O documento fornece informações históricas sobre a Freguesia do Peso no concelho da Covilhã, incluindo: 1) A origem do nome Peso remonta a uma lenda sobre um almocreve; 2) Detalhes sobre a Igreja Matriz e outras capelas da aldeia; 3) Tradições religiosas como as Ladainhas durante a Quaresma.
2. Curiosidades da História sobre o Peso
Desde 1755
Pode ver também
Mapas do Século XV ou XVI
Quarta Dinastia - Bragança - 1750 - 1777 - D. José I "O Reformador" -
(6 Junho 1714 Lisboa-24 Fevereiro 1777 Lisboa) - Casou com D. Mariana Vitória
Quarta Dinastia - Bragança - 1750 - 1777 - D. José I "O Reformador" -
(6 Junho 1714 Lisboa-24 Fevereiro 1777 Lisboa)
- Casou com D. Mariana Vitória
Transcrição de documento antigo.
Dom José por graça de Deus Rei de Portugal, e dos Algarves d'aquem e d'além mar em Africa, senhor da
Guiné = faço saber a vós bacharel Manuel Afonso o., que achei por bem que façais medição, demarcação
e tombo dos bens e propriedades da Igreja do Peso e suas anexas
Medição do limite - Titulo de medição do limite deste lugar do Peso, e suas anexas partindo com lugares
do Dominguiso, Tortosendo, Paul, Barco e Telhado = Aos vinte e seis dias do mês de Setembro de mil
setecentos e cincoenta e sete anos a requerimento do procurador do reverendo prior de Santa Maria
Madalena o Dr. António Alves da Costa ( Padre ) se procedeu na medição de limite deste lugar de Peso
Ao primeiro interrogatório se responde, que
Que esta terra e lugar do Peso fica em a província da Beira, no Bispado e Comarca da Cidade da Guarda
he Freguesia Santa Maria Madalena, anexa à mesma de Vila de Covilhã
Santa Maria Madalena
Tem este lugar de Peso quarenta e três vizinhos: homens 64, mulheres 71, rapazes 29,raparigas 27; e
3. Mais alguns dados importantes sobre a História da Freguesia do Peso
Freguesia do Peso – Concelho da Covilhã
Lenda (Origem do Nome):
4. Nada se sabe de concreto quanto à origem do nome, existindo várias versões. Conta-se que um dia um almocreve
cruzou ali o rio Zêzere com um saco às costas. Na travessia perdeu (sem dar conta) parte da mercadoria que
transportava, chegando assim à outra margem mais aliviado, razão pela qual exclamou “Oh que Pesinho!”. Esta
exclamação como é lógico era contraria à que tivera no início da travessia “Oh que Peso, Arre!”, pois bem,
chegando esta história ao conhecimento do povo, logo este tratou de baptizar a margem de partida de Peso e a de
chegada de Pesinho, nome da aldeia situada na margem oposta ao Peso.
Outra das origens pode ser a palavra latina “penso” que teria evoluído linguisticamente para peso e que significa
refeição dada aos animais de transporte e por extensão ao próprio local onde era costume dar a refeição.
Igreja Matriz:
Não existe data sobre a construção da primeira igreja matriz, que se julga ter sido construída de nascente para
poente, restando ainda hoje, talvez dessa época, a “Capela do Santíssimo” de grande beleza e muito rica em talha
dourada.
A segunda parte foi acrescentada em 1792 de Noroeste para Sudoeste, tal como se encontra actualmente. Tem por
orago Sta. Maria Madalena, cuja imagem se encontra ao lado do Altar-Mor.
A sua inauguração foi no 2º Domingo de Agosto, dia da Senhora do Rosário, que era na altura a festa mais
importante da aldeia, até ser substituída pela festa da Nossa Senhora de La Salette. A imagem da Senhora do
Rosário em pedra, julga-se que data do ano 1500 encontrando-se na “Capela do Santíssimo”, ao lado direito. Há a
particularidade desta imagem ser idêntica à da Nossa Senhora da Boa Esperança de Belmonte, que segundo a lenda,
foi a imagem que Pedro Alvares Cabral levou ao Brasil.
Foi no ano de 1682 que a igreja paroquial recebeu as propriedades de Dª. Maria José Caldeira da Sertã, familiar
dos viscondes da Borralha, que a dedicou a Santa Maria Madalena, passando a paróquia do Peso a possuir um vasto
património, embora dependesse da de Santa Maria Madalena da Covilhã.
Em 24 de Julho de 1753, o então prior da paróquia do Peso, Padre António Alvarez da Costa, pediu à Torre do
Tombo que lhe fossem fornecidos os registos dos bens da igreja (Passal), existindo um documento da época –
“Tombo do Peso” – que foi assinado por vários ministros de então, entre eles Sebastião e Melo (Marquês de
Pombal).
