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JAIR MESSIAS BOLSONARO
Presidente da República
TEREZA CRISTINA CORRÊA DA COSTA DIAS
Ministra de Estado da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO
VALDIR COLATTO
Diretor-Geral do Serviço Florestal Brasileiro
JAINE ARIÉLY CUBAS DAVET
Diretora de Cadastro e Fomento Florestal
PAULO HENRIQUE MAROSTEGAN E CARNEIRO
Diretor de Concessão Florestal e Monitoramento
FERNANDO CASTANHEIRA NETO
Coordenador-Geral de Fomento e Inclusão Florestal
VITO ENZO GENESI
Coordenador de Fomento e Inclusão Florestal
BRUNO MALAFAIA GRILLO
CLARISSA MARIA DE AGUIAR
DÉBORA SILVA CARVALHO
FLAVIA REGINA RICO TORRES
GRACIEMA RANGEL PINAGÉ
RUBENS RAMOS MENDONÇA
TITO NUNES DE CASTRO
RUBENS RAMOS MENDONÇA
Equipe Técnica
GRACIEMA RANGEL PINAGÉ
TITO NUNES DE CASTRO
RUBENS RAMOS MENDONÇA
CLARISSA MARIA DE AGUIAR
PETER WIMMER
Conteudistas
FELIPE RIBEIRO
INGO ISERNHAGEN
Revisão Técnica
AVANTE BRASIL INFORMÁTICA E TREINAMENTO LTDA.
Projeto Gráfico e Ilustração
1 A recomposição da vegetação e sua re lação com as mudanças climáticas e a conservação das
florestas 6
Apresentação 7
1. Introdução 8
1.1. Conceitos sobre recomposição 9
1.2. Conhecendo melhor as florestas tropicais 11
1.3. As estruturas da floresta tropical úmida 13
1.3.1. Composição florestal 13
1.3.2. A Biogeografia da Floresta Amazônica 16
1.4. Recomposição e a sua importância 20
1.4.1. Instrumentos legais e políticos 22
1.5. Lei de Proteção da Vegetação Nativa 24
Encerramento do módulo 1 31
2 Planejamento da recomposição da vegetação 32
2.1. Introdução 33
2. Planejamento da recomposição 34
2.1. Diagnóstico das áreas a serem recompostas 34
2.1.1. Localização e mapeamento da paisagem 35
2.1.2. Vegetação remanescente 38
2.1.3. Qualidade do solo 39
2.1.4. Logística das áreas 41
2.2. Definição dos métodos de recomposição 42
2.3. Planejamento econômico 44
2.4. Cronograma 46
Encerramento do módulo 2 47
3 Métodos de recomposição da vegetação nativa 48
1. Introdução 49
2. Regeneração Natural 50
3. Transposição de solo florestal superficial ou “topsoil” 51
4. Plantios de Adensamento 52
5. Plantio mecanizado de sementes em área total 53
6. Plantio de mudas em área total 54
SUMÁRIO
7. Plantios de enriquecimento 56
8. Sistemas Agroflorestais (SAFs) 57
9. Nucleação 59
Encerramento do módulo 3 61
4 Implantação, manutenção do plantio e monitoramento da recomposição 62
1. Introdução 63
2. Preparo do solo 64
3. Abertura de aceiros e instalação de cercas 66
Encerramento do módulo 4 84
5 Coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes florestais 85
1. Introdução 86
2. As sementes 87
Encerramento do módulo 5 102
6 Produção de mudas de espécies florestais 103
1. Introdução 104
2. Viveiros Florestais 105
2.1. Viveiros temporários x viveiros permanentes 106
2.2. Critérios para implantação do viveiro 107
2.2.1. Facilidade de acesso 108
2.2.2. Quantidade e qualidade de água 108
2.2.3. Drenagem 109
2.2.4. Orientação geográfica e proteção contra o vento 109
2.3. Insumos necessários para a produção no viveiro 110
2.3.1. Recipientes 110
2.3.2. Substratos 112
2.3.3. Tipos de substratos 112
2.4. Métodos de produção de mudas 113
2.4.1. Germinação 113
2.4.2. Dormência 114
2.4.3. Dormência exógena 114
2.4.4. Quebra de dormência exógena 115
2.4.5. Dormência endógena 116
2.4.6. Quebra de dormência 116
2.4.7. Teste de qualidade 117
2.4.8. Pureza 117
2.4.9. Germinação 118
2.5. Semeadura 118
2.5.1. Densidade 119
2.5.2. Época 119
2.5.3. Abrigo 119
2.6. Sequência operacional de atividades no viveiro 120
2.7. Elaboração de projetos de viveiros florestais 122
2.8. Monitoramento das mudas 123
2.8.1. Parâmetros morfológicos 123
Encerramento do módulo 6 125
7 Geração de renda pela recomposição florestal 126
1. Introdução 127
2. Importância da geração de renda para o sucesso da recomposição em larga escala 128
Encerramento do módulo 7 143
Referências Bibliográficas 144
MÓDULO 1
A recomposição da vegetação e
sua re lação com as mudanças
climáticas e a conservação das
florestas
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
7
Apresentação
Olá! Eu sou o Altair, técnico extensionista da região, e irei conduzir este curso com
a analista ambiental Carol. Os fazendeiros Eliana e João também irão partilhar as
experiências e dúvidas sobre os temas que serão apresentados.
CAROL
TÉCNICO
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
8
Para começar, faremos uma introdução sobre o tema recomposição
florestal, que é muito discutido hoje no Brasil e no mundo, sendo de
grande importância o seu entendimento. Nesse curso, vamos abordar as
principais orientações para a recomposição da vegetação em florestas
tropicais, a partir das etapas de coleta, beneficiamento e armazenamento
de sementes, produção de mudas e construção de viveiros. Para
complementar, vamos estudar os principais métodos de recomposição,
os recursos necessários, bem como acompanhar todo o seu processo de
implementação e monitoramento.
Vale lembrar que todas as atividades mencionadas detêm princípios
técnicoselegaismuitoclarosebemdefinidos,estandoestabelecidas
em legislação específica, como leis, decretos, portarias e instruções
normativas, que também serão apresentadas durante os módulos.
Vamos lá conhecer mais sobre como recompor a nossa floresta!
1. Introdução
TÉCNICO
CAROL
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
9
O Serviço Florestal Brasileiro adota os termos Recomposição ou
Recuperação, definidos no Decreto n° 8.972/2017 – Política Nacional
de Recuperação da Vegetação Nativa. Vamos apresentar, a seguir, o
conceito de acordo com o Decreto:
1.1. Conceitos sobre recomposição
Recuperação ou recomposição da vegetação nativa - restituição da cobertura
vegetal nativa por meio de implantação de sistema agroflorestal, de
reflorestamento, de regeneração natural da vegetação, de reabilitação ecológica
e de restauração ecológica.
Importante
Fazer recuperar o uso ou o estado anterior deste.
Restituição
Segundo o World Agroforestry Center - ICRAF, os SAFs são “sistemas baseados na dinâmica,
na ecologia e na gestão dos recursos naturais que, por meio da integração de árvores na
propriedade e na paisagem agrícola, diversificam e sustentam a produção, com maiores
benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos aqueles que usam o solo em
diversas escalas”.
Sistema agroflorestal (SAFs)
Agora vamos entender cada um deles?
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
10
Intervenção humana planejada visando à melhoria das funções de ecossistema degradado,
procurando desencadear o restabelecimento mais próximo da composição, da estrutura e
do funcionamento do ecossistema preexistente.
Reabilitação ecológica
Produto da intervenção humana intencional em ecossistemas alterados ou degradados
para facilitar ou acelerar o processo natural de sucessão ecológica.
Restauração ecológica
Plantação de espécies florestais, nativas ou não, em povoamentos puros ou não, para
formação de uma estrutura florestal em área originalmente coberta por florestas.
Reflorestamento
Processo pelo qual espécies nativas se estabelecem em área alterada ou degradada a ser
recuperada ou em recuperação, sem que este processo tenha ocorrido deliberadamente
por meio de intervenção humana.
Regeneração natural da vegetação
Restituição de cobertura vegetal com espécies nativas por meio de plantios de mudas ou
semeadura direta visando reabilitação e/ou restauração ecológica com a implantação de
estratégiasdeplantioscomosistemaagroflorestal,reflorestamentooumesmoregeneração
natural da vegetação.
Recuperação ou recomposição da vegetação nativa
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
11
1.2. Conhecendo melhor as florestas
tropicais
Temos nossas práticas e costumes, então
estamos felizes por contar agora com
o apoio de vocês para este processo de
recomposição.
Conte com a gente, Eliana e João. Mas
para realizar a recomposição é necessário
entender as características da vegetação
que pretendemos recompor, pois cada
área apresenta uma disposição própria
conforme o local de ocorrência.
As principais características das florestas tropicais são:
• Clima quente (devido à proximidade com a linha do Equador); e
• Grande diversidade de espécies.
Essasflorestasestãolocalizadasnaregiãoentreostrópicos,maisprecisamente
na América Central e México, na América do Sul, na África, no sudeste Asiático e em ilhas do
Oceano Pacífico.
De acordo com a FAO (2012), são divididas em três categorias: tropicais secas, tropicais
estacionais e tropicais úmidas.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
12
• Apresentam um longo período seco (5 a 8 meses), onde todas as árvores perdem as
folhas nesta época;
Exemplo: Bioma Caatinga.
Florestas tropicais secas
• Apresentam um período seco (3 a 5 meses), onde algumas árvores perdem suas
folhas durante esse período.
Exemplo: Manchas de vegetação no Bioma Mata Atlântica.
Florestas tropicais estacionais
• Apresentam ou não uma estação seca que pode variar de 0 a 3 meses;
Exemplo: Bioma Amazônia.
No próximo item, daremos destaque as características da floresta tropical úmida.
Florestas tropicais úmidas
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
13
1.3. As estruturas da floresta tropical úmida
1.3.1. Composição florestal
As florestas são formadas por milhares de espécies que apresentam diferentes tamanhos,
formas e funções dentro do ecossistema florestal. Em relação ao tamanho e forma dessas
espécies, podemos dividir a floresta em quatro estratos (altura): herbáceo, sub-bosque,
dossel e emergente.
Emergente: árvores altas que ultrapassam o
dossel.
Dossel: patamar superior da floresta correspon-
dendo à mais alta camada de folhas, caules e
pequenos ramos expostos;
Sub-bosque: conjunto de plântulas e plantas
jovens que crescem abaixo do dossel florestal;
Herbáceo:camadadeervas(plantanãolenhosa
e terrestre), subarbustos (planta de base
lenhosa e ápice herbáceo), trepadeiras (planta
de hábito escandente de forma ampla), sendo
estas herbáceas (vinhas) ou lenhosas (lianas)
e arbustos (planta lenhosa ramificada desde a
base) com até 1,30m.
* Planta recém brotada ou muito nova.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
14
Para cada estrato, podemos identificar e quantificar em uma determinada área a:
Densidade de indivíduos: número de indivíduos por hectare;
Área basal: área ocupada pela circunferência dos indivíduos por hectare;
Distribuição espacial: forma de distribuição dos indivíduos na floresta, se em grupos,
espaçados etc.
Estrutura florística: como as diferentes espécies se distribuem nos diferentes estratos
e locais da floresta.
Distribuição diamétrica: frequência dos indivíduos por tamanho de seus diâmetros;
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
15
As espécies da floresta apresentam diferentes estratégias de crescimento e sobrevivência,
que se adaptam à natureza conforme os recursos disponíveis. Entre estes grupos temos:
• Espécies primárias que possuem crescimento rápido (atingindo rapidamente o
dossel), necessitando de maior iluminação para seu crescimento, com ciclo de vida
reduzido e produzem grande quantidade de sementes, que ficam bastante tempo
no solo esperando melhores condições para se desenvolver. Essas espécies se
desenvolvem melhor após algum distúrbio na floresta, como por exemplo a abertura
de uma clareira na floresta. Exemplo: Açaí (Euterpe sp.), Paricá (Schizolobium
amazonicum (Vell)) e Maricá (Mimosa bimucronata).
• Espécies secundárias e clímax crescem em condições de luz reduzida, possuem ciclo
de vida longo produzindo sementes em menor quantidade. As espécies desse grupo
são capazes de desenvolver plântulas dentro do sub-bosque da floresta. Exemplo:
Jatobá (Hymenaea courbaril var. stilbocarpa), Copaíba (Copaifera sp.) e Sobrasil
(Colubrina glandulosa Perkins).
• Espécies intermediárias possuem comportamentos situados entre os dois casos
citados anteriormente, mudando o comportamento de crescimento após atingirem
certos níveis da floresta.
• Nestes casos, no momento de escolher as espécies para o plantio, é importante
reconhecer as espécies de diferentes estratégias de ocupação do ambiente, aquelas
de recobrimento ou seja aquelas que não apenas crescem rápido, mas produzem
grande biomassa de folhagem e assim são capazes de competir com as invasoras,
ao mesmo tempo sejam relativamente fáceis de sair do sistema quando forem
substituídas naturalmente pelas espécies de diversidade e crescimento mais lento,
que são aquelas fundamentais na estruturação final da restauração ou seja, as
espécies clímax.
Grupos ecológicos sucessionais
A mortalidade e a formação de clareiras ocorrem o tempo todo dentro da floresta. Quando
um indivíduo adulto de estrato arbóreo morre, abre-se uma clareira que beneficia as
espécies de crescimento rápido. Estas sombreiam relativamente rápido a área, facilitando
o crescimento de espécies tolerantes à sombra. Isso transforma a floresta em uma junção
de unidades florestais em diferentes processos de sucessão (clareiras em processo de
fechamento de dossel, áreas com vegetação madura, entre outros) criando um mosaico
dinâmico.
Esses parâmetros auxiliam no entendimento da composição e da dinâmica da floresta
e devem ser observados durante a recomposição da vegetação possibilitando, assim,
acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da floresta como um todo.
Mosaicos
Nessa mesma área podemos observar a evolução da floresta ao longo do tempo, diante das
seguintes observações:
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
16
1.3.2. A Biogeografia da Floresta Amazônica
A Floresta Amazônica é considerada a maior floresta tropical do mundo e está localizada
no norte da América do Sul, abrangendo os estados do Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia,
Pará, Roraima, norte do Mato Grosso e Tocantins e oeste do Maranhão, além de menores
proporções nos países Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e no
território da Guiana Francesa.
Mapa da Amazônia continental Mapa dos biomas
Fonte: IBGE, adaptado SFB
A Floresta faz parte do bioma Amazônico, no qual ocupa 49,29% do território nacional,
aproximadamente 4.196.943 km2
, representando o maior bioma do Brasil (SNIF).
* Bioma: um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação
contíguosequepodemseridentificadosanívelregional,comcondiçõesdegeologiaeclimasemelhantes
e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma
diversidade de flora e fauna própria(IBGE, 2005).
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
17
O clima predominante da região é o equatorial úmido, devido à proximidade com a linha
do Equador, apresentando pouca variação de temperatura ao longo do ano, com médias
anuais de 26 a 27°C.
As chuvas são abundantes com médias de precipitação anuais de 2.300 mm. Quanto à
hidrografia, a região norte abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica,
onde os rios mais importantes da região são o rio Amazonas e o rio Tocantins.
Clima
O relevo Amazônico apresenta áreas de planície
(terrenos com pouca variação de altitude) que são
constantemente inundadas pela água dos rios,
áreas de depressões (tipo de relevo aplainado,
onde são encontradas colinas baixas) e áreas de
planaltos (terrenos com superfície elevada), como
o planalto das Guianas.
Mapa de altitude do Brasil
(https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/
atlas/mapas_brasil/brasil_fisico.pdf).
Relevo
A vegetação da Floresta Amazônica está intimamente ligada ao clima, ao solo e ao relevo.
Devido à influência do clima e das diferentes formações geológicas e de relevo, os solos
amazônicos são geralmente arenosos com uma fina camada de nutrientes resultantes do
processo de decomposição de folhas, galhos, frutos e animais mortos, possibilitando o
crescimento de uma rica floresta com uma enorme biodiversidade e diferentes formações
florestais, são elas (IBGE, 2012):
Floresta Ombrófila Densa ou floresta tropical úmida ou pluvial: vegetação formada
por árvores de grande porte, sendo a vegetação mais presente na floresta amazônica. Essa
formação florestal foi subdividida em cinco categorias de acordo com as variações das
faixas de altitude são elas: Altomontana, Montana, Submontana, Terras Baixas e Aluvial.
Solo e Vegetação
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
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Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012.
Floresta Ombrófila Aberta: possui um dossel mais aberto devido à grande presença de cipós
ou palmeiras ou bambus ou sororocas;
Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012.
O termo biodiversidade - ou diversidade biológica - descreve a riqueza e a variedade do mundo natural,
em espécies, populações dessas espécies e a diversidade genética.
Formações florestais se refere àos diferentes tipos de vegetação arbórea, como a Mata de Araucarias,
Cerradão, Mata de bambus na Amazônia, etc.
Ombrófila é um termo em grego que quer dizer amigo da chuva.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
19
Campinarana florestada ou Caatinga da Amazônia e Caatinga-Gapó: esse tipo de vegeta-
ção apresenta árvores menores e com troncos mais finos em relação as florestas ombrófilas
e ocorrem no alto rio Negro (noroeste do Amazonas) e no médio rio Branco (sul de Roraima);
* Sororoca ou banana-da-mata, planta da família da banana, que se parece com ela, mas sem
frutos, de matas úmidas.
CampinaranaarborizadaouCampinaranaeCaatinga-Gapó:ocorrenasmesmaslocalidades
da campinarana florestada, porém em locais com solos mais arenosos, apresentando árvores
menos desenvolvidas.
Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012.
Mapa da vegetação da Amazônia.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
20
1.4. Recomposição e a sua importância
CAROL
Pessoal, quero ressaltar que manutenção dos serviços ambientais e a conservação
da biodiversidade já representam razões importantes para recompor uma área
degradada ou alterada, mas vale incluir ainda a exigência legal e os compromissos
internacionais do Brasil.
Exatamente, Carol! Desta forma, as florestas representam
uma grande fonte de recursos naturais, gerando riqueza
ambiental e socioeconômica. Entre os serviços ambientais
destacamos a manutenção do ciclo das águas, absorção de
carbono, polinização e dispersão de sementes, controle de
enchentes e erosões. Em termos socioeconômicos, a coleta
e comercialização dos produtos florestais madeireiros e não-
madeireiros geram segurança alimentar e renda para diversas
famílias.
Serviços ambientais: trata-se dos benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou indiretamente,
através dos ecossistemas, a fim de sustentar a vida no planeta, como proteção contra erosão, água
potável, solos férteis e muitos outros.
Absorção de carbono: as plantas, enquanto crescem, retiram gás carbônico do ar – uma árvore adulta
tem cerca de 40% de seu peso de carbono.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
21
A degradação ou alteração de uma área pode ocorrer por diversas ações,
tanto naturais, quanto antrópicas (causada por ação do homem), entre elas:
• pecuária extensiva;
• exploração predatória de madeira e produtos não-madeireiros;
• agricultura de corte e queima; e
• agricultura mecanizada de grãos.
Essas atividades foram e continuam sendo atrativas economicamente,
entretanto, causam degradação das florestas e a redução de bens e
serviços ambientais, comprometendo o bem-estar das gerações presentes e
futuras, como também podem reduzir o potencial produtivo das atividades
destacadas acima.
O relatório “O Futuro Climático da
Amazônia”, aponta o importante pa-
pel da floresta na regulação do clima,
destacando a sua capacidade em
manter a umidade do ar, possibili-
tando que ocorram chuvas dentro do
continente, longe dos oceanos, como
o fenômeno dos rios voadores.
Este fenômeno ocorre da seguinte
forma: os ventos alísios (ventos que
sopram de leste para oeste) carregam
vapor d’água que vem do oceano
Atlântico para a região amazônica,
gerando chuvas e fazendo mover os
rios voadores. Essa umidade avança
até atingir a Cordilheira dos Andes, onde ocorre uma nova precipitação forman-
do as cabeceiras dos rios da Amazônia. A umidade que atinge a região andina em
parte retorna para o Brasil, podendo gerar precipitações nas regiões centro-oes-
te, sudeste e sul.
Saiba mais
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
22
1.4.1. Instrumentos legais e políticos
A recomposição da vegetação obrigatória, quando
ocorrer, é definida na Lei n° 12.651 de 2012, que trata
sobre a Proteção da Vegetação Nativa, também conhe-
cida como Novo Código Florestal. É a lei que traz regras
sobre como se deve usar a terra e proteger as florestas
brasileiras. Essa lei determina quais as áreas de vege-
tação nativa que toda propriedade e posse precisam
ter, a Reserva Legal (RL) e a Área de Preservação Per-
manente (APP), como também em que condições pode
realizar intervenções na vegetação nativa como sua
exploração florestal, o suprimento de matéria-prima
florestal, o controle da origem dos produtos florestais,
o controle e prevenção dos incêndios florestais, e a pre-
visão de instrumentos econômicos e financeiros para o
alcance de seus objetivos.
OBrasilassumiuocompromissointernacionalderecompordozemilhõesdehectaresdeáreas
desmatadas e degradadas, perante a Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês).
Essas duas Convenções, juntamente com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à
Desertificação e Mitigação dos efeitos da seca, foram elaboradas durante a Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em
1992, a Rio 92, na qual reuniu representantes de 179 países, onde foi consolidada uma agenda
global para minimizar os problemas ambientais mundiais.
Um dos resultados mais importantes da Convenção-Quadro, foi a criação do Protocolo de
Quioto em 1997 durante a COP3 (Conferência entre as Partes), no qual estabeleceu metas de
redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) para países desenvolvidos, considerados
os responsáveis históricos pela mudança atual do clima. O Protocolo entrou em vigor em
2005, onde foi estabelecido que os países desenvolvidos deveriam reduzir 5% das emissões
em relação aos níveis de 1990. O Brasil aderiu ao Protocolo em 2002.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
23
Em 2015, na COP 21, foi aprovado um novo acordo global, o Acordo de Paris, que possui metas
de redução de emissões de gases de efeito estufa para todos os países, desenvolvidos e em
desenvolvimento, definidas nacionalmente conforme as prioridades e possibilidades de cada
um. O Brasil fez o compromisso de reduzir as emissões dos GEEs em 37% abaixo dos níveis de
2005atéoanode2025e43%paraoanode2030.Paraisso,opaíssecomprometeuaaumentara
participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18%
até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma
participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética
em 2030.
