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HAZRAT INAYAT KHAN
A MENSAGEM
SUFI-IV
O Caminho da Iluminação
A Linguagem Cósmica
UNIVERSALISMO
Sumário
O Mensageiro
Que é um Sufi?
O Emblema Sufi?
O Objetivo do Movimento Sufi
A Tradição do Sufismo
Mensagem Sufi
O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO
PRIMEIRA PARTE – PENSAMENTOS SUFIS
I – Existe um Deus, o Eterno, o Único Ser, ninguém existe senão Ele
II – Existe um Mestre, o Espírito-Guia de todas as almas, que constantemente
conduz os que o seguem para a luz
III – Existe um livro santo, o sagrado manuscrito da natureza, a única escritura
que pode iluminar o leitor
IV – Existe uma religião, o inabalável progresso na direção retilínea para o ideal,
que preenche o objetivo da existência de toda alma
V – Existe uma lei da reciprocidade, que pode ser observada por uma
consciência isenta de egoísmo aliada a um senso de vigilante justiça
VI – Existe uma fraternidade, a fraternidade humana, que une os filhos da terra
indiscriminadamente na paternidade de Deus
VII – Existe uma moral, o amor que brota da autonegação e floresce em obras
de beneficência
VIII – Existe um objeto de louvor, a beleza, que eleva o coração de seus
adoradores através de todos os aspectos, do visível ao invisível
IX – Existe uma verdade, o verdadeiro conhecimento do nosso ser interior e
exterior, que é a essência de toda sabedoria
X – Existe um caminho, o aniquilamento do falso ego no ego real. Esse caminho
leva o mortal à imortalidade, onde existe a perfeição
SEGUNDA PARTE – ALGUNS ASPECTOS DO SUFISMO
O objetivo da vida
A vida terrena
Vocação
Nur-Zahur
Os Mestres
O espírito da profecia
Alguns termos esotéricos
Suma, a música dos Sufis
TERCEIRA PARTE – OS SUFIS
I
II
III
IV
A LINGUAGEM CÓSMICA
Capítulo I – Das Vozes
Capítulo II – Das Vozes (continuação)
Capítulo III – Impressões
Capítulo IV – Magnetismo dos seres e objetos
Capítulo V – A influência das obras de arte
Capítulo VI – A vida do pensamento
Capítulo VII – Pensamento e imaginação
Capítulo VIII – A Memória
Capítulo IX – A Vontade
Capítulo X – A Razão
Capítulo XI – O Ego
Capítulo XII – Mente e coração
Capítulo XIII – Intuição
Capítulo XIV – Inspiração
O Mensageiro
Pir-O-Murshid Inayat Khan, o iniciador do Movimento Sufi, e fundador da
respectiva Ordem, nasceu em Baroda, Índia do Sul, a 5 de julho de 1882. Suas
qualidades excepcionais, talentos artísticos e atitudes espirituais eram evidentes
desde os primeiros anos de sua mocidade. Seus poemas são inspirados e tocam
ao sublime. Músico, tornou-se famoso em toda a Índia, tanto como compositor
quanto como cantor, e foi honrado pelos potentados com títulos, jóias e dinheiro.
Estudou música, poesia, filosofia, religião comparada e misticismo com os
maiores mestres da sua terra, e então, sentindo comandá-lo, no seu íntimo, a
força impulsiva do Divino, correspondeu à exortação do seu Senhor, “Na verdade
tu és abençoado por Allah, o mais Misericordioso e Compassivo Deus; segue
meu Filho, junta o Oriente com o Ocidente, dá ao mundo a Divina Mensagem de
Amor, Harmonia e Beleza”.
Pir-O-Murshid Inayat Khan, alma verdadeiramente iluminada e mística, deixou a
sua terra natal em 1910, e viajou pela Europa e Estados Unidos da América,
recebendo constantemente a Divina Inspiração e Revelação, que ele
interpretava em linguagem humana e ofertava ao mundo. Os seus ensinamentos
incorporam a riqueza do saber que tem sido entesourado no Oriente durante
séculos, satisfazem a fome espiritual de toda alma e formam um treino seguro e
sistemático a respeito do desenvolvimento da consciência no rumo dessa
compreensão da Presença de Deus, que é a meta da humanidade.
Pir-O-Murshid Inayat Khan fundou e organizou o Movimento Sufi e deu-lhe
completa intuição em todos os seus cinco ramos de atividade. Depois,
conhecendo que a sua Missão tinha sido cumprida, obedeceu ao Chamado de
Retorno e voltou para a Índia, no fim de 1926.
Depois de fazer uma série de conferências na Universidade de Delhi, capital da
Índia Inglesa, e de ser reconhecido pelo Chefe dos Sufis na Índia, Shaikh Nizami
como seu Mestre, de todos os Sufis, conheceu que a tarefa da sua vida estava
completa. Mais tarde, como predissera, passou alguns dias no estado de êxtase,
conhecido como Samadhi e finalmente deixou o seu corpo físico a 5 de fevereiro
de 1927. Seus restos mortais jazem numa tumba entre dois Santos Sufis, em
Delhi.
Que é um Sufi?
Que é um Sufi? – É aquele que não se separa dos outros pela opinião ou dogma
e que compreende que o coração é o Sacrário de Deus.
Que deseja ele? – Remover o falso eu e descobrir dentro dele Deus.
Que ensina ele? – Felicidade.
Que procura ele? – Iluminação.
Que enxerga ele? – Harmonia.
Que outorga ele? – Amor a todas as coisas criadas.
Que obtém ele? – Uma força maior do amor.
Que perde ele? – O egoísmo.
Que acha ele? – Deus.
O Emblema Sufi
O Emblema do Movimento Sufi – um coração alado – simboliza os seus ideais.
O coração é tomado em ambos os sentidos, o celeste e o terreno. Como o centro
do ser de uma pessoa, é um receptáculo na terra, do Espírito Divino, e se eleva
ao Reino do Céu quando corresponde ao Espírito de Deus, que eternamente
procura guiar a humanidade. A elevação do coração é indicada pelas asas
abertas, e estas representam, respectivamente, desprendimento e
independência; desprendimento dos gozos mundanos e da arbitrária opinião, e
independência na consciência do Amor, da Sabedoria e do Poder de Deus.
O Crescente no coração simboliza correspondência; é o coração
correspondendo ao Espírito de Deus, que se levanta. O Crescente é o símbolo
da correspondência, porque vai ficando mais cheio, correspondendo mais e mais
ao sol. A luz, que se vê na lua crescente, é a luz do sol, e, aumentando
correspondentemente, se torna ela cheia da luz do sol. Semelhantemente, a
alma nobilitada sempre se torna uma expressão mais plena das qualidades
divinas.
A Estrela no centro do Coração representa a centelha Divina, que se reflete no
coração humano com amor, e, pela virtude do sopro Divino, pode ser soprada
até que se levante uma chama para iluminar o caminho da vida de uma pessoa.
O Objetivo do Movimento Sufi
O objetivo do Movimento Sufi é trabalhar em prol da unidade. Seu objetivo
principal é atrair a humanidade, hoje dividida em tantos setores diferentes, para
que os homens se aproximem cada vez mais e compreendam mais
profundamente a vida. É uma preparação para um serviço de âmbito mundial,
usando três caminhos principais: um dos caminhos é a compreensão filosófica
da vida, outro é estabelecer uma fraternidade entre raças, nações e crenças, e
o terceiro caminho é satisfazer a mais premente necessidade do mundo, a
religião para os dias atuais. Sua finalidade é dar à humanidade aquela religião
natural, que sempre foi a religião dela: respeitar todas as crenças, todas as
escrituras e todos os mestres. A Mensagem Sufi é um eco da eterna mensagem
divina, que sempre foi transmitida e sempre será dada ao mundo para iluminar
a humanidade. Não é uma nova religião, é a mesma mensagem dada à
humanidade. É a continuação da mesma religião antiga, que sempre existiu e
sempre existirá, uma religião que pertence a todos os mestres e a todas as
escrituras. É a continuação de todas as grandes religiões que existiram no
mundo em épocas diferentes e é uma unificação de todas elas, o que constitui e
constituiu sempre o desejo de todos os profetas.
O Movimento Sufi é composto de pessoas que possuem o mesmo ideal de servir
a Deus e à humanidade, ideal esse que impele os Sufis a devotar uma parte, ou
a vida inteira, ao serviço da humanidade, levando-a ao caminho da Verdade. O
Movimento Sufi é formado de grupos, cujos membros pertencem a todas as
religiões e, portanto, professam religiões diferentes. Todos são benvindos ao
Movimento Sufi, quer sejam Cristãos, Budistas, Parsis, Muçulmanos, etc. Não se
indaga sobre a fé ou crença de ninguém. Cada um pode continuar a frequentar
a sua igreja, a ter sua religião ou credo. Não se obriga ninguém a acreditar em
um credo ou dogma em particular. Há liberdade de pensamento. É dada uma
orientação pessoal para trilhar o caminho, quer sobre os problemas da vida
exterior, quer sobre os problemas da vida interior.
Os que fazem parte da escola esotérica do Movimento Sufi recebem, além da
orientação pessoal, ensinamentos que são transmitidos somente àqueles que
estão preparados para recebê-los. Há sutilezas de idéias, de idéias espirituais,
morais ou filosóficas, que não podem ser transmitidas imediatamente a qualquer
pessoa, mas que são transmitidas gradativamente àqueles que se mostram
suficientemente compenetrados para enveredar no caminho da Verdade.
Entretanto, todos aqueles que desejarem pesquisar a Verdade devem se lembrar
de uma coisa: o primeiro passo no caminho da Verdade é ser verdadeiro para
consigo mesmo.
O culto do Movimento Sufi é chamado “Adoração Universal”, porque nesse culto
são reverenciados todos os cultos: do Cristão, do Muçulmano, do Hebreu, do
Zoroastriano, do Budista, do Hindu. Assim, pois, quem quer a bênção de Jesus
Cristo receberá essa bênção do altar, os que procuram a bênção de Moisés
receberão a sua bênção, os que desejam a bênção de Buda também a recebem
de Buda, e assim sucessivamente, mas aqueles que procuram a bênção de
todos os grandes Profetas que vieram ao mundo em épocas diferentes, esses
recebem uma bênção global, a bênção de todos os Profetas.
O Movimento Sufi não interfere no ideal de ninguém nem na devoção que cada
um tem ao seu Mestre. Seria isso um absurdo tão grande como se pensássemos
que uma criança pode amar mais a mãe de uma outra criança do que a sua
própria mãe. Tem alguém o direito de comparar e colocar em determinado lugar
os grandes Mestres ou as Escrituras? Ninguém. Onde podemos colocar o nosso
ideal é na devoção de nosso coração ao ideal que adoramos e isso é assunto
que só a nós diz respeito. Ninguém pode interferir.
Certa vez algumas meninas brincavam e diziam: “Minha mãe é a melhor das
mães”, ao que outras retrucavam: “Não, a minha mãe é a melhor”. Todas
apresentavam argumentos, mas uma delas, que tinha mais sabedoria do que as
outras, disse: “Não é nada disso, o que é adorável é a mãe, seja ela a sua mãe
ou a minha mãe”.
Interfere o Movimento Sufi na devoção das pessoas aos seus Mestres? Nunca,
mas convida as almas a ver que a fonte e a meta de todas as sabedorias é uma
só, e que todas as bênçãos que as almas almejam vêm da mesma fonte, pois a
verdade é que existe uma só e única fonte.
Na “Adoração Universal” os Sufis colocam no altar as Escrituras de todas as
religiões enumeradas acima e colocam também velas representando essas
religiões. As diversas velas acesas significam nossa adesão aos diferentes
Mestres, religiões e escrituras, que ensinaram que existe somente uma luz,
embora existam muitas lâmpadas. Não são as lâmpadas que devem entrar
primeiramente na mente e sim a luz. É essa luz que deve ser levada em primeiro
lugar ao coração.
Jesus Cristo trouxe ao mundo o ensinamento da religião da unidade. Os
ensinamentos de Moisés e os esforços de Maomé tiveram o mesmo objetivo.
Tudo que Buda ensinou, o que Krishna pregou, pode ser resumido no seguinte:
existe uma só luz, que é a luz divina, e a direção apontada por essa luz é o
caminho que deve ser trilhado pela humanidade.
Embora o ideal Sufi seja expresso de muitas maneiras, os Sufis adoram também
o ideal do sem forma. A forma serve para ajudar os que precisam ver a forma,
pois nossa educação é baseada realmente em nomes e formas. Se não
existissem nomes e formas, não teríamos aprendido a conhecer as coisas, mas
a finalidade da forma é apenas uma questão do que está atrás da forma. É
sempre a mesma e única verdade que existe atrás de todas as religiões.
Portanto, o cerimonial do culto Sufi não deixa também de ser um ensinamento,
mas todo Sufi é livre de usar ou não usar uma forma. Um Sufi não fica limitado
a forma alguma. As formas são usadas pelo Sufi, mas as formas não o
aprisionam.
No Movimento Sufi não existe sacerdócio no sentido comum da palavra. O
sacerdócio é apenas para o cerimonial e para preencher as funções que um
sacerdote sempre exerce na vida cotidiana. Os que recebem as ordens no
Movimento Sufi são chamados Sirajs e Cherags. Não há distinção entre o
elemento masculino e feminino. A alma que se mostrar digna será ordenada.
Constitui isso um exemplo para o mundo, mostrando que em todos os lugares –
na igreja, na escola, no Parlamento ou na corte – a mulher e o homem juntos é
que contribuem para uma evolução completa. O Sufi é ao mesmo tempo um
sacerdote, um pregador, um mestre e um aluno de todas as almas que encontra
pelo mundo.
As preces Sufi Saum e Salat não são preces feitas pelo homem. São preces
enviadas do Alto, foram transmitidas da mesma forma que, em cada período de
reconstrução espiritual da humanidade, foram transmitidas as demais preces.
Essas preces têm poder e trazem bênçãos, especialmente para aqueles que
crêem.
O que representa uma prece verdadeira? Louvor a Deus. Qual é o significado da
palavra louvor? Apreço, abrir o coração cada vez mais à beleza divina
representada na manifestação. Nunca seremos bastante gratos. Devemos
ensinar às crianças e aos nossos empregados a ter apreço, não para nosso
próprio benefício, mas para que eles se beneficiem do ensinamento de que
devem dar valor e apreciar as coisas. Se isso não Ihes for ensinado, privá-lo-
emos de uma grande virtude, pois a alegria e a felicidade estão no apreço a
determinadas coisas ou certas condições. A prece treina a alma para dar maior
apreço à bondade de Deus.
A prece pode ser feita em silêncio, mas como a natureza de sensação é
psicológica, se recitarmos as palavras da prece em voz alta faremos com que
elas penetrem no Akasha do corpo, a parte etérea do corpo, e atinjam o plano
interior do nosso ser. Assim sendo, as preces repetidas em voz alta têm sobre a
alma um efeito maior do que uma prece recitada em silêncio. A prece é dada ao
homem para que se beneficie dela e não para beneficiar Deus.
A ação da prece também é psicológica, porque produz em cada átomo do nosso
corpo, imagens do pensamento que está atrás da prece. Cada átomo do corpo
reza, até as células do sangue oram. Todo ser do homem se transforma numa
prece. Assim, os movimentos que acompanham as preces têm uma ação
psicológica. A cada movimento que fazemos ao dizer as preces, segue-se uma
espécie de projeção, que fica impressa em cada átomo do nosso corpo. Nossa
circulação é afetada e todo nosso ser é afetado pela circulação, até a nossa pele.
A Tradição do Sufismo
Pir-O-Murshid Inayat Khan definiu o Sufismo como a filosofia do Amor, da
Harmonia e da Beleza. É um reconhecido caminho místico da devoção, tem
existido no Oriente há mais de um milhar de anos, mas a sua tradição pode ser
rastreada pelo menos até o tempo de Abraão, o pai de quatro grandes religiões,
e que foi ele mesmo iniciado no antigo culto religioso do Egito. A Confraria dos
Essêneos, existente ao tempo de Jesus, era indubitavelmente Sufi. No sentido
verdadeiro da palavra, o Sufismo tem existido desde o nascimento da raça
humana e todos os grandes Mensageiros, Profetas, Santos e Mestres hão sido
Sufis. Neste aspecto ideal o Senhor Buda foi mais um Sufi do que um Budista,
justamente como o Senhor Jesus foi um Sufi antes que um Cristão, porque
ambos tornaram realidade a bênção da Consciência de Deus e apontaram o
caminho dela para os outros seguirem. No seu mais profundo aspecto, o Sufismo
corresponde àquela Companhia de todas as almas iluminadas, que formam a
corporação do Mestre, o Espírito de Guia, a que se referem os Místicos Cristãos
como a Igreja Oculta, iluminada pela Luz de Cristo, que governa e dirige todas
as formas exteriores de religião. Cada época do mundo tem visto almas
iluminadas, e assim como é impossível limitar a sabedoria a nenhum período,
lugar ou povo, assim também é impossível datar ou localizar a origem do
Sufismo.
Mensagem Sufi
A Mensagem de Deus tem sido enviada à terra aonde quer que o clamor da
humanidade chegue a um certo ponto, e tem sido outorgada numa forma
apropriada às necessidades do tempo; mas, em essência, é a mesma
eternamente. “Deus fala a seus filhos através dos lábios do homem”. Seus
Mensageiros Divinos têm sido muitos, e incluem Rama, que trouxe a Mensagem
da Sabedoria; Buda com a Mensagem da Compaixão; Zoroastro deu a
Mensagem da Pureza; Moisés, a Mensagem da Lei; Cristo foi portador da
Mensagem do Sacrifício de Si Mesmo, e Maomé deu a Mensagem da Unidade.
A Mensagem da Verdade Divina surgiu para o Mundo Ocidental em 1910 com
Pir-O-Murshid Inayat Khan. Ele incorporou numa forma moderna e universal a
Essência da Verdade e Sabedoria dos Místicos Sufis do Oriente, e profetizou
que o Sufismo se tornaria a religião e Filosofia das futuras gerações. Em si
mesmo, o Sufismo não é um culto novo, posto que sua clara exposição da
Verdade Divina e da natureza imortal do homem constitui uma Revelação para
o mundo.
A mensagem Sufi é a resposta Divina ao clamor humano da hora presente por
Paz, Amor e Felicidade, e estes ele os dá pela concepção de Deus imanente,
não distante, mas presente dentro do coração de cada indivíduo.
Não traz novas teorias, ou doutrinas, para se adicionarem àquelas já existentes,
que atrapalham a mente humana. O de que o mundo precisa hoje é a mensagem
de Amor, Harmonia e Beleza, cuja ausência é a única tragédia da vida. A
Mensagem Sufi não dá uma nova lei, mas desperta na humanidade o espírito de
fraternidade, com tolerância da parte de cada um para com a religião do outro,
com perdão de cada um para a falta do outro; ensina a plenitude de pensamento
e a consideração, de maneira a criar e manter a harmonia na Vida. Ensina a
servir e ser útil, o que pode, somente, fazer frutífera a vida no mundo, e em que
reside a satisfação de cada alma.
O Movimento Sufi tem crescido rapidamente durante os ultimas anos, sendo hoje
uma organização internacional com a sua sede em Genebra.
O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO
Sumário
O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO
PRIMEIRA PARTE
Pensamentos Sufis
SEGUNDA PARTE
Alguns Aspectos do Sufismo:
O Objetivo da Vida
A Vida Terrena
Vocação
Nur-Zahur
Os Mestres
O Espírito da Profecia
Alguns Termos Esotéricos
Alif
Suma, a música dos Sufis
TERCEIRA PARTE
Os Sufis
O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO
PRIMEIRA PARTE
Pensamentos Sufis
I – EXISTE UM DEUS, O ETERNO, O ÚNICO SER, NINGUÉM EXISTE SENÃO
ELE.
