáticos, além das espécies apresentarem estruturas caulinares e
subterrâneas, que permitem sua sobrevivência durante as queimadas, que ocorrem no período seco
do ano.
       O Cerrado é formado por três diferentes biomas: Campos Limpos, Savanas e Florestas
(Cerradão), sendo que as savanas se distinguem em Campo Sujo, Campo Cerrado e Cerrado senso
restrito (COUTINHO, 1978), nos quais ocorrem árvores esparsas, em diferentes densidades, por
entre as quais desenvolve-se um estrato herbáceo denso, dominado por gramíneas. O que dá uma
unidade a esta vegetação são as floras arbustivo-arbórea (silvestre) e herbáceo-subarbustiva
(campestre), que interpenetram as diversas fisionomias savânicas do Cerrado.
       As fisionomias são determinadas ora pela quantidade de nutrientes ou pela existência de uma
camada de impedimento no solo (lateritas), ora pela freqüência e intensidade das queimadas e, em
geral, o climax é estabelecido por vários fatores atuando conjuntamente (policlímax).
       O Complexo do Cerrado ocupa aproximadamente 25% do território nacional, distribuindo-se de
forma contínua nos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, no Distrito Federal, no centro-
sul de Mato Grosso, sul do Maranhão e do Piauí, oeste da Bahia e centro-oeste de Minas Gerais.
Aparece, ainda, em manchas disjuntas nos Estados do Paraná, São Paulo, Pernambuco, Rondônia,
Amazonas, Pará, Amapá e Roraima. Há Savana, também, no Rio Grande do Sul, compondo os
Campos Temperados, com flora e fauna muito distintas das do Cerrado.
       A região de ocorrência deste complexo assenta-se sobre as superfícies de aplainamento e
sobre os Chapadões do Brasil Central, além de ocupar parcialmente a Depressão Central.
       É um conjunto de biomas no qual o fogo é relevante na ciclagem de nutrientes pela atmosfera e
no solo, podendo levar a um empobrecimento de áreas queimadas intensivo e freqüentemente, e de
determinar adaptações da flora e da fauna. Além de ocorrerem queimadas naturais, existem dados
que indicam queimadas antrópicas muito antigas, com registro de sua incorporação nos hábitos
culturais dos índios, que poderiam atuar há muito tempo.
       As formações e fisionomias são determinadas ora pela quantidade de nutrientes ou pela
existência de uma camada de impedimento no solo (lateritas), ora pela freqüência e intensidade das
queimadas e, em geral, o climax é estabelecido por vários fatores atuando conjuntamente
(policlímax).
       No sul do Estado do Mato Grosso do Sul aparece a maior área contínua de Campo Limpo no
Centro-Oeste, denominada de Campo de Vacaria, atualmente extremamente degradado, devido ao
pastoreio intensivo e às queimadas freqüentes, o que não permite a sua identificação com o Campo
11

Limpo do Cerrado, embora sua localização permita inferir sobre a contribuição maciça de sua flora.
Excepcionalmente para a região, situa-se sobre solo fértil, originado de rocha magmática vulcânica
básica. (SANTOS et al., 1977), sendo um campo de espécies de Gramineae, que formam um tapete
herbáceo contínuo, entremeado às vezes por poucas plantas arbustivas.
      O Cerradão ocorre predominantemente nas regiões de transição deste domínio para os
domínios de florestas, principalmente no norte de Mato Grosso, no oeste do Piauí e em São Paulo,
onde era a fisionomia predominante do Cerrado.
      Um grande número de árvores e de plantas herbáceas apresenta sistemas subterrâneos muito
desenvolvidos, como os xilopódios, por exemplo, o que permite sua sobrevivência nos períodos mais
secos do ano e a sua rebrota após as queimadas, sendo comum a reprodução vegetativa.
      Os caules apresentam suber bastante espesso, que atua como isolante térmico durante as
queimadas, protegendo os tecidos mais sensiveis. As árvores são tortuosas, devido a morte das
gemas e rebrota lateral, entre outros fatores.
      O Cerrado tem sido o palco onde as populações indígenas desenvolveram culturas diferentes
em decorrência de suas origens, seu tempo histórico e suas possibilidades tecnológicas. Grupos de
caçadores-coletores que ocuparam as áreas do Cerrado poderiam obter recursos de coleta e cata,
como ovos de aves e de répteis, insetos comestíveis, mel silvestre e moluscos, a caça de mamíferos,
de espécies variadas e de tamanhos diversificados, desde cervos, veados, capivaras, macacos,
tamanduás, tatus, de répteis, como as tartarugas, jacarés e os lagartos, espécies de aves, como as
emas, além de peixes e frutos. (BARBOSA & SCHMITZ, 1998)
      Há cerca de 4000 anos atrás, os povos Jê espalham-se pelo Brasil Central, no domínio do
Cerrado, trazendo o hábito da cultura de milho e do feijão e da pesca com o timbó, um cipó tóxico
que entorpece os peixes (JOFFILY, 1998). No domínio do Cerrado são registradas queimadas de
mais de 10.000 anos, que podem ser de origem natural ou antrópica. É conhecida a prática da caça
associada à queimada de áreas delimitadas no Cerrado, com conseqüente rebrota de plantas
herbáceas, principalmente gramíneas, que atraem diversos animais herbívoros para o pastejo.
      Porque o cerrado situa-se em topografia favorável à agricultura, é um bioma que vem sendo
devastado em todo o país, e porque é rico em espécies de gramíneas, é usado como pasto natural
para a pecuária extensiva, estimulada pela derrubada e rareamento de arbustos e árvores, colocando
os nutrientes em disponibilidade na atmosfera e no solo, através das queimadas.
      No século XIX, a pecuária extensiva baseada em pastos naturais, já havia se instalado em todo
o Brasil Central, onde ainda prevalece na porção norte do domínio do Cerrado, melhor preservado,
enquanto nos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo acha-se sob
atividade pecuária que emprega técnicas modernas e sob agricultura de exportação, principalmente
da soja, de citricultura e da cana-de-açucar, altamente tecnificadas, com maior grau de devastação.
      A idéia de ocupação do Planalto Central brasileiro teve sua maior expressão na mudança da
capital do país para região do Cerrado (Brasília, DF), em 1960, e pelo incentivo à agricultura, ligado à
adoção de estratégias e políticas de desenvolvimento e investimentos em infra-estrutura entre 1968 e
1980 (ALHO & MARTINS, 1995), já que não há impedimento mecânico ao seu uso agropecuário,
porque os solos do Cerrado são passíveis de uso com calagem e adubação, além de irrigação. Por
isto, grandes áreas calcáreas no domínio do Cerrado, principalmente de cavernas calcáreas, têm
sido exploradas com alterações ambientais irreversíveis.
      Foi notadamente em meados da década de sessenta que houve expansão acentuada da
agropecuária nas regiões ocupadas pelo Cerrado, a partir de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas
Gerais, chegando em seguida ao Mato Grosso, Tocantins, sul do Piauí e oeste da Bahia, baseada
em políticas de crédito subsidiado, a criação do Programa para o Desenvolvimento do Cerrado –
Polocentro, para o desenvolvimento da agricultura, tendo incorporado cerca de 2,4 milhões de
hectares à agricultura, sendo favorecida a cultura da soja. O programa Cooperativo Nipo-brasileiro
para o desenvolvimento do Cerrado – Prodecer, promoveu o assentamento de agricultores
experientes do Sudeste e do Sul do país na região do Cerrado, com financiamento da Japan
International Cooperation Agency – JICA, da década de 80, prevendo a implantação de fazendas de
grande porte em 60 milhões de hectares, para o cultivo da soja e de milho.
      Pode-se dividir o Cerrado em relação às atividades agropecuárias em três categorias: a) área
de agricultura comercial moderna (Mato Grosso do Sul, sul de Mato Grosso, centro, sudoeste e
12

sudeste de Goiás, Distrito Federal, Triângulo Mineiro e oeste de Minas Gerais), sendo a maior
produtora de soja, milho, café e feijão deste bioma, b) agricultura periféria em expansão, em partes
de Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Bahia, além dos municípios de Barra do Garças, Nova
Xavantina, Canarana e Água Boa (Mato Grosso) e c) agropecuária incipiente, nos estados do
Maranhão e Piauí, e partes de Mato Grosso e Tocantins (ALHO & MARTINS, 1995).
      A invasão biológica do Cerrado por plantas exóticas, principalmente por Gramineae africanas,
tem alterado sensivelmente áreas extensas de fisionomias do Cerrado com estrato herbáceo
contínuo, principalmente áreas fragmentadas, devido ao efeito de borda. Em geral são espécies
adaptadas às queimadas e que têm grande capacidade competitiva, como o capim-gordura (Melinis
minutiflora), o colonião (Panicum maximum), o capim-andropogon (Andropogon gayanus), o capim-
elefante (Pennisetum purpureum), a braquiária (Brachiaria decumbens) e o capim-jaraguá
(Hyparrhenia rufa), entre outras (ALHO & MARTINS, 1995)
      É prática corrente o uso de sua madeira para a obtenção de carvão para fins industriais,
siderúrgicos ou de olarias, principalmente em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e
Goiás.
      Com este conjunto de propostas de ocupação, o Cerrado vem sendo devastado de forma
                                                          2                          2
acelerada. Ocupava originalmente a área de 1.800.000Km e hoje ocupa 350.000Km (20%) da área
original (MITTERMEIER et al. 1999), dos quais apenas 1,8% de seu território (15.548 mil hectares)
protegido por unidades de conservação de proteção integral: Parques Nacionais, Reservas
Biológicas e Estações Ecológicas (ALHO & MARTINS, 1998).
      As maiores extensões do Cerrado preservadas em Unidades de Conservação restritivas
encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas Nacionais e Estaduais,
Estações e Reservas Ecológicas, somando 2.068.385ha, e em Unidades de Conservação de uso
direto, em Áreas de Proteção Ambiental, principalmente sob gerenciamento estadual, somando
587.904 (BRUCK et al, 1995).

      Complexo da Caatinga – O Complexo da Caatinga é formado Florestas Deciduais, por
formações Arborizadas, não florestais e pela Savana-Estépica, o que se reflete nos vários termos
empregados para designá-la, como agreste, carrasco e seridó.
        O termo Savana-Estépica foi estabelecido para designar os biomas tropicais com
características estépicas, inicialmente na África, referindo-se a uma formação decídua, espinhosa e
com cobertura herbácea descontínua. No Brasil há equivalência deste bioma com algumas
formações da Caatinga, que ocorre no Nordeste nos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Ceará,
Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba, norte de Minas Gerais e leste do Piauí, ocupando
                                                                     2
aproximadamente, 12% do território nacional, ou 1.100.000Km , dos quais aproximadamente
            2
800.000Km com ação antrópica (EMBRAPA, 1996).
      O Complexo da Caatinga é observado sob clima seco, de 6 até 11 meses secos, quente e com
temperatura média anual superior a 18ºC, semi-árido. As precipitações, que vão de 200 a 750mm
anuais concentram-se em poucos meses, no inverno, sendo que 45% a 70% do total de precipitação
anual concentra-se em 3 meses (NIMER, 1989) muitas vezes ocasionando enchentes de grandes
proporções e, ao longo do ano, interrompendo o fluxo de rios intermitentes.