Capela do Espírito Santo:
Julga-se ser a capela do Espírito Santo, a mais antiga da aldeia, não se sabendo exactamente o ano da sua
construção. Actualmente ainda conserva a sua traça original, sendo também, a imagem do “Divino Espírito Santo” a
imagem primitiva, construída em pedra.
5. Festa do Espírito Santo:
Esta devoção, julga-se que teve início no século XII e ainda hoje se festeja no sétimo domingo
depois da Páscoa.
Existia um documento antigo (hoje desaparecido), datado de 1600 que falava sobre a “Folia do Espírito
Santo”, tradição que se manteve até ao ano de 1930. Este costume consistia no seguinte: havia uma confraria
também chamada “Folia”, composta pelos seguintes elementos: o Rei –que era o chefe e usava uma opa e um pau, e
dois Pajens – um levava uma pombinha e o outro uma bandeira.
Durante os sete domingos depois da Páscoa até à festa do Espírito Santo, iam pelas casas e davam a beijar a
pombinha (havia tanta devoção pelo Espírito Santo que algumas pessoas beijavam os próprios pendentes da
bandeira), angariando, assim, fundos para a festa. Juntamente com os elementos da “Folia”, iam também os
mordomos: um tocava tambor, outro guitarra, e ainda outro pandeireta, cantando ao mesmo tempo uns versos
próprios do Espírito Santo.
CAPELA DE N.ª SRA. DE LA SALETTE:
A Capela de N.ª Sra. De La Salette ergue-se numa colina sobranceira ao rio Zêzere, denominada Cabeço da Seara.
Em 14-08-1864, Vicente Silvestre e sua mulher Anna Joaquina oferecem o terreno para edificação da
Capela, que viria a ficar concluída em 1897.
Esta Capela foi substituída pela actual em 1963.
À volta da Capela existe um vasto recinto, onde se encontra uma outra pequena Capela em honra de
S. Sebastião. Esta capelinha teria sido construída inicialmente por volta do ano de 1927, tendo sido
reconstruída em 1965.
FESTA DE N.ª SR.ª DE LA SALETTE:
Actualmente esta é a festa religiosa mais importante do Peso. Realiza-se anualmente no segundo domingo de
Setembro.
6. No Peso, remonta ao ano de 1864 o início do culto a Nª. Sra.ª de La Salette introduzido pelo Presbítero
Vicente Duarte Pires, que em 28 –04- 1864 ofereceu também, a imagem da Srª. De La Salette.
A festa tem início no sábado à noite com Missa e procissão de velas desde a Capela de N.ª Sra. De La Salette
até à Igreja Matriz. No Domingo, por volta do meio dia realiza-se nova procissão em sentido inverso, percorrendo
a imagem da Sra. de La Salette as ruas da aldeia. Na segunda-feira continuam as solenidades.
A par das solenidades religiosas realizam-se também, durante estes três dias, arraiais populares com
variedades musicais e fogos de artifício, o que atrai muitos forasteiros.
Quaresma:
Nesta aldeia, existem grandes tradições religiosas por altura da Quaresma: Ladainhas, Encomendar das
Almas e Procissão do Encontro.
As Ladainhas: julga-se que são cantadas há cerca de 200 anos, sendo transmitidas de geração
em geração. Actualmente cantam-se nos domingos da Quaresma ao pôr do sol. A explicação que nos foi
dada para sua existência foi a de ser uma Via Sacra mais curta. Esta cerimónia é feita pelas ruas da
povoação, havendo paragens em sete lugares próprios para aí serem cantados os chamados “Passos”.
Apenas participa o povo, sem a presença do Pároco.
A Encomendação das Almas: pensa-se que a sua origem está no facto de a Quaresma ser tempo
de oração e penitência, daí rezar-se também nesta época pelas almas dos que já faleceram.
Actualmente, cantam-se à meia noite de todos os sábados da Quaresma até à Quinta-Feira Santa, em
determinados locais da aldeia. Também é feita pelos leigos sem a presença do Pároco.
As solenidades da Quaresma culminam com a Procissão do Encontro e o Sermão do Calvário na
Quinta –Feira Santa. Depois da Missa de Quinta-Feira Santa saem da Igreja Matriz duas procissões, uma
com a imagem de Nossa Senhora vestida de preto seguida pela imagem de S. João, e outra, com a
imagem do Senhor dos Passos. Cada procissão segue caminhos diferentes, encontrando-se num largo da
aldeia, onde aí é feito pelo Pároco, o Sermão do Calvário. Terminado o sermão, segue uma única
procissão até à capela do Senhor dos Passos onde fica a sua imagem, voltando a procissão para a igreja
com as imagens de Nossa Senhora e S. João.