Outro compromisso internacional relacionado ao tema ambiental, foi o Desafio de Bonn
em 2011, onde foi estabelecido meta mundial de 150 milhões de hectares em processo de
restauração até 2020 e ampliado para 350 milhões de hectares restaurados até 2030.
* Gases de efeito estufa são as substâncias gasosas que absorvem o calor (radiação infravermelha) e
impedem que ele se dissipe no espaço, esquentando a atmosfera da terra.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
24
1.5. Lei de Proteção da Vegetação Nativa
A Lei n° 12.651/2012 estabelece regras para a recomposição das áreas de Reserva Legal e a
Área de Preservação Permanente para todas as propriedades rurais. Vamos entender agora a
relaçãodasáreasdeumimóvelruralcomaregularizaçãoambiental,seusserviçoseprodução
sustentável.
Áreas de APP e RL
As áreas de RL e APP são áreas de grande importância socioambiental. A proteção de rios,
nascentes e lagoas contribui para a manutenção de boas fontes de água. A vegetação
dos morros e ribanceiras ajuda a proteger o solo, diminuindo a possibilidade de erosão e
deslizamentos. Sendo assim, a manutenção da vegetação nativa nessas áreas contribui para
manter o clima mais agradável, conservar os recursos hídricos e permitir a sobrevivência dos
animais silvestres, além de outros serviços ecossistêmicos.
Cada imóvel rural precisa ter em sua área uma porcentagem de Reserva Legal. Confira os
dados.
Amazônia legal
Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Para, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do
Maranhão
área de floresta:
área de de
campos gerais:
Demais regiões
do país
área de cerrado:
80%
35%
20%
20%
EmrelaçãoàÁreadeProteçãoPermanente(APP),asseguintesáreasdeverãoestarprotegidas
tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais:
APP de curso d’água – São matas ciliares que formam faixas na beira de qualquer rio ou
riacho, mesmo quando o rio é do tipo que seca uma vez ao ano. O tamanho da APP varia de
acordo com a largura desse rio dentro do imóvel rural e deve ser medida a partir da borda da
calha do leito regular desse rio.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
25
APP de lagos e lagoas naturais – São as faixas de vegetação em volta de espelhos d’água
naturais. Quanto maior o lago ou lagoa, maior deve ser a faixa de mata.
Nascentes–Sãooslugaresondenascemosrios.Tambémsãoconhecidascomocabeceiras,
olhos-d’água, minas ou fontes. Devem ter uma faixa de vegetação de 50 m em seu entorno.
Topos de morro, montanhas, montes e serras, com altura mínima de 100 metros e
inclinação média maior 25º – A vegetação deve ser preservada em pelo menos 1/3 da
parte superior das elevações muito inclinadas.
Altitudes maiores que 1800 m – Não importa o tamanho do imóvel, a regra é a mesma:
trata-se de APP e deve ser preservada.
Encostas ou parte de encostas com declividade superior a 45º: As elevações mais
inclinadas do terreno antes de chegar ao topo de um morro, como os paredões de uma
montanha, também devem ter a vegetação protegida.
Veredas: Aqui cresce a palmeira buriti, em um solo encharcado conhecido como brejo. A
regra para essa APP, no caso de pequenos imóveis rurais, é manter uma faixa de vegetação
com 50 metros contados a partir do brejo.
Há outras condições em que as áreas podem ser enquadradas como APP conforme
estabelecido na Lei, como o entorno de reservatórios de águas artificiais que foram
represadas, as bordas de tabuleiros ou chapadas. As restingas e manguezais do ambiente
costeiro também são consideradas APP e devem ser preservadas em toda a sua extensão.
Vale lembrar que existem três possibilidades das áreas de APPs sofrerem intervenções ou
supressões da sua vegetação, são elas:
• hipótese de utilidade pública;
• interesse social;
• atividades eventuais ou de baixo impacto social.
REGRA GERAL
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
26
A Lei 12.651/2012 trouxe novidades em relação a regularização ambiental de todas as
propriedades rurais. A inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) é o primeiro passo para
obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla:
• Dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural;
• Dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e
• Informações georreferenciadas dos limites do imóvel, das áreas de interesse social e
dasáreasdeutilidadepública,comainformaçãodalocalizaçãodosremanescentesde
vegetação nativa, das APPs, das Áreas de Uso Restrito (AUR), das áreas consolidadas
e das RLs.
Recomposição de APP e RL
Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações,
benfeitoriasouatividadesagrossilvipastoris,admitida,nesteúltimocaso,aadoçãodoregimedepousio;
Saiba mais: http://www.car.gov.br/#/
Caso as propriedades rurais não estejam de acordo com a legislação devido à retirada
irregular de remanescentes de vegetação nativa para uso alternativo do solo, como
roçado, plantações e construções, os proprietários e/ou possuidores, deverão recompor
essas áreas conforme estabelecido na Lei n° 12.651/2012.
Os Programas de Regularização Ambiental - PRA - referenciados na Lei nº 12.651/12, e nos
Decretos nº 7.830/12 e nº 8.235/14, restringem-se à regularização ambiental das Áreas de
Preservação Permanente - APP, de Reserva Legal - RL e de uso restrito desmatadas até
22/07/2008, ocupadas por atividades agrossilvipastoris, que poderá ser efetivada mediante
recuperação, recomposição, regeneração ou compensação. A compensação aplica-se
exclusivamente às Áreas de Reserva Legal – RL suprimidas até 22/07/2008.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
27
Ao aderir ao PRA, e enquanto estiverem sendo cumpridas as obrigações estabelecidas
no PRA ou no Termo de Compromisso para a regularização ambiental, o proprietário/
possuidor tem acesso aos seguintes benefícios:
• suspensão de sanções administrativas decorrentes de autuações por infrações
cometidas antes de 22 de julho de 2008, relacionadas à supressão irregular de
vegetação em Reserva Legal, caso existam;
• suspensão da punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei nº 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998, cometidos até 22 de julho de 2008;
• manutenção de atividades nas Áreas de Preservação Permanente, uso restrito e de
Reserva Legal desmatadas até 22 de julho de 2008;
• acesso a apoio técnico e incentivos financeiros criados em âmbito federal, estadual
ou municipal que poderão incluir medidas indutoras e linhas de financiamento para
atender, prioritariamente, às pequenas propriedades ou posses rurais familiares, nas
iniciativas de (i) Recuperação ambiental de Áreas de Preservação Permanente e de
Reserva Legal; (ii) Recuperação de áreas degradadas; e (iii) Promoção de assistência
técnica para regularização ambiental e recuperação de áreas degradadas.
• om a efetiva regularização do imóvel rural, as multas das autuações cometidas serão
consideradas como convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação
da qualidade do meio ambiente, e será extinta a punibilidade.
Identificadanainscriçãoanecessidadederecomposiçãodevegetaçãonativa,oproprietário
ou possuidor de imóvel rural poderá solicitar de imediato a adesão ao Programa de
Regularização Ambiental - PRA, sendo que, com base no requerimento de adesão ao PRA,
o órgão estadual competente convocará o proprietário ou possuidor para assinar o termo
de compromisso.
Para recompor, o proprietário e/ou possuidor rural pode aderir ao Programa de Regulariza-
ção Ambiental – PRA que representa um conjunto de ações ou iniciativas a serem desenvol-
vidas com o objetivo de adequar e promover a regularização ambiental de imóveis rurais.
Ao aderir ao PRA, os proprietários e/ou possuidores rurais que retiraram de forma irregular
a vegetação de APPs, RLs e AURs antes de 22 de julho de 2008, ficam isentos de autuação
por infrações. Destacamos que todo imóvel rural que tenha área de RL em extensão inferior
ao estabelecido poderá regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA.
Aqueles que não aderirem ao PRA não terão acesso aos benefícios acima listados, e deverão
responder nas esferas civil, penal e administrativa sobre os ilícitos cometidos objetos dos
PRA (infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de
vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito).
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
28
Como o CAR será analisado pelo órgão ambiental estadual/distrital, as providências acima
indicadas provavelmente dar-se-ão à medida que o órgão competente notificar o detentor
do imóvel rural para cumpri-las. A análise é uma espécie de fiscalização das informações
declaradas, a partir da qual o órgão identifica passivos ambientais e notifica o proprietário/
possuidor para resolvê-los, seja no âmbito do PRA ou não.
Atualmente, a informação para a sociedade da regularidade ambiental do imóvel rural está
atrelada à situação e à condição do CAR do imóvel rural, que são informações públicas
hoje. À medida que o CAR é analisado pelo órgão competente, a situação e a condição do
CAR vai se alterando até chegar à situação e condição de regularidade ambiental do imóvel
rural.
Formas de Recompor a Reserva Legal
A recomposição da RL pode ser feita por meio das seguintes técnicas, que podem ser
combinadas entre si:
1. Regeneração natural da vegetação na área de RL;
2. Plantio;
3. Compensação da Reserva Legal.
No caso de recomposição poderá ser feito o plantio intercalado de espécies nativas com
exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observados os seguintes parâmetros:
1. O plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies nativas de
ocorrência regional;
2. A área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por
cento) da área total a ser recuperada.
É possível fazer a exploração econômica da RL, mas sempre com manejo sustentável
previamente aprovado pelo órgão ambiental.
A recomposição da vegetação de APP varia de acordo com o tamanho do imóvel rural e o
tipo de APP (beira de rios, lagos, lagoas, etc), e pode ocorrer das seguintes formas:
• Condução da regeneração natural;
• Plantio de espécies nativas;
• Plantio de espécies lenhosa, perenes ou de ciclo longo, misturando nativas e exóticas
em até 50% da área total a ser recomposta.
Para imóveis que apresentavam APP ocupadas antes de 22 de julho de 2008, a Lei
12.651/2012 apresenta regras específicas de acordo com o tamanho da área (módulo fiscal)
de cada propriedade.
Formas de Recompor APPs
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
29
Exceções da porcentagem de Reserva Legal para a Amazônia:
a. Os empreendimentos que realizaram desmatamentos na Amazônia entre 1989
e 1998, respeitando o limite de 50%, estão desobrigados de recomposição até
80%. Caso possuam excedente acima dos 50%, estes podem ser usados para
compensação.
b. O percentual pode ser reduzido para até 50% se:
I) o estado tiver Zoneamento ecológico-econômico e mais de 65% do seu
território ocupado por unidades de conservação regularizadas ou terras
indígenas homologadas, considerando-se o ponto de vista do Conselho Estadual
de Meio Ambiente.
II) o município tiver mais da metade de sua área ocupada por unidades de
conservação ou terras indígenas homologadas.
Saiba mais
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
30
Para saber mais consulte a legislação ambiental
• Lei Federal 12.651/2012: Institui a nova legislação ambiental e apresenta
as regras para proteção e restauração da vegetação nativa.
• Decreto Federal 7.830/2012: Dispõe sobre o Sistema de Cadastro
Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural e estabelece normas de
caráter geral aos Programas de Regularização Ambiental.
• Instrução Normativa 2/2014 do MMA: Dispõe sobre os procedimentos
para a integração, execução e compatibilização do Sistema de Cadastro
Ambiental Rural-SICAR e define os procedimentos gerais do Cadastro
Ambiental Rural-CAR.
• Decreto nº 8.235 de 5 de maio de 2014: Estabelece normas gerais
complementares aos Programas de Regularização Ambiental.
• Resolução Conama 429/2011: Dispõe sobre a metodologia para
Restauração de APP.
• Resolução Conama 425/2010: Trata de critérios para Agricultura Familiar
dos povos e comunidades tradicionais como de interesse social para fins
de produção, intervenção e restauração de APP.
• Resolução Conama 369/2006: Considera de utilidade pública, interesse
social ou de baixo impacto ambiental as agroflorestas realizadas em Área
de Preservação Permanente em propriedade de Agricultura Familiar.
• Instrução Normativa 005/2009 do MMA: trata de procedimentos
metodológicos para restauração e recuperação das APP e RL, incluindo as
agroflorestas como forma de restauração.
• Lei Federal 9.985/2000: Apresenta regras para as áreas protegidas no
Brasil,instituindooSistemaNacionaldeUnidadesdeConservação–SNUC.
• Lei Federal 11.326/2006: Apresenta definições para a Agricultura Familiar
e Empreendimentos Familiares Rurais.
Saiba mais
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1
31
Encerramento do módulo 1
TÉCNICO
CAROL
Neste módulo, apresentamos os conceitos sobre recomposição e
conhecemos um pouco mais sobre as florestas tropicais. Também
abordamos as estruturas da floresta tropical úmida, sua composição
florestal e a biogeografia da floresta amazônica. Tratamos ainda,
sobre a recomposição da floresta e sua importância, e sobre seus
instrumentos legais e políticos.
Um outro assunto importante que vimos neste
módulo foi relacionado a Lei de Proteção da
Vegetação Nativa, destacando as áreas de
APP e RL, sua recomposição e as formas de
recompor.
No próximo módulo falaremos sobre o plane-
jamento da recomposição da vegetação.
MÓDULO 2
Planejamento da
recomposição da vegetação
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
33
MÓDULO 2
2.1. Introdução
Até aqui, foi possível entender a
importância da recomposição, além
da preservação de áreas. Mas como
podemos colocar isto em prática?
João, para a recomposição de uma área, é
importanteelaborarumprojetoquedescreva
as etapas de planejamento, implantação,
manutenção e monitoramento.
A etapa de planejamento tem por objetivo detalhar as atividades necessá-
rias para implantar todas as etapas, com base em um diagnóstico da área,
ou seja, um estudo sobre a situação atual dessa área (localização, qualida-
de do solo e vegetação remanescente). A partir desse diagnóstico, é pos-
sível identificar o método de recomposição mais adequado e assim calcu-
lar os custos de implantação da técnica indicada, como também planejar
quando será realizada cada atividade de cada etapa.
Nesse módulo vamos apresentar as principais etapas de um bom planejamento de recom-
posição.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
34
MÓDULO 2
2. Planejamento da recomposição
2.1. Diagnóstico das áreas a serem
recompostas
Pessoal, o diagnóstico das áreas alteradas ou degradadas é o primeiro passo para o
planejamento e o seu objetivo é trazer uma visão da situação atual da área, ou seja, sua
localização, se existe vegetação ainda presente (vegetação remanescente) e qual a qualidade
do solo. O levantamento dessas informações permite escolher melhor as atividades de
recuperação necessárias para a área, abordando inclusive a importância de identificar e cessar
ou ao menos mitigar o fator de degradação. Vamos entender cada uma delas?!
TÉCNICO CAROL
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
35
MÓDULO 2
2.1.1. Localização e mapeamento da
paisagem
Este é o primeiro passo para o diagnóstico da recomposição da vegetação,
seja para regularização ambiental do imóvel, para fins econômicos ou para
conservação.
Esta atividade é realizada a partir da localização e mapeamento de todas
as áreas presentes no imóvel rural, por exemplo:
• Áreas remanescentes da vegetação nativa;
• Rios, lagos e nascentes;
• Estradas;
• Construções;
• Áreas com inclinação acima de 45°; e
• Áreas produtivas existentes.
O mapeamento traz uma maior clareza da situação ambiental e produtiva do imóvel rural
ao localizar todas as estruturas, áreas produtivas e áreas com vegetação remanescente.
IMPORTANTE - Neste momento identificamos as Áreas de Preservação Permanente (APP) e
a Reserva Legal (RL), já descritas no módulo anterior.
A seguir serão apresentados alguns métodos que podem ser utilizados para o mapeamento
do imóvel rural.
O CAR é uma ferramenta estratégica
para o mapeamento da propriedade.
Ele gera um mapa com as informações
detalhadas das áreas e atividades
presentes no imóvel rural. Ao final, o
proprietário ou possuidor consegue
visualizar a situação quanto à necessi-
dade de recomposição da vegetação.
http://www.florestal.gov.br/
documentos/car/3-manual-car-
modulo-de-cadastro/file
Cadastro Ambiental Rural (CAR)
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
36
MÓDULO 2
Atualmente a internet disponibiliza várias imagens de satélite que podem ser úteis para
compreender a paisagem do imóvel rural e entorno, tais como:
• Conexões entre fragmentos florestais;
• Áreas degradadas ou alteradas dos rios, lagos e nascentes;
• Áreas de vegetação nativa;
• Áreas produtivas; e
• Áreas construídas.
Imagens de satélite
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
37
MÓDULO 2
A identificação das áreas também pode ser realizada com a elaboração de um desenho das
áreas do imóvel rural.
IMPORTANTE – As informações indicadas no mapa ou croqui devem ser verificadas em
campo para garantir que estão de acordo com a realidade.
Croqui
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
38
MÓDULO 2
2.1.2. Vegetação remanescente
A vegetação remanescente é toda a vegetação que está presente em uma área, composta
por espécies nativas e/ou exóticas nos mais diversos estágios de sucessão.
Dessaforma,avegetaçãoremanescenteiráauxiliarnaidentificaçãodoníveldeintervenção
necessária para recompor a área, por exemplo:
1. Áreas alteradas/degradadas que apresentam uma diversidade de espécies nativas
de árvores e arbustos e/ou estão próximas a fragmentos de vegetação nativa são
mais favoráveis à regeneração natural, por possibilitar a dispersão de sementes das
plantas presentes no local e entorno (disponíveis para germinação, estoque no solo
ou, ainda, migração para outras áreas);
2. Áreas que apresentam um maior grau de alteração/degradação e/ou estão longe
de fragmentos de vegetação nativa possuem menor potencial de regeneração
natural, exigindo maior interferência. A situação se torna ainda mais difícil no caso da
presença de gramíneas exóticas invasoras, tais como as braquiárias (Urochloa spp.),
o capim-colonião (Panicum maximum), o capim-elefante (Pennisetum purpureum)
e o capim-gordura (Melinis minutiflora), que dificultam a regeneraçãode espécies
nativas.
Espécies nativas: são originárias do local em questão.
Espécies exóticas: são aquelas cujo local de origem é outro que não o que está sendo analisado. Uma
espécie pode ser exótica em um lugar e nativa em outro.
Fragmentos da vegetação: áreas de vegetação natural interrompidas por barreiras antrópicas ou
naturais, como estradas, áreas de plantio, rios largos, etc.
Exóticasinvasoras:sãoespéciesexóticasquesereproduzemdemaneiramuitoagressivaemdeterminado
local, ameaçando as espécies nativas.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
39
MÓDULO 2
2.1.3. Qualidade do solo
O solo é o resultado da transformação e desgaste da camada de rocha da superfície da
Terra devido à ação da chuva, ventos, temperatura e organismos vivos. Ele é composto por
elementos sólidos, como minerais e matérias orgânicas, água, ar e numerosos organismos
vivos,comofungos,insetos,bactériaseminhocas.Possuiumpapeldeextremaimportância
para a vegetação, pois promove o suporte das raízes e a nutrição mineral das plantas.
Examinando os solos em um perfil horizontal ou vertical, se observa que o solo possui
camadas (horizontes). Os horizontes são formados por processos de degradação da rocha e
o depósito de sedimentos de natureza diversa ao longo do tempo e apresentam diferentes
características, como: cor, profundidade, textura e porosidade. São classificados como:
• Horizonte O – camada mais superficial do solo com predominância de restos de
plantas e animais;
• Horizonte A – primeiro horizonte mineral, com grande acúmulo de matéria orgânica,
sendo o horizonte mais afetado pela atividade agrícola;
• Horizonte B – horizonte com maior concentração de argila e com pouca matéria
orgânica, formado por partes bastantes desagregadas da rocha-mãe;
• Horizonte C – horizonte pouco atingido pelo processo de degradação da rocha,
contendo pedaços de rocha que ainda estão se transformando em solo;
• Rocha – rocha-mãe não alterada.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
40
MÓDULO 2
O mesmo horizonte irá se diferenciar em cada tipo de solo em relação ao tamanho,
cor, textura, composição química, sendo que alguns horizontes podem estar ausentes,
principalmente, devido à idade de formação do solo ou algum processo erosivo.
A qualidade do solo está diretamente ligada ao processo de formação desse e,
principalmente, ao histórico de uso e a situação atual da área, principalmente ao modo de
produção (agrícola, pecuária ou florestal).
Uma boa qualidade do solo, para recomposição, deve considerar a dinâmica entre a
estrutura física, os nutrientes e os organismos vivos que interagem com este.
Os solos cobertos por vegetação e/ou matéria orgânica mantêm a ciclagem de nutrientes
e o protegem da ação das chuvas, do sol e do pisoteio de animais. Em solos descobertos,
ocorre o aumento dos processos erosivos, favorecendo a perda de solo e o aparecimento
de sulcos de erosão e voçorocas, gerando prejuízo em sua estrutura e na disponibilidade
de nutrientes. Com isso, é necessário um maior investimento inicial, como, por exemplo,
introdução de plantas de cobertura e adubação do solo.
Estrutura física do solo é como se distribuem os componentes sólidos, gasosos e líquidos do solo, e a
textura deles.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
41
MÓDULO 2
2.1.4. Logística das áreas
A origem das plântulas (mudas e sementes) a serem usadas na recomposição
devem ser, prioritariamente, de procedência local ou o mais próximo possível
da área a ser recomposta. Isso garante que as plantas estejam adaptadas
as condições climáticas locais, dando maiores condições para o sucesso da
recomposição.
Importante
A logística está relacionada ao acesso ao local
da recomposição e de produção de mudas, é um
conjunto de fatores decisivos no planejamento e
escolhas das técnicas para recomposição, podendo
influenciar nos custos das atividades. Deve ser
considerado na área:
• Relevo (plano ou inclinado) – indica a
possibilidade de mecanização;
• Acesso e condições das estradas – indica a
facilidade de acesso e deslocamento para a
área e dentro dela; e
• Distância entre áreas de coleta de sementes,
viveiros e locais de compra de insumos –
determinaocustodetransportedosprodutos
necessários para a recomposição.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
42
MÓDULO 2
2.2. Definição dos métodos de recomposição
Como podemos decidir o método para a
recomposição do nosso terreno?