      A quantidade pequena de água precipitada, com distribuição concentrada, e as altas
temperaturas, dificultam a desagregação química das rochas e favorecem a erosão e, por isto,
predominam solos pouco desenvolvidos (Litossolos) ou de até 1m de profundidade (Solo Bruno não-
Cálcico ou Luvissolos), este rico em cálcio, magnésio e potássio, pedregoso, salientando-se, ainda,
os afloramentos rochosos que formam os chamados lajedos. Também são encontrados Solos
Salinos, que são solos de regiões áridas e semi-áridas, de baixadas, com concentração muito alta de
sais, especialmente o cloreto de sódio, que é trazido à superfície na solução do solo e concentra-se
após a evaporação, processo que pode ser acelerado pela irrigação (LEPSCH, 1976).
      Por estas características, a Caatinga é o bioma zonal brasileiro com menores riqueza e
diversidade de flora e de fauna.
      O termo Caatinga é empregado para designar o aspecto esbranquiçado dos ramos e caules
das espécies arbustivas e arbóreas que compõem este bioma, ressaltados no período seco do ano,
quando estas espécies perdem totalmente suas folhas. Várias de suas espécies têm adaptações
13

morfológicas que permitem a armazenagem de água, como nas raízes do umbuzeiro (Spondias
tuberosa - Anacardiaceae) e no caule da barriguda (Cavanilesia arborea - Bombacaceae).
       O gado bovino, que inicialmente foi introduzido ao longo do litoral nordestino, acompanhando a
cultura da cana-de-açucar, a partir do século XVII penetrou a zona do sertão, existindo pelo menos
quinhentas fazendas de gado de corte no domínio da Caatinga em 1700 (DEAN, 1997), em geral em
regime extensivo, dada a cobertura rala de gramíneas, em grandes latifúndios. Atualmente há
grandes rebanhos de caprinos no sertão nordestino, espécies adaptadas à seca, principalmente na
Bahia.
       No século XIX a cultura do algodão arbóreo, que anteriormente restringia-se a pequenas
propriedades, ocupava áreas extensas do sertão nordestino, nas zonas não canavieiras,
principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, e expande-se
no início do século seguinte para todos os estados do Nordeste (CAMPOS & DOLHNIKOFF, 1993).
       A cultura do fumo era desenvolvida em áreas localizadas, principalmente no Recôncavo Baiano
para, no início do século seguinte, expandir-se, principalmente na Bahia, Sergipe e Alagoas. É uma
cultura que exige muita mão de obra, por ser muito exigente principalmente durante a safra
(JOFFILY, 1998).
       É um bioma que apresenta extensas áreas com grandes riscos de desertificação,
principalmente no estado do Ceará, e está em etapa avançada da constituição de desertos no
sudeste do estado do Piauí, na região de Giboéus, onde os principais fatores à desertificação foram
os desmatamentos e o sobrepastejo (EMBRAPA, 1996).
       Pelas características climáticas regionais, as alterações nesse bioma para práticas agrícolas se
dão em pequena escala, e o uso da madeira para fins de fornos para calcário ou outros usos
dificultam a regeneração deste bioma cuja produtividade primária é extremamente baixa, exigindo
áreas extensas à produção. São desenvolvidas algumas culturas irrigadas no domínio da Caatinga,
como as de uva, ao longo do rio São Francisco e de melão, no Rio Grande do Norte, além de
algodão e abacaxi. A pecuária extensiva se dá principalmente em grandes latifúndios, no chamado
sertão.
       As maiores extensões da Caatinga preservadas em Unidades de Conservação restritivas
encontram-se em Parques Nacionais, em Reservas Biológicas Nacionais e em Estações Ecológicas,
somando 197.111ha, e em Unidades de Conservação de uso direto, em Áreas de Proteção
Ambiental e em Floresta Nacional, somando 50.162ha (BRUCK et al, 1995).

      Para os biomas apresentados, um dos fatores mais relevantes à degradação é o crescimento
populacional, em geral associado à ausência de planejamento para o uso de espaços e recursos
disponíveis de forma sustentada, como é genericamente denominado o uso que não leve ao
esgotamento dos recursos naturais. Uma das conseqüências do aumento populacional é a ampliação
de áreas à agropecuária, com devastação de áreas da vegetação natural, que pode ter ampliado seu
efeito à degradação se com o uso de tecnologia avançada, além dos aumentos de áreas urbanas e
da demanda por serviços e recursos naturais. Os efeitos do crescimento populacional podem ser
multiplicados por processos de migração, impactando ainda mais certas regiões.
      Há diversos biomas mantidos em Unidades de Conservação restritivas com áreas insuficientes
para representar toda a heterogeneidade que contêm. As Unidades de Conservação com uso
indireto, gerenciadas pela União ou pelos estados, somam 19.625.376ha, enquanto as de uso direto,
menos restritivas, 140.881.814ha, e as reservas de recursos 51.045ha. A contribuição dos municípios
é muito pequena (BRUCK et al, 1995).
      Entre os biomas apresentados há problemas comuns que podem levar à degradação,
ressaltando-se a sua substituição por culturas monoespecíficas ou pecuária, com a diminuição da
diversidade biológica e, como conseqüência, a do uso potencial de recursos contidos nas espécies.
Em geral estas atividades acarretam aumento de processos erosivos, agravados pela existência de
solos arenosos, topografia acidentada e precipitações elevadas, além de promoverem a destruição
de hábitats. Na substituição dos biomas por outros sistemas, agrícolas ou urbanos, são perdidas,
também, importantes funções de equilíbrio que os biomas exercem no ambiente, seja na proteção do
solo, na manuteção dos ciclos hidrológicos, no tamponamento dos efeitos dos fatores físicos do
ambiente sobre a superfície da terra, seja a radiação solar, a temperatura, a precipitação e a ação de
14

ventos. Também podem ser perdidos valores estéticos, quando paisagens naturais, em geral
heterogêneas, são substituídas por paisagens antropizadas, geralmente homogêneas.
      Os recursos que representam ou que estão contidos em muitas espécies de plantas e de
animais têm características restritivas à exploração, que podem ser generalizados para os diversos
biomas, terrestres, aquáticos ou de transição. Quanto mais rico e diverso for o bioma, mais difícil a
exploração do recurso, dado o pequeno número de organismos apresentados por uma população.
Isto é relevado pelo fato de todos os biomas apresentados possuirem variações regionais e locais de
estrutura e de composição florística e faunística, que aumentam a diversidade biológica que contêm.
      Em relação às espécies de animais, o maior problema relacionado com a extração, caça ou
pesca, bem como com a extração seletiva de plantas, é a diminuição excessiva de organismos nas
populações, o que pode acarretar a extinção local ou, dependendo da extensão e da intensidade de
exploração, em grande escala, com conseqüências nas cadeias ou teias tróficas das quais participam
as espécies exploradas.
      Principalmente devido à perda de hábitat, mas também por causa da caça para diversos fins,
dentre as espécies de animais em perigo de extinção ressaltam-se aqueles do topo da cadeia
alimentar, como a onça-parda ou sussuarana, a onça pintada, os gatos-do-mato, como a jaguatirica e
os gatos-maracajás, os cachorros-do-mato, o lobo-guará, os gaviões e os falcões, que necessitam
de territórios muito amplos à caça e reprodução, os jacarés, a lontra, as doninhas, as ariranhas, as
sucuris, as surucucus, os grandes mamíferos, como a anta, os cervos, os veados, os tamanduás, os
tatus, as preguiças, as baleias, botos, golfinhos e peixes-boi, os primatas: micos, sagüis, guaribas,
bugios, uacaris, sauás e diversos macacos, os peixes consumidos por sua carne, como o pirarucu e
o tambaqui e diversas outras espécies sob sobrepesca, assim como as tartarugas, o jaboti, os
cágados e o tracajá, e lagartos, algumas aves são caçadas para consumo, como o inambu, o jaó, o
macuco, o mutum, o jacu, os patos, as pombas, as rolinhas, enquanto outras são ornamentais, como
os periquitos, os papagaios, as arararas, os galos-da-serra e as saíras, ou canoras, como os sabiás,
o canário-da-terra, o bicudo, o pitassilgo, o pássaro-preto, o curió e as coleirinhas, entre outras.
      Afora a grande quantidade de espécies conhecidas que são extintas localmente, ressaltam-se
as extinções de espécies pouco conhecidas ou ainda não descritas pela ciência, como as de algas,
fungos, briófitas, pteridófitas, insetos, escorpiões, aracnídeos, miriápodes, anfíbios e outros grupos
de plantas e de animais, notadamente de pequeno porte
      A fragmentação de hábitats naturais acarreta a diminuição do tamanho de várias populações,
de plantas e de animais, seja pela diminuição das áreas ou pela competição pelos recursos
remanescentes, tornando-as muitas vezes inviáveis, impedindo a circulação de animais de diversas
espécies, com o estabelecimento de áreas de agricultura, áreas urbanas, estradas ou outros
obstáculos, intransponíveis, além do estabelecimento de efeitos de borda, como mudanças
microclimáticas e da luminosaidade, que facilitam a invasão biológica e o perigo de incêndios e de
outros fatores de perturbação.
      Os tipos de usos mais comuns em relação às plantas referem-se à produção de alimentos na
forma de frutos, sementes ou palmitos, de condimentos, aromatizantes e corantes, de uso têxtil,
produtoras de cortiça, taníferas, com elevados teores nas cascas ou nos troncos, com exsudatos no
tronco, como resinas, gomas, bálsamo, produtoras de óleos e gorduras, medicinais, ornamentais
para jardinagem, empregadas no artesanato, plantas apícolas e aparentadas de plantas cultivadas,
como no caso do cajú, da mandioca, do abacaxi, da ata, da pinha, do cará, do caqui, da goiaba, do
maracujá, do amendoim e do guaraná, entre outras (ALHO & MARTINS, 1995).
      A introdução de espécies de plantas e de animais no território brasileiro tem elevado o
problema das invasões biológicas passíveis de ocorrerem nos diversos biomas, o que tem acarretado
na diminuição da diversidade biológica, quando são competidores mais fortes, ou representam
pragas ou agentes de doenças. Alterações em áreas naturais têm acarretado na transformação de
espécies sob equilíbrio em pragas ou patógenos, agentes de doenças diversas.
      Para todos os biomas, um dos problemas mais relevantes refere-se ao aumento da população
humana, principalmente concentrada em grandes núcleos urbanos, devido a geração de lixo, a
impermeabilização do solo, a necessidade de aumento da produção agrícola, a geração de esgoto,
não tratado, o aumento na demanda de água para fins domésticos, industriais, de serviços, de lazer
e para a produção de alimentos, seja pescado ou para uso na agricultura.
15

      A maioria dos municípios brasileiros não possui rede coletora de esgoto (Norte, 92%, Centro-
Oeste, 87%, Nordeste 74%, Sul, 61% e Sudeste, 9%), o que é agravado pelo fato de a grande
maioria dos municípios, independente da região, não promover o tratamento deste esgoto (98% no
Norte, 96% no Nordeste e no Centro-Oeste, 93% no Sul e 85% no Sudeste). Também o lixo não
recebe tratamento adequado, sendo a grande maioria depositada em vazadouros a céu aberto
(IBGE, 1997, p.198-200), sendo importante fator à degradação de biomas, notadamente aquáticos.
      Os biomas localizados ao longo do litoral, terrestres, de interfaces ou aquáticos, estão mais
sujeitos à degradação proveniente de grandes aglomerados humanos, já que a maioria da população
brasileira localiza-se concentrada nesta zona.