No Domingo de Páscoa, realiza-se a Procissão da Páscoa (ou da Aleluia) com os sinos a tocarem,
seguindo-se a Missa. Há algum tempo atrás, seguia-se a Visita Pascal, indo o Pároco de casa em casa,
dar a imagem de Cristo crucificado a beijar às pessoas. Actualmente já não se realiza esta cerimónia.
FESTAS PROFANAS:
Anualmente, a dois de Dezembro, realiza-se uma festa profana, a festa de Sta. Bebiana, padroeira dos bêbados.
Alguns dos participantes vestem-se de “Bispo”, e “padre”. Faz-se uma “procissão” com uma imagem fictícia da
Santa Bebiana e com alguns archotes improvisados com pinhas, que percorre alguma ruas da aldeia. No largo
principal da aldeia “o bispo” faz um “sermão”, e a “benção” dos bêbados. Como não podia deixar de ser bebe-se
neste dia bastante vinho, mas também há animação musical com bombos e outro tipo de música.
Segundo consta, dantes, neste dia ridicularizavam-se as mulheres bêbadas da aldeia, que na véspera eram
convidadas às suas portas, falando-lhes através de um funil, para virem levar a imagem da “santa” na “procissão”.
Algumas aceitavam, mas outras tratavam mal quem as ia ridicularizar.
7. Outros Festejos:
Domingo de Carnaval - Domingo Gordo – Arrematação dos Ramos:
“Os Ramos” são troncos de árvore cortados, onde são colocados nos respectivos ramos, pão, enchidos, carne,
azeite, etc.. São postos no adro da Igreja, e as pessoas interessadas vão leiloando, sendo arrematado por aquele que
oferecer um valor maior.
S. João – 24 de Junho:
Pelo S. João continuam a fazer-se fogueiras de rosmaninho em alguns locais da aldeia, acompanhadas de música e
bailarico.
Os rapazes aproveitam esta noite para tirar os vasos de flores das casas das pessoas, e levá-los para o largo
principal, onde no dia seguinte os respectivos donos terão de os ir buscar.
“Bota Aqui” – 1 de Novembro:
Existe ainda a tradição, de neste dia as crianças andarem pelas casas com um saco e pedirem o “Bota Aqui”, que
significa deita aqui. Esta tradição vem do tempo em que as pessoas tinham mais dificuldades e aproveitavam este
dia, “Dia de Todos os Santos”, para irem às casas mais ricas pedir alimentos (feijão, azeite, etc.), rezando depois
pela alma dos seus familiares falecidos. Actualmente as pessoas dão às crianças nozes, fruta, castanhas e rebuçados.
ASSOCIAÇÃO DE JUVENTUDE DO PESO (AJP):
A Associação de Juventude do Peso (AJP), é uma colectividade fundada em 16-10-1975, que tem por
objectivos o desenvolvimento desportivo, cultural, recreativo, social e cívico da população. Conta com
cerca de 600 associados.
A AJP está equipada, a nível estrutural com uma sede própria (com bar e salão de jogos, e um salão
multiusos), um pavilhão polidesportivo coberto, e ainda, um campo de futebol.
Anualmente organiza durante o período do seu aniversário, uma Semana Cultural, com diversas
actividades como teatro, variedades musicais, etc.
Organiza também anualmente, durante os meses de Junho, Julho e Agosto um torneio de futsal , onde
participam diversas equipas da região.
Os festejos do Carnaval, com baile de máscaras e uma festa de Natal e de Fim de Ano, são também
tradições desta colectividade.
8. CENTRO DE DIA DA TERCEIRA IDADE:
O Centro de Dia existe desde 2 de Dezembro de 1989, funcionando em instalações provisórias. No dia 25 de Abril
de 1996, foi inaugurado o edifício próprio, construído de raiz, contando com todas as comodidades para as pessoas
mais idosas.
O centro de Dia presta diversos serviços, como fornecimento de refeições, e ainda serviço domiciliário, às pessoas
que não podem deslocar-se até às suas instalações.
AGRICULTURA:
Parte da população do Peso, especialmente a mais idosa, ainda se dedica à agricultura, tratando-se apenas de uma
agricultura de subsistência. Os Lodeiros, terrenos junto ao rio são os mais férteis. O milho, batata, legumes e vinha
são as culturas mais frequentes.
Existem ainda, consideráveis extensões de olivais. As pessoas continuam a produzir o seu próprio vinho, e a
mandar para os lagares a azeitona, para produção do seu próprio azeite.
Indústria:
No Peso estão instaladas algumas pequenas unidades industriais, onde trabalham a maioria dos habitantes da
aldeia. Destacamos as industrias de confecção de vestuário, indústria de aproveitamento de desperdícios têxteis
(vulgarmente conhecidas por esfarrapeiras de trapos), indústria de artigos em plástico, indústria de caixilharia de
aluminios, serralharias civis.