Existem diversos métodos de recomposição
da vegetação que se diferenciam por grau e
período de intervenção, custos e tempo para a
vegetação se recuperar.
TÉCNICO
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
43
MÓDULO 2
Para a definição do método, é importante ter clareza sobre a finalidade da recomposição,
sendo compatível com os recursos disponíveis. Entre as finalidades, podemos destacar:
• Cumprir a exigência legal no processo de regularização do imóvel rural;
• Agregar renda com a integração de espécies agrícolas e florestais; e
• Conservação dos recursos naturais.
Dentre as estratégias de recomposição, podemos destacar:
Para áreas degradadas:
• Transposição de solo florestal superficial ou “topsoil”;
• Plantio direto de sementes em área total, com espécies de recobrimento e/ou
diversidade;
• Plantio de mudas em área total, com espécies de recobrimento e/ou diversidade;
• Nucleação, com plantio de sementes, mudas e estruturas para atrair polinizadores e
dispersores
• Plantiodeenriquecimentocomtransposiçãodesoloflorestalsuperficialou“topsoil”,
ou semeadura direta e/ou plantio de mudas;
• Consórcio nativas e exóticas ex. Sistemas Agroflorestais – SAFs.
A descrição de cada método será detalhada no próximo módulo.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
44
MÓDULO 2
2.3. Planejamento econômico
O planejamento econômico é uma etapa fundamental, pois ele garante a sustentabilidade
financeira do projeto. É necessário saber quanto de recursos se tem disponível para
investimento e qual será a estimativa de custo do projeto.
Paraisso,deve-selistartodasasatividadesprevistas,incluindoasatividadesdemanutenção
e monitoramento do projeto e fazer uma estimativa de custos de cada atividade, conforme
exemplo a seguir.
Atividade Item
Valor unitário
(R$/unidade)
Unidade Quantidade Valor Total (R$)
Plantio de
mudas
Mudas 500,00 1000 mudas 3 (mil mudas) 1.500,00
Adubo 15,00 Saco (50 kg) 1 15,00
Combustível
do trator
4,00 Litros 75 300,00
Mão de obra … … … …
… … … … …
… … … … … …
Total
Soma de todos os
custos
* Os valores demonstrados aqui são exemplos e não refletem a realidade.
Exemplo
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
45
MÓDULO 2
Vale lembrar que cada metodologia possui custos diferenciados que serão
diretamente relacionados à estrutura regional onde se localiza o projeto, ao nível
de degradação da área e aos recursos já disponíveis na propriedade rural. De
formageral,omomentodaimplantação(preparodosoloeplantio)éomaiscaro.
No entanto, é importante que se planeje recursos adicionais para a manutenção
dos plantios (roçadas, capinas, prevenção ao ataque de formigas e replantio) e
para o monitoramento.
Atenção
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
46
MÓDULO 2
2.4. Cronograma
O cronograma é fundamental para organizar e planejar as atividades de implantação,
manutenção e monitoramento, conforme exemplo ao lado.
Vale lembrar: as atividades de manutenção e monitoramento devem ser planejadas por
um período de pelo menos 3 anos após o plantio, para garantir o sucesso da recomposição.
Atividade Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago
Aquisição das mudas
Preparo do solo
Controle de formiga
Controle de gramíneas
Transporte das mudas
Plantio
Manutenção
Replantio
Monitoramento
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
47
MÓDULO 2
Encerramento do módulo 2
TÉCNICO
Nestemódulo,falamossobreoplanejamentodarecomposição
da vegetação e o diagnóstico das áreas a serem recompostas,
além da localização e o mapeamento da paisagem, bem como
sobre o Cadastro Ambiental Rural. Por fim, tratamos sobre a
vegetação remanescente, a qualidade do solo e a logística
das áreas e sobre a definição dos métodos de recomposição,
planejamento econômico e sobre o cronograma.
No próximo módulo iremos abordar os
métodos de recomposição da vegetação
nativa.
MÓDULO 3
Métodos de recomposição da
vegetação nativa
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
49
MÓDULO 3
1. Introdução
Como vimos no módulo anterior, a escolha do melhor método de recomposição vai
influenciar diretamente no sucesso da recomposição e no custo associado a esta.
Nesse módulo vamos detalhar os principais métodos de recomposição.
CAROL
TÉCNICO
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
50
MÓDULO 3
2. Regeneração Natural
A regeneração natural consiste em deixar a vegetação nativa se recuperar
naturalmente (sem a interferência humana), sendo necessário eliminar
ou minimizar fatores de degradação ambiental através do cercamento e a
construção/manutenção de aceiros, reduzindo o pastoreio de animais e a
ocorrência de fogo.
Esse método é mais recomendado para áreas com solos pouco
compactados, baixa presença de espécies invasoras e/ou próximas à remanescentes de
vegetação nativa (alta densidade e diversidade de plantas nativas).
A área deve ser monitorada periodicamente, acompanhando o desenvolvimento das
espécies que germinaram, para auxiliar na tomada de decisão dos próximos passos. Caso
seja observado o crescimento de bambus, cipós e/ou gramíneas exóticas será necessário o
manejo da área com roçadas e capinas periódicas.
Este método é o menos custoso dentre os métodos existentes, pois não existem custos com
sementes, mudas, adubação e máquinas.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
51
MÓDULO 3
3. Transposição de solo florestal superficial
ou “topsoil”
Essa técnica consiste em transferir a camada superficial de solo (20
a 30 cm de profundidade) de uma formação natural para a área a ser
recomposta.
A camada de solo superficial de uma floresta junto com a serapilheira
(folhas mortas que caem das árvores que estão iniciando o processo de
decomposição) é um importante reservatório de sementes de espécies
nativas, matéria orgânica, insetos, microrganismos e nutrientes,
possuindo um enorme potencial para iniciar a regeneração.
Ela é mais utilizada em grandes obras, como estradas, barragens e
mineração. O solo das áreas a serem desmatadas ou alagadas por
essas obras é previamente retirado e utilizado para a recomposição
de espaços adjacentes, onde a vegetação foi retirada e o banco de
sementes do solo é inexistente ou foi destruído.
A camada de solo retirada pode ser distribuída na área a ser recomposta
com o uso de trator de esteira ou com o uso de uma enxada, deixando
uma camada fina de até 5 cm de altura para aumentar o rendimento de
uso. O solo pode ser distribuído em área total ou em faixas.
Sendoassim,aoretirarumacamadadesolocom30cmdeprofundidade
em uma área de 1 hectare, será possível utilizá-lo em até 6 hectares de
área a ser recomposta ao distribuí-lo em uma camada fina de 5 cm.
Esta técnica deve ser realizada para curtas distâncias entre o local de
retiradadosoloeaáreadegradada,poisdemandaousodemaquinários
pesados para recolhimento e transporte do solo.
Vale lembrar que a retirada do solo só deve acontecer em áreas que
serão atingidas por uma grande obra, pois a retirada de solo florestal de
áreas íntegras irá danificar a floresta local.
O monitoramento dessa técnica é importante, pois é muito frequente
a existência de espécies exóticas indesejadas no banco de sementes.
Caso isso ocorra, deve ser realizado o controle dessas espécies por meio
de capina e roçadas periódicas.
O banco de sementes do solo são as sementes viáveis, de várias espécies, que se encontram na camada
superior do solo aguardando boas condições para germinar.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
52
MÓDULO 3
4. Plantios de Adensamento
Os plantios de adensamento são plantios de mudas
e/ou sementes de espécies iniciais da sucessão
(pioneiras) nos espaços não ocupados pela
regeneração natural. Essa atividade é recomendada
paraáreasquealternamboapresençaderegeneração
natural com locais falhos, bordas ou clareiras.
O plantio das mudas e/ou sementes pode ser feito
obedecendo a espaçamentos e alinhamentos pré-
definidos ou pode ser distribuído de forma isolada ou
agregadas (“ilhas”) em locais favoráveis como locais úmidos, sob a copa de árvores, etc.
Esse método ajuda a controlar a expansão de espécies invasoras e favorece o desenvolvi-
mento das espécies secundárias ou clímax por meio do sombreamento.
Neste método, podemos optar por uma ampla diversidade de espécies de acordo
com a finalidade do plantio. Espécies pioneiras podem ser utilizadas para plantios
conservacionistas e espécies frutíferas e madeireiras, para geração de renda.
O custo desse método é relativamente baixo, pois o número de mudas e/ou sementes por
área é pequeno, entretanto uma das desvantagens é a baixa mecanização, pois as mudas
são dispostas em meio à vegetação nativa já existente.
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COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
53
MÓDULO 3
5. Plantio mecanizado de sementes em área total
Esse método utiliza maquinários agrícolas para o preparo do solo e plantio das sementes.
Geralmente é utilizada uma mistura de sementes de espécies de árvores, arbustos e de
adubação verde, que é conhecida como é conhecida como muvuca.
Aconselha-se fazer duas ou mais muvucas com sementes de tamanhos e formas diferentes,
separando sementes grandes de sementes pequenas e aladas, pois as grandes podem ser
enterradas até 3-4 cm de profundidade no solo, enquanto as pequenas e aladas devem
ficar próximas à superfície. As sementes pequenas são misturadas com terra ou areia para
aumentar o volume a ser distribuído e evitar que uma grande quantidade de sementes caia
em um mesmo local.
Essa técnica é indicada para áreas extensas com histórico de uso por pastagem e lavoura.
Em áreas ocupadas por pastagem, é necessário realizar a descompactação do solo e o
controle das gramíneas antes da semeadura, que pode ser realizada com lançadeiras de
capim,espalhadoresdecalcárioouàmão.Jáemáreasocupadasporlavourasmecanizadas,
a semeadura pode ser realizada em linhas com plantadeiras através da técnica de plantio
direto, dispensando as operações de preparo de solo.
O Instituto Socioambiental (ISA) uti-
liza a muvuca para a recomposição
de APPs degradadas na bacia do rio
Xingu, no estado do Mato Grosso.
Guia da muvuca:
https://us14.campaign-archive.
com/?u=2e9f3527128e6ed6d086fc5b4&id=64400ed51b
https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-
socioambientais/vamos-plantar-florestas
Saiba mais
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54
MÓDULO 3
6. Plantio de mudas em área total
É o plantio de mudas de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas realizado de forma
aleatória ou em linhas, com espaçamentos entre mudas, podendo variar em função do
relevo, das espécies escolhidas e do objetivo da recomposição.
Essa técnica pode ser utilizada em regiões com antigo histórico de ocupação do solo pela
agricultura e/ou pecuária, como também em áreas que apresentam baixa ou nenhuma
capacidade de regeneração natural.
Os plantios em linhas podem ser feitos combinando espécies de diferentes grupos
sucessionais (pioneiras, intermediárias, secundárias e clímax), compondo unidades que
resultam em uma gradual substituição de espécies no tempo, caracterizando o processo
de sucessão.
Para combinação das espécies, é recomendado o plantio de mudas de dois grupos distintos
em linhas alternadas, conforme metodologia desenvolvida no Laboratório de Ecologia e
Restauração florestal (LERF) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). O
primeiro grupo, denominado de recobrimento, é constituído por espécies que possuem
rápido crescimento e boa cobertura de copa, proporcionando o rápido fechamento da área
plantada. Essas espécies, em sua maioria, são classificadas como pioneiras e, em geral,
possuem ciclos de vida curtos. Outra característica desejável para as espécies do grupo
de preenchimento é que elas possuam florescimento e produção precoce de sementes.
Com o rápido recobrimento da área, as espécies desse grupo criam um ambiente favorável
ao desenvolvimento dos indivíduos do segundo grupo, denominado de diversidade, e
desfavorecem o desenvolvimento de espécies competidoras como gramíneas e cipós.
No grupo de diversidade incluem-se as espécies de crescimento lento e copas menores,
mas com ciclos de vida longo. Estas são fundamentais para garantir a perpetuação da área
plantada, já que é esse grupo que vai gradualmente substituir o grupo de preenchimento
quando este entrar em declínio.
Quando a recomposição for destinada apenas à recuperação ambiental e conservação,
devemos utilizar o maior número de espécies de diversidade possível, buscando reproduzir
as espécies originais do local. O plantio deve ser feito de maneira que as mudas da mesma
espécie não sejam plantadas lado a lado ou muito próximas umas das outras, nem muito
distantes a ponto de proporcionar o isolamento reprodutivo destas.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
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55
MÓDULO 3
Se desejarmos obter algum rendimento econômico a partir da recomposição, podemos
escolher um conjunto de espécies de interesse que serão plantadas em maior densidade.
A EMBRAPA Amazônia Oriental já possui alguns modelos de plantios intercalados de paricá
(Schizolobium amazonicum (Vell)), castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), andiroba
(Carapa guianensis Aubl.) e taxi-branco (Sclerolobium paniculatum Vogel).
O ideal é que o plantio seja executado com ciclos de colheita definidos de forma individual
para cada espécie, a partir da velocidade de maturação comercial das mesmas. Dessa
forma, teremos diversas colheitas ao longo do tempo, gerando rendimentos periódicos
sem impactar excessivamente a estrutura do nosso plantio.
Agrandevantagemaorealizaroplantiodemudasemáreatotaléapossibilidadedeescolha
das espécies, pensando em colheitas futuras, e a previsibilidade em relação ao processo
de recomposição. Por outo lado, é uma das técnicas mais caras, pois demanda o preparo
do terreno, compra ou produção das mudas, implantação, adubação e as atividades de
manutenção periódicas.
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MÓDULO 3
7. Plantios de enriquecimento
Essa técnica se baseia no plantio de mudas ou sementes de espécies de estágios finais de
sucessão em linhas abertas no interior da vegetação.
Plantios de enriquecimento possuem os seguintes objetivos:
• Aumento da diversidade em áreas com vegetação nativa alteradas ou degradadas
que apresentam baixa diversidade de espécies; e/ou
• Agregação de renda para o proprietário ou posseiro com a introdução de espécies
comerciais,nativasouexóticas.Devemserobservadasascondiçõesparaaintrodução
de espécies exóticas em áreas de RL e APP conforme disposto na Lei 12.651/2012.
Também devem ser observadas e avaliadas as seguintes características locais para o
planejamento do plantio:
• Estado de degradação/alteração da vegetação;
• Presença de espécies exóticas invasoras;
• Composição florística;
• Presença de plantas regenerantes.
http://esalqlastrop.com.br/capa.asp?j=31#![1]/6/
O espaçamento de plantio é mais amplo, em comparação ao plantio em área total, devido à
presença de vegetação, sendo que a definição do espaçamento poderá variar dependendo
do objetivo do enriquecimento.
A manutenção dessa técnica é reduzida, pois as mudas irão aproveitar a sombra, umidade
e nutrientes proporcionados pelos indivíduos existentes.
Apesar do plantio das mudas ser simples e o sistema exigir pouca manutenção, a alocação
e abertura das linhas de plantio demanda uma maior mão de obra.
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MÓDULO 3
8. Sistemas Agroflorestais (SAFs)
Os sistemas agroflorestais, segundo o Centro Internacional de Pesquisa
Agroflorestal (ICRAF), são “sistemas baseados na dinâmica, na ecologia e
na gestão dos recursos naturais que, por meio da integração de árvores na
propriedade e na paisagem agrícola, diversificam e sustentam a produção,
com maiores benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos
aqueles quem usam o solo em diversas escalas”.
Como já demonstrado no módulo 1, a Lei 12.651/2012 permite a utilização de sistemas
agroflorestais para a recomposição de APP e RL, desde que a área recomposta com
espécies exóticas não exceda a 50% (cinquenta por cento). Lembrando que no caso de APP,
a utilização de exóticas para recomposição só é permitida em imóveis de até 4 módulos
fiscais.
Os SAFs podem ser classificados como:
Os sistemas simplificados (SAFs simples) utilizam poucas espécies comerciais, apresentam
baixa intensidade de manejo e geralmente são plantados em faixas ou em linhas visando
facilitar o processo produtivo e a geração de renda.
Os sistemas complexos (SAFs sucessionais) baseiam na sucessão natural, com alta
biodiversidade e alta intensidade de manejo visando criar abundância no sistema e
otimização da produção agroflorestal, com dinâmica de manejo e produção escalonada
ao longo do tempo.
Apesar de a terminologia SAF ter se tornado popular recentemente, a técnica já é antiga
e tradicionalmente utilizada no Brasil, em especial na região amazônica, na forma dos
quintais agroflorestais. Situados próximo às residências, estes sistemas associam árvores
com espécies agrícolas e/ou animais, medicinais e outras de uso doméstico. Normalmente
são altamente produtivos e contribuem de maneira importante para a segurança alimentar
e o bem-estar da família.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
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MÓDULO 3
Entre os benefícios sociais e econômicos, destacamos (MICCOLIS et al., 2016):
• promoção de soberania e segurança alimentar;
• geração e diversificação de renda;
• maior estabilidade financeira ao longo do ano;
• diminuição no uso de insumos externos;
• redução do risco econômico, pois é menos sensível às variações de preço e clima;
• intensificação do uso do espaço;
• aumento na eficiência do uso da água, luz, nutrientes;
• melhor qualidade do trabalho e de vida (trabalho na sombra);
• mão de obra melhor distribuída ao longo do ano;
• menor suscetibilidade a pragas e doenças nos cultivos;
• manutenção da agro-biodiversidade e dos conhecimentos associados;
• potencialização da produção de mel de abelhas (exóticas e nativas).
Entre os benefícios ambientais dos SAFs, podemos destacar (MICCOLIS et al., 2016):
• restauração e conservação da fertilidade e estrutura do solo;
• sombra e criação de microclimas;
• favorece a biodiversidade de forma geral, incluindo agentes polinizadores;
• regulação de águas da chuva e melhoria da qualidade da água;
• mitigação e adaptação a mudanças climáticas.
Apesar desses benefícios listados anteriormente, SAFs são métodos mais complexos que
os tradicionais, pois exigem conhecimento específico e são extremamente exigentes em
mão-de-obra devido à demanda de trabalho manual. Sendo assim, as principais causas de
insucesso dos SAFs em escala local são (MICCOLIS et al., 2016).
• falta de planejamento agroflorestal e econômico;
• baixo acesso a conhecimento;
• baixa disponibilidade de mão de obra;
• baixo acesso a insumos;
• fatores limitantes do meio físico.
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MÓDULO 3
9. Nucleação
A nucleação é uma técnica de formação de ilhas, ou núcleos de vegetação
ou elementos, com capacidade de melhorar o ambiente, atraindo animais
que vêm se alimentar de seus frutos ou obter outros benefícios, como local
de pouso e abrigo.
A atração de animais acelera o processo de recomposição das áreas
degradadas e/ou alteradas e diminuem os custos em relação as outras
técnicas, pois a manutenção e o controle de pragas são reduzidos.
Sãoobtidosporplantiosdeárvoresderápidocrescimentocomcopafavorávelparaopouso
de aves e morcegos. Poleiros artificias podem ser construídos com varas de bambu, postes
de eucalipto ou outro tipo de madeira, sendo recomendado o plantio de trepadeiras para
colonizar o poleiro. Esses poleiros servem de locais estratégicos para pouso, reprodução
ou esconderijo de aves e morcegos, aumentando a dispersão de sementes na área e a
interação fauna-flora;
Poleiros naturais ou artificias
Para a nucleação são retiradas apenas pequenas porções da camada superficial de solo de
uma formação natural para a área a ser recomposta.
Transposição de solo de áreas próximas – técnica “topsoil”
Consiste na coleta periódica de sementes no interior de matas vizinhas. Essas sementes
podem ser usadas para a produção de mudas ou para semear diretamente na área a ser
recuperada;
Transposição de sementes de áreas próximas
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
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60
MÓDULO 3
Consiste em formar pilhas de galhos, tocos e galhos de rebrota de altura variada entre 30 e
50 cm que irão funcionar como atrativo e abrigo de animais;
Enleiramento de galharia
Consiste na plantação de mudas de espécies nativas que florescem e frutificam
precocemente de forma adensada e simétrica. Cada ilha pode conter de 3 a 25 mudas de
espécies arbóreas e arbustivas com distância máxima de 1 metro entre as mudas.
Plantio de ilhas ou núcleos
Essas técnicas devem ser usadas em conjunto de forma aleatória ou sistemática na área a
ser recomposta, conforme exemplo.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
61
MÓDULO 3
Encerramento do módulo 3
Quantas técnicas e práticas importantes.
Agora temos que colocar tudo em prática.
No próximo módulo vamos ver a implantação, manutenção e monitoramento das áreas
recompostas. Até lá!
CAROL
MÓDULO 4
Implantação, manutenção do
plantio e monitoramento da
recomposição
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
63
MÓDULO 4
1. Introdução
TÉCNICO
Agora que você já conhece como é realizado o planejamento da recomposição e quais
são os principais métodos utilizados, vamos entender melhor como realizamos a
implantação, manutenção e monitoramento das áreas recompostas?!
CAROL
Após a implantação da recomposição, é necessário realizar a manutenção da área ou
as atividades pós-plantio. Essa manutenção envolve atividades semelhantes às da
implantação,comoocontroledeformigasedeplantascompetidoras,entretantorealizadas
de forma mais pontual.
A última etapa do projeto de recomposição é o monitoramento da área para verificar se as
etapas e atividades resultaram na recomposição da vegetação.
A etapa de implantação da recomposição envolve as atividades de pré-plantio e plantio como a
preparaçãodosoloparaasemeadurae/ouplantiodemudas,ocontroledeformigascortadeiras
e plantas competidoras, seleção das espécies, adubação, plantio e irrigação.
Sabemos que a execução de cada uma dessas atividades vai estar relacionada com o grau de
degradação/alteração da área e com o método de recomposição selecionado.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
64
MÓDULO 4
2. Preparo do solo
O principal objetivo do preparo do solo é fornecer condições adequadas para o
desenvolvimento e estabelecimento das sementes e mudas. Essas condições estão
relacionadas ao aumento da aeração, capacidade de infiltração de água e disponibilidade
de nutrientes no solo.
