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Dinâmicas de desinformação
pública em ciência: o caso da
pílula do câncer no Brasil
ALINE BASTOS
Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) e gestora da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
A pílula do câncer
• Foi no Instituto de Química de São Carlos da Universidade
de São Paulo (IQSC/USP) que o professor Gilberto Chierice
e sua equipe realizaram os primeiros estudos com a
fosfoetalonamina sintética há mais de 20 anos.
• Anos depois, começou a produção em
escala laboratorial para testes in vitro
(em laboratório) e in vivo (com
cobaias e humanos), sendo iniciada a
sua distribuição gratuita, a partir de
um convênio firmado com o Hospital
Amaro Cavalcanti de Jaú, SP.
A pílula do câncer
• Com a negativa da Universidade em continuar a
distribuição da substância aos pacientes, após a
aposentadoria do professor Chierice em 2014, o caso
foi parar na esfera judicial, chegando à mídia, ao
Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal
(STF), entre outras instâncias nacionais.
A pílula do câncer
A pílula do câncer
• O ápice dessa controvérsia ocorreu com a
promulgação de uma lei nacional em março de 2016,
que autorizou o uso da substância por pacientes com
câncer, sem comprovação científica de sua eficácia e
sem a devida autorização da vigilância sanitária.
A pílula do câncer e OP
Este caso não se restringe ao âmbito científico, apenas. A
riqueza e o desafio da investigação estão assentados na
complexa e imbricada rede de associações, dissociações
e influências entre diversos atores envolvidos num
emaranhado de controvérsias, debates e argumentos
antagônicos.
A ciência dos especialistas e autoridades
governamentais, com suas instituições, seus poderes e
discursos constituídos, foi fortemente questionada e
pressionada por aspectos midiáticos, políticos, jurídicos,
financeiros, morais, éticos, emocionais.
Objetivos
 Investigar as negociações e as interações entre cientistas e
cidadãos em disputa no espaço público, a fim de avaliar as
potencialidades e os limites do engajamento público em
uma questão controversa.
• Captar a complexidade das relações que se estabelecem
no espaço público gerado pela controvérsia da pílula do
câncer, em suas disputas de poder, resistência e
negociação, cooptações e alianças, em constante
movimento.
• Preencher uma lacuna ao investigar como os públicos se
engajam em ciência de maneira informal em espaços
discursivos e de interação, acionando elementos de
visibilidade/publicidade entrelaçados por um conjunto de
interinfluências, em uma “trama" de controvérsias em que
os públicos se envolvem (HENRIQUES, 2018).
Desenho metodológico
Estudo de caso (YIN, 2010)
1. Análise documental (dados secundários)
2. Entrevistas semiestruturadas (dados primários)
 Os critérios de sequência das entrevistas seguiu a
metodologia do snowball (bola de neve), a partir de uma
lista previamente elaborada com os principais atores.
 Optamos por manter os nomes dos entrevistados em
anonimato, divididos em três categorias para preservar
seu “lugar de fala”: C – Ciência; J – Justiça; M – Mídia.
Movimento de análise:
indutivo-dedutivo
 Buscamos a empiria, daquilo que deriva da
experiência, do que se aprende vivendo e/ou
observando as interações e mobilizações no espaço
público, em três dimensões de análise:
Quadro resumo das
categorias analíticas
Comunicação de ciência:
o engajamento é possível?
• Os modelos de comunicação de ciência não dão conta
de explicar a dinâmica de movimentação e
engajamento dos públicos no espaço público,
especialmente em questões polêmicas e controversas.
• Os públicos interagem e se engajam em assuntos
científicos e tecnológicos, reconfigurando as relações
de confiança entre cientistas e cidadãos e tensionando
o próprio status da ciência na sociedade.
Translações de interesses
 Os próprios cientistas empregam estratégias e táticas,
ancorando-se em elementos discursivos e simbólicos,
para estabelecer uma cadeia com aliados e apoiadores
prontos a defendê-los e a repetir suas alegações.
“As pessoas que estão realmente fazendo ciência não
estão todas no laboratório; ao contrário, há pessoas no
laboratório porque muitas estão fazendo ciência em
outros lugares" (LATOUR, 2011, p. 254).
A potência simbólica
 Os simbolismos do câncer: dor, sofrimento e morte
 Das crenças mágicas à medicina baseada em evidência
 A pílula como objeto mítico
 O efeito placebo
 O apelo humanitário da pílula do câncer x lucro
 Análises da ineficácia da fosfoetanolamina sintética
contra o câncer
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desinformação
 A figura carismática de Gilberto Chierice
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Conclusões
1. Mitificação: a pílula e o câncer no imaginário popular.
2. Midiatização: sensacionalismo, espetacularização e
comoção pública.