                                              BIBLIOGRAFIA

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    Brasil. Volume 3: Região Centro Oeste. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia. p.59-84.

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Mantovani Biomas[1]

  • 1. 1 A exploração e o uso de recursos dos principais biomas brasileiros Waldir Mantovani Universidade de São Paulo; Curso de Gestão Ambiental (EACH-USP); Av. Arlindo Béttio, 1000, São Paulo-SP, 03828-000. E-mail: wmantova@usp.br Principalmente a partir do final da década de 60, a preocupação com problemas ambientais vem aumentando de maneira muito rápida em todo o mundo. Isto se deve aos impactos causados pelo crescimento da população humana mundial, sendo que em 1650 o número de habitantes era de 500 milhões, passando a 1 bilhão em 1850, 2 bilhões em 1930 e 4 bilhões em 1975, sendo atualmente superior a 5 bilhões. O crescimento da população humana deveu-se a vários eventos na civilização, como o domínio do fogo, a prática da agricultura, a urbanização, a industrialização e os avanços na medicina, somados ao aumento do uso de recursos naturais. Grande parte dos problemas de degradação ambiental no Brasil relaciona-se com a ausência de uma cultura de ocupação dos espaços tropicais, respeitando as características dos diversos ecossistemas, notadamente suas riqueza e diversidade e da inadequação dos processos de gestão dos recursos naturais. A deterioração ambiental teve sempre o impulso de empreendimentos econômicos que não consideraram as alterações do meio em seus custos, iniciando com a extração do pau-brasil, que acarretou a derrubada de faixas extensas de mata pluvial tropical Atlântica no Nordeste, esteve associada às práticas agrícolas não conservacionistas, notadamente de monoculturas, seja canavieira, cafeeira, da soja, de pastagens e de florestas homogêneas, além da tradição itinerante que algumas destas culturas tiveram no passado, ao estabelecimento de um modelo de propriedade da terra que favoreceu a sua exploração e não como espaço de vida e, em conseqüência, o estabelecimento de grande quantidade de latifúndios, à extração de diversos minérios, feita sem qualquer tecnologia conservacionista, às grandes obras hidrelétricas, rodoviárias e ferroviárias não planejadas em relação às características ambientais, à ausência de políticas urbanas diante da crescente metropolização das cidades, estimulada pelo êxodo rural e por fluxos migratórios, principalmente a partir do Nordeste, à industrialização sem regras ambientais, feita através da importação de equipamentos obsoletos, altamente poluentes, que vinham sendo substituídos em países mais desenvolvidos, da ausência de tradição na conservação do patrimônio histórico e artístico, e da complacência dos órgãos responsáveis pelo cumprimento da legislação ambiental. Também ressaltam na desvalorização das questões ambientais problemas econômicos e sociais que influem em países como o Brasil, como a dívida externa e as ações para o seu pagamento, comprometendo grande parte das divisas do país, a pobreza de grande parte da população, com conseqüência na saúde e na educação, a desigualdade social que vem se acentuando com a concentração de renda, o analfabetismo que impede o exercício pleno da cidadania, o desemprego que gera um conjunto de problemas sociais, e a falta do exercício pleno da democracia, levando a que os problemas ambientais não sejam considerados pela sociedade como problemas de qualidade de vida. Além desse conjunto, um dos mais importantes indutores do conflito que existe à conservação da diversidade biológica é a mudança, ao longo da história, na relação entre o homem e a natureza, posicionados atualmente como opostos, sendo que poucas ações são concretizadas considerando o homem como componente da própria natureza. Bioma é a mais ampla comunidade biótica reconhecida no nível geográfico, sendo definido como uma subdivisão biológica que reflete as características ecológicas e fisionômicas da vegetação. Corresponde, de um modo geral, às regiões climáticas, ainda que outros fatores ambientais possam ser importantes, como o solo e o fogo, sendo caracterizado em termos de todos os organismos vivos e de suas interações com o ambiente. É equivalente aos termos formação vegetal e tipos de formação, que são tipos de vegetação mundiais, com uma aparência e formas de vida uniformes (ALARY, 1994). Os biomas que contêm muitas formas de vida são os mais ricos em espécies de
  • 2. 2 plantas e de animais, já que esta é uma característica das espécies, e situa-se em regiões sob temperaturas elevadas, precipitações pluviais regulares e solos desenvolvidos, o que determina, pela ausência de limites físicos do ambiente, interações bióticas muito fortes, outro fator relevante à riqueza e à diversidade biológicas. A distribuição dos biomas na superfície terrestre relaciona-se principalmente com os climas e, dentre os seus fatores, mais diretamente com a temperatura e a precipitação. Em regiões de climas transicionais, o fogo e características do solo são os maiores determinantes. Quando são respostas às características de climas, os biomas são denominados zonais e quando são determinados por outros fatores, em geral o substrato ou o fogo, são chamados azonais. 2 A maior parte do território brasileiro, de aproximadamente 8.512.000Km , situa-se em região tropical, no Hemisfério Sul (AZEVEDO, 1972), e por sua posição no globo terrestre, sua grande extensão territorial, a forma do continente sul-americano, as diversas características geomorfológicas, a ação de correntes atmosféricas e oceânicas e de massas de ar, contém diversas regiões climáticas. Associadas à influência de substratos variados, incluindo tipos de solos, e à história pretérita do continente sul-americano, seja relacionada à deriva continental, a movimentos de massa diversos, paleoclimas e fluxos migratórios de plantas e de animais, grupos de plantas e animais evoluíram conjuntamente, sob condições particulares de clima, solo e diversos outros níveis de interações, diferenciando-se de maneira a compor faunas e floras características de seus vários biomas ou formações vegetais, que ainda preservam grande parte da diversidade biológica de todo o planeta. Está predominantemente sob a ação de Massas Tropicais, Continentais e Oceânicas, e da Massa Polar Oceânica, na região Sul, até o estado de São Paulo e, como conseqüência, a maioria de seu território está sob climas tropicais, apresentando, ainda, clima semi-árido no Nordeste e climas mesotérmicos, temperados quentes e úmidos, no Sul e no Sudeste, com precipitações que vão de 250 mm a até mais de 4000 mm por ano. Podem-se sintetizar os tipos de clima no Brasil da seguinte maneira: Clima Tropical de Floresta Pluvial, na Amazônia e na costa Atlântica no Sul, Sudeste e Nordeste, Clima Tropical de Savana, no Brasil Central, Clima Semiárido Estépico, de baixas altitudes, da Caatinga no Nordeste, Clima Mesotérmico Subtropical Úmido, sem estação seca e verões quentes, da Floresta Ombrófila Mista, ou com Araucaria, e dos Campos Sulinos, Clima Mesotérmico Oceânico, sem período seco, quente a moderadamente frio, da Floresta Ombrófila Mista, e Clima Mesotérmico Subtropical Úmido, com inverno seco, da Floresta Estacional Semidecidual, (NIMER, 1989). 2 Cerca de 5.000.000Km do território nacional correspondem a áreas cristalinas fortemente trabalhadas pelo tectonismo e pela erosão - serras e planaltos cristalinos representadas principalmente pelos Maciços das Guianas, do Brasil Central e Atlântico, e a bacias de sedimentação muito antigas, paleozóicas, ressaltando-se as Bacias do São Francisco, Corumbá, Itajaí, Parnaíba, Amazônica e do Paraná, e mesozóicas, onde se salientam o deserto Botucatu e o vulcanismo 2 basáltico, a Bacia do Alto Paraná - chapadas e planaltos sedimentares. Os restantes 3.500.000 km constituem as terras baixas do país - tabuleiros e planícies, de natureza sedimentar e de formação recente, terciárias, onde salienta a série Barreiras, e Quaternárias, destacando-se o pantanal mato- grossense e os depósitos litorâneos (AZEVEDO, 1972; ALMEIDA, 1972). Apesar de sua extensão territorial, o Brasil não possui grandes amplitudes altimétricas, variando a distribuição de suas terras em 60% até 300 de altitude e aproximadamente 3% acima de 900m (AB’SABER, 1972). O conjunto da ação do clima sobre rochas matrizes diversas, mais os depósitos e movimentos de massa, determinam a existência de diversos tipos de solo, salientando-se os Latossolos (Oxisolos) na maior parte do território brasileiro. São caracterizados como solos antigos, profundos, bem drenados, ácidos, geralmente oligotróficos, na maioria das suas variações arenosos, e os Podzólicos (Ultisolos), encontrados em grande extensão da Amazônia, nas costas Nordeste-Sudeste, no centro do Paraná e do Rio Grande do Sul, no oeste e centro-nordeste de São Paulo, no leste de Minas Gerais e em manchas dispersas no Centro-Oeste e no interior do Nordeste, sendo solos estruturados, com horizontes bem definidos, geralmente oligotróficos, ácidos, arenosos; Luvissosolos (Bruno-não-Cálcico), que são solos moderadamente rasos, com muitas pedras na superfície, que ocorrem na Caatinga nordestina, juntamente com Litossolos (Entisolos), que são solos não