O Deus do Sufi é o Deus de todas as crenças, é o Deus de todos. Nomes não
fazem diferença alguma para ele. Allah, Deus, Gott, Dieu, Khuda, Brahma ou
Bhagivan, todos estes nomes e muitos outros são nomes de Deus. Entretanto,
Deus, para o Sufi, está acima da limitação que o nome encerra. O Sufi vê Deus
no sol, no fogo, no ídolo que é adorado por diversas seitas e O reconhece em
todas as formas do universo, embora saiba que Deus está acima de todas as
formas: Deus está em tudo e tudo está em Deus, Deus é o Visível e o Invisível,
o Único Ser. Para o Sufi Deus não é somente crença religiosa, Deus é também
o ideal mais alto que a mente humana pode conceber.
Esquecendo seu ego e aspirando atingir o Ideal Divino, o Sufi caminha
incessantemente, durante a vida inteira, na senda do amor e da luz. Em Deus o
Sufi vê a perfeição de todas as coisas que estão ao alcance do homem. Seu
olhar olha Deus como o amante olha sua bem-amada e aceita tudo na vida como
sendo enviado por Deus, com perfeita resignação. Para o Sufi, o nome sagrado
de Deus é como um remédio para um doente e o pensamento divino é a bússola
que governa o navio até o porto da imortalidade. O ideal de Deus, para o Sufi é
como um elevador que o transporta para a meta eterna, em cuja realização vê o
único objetivo de sua vida.
*
II – EXISTE UM MESTRE, O ESPÍRITO-GUIA DE TODAS AS ALMAS, QUE
CONSTANTEMENTE CONDUZ, OS QUE O SEGUEM PARA A LUZ.
O Sufi compreende que, embora Deus seja a fonte de todos os conhecimentos,
da inspiração e da orientação, o homem é o veículo escolhido por Deus para
transmitir ao mundo Seu conhecimento. Deus transmite Seu conhecimento por
meio de alguém que, aos olhos do mundo, é um homem, mas é Deus em
consciência. A alma amadurecida recebe as bênçãos do céu e Deus fala por
intermédio dessa alma. Apesar de Deus estar ocupado falando através de todas
as coisas, é preciso usar os lábios do homem para falar ao ouvido surdo de
muitos homens. Deus tem sempre assim procedido, como podemos verificar na
história da humanidade. Todos os grandes Mestres que viveram em épocas
passadas, foram esse Espírito-Guia vivendo a vida de Deus em forma humana.
Em outras palavras, a forma humana do Espírito-Guia cobria-se com roupagens
diferentes que eram usadas pela mesma pessoa. Deus em forma humana
parecia diferente em cada uma das vestes com que se cobria. Vemos de um lado
Shiva, Rama, Krishna, de outro lado Abraão, Moisés, Jesus, Maomé e outros
conhecidos e desconhecidos da história, sempre personificando o mesmo e
único Ser.
Os que viam o homem e conheciam Deus, reconheciam Deus em qualquer forma
ou aspecto exterior em que Ele se manifestava, mas os que viam apenas a
aparência não encontravam Deus na forma humana. Para o Sufi, pois, existe
apenas um Mestre, embora seja chamado por diversos nomes em vários
períodos da história e esse Mestre vem constantemente à Terra para despertar
a humanidade do sono, desta vida de ilusões, guiando o homem para a frente,
para a perfeição divina. À medida que o Sufi progride, com essa perspectiva em
mente, reconhece como mestre não só os santos como os sábios, os tolos, os
piedosos e os pecadores e jamais permite que o Mestre – que é apenas Um e o
Único Ser, que é assim e sempre será – desapareça de sua visão.
A palavra Persa para Mestre é Murshid. O Sufi reconhece o seu Murshid em
todos os seres do mundo. Está pronto a aprender do jovem e do velho, do letrado
e do iletrado, do rico e do pobre, sem fazer questão de quem recebe o
aprendizado. Começa então a ver a luz do Risalat (a tocha da Verdade)
brilhando à sua frente em cada ser e em cada coisa do universo. Desta forma vê
o Rasul (o Portador da Mensagem Divina) como uma entidade viva, à sua frente.
Tem então a visão de Deus, da divindade adorada, em Sua imanência,
manifestando-se na natureza. A vida para ele passa a ser uma perfeita
revelação, interna e externamente.
Não é por outro motivo que, aferrando-se frequentemente à personalidade do
seu Mestre particular, proclamando sua superioridade sobre os outros Mestres
e aviltando um Mestre igualmente estimado pelos outros, os homens separaram-
se uns dos outros e se guerrearam, dando origem às facções e discórdias que a
história registra entre os filhos de Deus.
O Espírito-Guia pode ser explicado da seguinte forma: assim como no homem
existe uma faculdade que o leva para a arte, a música, a poesia, a ciência,
também existe nele a faculdade espírito, ou Espírito-Guia. É mais apropriado
chamar essa faculdade de espírito, porque ela é a suprema faculdade da qual
se originam todas as outras. Assim como notamos que em cada pessoa existe
uma faculdade artística mas nem todos são artistas, que todos podem sussurrar
uma melodia, mas um entre mil é músico, também cada um de nós possui a
faculdade espírito de alguma forma e num grau limitado, mas o Espírito-Guia é
encontrado realmente entre alguns poucos da raça humana.
Um poeta Sânscrito escreveu: “As jóias são pedras, mas não são encontradas
em qualquer lugar; a árvore do sândalo é uma árvore, mas não cresce em
qualquer floresta. Assim como há muitos elefantes, mas um só é o rei dos
elefantes, também existem seres humanos em todo o universo, mas o verdadeiro
ser humano é raramente encontrado”.
Quando conseguimos elevar-nos acima dessa faculdade e meditamos sobre o
Espírito-Guia, verificamos que ele está consumado no Bodhisatva, o Mestre
Espiritual ou Mensageiro Divino. Há o ditado: “O reformador é a criança da
civilização, o profeta é seu pai.” Esse espírito sempre existiu e sempre existirá e
assim, de tempos em tempos, a Mensagem de Deus é transmitida ao homem.
*
III – EXISTE UM LIVRO SANTO, O SAGRADO MANUSCRITO DA NATUREZA,
A ÚNICA ESCRITURA QUE PODE ILUMINAR O LEITOR.
Muitos consideram escrituras sagradas somente certos livros ou documentos
escritos pela mão do homem e que foram cuidadosamente preservados como
sagrados para entrega à posteridade como revelação divina. Os homens lutam
e discutem sobre a autenticidade desses livros, recusando-se a aceitar qualquer
outro livro com características semelhantes. Aferram-se, assim, ao livro e
perdem o sentido do seu conteúdo, formando diversas seitas. O Sufi em todas
as eras sempre respeitou todos esses livros e encontrou no Vedanta, no
Zendavesta, na Kabala, na Bíblia, no Corão, enfim, em todas as escrituras
sagradas, a mesma Verdade que lê no incorruptível manuscrito da natureza, o
único Livro Sagrado, o modelo perfeito e vivo que ensina a lei interior da vida.
Diante do manuscrito da natureza todas as escrituras são pequenos tanques
d’água comparados com o mar.
Aos olhos do homem que sabe ver, cada folha de árvore é uma página do livro
sagrado que contém a revelação divina e ele se inspira, em todos os momentos
de sua vida na leitura constante e na compreensão da escritura sagrada da
natureza.
Quando o homem escreve, grava caracteres na rocha, na folha, no papel, na
madeira ou no aço. Quando Deus escreve, seus caracteres são as criaturas
vivas.
Quando os olhos da alma se abrem e a visão se torna penetrante, o Sufi pode
ler a lei divina no manuscrito da natureza. O que os Mestres da humanidade
ensinaram a seus discípulos foi colhido da mesma fonte. Expressaram-se muito
pouco em palavras e preservaram a verdade interior quando não mais estavam
presentes para revelá-la.
*
IV – EXISTE UMA RELIGIÃO, O INABALÁVEL PROGRESSO NA DIREÇÃO
RETILÍNEA PARA O IDEAL, QUE PREENCHE O OBJETIVO DA EXISTÊNCIA
DE TODA ALMA.
Em Sânscrito religião é chamada Dharma, que significa dever. O dever de todo
homem é religião. Diz Sá’di: “Toda alma nasce com um determinado objetivo. A
luz desse objetivo está acesa na alma”. Isso explica bem o ponto de vista do Sufi
que, com sua tolerância, deixa que cada um trilhe seu próprio caminho. Não
compara seus princípios com os dos outros e permite que todos tenham
liberdade de pensamento, já que ele próprio é um livre pensador.
Na concepção do Sufi a religião é o caminho que conduz o homem à realização
do seu ideal terreno e celestial. O pecado e a virtude, o certo e o errado, o bem
e o mal, não são a mesma coisa para todos os homens: variam de acordo com
o grau de evolução e condições de vida de cada um. Assim, o Sufi pouco se
importa com o nome da religião ou o lugar da adoração. Todos os lugares são
sagrados para adorar Deus e todas as religiões conduzem à religião de sua alma.
“Eu TE vi na Ka’ba sagrada e também TE vi no templo do ídolo”.
*
V – EXISTE UMA LEI DA RECIPROCIDADE, QUE PODE SER OBSERVADA
POR UMA CONSCIÊNCIA ISENTA DE EGOÍSMO ALIADA A UM SENSO DE
VIGILANTE JUSTIÇA.
O homem consome a vida na procura de tudo que lhe parece aproveitável e
absorvido no seu egoísmo, com o tempo perde o contato até com seus
verdadeiros interesses. O homem instituiu leis que lhe favorecem, pelas quais
obtém o máximo dos outros. Chama isso justiça e chama de injustiça apenas o
que os outros lhe fazem. O homem não terá uma vida pacífica e harmoniosa com
seus semelhantes se não despertar dentro de si o senso de justiça, através de
uma consciência completamente isenta de egoísmo. Assim como as autoridades
judiciárias intervêm entre duas pessoas em litígio, pois sabem que têm o direito
de intervir quando as duas partes estão cegas pelo interesse pessoal, o Poder
Todo-Poderoso intervém em todas as disputas, pequenas ou grandes.
É a lei da reciprocidade que salva o homem de se expor aos mais altos poderes
da justiça, pois um homem prudente tem menor chance de ser levado aos
tribunais. O senso de justiça é despertado numa mente perfeitamente sóbria, isto
é, em quem está livre da intoxicação da juventude, da força, do poder, da
riqueza, do comando, do berço ou posição na vida. Parece haver lucro quando
nada se dá mas se toma, ou quando se dá menos e se toma mais, mas em
ambos os casos existe na realidade um prejuízo maior que lucro, pois o lucro
assim obtido cobre com uma camada o senso íntimo de justiça. Quando grande
quantidade dessas camadas cobre a visão, o homem fica cego até diante de seu
próprio lucro. É como se permanecesse na sua luz própria. “Quem for cego na
Terra continuará cego no outro mundo”.
Embora as diversas religiões tenham leis diferentes ao ensinar ao homem como
deve agir harmoniosa e pacificamente com seus semelhantes, todas elas contêm
esta verdade: “Faça aos outros o que queres que façam a ti”. Ao receber um
favor de alguém o Sufi realça o seu valor. Ao aceitar o que lhe fazem demonstra
reconhecimento.
*
VI – EXISTE UMA FRATERNIDADE, A FRATERNIDADE HUMANA, QUE UNE
OS FILHOS DA TERRA INDISCRIMINADAMENTE NA PATERNIDADE DE
DEUS.
O Sufi sabe que a vida que emana do ser interior se manifesta na superfície de
várias formas. Neste mundo de multiplicidade o homem é a manifestação mais
bela, pois realiza em sua evolução a unidade do ser interior, até nas variadas
formas da vida exterior. Contudo, o homem evolui para seu ideal, o único objetivo
de sua vinda à terra, unindo-se aos outros homens.
O homem une-se aos outros homens por laços de família. É o primeiro passo na
sua evolução. No entanto, em eras passadas, as famílias lutavam entre si e
vingavam-se mutuamente por gerações inteiras, cada qual considerando sua
causa a única causa verdadeira e justa. Hoje o homem mostra que evoluiu,
porque une-se aos vizinhos e concidadãos e até mesmo desenvolve o espírito
de patriotismo para com o país onde nasceu. Mostra atualmente uma grandeza
maior que seus antepassados no que diz respeito à convivência e, todavia, foram
os homens assim unidos nacionalmente os responsáveis pela catástrofe das
guerras modernas, que serão olhadas pelas gerações vindouras à mesma luz
que hoje olhamos as famílias feudais de antigamente.
Existem compromissos raciais que cada vez mais alargam o círculo de unidade,
mas há sempre uma raça que despreza outra. Os compromissos religiosos
representam um ideal ainda mais elevado, mas surgiram deles várias seitas, que
se opuseram e se desprezaram entre si milhares de anos e foram as
responsáveis pelas separações e divisões sem fim entre os homens. O germe
da separação existe até no vasto campo da fraternidade. Embora a idéia da
fraternidade esteja disseminada, não será perfeita enquanto separar os homens.
O Sufi sabe disso e livra-se das barreiras do nacionalismo, do racismo e da
religião, unindo-se à fraternidade humana, que está isenta das diferenças e
distinções de classe, casta, credo, raça, nação ou religião e une a humanidade
na fraternidade universal.
*
VII – EXISTE UMA MORAL, O AMOR QUE BROTA DA AUTO-NEGAÇÃO E
FLORESCE EM OBRAS DE BENEFICÊNCIA.
Os Mestres ensinaram à humanidade diversos princípios morais através de
muitas tradições, princípios diferentes, mas que são gotas da mesma fonte.
Quando olhamos um curso d’água vemos que existe apenas uma corrente,
embora ela ao cair se transforme em diversas gotas. Existem muitos princípios
morais iguais a muitas gotas que caem de uma fonte, mas há somente uma
corrente, que é a fonte de tudo: o amor. Do amor nasce a esperança, a paciência,
a resignação ao sofrimento, o perdão, a tolerância, e todos os princípios morais.
Todas as obras de bondade e beneficência, a adaptabilidade, uma natureza
acomodada, mesmo a renúncia, são apenas frutos do amor. Os grandes e raros
seres de escol, que há séculos representam o ideal para o mundo, possuíam um
coração inflamado de amor. Todos os males e pecados são frutos da falta de
amor.
A voz do povo diz que o amor é cego. Na verdade o amor é a luz da visão. Os
olhos podem ver apenas a superfície; o amor pode ver muito mais fundo. A
ignorância é motivada pela falta de amor. Assim como acontece com o fogo, que
quando não se inflama faz somente fumaça e quando se inflama faz surgir a
chama que ilumina, acontece o mesmo com o coração: é cego quando ainda não
se desenvolveu, mas quando o fogo que existe dentro dele é aceso, surge a
chama que iluminará o caminho do viajante da mortalidade para a vida eterna.
Os segredos da terra e do céu são revelados ao homem que possui um coração
amoroso. O homem que ama adquire o conhecimento perfeito de si próprio e dos
outros. Não só se comunica com Deus como se une a Ele.
Escreveu Rumi, um poeta Sufi: “Um viva a ti, ó amor, doce loucura! A ti que curas
todas as nossas enfermidades! Que és o médico de nosso orgulho e do nosso
amor-próprio! Que és nosso Platão e nosso Galeno.”
*
VIII – EXISTE UM OBJETO DE LOUVOR, A BELEZA, QUE ELEVA O
CORAÇÃO DE SEUS ADORADORES ATRAVÉS DE TODOS OS ASPECTOS,
DO VISÍVEL AO INVISÍVEL.
Consta do Hadith: “Deus é beleza e ama a beleza”.
Uma prova dessa verdade é o homem, o herdeiro do Espírito de Deus. Tem
beleza e ama a beleza, embora o que é belo para um não é belo para outro. O
homem cultiva o senso da beleza à medida que evolui e prefere o mais alto
aspecto da beleza ao seu aspecto menos elevado. Quando, entretanto, puder
contemplar a visão suprema da beleza no invisível através de uma evolução
gradativa, oriunda do louvor da beleza do mundo visível, então toda sua
existência transformar-se-á numa única visão de beleza.
O homem adora Deus contemplando a beleza do sol, da lua, das estrelas e dos
planetas. Adora Deus nas plantas, nos animais. Reconhece Deus na beleza dos
méritos do homem e com sua perfeita visão da beleza tem encontrado a fonte
de toda a beleza no invisível, de onde tudo emana e onde tudo mergulha.
O Sufi sabendo disso adora a beleza em todos seus aspectos. Vê a face do Bem-
Amado em tudo que é visto. Vê o espírito do Bem-Amado no invisível. Assim,
sempre que olha, vê na sua frente o seu ideal de adoração. “Para qualquer lado
que eu olhe vejo Tua face sedutora, para qualquer lugar que eu me dirijo chego
à Tua morada”.
*
IX – EXISTE UMA VERDADE, O VERDADEIRO CONHECIMENTO DO NOSSO
SER INTERIOR E EXTERIOR, QUE É A ESSÊNCIA DE TODA SABEDORIA.
Disse Hazrat Ali: “Conheça-te a ti mesmo e conhecerás Deus”. O conhecimento
do ser floresce e resulta no conhecimento de Deus. O auto-conhecimento dá
uma resposta às seguintes perguntas: De onde vim? Eu existia antes de ter
consciência de minha existência atual? Se eu existia, em que condições existia?
Existia como um indivíduo como sou hoje, ou como uma multidão, um inseto, um
pássaro, um animal, um espírito, um djin ou um anjo? O que acontece na morte,
a cuja mudança toda criatura está sujeita? Por que fico aqui na terra durante um
certo tempo? Que objetivo devo eu alcançar aqui na terra? Qual é o meu dever
na vida? Em que consiste minha felicidade? O que torna minha vida miserável?
Os seres cujos corações foram iluminados pela luz vinda do alto, começam a
meditar sobre estes assuntos, mas os seres cujas almas já estão iluminadas pelo
conhecimento do seu eu interior, têm perfeita compreensão desses assuntos.
São essas almas iluminadas que levam aos indivíduos ou às multidões o
benefício de seu conhecimento, para que até mesmo os homens cujos corações
ainda estão apagados e cujas almas não foram ainda iluminadas, possam
palmilhar o caminho que conduz à perfeição.
É por este motivo que os ensinamentos são dados aos povos em várias línguas,
há várias formas de adoração e há princípios diferentes em várias partes do
mundo. A verdade é uma só. É sempre a mesma. É mostrada em espectos
diferentes apropriados para os povos em determinadas épocas. Só os que não
compreendem isso é que zombam da fé dos outros, condenando ao inferno ou
à destruição os que não consideram sua fé a única e verdadeira fé.
O Sufi reconhece que o conhecimento do próprio ser é a essência de todas as
religiões. Descobre isso em todas as religiões, vê a mesma verdade em cada
uma delas e considera, portanto, todas as religiões como uma só. Assim,
compreende o que Jesus quis dizer: “Eu e meu Pai somos um”. A diferença entre
a criatura e o Criador está nos lábios e não na alma. É este o significado da
expressão união com Deus. Na verdade é dissolver o falso ego no conhecimento
do verdadeiro eu, que é divino, eterno e todo-penetrante. “Aquele que alcançou
a união com Deus perdeu seu próprio eu”, disse Amir.
*
X – EXISTE UM CAMINHO, O ANIQUILAMENTO DO FALSO EGO NO EGO
REAL. ESSE CAMINHO LEVA O MORTAL A IMORTALIDADE, ONDE EXISTE
A PERFEIÇÃO.
“Eu me diluí no nada, desapareci e, reparem, estou bem vivo”.