3. Judicialização, politização e populismo.
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Tratamento precoce – Covid 19
 Desde março de 2021, o “tratamento precoce” contra a
covid foi incentivado por autoridades públicas e médicos
brasileiros.
 Além do uso de drogas ineficazes do “kit
covid”(hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida,
azitromicina e corticosteroides sistêmicos), as medidas de
eficácia comprovada, como uso de máscara,
distanciamento social e vacinação, foram desestimuladas.
 Mesmo sendo reprovado pela comunidade científica,
passaram a serem adotados em larga escala em diferentes
países, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil,
especialmente depois de serem promovidas pelos
presidentes dos dois países, Donald Trump e Jair
Bolsonaro.
Tratamento precoce – Covid 19
 Na visão do Presidente do Brasil, Jair
Bolsonaro, as empresas
farmacêuticas têm interesse em
desacreditar a cloroquina.
 O governo brasileiro ficou com 2,5
milhões de comprimidos de
hidroxicloroquina encalhados em um
armazém do Ministério de Saúde, em
hospitais e em diversos municípios.
Tratamento precoce – Covid 19
Mortes evitáveis por Covid
 Estima-se que cerca de 120 mil mortes ocorridas no
primeiro ano da pandemia (de março de 2020 a março de
2021) poderiam ter sido evitadas se o Brasil tivesse
adotado medidas preventivas. No total, verificou-se 305
mil mortes acima do esperado no período (OXFAM Brasil,
2021).
Conclusões
 As dinâmicas de opinião pública, como boatos, teorias de
conspiração e anticientificismo, levam os públicos a lidar
com as questões científicas de maneira superficial, fugaz,
estereotipada e emocionalmente suscetível à
desinformação – baseada, sobretudo, na disseminação de
notícias falsas (fake news) e à força de marketing e
relações públicas de instituições, grupos e indivíduos.
 Nos dias atuais, multiplicam-se essas dinâmicas perante a
opinião pública, colocando em cheque a expertise, os
protocolos científicos e a própria ciência.
Conclusões
 Especialmente na área médica, a expansão dessas
dinâmicas de desinformação leva à desconfiança dos
públicos, e pode impactar a vida e a saúde de populações
inteiras, pois representa uma decisão que pode levar a
pessoa:
... ao alívio ou ao sofrimento,
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Obrigada!
aline.bastos@embrapa.br

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  • 1. Dinâmicas de desinformação pública em ciência: o caso da pílula do câncer no Brasil ALINE BASTOS Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e gestora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
  • 2. A pílula do câncer • Foi no Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC/USP) que o professor Gilberto Chierice e sua equipe realizaram os primeiros estudos com a fosfoetalonamina sintética há mais de 20 anos. • Anos depois, começou a produção em escala laboratorial para testes in vitro (em laboratório) e in vivo (com cobaias e humanos), sendo iniciada a sua distribuição gratuita, a partir de um convênio firmado com o Hospital Amaro Cavalcanti de Jaú, SP.
  • 3. A pílula do câncer • Com a negativa da Universidade em continuar a distribuição da substância aos pacientes, após a aposentadoria do professor Chierice em 2014, o caso foi parar na esfera judicial, chegando à mídia, ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal (STF), entre outras instâncias nacionais.
  • 4. A pílula do câncer
  • 5. A pílula do câncer • O ápice dessa controvérsia ocorreu com a promulgação de uma lei nacional em março de 2016, que autorizou o uso da substância por pacientes com câncer, sem comprovação científica de sua eficácia e sem a devida autorização da vigilância sanitária.
  • 6. A pílula do câncer e OP Este caso não se restringe ao âmbito científico, apenas. A riqueza e o desafio da investigação estão assentados na complexa e imbricada rede de associações, dissociações e influências entre diversos atores envolvidos num emaranhado de controvérsias, debates e argumentos antagônicos. A ciência dos especialistas e autoridades governamentais, com suas instituições, seus poderes e discursos constituídos, foi fortemente questionada e pressionada por aspectos midiáticos, políticos, jurídicos, financeiros, morais, éticos, emocionais.
  • 7. Objetivos  Investigar as negociações e as interações entre cientistas e cidadãos em disputa no espaço público, a fim de avaliar as potencialidades e os limites do engajamento público em uma questão controversa. • Captar a complexidade das relações que se estabelecem no espaço público gerado pela controvérsia da pílula do câncer, em suas disputas de poder, resistência e negociação, cooptações e alianças, em constante movimento. • Preencher uma lacuna ao investigar como os públicos se engajam em ciência de maneira informal em espaços discursivos e de interação, acionando elementos de visibilidade/publicidade entrelaçados por um conjunto de interinfluências, em uma “trama" de controvérsias em que os públicos se envolvem (HENRIQUES, 2018).