  • 3. 3 desenvolvidos, que também aparecem em regiões montanhosas, às vezes formado por depósitos recentes de areias quartzosas, caracterizando-se como solos incipientes, rasos ou não estruturados, com características físicas e químicas variadas, e Cambissolos ou Inceptisolos, que aparecem nas margens do Rio Amazonas, no Pantanal, em Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, e no litoral Sudeste, sendo fracamente estruturados, recentes, podendo ter origem aluvial ou de depósitos marinhos (EMBRAPA, 1999; IBGE, 1992; PRADO, 2000). A relação das características físicas e químicas dos solos com o relevo acarreta em que grande parte do território brasileiro seja impróprio à ocupação agrícola (IBGE, 1997). Este conjunto de características encontradas no território brasileiro é responsável pela existência atual de diversos biomas, enquanto o seu grau de conservação tem relação com os usos e ocupações das áreas de sua ocorrência. No Brasil existem várias categorias de Unidades de Conservação, que são áreas protegidas e representativas de biomas significativos do território federal, que podem ser estabelecidas nos níveis federal, estaduais e/ou municipais, entre elas as de uso indireto de recursos, que não prevê a ocupação humana, onde se insere a categoria de Reserva Científica, que é a mais restritiva, incluindo-se as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas e as Reservas Ecológicas, os que permitem a visitação pública, como os Parques Nacionais, Estaduais e Municipais, os Parques Florestais, os Bosques Municipais e os Parques Ecológicos, os Monumentos Naturais, como as Áreas Tombadas, as Áreas Especiais de Interesse Turístico e Locais de Interesse Turístico e as Cavernas, os Santuários de Vida Silvestre, como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico e as Áreas sob Proteção Especial. As Unidades de Conservação que permitem a ocupação humana são as de uso direto dos recursos, como as Áreas de Proteção Ambiental, as Reservas Indígenas, as Áreas de Recursos Manejados, as Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais e as Reservas Extrativistas. Uma categoria que preserva áreas para posterior destinação é a Reserva de Destinação, como são as Reservas Florestais e as Florestas de Domínio Privado (BRUCK et al, 1995). Há diversas Unidades de Conservação, com diferentes graus de restrição, estabelecidas em áreas de tensão ecológica, ou de transição entre biomas, como entre a Floresta Ombrófila Densa e a Floresta Estacional Semidecidual, entre o Cerrado e a Caatinga, entre a Floresta Ombrófila Mista e a Floresta Ombrófila Densa ou a Estacional Decidual, entre o Cerrado e a Floresta Estacional Semidecidual, entre outras, não tratadas neste trabalho. Embora a legislação ambiental brasileira seja considerada das mais modernas e amplas, protegendo as águas e suas margens, parte da flora e da fauna, o solo, diversos biomas e paisagens, há baixa eficiência em sua aplicação, o que tem permitido a continuidade da degradação de áreas dos diversos biomas brasileiros, alguns dos quais já incapazes de representar toda a heterogeneidade que continham, principalmente a sua riqueza e diversidade biológica. Aqui serão tratados os biomas: Florestas Pluviais Tropicais, Floresta Temperada Quente e Úmida. Floresta Estacional Semidecidual, Complexos da Caatinga, do Cerrado, do Pantanal e da Planície Litorânea Florestas Pluviais Tropicais - Florestas Ombrófilas Densas ou Florestas Perenifólias Higrófilas - Encontram-se no norte, oeste e leste da América do Sul a, até, 30ºS nas cadeias montanhosas no leste do Brasil, ocupando mais de 3,57 milhões de quilômetros quadrados, ou 30% da área de todas as florestas tropicais existentes no mundo (EMBRAPA, 1996). Os solos sob estas florestas são bastante lixiviados, em geral pobres em nutrientes e ácidos, contendo uma camada de húmus bastante desenvolvida. A ciclagem de nutrientes é essencialmente biológica, tendo os decompositores e detritívoros papéis preponderantes no processo. São os biomas terrestres mais ricos e diversos, apresentando complexidade estrutural que favorece a existência de muitos nichos ou funções ecológicas para as espécies. Por situarem-se em regiões de alta produtividade, sem estresses climáticos, que favorecem interações biológicas complexas, têm a maioria das suas populações estenoéca, isto é, com amplitude ecológica muito estreita, especializando-se na obtenção de certos recursos e compondo nichos muito estreitos. Estas florestas são encontradas sob climas tropicais chuvosos, sem nenhuma estação seca (Af) ou de monção, com breve estação seca, que pode extender-se a até 3 meses, e chuvas intensas
  • 4. 4 no resto do ano (Am) e, por isto, suas espécies de plantas não apresentam padrões fenológicos marcados por sazonalidade climática. No Brasil há duas diferentes Florestas Pluviais Tropicais: a Floresta Pluvial Tropical Amazônica, que corresponde à maior extensão das genericamente denominadas Florestas Amazônicas, e a Floresta Pluvial Tropical Atlântica, que equivale à Floresta Costeira das chamadas Matas Atlânticas. Floresta Pluvial Tropical Amazônica - As florestas na Amazônia compõem a maior extensão de Florestas Pluviais Tropicais em toda a Terra, ocupando no território brasileiro principalmente os Estados do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima e áreas dos estados de Mato 2 Grosso, Tocantins e Maranhão, num total aproximado de 40% do território nacional (3.300.000Km ) (EMBRAPA, 1996). São encontradas sob climas com pluviosidades superiores a 1750mm chegando a 3500mm, com até dois meses de seca, temperaturas médias anuais de 24ºC a 26ºC, variando entre as temperaturas absolutas de 8ºC e 38ºC (NIMER, 1989), com maiores variações diuturnas que anuais. Na porção centro-ocidental da Amazônia situa-se a região sob clima de maior precipitação e menor sazonalidade de toda a região, sem mês seco, que gradualmente apresenta transições aos climas savânicos, mais secos, no sul e norte, e do semi-árido, no leste desta região. A posição da bacia amazônica próxima do Equador e a topografia plana na qual, em geral, está situada, permitem que grande quantidade de radiação solar e, portanto, de energia, chegue diretamente à sua superfície. Estabelecem-se predominantemente sobre Latossolos, de baixa fertilidade, ácidos e arenosos. O número elevado de rios que drenam a região amazônica promove interações complexas entre biomas terrestres e aquáticos. A extensão ocupada por estas florestas garante que contenham a maior quantidade de espécies de plantas e de animais dentre os biomas terrestres. Situam-se em região pouco povoada, com paisagens naturais pouco alteradas (MOREIRA, 1998). Distingue-se como a principal Floresta Pluvial Tropical Amazônica a de Terra Firme ou Hiléia, que se situa sobre o tabuleiro da Formação Barreiras, sobre os planaltos amazônicos, as serras e superfícies de arrasamento do Maciço Guiano e sobre as superfícies de arrasamento do Brasil Central (IBGE, 1972). A Floresta Ombrófila Densa de Terra Firme é a Floresta Amazônica mais desenvolvida, com árvores que chegam a 60m de altura, apresentando-se muito complexa em sua estrutura vertical. São distintos seis tipos de Florestas de Terra Firme na Amazônia: Floresta Densa, Floresta Aberta sem palmeiras, Floresta Aberta com palmeiras, Floresta de cipós, Floresta Seca, na transição com a Savana no Brasil Central – Semidecidual, e Floresta Montana (PIRES & PRANCE, 1985). A Floresta Amazônica foi explorada de forma extrativista desde o século XVIII, quando incursões a partir de São Paulo foram feitas pelas entradas na busca de minérios, escravos e, principalmente, de produtos da floresta, genericamente chamados de drogas do sertão: plantas e ervas medicinais, aromáticas e alimentícias. No século XIX inicia-se o ciclo da exploração da borracha, que é o látex extraído da seringueira (Hevea brasiliensis - Euphorbiaceae), que se distribui na margem direita dos rios Solimões e Amazonas, nos estados do Amazonas, Pará, Acre e Rondônia, ensejando uma onda migratória, principalmente do Nordeste, com o conseqüente aumento da população na região, estabelecidas nas margens dos rios, e iniciando a produção agrícola em áreas florestadas ou de várzeas, além de ampliar a caça e a pesca, sendo a sua exploração feita sem a derrubada da árvore. A sua importância econômica levou ao estabelecimento de projeto fracassado de exploração da borracha, com plantio em larga escala pelo capital estrangeiro, que construiu uma cidade, Fordlândia, com uma indústria de processamento primário da borracha (JOFFILY, 1998). Este fracasso foi devido ao ataque de um fungo (Microcyclus ulei - Dothideaceae), que em condições naturais não configura um agente patogênico importante. No início do século XX, o plantio homogêneo da seringueira no Oriente, onde não há o fungo patogênico do Brasil, substituiu a produção brasileira. Diversos projetos agropecuários estabeleceram-se ao longo do tempo, ressaltando-se a produção de pimenta, por colonos japoneses, e da juta. Das atividades de exploração e de extração, podem-se ressaltar a obtenção da castanha-do-Pará (Bertholetia excelsa – Lecythidaceae), do pau-
  • 5. 5 rosa (Aniba rosaefolia – Lauraceae), de plantas medicinais e a caça, que podem ser atividade predatórias. Atividades de extração de madeira nesta floresta extremamente diversificada, invariavelmente levam à derrubada de uma grande quantidade de árvores que não têm elevado valor econômico. Entre as espécies exploradas para madeira, salienta-se a extração do mogno (Swietenia macrophylla – Meliaceae), que tem densidade maior entre os domínios das Florestas Ombrófilas Densa e Aberta. A história recente da devastação de grandes áreas de Floresta Ombrófila Densa Amazônica está estreitamente ligada às políticas estabelecidas pelos governos militares, que se instalaram no poder em 1964, especificamente a partir do Plano de Integração Nacional, implantado durante o governo do general Emílio Garrastazu Médici em resposta às secas no Nordeste e ao vazio demográfico da Amazônia. São desta época os incentivos fiscais à ocupação da Amazônia, em Mato Grosso e no Pará, através de grandes projetos agropecuários de, em média, 47 mil hectares, assim como os projetos agrícolas de assentamento em Rondônia, Pará, Acre e Mato Grosso, principalmente ocupados por agricultores de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e a construção de grandes vias de acesso, como a fracassada rodovia Transamazônica, ao redor da qual propunha- se o assentamento de 70 mil famílias (JOFFILY, 1998). Salientam-se as áreas ocupadas recentemente pela cultura da soja no norte do Mato Grosso e em Rondônia, sobre chapadas de solos férteis, com desmatamento de grandes áreas de floresta. Também faz parte deste processo o estabelecimento do Projeto Jari, de 1,6 milhão de hectares ou, segundo o Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, 6 milhões de hectares, na divisa entre o Pará e o Amapá, um complexo que envolvia a agropecuária (gado, madeira e arroz), a mineração (caulim) e a indústria (celulose), que foi inviabilizado, em parte, pelo fracasso da introdução de uma espécie de árvore asiática, a gmelina (Gmelina arborea - Verbenaceae), para a produção de celulose. A derrubada e as queimadas que vêm ocorrendo em trechos da Floresta de Terra Firme liberam para a atmosfera e para o solo quantidades elevadas de nutrientes, que são carregados para as camadas mais profundas pelas altas precipitações pluviométricas, diminuindo rapidamente a produtividade. Com a exposição da matéria orgânica e do húmus da superfície do solo, há oxidação acelerada alterando as suas características físicas e químicas. Nestes processos é liberada para a atmosfera uma grande quantidade de gás carbônico (CO2) incorporado na biomassa, considerado fator relevante à ampliação do efeito estufa. A topografia plana da porção central da Bacia Amazônica faz com que as barragens de hidrelétricas formem lagos que ocupam grandes extensões de áreas, alterando radicalmente os biomas de interface e parte da floresta sobre terra firme. Além disto, as águas que drenam a Bacia Amazônica correm lentamente, havendo depósitos de sedimentos nos leitos, que ficam rasos e diminuem a vazão, com conseqüências também para as Florestas de Várzea e de Igapó e para os Campos de Várzea. A Bacia Amazônica contém em seu interior diversos depósitos minerais, incluindo a, talvez, maior província mineral de todo o mundo, a de Carajás, que ocupa uma área aproximada de 895 mil 2 km com minério de ferro, bauxita, manganês, cobre, associado a ouro, prata e molibdênio, cassiterita, níquel, zinco, tungstênio, caulim, cromo e, em leitos de rios ou jazidas, o ouro (JOFFILY, 1998), cujo garimpo tem representado dos maiores problemas ambientais na Amazônia, principalmente devido ao mercúrio e à quantidade de sedimentos que é levada para o interior dos rios. As maiores extensões da Floresta Ombrófila Densa Amazônica preservadas em Unidades de Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais, Reservas Biológicas Nacionais e Estações Ecológicas, somando 7.218.227ha, e em Unidades de Conservação de uso direto, principalmente em Reservas Indígenas, Florestas Nacionais e em Reservas Florestais Nacionais, somando 9.396.593ha (BRUCK et al, 1995). Floresta Pluvial Tropical Atlântica - A costa atlântica brasileira, desde o norte do estado do Rio Grande do Sul até Vitória, no Espírito Santo, é acompanhada por elevações ou cadeias de montanhas costeiras que atingem 2900m de altitude. Estas serras e elevações são barreiras físicas às massas de ar que provêm o ano todo do Oceano Atlântico, saturadas de vapor de água. Ao