Os que conhecem o segredo da vida sabem que a vida é uma só, embora tenha
dois aspectos: um, a vida imortal, toda-penetrante, a vida silenciosa; outro, a vida
mortal, ativa, que se manifesta em várias formas. Pertencendo a alma ao
primeiro aspecto, à vida imortal, ilude-se, torna-se impotente e prisioneira, ao
experimentar a vida em contato com a mente e o corpo, que pertencem ao
segundo aspecto, à vida mortal. A satisfação dos desejos do corpo e as fantasias
da mente não são suficientes para o objetivo da alma que, sem dúvida, deve
experimentar seu próprio fenômeno no visível e no invisível, embora sua
tendência é ser ela mesma e não outra coisa qualquer. Quanto à ilusão, faz a
alma sentir-se impotente, mortal e prisioneira, leva-a a sentir-se fora de seu
ambiente. Esta é a tragédia da vida, que faz do forte e do fraco, do rico e do
pobre, enfim, de todos, seres insatisfeitos à procura constantemente de algo que
não sabem o que é. O Sufi compreende isso e segue o caminho do auto-
aniquilamento. Guiado por um Mestre nesse caminho, vê no fim da jornada que
o destino era ele próprio, como disse Iqbal: “Vaguei à procura do meu próprio
ser. Fui o viajante e sou o destino”.
SEGUNDA PARTE
Alguns Aspectos do Sufismo
O OBJETIVO DA VIDA
Às vezes as almas se perguntam: “Por quê estou na terra?” Tal pergunta é feita
conforme a evolução da inteligência de cada uma. Um homem pode dizer: “Estou
na terra para comer, beber e me divertir”. Até os animais fazem isso, mas o que
mais realizou ele como ser humano? Outro homem afirma: “O importante é o
poder e posição”. É preciso que se saiba que poder e posição são transitórios.
O poder tem altos e baixos. Tudo que temos foi tirado dos outros de alguma
forma e os outros, por sua vez, estão esperando de mãos abertas se apoderar
do que possuímos.
É comum ouvir alguém dizer: “Estamos na terra para receber honrarias”. Neste
caso alguém terá que ficar em posição de inferioridade para que seja dada a
honraria que o outro procura obter, mas, por sua vez, esse homem pode ser
relegado a um plano inferior se aparecer outro candidato mais ávido de
honrarias. Podemos achar que o mais importante é sermos amados, mas é
preciso não esquecer que a nossa beleza, que faz com que alguém nos ame, é
transitória. Nossa beleza pode empalidecer quando comparada com a beleza
dos outros. Ao procurar o amor de alguém não ficamos apenas dependentes
desse amor, ficamos também desprovidos de amor. Pensar que é aconselhável
amar alguém que mereça nosso amor, é um engano, pois o objetivo do nosso
amor pode sempre nos causar desapontamentos e tal pessoa talvez nunca seja
o nosso ideal. Somos levados a supor e crer que a virtude é a única coisa de
valor na vida, mas notamos que o maior número de sofredores de alucinações
morais é encontrado entre as pessoas que consideramos justas.
Assim, pois, o único objetivo de nossa vida, se quisermos encontrar um, é
preencher com sucesso as exigências da vida. À primeira vista parece estranho
que tudo que a vida exige deva ser levado em consideração e valha a pena ser
conhecido, mas se estudarmos mais profundamente a vida, notaremos que as
exigências do nosso ser exterior são as únicas que conhecemos e ignoramos as
exigências do nosso verdadeiro ser, da nossa vida interior. Por exemplo,
sabemos que queremos boa comida e belas roupas, que desejamos conforto na
vida e todas as conveniências para que possamos nos movimentar, que
queremos honrarias, fortuna e meios que nos facilitem satisfazer nossa vaidade,
enfim, queremos tudo que no momento parecem ser as exigências da vida, mas
nada disso e nem a alegria de possuir todas essas coisas permanecem sempre
conosco. Pensamos então que era pouco o que possuíamos, que se tivéssemos
mais, quem sabe, ficaríamos satisfeitos e se tivéssemos ainda mais um pouco
teríamos o suficiente para suprir nossas necessidades. Não é exato. Mesmo que
o universo inteiro estivesse ao nosso alcance, seria impossível satisfazer
plenamente as exigências da vida. Prova isso que nossa verdadeira vida tem
exigências diferentes das exigências com as quais estamos familiarizados, que
a vida não se satisfaz somente com o prazer experimentado por nosso ser
individual, quer também o prazer de todos ao nosso redor. Não desejamos uma
paz momentânea, mas uma paz eterna. Não queremos amar o bem-amado
preso nos braços da mortalidade, precisamos de um bem-amado que esteja
constantemente ao nosso lado, não queremos ser amados apenas hoje e talvez
não ser amados amanhã. O que desejamos é flutuar no oceano do amor.
Por este motivo o Sufi procura Deus como seu amor, seu amante e seu bem-
amado, seu tesouro, sua posse, sua honra, sua alegria, sua paz. Somente
chegando até Deus, fazendo essa aquisição com perfeição, é que o Sufi supre
todas as exigências da vida tanto na terra como no mundo após a morte.
Novamente, pois, pode-se dizer que existe um objetivo acima de cada objetivo e
há um objetivo abaixo de cada objetivo e todavia não existe nenhum objetivo
acima e abaixo de todos os objetivos. A criação existe porque existe.
A vida é uma viagem de um pólo a outro. A perfeição da vida consciente é o
destino final da vida imperfeita. Em outras palavras, cada especto da vida neste
mundo de multiplicidade evolui gradativamente da imperfeição para a perfeição.
Se a evolução da vida não fosse assim por natureza, não haveria diferença entre
a vida e a morte, porque a vida na superfície nada mais é que um fenômeno do
contraste. Esta é uma outra maneira de explicar o objetivo da vida.
A VIDA TERRENA
Podemos tentar ver as coisas sob o ponto de vista de outra pessoa e também
sob nosso próprio ponto de vista, dando liberdade de pensamento a todos,
porque nos mesmos exigimos essa liberdade. Podemos tentar apreciar o que é
bom em outra pessoa e não notar nela o que consideramos um mal. Se alguém
age egoisticamente em relação aos demais, podemos achar isso muito natural,
porque o egoísmo faz parte da natureza humana. Assim não ficamos
desapontados. Se, porém, os egoístas somos nós, é preciso começarmos a nos
esforçar para perder o egoísmo. Não há nada que não possamos tolerar e não
existe ninguém a quem não podemos perdoar. Nunca duvide daqueles em quem
confia, nunca odeie os que ama, nunca derrube os que você um dia elevou em
sua estima. Faça de todos que encontrar um amigo. Faça um esforço para ser
amigo daqueles que considera pessoas difíceis. Fique indiferente a essas
pessoas somente no caso de não ser bem-sucedido em seus esforços. Nunca
tente romper uma amizade uma vez feita.
Se alguém nos fizer mal, tentemos pensar que merecemos isso de uma certa
forma, ou então que a pessoa que nos fez mal não sabe o que fez. Lembremos
que todas as almas que se elevam na vida recebem grande oposição do mundo.
Tem sido assim com todos os profetas, santos e sábios. Portanto, ninguém pode
esperar que isso não lhe aconteça. É a lei da natureza e é também o plano de
Deus em ação, preparando algo desejável. Não há ninguém superior ou inferior
a nós. Devemos ver em todas as fontes que suprem nossas necessidades uma
só fonte – Deus – única fonte. Se admiramos, reverenciamos e amamos alguém,
tenhamos em mente que fazemos isso a Deus. Devemos procurar Deus na
tristeza e na alegria. É preciso agradecer sempre a Deus. Não lamentemos o
passado nem nos preocupemos com o futuro. Tentemos apenas tirar o maior
proveito do presente. Não pensemos em fracasso, pois mesmo numa queda
encontramos sempre um degrau para subir. Para o Sufi, cair e levantar pouco
significa. Não devemos nos arrepender pelo que tivermos feito, porque
pensamos, dizemos e fazemos o que queremos. Não tenhamos medo das
consequências ao fazer o que queremos na vida, pois o que tiver que acontecer,
acontecerá.
VOCAÇÃO
Todo ser tem uma determinada vocação. Tal vocação é a luz que ilumina sua
vida. O homem que despreza sua vocação é uma lâmpada apagada. O homem
que procura sinceramente seu verdadeiro objetivo na vida, é procurado pelo
objetivo. Quando o homem se concentra na busca do seu objetivo, nota que uma
luz começa a brilhar na confusão que existe dentro de si, luz essa chamada
revelação, inspiração, ou outro nome que se lhe queira dar. A desconfiança faz
o homem errar. A sinceridade conduz o homem diretamente ao objetivo.
Cada um de nós possui seu círculo de influência, grande ou pequeno. Quantas
almas e mentes estão envolvidas em nossa esfera de influência! Quando nos
elevamos essas almas e mentes se elevam conosco; quando caímos, elas
também caem. As dimensões do campo de influência de um homem
correspondem à extensão de sua compaixão ou, podemos dizer assim,
correspondem ao tamanho de seu coração. Sua compaixão mantém sua esfera
de influência. Dando maior expansão ao coração o homem aumenta essa esfera
de influência. Retirando ou diminuindo a compaixão, sua esfera de influência se
dissolve e se dispersa. Se o homem prejudicar os que vivem e se movem dentro
do seu círculo de influência, ou os que dependem dele e de sua afeição, na certa
será prejudicado. O lugar em que mora, casa, palácio ou choupana, a satisfação
ou insatisfação com o que o rodeia, são frutos do seu próprio pensamento.
Agindo sobre seus pensamentos, os pensamentos dos que estão perto também
fazem parte de seus próprios pensamentos. Alguns pensamentos o deprimem e
o destroem, outros o encorajam e o apoiam, na mesma proporção em que ele
com sua frieza repele os que dele se aproximam ou atrai os que o procuram por
sua solidariedade.
Cada um de nós compõe a música de sua vida. Se injuriarmos, criaremos
desarmonia. Se nossa esfera estiver perturbada, ficaremos também perturbados
e a melodia da música da nossa vida será dissonante. Se contribuirmos para a
alegria dos outros e para que sintam gratidão, acrescentaremos grande mérito à
nossa vida e nos tornaremos muito mais vivos. Nossos pensamentos serão
afetados consciente ou inconscientemente e lucraremos com a alegria ou
gratidão de nossos semelhantes, nosso poder e vitalidade aumentarão e a
música de nossa vida tornar-se-á mais harmoniosa.
NUR-ZAHUR
De acordo com o ponto de vista Sufi, o universo nada mais é que uma
manifestação do Ser Divino. Na terminologia Sufi essa manifestação divina
chama-se Nur-Zahur. O Deus Supremo, abandonando Sua existência de Ser
Único e Exclusivo, caminhou, digamos assim, o mais possível em direção à
superfície. Manifestou-se na superfície através de Sua atividade. Usando Sua
vontade impulsionadora dessa atividade, desceu do céu à terra. Partindo do
estado menos consciente de Sua existência, cego e ignorando Seu ser como
ocorre com a rocha, foi pouco a pouco despertando e tomando consciência das
coisas que O rodeavam na superfície. No Corão encontramos esta mesma idéia
de que o mundo foi criado das trevas. Gradativamente, à proporção que a
jornada se desenvolve, o Ser interior chega à condição de planta, flor e fruto,
depois ao estado de verme, germe e animal, até que Ele se manifesta como
homem, o Ashraf al-Makhluqát, o senhor deste universo e o controlador dos
céus. Alcança no homem a meta final do Seu destino, quando então Se realiza
como Ser integral, o que não havia realizado até então. É como está escrito na
Bíblia: “Deus fez o homem à sua imagem”.
Diz Hazrat Ali: “O segredo de Deus pode ser estudado na Sua natureza”. O
viajante que caminha a pé, via de regra, acende sua tocha quando chega a noite.
O mesmo acontece com o Viajante Celestial. Vendo que as trevas das esferas
inferiores do Seu caminho estão deprimindo-O, acende uma tocha. A luz dessa
tocha é chamada, no Corão, de Nur-o Mohammadi. Essa tocha guiou-O na
superfície, para que pudesse distinguir com clareza e encontrar o caminho de
volta. Aos olhos do homem que sabe, essa luz – Nur – é o verdadeiro Maomé.
Foi essa luz que emitiu seus raios através de todos os Mestres da humanidade
e é conhecida como Luz-Guia.
A função dos objetos luminosos é espalhar luz à volta. Todavia, um raio de luz
vindo diretamente desses objetos luminosos iluminará mais do que a luz
espalhada em toda a volta. Notamos a mesma coisa se observarmos a luz do
sol. As almas que estavam na zona do raio da Luz-Guia, intencionalmente ou
por acaso, foram as que o mundo conheceu como os escolhidos de Deus. Viram
Deus mais cedo, ouviram Deus mais depressa, estiveram mais perto de Deus
que as outras almas. Essas almas podem ser chamadas de eleitas de Deus,
como consta da “Canção em louvor da Alma do Santo”:
Diante da alma virtuosa,
Servos de Deus e até anjos se curvam.
A seus pés de lótus, a meta tão ambicionada,
Os peregrinos cansados chegam ao fim da jornada
Para receber o perdão de seus pecados.
Assim como Deus vem ao encontro do santo e cura o homem,
Feliz é aquele em cujo coração a visão mística é revelada.
Desde a criação do homem todas as almas que estavam sob essa luz se
tornaram Mestres e vieram ao mundo umas após as outras, ligadas pelo elo de
uma corrente, que primeiramente nasce no mais íntimo do ser e depois se alarga
e se expande no universo.
Os santos, sábios e místicos, ao deixarem as esferas mais elevadas, são
atraídos por essa luz e nela procuram refúgio contra as nuvens negras da vida.
Os seres invisíveis, que flutuavam nessa luz, mesmo antes da criação do
homem, são os anjos.
A luz divina vem brilhando sobre os reinos mineral e vegetal. Neles podemos
também observar o fenômeno dessa luz, embora seu completo esplendor seja
visto somente no ser humano. Pode-se ver essa luz na inteligência evoluída e
pode ela ser observada no sistema cósmico e nos reinos mineral e vegetal. A luz
do sol brilha na lua e nos planetas. Cada estrela nada mais é que um reflexo
dessa mesma luz. Assim, todo sistema cósmico é iluminado apenas pelo sol.
No reino vegetal vemos uma pequena planta, um fruto ou uma flor espalhando
influência à sua volta, cobrindo depois de um certo tempo uma parte da floresta
com a mesma fruta doce ou com o mesmo perfume da flor.
Quando observamos com mais atenção o reino animal, vemos em alguns
animais o dom especial da inteligência. Vemos que entre os pássaros existe um
líder para cada bando. Especialmente entre os elefantes da floresta existe o
elefante sábio, que caminha à frente da manada carregando um tronco de árvore
com a tromba. Usa-o como bengala e com ele examina o caminho que pisa para
descobrir algum buraco. Faz isso não só para sua segurança como também para
proteger os companheiros. Na selva pode-se ver um grupo de macacos
obedecendo ao comando de um deles. Depois que ele pula os outros o imitam.
As raposas e os cães na selva têm entre eles um que é mais prudente e que dá
o alarma diante de qualquer perigo. Num bando de pássaros existe um pássaro
sábio e corajoso que lidera todo o bando. O mesmo acontece com muitos outros
pássaros e animais. Essa faculdade de liderança aliada à maturidade da
inteligência, preenche o objetivo da manifestação na evolução humana.
O Corão diz que o homem foi escolhido para ser o Califa de todos os seres, o
que pode ser bem compreendido se atentarmos para o fato de que todos os
seres do mundo servem ao homem, são por ele controlados, e obedecem as
suas leis, O homem usa esses seres para o fim que deseja. Além disso, é o
homem que corretamente pode ser chamado de semente de Deus, pois só no
homem é que a inteligência se desenvolve na sua forma mais perfeita, permitindo
que ele não só aprecie as obras de Deus como O adore. Ao homem é dada a
capacidade de alcançar a auto-suficiência e a consciência toda-penetrante da
vida eterna de Deus. O homem realiza sua perfeição em Deus. Deus realiza sua
perfeição no homem.
Vemos a tendência de liderança em escala menor nos pais. Qualquer que seja
seu modo de vida, desejam que os filhos se beneficiem com suas experiências,
querem que os filhos vivam dignamente. Há muitas pessoas neste mundo cheio
de egoísmo que advertem os amigos sobre o perigo de se extraviarem. Numa
comunidade é comum vermos um líder que sacrifica a vida e seu bem-estar em
benefício de seus semelhantes unindo-os numa cadeia de amor e harmonia. A
mesma qualidade de auto-sacrifício, mas num grau mais elevado de evolução,
vamos encontrar nos Mestres da humanidade, que agem como representantes
do Governo Infinito e que são conhecidos no mundo como Mensageiros. Entre
eles existem almas santas de diversas hierarquias, chamadas pelos Sufis de
Wali, Ghauth, Qutb, Nabi e Rasul.
Esses Mensageiros são diferentes em hierarquia, conforme a profundidade de
penetração no mundo invisível ou o espaço que ocupam na consciência
universal, e também de acordo com a extensão do círculo da humanidade
colocado aos seus cuidados para liderar. Nabi é o guia de uma comunidade,
Rasul é o portador de uma mensagem para toda a humanidade. Cada um tem
um determinado ciclo de tempo para trazer sua mensagem.
Podemos nos certificar disso se fizermos um estudo inteligente do cosmos. As
leis da natureza nos ensinam, e provam ao homem que sabe, a influência que
cada planeta exerce sobre as almas, quer individual quer coletivamente, como
famílias, nações e raças. Até mesmo sobre o universo inteiro notamos essa
influência. As condições de vida de cada um e de todos os seres são regidas
pela natureza do planeta sob cuja influência estão colocados. O planeta age
como um governante sobre nascimentos, mortes, altos e baixos, sobre todos os
assuntos. Se os planetas, que são reflexos do sol, têm poder sobre os assuntos
da vida exterior do homem, como deve ser imensamente maior o poder dos
homens conscientes de Deus, que são um reflexo da luz divina, de cuja luz o sol
é apenas uma simples sombra! São eles os Avatads, que os Hindus chamam
de Avatars. Estão no poder não como acontece com os reis que governam por
algum tempo apenas durante a vida na terra, permanecem no poder mesmo
depois que deixam o plano terrestre. Aquele que sabe reconhece nos Mestres
da humanidade não só os propagadores da Mensagem Divina, como também os
soberanos espirituais, os controladores do universo, durante os ciclos que são
destinados a viver na terra.
OS MESTRES
Cada um dos aspectos da vida de um indivíduo e da vida do mundo, tem seu
ciclo. Na vida do indivíduo a primeira parte corresponde do nascimento à morte,
a segunda parte da morte até a assimilação no Infinito. Os sub-ciclos da vida do
homem vão da infância à juventude, onde termina uma parte, e da juventude à
velhice, a conclusão. Há ainda outros ciclos inferiores: infância, meninice,
juventude, maturidade, senilidade. Existem ciclos de queda e elevação do
homem. Assim, existe um ciclo de vida na terra, o ciclo da criação do homem e
sua destruição, o ciclo do reinado das raças e das nações e o ciclo do tempo
como ano, mês, semana, dia e hora.
A natureza de cada um desses ciclos tem três aspectos: princípio, clímax e fim,
chamados de Uruj, Kemal e Zeval ou por exemplo a lua nova, a lua cheia e a
lua minguante; o nascer do sol, o zênite e o ocaso. Esses ciclos, sub-ciclos e
ciclos inferiores e os três aspectos de sua natureza são divididos e distinguidos
pela natureza e curso da luz. Assim como a luz do sol, da lua e dos planetas
representa a parte mais importante da vida na terra, quer individual quer
coletivamente, a luz do Espírito-Guia também divide o tempo em ciclos. Cada
ciclo está sob a influência de um determinado Mestre, que possui diversos
controladores sob suas ordens trabalhando como trabalha a hierarquia espiritual,
que controla os assuntos de todo o universo, principalmente os assuntos que
dizem respeito às condições espirituais internas do mundo. Os Mestres tem
vindo à terra em grande número desde a criação do homem. Apareceram com
nomes e formas diferentes, mas Deus estava disfarçado neles, pois Deus é o
único Mestre da eternidade.