Em solos que já apresentam condições adequadas, o sistema de cultivo mínimo, que
consiste em um preparo mínimo do solo, é o mais recomendado, onde o preparo será
realizado somente na linha ou cova do plantio e, quando possível, os resíduos de plantas
competidoras deverão ser mantidos para controlar os processos erosivos. Sendo assim,
o preparo consiste basicamente em reduzir a competição da vegetação espontânea e
melhorar a condição das propriedades físicas do solo, o que permite uma expansão do
sistema radicular das plantas.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
65
MÓDULO 4
A recuperação é recomendada para solos com histórico de uso intenso, com ausência das
camadas mais superficiais (horizontes A e B) e/ou intenso processo erosivo. Essa atividade
tem o objetivo de melhorar as qualidades físicas, químicas e biológicas e podem ser
realizadas pelas seguintes ações, observando os custos para cada atividade:
• Construção de terraços e bacias de acúmulo de água para reduzir os processos
erosivos;
• Descompactação do solo, ou seja, aumentar a porosidade/espaços vazios desse solo
melhorando a qualidade física e facilitando o crescimento das raízes;
• Avaliação da fertilidade do solo por meio da análise química do solo, que consiste em
uma análise do solo feita em laboratório para medir a quantidade e a disponibilidade
dos nutrientes minerais no solo, com o objetivo verificar a necessidade e a dosagem
de adubação mineral e orgânica para melhorar o desenvolvimento das espécies.
Após essas etapas, inicia a semeadura e o plantio de mudas. Entretanto, para solos muito
degradados ainda é recomendado o uso de espécies de adubação verde, como: a mucuna
(Mucuna pruriens), o nabo-forrageiro (Raphanus sativus) e a crotalária (Crotalária spp.).
Vale lembrar: em áreas declivosas, a semeadura das espécies de adubo verde deve ser
realizada em covas e em curvas de nível.
Recuperação dos solos
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
66
MÓDULO 4
3. Abertura de aceiros e instalação de cercas
Ao redor da área a ser recomposta é necessária a construção e também manutenção dos
aceiros, que são espaços sem vegetação ao redor de uma área, com o objetivo de proteger
essa área contra incêndios. Em áreas maiores podem ser abertos aceiros internos até o
crescimento da vegetação, após este período, os aceiros internos também deverão ser
revegetados.
A largura dos aceiros vai depender do porte da vegetação do entorno e podem ser abertos
de duas formas:
• Manual: são utilizadas enxadas para eliminar toda vegetação. A palhada seca
remanescente deve ser retirada para diminuir os riscos de incêndio.
• Mecanizada: é feita com uma lâmina acoplada a um trator agrícola, que deverá
raspar a camada superior do solo, amontoando o solo e a vegetação para parte
interna da área.
O cercamento da área (sempre que possível com arame farpado) é recomendado quando
existe a possibilidade da entrada de animais, principalmente bovinos e equinos.
As formigas cortadeiras dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns) podem
causar danos ao desenvolvimento das mudas, plantas jovens e regenerantes, sendo
recomendadooseucontroleantesdeiniciaropreparodosoloeasoutrasetapasdoprojeto
de recomposição, pois essas formigas são sensíveis e podem mudar o seu comportamento
em decorrência de qualquer alteração na área.
O primeiro passo é verificar se existem folhas sendo devoradas por formigas. Caso seja
observado, o controle pode ser realizado de forma química, orgânica, mecânica, entre
outros, por meio de iscas granuladas, formicidas, produtos naturais etc.
Iscas granuladas: as iscas podem ser químicas (princípio ativo a Sulfluramida ou Fipronil)
ou orgânicas (à base de rotenona ou extratos naturais) e podem ser espalhadas pela área
na forma granulada ou porta-iscas de acordo com a recomendação do fabricante.
Controle de formigas cortadeiras
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
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MÓDULO 4
Formicidas de contato: a aplicação é realizada dentro dos formigueiros ou sobre as mudas
já plantadas da seguinte forma:
• Gasosa (utilização de termonebulizador);
• Pó seco (utilização de polvilhadeira); e
• Líquida (diluição do inseticida).
Estes formicidas possuem ação imediata, entretanto são mais tóxicos, exigindo maior
cuidado no momento da aplicação e orientação de um técnico responsável.
• Uso de produtos à base de mamona e de gergelim, que são prejudiciais ao fungo que
a formiga utiliza para se alimentar;
• Revolvimento dos ninhos com uso de enxadas; e
• Injeção de grande volume de água, gás de cozinha ou gás de escapamento de trator
nos olheiros.
Obs: Caso sejam adotados tais métodos, o monitoramento deve ser mais constante, pois,
em geral, essas técnicas são menos eficientes.
O controle deve ser realizado em três momentos distintos: pré-plantio, plantio e repasses
pós-plantio.
Outras formas de controle:
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
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68
MÓDULO 4
Pré-plantio: É importante que a área seja vistoriada preventivamente antes de iniciar o
plantio e de qualquer intervenção na área (controle do mato, preparo do solo, abertura de
covas, etc.). Recomenda-se que a busca seja realizada logo pela manhã ou ao cair da tarde,
com o objetivo de registrar o pico de atividade das formigas. Os indicadores da presença
das formigas são plantas atacadas, “carreadores” e “olheiros”. Os carreadores são trilhas
limpasde10a15cmdelargura,geradaspelasformigasaotransportaravegetaçãoatacada,
já os olheiros são as entradas dos ninhos onde se observa montes de terra revirados.
Controle de plantio: deve ser realizado 5 a 7 dias antes do plantio, com um repasse logo
após a implantação das mudas, sendo realizado da mesma forma que na fase pré-plantio.
Repasse pós-plantio: é indicado que seja realizado periodicamente até o segundo ano
pós-plantio das mudas. Nos primeiros 2 meses, esse controle deve ser realizado a cada
15 dias e, após esse período, a cada 2 meses. Nessa fase, o controle deve ser realizado
somente nas vizinhanças das mudas cortadas e próximo aos olheiros.
Controle de plantas competidoras
O controle de plantas competidoras deve ser realizado nas fases iniciais do projeto e du-
rante a sua manutenção para aumentar a oferta de água, luz e nutrientes para o desenvol-
vimento da regeneração natural e das sementes e mudas.
A escolha do controle mais adequado para área dependerá:
• Da forma de vegetação existente (árvores, ervas, palmeiras);
• Grau de desenvolvimento das plantas (semente, plântula, juvenil ou adulto); e
• Espécie de planta competidora.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
69
MÓDULO 4
Esse controle pode ser realizado de forma:
• Mecânica: corte da vegetação através do uso de ferramentas ou máquinas;
• Química: herbicidas; e
• Manejo: procedimentos que geram condições desfavoráveis para o crescimento da
vegetação (uso de cobertura morta, adubação verde ou sombreamento pelas copas
das árvores).
O controle mecânico é a técnica mais utilizada no início do projeto por meio da roçada e
durante a manutenção pelo coroamento das mudas.
A roçada consiste no corte de toda a vegetação que não seja de interesse no processo de
recomposição, podendo ser:
• Manual: utilização de foices;
• Semimecanizada: utilização de uma roçadeira costal; e
• Mecanizada: utilização de tratores. Essa atividade geralmente é realizada em áreas
planas, livres de encharcamento, pedras e com baixo potencial de regeneração
natural.
O coroamento consiste na remoção ou controle da vegetação em um raio de, no mínimo,
cinquenta centímetros ao redor da muda ou indivíduo regenerante. Esta operação pode
ser feita de forma manual ou química.
• Coroamento manual: realizado com enxada, removendo a vegetação ao redor da
muda com o devido cuidado para não machucar ou atingir as raízes.
• Coroamento químico: consiste na aplicação de herbicida, com a utilização de
pulverizador costal, em um raio de cinquenta a cem centímetros ao redor da planta
que se deseja conduzir. É recomendado para mudas com porte acima de cinquenta
centímetros de altura, de forma a evitar o contato do herbicida com as folhas e
caules jovens das mesmas. Recomenda-se o uso de bicos especiais nos aspersores
ou protetores para as mudas, evitando que sejam atingidas pela deriva do produto.
Atenção: As operações de roçada e coroamento (mecanizada, manual ou química)
devem ser realizadas com muita atenção, de preferência por mão de obra capacitada.
Equipamentos desregulados e mão de obra despreparada podem causar a supressão
acidental das mudas e regenerantes.
Após o controle mecânico, o uso de cobertura morta e/ou adubação verde pode favorecer
a manutenção da área.
Para o uso do controle químico, é recomendado verificar a possibilidade do uso desta
técnica junto ao órgão ambiental estadual ou municipal e consultar um responsável
técnico, pois sua utilização pode gerar danos ambientais.
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
70
MÓDULO 4
Seleção de espécies
É recomendado adotar alguns critérios para selecionar as espécies que serão introduzidas
na área. São eles:
• Espécies nativas com ocorrência regional;
• Maior número possível de espécies para gerar alta diversidade;
• Combinar espécies pioneiras, intermediárias, secundárias e clímax; e
• Espécies atrativas à fauna.
1. As espécies nativas locais já estão adaptadas aos diferentes tipos de solos, condições
climáticas, presença de polinizadores e dispersores de sementes predominantes na
região. Além disso, esta condição aumenta a probabilidade de sucesso reprodutivo e de
regeneração natural nos projetos de recomposição.
2. Áreas com alta diversidade apresentam maior:
• Capacidade de recuperação de possíveis distúrbios (incêndios, pragas, doenças
etc.);
• Ciclagem de nutrientes;
• Atratividade à fauna; e
• proteção do solo de processos erosivos.
3. A combinação de espécies pioneiras, intermediária, secundárias e clímax favorece a
sucessão ecológica.
4. Inserir espécies que são atrativas para a fauna aumenta o número de polinizadores e
dispersores de sementes.
Em relação à introdução de espécies exóticas, é necessário ter muito cuidado, pois estas
podem se tornar invasoras, ocupando o espaço e impedindo o desenvolvimento das
espécies nativas.
No caso da restauração do Cerrado, com exceção do Cerradão e das Matas Ciliar e de Galeria, em todas
as outras fitofisionomias não se aplica esta distinção, já que as plantas precisam de luz solar abundante
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
71
MÓDULO 4
Características:
• Crescimento rápido;
• Tolerante ao sol e produz sombra densa;
• Forte competidora com invasoras espontâneas;
• Fácil saída do sistema de plantio (vida curta ou retirada); e
• Atrativas para a fauna, potencial econômico.
Espécies de Diversidade
• Crescimento vagaroso;
• Cresce na sombra e produz pouca sombra;
• Fraca competidora com invasoras espontâneas;
• Fácil remoção do sistema; e
• Atrativas para a fauna, potencial econômico.
Espécies de Recobrimento
A adubação orgânica e mineral tem o objetivo de suprir as necessidades das espécies por
nutrientes não disponíveis no solo. A quantidade recomendada de adubo vai depender
de uma análise química do solo e do conhecimento sobre as exigências nutricionais das
espécies selecionadas.
Emrelaçãoàsespéciesnativas,aindanãoexisteminformaçõesprecisassobreasexigências
nutricionais da maioria das espécies, sendo recomendada a adubação padrão nesses
casos, em recomposição realizada em Áreas de Mata Atlântica, que é a mais estudada. Nos
casos de Amazônia e Cerrado, onde as espécies nativas estão adaptadas a solos pobres e
ácidos, é preciso pesar cuidadosamente a necessidade de adubação com uma análise de
solo.
As áreas a serem recompostas geralmente apresentam fertilidade baixa, ou seja, baixos
valores de bases: cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K), sódio (Na) e de fósforo (P), e
em alguns casos, podem ser considerados solos ácidos/distróficos (pH abaixo de 5) que
apresentam elevado teor de Al3+
(alumínio). Tais condições podem ou não ser limitantes
para a recomposição, de acordo com os Biomas, a fitofisionomia e as espécies a serem
usadas.
Aadubação,emgeral,érealizadanaocasiãodoplantio(adubaçãodebase)eperiodicamente
durante os primeiros estágios de desenvolvimento das espécies (adubação de cobertura).
Para solos considerados ácidos, é recomendado realizar a calagem antes de iniciar a
adubação.
Adubação
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
72
MÓDULO 4
A aplicação de calcário tem o objetivo de:
• Aumentar os teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg);
• Controlar a acidez e neutralizar o alumínio (Al3+
);
• Melhorar o aproveitamento de nutrientes, como nitrogênio (N), fósforo (P), potássio
(K), enxofre (S) e molibdênio (Mo); e
• Aumentar a atividade dos microrganismos e a liberação de nutrientes da matéria
orgânica do solo.
A calagem deverá ser realizada, preferencialmente, antes do plantio ou nos primeiros
seis meses pós-plantio, de forma mecanizada em área total ou nas faixas de plantio.
Nas áreas que não permitem mecanização, a aplicação de calcário poderá ser realizada
diretamente no fundo ou ao redor da cova. No caso de áreas de Cerrado, esta prática tende
a ser contraindicada, a depender de análise de solo, no máximo uma adição de calcário às
covas, para disponibilizar nutrientes.
Calagem
A adubação mineral refere-se aos sais inorgânicos obtidos por extração ou processos
industriais químicos e/ou físicos. Em geral, são utilizados fertilizantes à base de nitrogênio,
fósforo e potássio. Na adubação de base, o fertilizante é misturado à terra da cova de
plantio. Na adubação de cobertura, o fertilizante é depositado sobre o solo ao redor da
muda. Para que a adubação não favoreça o crescimento de gramíneas e plantas invasoras,
a aplicação do adubo deverá ser realizada após a capina e durante a estação das chuvas
para sua melhor absorção.
Adubação mineral
Aadubaçãoorgânicarefere-seàutilizaçãoderesíduosorgânicosdeorigemanimal,vegetal,
agroindustrial e outros. Em caso de adubos de origem animal, é recomendado misturá-lo
levemente no solo para evitar que seja levado pela água da chuva. Da mesma forma como
recomendado para os adubos minerais, a aplicação do orgânico deverá ser realizada após
a capina.
Adubação orgânica
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
73
MÓDULO 4
A introdução das espécies na área pode ser realizada por meio do plantio de mudas e/
ou pela semeadura direta, de forma manual ou mecanizada. A escolha da melhor forma
depende da acessibilidade da área, recursos financeiros e disponibilidade de mão de obra
e/ou equipamentos.
Veremos agora o plantio de mudas e semeadura direta.
O plantio de muda é a ação de colocar a muda na cova ou sulco, já com o solo preparado,
e posteriormente preencher os espaços vazios com solo. O plantio pode ser manual ou
semimecanizado, variando de acordo com o recipiente em que a muda foi produzida.
O plantio manual é mais utilizado para mudas produzidas em sacos plásticos, sendo
recomendado o corte do fundo do saco para evitar que as raízes enovelem (acumulem no
fundo do recipiente), como também a retirada do saco antes de finalizar o plantio.
1) Abra covas ou sulcos; 2) Coloque a muda sem enterrar o colo (ponto de transição entre
caule e raiz; 3) Aperte levemente o solo ao redor da muda para retirar os bolsões de ar e
deixar as mudas firmes; 4) Construa pequenas bacias ao redor da muda, isso vai ajudar a
reter água e reduzir a perda da adubação de cobertura por lixiviação.
Muda
Plantio de Mudas
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
74
MÓDULO 4
O plantio semimecanizado pode ser utilizado para mudas produzidas em tubetes, a partir
de plantadeiras manuais (tubo de aço com uma ponta cônica, que se abre acionada por
um gatilho).
Plantadeira manual
A semeadura direta ou o plantio de sementes consiste no lançamento das sementes na
área ou nas linhas de plantio (covas ou sulcos) e cobertas por uma quantidade adequada
de solo (essa quantidade vai depender do tamanho da semente). Essa técnica pode ser
realizada de forma manual (áreas íngremes ou de difícil acesso), por máquinas agrícolas
(áreas planas) e aviões (áreas planas).
A muvuca de sementes (mistura de várias espécies de sementes nativas, areia e grãos)
é muito utilizada nessa técnica, podendo ser realizada por semeadura a lanço de forma
manualouapartirdousodemáquinasespalhadorasdeadubooucalcário.Parasemeadura
em linha, recomenda-se o uso de plantadeira de grãos.
Semeadura direta
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
75
MÓDULO 4
Após a semeadura mecanizada, pode-se semear manualmente as sementes que não
couberam na máquina ou que não podem ser enterradas.
É recomendado que a introdução das espécies na área seja realizada no período chuvoso,
reduzindo os custos. Caso não seja possível, é necessário realizar a irrigação desde o dia do
plantio até que as mudas enraízem no solo. Após esse período, a frequência da irrigação vai
depender de vários fatores, entre eles:
• Uso de hidrogel durante o plantio;
• Quantidade e distribuição das chuvas;
• Capacidade de retenção de água no solo;
• Espécies selecionadas.
Irrigação
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COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
76
MÓDULO 4
O replantio é a reposição das mudas que morreram, mas antes de substituir uma muda por
outra é importante verificar:
• A causa da morte (evitar que a muda reposta morra pelas mesmas causas); e
• Se a muda a ser substituída realmente morreu (as mudas podem perder suas folhas
por herbivoria ou em virtude da seca).
A necessidade de reposição geralmente é verificada entre 60 e 90 dias após a introdução
das espécies na área e é realizada quando a mortalidade for superior a 5% do total de cada
espécie plantada. Nesse processo as mudas mortas devem ser substituídas pela mesma
espécie ou pelo mesmo grupo (recobrimento ou diversidade), respeitando a metodologia
de recomposição definida no projeto.
O replantio deve continuar durante todo o período de manutenção do projeto.
Replantio
O monitoramento tem por objetivo acompanhar se as ações de implantação e manutenção
estão efetivamente promovendo a recomposição da vegetação e verificar se o projeto está
atingindo a sua finalidade (recomposição da APP e/ou RL; geração de trabalho e renda;
entre outros). Essa atividade pode ser realizada uma única vez ou várias vezes, dependendo
do programa estabelecido no projeto de recomposição.
Para avaliar os pontos apresentados, são definidos os indicadores (itens com objetivo de
medir alterações da área recomposta ao longo do tempo), cronograma de monitoramento
e os métodos de amostragem, coleta e análise dos dados.
O uso de indicadores permite analisar se as ações de recomposição irão possibilitar a
reconstrução dos processos ecológicos mantenedores da dinâmica vegetal, de forma
que áreas restauradas sejam sustentáveis no tempo sem mais interferência do homem,
garantindo a sua perpetuação e funcionalidade para conservação da biodiversidade local.
Além do sucesso das ações já implantadas, os indicadores também devem apontar a
necessidade de novas ações visando corrigir e/ou garantir que os processos da sucessão
ecológica local ocorram.
Osindicadoresmaisutilizadosparaomonitoramentoestãorelacionadoscomacomposição
e estrutura da vegetação, como também com o funcionamento dos processos ecológicos.
Na Tabela 1 são apresentados alguns exemplos.
Monitoramento da recomposição florestal
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
77
MÓDULO 4
Tabela 1. Exemplos de indicadores ecológicos para monitoramento de áreas em processo
de recomposição.
Característica Indicadores
Estrutura
Altura do dossel
Número de estratos verticais
Presença de indivíduos emergentes
Densidade total de indivíduos
Cobertura (projeção de copas ou gramíneas so-
bre o terreno)
Composição
Formas de vida (presença e proporção entre ár-
vores, arbustos, ervas e trepadeiras)
Grupo sucessional (primárias, secundárias e tar-
dias)
Grupo de plantio (recobrimento e diversidade)
Riqueza de espécies nativas regionais
Riqueza de espécies invasoras e não invasoras
Funcionamento
Taxas de recrutamento e mortalidade
Taxa de fixação de carbono
Restabelecimento da fauna
Monitoramento da recomposição florestal
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
78
MÓDULO 4
Para cada indicador são estabelecidos critérios e pontuações, conforme exemplo
apresentado por Brancalion et al, (2015). Confira a tabela.
Tabela 2. Critérios e pontuações estabelecidos para cada indicador (Brancalion et al., 2015)
Grau de im-
portância
Indicador Critério Peso
Alto
- Riqueza de espécie;
- Diversidade;
- Cobertura de copa;
- Cobertura de gramíneas;
- Mortalidade das mudas plantadas;
- Presença de espécies exóticas inva-
sora;
- Distribuição ordenada das mudas
no campo por meio de grupos de
plantio.
Podem comprometer todo
o plantio em curto prazo e
são de difícil correção
3
Médio
- Presença de espécies exóticas não
invasoras;
- Altura das mudas plantadas.
Podem comprometer o
plantio da áreas em médio
prazo e podem sem corrigi-
dos.
2
Baixo
- Presença de espécies incluídas em
algum nível de ameaça de extinção.
Não comprometem o plan-
tio, mas são indicadores
positivos.
1
Monitoramento da recomposição florestal
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
79
MÓDULO 4
Atividade Condição Opção técnica
Rendimento
operacional
1) Limpeza da área
Controle inicial de
espécie invasora
Árvores invasoras
Corte com machado Baixo
Corte com motosserra Alto
Manutenção dos resíduos no
local
--
Remoção dos resíduos Baixo
Gramíneas de
grande porte
Foice Baixo
Trator com pá carregadeira Alto
Gramíneas de
baixo porte
Roçagem tratorizada Alto
Roçagem com motorroçadei-
ra costal
Baixo
Aplicação de herbicida com
barra de pulverização
Alto
Aplicação de herbicida com
pulverizadores costais
Médio
2) Preparo do solo
Recuperação do
solo
Solo degradado
Remoção de impedimentos
físicos e correção química
Baixo
Uso de adubação verde Baixo
Controle de formi-
gas-cortadeiras
Sem necessidade de controle --
Iscas granuladas Médio
Inseticida em pó ou líquido Médio
Abertura da cova
ou linha do plantio
Manual (cavadeira e/ou enxa-
dão)
Baixo
Motocoveadora Moderado
Subsolador/sulcador Alto
Monitoramento da recomposição florestal
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
80
MÓDULO 4
Relevo não decli-
voso
Alto
Relevo declivoso Baixo
Terreno com pe-
dregosidade
Baixo
Adubação
Com calagem --
Sem calagem --
Adubação mineral Alto
Adubação orgânica Baixo
Adubação de base na cova do
plantio
Alto
Adubação de base em covetas
laterais
Baixo
3) Plantio
Densidade de plan-
tio
2 m x 2 m (2.500 indivíduos/
ha)
Baixo
3 m x 2 m (1.667 indivíduos/
ha)
Médio
3 m x 3m (1.111 indivíduos/
ha)
Alto
Tipo de muda
Sacos plásticos Baixo
Tubetão (250 cm3
) Médio
Tubetinho (56 cm3
) Alto
Uso de hidrogel
Sem necessidade de uso --
Integrado à plantadeira Alto
Usado separadamente Baixo
Forma de plantio
Manual Baixo
Com plantadeira Alto
Com chucho Alto
INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO
COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS
81
MÓDULO 4
4) Manutenção
Irrigação
Regador Baixo
Motobomba Alto
Mangueiras acopladas a um
tanque
Alto
Coroamento
Enxada Baixo
Pulverização direcionada de
herbicida
Alto
Limpeza de entre-
linhas
Sem limpeza --
Limpeza com roçadeira costal Baixo
Limpeza com aplicação dirigi-
da de herbicida
Alto
Replantio
Média-alta mortal-
idade
Baixo
Baixa mortalidade Alto
Adubação de cob-
ertura
Mineral
Orgânico
Apesar da importância do uso de indicadores e dos avanços nessa temática, ainda são
necessárias mais pesquisas para estabelecer indicadores confiáveis e seguros com os
respectivos valores de referência esperados nas diferentes etapas do projeto, em relação a
cada situação ambiental e de acordo com a técnica de recomposição utilizada.