  • 6. 6 depararem-se com estas barreiras, estas massas de ar se elevam, resfriam e causam precipitações pluviométricas elevadas, que chegam a atingir 4000mm anuais. Do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, as serras costeiras, onde salientam as Serras do Mar e da Mantiqueira, são formadas por rochas do Complexo Cristalino, compondo escarpas que favoreceram a manutenção do maior trecho contínuo deste tipo florestal, e daí, até o Rio Grande do Norte, há elevações do arenito da Formação Barreiras, compondo os tabuleiros, que raramente atingem 200m de altitude. Estes tabuleiros sustentam a Floresta Ombrófila Densa Atlântica em todo o Nordeste, exceto o sul da Bahia, até o norte do estado do Rio de Janeiro, quando são substituídos pelas escarpas da Serra do Mar. Esta floresta também ocupa as planícies litorâneas, mais próximas das serras costeiras, onde os solos são mais profundos e férteis, oriundos das rochas do cristalino, 2 num total aproximado de 500.000Km . Nas diferentes latitudes há influência de massas de ar que promovem variações climáticas, de tal forma que no sul no país a Floresta Pluvial Tropical Atlântica contém várias espécies da Floresta Temperada Quente e Úmida, enquanto no nordeste há várias espécies comuns à Mata Ombrófila Densa Amazônica. É encontrada sob climas com precipitações pluviométricas superiores a 1500mm, até 4000mm, com, no máximo, dois meses de seca, e até 35% das chuvas concentradas em 3 meses, temperaturas médias anuais de 20ºC a 24ºC, variando entre as temperaturas absolutas de 12ºC e 38ºC (NIMER, 1989). Por encontrar-se em altitudes variadas que, muitas vezes, superam 2000m, há mudanças nesta floresta desde as planícies litorâneas, sobre solos aluviais ou depósitos marinhos, quase no nível do mar, até os topos das serras. Por isto fala-se em diversas florestas na encosta atlântica: nos topos de morros (Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana), nas encostas e nos fundos de vales (Floresta Ombrófila Densa Montana e Sub-Montana), e nos sopés das serras e sobre as planícies costeiras (Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas e Aluvial). Situa-se em geral em encostas que favorecem a penetração de luz difusa em seu interior e, por isto, é extremamente complexa em sua estrutura vertical, composta por muitas espécies de líquens, musgos, ptridófitas e ervas no solo, arbustos, arvoretas e palmeiras no seu interior, lianas e epífitas, entre as quais muitas espécies de bromeliáceas, orquidáceas, gesneriáceas e pteridófitas, que recobrem a maioria das árvores de grande porte. A ocupação do território brasileiro pelos portugueses, a partir de 1500, iniciou-se pelo litoral, principalmente no Nordeste, e o primeiro ciclo econômico baseou-se na extração de um corante da madeira do pau-brasil (Caesalpinia echinata - Leguminosae), uma espécie característica da Floresta Pluvial Tropical Atlântica, com distribuição original desde o Rio Grande do Norte ao sul do estado do Rio de Janeiro. O segundo ciclo econômico relevante no Brasil foi o da cultura da cana-de-açucar, que estabeleceu-se inicialmente no litoral Sudeste e desenvolveu-se, principalmente, no litoral Nordeste, sobre solo do tipo massapê (Vertissolos ou Grumossolos), rico em montmorilonita, e sobre os tabuleiros, na chamada Zona da Mata, que se extende do Rio Grande do Norte ao Sergipe, exatamente na região do domínio da Floresta Pluvial Tropical Atlântica, que já nesta época teve sua cobertura original bastante reduzida. Esta cultura exigiu grande quantidade de mão de obra, inexistente no país na época, induzindo o estabelecimento do escravismo, com incursões ao interior do país na busca de mão-de-obra indígena, um dos fatores da expansão do território brasileiro, notadamente pelos bandeirantes paulistas e, posteriormente, da chegada de escravos africanos, entre 1531 e 1780, o que fez com que ingressassem no Brasil, aproximadamente, 1.900.000 escravos (CAMPOS & DOLHNIKOFF, 1993), ampliando a necessidade de terras para a agricultura, em geral obtidas de áreas florestadas, e aumentou a exigência de lenha proveniente de florestas para o número crescente de moendas. Foi praticada em grandes propriedades ou latifúndios, principalmente no Nordeste. A busca de ouro, prata e de pedras preciosas no interior do Brasil, teve início a partir de São Vicente, inicialmente no Rio Paraguai, até o genericamente denominado império inca, na Bolívia e no Paraguai. Posteriormente, foram descobertos depósitos de ouro na serra do Espinhaço, desde Belo Horizonte até São João Del Rey, iniciando a época do ouro, no século XVIII. Posteriormente foram descobertas minas de diamantes, o que favoreceu a abertura de caminhos através das serras
  • 7. 7 litorâneas (DEAN, 1997). Este garimpo era efetuado por escravos negros e, também, atraiu grande contigente de europeus, aumentando a população residente, a produção de alimentos e as áreas ocupadas. Durante todo o período da ocupação inicial, feita principalmente na faixa litorânea, as serras costeiras no Sudeste e Sul do Brasil foram vencidas para atingirem-se os planaltos interiores, na busca de produtos de origem animal e vegetal, as drogas do sertão, em diversos biomas, principalmente da Amazônia, para a expansão das atividades agropecuárias e na busca de mão-de- obra escrava indígena, sempre com alterações na Floresta Pluvial Atlântica. Também nas áreas da Serra do Mar próximas às planícies litorâneas, a extração do ouro ainda ocorre em áreas restritas, principalmente em São Paulo e Paraná. O café (Coffea arabica – Rubiaceae) teve sua introdução no Brasil feita em Belém, sendo plantado para consumo doméstico, mas como cultura econômica a cafeicultura estabeleceu-se no Rio de Janeiro, no início do século XIX, extendendo-se pelo Vale do Rio Paraíba em direção a São Paulo, ocupando áreas no domínio da Floresta Ombrófila Densa Atlântica. Também neste século estabeleceu-se no sul da Bahia a cultura do cacau (Theobroma cacao - Sterculiaceae), praticada em um sistema denominado de cabruca, que consiste na manutenção da estrutura dominante da floresta e o plantio do cacau no sub-bosque, em condições sombreadas. Atualmente, com problemas de doenças - vassoura-de-bruxa, a cacauicultura está em declínio, levando à derrubada da floresta para o estabelecimento de pastos. Várias plantas do domínio da Floresta Pluvial Atlântica foram extraídas por seu valor comercial, sejam produtoras de madeira, como a peroba: Aspidosperma parvifolium – Apocynaceae, o pau- ferro: Caesalpinia ferrea, o jacarandá-da-Bahia, Dalbergia nigra – Leguminosae, e a maçaranduba, Manilkara salzmannii - Sapotaceae, de palmito, Euterpe edulis - Palmae, medicinais ou ornamentais, como várias espécies de Orchidaceae, Marantaceae, Bromeliaceae e Gesneriaceae, entre outras. 2 2 Cobrindo originalmente cerca de 1.200.000Km , hoje resta em aproximadamente 92.000Km (7,5% do total original) (MITTERMEIER et al. 1999), nem sempre preservada, restrita às encostas íngremes, de difícil ocupação, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As maiores extensões da Floresta Ombrófila Densa Atlântica preservadas em Unidades de Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas Nacionais e Estaduais e Estações Ecológicas, principalmente nas Unidades de Conservação estaduais, somando 2.503.798ha, e em UCs de uso direto, principalmente em Áreas de Proteção Ambiental, somando 1.158.829ha (BRUCK et al, 1995). Floresta Temperada Quente e Úmida - Floresta Úmida de Coníferas, Floresta de Coníferas, Mata dos Pinhais, Floresta Subtropical, Floresta de Araucaria, Floresta Pluvial Subtropical, Floresta Pluvial de Araucaria, Floresta Ombrófila Mista, Mata Alta Subtropical ou Floresta Temperada Quente e Úmida - Distribui-se de forma contínua desde a porção central do estado do Rio Grande do Sul ao sudeste do estado de São Paulo, reaparecendo em manchas disjuntas nas elevações mais altas das serras da Mantiqueira e da Bocaina, no nordeste do estado de São Paulo e sudeste de Minas Gerais, 2 em área aproximada de 1.200.000Km . Esta floresta tem registros de ter ocupado uma área mais extensa no passado, quando da ocorrência de climas mais frios em áreas extensas do Sudeste, parecendo representar relito no domínio de florestas de dicotiledôneas, relacionado com altas altitudes de cadeias de montanhas costeiras. Situa-se sob climas com precipitação média anual entre 1250mm a 2250mm, sem período de seca, embora apresente períodos de maior precipitação, quando 25%-33% do total de chuvas caem no intervalo de 3 meses (NIMER, 1989). As maiores precipitações a que estão sujeitas permitem as existência de plantas muito desenvolvidas e uma complexidade estrutural superior à observada nas florestas boreais de coníferas, embora ainda haja dominância de uma espécie. Encontra-se sob clima temperado chuvoso e quente, sem estação seca e verão moderadamente quente, com o mês mais quente com temperatura média menor que 22ºC. As temperaturas médias anuais variam de 16ºC a 20ºC, com temperaturas absolutas de -10ºC a 40ºC. sobre solos pouco desenvolvidos, dos tipos Litossolos e Cambissolos, ou sobre solos desenvolvidos, principalmente Podzólico Vermelho-Amarelo ou Alissolo.