Rejeitando o Mestre desconhecido e acreditando somente no Mestre que
conheceu, o homem viveu nas trevas por muitos séculos. Se o homem
acreditava numa determinada mensagem não aceitava uma nova mensagem
trazida por outro Mestre, que era estranho para ele. Isso causou grandes
transtornos na vida de todos os Mestres. O homem recusava-se a crer nos
Mestres e em seus ensinamentos passados e futuros, se seus nomes não
estivessem mencionados nas tradições em que ele acreditava ou se não tivesse
ouvido o nome desses Mestres nas histórias transmitidas durante séculos ao seu
povo. Assim, as pessoas da parte do universo que haviam reconhecido os
profetas Hebreus, não reconheciam, por exemplo, os Avatars como Rama e
Krishna Vishnu e Shiva, simplesmente porque não conseguiam encontrar tais
nomes em suas escrituras. O mesmo ocorria com a outra parte da humanidade,
que não incluía entre seus Devatas (divindades, encarnações divinas), Abraão,
Moisés ou Jesus, porque não encontravam seus nomes nas tradições com as
quais estavam familiarizados. Mesmo que fosse verdade que Brahma foi o
mesmo Devata a quem os Hebreus chamavam de Abraão e Cristo foi o mesmo
Mestre que os Hindus chamavam de Krishna, o homem não teria reconhecido
como a mesma pessoa aqueles a quem deram nomes diferentes, tendo um
conceito maior de um e um conceito menor de outro.
Os Mestres não eram iguais na aparência física, mas eram um só em espírito.
Se não fosse assim, como poderiam todos eles ter revelado a mesma e única
verdade? Os Mestres da humanidade foram os irmãos mais velhos a guiar os
irmãos mais moços com seu amor fraternal e por amor ao Pai. É humano ter
comiseração por nossos semelhantes quando lutam por alguma coisa que não
conseguem obter. É um prazer ajudá-los a atingir o ideal por que lutam.
Isso é bem ilustrado pela fábula de Ramachandra. Conta o Purana que certa vez
Sita, esposa de Ramachandra, estava como guardiã de Vashita Riti em
companhia de seus filhos. O filho mais moço Lahu foi visitar a cidade vizinha e
viu Kalanki, um belíssimo cavalo, galopando pela cidade sem cavaleiro. Quando
perguntou que cavalo era aquele, responderam-lhe que se tratava de um cavalo
que havia sido deixado solto e quem conseguisse agarrá-lo tornar-se-ia rei. O
jovem ficou tentado e correu atrás do cavalo para agarrá-lo. Correu durante muito
tempo e nada conseguiu. Sentiu-se frustrado por não ter conseguido agarrar o
cavalo. Quando chegava perto dele pensando que ia agarrá-lo, o cavalo
escapulia de suas mãos. Chegando ao desapontamento total, viu seu irmão que
vinha procurá-lo a pedido da mãe. Disse-lhe que não voltaria enquanto não
agarrasse o cavalo. Disse-lhe o irmão mais velho: “Não é essa a maneira de
pegar um cavalo. Ao invés de correr atrás do cavalo, corra ao encontro dele”.
Este conselho fez com que o irmão mais moço agarrasse imediatamente o
cavalo. Os dois irmãos foram à presença do pai Ramachandra, que os abraçou
e reconheceu a orientação de um e a obra do outro.
Todos os mestres que vieram à terra, ensinaram às comunidades ou grupos do
lugar onde nasceram, profetizaram a chegada do próximo Mestre e previram a
possibilidade e necessidade da continuação da Mensagem Divina até sua final
realização.
O fato dos Mestres virem sucessivamente não significa que deveriam trazer
Mensagens diferentes e sim que deveriam vir para corrigir as alterações feitas
na Mensagem anterior por seus seguidores e também com o fim de revivificar os
princípios e adaptá-los à evolução dos tempos, relembrando a mesma Verdade
à mente humana, Verdade essa que havia sido ensinada pelos Mestres
anteriores, mas que a memória dos homens havia esquecido. Não se tratava de
uma mensagem pessoal do Mestre e sim da Mensagem Divina. Os Mestres eram
obrigados a corrigir os erros cometidos, devido à má interpretação das religiões,
renovando assim a mesma Verdade trazida pelos Mestres anteriores e que, com
o passar dos tempos, havia sido desviada de seu verdadeiro caráter. Por
ignorância o homem preocupou-se em discutir sobre nomes e aparências dos
Mestres, sobre tradições, princípios e seus grupos limitados, esquecendo-se de
que são eles uma só pessoa naquilo que os une.
As mensagens são diferentes umas das outras na aparência externa. Cada
mensagem é transmitida de acordo com o grau de evolução da humanidade,
com o fim de acrescentar um capítulo especial ao curso da sabedoria divina.
Certas leis e princípios eram prescritos pelos Mestres e eram adequados ao país
onde a mensagem era difundida, ao clima, à época, aos costumes, hábitos e
necessidades.
Para poder atrair a humanidade e pudesse ela receber a Mensagem que traziam,
era necessário que os Mestres reivindicassem para si uma posição excepcional.
Alguns desses Mestres eram chamados Avatar, encarnação de Brahma, como
Vishnu, Shiva, Rama e Krishna, enquanto que outros eram chamados de
Payghambar, profeta intercessor. Seus adeptos tinham discussões tolas a
respeito da grandeza de suas pretensões, sobre o que faziam e ensinavam, ou
sobre o modo de vida que levavam, admirando e odiando ao mesmo tempo, de
acordo com suas preferências pessoais.
A Mensagem Divina sempre é enviada à terra através de almas
convenientemente dotadas. Por exemplo, no tempo em que a riqueza era
apreciada, a mensagem foi difundida pelo Rei Salomão. No tempo em que a
beleza era adorada, José, o mais elegante, difundiu a mensagem. Quando a
música era considerada celestial, David propagou a mensagem por meio de
cânticos. Quando havia curiosidade pelos milagres, Moisés trouxe a sua
mensagem. Quando o sacrifício era apreciado em alto grau, Abraão foi
encarregado de trazer a mensagem. Quando a hereditariedade era reconhecida,
Cristo trouxe a mensagem. Quando a democracia tornou-se necessária, Maomé
trouxe sua mensagem como o servo de Deus, um homem igual aos outros, que
vivia no meio de todos. Isso colocou um ponto final na necessidade de outros
profetas, devido à natureza democrática da proclamação e mensagem de
Maomé, que proclamou o la elaha ill’Allah, que significa: nada existe, somente
Deus existe”. Deus constitui todo o ser – sozinho, individual e coletivamente – e
toda alma tem dentro de si a fonte da Mensagem Divina. Por este motivo é que
não há mais necessidade da mediação de uma terceira pessoa como salvador
entre o homem e Deus. O homem já evoluiu bastante para conceber a idéia de
Deus como sendo tudo e tudo sendo Deus e tornou-se suficientemente tolerante
para crer na Mensagem Divina transmitida por uma pessoa igual a ele, sujeita a
nascer e morrer, ter alegrias e tristezas e todas as vicissitudes naturais da vida.
Todos os mestres, de Adão a Maomé, têm sido a encorporização do Mestre
ideal. Ao mencionar-se Jesus Cristo, que disse: “Eu sou Alpha e Ômega, o
princípio e o fim”, não significa que o nome ou a pessoa visível de Jesus Cristo
é Alpha e Ômega, quer dizer que o Espírito-Mestre que existe dentro de Jesus
Cristo é Alpha e Ômega. Esse espírito é que reivindicava ser Alpha e Ômega,
movido por sua realização passada, presente e futura e confiante na sua
eternidade. É o mesmo espírito que falava através de Krishna e dizia:
“Aparecemos na terra quando o dever está corrompido”. Isso foi dito muito antes
da vinda de Cristo. Durante sua absorção divina Maomé disse: “Eu existia muito
antes desta criação e continuarei a existir depois dela ser assimilada”. Consta
das tradições sagradas: “Nós te criamos de Nossa Luz e da tua luz Nós criamos
o universo”. Isso não foi dito referindo-se à pessoa física de Maomé, por cujo
nome era conhecido. Referia-se ao espírito que falava através de todos os lábios
abençoados e, todavia, continuava esse espírito sem ter forma, nome,
nascimento e morte.
Todavia o mundo cego, absorvido pelos fenômenos e impressionado com um
determinado nome e forma, aferra-se a nomes e esquece-se do ser verdadeiro.
Essa ignorância tem separado os filhos dos homens e, tem sido a causa de
muitas divisões. Afasta os homens uns dos outros pelas próprias ilusões, quando
na realidade existe uma só religião, existe um único Mestre e existe um só Deus.
O homem sempre considerou como verdadeira religião a fidelidade ao Mestre
em quem acreditava. Considerava infração à fé crer no Mestre que estava para
vir. A alegoria que se segue trata desse assunto.
O ESPÍRITO DA PROFECIA
Havia um homem que vivia com a mulher e os filhos numa pequena vila. Ouviu
uma voz que veio do fundo de sua alma. Renunciou à vida com a família e partiu
para a floresta, para uma montanha chamada Sinai, levando consigo o filho mais
velho, o único filho já crescido. As crianças que ficaram com a mãe e que tinham
uma vaga lembrança do pai, perguntavam às vezes onde ele estava, ansiosas
por vê-lo. A mãe contou-lhes que o pai havia partido há muito tempo e talvez já
tivesse morrido. Às vezes, para amenizar as saudades dos filhos, ela dizia:
“Talvez seu pai volte ou mande notícias, pois prometeu isso ao partir”. Muitas
vezes as crianças choravam pela ausência do pai, pelo seu silêncio. Quando
sentiam a falta dele, confortavam-se com a esperança “talvez ele volte para ficar
conosco como prometeu”.
Depois de algum tempo a mãe faleceu. As crianças passaram a ter tutores
encarregados de cuidar delas e de administrar os bens deixados pelos pais.
Decorridos alguns anos, quando na face lisa do irmão mais velho que partira
apareceu a barba, quando sua fisionomia alegre foi substituída por uma
expressão séria e sua bonita pele tornou-se escura pela prolongada exposição
ao sol, ele voltou ao lar. Partira com o pai coberto de grandeza e voltava pobre.
Bateu na porta. Os criados não o reconheceram e não lhe permitiram a entrada.
Sua linguagem era diferente. A longa permanência num país estranho tinha feito
com que se esquecesse de tudo. Disse às crianças: “Vinde irmãos, sois os filhos
do meu pai. Vim da parte do nosso pai que está em completa paz e feliz em seu
retiro no deserto, que me enviou para vos transmitir seu amor e sua mensagem,
para que vossas vidas possam se tornar dignas de ser vividas e que tenhais
grande felicidade ao encontrar vosso pai que vos ama intensamente”.
As crianças perguntaram: “Como é possível terdes sido enviado pelo nosso pai
que partiu há tanto tempo e nunca nos enviou qualquer notícia?”. Respondeu o
irmão: “Se vós não podeis compreender, chamai vossa mãe que poderá
explicar”. Mas a mãe havia morrido, dela só ficara a sepultura é nada mais podia
explicar. O irmão voltou a falar: “Consultai vossos tutores. Talvez possam contar-
vos, recordando o passado ou pelo que ouviram de nossa mãe, as palavras que
nosso pai proferiu sobre a minha chegada”. Os tutores tinham se tornado
negligentes, indiferentes, cegos, perfeitamente felizes com a posse de toda
aquela fortuna, desfrutando do tesouro em ouro confiado à sua guarda, usando
seu poder incontestável e tendo completo domínio sobre as crianças. O primeiro
pensamento que os tutores tiveram ao saber que o irmão havia voltado foi de
aborrecimento, mas quando o viram ficaram bastante despreocupados, pois não
viram nele nenhum vestígio do que havia sido. Como notaram que ele não tinha
poder nem riqueza e estava completamente mudado na aparência, nas roupas
que usava, enfim, em tudo, não lhe deram a mínima importância. As crianças
perguntaram ao irmão: “Com que autoridade proclamais ser o filho do nosso pai
que há tanto tempo desapareceu e é bem provável que esteja no céu?”, ao que
ele respondeu: “Eu vos amo, ó filhos do meu pai, embora não possais me
reconhecer. Se não podeis me reconhecer como vosso irmão, tomeis minhas
palavras de ajuda como se fossem as palavras de vosso pai, fazendo o bem na
vida e evitando o mal, pois todo o trabalho tem uma recompensa”.
Os irmãos mais velhos, a quem a vida já havia endurecido, não lhe deram
atenção. Os menores eram ainda muito jovens para compreender, mas os do
meio, ao escutarem as palavras do irmão mais velho, seguiram-no
tranquilamente, conquistados pelo seu magnetismo e encantados com sua
personalidade, de onde jorrava o amor.
Os tutores se alarmaram ao pensar que as crianças confiadas à sua guarda
pudessem abandoná-los e pensaram: “Algum dia, mesmo os que ficaram,
poderão ficar encantados com a magia desse homem e o controle que temos
sobre eles com a posse da riqueza que Ihes pertence, nosso conforto nesta casa,
nossa importância e dignidade, tudo isso ficará diminuído perante seus olhos e,
assim, não podemos mais deixar as coisas como estão”. Resolveram matar o
homem. Incitaram os irmãos que haviam ficado dizendo-lhes que sentiam
piedade pelos queridos irmãos que haviam se extraviado e tinham abandonado
o lar e o conforto a que estavam habituados, fazendo-lhes ver que as
reivindicações do irmão mais velho não tinham nenhum fundamento.
Procuraram o homem, prenderam-no, amarraram seus braços e pernas e
jogaram-no no mar. As crianças que o consideravam seu guia e irmão choraram
e se lamentaram. O irmão consolou-os: “Voltarei para junto de vós, ó filhos de
meu pai. Não percam as esperanças. O que vós não compreendeis por serdes
jovens vos será ensinado plenamente. Como este povo comportou-se comigo de
uma maneira tão cruel, ser-lhes-á mostrado o que acontece com os que não
deram atenção à mensagem do nosso pai trazida pelo próprio filho. Vós sereis
iluminados, ó filhos de meu pai, com a mesma luz que me trouxe aqui para vos
ajudar”.
Esse homem era exímio nadador. O mar não tinha poder para afogá-lo. Deu a
impressão de ter afundado, mas livrou as mãos e pés das cordas com que o
haviam amarrado, ergueu-se acima das águas e começou a nadar
magistralmente como havia aprendido. Partiu ao encontro do pai no deserto,
contou-lhe as experiências de sua longa jornada, demonstrou seu amor e desejo
de obedecer à vontade do pai e cumprir todos os seus mandamentos, ir
novamente ao encontro dos filhos de seu pai com redobrada força e poder, a fim
de conduzi-los ao ideal que era o único desejo do pai.
Depois de alguns anos novamente apareceu um portador da mensagem do pai.
Não insistiu em provar que era o filho do pai, mas tentou ajudar os irmãos,
guiando-os para que alcançassem o ideal prescrito pelo pai. Os tutores, que já
haviam sido importunados pelo outro homem que chegara e partira, passaram a
insultá-lo. Apedrejaram-no e afastaram-no para longe de sua presença, mas ele,
com o poder, a força e a coragem renovados, tendo acabado de chegar e
estando ainda sob a influência poderosa do pai, defendeu-se corajosamente com
a espada e o escudo e refugiou-se entre os irmãos que o tinham seguido e
simpatizado com ele na visita anterior, que lhe disseram: “Não há dúvida de que
aquele que veio antes de vós e que nossos irmãos não reconheceram e atiraram
no mar, foi enviado por nosso pai. Estávamos aguardando sua chegada, pois
prometeu voltar”. Respondeu ele: “Fui eu quem prometeu. Voltei para perto de
nosso pai e retorno agora, porque a promessa que vos fiz era de duas espécies:
“Voltarei” – disse àqueles que souberam me reconhecer apesar da roupa que
usava, diferente mas adequada àquele tempo e condições; Enviarei um outro
ou Um outro virá – disse para os que provavelmente ficaram confusos diante
de minha aparência exterior. Disse-lhes que não recusassem a palavra de
orientação enviada por nosso mui amado pai”. Suas palavras foram bem
compreendidas, mas houve relutância em reconhecê-lo como o primeiro enviado
com quem tinham se avistado e cuja volta aguardavam. Ele falava, suas obras
mostravam os sinais do pai, mas os irmãos aferravam-se à imagem do enviado
anterior e esqueciam suas palavras e esqueciam o pai.
As crianças menores, porém, que não o conheciam, sentiam que havia entre
eles um parentesco sanguíneo, pois não só seus corações não estavam
empedernidos como suas idéias não estavam muito enraizadas. Amaram-no e
reconheceram-no. Sua experiência agora era muito maior que a experiência da
vez anterior, ocasião em que os outros irmãos, insuflados e influenciados pelos
tutores, haviam lutado e se rebelado contra tudo que havia feito. Apesar de toda
resistência e sofrimento, guiou os filhos do seu pai, tantos quantos lhe foi
possível guiar, até que o nome do pai fosse novamente glorificado e seus irmãos,
direta ou indiretamente, fossem conduzidos através das complicações do mundo
e dos segredos do céu.
Esta história é uma descrição do que aconteceu na vida dos Mensageiros,
especialmente Jesus Cristo e Maomé, e as palavras Pai, Filho e Irmão são
simples metáforas. Sempre houve um Mestre e Ele será sempre o Único Mestre.
Todos os nomes combatidos pelo mundo são os nomes usados pelo Mestre e
todas as formas físicas dos seres adorados pelo mundo que buscam a Verdade,
são Suas formas. Assim, embora haja tolos que não aceitem a Mensagem,
existem os sábios que a aceitam.
ALGUNS TERMOS ESOTÉRICOS
A inteligência tem dois aspectos: o intelecto e a sabedoria.
INTELECTO é o conhecimento dos nomes e formas, de seu caráter e natureza,
adquirido no mundo exterior. Surge numa criancinha ainda no berço, quando
começa a ficar curiosa a respeito de tudo que vê. A criança armazena na mente
as diferentes formas e imagens que vê e as reconhece como complemento de
seu conhecimento da variedade das formas. Por este meio o homem recolhe na
mente o conhecimento das inúmeras formas do mundo inteiro e conserva-as.
Algumas destacam-se luminosamente, predominam e encobrem as outras. O
homem retém também as formas que lhe interessam. A natureza das formas é
a predominância de umas sobre as outras, na proporção de sua concretização
material. Quanto mais concretas forem as formas, mais luminosas parecem ser.
Assim sendo, o homem intelectual tem interesse na variedade das formas e sua
lei de mutações. Como o conhecimento é o alimento da alma, o homem
intelectual pelo menos torna-se vivamente interessado em conhecer nomes e
formas e chama a isso aprender. Aprender passa a constituir o seu mundo,
embora isso não lhe dê nunca um senso de conforto imutável, nem consiga ele
uma paz duradoura.
SABEDORIA é o contrário do conhecimento acima mencionado. O
conhecimento é iluminado pela luz interior e chega com a maturidade da alma,
quando a visão se abre para a semelhança que existe em todas as coisas e
seres e para a unidade dos nomes e formas. O sábio penetra no espírito de todas
as coisas. Vê o humano no macho e na fêmea e na origem racial que une as
nações. Vê o humano em todos os povos e a imanência divina em todas as
coisas do universo, até que a visão de todos os seres se torne para ele na visão
do Único Ser, o Deus muito belo e muito amado.
Ao dar uma definição de alguns termos usados no esoterismo, podemos dizer
que o estado consciente é o despertar da faculdade do conhecimento.
Conhecimento é aquilo que a consciência é, cônscia. Consciência é um
sentimento que nasce quando a consciência conserva à sua frente numa
balança, de um lado uma ação, e do outro lado um ideal. Inteligência é a
faculdade da consciência de agarrar e aprender, a qual por todos os meios
reconhece, distingue, percebe e concebe tudo o que existe à volta.
IGNORÂNCIA é o estado da mente quando. está na escuridão.