INTRODUÇÃO A RECOMPOSIÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS
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  • 1.
  • 2. JAIR MESSIAS BOLSONARO Presidente da República TEREZA CRISTINA CORRÊA DA COSTA DIAS Ministra de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO VALDIR COLATTO Diretor-Geral do Serviço Florestal Brasileiro JAINE ARIÉLY CUBAS DAVET Diretora de Cadastro e Fomento Florestal PAULO HENRIQUE MAROSTEGAN E CARNEIRO Diretor de Concessão Florestal e Monitoramento FERNANDO CASTANHEIRA NETO Coordenador-Geral de Fomento e Inclusão Florestal VITO ENZO GENESI Coordenador de Fomento e Inclusão Florestal BRUNO MALAFAIA GRILLO CLARISSA MARIA DE AGUIAR DÉBORA SILVA CARVALHO FLAVIA REGINA RICO TORRES GRACIEMA RANGEL PINAGÉ RUBENS RAMOS MENDONÇA TITO NUNES DE CASTRO RUBENS RAMOS MENDONÇA Equipe Técnica GRACIEMA RANGEL PINAGÉ TITO NUNES DE CASTRO RUBENS RAMOS MENDONÇA CLARISSA MARIA DE AGUIAR PETER WIMMER Conteudistas FELIPE RIBEIRO INGO ISERNHAGEN Revisão Técnica AVANTE BRASIL INFORMÁTICA E TREINAMENTO LTDA. Projeto Gráfico e Ilustração
  • 3. 1 A recomposição da vegetação e sua re lação com as mudanças climáticas e a conservação das florestas 6 Apresentação 7 1. Introdução 8 1.1. Conceitos sobre recomposição 9 1.2. Conhecendo melhor as florestas tropicais 11 1.3. As estruturas da floresta tropical úmida 13 1.3.1. Composição florestal 13 1.3.2. A Biogeografia da Floresta Amazônica 16 1.4. Recomposição e a sua importância 20 1.4.1. Instrumentos legais e políticos 22 1.5. Lei de Proteção da Vegetação Nativa 24 Encerramento do módulo 1 31 2 Planejamento da recomposição da vegetação 32 2.1. Introdução 33 2. Planejamento da recomposição 34 2.1. Diagnóstico das áreas a serem recompostas 34 2.1.1. Localização e mapeamento da paisagem 35 2.1.2. Vegetação remanescente 38 2.1.3. Qualidade do solo 39 2.1.4. Logística das áreas 41 2.2. Definição dos métodos de recomposição 42 2.3. Planejamento econômico 44 2.4. Cronograma 46 Encerramento do módulo 2 47 3 Métodos de recomposição da vegetação nativa 48 1. Introdução 49 2. Regeneração Natural 50 3. Transposição de solo florestal superficial ou “topsoil” 51 4. Plantios de Adensamento 52 5. Plantio mecanizado de sementes em área total 53 6. Plantio de mudas em área total 54 SUMÁRIO
  • 4. 7. Plantios de enriquecimento 56 8. Sistemas Agroflorestais (SAFs) 57 9. Nucleação 59 Encerramento do módulo 3 61 4 Implantação, manutenção do plantio e monitoramento da recomposição 62 1. Introdução 63 2. Preparo do solo 64 3. Abertura de aceiros e instalação de cercas 66 Encerramento do módulo 4 84 5 Coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes florestais 85 1. Introdução 86 2. As sementes 87 Encerramento do módulo 5 102 6 Produção de mudas de espécies florestais 103 1. Introdução 104 2. Viveiros Florestais 105 2.1. Viveiros temporários x viveiros permanentes 106 2.2. Critérios para implantação do viveiro 107 2.2.1. Facilidade de acesso 108 2.2.2. Quantidade e qualidade de água 108 2.2.3. Drenagem 109 2.2.4. Orientação geográfica e proteção contra o vento 109 2.3. Insumos necessários para a produção no viveiro 110 2.3.1. Recipientes 110 2.3.2. Substratos 112 2.3.3. Tipos de substratos 112 2.4. Métodos de produção de mudas 113 2.4.1. Germinação 113 2.4.2. Dormência 114 2.4.3. Dormência exógena 114 2.4.4. Quebra de dormência exógena 115 2.4.5. Dormência endógena 116
  • 5. 2.4.6. Quebra de dormência 116 2.4.7. Teste de qualidade 117 2.4.8. Pureza 117 2.4.9. Germinação 118 2.5. Semeadura 118 2.5.1. Densidade 119 2.5.2. Época 119 2.5.3. Abrigo 119 2.6. Sequência operacional de atividades no viveiro 120 2.7. Elaboração de projetos de viveiros florestais 122 2.8. Monitoramento das mudas 123 2.8.1. Parâmetros morfológicos 123 Encerramento do módulo 6 125 7 Geração de renda pela recomposição florestal 126 1. Introdução 127 2. Importância da geração de renda para o sucesso da recomposição em larga escala 128 Encerramento do módulo 7 143 Referências Bibliográficas 144
  • 6. MÓDULO 1 A recomposição da vegetação e sua re lação com as mudanças climáticas e a conservação das florestas
  • 7. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 7 Apresentação Olá! Eu sou o Altair, técnico extensionista da região, e irei conduzir este curso com a analista ambiental Carol. Os fazendeiros Eliana e João também irão partilhar as experiências e dúvidas sobre os temas que serão apresentados. CAROL TÉCNICO
  • 8. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 8 Para começar, faremos uma introdução sobre o tema recomposição florestal, que é muito discutido hoje no Brasil e no mundo, sendo de grande importância o seu entendimento. Nesse curso, vamos abordar as principais orientações para a recomposição da vegetação em florestas tropicais, a partir das etapas de coleta, beneficiamento e armazenamento de sementes, produção de mudas e construção de viveiros. Para complementar, vamos estudar os principais métodos de recomposição, os recursos necessários, bem como acompanhar todo o seu processo de implementação e monitoramento. Vale lembrar que todas as atividades mencionadas detêm princípios técnicoselegaismuitoclarosebemdefinidos,estandoestabelecidas em legislação específica, como leis, decretos, portarias e instruções normativas, que também serão apresentadas durante os módulos. Vamos lá conhecer mais sobre como recompor a nossa floresta! 1. Introdução TÉCNICO CAROL
  • 9. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 9 O Serviço Florestal Brasileiro adota os termos Recomposição ou Recuperação, definidos no Decreto n° 8.972/2017 – Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa. Vamos apresentar, a seguir, o conceito de acordo com o Decreto: 1.1. Conceitos sobre recomposição Recuperação ou recomposição da vegetação nativa - restituição da cobertura vegetal nativa por meio de implantação de sistema agroflorestal, de reflorestamento, de regeneração natural da vegetação, de reabilitação ecológica e de restauração ecológica. Importante Fazer recuperar o uso ou o estado anterior deste. Restituição Segundo o World Agroforestry Center - ICRAF, os SAFs são “sistemas baseados na dinâmica, na ecologia e na gestão dos recursos naturais que, por meio da integração de árvores na propriedade e na paisagem agrícola, diversificam e sustentam a produção, com maiores benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos aqueles que usam o solo em diversas escalas”. Sistema agroflorestal (SAFs) Agora vamos entender cada um deles?
  • 10. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 10 Intervenção humana planejada visando à melhoria das funções de ecossistema degradado, procurando desencadear o restabelecimento mais próximo da composição, da estrutura e do funcionamento do ecossistema preexistente. Reabilitação ecológica Produto da intervenção humana intencional em ecossistemas alterados ou degradados para facilitar ou acelerar o processo natural de sucessão ecológica. Restauração ecológica Plantação de espécies florestais, nativas ou não, em povoamentos puros ou não, para formação de uma estrutura florestal em área originalmente coberta por florestas. Reflorestamento Processo pelo qual espécies nativas se estabelecem em área alterada ou degradada a ser recuperada ou em recuperação, sem que este processo tenha ocorrido deliberadamente por meio de intervenção humana. Regeneração natural da vegetação Restituição de cobertura vegetal com espécies nativas por meio de plantios de mudas ou semeadura direta visando reabilitação e/ou restauração ecológica com a implantação de estratégiasdeplantioscomosistemaagroflorestal,reflorestamentooumesmoregeneração natural da vegetação. Recuperação ou recomposição da vegetação nativa
  • 11. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 11 1.2. Conhecendo melhor as florestas tropicais Temos nossas práticas e costumes, então estamos felizes por contar agora com o apoio de vocês para este processo de recomposição. Conte com a gente, Eliana e João. Mas para realizar a recomposição é necessário entender as características da vegetação que pretendemos recompor, pois cada área apresenta uma disposição própria conforme o local de ocorrência. As principais características das florestas tropicais são: • Clima quente (devido à proximidade com a linha do Equador); e • Grande diversidade de espécies. Essasflorestasestãolocalizadasnaregiãoentreostrópicos,maisprecisamente na América Central e México, na América do Sul, na África, no sudeste Asiático e em ilhas do Oceano Pacífico. De acordo com a FAO (2012), são divididas em três categorias: tropicais secas, tropicais estacionais e tropicais úmidas.
  • 12. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 12 • Apresentam um longo período seco (5 a 8 meses), onde todas as árvores perdem as folhas nesta época; Exemplo: Bioma Caatinga. Florestas tropicais secas • Apresentam um período seco (3 a 5 meses), onde algumas árvores perdem suas folhas durante esse período. Exemplo: Manchas de vegetação no Bioma Mata Atlântica. Florestas tropicais estacionais • Apresentam ou não uma estação seca que pode variar de 0 a 3 meses; Exemplo: Bioma Amazônia. No próximo item, daremos destaque as características da floresta tropical úmida. Florestas tropicais úmidas
  • 13. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 13 1.3. As estruturas da floresta tropical úmida 1.3.1. Composição florestal As florestas são formadas por milhares de espécies que apresentam diferentes tamanhos, formas e funções dentro do ecossistema florestal. Em relação ao tamanho e forma dessas espécies, podemos dividir a floresta em quatro estratos (altura): herbáceo, sub-bosque, dossel e emergente. Emergente: árvores altas que ultrapassam o dossel. Dossel: patamar superior da floresta correspon- dendo à mais alta camada de folhas, caules e pequenos ramos expostos; Sub-bosque: conjunto de plântulas e plantas jovens que crescem abaixo do dossel florestal; Herbáceo:camadadeervas(plantanãolenhosa e terrestre), subarbustos (planta de base lenhosa e ápice herbáceo), trepadeiras (planta de hábito escandente de forma ampla), sendo estas herbáceas (vinhas) ou lenhosas (lianas) e arbustos (planta lenhosa ramificada desde a base) com até 1,30m. * Planta recém brotada ou muito nova.
  • 14. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 14 Para cada estrato, podemos identificar e quantificar em uma determinada área a: Densidade de indivíduos: número de indivíduos por hectare; Área basal: área ocupada pela circunferência dos indivíduos por hectare; Distribuição espacial: forma de distribuição dos indivíduos na floresta, se em grupos, espaçados etc. Estrutura florística: como as diferentes espécies se distribuem nos diferentes estratos e locais da floresta. Distribuição diamétrica: frequência dos indivíduos por tamanho de seus diâmetros;
  • 15. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 15 As espécies da floresta apresentam diferentes estratégias de crescimento e sobrevivência, que se adaptam à natureza conforme os recursos disponíveis. Entre estes grupos temos: • Espécies primárias que possuem crescimento rápido (atingindo rapidamente o dossel), necessitando de maior iluminação para seu crescimento, com ciclo de vida reduzido e produzem grande quantidade de sementes, que ficam bastante tempo no solo esperando melhores condições para se desenvolver. Essas espécies se desenvolvem melhor após algum distúrbio na floresta, como por exemplo a abertura de uma clareira na floresta. Exemplo: Açaí (Euterpe sp.), Paricá (Schizolobium amazonicum (Vell)) e Maricá (Mimosa bimucronata). • Espécies secundárias e clímax crescem em condições de luz reduzida, possuem ciclo de vida longo produzindo sementes em menor quantidade. As espécies desse grupo são capazes de desenvolver plântulas dentro do sub-bosque da floresta. Exemplo: Jatobá (Hymenaea courbaril var. stilbocarpa), Copaíba (Copaifera sp.) e Sobrasil (Colubrina glandulosa Perkins). • Espécies intermediárias possuem comportamentos situados entre os dois casos citados anteriormente, mudando o comportamento de crescimento após atingirem certos níveis da floresta. • Nestes casos, no momento de escolher as espécies para o plantio, é importante reconhecer as espécies de diferentes estratégias de ocupação do ambiente, aquelas de recobrimento ou seja aquelas que não apenas crescem rápido, mas produzem grande biomassa de folhagem e assim são capazes de competir com as invasoras, ao mesmo tempo sejam relativamente fáceis de sair do sistema quando forem substituídas naturalmente pelas espécies de diversidade e crescimento mais lento, que são aquelas fundamentais na estruturação final da restauração ou seja, as espécies clímax. Grupos ecológicos sucessionais A mortalidade e a formação de clareiras ocorrem o tempo todo dentro da floresta. Quando um indivíduo adulto de estrato arbóreo morre, abre-se uma clareira que beneficia as espécies de crescimento rápido. Estas sombreiam relativamente rápido a área, facilitando o crescimento de espécies tolerantes à sombra. Isso transforma a floresta em uma junção de unidades florestais em diferentes processos de sucessão (clareiras em processo de fechamento de dossel, áreas com vegetação madura, entre outros) criando um mosaico dinâmico. Esses parâmetros auxiliam no entendimento da composição e da dinâmica da floresta e devem ser observados durante a recomposição da vegetação possibilitando, assim, acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da floresta como um todo. Mosaicos Nessa mesma área podemos observar a evolução da floresta ao longo do tempo, diante das seguintes observações:
  • 16. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 16 1.3.2. A Biogeografia da Floresta Amazônica A Floresta Amazônica é considerada a maior floresta tropical do mundo e está localizada no norte da América do Sul, abrangendo os estados do Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Pará, Roraima, norte do Mato Grosso e Tocantins e oeste do Maranhão, além de menores proporções nos países Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e no território da Guiana Francesa. Mapa da Amazônia continental Mapa dos biomas Fonte: IBGE, adaptado SFB A Floresta faz parte do bioma Amazônico, no qual ocupa 49,29% do território nacional, aproximadamente 4.196.943 km2 , representando o maior bioma do Brasil (SNIF). * Bioma: um conjunto de vida vegetal e animal, constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguosequepodemseridentificadosanívelregional,comcondiçõesdegeologiaeclimasemelhantes e que, historicamente, sofreram os mesmos processos de formação da paisagem, resultando em uma diversidade de flora e fauna própria(IBGE, 2005).
  • 17. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 17 O clima predominante da região é o equatorial úmido, devido à proximidade com a linha do Equador, apresentando pouca variação de temperatura ao longo do ano, com médias anuais de 26 a 27°C. As chuvas são abundantes com médias de precipitação anuais de 2.300 mm. Quanto à hidrografia, a região norte abriga a maior bacia hidrográfica do mundo, a Bacia Amazônica, onde os rios mais importantes da região são o rio Amazonas e o rio Tocantins. Clima O relevo Amazônico apresenta áreas de planície (terrenos com pouca variação de altitude) que são constantemente inundadas pela água dos rios, áreas de depressões (tipo de relevo aplainado, onde são encontradas colinas baixas) e áreas de planaltos (terrenos com superfície elevada), como o planalto das Guianas. Mapa de altitude do Brasil (https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/ atlas/mapas_brasil/brasil_fisico.pdf). Relevo A vegetação da Floresta Amazônica está intimamente ligada ao clima, ao solo e ao relevo. Devido à influência do clima e das diferentes formações geológicas e de relevo, os solos amazônicos são geralmente arenosos com uma fina camada de nutrientes resultantes do processo de decomposição de folhas, galhos, frutos e animais mortos, possibilitando o crescimento de uma rica floresta com uma enorme biodiversidade e diferentes formações florestais, são elas (IBGE, 2012): Floresta Ombrófila Densa ou floresta tropical úmida ou pluvial: vegetação formada por árvores de grande porte, sendo a vegetação mais presente na floresta amazônica. Essa formação florestal foi subdividida em cinco categorias de acordo com as variações das faixas de altitude são elas: Altomontana, Montana, Submontana, Terras Baixas e Aluvial. Solo e Vegetação
  • 18. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 18 Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012. Floresta Ombrófila Aberta: possui um dossel mais aberto devido à grande presença de cipós ou palmeiras ou bambus ou sororocas; Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012. O termo biodiversidade - ou diversidade biológica - descreve a riqueza e a variedade do mundo natural, em espécies, populações dessas espécies e a diversidade genética. Formações florestais se refere àos diferentes tipos de vegetação arbórea, como a Mata de Araucarias, Cerradão, Mata de bambus na Amazônia, etc. Ombrófila é um termo em grego que quer dizer amigo da chuva.
  • 19. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 19 Campinarana florestada ou Caatinga da Amazônia e Caatinga-Gapó: esse tipo de vegeta- ção apresenta árvores menores e com troncos mais finos em relação as florestas ombrófilas e ocorrem no alto rio Negro (noroeste do Amazonas) e no médio rio Branco (sul de Roraima); * Sororoca ou banana-da-mata, planta da família da banana, que se parece com ela, mas sem frutos, de matas úmidas. CampinaranaarborizadaouCampinaranaeCaatinga-Gapó:ocorrenasmesmaslocalidades da campinarana florestada, porém em locais com solos mais arenosos, apresentando árvores menos desenvolvidas. Veloso, Rangel Filho e Lima (1991) disponível em IBGE, 2012. Mapa da vegetação da Amazônia.
  • 20. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 20 1.4. Recomposição e a sua importância CAROL Pessoal, quero ressaltar que manutenção dos serviços ambientais e a conservação da biodiversidade já representam razões importantes para recompor uma área degradada ou alterada, mas vale incluir ainda a exigência legal e os compromissos internacionais do Brasil. Exatamente, Carol! Desta forma, as florestas representam uma grande fonte de recursos naturais, gerando riqueza ambiental e socioeconômica. Entre os serviços ambientais destacamos a manutenção do ciclo das águas, absorção de carbono, polinização e dispersão de sementes, controle de enchentes e erosões. Em termos socioeconômicos, a coleta e comercialização dos produtos florestais madeireiros e não- madeireiros geram segurança alimentar e renda para diversas famílias. Serviços ambientais: trata-se dos benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou indiretamente, através dos ecossistemas, a fim de sustentar a vida no planeta, como proteção contra erosão, água potável, solos férteis e muitos outros. Absorção de carbono: as plantas, enquanto crescem, retiram gás carbônico do ar – uma árvore adulta tem cerca de 40% de seu peso de carbono.
  • 21. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 21 A degradação ou alteração de uma área pode ocorrer por diversas ações, tanto naturais, quanto antrópicas (causada por ação do homem), entre elas: • pecuária extensiva; • exploração predatória de madeira e produtos não-madeireiros; • agricultura de corte e queima; e • agricultura mecanizada de grãos. Essas atividades foram e continuam sendo atrativas economicamente, entretanto, causam degradação das florestas e a redução de bens e serviços ambientais, comprometendo o bem-estar das gerações presentes e futuras, como também podem reduzir o potencial produtivo das atividades destacadas acima. O relatório “O Futuro Climático da Amazônia”, aponta o importante pa- pel da floresta na regulação do clima, destacando a sua capacidade em manter a umidade do ar, possibili- tando que ocorram chuvas dentro do continente, longe dos oceanos, como o fenômeno dos rios voadores. Este fenômeno ocorre da seguinte forma: os ventos alísios (ventos que sopram de leste para oeste) carregam vapor d’água que vem do oceano Atlântico para a região amazônica, gerando chuvas e fazendo mover os rios voadores. Essa umidade avança até atingir a Cordilheira dos Andes, onde ocorre uma nova precipitação forman- do as cabeceiras dos rios da Amazônia. A umidade que atinge a região andina em parte retorna para o Brasil, podendo gerar precipitações nas regiões centro-oes- te, sudeste e sul. Saiba mais
  • 22. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 22 1.4.1. Instrumentos legais e políticos A recomposição da vegetação obrigatória, quando ocorrer, é definida na Lei n° 12.651 de 2012, que trata sobre a Proteção da Vegetação Nativa, também conhe- cida como Novo Código Florestal. É a lei que traz regras sobre como se deve usar a terra e proteger as florestas brasileiras. Essa lei determina quais as áreas de vege- tação nativa que toda propriedade e posse precisam ter, a Reserva Legal (RL) e a Área de Preservação Per- manente (APP), como também em que condições pode realizar intervenções na vegetação nativa como sua exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais, o controle e prevenção dos incêndios florestais, e a pre- visão de instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos. OBrasilassumiuocompromissointernacionalderecompordozemilhõesdehectaresdeáreas desmatadas e degradadas, perante a Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês). Essas duas Convenções, juntamente com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos efeitos da seca, foram elaboradas durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Rio 92, na qual reuniu representantes de 179 países, onde foi consolidada uma agenda global para minimizar os problemas ambientais mundiais. Um dos resultados mais importantes da Convenção-Quadro, foi a criação do Protocolo de Quioto em 1997 durante a COP3 (Conferência entre as Partes), no qual estabeleceu metas de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) para países desenvolvidos, considerados os responsáveis históricos pela mudança atual do clima. O Protocolo entrou em vigor em 2005, onde foi estabelecido que os países desenvolvidos deveriam reduzir 5% das emissões em relação aos níveis de 1990. O Brasil aderiu ao Protocolo em 2002.