  • 8. 8 Acha-se em regiões de abaixamento acentuado da temperatura no inverno, inclusive ocorrência de geadas, que impõe um ritmo sazonal aos seus eventos fenológicos. É um tipo vegetacional que é melhor conhecido quando representada pelo domínio de Araucaria angustifolia - Araucariaceae, o pinheiro-do-Paraná, espécie de pinheiro que se caracteriza por sua forma típica de candelabro. É denominada genericamente, por isto, de Floresta de Araucaria. No Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná pode aparecer associada a outra gimnosperma, o podocarpus (Podocarpus lambertii - Podocarpaceae). Apesar do domínio da araucária em muitas regiões, esta floresta contém fauna e flora muito ricas, com muitas espécies características. Salienta-se nesta floresta a ação dispersora de sementes de araucária feita pelas gralhas, que enterram muitas das sementes coletadas para posterior alimentação e algumas, esquecidas, têm melhores condições para germinação. No século XIX a cultura do fumo extendia-se pela porção centro-leste do estado do Rio Grande do Sul, em áreas do domínio da Floresta Ombrófila Mista. No início do século XX a cultura do mate expandiu-se desde o interior do Rio Grande do Sul pelo oeste do Paraná ao Mato Grosso do Sul (CAMPOS & DOLHNIKOFF, 1993). A ocupação das áreas sob seu domínio deu-se a partir do século XVII, com a entrada de bandeirantes e, principalmente, dos criadores de gado, embora apenas no século XIX instalam-se os migrantes no Rio Grande do Sul, nas encostas sulriograndenses, em Santa Catarina, nos Vales dos rios Itajaí, Itapocu e Tubarão, e no Paraná, no Planalto de Curitiba, em pequenas colônias, inicialmente de alemães e, posteriormente, também de italianos, franceses e eslavos, entre outros, enquanto no século XX volumosas correntes migratórias processaram-se dentro dos quadros regionais, com descendentes dos antigos imigrantes e colonos ocupando as matas do oeste catarinense e paranaense (IBGE, 1972). Um modelo diferenciado de colonização estabeleceu-se no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e, também, no Espírito Santo e em pontos de São Paulo e Rio de Janeiro, baseado em propriedades pequenas - 20-25ha - inicialmente de alemães e, depois, também de italianos, poloneses, ucranianos, húngaros, romenos e letões (JOFFILY, 1998). Eram propriedades familiares, de onde o crescimento das famílias originou grande parte do contingente que ocupou a partir da década de setenta o Brasil Central e a Amazônia, com projetos agropecuários como os de plantio de soja. As maiores extensões da Floresta Ombrófila Mista preservadas em Unidades de Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas Estaduais e Estações Ecológicas, principalmente nas UCs estaduais, somando 257.680ha, e em Unidades de Conservação de uso direto, principalmente em Áreas de Proteção Ambiental e em Florestas Nacionais, somando 143.021ha (BRUCK et al, 1995). Floresta Estacional Semidecidual - Florestas Tropicais Semideciduais, Floresta Semidecidual Tropical, Floresta Estacional Tropical, Florestas Mesófilas, Floresta Pluvial Estacional Tropical, Floresta Estacional Mesófila Semidecidual, Mata do Rio Paraná, Floresta Tropical Mesofítica Latifoliada Semidecidual, Floresta Subcaducifolia - O domínio desta floresta situa-se, em sua maior extensão, no Sudeste do Brasil, com áreas contínuas ao Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste, e ao Paraná, no Sul, aparecendo, ainda, em regiões descontínuas na borda da Floresta Ombrófila Densa Amazônica, em Roraima, Mato Grosso e Pará, na escarpa oriental da Serra da Borborema, que se extende do norte de Alagoas ao sul do Rio Grande do Norte, no agreste nordestino, e nas áreas transicionais da Floresta Ombrófila Densa Atlântica para o agreste nordestino, na Zona da Mata no Nordeste. Uma área de Floresta Estacional Semidecidual sob clima Temperado Quente e Úmido, ocorre no Rio Grande do Sul, ocupando a vertente leste do Planalto e a parte leste da Depressão Central Gaúcha. Situa-se sob climas sazonais, dos tipos tropical chuvoso, com chuvas de verão (Aw) e temperados chuvosos e quentes (Cwa e Cwb), com chuvas de verão, com verão quente ou moderadamente quente, com um período marcadamente seco, de 3 a 4 meses, precipitações anuais entre 1500 e 2000mm, concentradas de 40-50% em três meses, temperaturas médias de 18ºC a 22ºC e temperaturas absolutas de –4ºC a 40ºC, com ocorrência de geadas no Paraná, São Paulo e Minas Gerais. (NIMER, 1989).
  • 9. 9 Ocorre sobre Latossolos e sobre solos Podzólicos, profundos, lixiviados, distróficos, no oeste do Estado de São Paulo, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, na Bahia em Alagoas, em Pernambuco, no Mato Grosso e no sul do Pará, ou sobre Latossolo Roxo, eutrófico, formado de derrames basálticos que ocorreram de Goiás ao Rio Grande do Sul, formando a Serra Geral, salientando as regiões na margem das Cuestas Basálticas em São Paulo, na Depressão Periférica, e no norte do estado do Paraná, além de manchas isoladas no sul do Mato Grosso do Sul e de Goiás. Sob esta condição esta floresta apresenta composição florística e estrutura diferenciadas da floresta sobre os solos distróficos, salientando-se a maior quantidade de espécies de madeira de elevado valor econômico e o seu maior desenvolvimento. A ciclagem de nutrientes é rápida, sendo os detritívoros e decompositores que atuam na serapilheira os responsaveis pelo maior volume de material ciclado. É uma floresta bastante desenvolvida, que apresenta arranjos verticais muito complexos, havendo diversas espécies características da sub-mata, que são plantas herbáceas, arbustos e árvores de pequeno porte, além de conter lianas e epífitas, sendo que suas espécies de árvores, emergentes ou do dossel respondem ao clima com um ritmo sazonal, que determina que parte das suas populações perde folhas no período seco do ano, caracterizando a semi-deciduidade foliar, e caracterizando padrões de floração e de frutificação relacionados com a sazonalidade climática (Figura 4). Situa-se próximo das regiões do país com as mais altas densidades demográficas humanas, em topografias que favorecem atividades agropecuárias e, por isto, é o bioma que se encontra mais alterado para a prática de várias atividades agrícolas. Além disto, contém várias espécies de interesse econômico, como as perobas, os jequitibás e as canelas, o que resultou em não existirem mais áreas significativas deste bioma em todo o seu domínio. No Nordeste esta floresta tem seu domínio nas regiões interiores do domínio da Floresta Pluvial Tropical Atlântica, compondo a Zona da Mata, onde deu lugar à cultura da cana-de-açucar e à pecuária desde o início do século XVI e, posteriormente, a grandes aglomerados urbanos. No século XVIII a cana-de-açucar expandiu-se no planalto paulista, em áreas da Floresta Estacional Semidecidual, sendo exportada para Portugal via Porto de Santos, denominado nesta época de porto do açucar. A partir da metade do século XIX, a cafeicultura expandiu-se desde o Vale do rio Paraíba do Sul em direção ao interior de São Paulo, chegando à sua região central e, no final do século, à sua região norte, e aos estados de Minas Gerais e Espirito Santo. No início do século XX a cafeicultura ocupou o oeste do estado de São Paulo e, posteriormente, o norte do Paraná (CAMPOS & DOLHNIKOFF, 1993), sempre em áreas do domínio da Floresta Estacional Semidecidual. No final do século XIX, após a libertação dos escravos, são atraídos migrantes, notadamente da Itália e da Espanha, para as fazendas de café. Esta ocupação foi acompanhada inicialmente pelo estabelecimento de uma densa malha ferroviária, para o escoamento da produção, nas margens das quais ocorreu o estabelecimento de núcleos urbanos que, por sua vez, exigiam o aumento da área para a produção agropecuária. A cafeicultura foi a maior responsável pela destruição do bioma Floresta Estacional Semidecidual, da qual restam poucos trechos, pequenos, em geral muito alterados, incapazes de representar as suas riqueza e diversidade e variações dependentes da fertilidade dos solos (Latossolo Roxo, Terra Roxa Estruturada, Latossolo Vermelho ou Vermelho-Amarelo). No início da década de 60 este tipo de floresta ainda estava mantida em áreas extensas nos estados de Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais e sul da Bahia, de onde desapareceu até o final da década de 80 (EMBRAPA, 1996). Em meados da década de 70 até o início da de 80, é estabelecido no país o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que durou até o fim dos anos 80, que levou à expansão da área de cultivo da cana-de-açucar, principalmente no estado de São Paulo mas, também, no Paraná e no Mato Grosso do Sul, o que teve como conseqüência a destruição de muitos fragmentos remanescentes deste tipo florestal. Durante este período a cana-de-açucar dividiu grande parte do território paulista com a citricultura que, com a soja, compõe item importante nas exportações brasileiras. No Paraná, além da soja e do algodão, o trigo, cultura de inverno, tem expandido sua área cultivada. Esta floresta
  • 10. 10 situa-se em regiões de densidade populacional elevada, onde a agricultura utiliza, em geral, tecnologia avançada. As maiores extensões da Floresta Estacional Semidecidual preservadas em Unidades de Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas Estaduais e Estações Ecológicas, principalmente nas UCs estaduais, somando 338.380ha, e em Unidades de Conservação de uso direto, principalmente em Áreas de Proteção Ambiental, somando 690.730ha (BRUCK et al, 1995). Complexo do Cerrado - Ocorre no norte da Amazônia, em Roraima, e no Brasil Central. Ocupa, no 2 2 Brasil Central, uma área aproximada de 2.100.000Km , dos quais 700.000 Km com forte ação antrópica (EMBRAPA, 1996). Situa-se principalmente sob clima tropical, com precipitações entre 500 e 1500mm anuais, chuvas de verão (Aw) e invernos secos, de até 5-7 meses, típico de savanas, ou sob clima temperado chuvoso e quente (Cwa), com mês de maior temperatura média superior a 22ºC. Encontra-se predominantemente sobre Latossolos e sobre Solos Podzólicos (Alissolos), profundos e arenosos, o que acentua o efeito do período de seca, bastante lixiviados, distróficos, ácidos, com teores elevados de alumínio, e com baixa capacidade de reter nutrientes, pela pequena quantidade de humus ou, ainda, sobre Areias Quartzosas e sobre camadas lateríticas (Neossolos), que impedem o desenvolvimento de plantas de grande porte. A maioria das plantas perde folhas ou tem morte de seus ramos de brotamento no período seco do ano, que varia de 3 a 5 meses, acarretando no acúmulo de material combustível sobre o solo. Os eventos fenológicos, como a floração, frutificação, brotamento e queda de folhas são marcados pelos ritmos climáticos, além das espécies apresentarem estruturas caulinares e subterrâneas, que permitem sua sobrevivência durante as queimadas, que ocorrem no período seco do ano. O Cerrado é formado por três diferentes biomas: Campos Limpos, Savanas e Florestas (Cerradão), sendo que as savanas se distinguem em Campo Sujo, Campo Cerrado e Cerrado senso restrito (COUTINHO, 1978), nos quais ocorrem árvores esparsas, em diferentes densidades, por entre as quais desenvolve-se um estrato herbáceo denso, dominado por gramíneas. O que dá uma unidade a esta vegetação são as floras arbustivo-arbórea (silvestre) e herbáceo-subarbustiva (campestre), que interpenetram as diversas fisionomias savânicas do Cerrado. As fisionomias são determinadas ora pela quantidade de nutrientes ou pela existência de uma camada de impedimento no solo (lateritas), ora pela freqüência e intensidade das queimadas e, em geral, o climax é estabelecido por vários fatores atuando conjuntamente (policlímax). O Complexo do Cerrado ocupa aproximadamente 25% do território nacional, distribuindo-se de forma contínua nos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, no Distrito Federal, no centro- sul de Mato Grosso, sul do Maranhão e do Piauí, oeste da Bahia e centro-oeste de Minas Gerais. Aparece, ainda, em manchas disjuntas nos Estados do Paraná, São Paulo, Pernambuco, Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá e Roraima. Há Savana, também, no Rio Grande do Sul, compondo os Campos Temperados, com flora e fauna muito distintas das do Cerrado. A região de ocorrência deste complexo assenta-se sobre as superfícies de aplainamento e sobre os Chapadões do Brasil Central, além de ocupar parcialmente a Depressão Central. É um conjunto de biomas no qual o fogo é relevante na ciclagem de nutrientes pela atmosfera e no solo, podendo levar a um empobrecimento de áreas queimadas intensivo e freqüentemente, e de determinar adaptações da flora e da fauna. Além de ocorrerem queimadas naturais, existem dados que indicam queimadas antrópicas muito antigas, com registro de sua incorporação nos hábitos culturais dos índios, que poderiam atuar há muito tempo. As formações e fisionomias são determinadas ora pela quantidade de nutrientes ou pela existência de uma camada de impedimento no solo (lateritas), ora pela freqüência e intensidade das queimadas e, em geral, o climax é estabelecido por vários fatores atuando conjuntamente (policlímax). No sul do Estado do Mato Grosso do Sul aparece a maior área contínua de Campo Limpo no Centro-Oeste, denominada de Campo de Vacaria, atualmente extremamente degradado, devido ao pastoreio intensivo e às queimadas freqüentes, o que não permite a sua identificação com o Campo