Quando as vibrações mentais fluem para o plano astral sem uma direção
consciente, chamam-se Imaginação. Quando têm uma direção consciente,
chamam-se Pensamento. Quando a imaginação trabalha durante o sono,
chama-se Sonho.
IMPRESSÃO é um sentimento que surge como uma reação, quando recebemos
um reflexo do mundo exterior (físico, mental ou astral).
INTUIÇÃO é uma mensagem interior, dada em forma de advertência ou
orientação, que é percebida pela mente independentemente de qualquer fonte
exterior.
INSPIRAÇÃO é o aparecimento de uma corrente vinda do fundo do coração dos
djins e que se manifesta no campo da poesia, da música, da pintura, da escultura
ou de outra arte.
VISÃO é um sonho espiritual que se assiste acordado ou adormecido. Chama-
se sonho porque o esplendor da visão dá ao vidente impressão de estar meio
adormecido, mesmo estando acordado.
REVELAÇÃO é o descobrimento do ser interior. A consciência, através da
manifestação, ao chegar à superfície, volta as costas para o mundo interior, cuja
visão assim se perde para ela, mas quando a consciência começa a olhar para
o interior, descobre o mundo invisível e Choudatabaq ou os 14 planos, que são
constituídos de 7 céus e 7 terras, são revelados. Está escrito no Corão: “O véu
será retirado dos teus olhos e tua visão tornar-se-á penetrante”.
ANIQUILAMENTO (Fanà) é a mesma coisa que perder o falso ego (Nafs), o que
novamente culmina no que se chama Vida Eterna Baqà.
ALIF (primeira letra do alfabeto árabe, que se escreve como um traço vertical).
No livro sobre a vida de Bullah Shah, o grande santo de Panjab, há uma
passagem muito instrutiva sobre os primeiros ensinamentos que recebeu
quando foi à escola com os meninos de sua idade. O professor ensinou-lhes a
primeira letra do alfabeto árabe, Alif. Os outros meninos da classe aprenderam
todo o alfabeto, enquanto Bullah Shah continuava a se aperfeiçoar na primeira
letra. Depois de algumas semanas o professor viu que o menino não se
adiantava e não passava da primeira letra Alif. Achou que era um menino
deficiente. Mandou-o de volta à casa dos pais com o seguinte bilhete: “Seu filho
é deficiente. Não posso ensinar-lhe”.
Os pais fizeram pelo filho tudo que puderam. Colocaram-no sob a direção de
vários professores, mas não fez nenhum progresso. Ficaram desapontados. Por
fim o menino fugiu de casa para não ser um fardo para a família. Foi viver na
floresta e passou a ver a manifestação do Alif na floresta; havia tomado a forma
da grama, da folha, da árvore, do galho, da fruta e da flor. O mesmo Alif
manifestava-se como montanha e como morro, como pedra e como rocha.
Presenciou o mesmo Alif como germe, pássaro e animais. Viu o Alif em si próprio
e nos outros. Pensava em um, via um, sentia um, realizava um. Nada mais que
isso.
Depois de ter aprendido bem essa lição voltou para cumprimentar seu velho
mestre, que o havia expulsado da escola. O mestre, absorvido na visão da
multiplicidade das formas, já havia esquecido aquele aluno, mas Bullah Shah
não podia esquecer seu velho professor, que lhe havia ensinado a primeira e a
mais inspirada das lições, que tinha enchido quase toda a sua vida. Curvou-se
humildemente perante o mestre e lhe disse: “Preparei a lição que vós tão
bondosamente me ensinastes. Podereis ensinar-me mais alguma coisa que
deva ser aprendida?” O professor achou graça e pensou: “Depois de tanto tempo
este simplório ainda se lembra de mim”. Bullah Shah pediu permissão para
escrever a lição e o professor zombeteiramente respondeu: “Escreva-a naquela
parede”. Bullah Shah escreveu o sinal do Alif na parede e ela se partiu ao meio.
O professor ficou atônito com o milagre assombroso e disse: “Tu és meu mestre.
O que aprendeste com a letra Alif eu nunca consegui aprender com todo meu
saber”. E Bullah Shah cantou uma canção cuja letra é a seguinte:
Amigo, abandona agora teu conhecimento,
Um Alif é tudo de que necessitas.
Sobrecarregastes minha mente ao ensinar
E enchestes teu quarto de livros.
Mas o verdadeiro conhecimento perdeu-se na busca do falso.
Assim, amigo, abandona agora a busca do teu saber.
Todas as formas parecem derivadas de outras e todos os números são derivados
da letra Alif, uma linha vertical, que originariamente foi derivada de um ponto e
representa um zero, nada. (Em árabe o zero escreve-se como ponto.) É natural
que todos nós quando escrevemos façamos um ponto logo que a pena toca o
papel. As letras que formam as palavras escondem sua origem. Da mesma
maneira a origem do Único Ser está oculta na Sua manifestação. É por este
motivo que Allah, cujo nome vem de Alif, está oculto sob Sua própria
manifestação. A mesma forma da letra Alif é o número um. Em ambos os
aspectos essa forma revela seu significado, cujo significado é visto na natureza
em várias formas e em todos os aspectos. É como escreveu Omar Khayyám:
Talvez um fio de cabelo divida o falso e o verdadeiro.
Um simples Alif seria a chave – se a pudesses encontrar – para a casa do tesouro
e, quem sabe, também para a casa do Mestre.
Minha alma falou: “Desejo o conhecimento místico.
Se estiver em teu poder, ensina-me”.
Falei eu: “Alif”.
A alma respondeu: “Não digas mais nada;
Quando se está na própria casa uma só letra basta”.
“SUMA”, A MÚSICA DOS SUFIS
Todas as pessoas que conhecem os Sufis e o Sufismo sabem que a música
representa um grande papel nas suas realizações espirituais. Uma escola Sufi
especial – Chishtis – tem grande interesse na música. Chamam a música de
Ghiza-i-ruh, o alimento da alma e ouvem o Qawwali, cânticos especiais
cantados durante a cerimônia Suma, uma assembléia contemplativa musical.
Nessa assembléia é como se existisse uma vida poderosíssima raramente
encontrada em qualquer outro lugar. A atmosfera fica carregada de magnetismo,
harmonia e paz, emitidos pelas almas iluminadas presentes à cerimônia. O
Shaikh ou o Mestre, senta-se no centro e os demais Sufis sentam-se à sua volta.
Um após o outro invocam os nomes sagrados de Deus, repetindo Suras do
Corão, alternadamente. É uma introdução para afinar os corações dos presentes
com seus próprios diapasões, corações que já estão preparados pelo Zikr, a
contemplação esotérica.
O método de contemplação dos Sufis coloca seus corações em ritmo,
regularizando até a circulação e as pulsações. Todo o mecanismo do corpo
torna-se rítmico. Quando a mente também entra em ritmo, despertada que foi
para se integrar no tom da música, todo o ser do Sufi torna-se musical. É por
este motivo que o Sufi pode se harmonizar com cada um em particular e com
todos. A música faz com que todas as coisas do mundo se tornem vivas para o
Sufi e ele próprio está vivo para tudo. Começa a compreender que a vida é uma
coisa morta para muitas pessoas e que existem seres neste mundo que estão
mortos para a vida.
Há graus diferentes de evolução e por isso os versos cantados pelo Qawwals
(cantores da cerimônia Suma) são de várias espécies. Alguns versos louvam a
beleza do ideal que os Sufis experimentam ao atingir o estágio Fana-fi-Shaikh.
Nesse estágio incluem-se os que consideram a imanência divina como o ideal,
caminhando na terra.
Há versos que falam dos altos méritos do “ideal-no-nome-e-não-na-forma”, que
atraem os que estão no estágio Fanà-fi-Rasul. Não viram o ideal, não ouviram
sua voz, mas conheceram e amaram esse ideal, o único que existe e até agora
desconhecido.
Há versos que falam do ideal acima dos nomes e formas. Os que estão no
estágio Fanà-fi-Allah são os que se integram nesses versos. Têm consciência
do seu ideal acima dos nomes e das formas, das qualidades e dos méritos, ideal
esse que não pode ser confinado no conhecimento, porque está acima de todas
as limitações. Muitas vezes o advento do ideal é expresso em versos
descrevendo a doçura da voz, a beleza do semblante, a graça dos movimentos,
o louvor, os méritos, as qualidades e os sedutores caminhos do ideal. Há
também versos que falam do amor do que ama, da sua agonia com a separação,
sua prudência na presença da bem-amada, sua humildade, seus ciúmes e
rivalidades, todas as vicissitudes naturais de um amante. É uma combinação de
poesia, música e arte. Não é uma simples canção. Cria uma visão total do reino
da música na mente do Sufi, que é capaz de visualizá-la em ambientes positivos.
Em outras palavras, o Sufi com o auxílio da música cria na imaginação sua visão
ideal.
Os cânticos Qawwali expressam a natureza do amor, do amante e da bem-
amada. Nesses cânticos a poesia do Sufi supera os poemas de amor conhecidos
do mundo, pois nessa poesia é revelado o segredo do amor, do amante e da
bem-amada, três em uma só pessoa. Afora a filosofia do ser total, pode-se notar
a delicadeza e a complexidade dos poemas Sufis, ricos de coisas convencionais
e ornados de metáforas. Hafiz, Rumi, Jami e muitos outros poetas Sufis falaram
do segredo do ser interior e exterior usando a terminologia do amor.
Os Qawwals, os cantores, cantam os versos de forma clara, para que cada
palavra seja inteligível aos participantes e para que a música não esconda a
poesia. Os que tocam a tabla, espécie de tambor Indiano, e que acompanha os
cantores, dão ênfase aos acentos e mantêm um ritmo uniforme, para que o eu
do Sufi, já afinado com a música, possa se unir ao ritmo e harmonia da música.
Nessas ocasiões o estado do Sufi se modifica. Sua natureza emocional nesses
momentos age plenamente. Sua alegria e sentimento não podem ser explicados.
As palavras são inadequadas para expressá-los. Esse estado é chamado Hál ou
Wajad, a êxtase sagrada, e é olhado com muito respeito pelas pessoas
presentes à assembléia. Wajad significa presença e Hál significa estado.
O estado de êxtase não é diferente do estado natural do homem quando se
comove ao ouvir uma palavra bondosa proferida por alguém, quando é levado
às lágrimas ao se separar de quem ama, quando parte o objeto de seus amores
ou quando se sente arrebatado com a chegada da bem-amada há tanto tempo
esperada. Em se tratando de um Sufi esse sentimento torna-se sagrado, já que
seu ideal é mais elevado.
Peregrinação é a mesma coisa que uma viagem comum. A única diferença está
no objetivo. Quando se viaja, a finalidade é mundana, enquanto que a
peregrinação é feita com um objetivo sagrado. Algumas vezes ao ouvir música,
o Sufi fica profundamente comovido, outras vezes as lágrimas dão vazão aos
seus sentimentos e muitas vezes todo o seu ser, cheio de música e alegria,
expressa-se em movimentos que, na terminologia Sufi, chama-se Raqs.
Quando o homem analisa o mundo objetivo e descobre o ser interior, sua
primeira e última lição é que toda a visão da vida é criação do amor. Sendo o
amor vida, fará com o tempo que tudo seja nele absorvido.
O homem que ama a Deus, cujo coração está cheio de devoção, é o que pode
se comunicar com Deus, não o que faz um esforço intelectual para analisar Deus.
Em outras palavras, o que ama a Deus é o que pode se comunicar com Ele, não
o que quer estudar a natureza de Deus. O eu e o tu dividem e, não obstante, o
eu e o tu constituem as condições necessárias para o amor. Embora o eu e o tu
dividam a vida em duas, o amor une os dois pela corrente que se estabelece
entre eles. Chamamos essa corrente de comunhão. Ela flui entre o homem e
Deus. Para responder às perguntas: “O que é Deus? O que é homem?” podemos
dizer que a alma, consciente de sua existência limitada é o homem. A alma
refletida pela visão do ilimitado é Deus. Em palavras mais simples: o homem
consciente de si mesmo é homem e o homem consciente do seu ideal mais
elevado é Deus. Pela comunhão entre os dois, com o tempo ambos passam a
ser um só, pois na realidade eles já são um. Entretanto, a alegria da comunhão
é ainda muito maior do que a alegria da união, pois toda a alegria da vida reside
no pensamento do eu e do tu.
Tudo que o homem considera belo, precioso e bom não se encontra
necessariamente numa coisa ou numa pessoa: é encontrado no seu ideal. O
objeto ou a pessoa fazem o homem criar na mente a beleza, o valor e a bondade.
O homem crê em Deus e faz de Deus o ideal de sua adoração para poder
comungar com alguém, ter alguém para quem possa levantar os olhos e
depositar inteira confiança. Acredita que Deus está acima deste mundo indigno
de confiança e que pode confiar na Sua misericórdia, ao ver à sua volta apenas
o egoísmo. Este é o ideal que, representado por uma pedra e colocado num altar,
chama-se ídolo de Deus. Quando o mesmo ideal é levado a um plano mais
elevado e é colocado no altar do coração, passa a ser o ideal de Deus, com
Quem o crente entra em comunhão e com cuja visão sente-se feliz, tão feliz
como pode alguém ser feliz na companhia do Rei do Universo.
Quando este ideal é transportado para um plano ainda mais elevado, penetra no
real e a verdadeira luz manifesta-se ao homem piedoso. O que já era um crente
se transforma no homem que atingiu a realização de Deus.
TERCEIRA PARTE
Os Sufis
I
O que é um Sufi? Estritamente falando, todo aquele que procura a Verdade
eterna é realmente um Sufi, quer tenha esse nome ou não. Como, porém, o
homem procura a Verdade de acordo com seu ponto de vista, frequentemente
acha difícil acreditar que os outros, tendo pontos de vista diferentes, estão
procurando a mesma Verdade e cheguem a ela embora em graus diferentes.
Este é realmente o ponto de vista do Sufi, diferente dos outros somente pelos
constantes esforços que faz para compreender que cada um, seguindo seu
próprio gênero de vida, ajusta-se ao esquema geral e por fim alcança não só seu
próprio objetivo, como o objetivo final de toda a humanidade.
Assim, cada um pode ser chamado de Sufi, quer esteja procurando compreender
a vida quer esteja disposto a acreditar que todos os demais seres humanos
também acharão e tocarão o mesmo ideal. Quando uma pessoa opõe-se ou
impede a expressão de um grande ideal e está pouco disposta a acreditar que
se unirá aos seus semelhantes, logo que tiver penetrado profunda e
suficientemente na verdadeira alma, está impedindo a si mesma realizar o
ilimitado. Todas as crenças são simplesmente graus de clareza da visão. Todas
fazem parte do mesmo oceano da verdade. Quanto mais for isso compreendido,
mais fácil será ver a verdadeira relação existente entre todas as crenças e mais
vasta será nossa visão de um e único grande oceano.
As limitações e barreiras são inevitáveis na vida humana. Formas e convenções
são naturais e necessárias, mas não há dúvida que elas dividem a humanidade.
Sábio é aquele que se comunica com todos apesar das barreiras.
Qual é a crença do Sufi em relação à vinda de um Mestre Mundial ou, como
dizem alguns, à segunda vinda de Cristo? O Sufi é livre em suas crenças e
descrenças e dá completa liberdade aos outros de ter opiniões próprias. Não há
dúvida alguma que, se um indivíduo ou uma multidão acreditarem que virá um
Mestre ou um Reformador, certamente que esse Mestre ou Reformador virá para
eles. Da mesma forma, se outros não acreditarem na sua vinda, para esses o
Mestre ou o Reformador não virá. Para os que esperam que o Mestre venha em
forma humana, um homem trará a Mensagem. Para os que esperam o Mestre
em forma feminina, uma mulher será portadora da Mensagem. Aqueles que
chamam Deus, Deus aparecerá. Os que batem às portas de Satanás, ele
responde. Há uma resposta para cada apelo. Para o Sufi o Mestre nunca está
ausente, quer venha numa forma ou milhares de formas. O Mestre é sempre um
e o mesmo para o Sufi. Ele o reconhece em tudo. Todos os Mestres que o Sufi
vê são seu único Mestre. Para um Sufi o ser interior, o ser exterior, o reino da
terra, o reino do céu, o ser total, são seu Mestre. Aproveita todos os momentos
de sua vida para adquirir conhecimentos. Para alguns o Mestre já veio e partiu,
para outros o Mestre pode ainda vir, mas para um Sufi o Mestre sempre esteve
com ele e com ele permanecerá eternamente.
Qual a posição do Sufi em relação a Cristo? A pergunta feita pelo próprio Jesus:
“O que pensais vós de Cristo?” por si só fornece a resposta. A ênfase está no
“vós”. Há tantos pensamentos sobre Cristo quantas são as pessoas que os
expressam. O Sufi não se limita a expressar esses pensamentos. Cristo é o
nome do ideal do Sufi ou Rasul, como é chamado em Árabe. Tudo que está
centralizado no Rasul está centralizado no Cristo. As duas concepções são uma
só. Todos os nomes e funções que serviram para criar uma concepção do Cristo,
do Profeta, do Sacerdote, do Rei, do Salvador, do Noivo, do Amado, são
compreendidos pelo Sufi. Pela constante meditação o Sufi realiza todos esses
aspectos do Ser único e mais além, Allah ou Deus.
II
Sobre a iniciação na Ordem Sufi, a primeira tendência do homem é querer saber
algo diferente do que é ensinado abertamente pelo mundo. Sua vontade é
procurar saber alguma coisa que não sabe bem o que é. Sabe que os opostos,
o bem e o mal, o certo e o errado, o amigo e o inimigo, não estão separados uns
dos outros como em geral se pensa.
Sente que seu coração está mais predisposto à compaixão que nunca. Seu
senso de justiça deseja julgar primeiro a si próprio antes de julgar os outros. Tudo
isso prova que o homem deve procurar um guia que o conduza através desses
caminhos desconhecidos. Principalmente depois de ter lido ou ouvido falar algo
sobre Sufismo, pensa que já é um verdadeiro Sufi, que está sintonizado com o
círculo Sufi. Sente-se então atraído para o espírito do Mestre, de cujas mãos
deve receber a iniciação. Depois de estudar os livros publicados pelo Movimento
Sufi, ou depois de falar com o Murshid (Mestre), surge nele o sentimento de que
a Mensagem é autêntica e verdadeira.
Surge então a pergunta: o que significa iniciação? Iniciação ou Bayat, em termos
Sufis, antes de mais nada tem algo a ver com o relacionamento entre o discípulo
e o Mestre. Murshid ou Mestre é o conselheiro do discípulo no caminho
espiritual. Nada dá ou ensina ao discípulo (mureed), porque não pode dar o que
o discípulo já possui e não pode ensinar o que a alma do discípulo já sabe. O
que o Murshid faz na vida do discípulo é mostrar-lhe como ele próprio pode
desimpedir o caminho que conduz à luz que existe dentro do seu ser usando
seus próprios recursos. Este é o único objetivo da vinda do homem à terra. O
objetivo da vida pode ser obtido sem um guia especial, mas tentar isso dessa
maneira é o mesmo que um navio tentasse atravessar o oceano sem uma
bússola. Receber iniciação, portanto, significa entregar-se confiante nas mãos
de um guia espiritual para assuntos espirituais.
O passo seguinte é decidir o seguinte: “se devo ter um guia, quem será ele?”
Não há um carimbo para identificar a espiritualidade, nem um selo de perfeição
estampado na testa de ninguém permitindo que se possa dizer: “Esta é a pessoa
de cujas mãos receberei iniciação”. Para constatar o mérito não podem ser
levadas em consideração nem a aparência nem as palavras. A única coisa em
que se deve confiar é na atração que a alma da pessoa exerce sobre nosso
coração. Mesmo assim é bom se convencer se é o mal atraindo a maldade que
existe dentro da pessoa, ou se é Deus atraindo o que existe de bom dentro dela.