  • 23. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 23 Em 2015, na COP 21, foi aprovado um novo acordo global, o Acordo de Paris, que possui metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, definidas nacionalmente conforme as prioridades e possibilidades de cada um. O Brasil fez o compromisso de reduzir as emissões dos GEEs em 37% abaixo dos níveis de 2005atéoanode2025e43%paraoanode2030.Paraisso,opaíssecomprometeuaaumentara participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. Outro compromisso internacional relacionado ao tema ambiental, foi o Desafio de Bonn em 2011, onde foi estabelecido meta mundial de 150 milhões de hectares em processo de restauração até 2020 e ampliado para 350 milhões de hectares restaurados até 2030. * Gases de efeito estufa são as substâncias gasosas que absorvem o calor (radiação infravermelha) e impedem que ele se dissipe no espaço, esquentando a atmosfera da terra.
  • 24. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 24 1.5. Lei de Proteção da Vegetação Nativa A Lei n° 12.651/2012 estabelece regras para a recomposição das áreas de Reserva Legal e a Área de Preservação Permanente para todas as propriedades rurais. Vamos entender agora a relaçãodasáreasdeumimóvelruralcomaregularizaçãoambiental,seusserviçoseprodução sustentável. Áreas de APP e RL As áreas de RL e APP são áreas de grande importância socioambiental. A proteção de rios, nascentes e lagoas contribui para a manutenção de boas fontes de água. A vegetação dos morros e ribanceiras ajuda a proteger o solo, diminuindo a possibilidade de erosão e deslizamentos. Sendo assim, a manutenção da vegetação nativa nessas áreas contribui para manter o clima mais agradável, conservar os recursos hídricos e permitir a sobrevivência dos animais silvestres, além de outros serviços ecossistêmicos. Cada imóvel rural precisa ter em sua área uma porcentagem de Reserva Legal. Confira os dados. Amazônia legal Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Para, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão área de floresta: área de de campos gerais: Demais regiões do país área de cerrado: 80% 35% 20% 20% EmrelaçãoàÁreadeProteçãoPermanente(APP),asseguintesáreasdeverãoestarprotegidas tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais: APP de curso d’água – São matas ciliares que formam faixas na beira de qualquer rio ou riacho, mesmo quando o rio é do tipo que seca uma vez ao ano. O tamanho da APP varia de acordo com a largura desse rio dentro do imóvel rural e deve ser medida a partir da borda da calha do leito regular desse rio.
  • 25. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 25 APP de lagos e lagoas naturais – São as faixas de vegetação em volta de espelhos d’água naturais. Quanto maior o lago ou lagoa, maior deve ser a faixa de mata. Nascentes–Sãooslugaresondenascemosrios.Tambémsãoconhecidascomocabeceiras, olhos-d’água, minas ou fontes. Devem ter uma faixa de vegetação de 50 m em seu entorno. Topos de morro, montanhas, montes e serras, com altura mínima de 100 metros e inclinação média maior 25º – A vegetação deve ser preservada em pelo menos 1/3 da parte superior das elevações muito inclinadas. Altitudes maiores que 1800 m – Não importa o tamanho do imóvel, a regra é a mesma: trata-se de APP e deve ser preservada. Encostas ou parte de encostas com declividade superior a 45º: As elevações mais inclinadas do terreno antes de chegar ao topo de um morro, como os paredões de uma montanha, também devem ter a vegetação protegida. Veredas: Aqui cresce a palmeira buriti, em um solo encharcado conhecido como brejo. A regra para essa APP, no caso de pequenos imóveis rurais, é manter uma faixa de vegetação com 50 metros contados a partir do brejo. Há outras condições em que as áreas podem ser enquadradas como APP conforme estabelecido na Lei, como o entorno de reservatórios de águas artificiais que foram represadas, as bordas de tabuleiros ou chapadas. As restingas e manguezais do ambiente costeiro também são consideradas APP e devem ser preservadas em toda a sua extensão. Vale lembrar que existem três possibilidades das áreas de APPs sofrerem intervenções ou supressões da sua vegetação, são elas: • hipótese de utilidade pública; • interesse social; • atividades eventuais ou de baixo impacto social. REGRA GERAL
  • 26. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 26 A Lei 12.651/2012 trouxe novidades em relação a regularização ambiental de todas as propriedades rurais. A inscrição no Cadastro Ambiental Rural (CAR) é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla: • Dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; • Dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e • Informações georreferenciadas dos limites do imóvel, das áreas de interesse social e dasáreasdeutilidadepública,comainformaçãodalocalizaçãodosremanescentesde vegetação nativa, das APPs, das Áreas de Uso Restrito (AUR), das áreas consolidadas e das RLs. Recomposição de APP e RL Área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitoriasouatividadesagrossilvipastoris,admitida,nesteúltimocaso,aadoçãodoregimedepousio; Saiba mais: http://www.car.gov.br/#/ Caso as propriedades rurais não estejam de acordo com a legislação devido à retirada irregular de remanescentes de vegetação nativa para uso alternativo do solo, como roçado, plantações e construções, os proprietários e/ou possuidores, deverão recompor essas áreas conforme estabelecido na Lei n° 12.651/2012. Os Programas de Regularização Ambiental - PRA - referenciados na Lei nº 12.651/12, e nos Decretos nº 7.830/12 e nº 8.235/14, restringem-se à regularização ambiental das Áreas de Preservação Permanente - APP, de Reserva Legal - RL e de uso restrito desmatadas até 22/07/2008, ocupadas por atividades agrossilvipastoris, que poderá ser efetivada mediante recuperação, recomposição, regeneração ou compensação. A compensação aplica-se exclusivamente às Áreas de Reserva Legal – RL suprimidas até 22/07/2008.
  • 27. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 27 Ao aderir ao PRA, e enquanto estiverem sendo cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no Termo de Compromisso para a regularização ambiental, o proprietário/ possuidor tem acesso aos seguintes benefícios: • suspensão de sanções administrativas decorrentes de autuações por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relacionadas à supressão irregular de vegetação em Reserva Legal, caso existam; • suspensão da punibilidade dos crimes previstos nos arts. 38, 39 e 48 da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, cometidos até 22 de julho de 2008; • manutenção de atividades nas Áreas de Preservação Permanente, uso restrito e de Reserva Legal desmatadas até 22 de julho de 2008; • acesso a apoio técnico e incentivos financeiros criados em âmbito federal, estadual ou municipal que poderão incluir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, às pequenas propriedades ou posses rurais familiares, nas iniciativas de (i) Recuperação ambiental de Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal; (ii) Recuperação de áreas degradadas; e (iii) Promoção de assistência técnica para regularização ambiental e recuperação de áreas degradadas. • om a efetiva regularização do imóvel rural, as multas das autuações cometidas serão consideradas como convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente, e será extinta a punibilidade. Identificadanainscriçãoanecessidadederecomposiçãodevegetaçãonativa,oproprietário ou possuidor de imóvel rural poderá solicitar de imediato a adesão ao Programa de Regularização Ambiental - PRA, sendo que, com base no requerimento de adesão ao PRA, o órgão estadual competente convocará o proprietário ou possuidor para assinar o termo de compromisso. Para recompor, o proprietário e/ou possuidor rural pode aderir ao Programa de Regulariza- ção Ambiental – PRA que representa um conjunto de ações ou iniciativas a serem desenvol- vidas com o objetivo de adequar e promover a regularização ambiental de imóveis rurais. Ao aderir ao PRA, os proprietários e/ou possuidores rurais que retiraram de forma irregular a vegetação de APPs, RLs e AURs antes de 22 de julho de 2008, ficam isentos de autuação por infrações. Destacamos que todo imóvel rural que tenha área de RL em extensão inferior ao estabelecido poderá regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA. Aqueles que não aderirem ao PRA não terão acesso aos benefícios acima listados, e deverão responder nas esferas civil, penal e administrativa sobre os ilícitos cometidos objetos dos PRA (infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito).
  • 28. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 28 Como o CAR será analisado pelo órgão ambiental estadual/distrital, as providências acima indicadas provavelmente dar-se-ão à medida que o órgão competente notificar o detentor do imóvel rural para cumpri-las. A análise é uma espécie de fiscalização das informações declaradas, a partir da qual o órgão identifica passivos ambientais e notifica o proprietário/ possuidor para resolvê-los, seja no âmbito do PRA ou não. Atualmente, a informação para a sociedade da regularidade ambiental do imóvel rural está atrelada à situação e à condição do CAR do imóvel rural, que são informações públicas hoje. À medida que o CAR é analisado pelo órgão competente, a situação e a condição do CAR vai se alterando até chegar à situação e condição de regularidade ambiental do imóvel rural. Formas de Recompor a Reserva Legal A recomposição da RL pode ser feita por meio das seguintes técnicas, que podem ser combinadas entre si: 1. Regeneração natural da vegetação na área de RL; 2. Plantio; 3. Compensação da Reserva Legal. No caso de recomposição poderá ser feito o plantio intercalado de espécies nativas com exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observados os seguintes parâmetros: 1. O plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies nativas de ocorrência regional; 2. A área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da área total a ser recuperada. É possível fazer a exploração econômica da RL, mas sempre com manejo sustentável previamente aprovado pelo órgão ambiental. A recomposição da vegetação de APP varia de acordo com o tamanho do imóvel rural e o tipo de APP (beira de rios, lagos, lagoas, etc), e pode ocorrer das seguintes formas: • Condução da regeneração natural; • Plantio de espécies nativas; • Plantio de espécies lenhosa, perenes ou de ciclo longo, misturando nativas e exóticas em até 50% da área total a ser recomposta. Para imóveis que apresentavam APP ocupadas antes de 22 de julho de 2008, a Lei 12.651/2012 apresenta regras específicas de acordo com o tamanho da área (módulo fiscal) de cada propriedade. Formas de Recompor APPs
  • 29. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 29 Exceções da porcentagem de Reserva Legal para a Amazônia: a. Os empreendimentos que realizaram desmatamentos na Amazônia entre 1989 e 1998, respeitando o limite de 50%, estão desobrigados de recomposição até 80%. Caso possuam excedente acima dos 50%, estes podem ser usados para compensação. b. O percentual pode ser reduzido para até 50% se: I) o estado tiver Zoneamento ecológico-econômico e mais de 65% do seu território ocupado por unidades de conservação regularizadas ou terras indígenas homologadas, considerando-se o ponto de vista do Conselho Estadual de Meio Ambiente. II) o município tiver mais da metade de sua área ocupada por unidades de conservação ou terras indígenas homologadas. Saiba mais
  • 30. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 30 Para saber mais consulte a legislação ambiental • Lei Federal 12.651/2012: Institui a nova legislação ambiental e apresenta as regras para proteção e restauração da vegetação nativa. • Decreto Federal 7.830/2012: Dispõe sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural, o Cadastro Ambiental Rural e estabelece normas de caráter geral aos Programas de Regularização Ambiental. • Instrução Normativa 2/2014 do MMA: Dispõe sobre os procedimentos para a integração, execução e compatibilização do Sistema de Cadastro Ambiental Rural-SICAR e define os procedimentos gerais do Cadastro Ambiental Rural-CAR. • Decreto nº 8.235 de 5 de maio de 2014: Estabelece normas gerais complementares aos Programas de Regularização Ambiental. • Resolução Conama 429/2011: Dispõe sobre a metodologia para Restauração de APP. • Resolução Conama 425/2010: Trata de critérios para Agricultura Familiar dos povos e comunidades tradicionais como de interesse social para fins de produção, intervenção e restauração de APP. • Resolução Conama 369/2006: Considera de utilidade pública, interesse social ou de baixo impacto ambiental as agroflorestas realizadas em Área de Preservação Permanente em propriedade de Agricultura Familiar. • Instrução Normativa 005/2009 do MMA: trata de procedimentos metodológicos para restauração e recuperação das APP e RL, incluindo as agroflorestas como forma de restauração. • Lei Federal 9.985/2000: Apresenta regras para as áreas protegidas no Brasil,instituindooSistemaNacionaldeUnidadesdeConservação–SNUC. • Lei Federal 11.326/2006: Apresenta definições para a Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Saiba mais
  • 31. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS MÓDULO 1 31 Encerramento do módulo 1 TÉCNICO CAROL Neste módulo, apresentamos os conceitos sobre recomposição e conhecemos um pouco mais sobre as florestas tropicais. Também abordamos as estruturas da floresta tropical úmida, sua composição florestal e a biogeografia da floresta amazônica. Tratamos ainda, sobre a recomposição da floresta e sua importância, e sobre seus instrumentos legais e políticos. Um outro assunto importante que vimos neste módulo foi relacionado a Lei de Proteção da Vegetação Nativa, destacando as áreas de APP e RL, sua recomposição e as formas de recompor. No próximo módulo falaremos sobre o plane- jamento da recomposição da vegetação.
  • 33. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 33 MÓDULO 2 2.1. Introdução Até aqui, foi possível entender a importância da recomposição, além da preservação de áreas. Mas como podemos colocar isto em prática? João, para a recomposição de uma área, é importanteelaborarumprojetoquedescreva as etapas de planejamento, implantação, manutenção e monitoramento. A etapa de planejamento tem por objetivo detalhar as atividades necessá- rias para implantar todas as etapas, com base em um diagnóstico da área, ou seja, um estudo sobre a situação atual dessa área (localização, qualida- de do solo e vegetação remanescente). A partir desse diagnóstico, é pos- sível identificar o método de recomposição mais adequado e assim calcu- lar os custos de implantação da técnica indicada, como também planejar quando será realizada cada atividade de cada etapa. Nesse módulo vamos apresentar as principais etapas de um bom planejamento de recom- posição.
  • 34. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 34 MÓDULO 2 2. Planejamento da recomposição 2.1. Diagnóstico das áreas a serem recompostas Pessoal, o diagnóstico das áreas alteradas ou degradadas é o primeiro passo para o planejamento e o seu objetivo é trazer uma visão da situação atual da área, ou seja, sua localização, se existe vegetação ainda presente (vegetação remanescente) e qual a qualidade do solo. O levantamento dessas informações permite escolher melhor as atividades de recuperação necessárias para a área, abordando inclusive a importância de identificar e cessar ou ao menos mitigar o fator de degradação. Vamos entender cada uma delas?! TÉCNICO CAROL
  • 35. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 35 MÓDULO 2 2.1.1. Localização e mapeamento da paisagem Este é o primeiro passo para o diagnóstico da recomposição da vegetação, seja para regularização ambiental do imóvel, para fins econômicos ou para conservação. Esta atividade é realizada a partir da localização e mapeamento de todas as áreas presentes no imóvel rural, por exemplo: • Áreas remanescentes da vegetação nativa; • Rios, lagos e nascentes; • Estradas; • Construções; • Áreas com inclinação acima de 45°; e • Áreas produtivas existentes. O mapeamento traz uma maior clareza da situação ambiental e produtiva do imóvel rural ao localizar todas as estruturas, áreas produtivas e áreas com vegetação remanescente. IMPORTANTE - Neste momento identificamos as Áreas de Preservação Permanente (APP) e a Reserva Legal (RL), já descritas no módulo anterior. A seguir serão apresentados alguns métodos que podem ser utilizados para o mapeamento do imóvel rural. O CAR é uma ferramenta estratégica para o mapeamento da propriedade. Ele gera um mapa com as informações detalhadas das áreas e atividades presentes no imóvel rural. Ao final, o proprietário ou possuidor consegue visualizar a situação quanto à necessi- dade de recomposição da vegetação. http://www.florestal.gov.br/ documentos/car/3-manual-car- modulo-de-cadastro/file Cadastro Ambiental Rural (CAR)
  • 36. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 36 MÓDULO 2 Atualmente a internet disponibiliza várias imagens de satélite que podem ser úteis para compreender a paisagem do imóvel rural e entorno, tais como: • Conexões entre fragmentos florestais; • Áreas degradadas ou alteradas dos rios, lagos e nascentes; • Áreas de vegetação nativa; • Áreas produtivas; e • Áreas construídas. Imagens de satélite
  • 37. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 37 MÓDULO 2 A identificação das áreas também pode ser realizada com a elaboração de um desenho das áreas do imóvel rural. IMPORTANTE – As informações indicadas no mapa ou croqui devem ser verificadas em campo para garantir que estão de acordo com a realidade. Croqui
  • 38. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 38 MÓDULO 2 2.1.2. Vegetação remanescente A vegetação remanescente é toda a vegetação que está presente em uma área, composta por espécies nativas e/ou exóticas nos mais diversos estágios de sucessão. Dessaforma,avegetaçãoremanescenteiráauxiliarnaidentificaçãodoníveldeintervenção necessária para recompor a área, por exemplo: 1. Áreas alteradas/degradadas que apresentam uma diversidade de espécies nativas de árvores e arbustos e/ou estão próximas a fragmentos de vegetação nativa são mais favoráveis à regeneração natural, por possibilitar a dispersão de sementes das plantas presentes no local e entorno (disponíveis para germinação, estoque no solo ou, ainda, migração para outras áreas); 2. Áreas que apresentam um maior grau de alteração/degradação e/ou estão longe de fragmentos de vegetação nativa possuem menor potencial de regeneração natural, exigindo maior interferência. A situação se torna ainda mais difícil no caso da presença de gramíneas exóticas invasoras, tais como as braquiárias (Urochloa spp.), o capim-colonião (Panicum maximum), o capim-elefante (Pennisetum purpureum) e o capim-gordura (Melinis minutiflora), que dificultam a regeneraçãode espécies nativas. Espécies nativas: são originárias do local em questão. Espécies exóticas: são aquelas cujo local de origem é outro que não o que está sendo analisado. Uma espécie pode ser exótica em um lugar e nativa em outro. Fragmentos da vegetação: áreas de vegetação natural interrompidas por barreiras antrópicas ou naturais, como estradas, áreas de plantio, rios largos, etc. Exóticasinvasoras:sãoespéciesexóticasquesereproduzemdemaneiramuitoagressivaemdeterminado local, ameaçando as espécies nativas.
  • 39. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 39 MÓDULO 2 2.1.3. Qualidade do solo O solo é o resultado da transformação e desgaste da camada de rocha da superfície da Terra devido à ação da chuva, ventos, temperatura e organismos vivos. Ele é composto por elementos sólidos, como minerais e matérias orgânicas, água, ar e numerosos organismos vivos,comofungos,insetos,bactériaseminhocas.Possuiumpapeldeextremaimportância para a vegetação, pois promove o suporte das raízes e a nutrição mineral das plantas. Examinando os solos em um perfil horizontal ou vertical, se observa que o solo possui camadas (horizontes). Os horizontes são formados por processos de degradação da rocha e o depósito de sedimentos de natureza diversa ao longo do tempo e apresentam diferentes características, como: cor, profundidade, textura e porosidade. São classificados como: • Horizonte O – camada mais superficial do solo com predominância de restos de plantas e animais; • Horizonte A – primeiro horizonte mineral, com grande acúmulo de matéria orgânica, sendo o horizonte mais afetado pela atividade agrícola; • Horizonte B – horizonte com maior concentração de argila e com pouca matéria orgânica, formado por partes bastantes desagregadas da rocha-mãe; • Horizonte C – horizonte pouco atingido pelo processo de degradação da rocha, contendo pedaços de rocha que ainda estão se transformando em solo; • Rocha – rocha-mãe não alterada.
  • 40. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 40 MÓDULO 2 O mesmo horizonte irá se diferenciar em cada tipo de solo em relação ao tamanho, cor, textura, composição química, sendo que alguns horizontes podem estar ausentes, principalmente, devido à idade de formação do solo ou algum processo erosivo. A qualidade do solo está diretamente ligada ao processo de formação desse e, principalmente, ao histórico de uso e a situação atual da área, principalmente ao modo de produção (agrícola, pecuária ou florestal). Uma boa qualidade do solo, para recomposição, deve considerar a dinâmica entre a estrutura física, os nutrientes e os organismos vivos que interagem com este. Os solos cobertos por vegetação e/ou matéria orgânica mantêm a ciclagem de nutrientes e o protegem da ação das chuvas, do sol e do pisoteio de animais. Em solos descobertos, ocorre o aumento dos processos erosivos, favorecendo a perda de solo e o aparecimento de sulcos de erosão e voçorocas, gerando prejuízo em sua estrutura e na disponibilidade de nutrientes. Com isso, é necessário um maior investimento inicial, como, por exemplo, introdução de plantas de cobertura e adubação do solo. Estrutura física do solo é como se distribuem os componentes sólidos, gasosos e líquidos do solo, e a textura deles.
  • 41. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 41 MÓDULO 2 2.1.4. Logística das áreas A origem das plântulas (mudas e sementes) a serem usadas na recomposição devem ser, prioritariamente, de procedência local ou o mais próximo possível da área a ser recomposta. Isso garante que as plantas estejam adaptadas as condições climáticas locais, dando maiores condições para o sucesso da recomposição. Importante A logística está relacionada ao acesso ao local da recomposição e de produção de mudas, é um conjunto de fatores decisivos no planejamento e escolhas das técnicas para recomposição, podendo influenciar nos custos das atividades. Deve ser considerado na área: • Relevo (plano ou inclinado) – indica a possibilidade de mecanização; • Acesso e condições das estradas – indica a facilidade de acesso e deslocamento para a área e dentro dela; e • Distância entre áreas de coleta de sementes, viveiros e locais de compra de insumos – determinaocustodetransportedosprodutos necessários para a recomposição.