  • 11. 11 Limpo do Cerrado, embora sua localização permita inferir sobre a contribuição maciça de sua flora. Excepcionalmente para a região, situa-se sobre solo fértil, originado de rocha magmática vulcânica básica. (SANTOS et al., 1977), sendo um campo de espécies de Gramineae, que formam um tapete herbáceo contínuo, entremeado às vezes por poucas plantas arbustivas. O Cerradão ocorre predominantemente nas regiões de transição deste domínio para os domínios de florestas, principalmente no norte de Mato Grosso, no oeste do Piauí e em São Paulo, onde era a fisionomia predominante do Cerrado. Um grande número de árvores e de plantas herbáceas apresenta sistemas subterrâneos muito desenvolvidos, como os xilopódios, por exemplo, o que permite sua sobrevivência nos períodos mais secos do ano e a sua rebrota após as queimadas, sendo comum a reprodução vegetativa. Os caules apresentam suber bastante espesso, que atua como isolante térmico durante as queimadas, protegendo os tecidos mais sensiveis. As árvores são tortuosas, devido a morte das gemas e rebrota lateral, entre outros fatores. O Cerrado tem sido o palco onde as populações indígenas desenvolveram culturas diferentes em decorrência de suas origens, seu tempo histórico e suas possibilidades tecnológicas. Grupos de caçadores-coletores que ocuparam as áreas do Cerrado poderiam obter recursos de coleta e cata, como ovos de aves e de répteis, insetos comestíveis, mel silvestre e moluscos, a caça de mamíferos, de espécies variadas e de tamanhos diversificados, desde cervos, veados, capivaras, macacos, tamanduás, tatus, de répteis, como as tartarugas, jacarés e os lagartos, espécies de aves, como as emas, além de peixes e frutos. (BARBOSA & SCHMITZ, 1998) Há cerca de 4000 anos atrás, os povos Jê espalham-se pelo Brasil Central, no domínio do Cerrado, trazendo o hábito da cultura de milho e do feijão e da pesca com o timbó, um cipó tóxico que entorpece os peixes (JOFFILY, 1998). No domínio do Cerrado são registradas queimadas de mais de 10.000 anos, que podem ser de origem natural ou antrópica. É conhecida a prática da caça associada à queimada de áreas delimitadas no Cerrado, com conseqüente rebrota de plantas herbáceas, principalmente gramíneas, que atraem diversos animais herbívoros para o pastejo. Porque o cerrado situa-se em topografia favorável à agricultura, é um bioma que vem sendo devastado em todo o país, e porque é rico em espécies de gramíneas, é usado como pasto natural para a pecuária extensiva, estimulada pela derrubada e rareamento de arbustos e árvores, colocando os nutrientes em disponibilidade na atmosfera e no solo, através das queimadas. No século XIX, a pecuária extensiva baseada em pastos naturais, já havia se instalado em todo o Brasil Central, onde ainda prevalece na porção norte do domínio do Cerrado, melhor preservado, enquanto nos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo acha-se sob atividade pecuária que emprega técnicas modernas e sob agricultura de exportação, principalmente da soja, de citricultura e da cana-de-açucar, altamente tecnificadas, com maior grau de devastação. A idéia de ocupação do Planalto Central brasileiro teve sua maior expressão na mudança da capital do país para região do Cerrado (Brasília, DF), em 1960, e pelo incentivo à agricultura, ligado à adoção de estratégias e políticas de desenvolvimento e investimentos em infra-estrutura entre 1968 e 1980 (ALHO & MARTINS, 1995), já que não há impedimento mecânico ao seu uso agropecuário, porque os solos do Cerrado são passíveis de uso com calagem e adubação, além de irrigação. Por isto, grandes áreas calcáreas no domínio do Cerrado, principalmente de cavernas calcáreas, têm sido exploradas com alterações ambientais irreversíveis. Foi notadamente em meados da década de sessenta que houve expansão acentuada da agropecuária nas regiões ocupadas pelo Cerrado, a partir de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, chegando em seguida ao Mato Grosso, Tocantins, sul do Piauí e oeste da Bahia, baseada em políticas de crédito subsidiado, a criação do Programa para o Desenvolvimento do Cerrado – Polocentro, para o desenvolvimento da agricultura, tendo incorporado cerca de 2,4 milhões de hectares à agricultura, sendo favorecida a cultura da soja. O programa Cooperativo Nipo-brasileiro para o desenvolvimento do Cerrado – Prodecer, promoveu o assentamento de agricultores experientes do Sudeste e do Sul do país na região do Cerrado, com financiamento da Japan International Cooperation Agency – JICA, da década de 80, prevendo a implantação de fazendas de grande porte em 60 milhões de hectares, para o cultivo da soja e de milho. Pode-se dividir o Cerrado em relação às atividades agropecuárias em três categorias: a) área de agricultura comercial moderna (Mato Grosso do Sul, sul de Mato Grosso, centro, sudoeste e
  • 12. 12 sudeste de Goiás, Distrito Federal, Triângulo Mineiro e oeste de Minas Gerais), sendo a maior produtora de soja, milho, café e feijão deste bioma, b) agricultura periféria em expansão, em partes de Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Bahia, além dos municípios de Barra do Garças, Nova Xavantina, Canarana e Água Boa (Mato Grosso) e c) agropecuária incipiente, nos estados do Maranhão e Piauí, e partes de Mato Grosso e Tocantins (ALHO & MARTINS, 1995). A invasão biológica do Cerrado por plantas exóticas, principalmente por Gramineae africanas, tem alterado sensivelmente áreas extensas de fisionomias do Cerrado com estrato herbáceo contínuo, principalmente áreas fragmentadas, devido ao efeito de borda. Em geral são espécies adaptadas às queimadas e que têm grande capacidade competitiva, como o capim-gordura (Melinis minutiflora), o colonião (Panicum maximum), o capim-andropogon (Andropogon gayanus), o capim- elefante (Pennisetum purpureum), a braquiária (Brachiaria decumbens) e o capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa), entre outras (ALHO & MARTINS, 1995) É prática corrente o uso de sua madeira para a obtenção de carvão para fins industriais, siderúrgicos ou de olarias, principalmente em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Com este conjunto de propostas de ocupação, o Cerrado vem sendo devastado de forma 2 2 acelerada. Ocupava originalmente a área de 1.800.000Km e hoje ocupa 350.000Km (20%) da área original (MITTERMEIER et al. 1999), dos quais apenas 1,8% de seu território (15.548 mil hectares) protegido por unidades de conservação de proteção integral: Parques Nacionais, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas (ALHO & MARTINS, 1998). As maiores extensões do Cerrado preservadas em Unidades de Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais e Estaduais, Reservas Biológicas Nacionais e Estaduais, Estações e Reservas Ecológicas, somando 2.068.385ha, e em Unidades de Conservação de uso direto, em Áreas de Proteção Ambiental, principalmente sob gerenciamento estadual, somando 587.904 (BRUCK et al, 1995). Complexo da Caatinga – O Complexo da Caatinga é formado Florestas Deciduais, por formações Arborizadas, não florestais e pela Savana-Estépica, o que se reflete nos vários termos empregados para designá-la, como agreste, carrasco e seridó. O termo Savana-Estépica foi estabelecido para designar os biomas tropicais com características estépicas, inicialmente na África, referindo-se a uma formação decídua, espinhosa e com cobertura herbácea descontínua. No Brasil há equivalência deste bioma com algumas formações da Caatinga, que ocorre no Nordeste nos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba, norte de Minas Gerais e leste do Piauí, ocupando 2 aproximadamente, 12% do território nacional, ou 1.100.000Km , dos quais aproximadamente 2 800.000Km com ação antrópica (EMBRAPA, 1996). O Complexo da Caatinga é observado sob clima seco, de 6 até 11 meses secos, quente e com temperatura média anual superior a 18ºC, semi-árido. As precipitações, que vão de 200 a 750mm anuais concentram-se em poucos meses, no inverno, sendo que 45% a 70% do total de precipitação anual concentra-se em 3 meses (NIMER, 1989) muitas vezes ocasionando enchentes de grandes proporções e, ao longo do ano, interrompendo o fluxo de rios intermitentes. A quantidade pequena de água precipitada, com distribuição concentrada, e as altas temperaturas, dificultam a desagregação química das rochas e favorecem a erosão e, por isto, predominam solos pouco desenvolvidos (Litossolos) ou de até 1m de profundidade (Solo Bruno não- Cálcico ou Luvissolos), este rico em cálcio, magnésio e potássio, pedregoso, salientando-se, ainda, os afloramentos rochosos que formam os chamados lajedos. Também são encontrados Solos Salinos, que são solos de regiões áridas e semi-áridas, de baixadas, com concentração muito alta de sais, especialmente o cloreto de sódio, que é trazido à superfície na solução do solo e concentra-se após a evaporação, processo que pode ser acelerado pela irrigação (LEPSCH, 1976). Por estas características, a Caatinga é o bioma zonal brasileiro com menores riqueza e diversidade de flora e de fauna. O termo Caatinga é empregado para designar o aspecto esbranquiçado dos ramos e caules das espécies arbustivas e arbóreas que compõem este bioma, ressaltados no período seco do ano, quando estas espécies perdem totalmente suas folhas. Várias de suas espécies têm adaptações