  • 8. Desenho metodológico Estudo de caso (YIN, 2010) 1. Análise documental (dados secundários) 2. Entrevistas semiestruturadas (dados primários)  Os critérios de sequência das entrevistas seguiu a metodologia do snowball (bola de neve), a partir de uma lista previamente elaborada com os principais atores.  Optamos por manter os nomes dos entrevistados em anonimato, divididos em três categorias para preservar seu “lugar de fala”: C – Ciência; J – Justiça; M – Mídia.
  • 9. Movimento de análise: indutivo-dedutivo  Buscamos a empiria, daquilo que deriva da experiência, do que se aprende vivendo e/ou observando as interações e mobilizações no espaço público, em três dimensões de análise:
  • 11.
  • 12. Comunicação de ciência: o engajamento é possível? • Os modelos de comunicação de ciência não dão conta de explicar a dinâmica de movimentação e engajamento dos públicos no espaço público, especialmente em questões polêmicas e controversas. • Os públicos interagem e se engajam em assuntos científicos e tecnológicos, reconfigurando as relações de confiança entre cientistas e cidadãos e tensionando o próprio status da ciência na sociedade.
  • 13. Translações de interesses  Os próprios cientistas empregam estratégias e táticas, ancorando-se em elementos discursivos e simbólicos, para estabelecer uma cadeia com aliados e apoiadores prontos a defendê-los e a repetir suas alegações. “As pessoas que estão realmente fazendo ciência não estão todas no laboratório; ao contrário, há pessoas no laboratório porque muitas estão fazendo ciência em outros lugares" (LATOUR, 2011, p. 254).
  • 14. A potência simbólica  Os simbolismos do câncer: dor, sofrimento e morte  Das crenças mágicas à medicina baseada em evidência  A pílula como objeto mítico  O efeito placebo  O apelo humanitário da pílula do câncer x lucro  Análises da ineficácia da fosfoetanolamina sintética contra o câncer  A falta de reprodutibilidade na ciência médica: fraude, pseudociência ou ciência mal feita?
  • 15. Disseminação de desinformação  A figura carismática de Gilberto Chierice  Pós-verdade e movimentos anticiência  Boatos e fake news (notícias falsas)  A desconfiança pública sobre a indústria farmacêutica  Teorias da conspiração
  • 16. Conclusões 1. Mitificação: a pílula e o câncer no imaginário popular. 2. Midiatização: sensacionalismo, espetacularização e comoção pública. 3. Judicialização, politização e populismo. E a história se repete...
  • 17. Tratamento precoce – Covid 19  Desde março de 2021, o “tratamento precoce” contra a covid foi incentivado por autoridades públicas e médicos brasileiros.  Além do uso de drogas ineficazes do “kit covid”(hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e corticosteroides sistêmicos), as medidas de eficácia comprovada, como uso de máscara, distanciamento social e vacinação, foram desestimuladas.  Mesmo sendo reprovado pela comunidade científica, passaram a serem adotados em larga escala em diferentes países, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil, especialmente depois de serem promovidas pelos presidentes dos dois países, Donald Trump e Jair Bolsonaro.
  • 18. Tratamento precoce – Covid 19  Na visão do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, as empresas farmacêuticas têm interesse em desacreditar a cloroquina.  O governo brasileiro ficou com 2,5 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina encalhados em um armazém do Ministério de Saúde, em hospitais e em diversos municípios.
  • 20. Mortes evitáveis por Covid  Estima-se que cerca de 120 mil mortes ocorridas no primeiro ano da pandemia (de março de 2020 a março de 2021) poderiam ter sido evitadas se o Brasil tivesse adotado medidas preventivas. No total, verificou-se 305 mil mortes acima do esperado no período (OXFAM Brasil, 2021).
  • 21. Conclusões  As dinâmicas de opinião pública, como boatos, teorias de conspiração e anticientificismo, levam os públicos a lidar com as questões científicas de maneira superficial, fugaz, estereotipada e emocionalmente suscetível à desinformação – baseada, sobretudo, na disseminação de notícias falsas (fake news) e à força de marketing e relações públicas de instituições, grupos e indivíduos.  Nos dias atuais, multiplicam-se essas dinâmicas perante a opinião pública, colocando em cheque a expertise, os protocolos científicos e a própria ciência.
  • 22. Conclusões  Especialmente na área médica, a expansão dessas dinâmicas de desinformação leva à desconfiança dos públicos, e pode impactar a vida e a saúde de populações inteiras, pois representa uma decisão que pode levar a pessoa: ... ao alívio ou ao sofrimento, ... à cura ou à dor, ... à vida ou à morte.