  • 42. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 42 MÓDULO 2 2.2. Definição dos métodos de recomposição Como podemos decidir o método para a recomposição do nosso terreno? Existem diversos métodos de recomposição da vegetação que se diferenciam por grau e período de intervenção, custos e tempo para a vegetação se recuperar. TÉCNICO
  • 43. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 43 MÓDULO 2 Para a definição do método, é importante ter clareza sobre a finalidade da recomposição, sendo compatível com os recursos disponíveis. Entre as finalidades, podemos destacar: • Cumprir a exigência legal no processo de regularização do imóvel rural; • Agregar renda com a integração de espécies agrícolas e florestais; e • Conservação dos recursos naturais. Dentre as estratégias de recomposição, podemos destacar: Para áreas degradadas: • Transposição de solo florestal superficial ou “topsoil”; • Plantio direto de sementes em área total, com espécies de recobrimento e/ou diversidade; • Plantio de mudas em área total, com espécies de recobrimento e/ou diversidade; • Nucleação, com plantio de sementes, mudas e estruturas para atrair polinizadores e dispersores • Plantiodeenriquecimentocomtransposiçãodesoloflorestalsuperficialou“topsoil”, ou semeadura direta e/ou plantio de mudas; • Consórcio nativas e exóticas ex. Sistemas Agroflorestais – SAFs. A descrição de cada método será detalhada no próximo módulo.
  • 44. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 44 MÓDULO 2 2.3. Planejamento econômico O planejamento econômico é uma etapa fundamental, pois ele garante a sustentabilidade financeira do projeto. É necessário saber quanto de recursos se tem disponível para investimento e qual será a estimativa de custo do projeto. Paraisso,deve-selistartodasasatividadesprevistas,incluindoasatividadesdemanutenção e monitoramento do projeto e fazer uma estimativa de custos de cada atividade, conforme exemplo a seguir. Atividade Item Valor unitário (R$/unidade) Unidade Quantidade Valor Total (R$) Plantio de mudas Mudas 500,00 1000 mudas 3 (mil mudas) 1.500,00 Adubo 15,00 Saco (50 kg) 1 15,00 Combustível do trator 4,00 Litros 75 300,00 Mão de obra … … … … … … … … … … … … … … … Total Soma de todos os custos * Os valores demonstrados aqui são exemplos e não refletem a realidade. Exemplo
  • 45. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 45 MÓDULO 2 Vale lembrar que cada metodologia possui custos diferenciados que serão diretamente relacionados à estrutura regional onde se localiza o projeto, ao nível de degradação da área e aos recursos já disponíveis na propriedade rural. De formageral,omomentodaimplantação(preparodosoloeplantio)éomaiscaro. No entanto, é importante que se planeje recursos adicionais para a manutenção dos plantios (roçadas, capinas, prevenção ao ataque de formigas e replantio) e para o monitoramento. Atenção
  • 46. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 46 MÓDULO 2 2.4. Cronograma O cronograma é fundamental para organizar e planejar as atividades de implantação, manutenção e monitoramento, conforme exemplo ao lado. Vale lembrar: as atividades de manutenção e monitoramento devem ser planejadas por um período de pelo menos 3 anos após o plantio, para garantir o sucesso da recomposição. Atividade Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Aquisição das mudas Preparo do solo Controle de formiga Controle de gramíneas Transporte das mudas Plantio Manutenção Replantio Monitoramento
  • 47. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 47 MÓDULO 2 Encerramento do módulo 2 TÉCNICO Nestemódulo,falamossobreoplanejamentodarecomposição da vegetação e o diagnóstico das áreas a serem recompostas, além da localização e o mapeamento da paisagem, bem como sobre o Cadastro Ambiental Rural. Por fim, tratamos sobre a vegetação remanescente, a qualidade do solo e a logística das áreas e sobre a definição dos métodos de recomposição, planejamento econômico e sobre o cronograma. No próximo módulo iremos abordar os métodos de recomposição da vegetação nativa.
  • 48. MÓDULO 3 Métodos de recomposição da vegetação nativa
  • 49. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 49 MÓDULO 3 1. Introdução Como vimos no módulo anterior, a escolha do melhor método de recomposição vai influenciar diretamente no sucesso da recomposição e no custo associado a esta. Nesse módulo vamos detalhar os principais métodos de recomposição. CAROL TÉCNICO
  • 50. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 50 MÓDULO 3 2. Regeneração Natural A regeneração natural consiste em deixar a vegetação nativa se recuperar naturalmente (sem a interferência humana), sendo necessário eliminar ou minimizar fatores de degradação ambiental através do cercamento e a construção/manutenção de aceiros, reduzindo o pastoreio de animais e a ocorrência de fogo. Esse método é mais recomendado para áreas com solos pouco compactados, baixa presença de espécies invasoras e/ou próximas à remanescentes de vegetação nativa (alta densidade e diversidade de plantas nativas). A área deve ser monitorada periodicamente, acompanhando o desenvolvimento das espécies que germinaram, para auxiliar na tomada de decisão dos próximos passos. Caso seja observado o crescimento de bambus, cipós e/ou gramíneas exóticas será necessário o manejo da área com roçadas e capinas periódicas. Este método é o menos custoso dentre os métodos existentes, pois não existem custos com sementes, mudas, adubação e máquinas.
  • 51. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 51 MÓDULO 3 3. Transposição de solo florestal superficial ou “topsoil” Essa técnica consiste em transferir a camada superficial de solo (20 a 30 cm de profundidade) de uma formação natural para a área a ser recomposta. A camada de solo superficial de uma floresta junto com a serapilheira (folhas mortas que caem das árvores que estão iniciando o processo de decomposição) é um importante reservatório de sementes de espécies nativas, matéria orgânica, insetos, microrganismos e nutrientes, possuindo um enorme potencial para iniciar a regeneração. Ela é mais utilizada em grandes obras, como estradas, barragens e mineração. O solo das áreas a serem desmatadas ou alagadas por essas obras é previamente retirado e utilizado para a recomposição de espaços adjacentes, onde a vegetação foi retirada e o banco de sementes do solo é inexistente ou foi destruído. A camada de solo retirada pode ser distribuída na área a ser recomposta com o uso de trator de esteira ou com o uso de uma enxada, deixando uma camada fina de até 5 cm de altura para aumentar o rendimento de uso. O solo pode ser distribuído em área total ou em faixas. Sendoassim,aoretirarumacamadadesolocom30cmdeprofundidade em uma área de 1 hectare, será possível utilizá-lo em até 6 hectares de área a ser recomposta ao distribuí-lo em uma camada fina de 5 cm. Esta técnica deve ser realizada para curtas distâncias entre o local de retiradadosoloeaáreadegradada,poisdemandaousodemaquinários pesados para recolhimento e transporte do solo. Vale lembrar que a retirada do solo só deve acontecer em áreas que serão atingidas por uma grande obra, pois a retirada de solo florestal de áreas íntegras irá danificar a floresta local. O monitoramento dessa técnica é importante, pois é muito frequente a existência de espécies exóticas indesejadas no banco de sementes. Caso isso ocorra, deve ser realizado o controle dessas espécies por meio de capina e roçadas periódicas. O banco de sementes do solo são as sementes viáveis, de várias espécies, que se encontram na camada superior do solo aguardando boas condições para germinar.
  • 52. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 52 MÓDULO 3 4. Plantios de Adensamento Os plantios de adensamento são plantios de mudas e/ou sementes de espécies iniciais da sucessão (pioneiras) nos espaços não ocupados pela regeneração natural. Essa atividade é recomendada paraáreasquealternamboapresençaderegeneração natural com locais falhos, bordas ou clareiras. O plantio das mudas e/ou sementes pode ser feito obedecendo a espaçamentos e alinhamentos pré- definidos ou pode ser distribuído de forma isolada ou agregadas (“ilhas”) em locais favoráveis como locais úmidos, sob a copa de árvores, etc. Esse método ajuda a controlar a expansão de espécies invasoras e favorece o desenvolvi- mento das espécies secundárias ou clímax por meio do sombreamento. Neste método, podemos optar por uma ampla diversidade de espécies de acordo com a finalidade do plantio. Espécies pioneiras podem ser utilizadas para plantios conservacionistas e espécies frutíferas e madeireiras, para geração de renda. O custo desse método é relativamente baixo, pois o número de mudas e/ou sementes por área é pequeno, entretanto uma das desvantagens é a baixa mecanização, pois as mudas são dispostas em meio à vegetação nativa já existente.
  • 53. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 53 MÓDULO 3 5. Plantio mecanizado de sementes em área total Esse método utiliza maquinários agrícolas para o preparo do solo e plantio das sementes. Geralmente é utilizada uma mistura de sementes de espécies de árvores, arbustos e de adubação verde, que é conhecida como é conhecida como muvuca. Aconselha-se fazer duas ou mais muvucas com sementes de tamanhos e formas diferentes, separando sementes grandes de sementes pequenas e aladas, pois as grandes podem ser enterradas até 3-4 cm de profundidade no solo, enquanto as pequenas e aladas devem ficar próximas à superfície. As sementes pequenas são misturadas com terra ou areia para aumentar o volume a ser distribuído e evitar que uma grande quantidade de sementes caia em um mesmo local. Essa técnica é indicada para áreas extensas com histórico de uso por pastagem e lavoura. Em áreas ocupadas por pastagem, é necessário realizar a descompactação do solo e o controle das gramíneas antes da semeadura, que pode ser realizada com lançadeiras de capim,espalhadoresdecalcárioouàmão.Jáemáreasocupadasporlavourasmecanizadas, a semeadura pode ser realizada em linhas com plantadeiras através da técnica de plantio direto, dispensando as operações de preparo de solo. O Instituto Socioambiental (ISA) uti- liza a muvuca para a recomposição de APPs degradadas na bacia do rio Xingu, no estado do Mato Grosso. Guia da muvuca: https://us14.campaign-archive. com/?u=2e9f3527128e6ed6d086fc5b4&id=64400ed51b https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias- socioambientais/vamos-plantar-florestas Saiba mais
  • 54. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 54 MÓDULO 3 6. Plantio de mudas em área total É o plantio de mudas de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas realizado de forma aleatória ou em linhas, com espaçamentos entre mudas, podendo variar em função do relevo, das espécies escolhidas e do objetivo da recomposição. Essa técnica pode ser utilizada em regiões com antigo histórico de ocupação do solo pela agricultura e/ou pecuária, como também em áreas que apresentam baixa ou nenhuma capacidade de regeneração natural. Os plantios em linhas podem ser feitos combinando espécies de diferentes grupos sucessionais (pioneiras, intermediárias, secundárias e clímax), compondo unidades que resultam em uma gradual substituição de espécies no tempo, caracterizando o processo de sucessão. Para combinação das espécies, é recomendado o plantio de mudas de dois grupos distintos em linhas alternadas, conforme metodologia desenvolvida no Laboratório de Ecologia e Restauração florestal (LERF) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ). O primeiro grupo, denominado de recobrimento, é constituído por espécies que possuem rápido crescimento e boa cobertura de copa, proporcionando o rápido fechamento da área plantada. Essas espécies, em sua maioria, são classificadas como pioneiras e, em geral, possuem ciclos de vida curtos. Outra característica desejável para as espécies do grupo de preenchimento é que elas possuam florescimento e produção precoce de sementes. Com o rápido recobrimento da área, as espécies desse grupo criam um ambiente favorável ao desenvolvimento dos indivíduos do segundo grupo, denominado de diversidade, e desfavorecem o desenvolvimento de espécies competidoras como gramíneas e cipós. No grupo de diversidade incluem-se as espécies de crescimento lento e copas menores, mas com ciclos de vida longo. Estas são fundamentais para garantir a perpetuação da área plantada, já que é esse grupo que vai gradualmente substituir o grupo de preenchimento quando este entrar em declínio. Quando a recomposição for destinada apenas à recuperação ambiental e conservação, devemos utilizar o maior número de espécies de diversidade possível, buscando reproduzir as espécies originais do local. O plantio deve ser feito de maneira que as mudas da mesma espécie não sejam plantadas lado a lado ou muito próximas umas das outras, nem muito distantes a ponto de proporcionar o isolamento reprodutivo destas.
  • 55. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 55 MÓDULO 3 Se desejarmos obter algum rendimento econômico a partir da recomposição, podemos escolher um conjunto de espécies de interesse que serão plantadas em maior densidade. A EMBRAPA Amazônia Oriental já possui alguns modelos de plantios intercalados de paricá (Schizolobium amazonicum (Vell)), castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), andiroba (Carapa guianensis Aubl.) e taxi-branco (Sclerolobium paniculatum Vogel). O ideal é que o plantio seja executado com ciclos de colheita definidos de forma individual para cada espécie, a partir da velocidade de maturação comercial das mesmas. Dessa forma, teremos diversas colheitas ao longo do tempo, gerando rendimentos periódicos sem impactar excessivamente a estrutura do nosso plantio. Agrandevantagemaorealizaroplantiodemudasemáreatotaléapossibilidadedeescolha das espécies, pensando em colheitas futuras, e a previsibilidade em relação ao processo de recomposição. Por outo lado, é uma das técnicas mais caras, pois demanda o preparo do terreno, compra ou produção das mudas, implantação, adubação e as atividades de manutenção periódicas.
  • 56. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 56 MÓDULO 3 7. Plantios de enriquecimento Essa técnica se baseia no plantio de mudas ou sementes de espécies de estágios finais de sucessão em linhas abertas no interior da vegetação. Plantios de enriquecimento possuem os seguintes objetivos: • Aumento da diversidade em áreas com vegetação nativa alteradas ou degradadas que apresentam baixa diversidade de espécies; e/ou • Agregação de renda para o proprietário ou posseiro com a introdução de espécies comerciais,nativasouexóticas.Devemserobservadasascondiçõesparaaintrodução de espécies exóticas em áreas de RL e APP conforme disposto na Lei 12.651/2012. Também devem ser observadas e avaliadas as seguintes características locais para o planejamento do plantio: • Estado de degradação/alteração da vegetação; • Presença de espécies exóticas invasoras; • Composição florística; • Presença de plantas regenerantes. http://esalqlastrop.com.br/capa.asp?j=31#![1]/6/ O espaçamento de plantio é mais amplo, em comparação ao plantio em área total, devido à presença de vegetação, sendo que a definição do espaçamento poderá variar dependendo do objetivo do enriquecimento. A manutenção dessa técnica é reduzida, pois as mudas irão aproveitar a sombra, umidade e nutrientes proporcionados pelos indivíduos existentes. Apesar do plantio das mudas ser simples e o sistema exigir pouca manutenção, a alocação e abertura das linhas de plantio demanda uma maior mão de obra.
  • 57. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 57 MÓDULO 3 8. Sistemas Agroflorestais (SAFs) Os sistemas agroflorestais, segundo o Centro Internacional de Pesquisa Agroflorestal (ICRAF), são “sistemas baseados na dinâmica, na ecologia e na gestão dos recursos naturais que, por meio da integração de árvores na propriedade e na paisagem agrícola, diversificam e sustentam a produção, com maiores benefícios sociais, econômicos e ambientais para todos aqueles quem usam o solo em diversas escalas”. Como já demonstrado no módulo 1, a Lei 12.651/2012 permite a utilização de sistemas agroflorestais para a recomposição de APP e RL, desde que a área recomposta com espécies exóticas não exceda a 50% (cinquenta por cento). Lembrando que no caso de APP, a utilização de exóticas para recomposição só é permitida em imóveis de até 4 módulos fiscais. Os SAFs podem ser classificados como: Os sistemas simplificados (SAFs simples) utilizam poucas espécies comerciais, apresentam baixa intensidade de manejo e geralmente são plantados em faixas ou em linhas visando facilitar o processo produtivo e a geração de renda. Os sistemas complexos (SAFs sucessionais) baseiam na sucessão natural, com alta biodiversidade e alta intensidade de manejo visando criar abundância no sistema e otimização da produção agroflorestal, com dinâmica de manejo e produção escalonada ao longo do tempo. Apesar de a terminologia SAF ter se tornado popular recentemente, a técnica já é antiga e tradicionalmente utilizada no Brasil, em especial na região amazônica, na forma dos quintais agroflorestais. Situados próximo às residências, estes sistemas associam árvores com espécies agrícolas e/ou animais, medicinais e outras de uso doméstico. Normalmente são altamente produtivos e contribuem de maneira importante para a segurança alimentar e o bem-estar da família.
  • 58. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 58 MÓDULO 3 Entre os benefícios sociais e econômicos, destacamos (MICCOLIS et al., 2016): • promoção de soberania e segurança alimentar; • geração e diversificação de renda; • maior estabilidade financeira ao longo do ano; • diminuição no uso de insumos externos; • redução do risco econômico, pois é menos sensível às variações de preço e clima; • intensificação do uso do espaço; • aumento na eficiência do uso da água, luz, nutrientes; • melhor qualidade do trabalho e de vida (trabalho na sombra); • mão de obra melhor distribuída ao longo do ano; • menor suscetibilidade a pragas e doenças nos cultivos; • manutenção da agro-biodiversidade e dos conhecimentos associados; • potencialização da produção de mel de abelhas (exóticas e nativas). Entre os benefícios ambientais dos SAFs, podemos destacar (MICCOLIS et al., 2016): • restauração e conservação da fertilidade e estrutura do solo; • sombra e criação de microclimas; • favorece a biodiversidade de forma geral, incluindo agentes polinizadores; • regulação de águas da chuva e melhoria da qualidade da água; • mitigação e adaptação a mudanças climáticas. Apesar desses benefícios listados anteriormente, SAFs são métodos mais complexos que os tradicionais, pois exigem conhecimento específico e são extremamente exigentes em mão-de-obra devido à demanda de trabalho manual. Sendo assim, as principais causas de insucesso dos SAFs em escala local são (MICCOLIS et al., 2016). • falta de planejamento agroflorestal e econômico; • baixo acesso a conhecimento; • baixa disponibilidade de mão de obra; • baixo acesso a insumos; • fatores limitantes do meio físico.
  • 59. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 59 MÓDULO 3 9. Nucleação A nucleação é uma técnica de formação de ilhas, ou núcleos de vegetação ou elementos, com capacidade de melhorar o ambiente, atraindo animais que vêm se alimentar de seus frutos ou obter outros benefícios, como local de pouso e abrigo. A atração de animais acelera o processo de recomposição das áreas degradadas e/ou alteradas e diminuem os custos em relação as outras técnicas, pois a manutenção e o controle de pragas são reduzidos. Sãoobtidosporplantiosdeárvoresderápidocrescimentocomcopafavorávelparaopouso de aves e morcegos. Poleiros artificias podem ser construídos com varas de bambu, postes de eucalipto ou outro tipo de madeira, sendo recomendado o plantio de trepadeiras para colonizar o poleiro. Esses poleiros servem de locais estratégicos para pouso, reprodução ou esconderijo de aves e morcegos, aumentando a dispersão de sementes na área e a interação fauna-flora; Poleiros naturais ou artificias Para a nucleação são retiradas apenas pequenas porções da camada superficial de solo de uma formação natural para a área a ser recomposta. Transposição de solo de áreas próximas – técnica “topsoil” Consiste na coleta periódica de sementes no interior de matas vizinhas. Essas sementes podem ser usadas para a produção de mudas ou para semear diretamente na área a ser recuperada; Transposição de sementes de áreas próximas
  • 60. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 60 MÓDULO 3 Consiste em formar pilhas de galhos, tocos e galhos de rebrota de altura variada entre 30 e 50 cm que irão funcionar como atrativo e abrigo de animais; Enleiramento de galharia Consiste na plantação de mudas de espécies nativas que florescem e frutificam precocemente de forma adensada e simétrica. Cada ilha pode conter de 3 a 25 mudas de espécies arbóreas e arbustivas com distância máxima de 1 metro entre as mudas. Plantio de ilhas ou núcleos Essas técnicas devem ser usadas em conjunto de forma aleatória ou sistemática na área a ser recomposta, conforme exemplo.
  • 61. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 61 MÓDULO 3 Encerramento do módulo 3 Quantas técnicas e práticas importantes. Agora temos que colocar tudo em prática. No próximo módulo vamos ver a implantação, manutenção e monitoramento das áreas recompostas. Até lá! CAROL
  • 62. MÓDULO 4 Implantação, manutenção do plantio e monitoramento da recomposição
  • 63. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 63 MÓDULO 4 1. Introdução TÉCNICO Agora que você já conhece como é realizado o planejamento da recomposição e quais são os principais métodos utilizados, vamos entender melhor como realizamos a implantação, manutenção e monitoramento das áreas recompostas?! CAROL Após a implantação da recomposição, é necessário realizar a manutenção da área ou as atividades pós-plantio. Essa manutenção envolve atividades semelhantes às da implantação,comoocontroledeformigasedeplantascompetidoras,entretantorealizadas de forma mais pontual. A última etapa do projeto de recomposição é o monitoramento da área para verificar se as etapas e atividades resultaram na recomposição da vegetação. A etapa de implantação da recomposição envolve as atividades de pré-plantio e plantio como a preparaçãodosoloparaasemeadurae/ouplantiodemudas,ocontroledeformigascortadeiras e plantas competidoras, seleção das espécies, adubação, plantio e irrigação. Sabemos que a execução de cada uma dessas atividades vai estar relacionada com o grau de degradação/alteração da área e com o método de recomposição selecionado.
  • 64. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 64 MÓDULO 4 2. Preparo do solo O principal objetivo do preparo do solo é fornecer condições adequadas para o desenvolvimento e estabelecimento das sementes e mudas. Essas condições estão relacionadas ao aumento da aeração, capacidade de infiltração de água e disponibilidade de nutrientes no solo. Em solos que já apresentam condições adequadas, o sistema de cultivo mínimo, que consiste em um preparo mínimo do solo, é o mais recomendado, onde o preparo será realizado somente na linha ou cova do plantio e, quando possível, os resíduos de plantas competidoras deverão ser mantidos para controlar os processos erosivos. Sendo assim, o preparo consiste basicamente em reduzir a competição da vegetação espontânea e melhorar a condição das propriedades físicas do solo, o que permite uma expansão do sistema radicular das plantas.