Há três maneiras de confiar: a primeira é não confiar em alguém até que com o
tempo esse alguém prove ser digno de confiança. Os que confiam desta maneira
não tiram nenhum proveito no caminho espiritual, porque continuarão agindo
como espiões, experimentando e testando seu Mestre com os olhos focalizados
para baixo. Assim fazendo, conseguem ver apenas o ser imperfeito do Mestre e
jamais poderão ver a beleza do seu ser perfeito, que está acima e além dos
limites de sua visão.
A segunda maneira de confiar é ter confiança e continuar confiando até que a
pessoa prove ser indigna de tal confiança. Os que confiam desta forma estão em
melhores condições que os primeiros, pois a confiança que depositam torna sua
visão aguçada e são muito maiores suas perspectivas de desenvolvimento.
contanto que ao longo da jornada sejam guiados pela inteligência.
A terceira maneira de confiar é ter absoluta confiança numa pessoa e continuar
confiando até que tal confiança prove ser verdadeira. Esta é a confiança dos
devotos. São esses discípulos que fazem o Murshid. São esses adoradores que
fazem Deus. “Pela fé cria-se uma linguagem para a rocha que fala conosco como
se fosse Deus, mas quando falta fé, até Deus, o Ser Eterno, está morto como
uma rocha”. As palavras proferidas por um Murshid são tão inúteis para uma
mente incrédula como inútil é um remédio para o doente descrente.
Para ser um iniciado na Ordem Sufi, pois, é preciso ter boa vontade para
concordar com seus ensinamentos e objetivos, boa vontade para deixar de dar
importância às diferenças existentes nas várias crenças do mundo e ver em
todos os Mestres a personificação do Espírito Divino. É preciso que o candidato
não esteja seguindo outro curso de treinamento espiritual. Se já segue um
treinamento espiritual, porque ir a um outro Mestre? Seria o mesmo que navegar
em dois barcos com um pé em cada barco. Cada barco segue uma rota diferente
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Hazrat Inayat Khan A Mensagem Sufi - IV

  • 1. HAZRAT INAYAT KHAN A MENSAGEM SUFI-IV O Caminho da Iluminação A Linguagem Cósmica UNIVERSALISMO
  • 2.
  • 3. Sumário O Mensageiro Que é um Sufi? O Emblema Sufi? O Objetivo do Movimento Sufi A Tradição do Sufismo Mensagem Sufi O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO PRIMEIRA PARTE – PENSAMENTOS SUFIS I – Existe um Deus, o Eterno, o Único Ser, ninguém existe senão Ele II – Existe um Mestre, o Espírito-Guia de todas as almas, que constantemente conduz os que o seguem para a luz III – Existe um livro santo, o sagrado manuscrito da natureza, a única escritura que pode iluminar o leitor IV – Existe uma religião, o inabalável progresso na direção retilínea para o ideal, que preenche o objetivo da existência de toda alma V – Existe uma lei da reciprocidade, que pode ser observada por uma consciência isenta de egoísmo aliada a um senso de vigilante justiça VI – Existe uma fraternidade, a fraternidade humana, que une os filhos da terra indiscriminadamente na paternidade de Deus VII – Existe uma moral, o amor que brota da autonegação e floresce em obras de beneficência VIII – Existe um objeto de louvor, a beleza, que eleva o coração de seus adoradores através de todos os aspectos, do visível ao invisível IX – Existe uma verdade, o verdadeiro conhecimento do nosso ser interior e exterior, que é a essência de toda sabedoria
  • 4. X – Existe um caminho, o aniquilamento do falso ego no ego real. Esse caminho leva o mortal à imortalidade, onde existe a perfeição SEGUNDA PARTE – ALGUNS ASPECTOS DO SUFISMO O objetivo da vida A vida terrena Vocação Nur-Zahur Os Mestres O espírito da profecia Alguns termos esotéricos Suma, a música dos Sufis TERCEIRA PARTE – OS SUFIS I II III IV A LINGUAGEM CÓSMICA Capítulo I – Das Vozes Capítulo II – Das Vozes (continuação) Capítulo III – Impressões Capítulo IV – Magnetismo dos seres e objetos Capítulo V – A influência das obras de arte Capítulo VI – A vida do pensamento Capítulo VII – Pensamento e imaginação Capítulo VIII – A Memória Capítulo IX – A Vontade Capítulo X – A Razão
  • 5. Capítulo XI – O Ego Capítulo XII – Mente e coração Capítulo XIII – Intuição Capítulo XIV – Inspiração
  • 6. O Mensageiro Pir-O-Murshid Inayat Khan, o iniciador do Movimento Sufi, e fundador da respectiva Ordem, nasceu em Baroda, Índia do Sul, a 5 de julho de 1882. Suas qualidades excepcionais, talentos artísticos e atitudes espirituais eram evidentes desde os primeiros anos de sua mocidade. Seus poemas são inspirados e tocam ao sublime. Músico, tornou-se famoso em toda a Índia, tanto como compositor quanto como cantor, e foi honrado pelos potentados com títulos, jóias e dinheiro. Estudou música, poesia, filosofia, religião comparada e misticismo com os maiores mestres da sua terra, e então, sentindo comandá-lo, no seu íntimo, a força impulsiva do Divino, correspondeu à exortação do seu Senhor, “Na verdade tu és abençoado por Allah, o mais Misericordioso e Compassivo Deus; segue meu Filho, junta o Oriente com o Ocidente, dá ao mundo a Divina Mensagem de Amor, Harmonia e Beleza”. Pir-O-Murshid Inayat Khan, alma verdadeiramente iluminada e mística, deixou a sua terra natal em 1910, e viajou pela Europa e Estados Unidos da América, recebendo constantemente a Divina Inspiração e Revelação, que ele interpretava em linguagem humana e ofertava ao mundo. Os seus ensinamentos incorporam a riqueza do saber que tem sido entesourado no Oriente durante séculos, satisfazem a fome espiritual de toda alma e formam um treino seguro e sistemático a respeito do desenvolvimento da consciência no rumo dessa compreensão da Presença de Deus, que é a meta da humanidade. Pir-O-Murshid Inayat Khan fundou e organizou o Movimento Sufi e deu-lhe completa intuição em todos os seus cinco ramos de atividade. Depois, conhecendo que a sua Missão tinha sido cumprida, obedeceu ao Chamado de Retorno e voltou para a Índia, no fim de 1926. Depois de fazer uma série de conferências na Universidade de Delhi, capital da Índia Inglesa, e de ser reconhecido pelo Chefe dos Sufis na Índia, Shaikh Nizami como seu Mestre, de todos os Sufis, conheceu que a tarefa da sua vida estava completa. Mais tarde, como predissera, passou alguns dias no estado de êxtase, conhecido como Samadhi e finalmente deixou o seu corpo físico a 5 de fevereiro de 1927. Seus restos mortais jazem numa tumba entre dois Santos Sufis, em Delhi.
  • 7. Que é um Sufi? Que é um Sufi? – É aquele que não se separa dos outros pela opinião ou dogma e que compreende que o coração é o Sacrário de Deus. Que deseja ele? – Remover o falso eu e descobrir dentro dele Deus. Que ensina ele? – Felicidade. Que procura ele? – Iluminação. Que enxerga ele? – Harmonia. Que outorga ele? – Amor a todas as coisas criadas. Que obtém ele? – Uma força maior do amor. Que perde ele? – O egoísmo. Que acha ele? – Deus.
  • 8. O Emblema Sufi O Emblema do Movimento Sufi – um coração alado – simboliza os seus ideais. O coração é tomado em ambos os sentidos, o celeste e o terreno. Como o centro do ser de uma pessoa, é um receptáculo na terra, do Espírito Divino, e se eleva ao Reino do Céu quando corresponde ao Espírito de Deus, que eternamente procura guiar a humanidade. A elevação do coração é indicada pelas asas abertas, e estas representam, respectivamente, desprendimento e independência; desprendimento dos gozos mundanos e da arbitrária opinião, e independência na consciência do Amor, da Sabedoria e do Poder de Deus. O Crescente no coração simboliza correspondência; é o coração correspondendo ao Espírito de Deus, que se levanta. O Crescente é o símbolo da correspondência, porque vai ficando mais cheio, correspondendo mais e mais ao sol. A luz, que se vê na lua crescente, é a luz do sol, e, aumentando correspondentemente, se torna ela cheia da luz do sol. Semelhantemente, a alma nobilitada sempre se torna uma expressão mais plena das qualidades divinas. A Estrela no centro do Coração representa a centelha Divina, que se reflete no coração humano com amor, e, pela virtude do sopro Divino, pode ser soprada até que se levante uma chama para iluminar o caminho da vida de uma pessoa.
  • 9. O Objetivo do Movimento Sufi O objetivo do Movimento Sufi é trabalhar em prol da unidade. Seu objetivo principal é atrair a humanidade, hoje dividida em tantos setores diferentes, para que os homens se aproximem cada vez mais e compreendam mais profundamente a vida. É uma preparação para um serviço de âmbito mundial, usando três caminhos principais: um dos caminhos é a compreensão filosófica da vida, outro é estabelecer uma fraternidade entre raças, nações e crenças, e o terceiro caminho é satisfazer a mais premente necessidade do mundo, a religião para os dias atuais. Sua finalidade é dar à humanidade aquela religião natural, que sempre foi a religião dela: respeitar todas as crenças, todas as escrituras e todos os mestres. A Mensagem Sufi é um eco da eterna mensagem divina, que sempre foi transmitida e sempre será dada ao mundo para iluminar a humanidade. Não é uma nova religião, é a mesma mensagem dada à humanidade. É a continuação da mesma religião antiga, que sempre existiu e sempre existirá, uma religião que pertence a todos os mestres e a todas as escrituras. É a continuação de todas as grandes religiões que existiram no mundo em épocas diferentes e é uma unificação de todas elas, o que constitui e constituiu sempre o desejo de todos os profetas. O Movimento Sufi é composto de pessoas que possuem o mesmo ideal de servir a Deus e à humanidade, ideal esse que impele os Sufis a devotar uma parte, ou a vida inteira, ao serviço da humanidade, levando-a ao caminho da Verdade. O Movimento Sufi é formado de grupos, cujos membros pertencem a todas as religiões e, portanto, professam religiões diferentes. Todos são benvindos ao Movimento Sufi, quer sejam Cristãos, Budistas, Parsis, Muçulmanos, etc. Não se indaga sobre a fé ou crença de ninguém. Cada um pode continuar a frequentar a sua igreja, a ter sua religião ou credo. Não se obriga ninguém a acreditar em um credo ou dogma em particular. Há liberdade de pensamento. É dada uma orientação pessoal para trilhar o caminho, quer sobre os problemas da vida exterior, quer sobre os problemas da vida interior. Os que fazem parte da escola esotérica do Movimento Sufi recebem, além da orientação pessoal, ensinamentos que são transmitidos somente àqueles que estão preparados para recebê-los. Há sutilezas de idéias, de idéias espirituais, morais ou filosóficas, que não podem ser transmitidas imediatamente a qualquer pessoa, mas que são transmitidas gradativamente àqueles que se mostram suficientemente compenetrados para enveredar no caminho da Verdade. Entretanto, todos aqueles que desejarem pesquisar a Verdade devem se lembrar
  • 10. de uma coisa: o primeiro passo no caminho da Verdade é ser verdadeiro para consigo mesmo. O culto do Movimento Sufi é chamado “Adoração Universal”, porque nesse culto são reverenciados todos os cultos: do Cristão, do Muçulmano, do Hebreu, do Zoroastriano, do Budista, do Hindu. Assim, pois, quem quer a bênção de Jesus Cristo receberá essa bênção do altar, os que procuram a bênção de Moisés receberão a sua bênção, os que desejam a bênção de Buda também a recebem de Buda, e assim sucessivamente, mas aqueles que procuram a bênção de todos os grandes Profetas que vieram ao mundo em épocas diferentes, esses recebem uma bênção global, a bênção de todos os Profetas. O Movimento Sufi não interfere no ideal de ninguém nem na devoção que cada um tem ao seu Mestre. Seria isso um absurdo tão grande como se pensássemos que uma criança pode amar mais a mãe de uma outra criança do que a sua própria mãe. Tem alguém o direito de comparar e colocar em determinado lugar os grandes Mestres ou as Escrituras? Ninguém. Onde podemos colocar o nosso ideal é na devoção de nosso coração ao ideal que adoramos e isso é assunto que só a nós diz respeito. Ninguém pode interferir. Certa vez algumas meninas brincavam e diziam: “Minha mãe é a melhor das mães”, ao que outras retrucavam: “Não, a minha mãe é a melhor”. Todas apresentavam argumentos, mas uma delas, que tinha mais sabedoria do que as outras, disse: “Não é nada disso, o que é adorável é a mãe, seja ela a sua mãe ou a minha mãe”. Interfere o Movimento Sufi na devoção das pessoas aos seus Mestres? Nunca, mas convida as almas a ver que a fonte e a meta de todas as sabedorias é uma só, e que todas as bênçãos que as almas almejam vêm da mesma fonte, pois a verdade é que existe uma só e única fonte. Na “Adoração Universal” os Sufis colocam no altar as Escrituras de todas as religiões enumeradas acima e colocam também velas representando essas religiões. As diversas velas acesas significam nossa adesão aos diferentes Mestres, religiões e escrituras, que ensinaram que existe somente uma luz, embora existam muitas lâmpadas. Não são as lâmpadas que devem entrar primeiramente na mente e sim a luz. É essa luz que deve ser levada em primeiro lugar ao coração. Jesus Cristo trouxe ao mundo o ensinamento da religião da unidade. Os ensinamentos de Moisés e os esforços de Maomé tiveram o mesmo objetivo. Tudo que Buda ensinou, o que Krishna pregou, pode ser resumido no seguinte: existe uma só luz, que é a luz divina, e a direção apontada por essa luz é o caminho que deve ser trilhado pela humanidade.
  • 11. Embora o ideal Sufi seja expresso de muitas maneiras, os Sufis adoram também o ideal do sem forma. A forma serve para ajudar os que precisam ver a forma, pois nossa educação é baseada realmente em nomes e formas. Se não existissem nomes e formas, não teríamos aprendido a conhecer as coisas, mas a finalidade da forma é apenas uma questão do que está atrás da forma. É sempre a mesma e única verdade que existe atrás de todas as religiões. Portanto, o cerimonial do culto Sufi não deixa também de ser um ensinamento, mas todo Sufi é livre de usar ou não usar uma forma. Um Sufi não fica limitado a forma alguma. As formas são usadas pelo Sufi, mas as formas não o aprisionam. No Movimento Sufi não existe sacerdócio no sentido comum da palavra. O sacerdócio é apenas para o cerimonial e para preencher as funções que um sacerdote sempre exerce na vida cotidiana. Os que recebem as ordens no Movimento Sufi são chamados Sirajs e Cherags. Não há distinção entre o elemento masculino e feminino. A alma que se mostrar digna será ordenada. Constitui isso um exemplo para o mundo, mostrando que em todos os lugares – na igreja, na escola, no Parlamento ou na corte – a mulher e o homem juntos é que contribuem para uma evolução completa. O Sufi é ao mesmo tempo um sacerdote, um pregador, um mestre e um aluno de todas as almas que encontra pelo mundo. As preces Sufi Saum e Salat não são preces feitas pelo homem. São preces enviadas do Alto, foram transmitidas da mesma forma que, em cada período de reconstrução espiritual da humanidade, foram transmitidas as demais preces. Essas preces têm poder e trazem bênçãos, especialmente para aqueles que crêem. O que representa uma prece verdadeira? Louvor a Deus. Qual é o significado da palavra louvor? Apreço, abrir o coração cada vez mais à beleza divina representada na manifestação. Nunca seremos bastante gratos. Devemos ensinar às crianças e aos nossos empregados a ter apreço, não para nosso próprio benefício, mas para que eles se beneficiem do ensinamento de que devem dar valor e apreciar as coisas. Se isso não Ihes for ensinado, privá-lo- emos de uma grande virtude, pois a alegria e a felicidade estão no apreço a determinadas coisas ou certas condições. A prece treina a alma para dar maior apreço à bondade de Deus. A prece pode ser feita em silêncio, mas como a natureza de sensação é psicológica, se recitarmos as palavras da prece em voz alta faremos com que elas penetrem no Akasha do corpo, a parte etérea do corpo, e atinjam o plano interior do nosso ser. Assim sendo, as preces repetidas em voz alta têm sobre a alma um efeito maior do que uma prece recitada em silêncio. A prece é dada ao homem para que se beneficie dela e não para beneficiar Deus.
  • 12. A ação da prece também é psicológica, porque produz em cada átomo do nosso corpo, imagens do pensamento que está atrás da prece. Cada átomo do corpo reza, até as células do sangue oram. Todo ser do homem se transforma numa prece. Assim, os movimentos que acompanham as preces têm uma ação psicológica. A cada movimento que fazemos ao dizer as preces, segue-se uma espécie de projeção, que fica impressa em cada átomo do nosso corpo. Nossa circulação é afetada e todo nosso ser é afetado pela circulação, até a nossa pele.
  • 13. A Tradição do Sufismo Pir-O-Murshid Inayat Khan definiu o Sufismo como a filosofia do Amor, da Harmonia e da Beleza. É um reconhecido caminho místico da devoção, tem existido no Oriente há mais de um milhar de anos, mas a sua tradição pode ser rastreada pelo menos até o tempo de Abraão, o pai de quatro grandes religiões, e que foi ele mesmo iniciado no antigo culto religioso do Egito. A Confraria dos Essêneos, existente ao tempo de Jesus, era indubitavelmente Sufi. No sentido verdadeiro da palavra, o Sufismo tem existido desde o nascimento da raça humana e todos os grandes Mensageiros, Profetas, Santos e Mestres hão sido Sufis. Neste aspecto ideal o Senhor Buda foi mais um Sufi do que um Budista, justamente como o Senhor Jesus foi um Sufi antes que um Cristão, porque ambos tornaram realidade a bênção da Consciência de Deus e apontaram o caminho dela para os outros seguirem. No seu mais profundo aspecto, o Sufismo corresponde àquela Companhia de todas as almas iluminadas, que formam a corporação do Mestre, o Espírito de Guia, a que se referem os Místicos Cristãos como a Igreja Oculta, iluminada pela Luz de Cristo, que governa e dirige todas as formas exteriores de religião. Cada época do mundo tem visto almas iluminadas, e assim como é impossível limitar a sabedoria a nenhum período, lugar ou povo, assim também é impossível datar ou localizar a origem do Sufismo.
  • 14. Mensagem Sufi A Mensagem de Deus tem sido enviada à terra aonde quer que o clamor da humanidade chegue a um certo ponto, e tem sido outorgada numa forma apropriada às necessidades do tempo; mas, em essência, é a mesma eternamente. “Deus fala a seus filhos através dos lábios do homem”. Seus Mensageiros Divinos têm sido muitos, e incluem Rama, que trouxe a Mensagem da Sabedoria; Buda com a Mensagem da Compaixão; Zoroastro deu a Mensagem da Pureza; Moisés, a Mensagem da Lei; Cristo foi portador da Mensagem do Sacrifício de Si Mesmo, e Maomé deu a Mensagem da Unidade. A Mensagem da Verdade Divina surgiu para o Mundo Ocidental em 1910 com Pir-O-Murshid Inayat Khan. Ele incorporou numa forma moderna e universal a Essência da Verdade e Sabedoria dos Místicos Sufis do Oriente, e profetizou que o Sufismo se tornaria a religião e Filosofia das futuras gerações. Em si mesmo, o Sufismo não é um culto novo, posto que sua clara exposição da Verdade Divina e da natureza imortal do homem constitui uma Revelação para o mundo. A mensagem Sufi é a resposta Divina ao clamor humano da hora presente por Paz, Amor e Felicidade, e estes ele os dá pela concepção de Deus imanente, não distante, mas presente dentro do coração de cada indivíduo. Não traz novas teorias, ou doutrinas, para se adicionarem àquelas já existentes, que atrapalham a mente humana. O de que o mundo precisa hoje é a mensagem de Amor, Harmonia e Beleza, cuja ausência é a única tragédia da vida. A Mensagem Sufi não dá uma nova lei, mas desperta na humanidade o espírito de fraternidade, com tolerância da parte de cada um para com a religião do outro, com perdão de cada um para a falta do outro; ensina a plenitude de pensamento e a consideração, de maneira a criar e manter a harmonia na Vida. Ensina a servir e ser útil, o que pode, somente, fazer frutífera a vida no mundo, e em que reside a satisfação de cada alma. O Movimento Sufi tem crescido rapidamente durante os ultimas anos, sendo hoje uma organização internacional com a sua sede em Genebra.