ARTESANATO:
Longe vão os tempos em que o Peso dependia exclusivamente da agricultura. Cedo começou a
aparecer nesta aldeia uma indústria têxtil, que embora artesanal, foi a grande impulsionadora, para
que o Peso se tornasse naquilo que podemos considerar “uma aldeia industrial”.
Ainda hoje, no Peso se encontram vestígios dessa indústria artesanal – teares manuais de madeira. Um deles tem
cerca de 200 anos e o seu proprietário já trabalha nele há mais de 50 anos. Tece mantas, passadeiras, tapetes em
algodão, lã e principalmente com tiras de tecido – orelos.
Chegaram a existir cerca de cem destes teares, no Peso. Algumas famílias juntavam vários teares na mesma casa
(quinze ou mais), chamando-se a esses locais casões.
Estes artesãos trabalhavam para fábricas do Tortosendo e da Covilhã, para onde tinham de transportar o produto do
seu trabalho. Estas fábricas ao modernizarem-se substituíram os teares manuais pelos mecânicos, comprando os
alvarás dos teares manuais a algumas pessoas do Peso pois, por cada dois alvarás tinham direito a um tear mecânico.
Assim, pouco a pouco esta indústria artesanal foi desaparecendo.
9. Remédios Caseiros:
1. Xarope de cobra (para cura da tosse)
Ingredientes:
10 a 12 cm de pele de cobra
5 pinhas
1 mão cheia de cascas de cebola
1 folha de eucalipto (sem bico)
12 litro de água
Coze-se tudo muito bem, deixando ferver um pouco. Coa-se este preparado e acrescenta-se meio quilo de açúcar
amarelo. Vai novamente ao lume até ficar em ponto.
2. Remédio para eczemas (e outras doenças de pele)
Ingredientes:
palha de alho
pólvora preta
vinagre de vinho
Queima-se a palha de alho. Esta cinza junta-se à pólvora e ao vinagre, mexendo até fazer uma pomada (polpa).
Aplica-se na zona infectada e coloca-se uma compressa a tapar. Passados dois a três dias o eczema está curado.
FONTANÁRIOS:
Existem no Peso alguns fontanários, que pela sua antiguidade merecem o nosso destaque.
FONTE DA CANADA – Esta fonte fica junto ao ribeiro com o mesmo nome, outras vezes também designado de
Ribeiro da Cerdeira. É uma fonte de mergulho, remontando provavelmente à Idade Média. A origem do nome tem a
ver possivelmente com uma medida chamada Canada, que era vulgarmente utilizada pelos antigos habitantes da
aldeia.
10. CHAFARIZITO – É também uma fonte de mergulho, que se julga existir desde a Idade Média. Esta fonte esteve
subterrada durante alguns anos por uma estrada, mas actualmente foi sujeita a obras de restauro, tornando-se um dos
locais emblemáticos do Peso, e que merecem uma visita.
CHAFARIZ DAS DUAS BICAS – É a fonte mais importante da aldeia, por ser muito utilizada quando os
habitantes não possuíam água canalizada em suas casas. Localiza-se no largo principal, e foi construída em 192. Tal
como o nome indica caracteriza-se por ter duas bicas de água.
GASTRONOMIA:
“OS BORROLHÕES”, serão talvez o prato mais típico não só do Peso, como também da zona. Para confeccionar
esta iguaria muito apreciada pelos Beirões é necessária a “tripa” da cabra que aqui é denominada de “debulho” , que
é enchida com arroz, chouriço, presunto, ervas aromáticas especialmente “sarpão”, cebola e carnes ao gosto de cada
um. Depois de enchida é cosida com linha e agulha e vai a cozinhar em água.
Salientamos ainda a “chanfana”, carne de cabra, também vulgarmente denominada pelas pessoas mais idosas,
como “carne fresca”, que tanto pode ser guisada, como assada no forno.
Outro acompanhamento típico do Peso é o esparregado de nabiças, que vulgarmente é denominado de “ervas”.
Quanto aos doces podemos dividi-los em doces de colher e bolos.
Relativamente aos doces de colher, salientamos o arroz doce, tigelada, farófias e papas de carolo.
A variedade dos bolos existente passa pelo pão de ló, bolo de colher, filhós, esquecidos, cavacas, bolo
escuro(canela), bolos cortados, fatias douradas.
Algumas famílias continuam a praticar a matança do porco, confeccionando variados e saborosos enchidos tais
como: mouros, morcelas de arroz, morcela de sangue, chouriça de carne, farinheiras. Existe também o costume, de
salgar parte da carne do porco, que depois é comida mais tarde e tal como o nome indica é conservada em sal dentro
de arcas de madeira.