  • 65. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 65 MÓDULO 4 A recuperação é recomendada para solos com histórico de uso intenso, com ausência das camadas mais superficiais (horizontes A e B) e/ou intenso processo erosivo. Essa atividade tem o objetivo de melhorar as qualidades físicas, químicas e biológicas e podem ser realizadas pelas seguintes ações, observando os custos para cada atividade: • Construção de terraços e bacias de acúmulo de água para reduzir os processos erosivos; • Descompactação do solo, ou seja, aumentar a porosidade/espaços vazios desse solo melhorando a qualidade física e facilitando o crescimento das raízes; • Avaliação da fertilidade do solo por meio da análise química do solo, que consiste em uma análise do solo feita em laboratório para medir a quantidade e a disponibilidade dos nutrientes minerais no solo, com o objetivo verificar a necessidade e a dosagem de adubação mineral e orgânica para melhorar o desenvolvimento das espécies. Após essas etapas, inicia a semeadura e o plantio de mudas. Entretanto, para solos muito degradados ainda é recomendado o uso de espécies de adubação verde, como: a mucuna (Mucuna pruriens), o nabo-forrageiro (Raphanus sativus) e a crotalária (Crotalária spp.). Vale lembrar: em áreas declivosas, a semeadura das espécies de adubo verde deve ser realizada em covas e em curvas de nível. Recuperação dos solos
  • 66. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 66 MÓDULO 4 3. Abertura de aceiros e instalação de cercas Ao redor da área a ser recomposta é necessária a construção e também manutenção dos aceiros, que são espaços sem vegetação ao redor de uma área, com o objetivo de proteger essa área contra incêndios. Em áreas maiores podem ser abertos aceiros internos até o crescimento da vegetação, após este período, os aceiros internos também deverão ser revegetados. A largura dos aceiros vai depender do porte da vegetação do entorno e podem ser abertos de duas formas: • Manual: são utilizadas enxadas para eliminar toda vegetação. A palhada seca remanescente deve ser retirada para diminuir os riscos de incêndio. • Mecanizada: é feita com uma lâmina acoplada a um trator agrícola, que deverá raspar a camada superior do solo, amontoando o solo e a vegetação para parte interna da área. O cercamento da área (sempre que possível com arame farpado) é recomendado quando existe a possibilidade da entrada de animais, principalmente bovinos e equinos. As formigas cortadeiras dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns) podem causar danos ao desenvolvimento das mudas, plantas jovens e regenerantes, sendo recomendadooseucontroleantesdeiniciaropreparodosoloeasoutrasetapasdoprojeto de recomposição, pois essas formigas são sensíveis e podem mudar o seu comportamento em decorrência de qualquer alteração na área. O primeiro passo é verificar se existem folhas sendo devoradas por formigas. Caso seja observado, o controle pode ser realizado de forma química, orgânica, mecânica, entre outros, por meio de iscas granuladas, formicidas, produtos naturais etc. Iscas granuladas: as iscas podem ser químicas (princípio ativo a Sulfluramida ou Fipronil) ou orgânicas (à base de rotenona ou extratos naturais) e podem ser espalhadas pela área na forma granulada ou porta-iscas de acordo com a recomendação do fabricante. Controle de formigas cortadeiras
  • 67. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 67 MÓDULO 4 Formicidas de contato: a aplicação é realizada dentro dos formigueiros ou sobre as mudas já plantadas da seguinte forma: • Gasosa (utilização de termonebulizador); • Pó seco (utilização de polvilhadeira); e • Líquida (diluição do inseticida). Estes formicidas possuem ação imediata, entretanto são mais tóxicos, exigindo maior cuidado no momento da aplicação e orientação de um técnico responsável. • Uso de produtos à base de mamona e de gergelim, que são prejudiciais ao fungo que a formiga utiliza para se alimentar; • Revolvimento dos ninhos com uso de enxadas; e • Injeção de grande volume de água, gás de cozinha ou gás de escapamento de trator nos olheiros. Obs: Caso sejam adotados tais métodos, o monitoramento deve ser mais constante, pois, em geral, essas técnicas são menos eficientes. O controle deve ser realizado em três momentos distintos: pré-plantio, plantio e repasses pós-plantio. Outras formas de controle:
  • 68. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 68 MÓDULO 4 Pré-plantio: É importante que a área seja vistoriada preventivamente antes de iniciar o plantio e de qualquer intervenção na área (controle do mato, preparo do solo, abertura de covas, etc.). Recomenda-se que a busca seja realizada logo pela manhã ou ao cair da tarde, com o objetivo de registrar o pico de atividade das formigas. Os indicadores da presença das formigas são plantas atacadas, “carreadores” e “olheiros”. Os carreadores são trilhas limpasde10a15cmdelargura,geradaspelasformigasaotransportaravegetaçãoatacada, já os olheiros são as entradas dos ninhos onde se observa montes de terra revirados. Controle de plantio: deve ser realizado 5 a 7 dias antes do plantio, com um repasse logo após a implantação das mudas, sendo realizado da mesma forma que na fase pré-plantio. Repasse pós-plantio: é indicado que seja realizado periodicamente até o segundo ano pós-plantio das mudas. Nos primeiros 2 meses, esse controle deve ser realizado a cada 15 dias e, após esse período, a cada 2 meses. Nessa fase, o controle deve ser realizado somente nas vizinhanças das mudas cortadas e próximo aos olheiros. Controle de plantas competidoras O controle de plantas competidoras deve ser realizado nas fases iniciais do projeto e du- rante a sua manutenção para aumentar a oferta de água, luz e nutrientes para o desenvol- vimento da regeneração natural e das sementes e mudas. A escolha do controle mais adequado para área dependerá: • Da forma de vegetação existente (árvores, ervas, palmeiras); • Grau de desenvolvimento das plantas (semente, plântula, juvenil ou adulto); e • Espécie de planta competidora.
  • 69. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 69 MÓDULO 4 Esse controle pode ser realizado de forma: • Mecânica: corte da vegetação através do uso de ferramentas ou máquinas; • Química: herbicidas; e • Manejo: procedimentos que geram condições desfavoráveis para o crescimento da vegetação (uso de cobertura morta, adubação verde ou sombreamento pelas copas das árvores). O controle mecânico é a técnica mais utilizada no início do projeto por meio da roçada e durante a manutenção pelo coroamento das mudas. A roçada consiste no corte de toda a vegetação que não seja de interesse no processo de recomposição, podendo ser: • Manual: utilização de foices; • Semimecanizada: utilização de uma roçadeira costal; e • Mecanizada: utilização de tratores. Essa atividade geralmente é realizada em áreas planas, livres de encharcamento, pedras e com baixo potencial de regeneração natural. O coroamento consiste na remoção ou controle da vegetação em um raio de, no mínimo, cinquenta centímetros ao redor da muda ou indivíduo regenerante. Esta operação pode ser feita de forma manual ou química. • Coroamento manual: realizado com enxada, removendo a vegetação ao redor da muda com o devido cuidado para não machucar ou atingir as raízes. • Coroamento químico: consiste na aplicação de herbicida, com a utilização de pulverizador costal, em um raio de cinquenta a cem centímetros ao redor da planta que se deseja conduzir. É recomendado para mudas com porte acima de cinquenta centímetros de altura, de forma a evitar o contato do herbicida com as folhas e caules jovens das mesmas. Recomenda-se o uso de bicos especiais nos aspersores ou protetores para as mudas, evitando que sejam atingidas pela deriva do produto. Atenção: As operações de roçada e coroamento (mecanizada, manual ou química) devem ser realizadas com muita atenção, de preferência por mão de obra capacitada. Equipamentos desregulados e mão de obra despreparada podem causar a supressão acidental das mudas e regenerantes. Após o controle mecânico, o uso de cobertura morta e/ou adubação verde pode favorecer a manutenção da área. Para o uso do controle químico, é recomendado verificar a possibilidade do uso desta técnica junto ao órgão ambiental estadual ou municipal e consultar um responsável técnico, pois sua utilização pode gerar danos ambientais.
  • 70. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 70 MÓDULO 4 Seleção de espécies É recomendado adotar alguns critérios para selecionar as espécies que serão introduzidas na área. São eles: • Espécies nativas com ocorrência regional; • Maior número possível de espécies para gerar alta diversidade; • Combinar espécies pioneiras, intermediárias, secundárias e clímax; e • Espécies atrativas à fauna. 1. As espécies nativas locais já estão adaptadas aos diferentes tipos de solos, condições climáticas, presença de polinizadores e dispersores de sementes predominantes na região. Além disso, esta condição aumenta a probabilidade de sucesso reprodutivo e de regeneração natural nos projetos de recomposição. 2. Áreas com alta diversidade apresentam maior: • Capacidade de recuperação de possíveis distúrbios (incêndios, pragas, doenças etc.); • Ciclagem de nutrientes; • Atratividade à fauna; e • proteção do solo de processos erosivos. 3. A combinação de espécies pioneiras, intermediária, secundárias e clímax favorece a sucessão ecológica. 4. Inserir espécies que são atrativas para a fauna aumenta o número de polinizadores e dispersores de sementes. Em relação à introdução de espécies exóticas, é necessário ter muito cuidado, pois estas podem se tornar invasoras, ocupando o espaço e impedindo o desenvolvimento das espécies nativas. No caso da restauração do Cerrado, com exceção do Cerradão e das Matas Ciliar e de Galeria, em todas as outras fitofisionomias não se aplica esta distinção, já que as plantas precisam de luz solar abundante
  • 71. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 71 MÓDULO 4 Características: • Crescimento rápido; • Tolerante ao sol e produz sombra densa; • Forte competidora com invasoras espontâneas; • Fácil saída do sistema de plantio (vida curta ou retirada); e • Atrativas para a fauna, potencial econômico. Espécies de Diversidade • Crescimento vagaroso; • Cresce na sombra e produz pouca sombra; • Fraca competidora com invasoras espontâneas; • Fácil remoção do sistema; e • Atrativas para a fauna, potencial econômico. Espécies de Recobrimento A adubação orgânica e mineral tem o objetivo de suprir as necessidades das espécies por nutrientes não disponíveis no solo. A quantidade recomendada de adubo vai depender de uma análise química do solo e do conhecimento sobre as exigências nutricionais das espécies selecionadas. Emrelaçãoàsespéciesnativas,aindanãoexisteminformaçõesprecisassobreasexigências nutricionais da maioria das espécies, sendo recomendada a adubação padrão nesses casos, em recomposição realizada em Áreas de Mata Atlântica, que é a mais estudada. Nos casos de Amazônia e Cerrado, onde as espécies nativas estão adaptadas a solos pobres e ácidos, é preciso pesar cuidadosamente a necessidade de adubação com uma análise de solo. As áreas a serem recompostas geralmente apresentam fertilidade baixa, ou seja, baixos valores de bases: cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K), sódio (Na) e de fósforo (P), e em alguns casos, podem ser considerados solos ácidos/distróficos (pH abaixo de 5) que apresentam elevado teor de Al3+ (alumínio). Tais condições podem ou não ser limitantes para a recomposição, de acordo com os Biomas, a fitofisionomia e as espécies a serem usadas. Aadubação,emgeral,érealizadanaocasiãodoplantio(adubaçãodebase)eperiodicamente durante os primeiros estágios de desenvolvimento das espécies (adubação de cobertura). Para solos considerados ácidos, é recomendado realizar a calagem antes de iniciar a adubação. Adubação
  • 72. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 72 MÓDULO 4 A aplicação de calcário tem o objetivo de: • Aumentar os teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg); • Controlar a acidez e neutralizar o alumínio (Al3+ ); • Melhorar o aproveitamento de nutrientes, como nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), enxofre (S) e molibdênio (Mo); e • Aumentar a atividade dos microrganismos e a liberação de nutrientes da matéria orgânica do solo. A calagem deverá ser realizada, preferencialmente, antes do plantio ou nos primeiros seis meses pós-plantio, de forma mecanizada em área total ou nas faixas de plantio. Nas áreas que não permitem mecanização, a aplicação de calcário poderá ser realizada diretamente no fundo ou ao redor da cova. No caso de áreas de Cerrado, esta prática tende a ser contraindicada, a depender de análise de solo, no máximo uma adição de calcário às covas, para disponibilizar nutrientes. Calagem A adubação mineral refere-se aos sais inorgânicos obtidos por extração ou processos industriais químicos e/ou físicos. Em geral, são utilizados fertilizantes à base de nitrogênio, fósforo e potássio. Na adubação de base, o fertilizante é misturado à terra da cova de plantio. Na adubação de cobertura, o fertilizante é depositado sobre o solo ao redor da muda. Para que a adubação não favoreça o crescimento de gramíneas e plantas invasoras, a aplicação do adubo deverá ser realizada após a capina e durante a estação das chuvas para sua melhor absorção. Adubação mineral Aadubaçãoorgânicarefere-seàutilizaçãoderesíduosorgânicosdeorigemanimal,vegetal, agroindustrial e outros. Em caso de adubos de origem animal, é recomendado misturá-lo levemente no solo para evitar que seja levado pela água da chuva. Da mesma forma como recomendado para os adubos minerais, a aplicação do orgânico deverá ser realizada após a capina. Adubação orgânica
  • 73. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 73 MÓDULO 4 A introdução das espécies na área pode ser realizada por meio do plantio de mudas e/ ou pela semeadura direta, de forma manual ou mecanizada. A escolha da melhor forma depende da acessibilidade da área, recursos financeiros e disponibilidade de mão de obra e/ou equipamentos. Veremos agora o plantio de mudas e semeadura direta. O plantio de muda é a ação de colocar a muda na cova ou sulco, já com o solo preparado, e posteriormente preencher os espaços vazios com solo. O plantio pode ser manual ou semimecanizado, variando de acordo com o recipiente em que a muda foi produzida. O plantio manual é mais utilizado para mudas produzidas em sacos plásticos, sendo recomendado o corte do fundo do saco para evitar que as raízes enovelem (acumulem no fundo do recipiente), como também a retirada do saco antes de finalizar o plantio. 1) Abra covas ou sulcos; 2) Coloque a muda sem enterrar o colo (ponto de transição entre caule e raiz; 3) Aperte levemente o solo ao redor da muda para retirar os bolsões de ar e deixar as mudas firmes; 4) Construa pequenas bacias ao redor da muda, isso vai ajudar a reter água e reduzir a perda da adubação de cobertura por lixiviação. Muda Plantio de Mudas
  • 74. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 74 MÓDULO 4 O plantio semimecanizado pode ser utilizado para mudas produzidas em tubetes, a partir de plantadeiras manuais (tubo de aço com uma ponta cônica, que se abre acionada por um gatilho). Plantadeira manual A semeadura direta ou o plantio de sementes consiste no lançamento das sementes na área ou nas linhas de plantio (covas ou sulcos) e cobertas por uma quantidade adequada de solo (essa quantidade vai depender do tamanho da semente). Essa técnica pode ser realizada de forma manual (áreas íngremes ou de difícil acesso), por máquinas agrícolas (áreas planas) e aviões (áreas planas). A muvuca de sementes (mistura de várias espécies de sementes nativas, areia e grãos) é muito utilizada nessa técnica, podendo ser realizada por semeadura a lanço de forma manualouapartirdousodemáquinasespalhadorasdeadubooucalcário.Parasemeadura em linha, recomenda-se o uso de plantadeira de grãos. Semeadura direta
  • 75. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 75 MÓDULO 4 Após a semeadura mecanizada, pode-se semear manualmente as sementes que não couberam na máquina ou que não podem ser enterradas. É recomendado que a introdução das espécies na área seja realizada no período chuvoso, reduzindo os custos. Caso não seja possível, é necessário realizar a irrigação desde o dia do plantio até que as mudas enraízem no solo. Após esse período, a frequência da irrigação vai depender de vários fatores, entre eles: • Uso de hidrogel durante o plantio; • Quantidade e distribuição das chuvas; • Capacidade de retenção de água no solo; • Espécies selecionadas. Irrigação
  • 76. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 76 MÓDULO 4 O replantio é a reposição das mudas que morreram, mas antes de substituir uma muda por outra é importante verificar: • A causa da morte (evitar que a muda reposta morra pelas mesmas causas); e • Se a muda a ser substituída realmente morreu (as mudas podem perder suas folhas por herbivoria ou em virtude da seca). A necessidade de reposição geralmente é verificada entre 60 e 90 dias após a introdução das espécies na área e é realizada quando a mortalidade for superior a 5% do total de cada espécie plantada. Nesse processo as mudas mortas devem ser substituídas pela mesma espécie ou pelo mesmo grupo (recobrimento ou diversidade), respeitando a metodologia de recomposição definida no projeto. O replantio deve continuar durante todo o período de manutenção do projeto. Replantio O monitoramento tem por objetivo acompanhar se as ações de implantação e manutenção estão efetivamente promovendo a recomposição da vegetação e verificar se o projeto está atingindo a sua finalidade (recomposição da APP e/ou RL; geração de trabalho e renda; entre outros). Essa atividade pode ser realizada uma única vez ou várias vezes, dependendo do programa estabelecido no projeto de recomposição. Para avaliar os pontos apresentados, são definidos os indicadores (itens com objetivo de medir alterações da área recomposta ao longo do tempo), cronograma de monitoramento e os métodos de amostragem, coleta e análise dos dados. O uso de indicadores permite analisar se as ações de recomposição irão possibilitar a reconstrução dos processos ecológicos mantenedores da dinâmica vegetal, de forma que áreas restauradas sejam sustentáveis no tempo sem mais interferência do homem, garantindo a sua perpetuação e funcionalidade para conservação da biodiversidade local. Além do sucesso das ações já implantadas, os indicadores também devem apontar a necessidade de novas ações visando corrigir e/ou garantir que os processos da sucessão ecológica local ocorram. Osindicadoresmaisutilizadosparaomonitoramentoestãorelacionadoscomacomposição e estrutura da vegetação, como também com o funcionamento dos processos ecológicos. Na Tabela 1 são apresentados alguns exemplos. Monitoramento da recomposição florestal
  • 77. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 77 MÓDULO 4 Tabela 1. Exemplos de indicadores ecológicos para monitoramento de áreas em processo de recomposição. Característica Indicadores Estrutura Altura do dossel Número de estratos verticais Presença de indivíduos emergentes Densidade total de indivíduos Cobertura (projeção de copas ou gramíneas so- bre o terreno) Composição Formas de vida (presença e proporção entre ár- vores, arbustos, ervas e trepadeiras) Grupo sucessional (primárias, secundárias e tar- dias) Grupo de plantio (recobrimento e diversidade) Riqueza de espécies nativas regionais Riqueza de espécies invasoras e não invasoras Funcionamento Taxas de recrutamento e mortalidade Taxa de fixação de carbono Restabelecimento da fauna Monitoramento da recomposição florestal
  • 78. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 78 MÓDULO 4 Para cada indicador são estabelecidos critérios e pontuações, conforme exemplo apresentado por Brancalion et al, (2015). Confira a tabela. Tabela 2. Critérios e pontuações estabelecidos para cada indicador (Brancalion et al., 2015) Grau de im- portância Indicador Critério Peso Alto - Riqueza de espécie; - Diversidade; - Cobertura de copa; - Cobertura de gramíneas; - Mortalidade das mudas plantadas; - Presença de espécies exóticas inva- sora; - Distribuição ordenada das mudas no campo por meio de grupos de plantio. Podem comprometer todo o plantio em curto prazo e são de difícil correção 3 Médio - Presença de espécies exóticas não invasoras; - Altura das mudas plantadas. Podem comprometer o plantio da áreas em médio prazo e podem sem corrigi- dos. 2 Baixo - Presença de espécies incluídas em algum nível de ameaça de extinção. Não comprometem o plan- tio, mas são indicadores positivos. 1 Monitoramento da recomposição florestal
  • 79. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 79 MÓDULO 4 Atividade Condição Opção técnica Rendimento operacional 1) Limpeza da área Controle inicial de espécie invasora Árvores invasoras Corte com machado Baixo Corte com motosserra Alto Manutenção dos resíduos no local -- Remoção dos resíduos Baixo Gramíneas de grande porte Foice Baixo Trator com pá carregadeira Alto Gramíneas de baixo porte Roçagem tratorizada Alto Roçagem com motorroçadei- ra costal Baixo Aplicação de herbicida com barra de pulverização Alto Aplicação de herbicida com pulverizadores costais Médio 2) Preparo do solo Recuperação do solo Solo degradado Remoção de impedimentos físicos e correção química Baixo Uso de adubação verde Baixo Controle de formi- gas-cortadeiras Sem necessidade de controle -- Iscas granuladas Médio Inseticida em pó ou líquido Médio Abertura da cova ou linha do plantio Manual (cavadeira e/ou enxa- dão) Baixo Motocoveadora Moderado Subsolador/sulcador Alto Monitoramento da recomposição florestal
  • 80. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 80 MÓDULO 4 Relevo não decli- voso Alto Relevo declivoso Baixo Terreno com pe- dregosidade Baixo Adubação Com calagem -- Sem calagem -- Adubação mineral Alto Adubação orgânica Baixo Adubação de base na cova do plantio Alto Adubação de base em covetas laterais Baixo 3) Plantio Densidade de plan- tio 2 m x 2 m (2.500 indivíduos/ ha) Baixo 3 m x 2 m (1.667 indivíduos/ ha) Médio 3 m x 3m (1.111 indivíduos/ ha) Alto Tipo de muda Sacos plásticos Baixo Tubetão (250 cm3 ) Médio Tubetinho (56 cm3 ) Alto Uso de hidrogel Sem necessidade de uso -- Integrado à plantadeira Alto Usado separadamente Baixo Forma de plantio Manual Baixo Com plantadeira Alto Com chucho Alto
  • 81. INTRODUÇÃO À RECOMPOSIÇÃO DA VEGETAÇÃO COM ÊNFASE NAS FLORESTAS TROPICAIS 81 MÓDULO 4 4) Manutenção Irrigação Regador Baixo Motobomba Alto Mangueiras acopladas a um tanque Alto Coroamento Enxada Baixo Pulverização direcionada de herbicida Alto Limpeza de entre- linhas Sem limpeza -- Limpeza com roçadeira costal Baixo Limpeza com aplicação dirigi- da de herbicida Alto Replantio Média-alta mortal- idade Baixo Baixa mortalidade Alto Adubação de cob- ertura Mineral Orgânico Apesar da importância do uso de indicadores e dos avanços nessa temática, ainda são necessárias mais pesquisas para estabelecer indicadores confiáveis e seguros com os respectivos valores de referência esperados nas diferentes etapas do projeto, em relação a cada situação ambiental e de acordo com a técnica de recomposição utilizada.