  • 15. O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO
  • 16. Sumário O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO PRIMEIRA PARTE Pensamentos Sufis SEGUNDA PARTE Alguns Aspectos do Sufismo: O Objetivo da Vida A Vida Terrena Vocação Nur-Zahur Os Mestres O Espírito da Profecia Alguns Termos Esotéricos Alif Suma, a música dos Sufis TERCEIRA PARTE Os Sufis
  • 17. O CAMINHO DA ILUMINAÇÃO PRIMEIRA PARTE Pensamentos Sufis I – EXISTE UM DEUS, O ETERNO, O ÚNICO SER, NINGUÉM EXISTE SENÃO ELE. O Deus do Sufi é o Deus de todas as crenças, é o Deus de todos. Nomes não fazem diferença alguma para ele. Allah, Deus, Gott, Dieu, Khuda, Brahma ou Bhagivan, todos estes nomes e muitos outros são nomes de Deus. Entretanto, Deus, para o Sufi, está acima da limitação que o nome encerra. O Sufi vê Deus no sol, no fogo, no ídolo que é adorado por diversas seitas e O reconhece em todas as formas do universo, embora saiba que Deus está acima de todas as formas: Deus está em tudo e tudo está em Deus, Deus é o Visível e o Invisível, o Único Ser. Para o Sufi Deus não é somente crença religiosa, Deus é também o ideal mais alto que a mente humana pode conceber. Esquecendo seu ego e aspirando atingir o Ideal Divino, o Sufi caminha incessantemente, durante a vida inteira, na senda do amor e da luz. Em Deus o Sufi vê a perfeição de todas as coisas que estão ao alcance do homem. Seu olhar olha Deus como o amante olha sua bem-amada e aceita tudo na vida como sendo enviado por Deus, com perfeita resignação. Para o Sufi, o nome sagrado de Deus é como um remédio para um doente e o pensamento divino é a bússola que governa o navio até o porto da imortalidade. O ideal de Deus, para o Sufi é como um elevador que o transporta para a meta eterna, em cuja realização vê o único objetivo de sua vida. * II – EXISTE UM MESTRE, O ESPÍRITO-GUIA DE TODAS AS ALMAS, QUE CONSTANTEMENTE CONDUZ, OS QUE O SEGUEM PARA A LUZ. O Sufi compreende que, embora Deus seja a fonte de todos os conhecimentos, da inspiração e da orientação, o homem é o veículo escolhido por Deus para transmitir ao mundo Seu conhecimento. Deus transmite Seu conhecimento por meio de alguém que, aos olhos do mundo, é um homem, mas é Deus em consciência. A alma amadurecida recebe as bênçãos do céu e Deus fala por intermédio dessa alma. Apesar de Deus estar ocupado falando através de todas as coisas, é preciso usar os lábios do homem para falar ao ouvido surdo de
  • 18. muitos homens. Deus tem sempre assim procedido, como podemos verificar na história da humanidade. Todos os grandes Mestres que viveram em épocas passadas, foram esse Espírito-Guia vivendo a vida de Deus em forma humana. Em outras palavras, a forma humana do Espírito-Guia cobria-se com roupagens diferentes que eram usadas pela mesma pessoa. Deus em forma humana parecia diferente em cada uma das vestes com que se cobria. Vemos de um lado Shiva, Rama, Krishna, de outro lado Abraão, Moisés, Jesus, Maomé e outros conhecidos e desconhecidos da história, sempre personificando o mesmo e único Ser. Os que viam o homem e conheciam Deus, reconheciam Deus em qualquer forma ou aspecto exterior em que Ele se manifestava, mas os que viam apenas a aparência não encontravam Deus na forma humana. Para o Sufi, pois, existe apenas um Mestre, embora seja chamado por diversos nomes em vários períodos da história e esse Mestre vem constantemente à Terra para despertar a humanidade do sono, desta vida de ilusões, guiando o homem para a frente, para a perfeição divina. À medida que o Sufi progride, com essa perspectiva em mente, reconhece como mestre não só os santos como os sábios, os tolos, os piedosos e os pecadores e jamais permite que o Mestre – que é apenas Um e o Único Ser, que é assim e sempre será – desapareça de sua visão. A palavra Persa para Mestre é Murshid. O Sufi reconhece o seu Murshid em todos os seres do mundo. Está pronto a aprender do jovem e do velho, do letrado e do iletrado, do rico e do pobre, sem fazer questão de quem recebe o aprendizado. Começa então a ver a luz do Risalat (a tocha da Verdade) brilhando à sua frente em cada ser e em cada coisa do universo. Desta forma vê o Rasul (o Portador da Mensagem Divina) como uma entidade viva, à sua frente. Tem então a visão de Deus, da divindade adorada, em Sua imanência, manifestando-se na natureza. A vida para ele passa a ser uma perfeita revelação, interna e externamente. Não é por outro motivo que, aferrando-se frequentemente à personalidade do seu Mestre particular, proclamando sua superioridade sobre os outros Mestres e aviltando um Mestre igualmente estimado pelos outros, os homens separaram- se uns dos outros e se guerrearam, dando origem às facções e discórdias que a história registra entre os filhos de Deus. O Espírito-Guia pode ser explicado da seguinte forma: assim como no homem existe uma faculdade que o leva para a arte, a música, a poesia, a ciência, também existe nele a faculdade espírito, ou Espírito-Guia. É mais apropriado chamar essa faculdade de espírito, porque ela é a suprema faculdade da qual se originam todas as outras. Assim como notamos que em cada pessoa existe uma faculdade artística mas nem todos são artistas, que todos podem sussurrar uma melodia, mas um entre mil é músico, também cada um de nós possui a
  • 19. faculdade espírito de alguma forma e num grau limitado, mas o Espírito-Guia é encontrado realmente entre alguns poucos da raça humana. Um poeta Sânscrito escreveu: “As jóias são pedras, mas não são encontradas em qualquer lugar; a árvore do sândalo é uma árvore, mas não cresce em qualquer floresta. Assim como há muitos elefantes, mas um só é o rei dos elefantes, também existem seres humanos em todo o universo, mas o verdadeiro ser humano é raramente encontrado”. Quando conseguimos elevar-nos acima dessa faculdade e meditamos sobre o Espírito-Guia, verificamos que ele está consumado no Bodhisatva, o Mestre Espiritual ou Mensageiro Divino. Há o ditado: “O reformador é a criança da civilização, o profeta é seu pai.” Esse espírito sempre existiu e sempre existirá e assim, de tempos em tempos, a Mensagem de Deus é transmitida ao homem. * III – EXISTE UM LIVRO SANTO, O SAGRADO MANUSCRITO DA NATUREZA, A ÚNICA ESCRITURA QUE PODE ILUMINAR O LEITOR. Muitos consideram escrituras sagradas somente certos livros ou documentos escritos pela mão do homem e que foram cuidadosamente preservados como sagrados para entrega à posteridade como revelação divina. Os homens lutam e discutem sobre a autenticidade desses livros, recusando-se a aceitar qualquer outro livro com características semelhantes. Aferram-se, assim, ao livro e perdem o sentido do seu conteúdo, formando diversas seitas. O Sufi em todas as eras sempre respeitou todos esses livros e encontrou no Vedanta, no Zendavesta, na Kabala, na Bíblia, no Corão, enfim, em todas as escrituras sagradas, a mesma Verdade que lê no incorruptível manuscrito da natureza, o único Livro Sagrado, o modelo perfeito e vivo que ensina a lei interior da vida. Diante do manuscrito da natureza todas as escrituras são pequenos tanques d’água comparados com o mar. Aos olhos do homem que sabe ver, cada folha de árvore é uma página do livro sagrado que contém a revelação divina e ele se inspira, em todos os momentos de sua vida na leitura constante e na compreensão da escritura sagrada da natureza. Quando o homem escreve, grava caracteres na rocha, na folha, no papel, na madeira ou no aço. Quando Deus escreve, seus caracteres são as criaturas vivas. Quando os olhos da alma se abrem e a visão se torna penetrante, o Sufi pode ler a lei divina no manuscrito da natureza. O que os Mestres da humanidade ensinaram a seus discípulos foi colhido da mesma fonte. Expressaram-se muito pouco em palavras e preservaram a verdade interior quando não mais estavam presentes para revelá-la.
  • 20. * IV – EXISTE UMA RELIGIÃO, O INABALÁVEL PROGRESSO NA DIREÇÃO RETILÍNEA PARA O IDEAL, QUE PREENCHE O OBJETIVO DA EXISTÊNCIA DE TODA ALMA. Em Sânscrito religião é chamada Dharma, que significa dever. O dever de todo homem é religião. Diz Sá’di: “Toda alma nasce com um determinado objetivo. A luz desse objetivo está acesa na alma”. Isso explica bem o ponto de vista do Sufi que, com sua tolerância, deixa que cada um trilhe seu próprio caminho. Não compara seus princípios com os dos outros e permite que todos tenham liberdade de pensamento, já que ele próprio é um livre pensador. Na concepção do Sufi a religião é o caminho que conduz o homem à realização do seu ideal terreno e celestial. O pecado e a virtude, o certo e o errado, o bem e o mal, não são a mesma coisa para todos os homens: variam de acordo com o grau de evolução e condições de vida de cada um. Assim, o Sufi pouco se importa com o nome da religião ou o lugar da adoração. Todos os lugares são sagrados para adorar Deus e todas as religiões conduzem à religião de sua alma. “Eu TE vi na Ka’ba sagrada e também TE vi no templo do ídolo”. * V – EXISTE UMA LEI DA RECIPROCIDADE, QUE PODE SER OBSERVADA POR UMA CONSCIÊNCIA ISENTA DE EGOÍSMO ALIADA A UM SENSO DE VIGILANTE JUSTIÇA. O homem consome a vida na procura de tudo que lhe parece aproveitável e absorvido no seu egoísmo, com o tempo perde o contato até com seus verdadeiros interesses. O homem instituiu leis que lhe favorecem, pelas quais obtém o máximo dos outros. Chama isso justiça e chama de injustiça apenas o que os outros lhe fazem. O homem não terá uma vida pacífica e harmoniosa com seus semelhantes se não despertar dentro de si o senso de justiça, através de uma consciência completamente isenta de egoísmo. Assim como as autoridades judiciárias intervêm entre duas pessoas em litígio, pois sabem que têm o direito de intervir quando as duas partes estão cegas pelo interesse pessoal, o Poder Todo-Poderoso intervém em todas as disputas, pequenas ou grandes. É a lei da reciprocidade que salva o homem de se expor aos mais altos poderes da justiça, pois um homem prudente tem menor chance de ser levado aos tribunais. O senso de justiça é despertado numa mente perfeitamente sóbria, isto é, em quem está livre da intoxicação da juventude, da força, do poder, da riqueza, do comando, do berço ou posição na vida. Parece haver lucro quando nada se dá mas se toma, ou quando se dá menos e se toma mais, mas em ambos os casos existe na realidade um prejuízo maior que lucro, pois o lucro assim obtido cobre com uma camada o senso íntimo de justiça. Quando grande
  • 21. quantidade dessas camadas cobre a visão, o homem fica cego até diante de seu próprio lucro. É como se permanecesse na sua luz própria. “Quem for cego na Terra continuará cego no outro mundo”. Embora as diversas religiões tenham leis diferentes ao ensinar ao homem como deve agir harmoniosa e pacificamente com seus semelhantes, todas elas contêm esta verdade: “Faça aos outros o que queres que façam a ti”. Ao receber um favor de alguém o Sufi realça o seu valor. Ao aceitar o que lhe fazem demonstra reconhecimento. * VI – EXISTE UMA FRATERNIDADE, A FRATERNIDADE HUMANA, QUE UNE OS FILHOS DA TERRA INDISCRIMINADAMENTE NA PATERNIDADE DE DEUS. O Sufi sabe que a vida que emana do ser interior se manifesta na superfície de várias formas. Neste mundo de multiplicidade o homem é a manifestação mais bela, pois realiza em sua evolução a unidade do ser interior, até nas variadas formas da vida exterior. Contudo, o homem evolui para seu ideal, o único objetivo de sua vinda à terra, unindo-se aos outros homens. O homem une-se aos outros homens por laços de família. É o primeiro passo na sua evolução. No entanto, em eras passadas, as famílias lutavam entre si e vingavam-se mutuamente por gerações inteiras, cada qual considerando sua causa a única causa verdadeira e justa. Hoje o homem mostra que evoluiu, porque une-se aos vizinhos e concidadãos e até mesmo desenvolve o espírito de patriotismo para com o país onde nasceu. Mostra atualmente uma grandeza maior que seus antepassados no que diz respeito à convivência e, todavia, foram os homens assim unidos nacionalmente os responsáveis pela catástrofe das guerras modernas, que serão olhadas pelas gerações vindouras à mesma luz que hoje olhamos as famílias feudais de antigamente. Existem compromissos raciais que cada vez mais alargam o círculo de unidade, mas há sempre uma raça que despreza outra. Os compromissos religiosos representam um ideal ainda mais elevado, mas surgiram deles várias seitas, que se opuseram e se desprezaram entre si milhares de anos e foram as responsáveis pelas separações e divisões sem fim entre os homens. O germe da separação existe até no vasto campo da fraternidade. Embora a idéia da fraternidade esteja disseminada, não será perfeita enquanto separar os homens. O Sufi sabe disso e livra-se das barreiras do nacionalismo, do racismo e da religião, unindo-se à fraternidade humana, que está isenta das diferenças e distinções de classe, casta, credo, raça, nação ou religião e une a humanidade na fraternidade universal. *
  • 22. VII – EXISTE UMA MORAL, O AMOR QUE BROTA DA AUTO-NEGAÇÃO E FLORESCE EM OBRAS DE BENEFICÊNCIA. Os Mestres ensinaram à humanidade diversos princípios morais através de muitas tradições, princípios diferentes, mas que são gotas da mesma fonte. Quando olhamos um curso d’água vemos que existe apenas uma corrente, embora ela ao cair se transforme em diversas gotas. Existem muitos princípios morais iguais a muitas gotas que caem de uma fonte, mas há somente uma corrente, que é a fonte de tudo: o amor. Do amor nasce a esperança, a paciência, a resignação ao sofrimento, o perdão, a tolerância, e todos os princípios morais. Todas as obras de bondade e beneficência, a adaptabilidade, uma natureza acomodada, mesmo a renúncia, são apenas frutos do amor. Os grandes e raros seres de escol, que há séculos representam o ideal para o mundo, possuíam um coração inflamado de amor. Todos os males e pecados são frutos da falta de amor. A voz do povo diz que o amor é cego. Na verdade o amor é a luz da visão. Os olhos podem ver apenas a superfície; o amor pode ver muito mais fundo. A ignorância é motivada pela falta de amor. Assim como acontece com o fogo, que quando não se inflama faz somente fumaça e quando se inflama faz surgir a chama que ilumina, acontece o mesmo com o coração: é cego quando ainda não se desenvolveu, mas quando o fogo que existe dentro dele é aceso, surge a chama que iluminará o caminho do viajante da mortalidade para a vida eterna. Os segredos da terra e do céu são revelados ao homem que possui um coração amoroso. O homem que ama adquire o conhecimento perfeito de si próprio e dos outros. Não só se comunica com Deus como se une a Ele. Escreveu Rumi, um poeta Sufi: “Um viva a ti, ó amor, doce loucura! A ti que curas todas as nossas enfermidades! Que és o médico de nosso orgulho e do nosso amor-próprio! Que és nosso Platão e nosso Galeno.” * VIII – EXISTE UM OBJETO DE LOUVOR, A BELEZA, QUE ELEVA O CORAÇÃO DE SEUS ADORADORES ATRAVÉS DE TODOS OS ASPECTOS, DO VISÍVEL AO INVISÍVEL. Consta do Hadith: “Deus é beleza e ama a beleza”. Uma prova dessa verdade é o homem, o herdeiro do Espírito de Deus. Tem beleza e ama a beleza, embora o que é belo para um não é belo para outro. O homem cultiva o senso da beleza à medida que evolui e prefere o mais alto aspecto da beleza ao seu aspecto menos elevado. Quando, entretanto, puder contemplar a visão suprema da beleza no invisível através de uma evolução gradativa, oriunda do louvor da beleza do mundo visível, então toda sua existência transformar-se-á numa única visão de beleza.
  • 23. O homem adora Deus contemplando a beleza do sol, da lua, das estrelas e dos planetas. Adora Deus nas plantas, nos animais. Reconhece Deus na beleza dos méritos do homem e com sua perfeita visão da beleza tem encontrado a fonte de toda a beleza no invisível, de onde tudo emana e onde tudo mergulha. O Sufi sabendo disso adora a beleza em todos seus aspectos. Vê a face do Bem- Amado em tudo que é visto. Vê o espírito do Bem-Amado no invisível. Assim, sempre que olha, vê na sua frente o seu ideal de adoração. “Para qualquer lado que eu olhe vejo Tua face sedutora, para qualquer lugar que eu me dirijo chego à Tua morada”. * IX – EXISTE UMA VERDADE, O VERDADEIRO CONHECIMENTO DO NOSSO SER INTERIOR E EXTERIOR, QUE É A ESSÊNCIA DE TODA SABEDORIA. Disse Hazrat Ali: “Conheça-te a ti mesmo e conhecerás Deus”. O conhecimento do ser floresce e resulta no conhecimento de Deus. O auto-conhecimento dá uma resposta às seguintes perguntas: De onde vim? Eu existia antes de ter consciência de minha existência atual? Se eu existia, em que condições existia? Existia como um indivíduo como sou hoje, ou como uma multidão, um inseto, um pássaro, um animal, um espírito, um djin ou um anjo? O que acontece na morte, a cuja mudança toda criatura está sujeita? Por que fico aqui na terra durante um certo tempo? Que objetivo devo eu alcançar aqui na terra? Qual é o meu dever na vida? Em que consiste minha felicidade? O que torna minha vida miserável? Os seres cujos corações foram iluminados pela luz vinda do alto, começam a meditar sobre estes assuntos, mas os seres cujas almas já estão iluminadas pelo conhecimento do seu eu interior, têm perfeita compreensão desses assuntos. São essas almas iluminadas que levam aos indivíduos ou às multidões o benefício de seu conhecimento, para que até mesmo os homens cujos corações ainda estão apagados e cujas almas não foram ainda iluminadas, possam palmilhar o caminho que conduz à perfeição. É por este motivo que os ensinamentos são dados aos povos em várias línguas, há várias formas de adoração e há princípios diferentes em várias partes do mundo. A verdade é uma só. É sempre a mesma. É mostrada em espectos diferentes apropriados para os povos em determinadas épocas. Só os que não compreendem isso é que zombam da fé dos outros, condenando ao inferno ou à destruição os que não consideram sua fé a única e verdadeira fé. O Sufi reconhece que o conhecimento do próprio ser é a essência de todas as religiões. Descobre isso em todas as religiões, vê a mesma verdade em cada uma delas e considera, portanto, todas as religiões como uma só. Assim, compreende o que Jesus quis dizer: “Eu e meu Pai somos um”. A diferença entre a criatura e o Criador está nos lábios e não na alma. É este o significado da expressão união com Deus. Na verdade é dissolver o falso ego no conhecimento
  • 24. do verdadeiro eu, que é divino, eterno e todo-penetrante. “Aquele que alcançou a união com Deus perdeu seu próprio eu”, disse Amir. * X – EXISTE UM CAMINHO, O ANIQUILAMENTO DO FALSO EGO NO EGO REAL. ESSE CAMINHO LEVA O MORTAL A IMORTALIDADE, ONDE EXISTE A PERFEIÇÃO. “Eu me diluí no nada, desapareci e, reparem, estou bem vivo”. Os que conhecem o segredo da vida sabem que a vida é uma só, embora tenha dois aspectos: um, a vida imortal, toda-penetrante, a vida silenciosa; outro, a vida mortal, ativa, que se manifesta em várias formas. Pertencendo a alma ao primeiro aspecto, à vida imortal, ilude-se, torna-se impotente e prisioneira, ao experimentar a vida em contato com a mente e o corpo, que pertencem ao segundo aspecto, à vida mortal. A satisfação dos desejos do corpo e as fantasias da mente não são suficientes para o objetivo da alma que, sem dúvida, deve experimentar seu próprio fenômeno no visível e no invisível, embora sua tendência é ser ela mesma e não outra coisa qualquer. Quanto à ilusão, faz a alma sentir-se impotente, mortal e prisioneira, leva-a a sentir-se fora de seu ambiente. Esta é a tragédia da vida, que faz do forte e do fraco, do rico e do pobre, enfim, de todos, seres insatisfeitos à procura constantemente de algo que não sabem o que é. O Sufi compreende isso e segue o caminho do auto- aniquilamento. Guiado por um Mestre nesse caminho, vê no fim da jornada que o destino era ele próprio, como disse Iqbal: “Vaguei à procura do meu próprio ser. Fui o viajante e sou o destino”.