  • 13. 13 morfológicas que permitem a armazenagem de água, como nas raízes do umbuzeiro (Spondias tuberosa - Anacardiaceae) e no caule da barriguda (Cavanilesia arborea - Bombacaceae). O gado bovino, que inicialmente foi introduzido ao longo do litoral nordestino, acompanhando a cultura da cana-de-açucar, a partir do século XVII penetrou a zona do sertão, existindo pelo menos quinhentas fazendas de gado de corte no domínio da Caatinga em 1700 (DEAN, 1997), em geral em regime extensivo, dada a cobertura rala de gramíneas, em grandes latifúndios. Atualmente há grandes rebanhos de caprinos no sertão nordestino, espécies adaptadas à seca, principalmente na Bahia. No século XIX a cultura do algodão arbóreo, que anteriormente restringia-se a pequenas propriedades, ocupava áreas extensas do sertão nordestino, nas zonas não canavieiras, principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, e expande-se no início do século seguinte para todos os estados do Nordeste (CAMPOS & DOLHNIKOFF, 1993). A cultura do fumo era desenvolvida em áreas localizadas, principalmente no Recôncavo Baiano para, no início do século seguinte, expandir-se, principalmente na Bahia, Sergipe e Alagoas. É uma cultura que exige muita mão de obra, por ser muito exigente principalmente durante a safra (JOFFILY, 1998). É um bioma que apresenta extensas áreas com grandes riscos de desertificação, principalmente no estado do Ceará, e está em etapa avançada da constituição de desertos no sudeste do estado do Piauí, na região de Giboéus, onde os principais fatores à desertificação foram os desmatamentos e o sobrepastejo (EMBRAPA, 1996). Pelas características climáticas regionais, as alterações nesse bioma para práticas agrícolas se dão em pequena escala, e o uso da madeira para fins de fornos para calcário ou outros usos dificultam a regeneração deste bioma cuja produtividade primária é extremamente baixa, exigindo áreas extensas à produção. São desenvolvidas algumas culturas irrigadas no domínio da Caatinga, como as de uva, ao longo do rio São Francisco e de melão, no Rio Grande do Norte, além de algodão e abacaxi. A pecuária extensiva se dá principalmente em grandes latifúndios, no chamado sertão. As maiores extensões da Caatinga preservadas em Unidades de Conservação restritivas encontram-se em Parques Nacionais, em Reservas Biológicas Nacionais e em Estações Ecológicas, somando 197.111ha, e em Unidades de Conservação de uso direto, em Áreas de Proteção Ambiental e em Floresta Nacional, somando 50.162ha (BRUCK et al, 1995). Para os biomas apresentados, um dos fatores mais relevantes à degradação é o crescimento populacional, em geral associado à ausência de planejamento para o uso de espaços e recursos disponíveis de forma sustentada, como é genericamente denominado o uso que não leve ao esgotamento dos recursos naturais. Uma das conseqüências do aumento populacional é a ampliação de áreas à agropecuária, com devastação de áreas da vegetação natural, que pode ter ampliado seu efeito à degradação se com o uso de tecnologia avançada, além dos aumentos de áreas urbanas e da demanda por serviços e recursos naturais. Os efeitos do crescimento populacional podem ser multiplicados por processos de migração, impactando ainda mais certas regiões. Há diversos biomas mantidos em Unidades de Conservação restritivas com áreas insuficientes para representar toda a heterogeneidade que contêm. As Unidades de Conservação com uso indireto, gerenciadas pela União ou pelos estados, somam 19.625.376ha, enquanto as de uso direto, menos restritivas, 140.881.814ha, e as reservas de recursos 51.045ha. A contribuição dos municípios é muito pequena (BRUCK et al, 1995). Entre os biomas apresentados há problemas comuns que podem levar à degradação, ressaltando-se a sua substituição por culturas monoespecíficas ou pecuária, com a diminuição da diversidade biológica e, como conseqüência, a do uso potencial de recursos contidos nas espécies. Em geral estas atividades acarretam aumento de processos erosivos, agravados pela existência de solos arenosos, topografia acidentada e precipitações elevadas, além de promoverem a destruição de hábitats. Na substituição dos biomas por outros sistemas, agrícolas ou urbanos, são perdidas, também, importantes funções de equilíbrio que os biomas exercem no ambiente, seja na proteção do solo, na manuteção dos ciclos hidrológicos, no tamponamento dos efeitos dos fatores físicos do ambiente sobre a superfície da terra, seja a radiação solar, a temperatura, a precipitação e a ação de
  • 14. 14 ventos. Também podem ser perdidos valores estéticos, quando paisagens naturais, em geral heterogêneas, são substituídas por paisagens antropizadas, geralmente homogêneas. Os recursos que representam ou que estão contidos em muitas espécies de plantas e de animais têm características restritivas à exploração, que podem ser generalizados para os diversos biomas, terrestres, aquáticos ou de transição. Quanto mais rico e diverso for o bioma, mais difícil a exploração do recurso, dado o pequeno número de organismos apresentados por uma população. Isto é relevado pelo fato de todos os biomas apresentados possuirem variações regionais e locais de estrutura e de composição florística e faunística, que aumentam a diversidade biológica que contêm. Em relação às espécies de animais, o maior problema relacionado com a extração, caça ou pesca, bem como com a extração seletiva de plantas, é a diminuição excessiva de organismos nas populações, o que pode acarretar a extinção local ou, dependendo da extensão e da intensidade de exploração, em grande escala, com conseqüências nas cadeias ou teias tróficas das quais participam as espécies exploradas. Principalmente devido à perda de hábitat, mas também por causa da caça para diversos fins, dentre as espécies de animais em perigo de extinção ressaltam-se aqueles do topo da cadeia alimentar, como a onça-parda ou sussuarana, a onça pintada, os gatos-do-mato, como a jaguatirica e os gatos-maracajás, os cachorros-do-mato, o lobo-guará, os gaviões e os falcões, que necessitam de territórios muito amplos à caça e reprodução, os jacarés, a lontra, as doninhas, as ariranhas, as sucuris, as surucucus, os grandes mamíferos, como a anta, os cervos, os veados, os tamanduás, os tatus, as preguiças, as baleias, botos, golfinhos e peixes-boi, os primatas: micos, sagüis, guaribas, bugios, uacaris, sauás e diversos macacos, os peixes consumidos por sua carne, como o pirarucu e o tambaqui e diversas outras espécies sob sobrepesca, assim como as tartarugas, o jaboti, os cágados e o tracajá, e lagartos, algumas aves são caçadas para consumo, como o inambu, o jaó, o macuco, o mutum, o jacu, os patos, as pombas, as rolinhas, enquanto outras são ornamentais, como os periquitos, os papagaios, as arararas, os galos-da-serra e as saíras, ou canoras, como os sabiás, o canário-da-terra, o bicudo, o pitassilgo, o pássaro-preto, o curió e as coleirinhas, entre outras. Afora a grande quantidade de espécies conhecidas que são extintas localmente, ressaltam-se as extinções de espécies pouco conhecidas ou ainda não descritas pela ciência, como as de algas, fungos, briófitas, pteridófitas, insetos, escorpiões, aracnídeos, miriápodes, anfíbios e outros grupos de plantas e de animais, notadamente de pequeno porte A fragmentação de hábitats naturais acarreta a diminuição do tamanho de várias populações, de plantas e de animais, seja pela diminuição das áreas ou pela competição pelos recursos remanescentes, tornando-as muitas vezes inviáveis, impedindo a circulação de animais de diversas espécies, com o estabelecimento de áreas de agricultura, áreas urbanas, estradas ou outros obstáculos, intransponíveis, além do estabelecimento de efeitos de borda, como mudanças microclimáticas e da luminosaidade, que facilitam a invasão biológica e o perigo de incêndios e de outros fatores de perturbação. Os tipos de usos mais comuns em relação às plantas referem-se à produção de alimentos na forma de frutos, sementes ou palmitos, de condimentos, aromatizantes e corantes, de uso têxtil, produtoras de cortiça, taníferas, com elevados teores nas cascas ou nos troncos, com exsudatos no tronco, como resinas, gomas, bálsamo, produtoras de óleos e gorduras, medicinais, ornamentais para jardinagem, empregadas no artesanato, plantas apícolas e aparentadas de plantas cultivadas, como no caso do cajú, da mandioca, do abacaxi, da ata, da pinha, do cará, do caqui, da goiaba, do maracujá, do amendoim e do guaraná, entre outras (ALHO & MARTINS, 1995). A introdução de espécies de plantas e de animais no território brasileiro tem elevado o problema das invasões biológicas passíveis de ocorrerem nos diversos biomas, o que tem acarretado na diminuição da diversidade biológica, quando são competidores mais fortes, ou representam pragas ou agentes de doenças. Alterações em áreas naturais têm acarretado na transformação de espécies sob equilíbrio em pragas ou patógenos, agentes de doenças diversas. Para todos os biomas, um dos problemas mais relevantes refere-se ao aumento da população humana, principalmente concentrada em grandes núcleos urbanos, devido a geração de lixo, a impermeabilização do solo, a necessidade de aumento da produção agrícola, a geração de esgoto, não tratado, o aumento na demanda de água para fins domésticos, industriais, de serviços, de lazer e para a produção de alimentos, seja pescado ou para uso na agricultura.
  • 15. 15 A maioria dos municípios brasileiros não possui rede coletora de esgoto (Norte, 92%, Centro- Oeste, 87%, Nordeste 74%, Sul, 61% e Sudeste, 9%), o que é agravado pelo fato de a grande maioria dos municípios, independente da região, não promover o tratamento deste esgoto (98% no Norte, 96% no Nordeste e no Centro-Oeste, 93% no Sul e 85% no Sudeste). Também o lixo não recebe tratamento adequado, sendo a grande maioria depositada em vazadouros a céu aberto (IBGE, 1997, p.198-200), sendo importante fator à degradação de biomas, notadamente aquáticos. Os biomas localizados ao longo do litoral, terrestres, de interfaces ou aquáticos, estão mais sujeitos à degradação proveniente de grandes aglomerados humanos, já que a maioria da população brasileira localiza-se concentrada nesta zona. BIBLIOGRAFIA AB’SABER, A. 1972. O relevo brasileiro e seus problemas. In: AZEVEDO, A. (Coord.) 1972. Brasil: a terra e o homem. Volume 1: As bases físicas. 2ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional. p.135-250. ALARY, M. (ed.)1994. The concise Oxford dictionary of ecology. Oxford, Oxford University Press. 415p. ALHO, C.J.R. & MARTINS, E.S. (eds) 1995. De grão em grão o Cerrado perde espaço: Cerrado – impactos do processo de ocupação. Brasília, WWF – Fundo Mundial para a Natureza. 66p. ALMEIDA, F.F.M. 1972. Os fundamentos geológicos. In: AZEVEDO, A. (Coord.) 1972. Brasil: a terra e o homem. Volume 1: As bases físicas. 2ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional. p.55-133. AZEVEDO, A. 1972. O continente brasileiro. In: AZEVEDO, A. (Coord.) 1972. Brasil: a terra e o homem. Volume 1: As bases físicas. 2ª ed. São Paulo, Companhia Editora Nacional. p.3-51. BARBOSA, A.S. & SCHMITZ, P.I. 1998. Ocupação indígena do Cerrado. In: SANO, S.M. & ALMEIDA, S.P. (eds). Cerrado: Ambiente e flora. Planaltina, Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. P.3-43. BRUCK, E.C.; FREIRE, A.M.V.; LIMA, M.F. 1995. Unidades de conservação no Brasil: Cadastramento e vegetação. Brasília, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 224p. CAMPOS, F. & DOLHNIKOFF, M. 1993. Atlas: História do Brasil. São Paulo, Editora Scipione Ltda. 80p. COUTINHO, L.M. 1978. O conceito do cerrado. Revista brasileira de Botânica 1(1):17-23. DEAN, W. 1997. A ferro e fogo: A história e a devasta;cão da Mata Atlântica brasileira. São Paulo, Companhia das Letras. 484p. EMBRAPA 1996. Atlas do meio ambiente do Brasil. Brasília, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. 160p. EMBRAPA 1999. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 412p. IBGE 1972. Paisagens do Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia. 286p. IBGE, 1992. Atlas nacional do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia. 95 mapas. IBGE, 1997. Recursos naturais e meio ambiente: uma visão do Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia. 208p. JOFFILY, B. 1998. IstoÉ Brasil, 500 Anos – Atlas Histórico. São Paulo. Grupo de Comunicações Três S/A. 314p. LEPSCH, I.F. 1976. Solos – Formação e conservação. São Paulo, Edições Melhoramentos. 158p. (Série Prisma, 31). MITTERMEIR, R.A.; MYERS, N.; GIL, P.R.; MITTERMEIR, C.G. 1999. Hot Spots: Earth’s biologically richest and most endangered terrestrial ecoregions. Mexico, Cemex and Conservation International. 430p. MOREIRA, I. 1998. Construindo o espaço brasileiro. São Paulo, Editora Ática. 303p. NIMER, E. 1989. Climatologia do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. 421p. PIRES, J.M. & PRANCE, G.T.1985. The vegetation types of the Brazilian Amazon. In: PRANCE, G.T. & LOVEJOY, T.E. 1985. Key environments: Amazonia. Oxford, Pergamon Press. 109-145. SANTOS, L.B.; INNOCÊNCIO, N.R.; GUIMARÃES, M.R.S. 1977. Vegetação. In: IBGE 1977c. Geografia do Brasil. Volume 3: Região Centro Oeste. Rio de Janeiro, Fundação Instituto Brasileiro de Geografia. p.59-84.