  • 25. SEGUNDA PARTE Alguns Aspectos do Sufismo O OBJETIVO DA VIDA Às vezes as almas se perguntam: “Por quê estou na terra?” Tal pergunta é feita conforme a evolução da inteligência de cada uma. Um homem pode dizer: “Estou na terra para comer, beber e me divertir”. Até os animais fazem isso, mas o que mais realizou ele como ser humano? Outro homem afirma: “O importante é o poder e posição”. É preciso que se saiba que poder e posição são transitórios. O poder tem altos e baixos. Tudo que temos foi tirado dos outros de alguma forma e os outros, por sua vez, estão esperando de mãos abertas se apoderar do que possuímos. É comum ouvir alguém dizer: “Estamos na terra para receber honrarias”. Neste caso alguém terá que ficar em posição de inferioridade para que seja dada a honraria que o outro procura obter, mas, por sua vez, esse homem pode ser relegado a um plano inferior se aparecer outro candidato mais ávido de honrarias. Podemos achar que o mais importante é sermos amados, mas é preciso não esquecer que a nossa beleza, que faz com que alguém nos ame, é transitória. Nossa beleza pode empalidecer quando comparada com a beleza dos outros. Ao procurar o amor de alguém não ficamos apenas dependentes desse amor, ficamos também desprovidos de amor. Pensar que é aconselhável amar alguém que mereça nosso amor, é um engano, pois o objetivo do nosso amor pode sempre nos causar desapontamentos e tal pessoa talvez nunca seja o nosso ideal. Somos levados a supor e crer que a virtude é a única coisa de valor na vida, mas notamos que o maior número de sofredores de alucinações morais é encontrado entre as pessoas que consideramos justas. Assim, pois, o único objetivo de nossa vida, se quisermos encontrar um, é preencher com sucesso as exigências da vida. À primeira vista parece estranho que tudo que a vida exige deva ser levado em consideração e valha a pena ser conhecido, mas se estudarmos mais profundamente a vida, notaremos que as exigências do nosso ser exterior são as únicas que conhecemos e ignoramos as exigências do nosso verdadeiro ser, da nossa vida interior. Por exemplo, sabemos que queremos boa comida e belas roupas, que desejamos conforto na vida e todas as conveniências para que possamos nos movimentar, que queremos honrarias, fortuna e meios que nos facilitem satisfazer nossa vaidade,
  • 26. enfim, queremos tudo que no momento parecem ser as exigências da vida, mas nada disso e nem a alegria de possuir todas essas coisas permanecem sempre conosco. Pensamos então que era pouco o que possuíamos, que se tivéssemos mais, quem sabe, ficaríamos satisfeitos e se tivéssemos ainda mais um pouco teríamos o suficiente para suprir nossas necessidades. Não é exato. Mesmo que o universo inteiro estivesse ao nosso alcance, seria impossível satisfazer plenamente as exigências da vida. Prova isso que nossa verdadeira vida tem exigências diferentes das exigências com as quais estamos familiarizados, que a vida não se satisfaz somente com o prazer experimentado por nosso ser individual, quer também o prazer de todos ao nosso redor. Não desejamos uma paz momentânea, mas uma paz eterna. Não queremos amar o bem-amado preso nos braços da mortalidade, precisamos de um bem-amado que esteja constantemente ao nosso lado, não queremos ser amados apenas hoje e talvez não ser amados amanhã. O que desejamos é flutuar no oceano do amor. Por este motivo o Sufi procura Deus como seu amor, seu amante e seu bem- amado, seu tesouro, sua posse, sua honra, sua alegria, sua paz. Somente chegando até Deus, fazendo essa aquisição com perfeição, é que o Sufi supre todas as exigências da vida tanto na terra como no mundo após a morte. Novamente, pois, pode-se dizer que existe um objetivo acima de cada objetivo e há um objetivo abaixo de cada objetivo e todavia não existe nenhum objetivo acima e abaixo de todos os objetivos. A criação existe porque existe. A vida é uma viagem de um pólo a outro. A perfeição da vida consciente é o destino final da vida imperfeita. Em outras palavras, cada especto da vida neste mundo de multiplicidade evolui gradativamente da imperfeição para a perfeição. Se a evolução da vida não fosse assim por natureza, não haveria diferença entre a vida e a morte, porque a vida na superfície nada mais é que um fenômeno do contraste. Esta é uma outra maneira de explicar o objetivo da vida. A VIDA TERRENA Podemos tentar ver as coisas sob o ponto de vista de outra pessoa e também sob nosso próprio ponto de vista, dando liberdade de pensamento a todos, porque nos mesmos exigimos essa liberdade. Podemos tentar apreciar o que é bom em outra pessoa e não notar nela o que consideramos um mal. Se alguém age egoisticamente em relação aos demais, podemos achar isso muito natural, porque o egoísmo faz parte da natureza humana. Assim não ficamos desapontados. Se, porém, os egoístas somos nós, é preciso começarmos a nos esforçar para perder o egoísmo. Não há nada que não possamos tolerar e não existe ninguém a quem não podemos perdoar. Nunca duvide daqueles em quem confia, nunca odeie os que ama, nunca derrube os que você um dia elevou em sua estima. Faça de todos que encontrar um amigo. Faça um esforço para ser
  • 27. amigo daqueles que considera pessoas difíceis. Fique indiferente a essas pessoas somente no caso de não ser bem-sucedido em seus esforços. Nunca tente romper uma amizade uma vez feita. Se alguém nos fizer mal, tentemos pensar que merecemos isso de uma certa forma, ou então que a pessoa que nos fez mal não sabe o que fez. Lembremos que todas as almas que se elevam na vida recebem grande oposição do mundo. Tem sido assim com todos os profetas, santos e sábios. Portanto, ninguém pode esperar que isso não lhe aconteça. É a lei da natureza e é também o plano de Deus em ação, preparando algo desejável. Não há ninguém superior ou inferior a nós. Devemos ver em todas as fontes que suprem nossas necessidades uma só fonte – Deus – única fonte. Se admiramos, reverenciamos e amamos alguém, tenhamos em mente que fazemos isso a Deus. Devemos procurar Deus na tristeza e na alegria. É preciso agradecer sempre a Deus. Não lamentemos o passado nem nos preocupemos com o futuro. Tentemos apenas tirar o maior proveito do presente. Não pensemos em fracasso, pois mesmo numa queda encontramos sempre um degrau para subir. Para o Sufi, cair e levantar pouco significa. Não devemos nos arrepender pelo que tivermos feito, porque pensamos, dizemos e fazemos o que queremos. Não tenhamos medo das consequências ao fazer o que queremos na vida, pois o que tiver que acontecer, acontecerá. VOCAÇÃO Todo ser tem uma determinada vocação. Tal vocação é a luz que ilumina sua vida. O homem que despreza sua vocação é uma lâmpada apagada. O homem que procura sinceramente seu verdadeiro objetivo na vida, é procurado pelo objetivo. Quando o homem se concentra na busca do seu objetivo, nota que uma luz começa a brilhar na confusão que existe dentro de si, luz essa chamada revelação, inspiração, ou outro nome que se lhe queira dar. A desconfiança faz o homem errar. A sinceridade conduz o homem diretamente ao objetivo. Cada um de nós possui seu círculo de influência, grande ou pequeno. Quantas almas e mentes estão envolvidas em nossa esfera de influência! Quando nos elevamos essas almas e mentes se elevam conosco; quando caímos, elas também caem. As dimensões do campo de influência de um homem correspondem à extensão de sua compaixão ou, podemos dizer assim, correspondem ao tamanho de seu coração. Sua compaixão mantém sua esfera de influência. Dando maior expansão ao coração o homem aumenta essa esfera de influência. Retirando ou diminuindo a compaixão, sua esfera de influência se dissolve e se dispersa. Se o homem prejudicar os que vivem e se movem dentro do seu círculo de influência, ou os que dependem dele e de sua afeição, na certa será prejudicado. O lugar em que mora, casa, palácio ou choupana, a satisfação
  • 28. ou insatisfação com o que o rodeia, são frutos do seu próprio pensamento. Agindo sobre seus pensamentos, os pensamentos dos que estão perto também fazem parte de seus próprios pensamentos. Alguns pensamentos o deprimem e o destroem, outros o encorajam e o apoiam, na mesma proporção em que ele com sua frieza repele os que dele se aproximam ou atrai os que o procuram por sua solidariedade. Cada um de nós compõe a música de sua vida. Se injuriarmos, criaremos desarmonia. Se nossa esfera estiver perturbada, ficaremos também perturbados e a melodia da música da nossa vida será dissonante. Se contribuirmos para a alegria dos outros e para que sintam gratidão, acrescentaremos grande mérito à nossa vida e nos tornaremos muito mais vivos. Nossos pensamentos serão afetados consciente ou inconscientemente e lucraremos com a alegria ou gratidão de nossos semelhantes, nosso poder e vitalidade aumentarão e a música de nossa vida tornar-se-á mais harmoniosa. NUR-ZAHUR De acordo com o ponto de vista Sufi, o universo nada mais é que uma manifestação do Ser Divino. Na terminologia Sufi essa manifestação divina chama-se Nur-Zahur. O Deus Supremo, abandonando Sua existência de Ser Único e Exclusivo, caminhou, digamos assim, o mais possível em direção à superfície. Manifestou-se na superfície através de Sua atividade. Usando Sua vontade impulsionadora dessa atividade, desceu do céu à terra. Partindo do estado menos consciente de Sua existência, cego e ignorando Seu ser como ocorre com a rocha, foi pouco a pouco despertando e tomando consciência das coisas que O rodeavam na superfície. No Corão encontramos esta mesma idéia de que o mundo foi criado das trevas. Gradativamente, à proporção que a jornada se desenvolve, o Ser interior chega à condição de planta, flor e fruto, depois ao estado de verme, germe e animal, até que Ele se manifesta como homem, o Ashraf al-Makhluqát, o senhor deste universo e o controlador dos céus. Alcança no homem a meta final do Seu destino, quando então Se realiza como Ser integral, o que não havia realizado até então. É como está escrito na Bíblia: “Deus fez o homem à sua imagem”. Diz Hazrat Ali: “O segredo de Deus pode ser estudado na Sua natureza”. O viajante que caminha a pé, via de regra, acende sua tocha quando chega a noite. O mesmo acontece com o Viajante Celestial. Vendo que as trevas das esferas inferiores do Seu caminho estão deprimindo-O, acende uma tocha. A luz dessa tocha é chamada, no Corão, de Nur-o Mohammadi. Essa tocha guiou-O na superfície, para que pudesse distinguir com clareza e encontrar o caminho de volta. Aos olhos do homem que sabe, essa luz – Nur – é o verdadeiro Maomé.
  • 29. Foi essa luz que emitiu seus raios através de todos os Mestres da humanidade e é conhecida como Luz-Guia. A função dos objetos luminosos é espalhar luz à volta. Todavia, um raio de luz vindo diretamente desses objetos luminosos iluminará mais do que a luz espalhada em toda a volta. Notamos a mesma coisa se observarmos a luz do sol. As almas que estavam na zona do raio da Luz-Guia, intencionalmente ou por acaso, foram as que o mundo conheceu como os escolhidos de Deus. Viram Deus mais cedo, ouviram Deus mais depressa, estiveram mais perto de Deus que as outras almas. Essas almas podem ser chamadas de eleitas de Deus, como consta da “Canção em louvor da Alma do Santo”: Diante da alma virtuosa, Servos de Deus e até anjos se curvam. A seus pés de lótus, a meta tão ambicionada, Os peregrinos cansados chegam ao fim da jornada Para receber o perdão de seus pecados. Assim como Deus vem ao encontro do santo e cura o homem, Feliz é aquele em cujo coração a visão mística é revelada. Desde a criação do homem todas as almas que estavam sob essa luz se tornaram Mestres e vieram ao mundo umas após as outras, ligadas pelo elo de uma corrente, que primeiramente nasce no mais íntimo do ser e depois se alarga e se expande no universo. Os santos, sábios e místicos, ao deixarem as esferas mais elevadas, são atraídos por essa luz e nela procuram refúgio contra as nuvens negras da vida. Os seres invisíveis, que flutuavam nessa luz, mesmo antes da criação do homem, são os anjos. A luz divina vem brilhando sobre os reinos mineral e vegetal. Neles podemos também observar o fenômeno dessa luz, embora seu completo esplendor seja visto somente no ser humano. Pode-se ver essa luz na inteligência evoluída e pode ela ser observada no sistema cósmico e nos reinos mineral e vegetal. A luz do sol brilha na lua e nos planetas. Cada estrela nada mais é que um reflexo dessa mesma luz. Assim, todo sistema cósmico é iluminado apenas pelo sol. No reino vegetal vemos uma pequena planta, um fruto ou uma flor espalhando influência à sua volta, cobrindo depois de um certo tempo uma parte da floresta com a mesma fruta doce ou com o mesmo perfume da flor. Quando observamos com mais atenção o reino animal, vemos em alguns animais o dom especial da inteligência. Vemos que entre os pássaros existe um líder para cada bando. Especialmente entre os elefantes da floresta existe o elefante sábio, que caminha à frente da manada carregando um tronco de árvore
  • 30. com a tromba. Usa-o como bengala e com ele examina o caminho que pisa para descobrir algum buraco. Faz isso não só para sua segurança como também para proteger os companheiros. Na selva pode-se ver um grupo de macacos obedecendo ao comando de um deles. Depois que ele pula os outros o imitam. As raposas e os cães na selva têm entre eles um que é mais prudente e que dá o alarma diante de qualquer perigo. Num bando de pássaros existe um pássaro sábio e corajoso que lidera todo o bando. O mesmo acontece com muitos outros pássaros e animais. Essa faculdade de liderança aliada à maturidade da inteligência, preenche o objetivo da manifestação na evolução humana. O Corão diz que o homem foi escolhido para ser o Califa de todos os seres, o que pode ser bem compreendido se atentarmos para o fato de que todos os seres do mundo servem ao homem, são por ele controlados, e obedecem as suas leis, O homem usa esses seres para o fim que deseja. Além disso, é o homem que corretamente pode ser chamado de semente de Deus, pois só no homem é que a inteligência se desenvolve na sua forma mais perfeita, permitindo que ele não só aprecie as obras de Deus como O adore. Ao homem é dada a capacidade de alcançar a auto-suficiência e a consciência toda-penetrante da vida eterna de Deus. O homem realiza sua perfeição em Deus. Deus realiza sua perfeição no homem. Vemos a tendência de liderança em escala menor nos pais. Qualquer que seja seu modo de vida, desejam que os filhos se beneficiem com suas experiências, querem que os filhos vivam dignamente. Há muitas pessoas neste mundo cheio de egoísmo que advertem os amigos sobre o perigo de se extraviarem. Numa comunidade é comum vermos um líder que sacrifica a vida e seu bem-estar em benefício de seus semelhantes unindo-os numa cadeia de amor e harmonia. A mesma qualidade de auto-sacrifício, mas num grau mais elevado de evolução, vamos encontrar nos Mestres da humanidade, que agem como representantes do Governo Infinito e que são conhecidos no mundo como Mensageiros. Entre eles existem almas santas de diversas hierarquias, chamadas pelos Sufis de Wali, Ghauth, Qutb, Nabi e Rasul. Esses Mensageiros são diferentes em hierarquia, conforme a profundidade de penetração no mundo invisível ou o espaço que ocupam na consciência universal, e também de acordo com a extensão do círculo da humanidade colocado aos seus cuidados para liderar. Nabi é o guia de uma comunidade, Rasul é o portador de uma mensagem para toda a humanidade. Cada um tem um determinado ciclo de tempo para trazer sua mensagem. Podemos nos certificar disso se fizermos um estudo inteligente do cosmos. As leis da natureza nos ensinam, e provam ao homem que sabe, a influência que cada planeta exerce sobre as almas, quer individual quer coletivamente, como famílias, nações e raças. Até mesmo sobre o universo inteiro notamos essa influência. As condições de vida de cada um e de todos os seres são regidas
  • 31. pela natureza do planeta sob cuja influência estão colocados. O planeta age como um governante sobre nascimentos, mortes, altos e baixos, sobre todos os assuntos. Se os planetas, que são reflexos do sol, têm poder sobre os assuntos da vida exterior do homem, como deve ser imensamente maior o poder dos homens conscientes de Deus, que são um reflexo da luz divina, de cuja luz o sol é apenas uma simples sombra! São eles os Avatads, que os Hindus chamam de Avatars. Estão no poder não como acontece com os reis que governam por algum tempo apenas durante a vida na terra, permanecem no poder mesmo depois que deixam o plano terrestre. Aquele que sabe reconhece nos Mestres da humanidade não só os propagadores da Mensagem Divina, como também os soberanos espirituais, os controladores do universo, durante os ciclos que são destinados a viver na terra. OS MESTRES Cada um dos aspectos da vida de um indivíduo e da vida do mundo, tem seu ciclo. Na vida do indivíduo a primeira parte corresponde do nascimento à morte, a segunda parte da morte até a assimilação no Infinito. Os sub-ciclos da vida do homem vão da infância à juventude, onde termina uma parte, e da juventude à velhice, a conclusão. Há ainda outros ciclos inferiores: infância, meninice, juventude, maturidade, senilidade. Existem ciclos de queda e elevação do homem. Assim, existe um ciclo de vida na terra, o ciclo da criação do homem e sua destruição, o ciclo do reinado das raças e das nações e o ciclo do tempo como ano, mês, semana, dia e hora. A natureza de cada um desses ciclos tem três aspectos: princípio, clímax e fim, chamados de Uruj, Kemal e Zeval ou por exemplo a lua nova, a lua cheia e a lua minguante; o nascer do sol, o zênite e o ocaso. Esses ciclos, sub-ciclos e ciclos inferiores e os três aspectos de sua natureza são divididos e distinguidos pela natureza e curso da luz. Assim como a luz do sol, da lua e dos planetas representa a parte mais importante da vida na terra, quer individual quer coletivamente, a luz do Espírito-Guia também divide o tempo em ciclos. Cada ciclo está sob a influência de um determinado Mestre, que possui diversos controladores sob suas ordens trabalhando como trabalha a hierarquia espiritual, que controla os assuntos de todo o universo, principalmente os assuntos que dizem respeito às condições espirituais internas do mundo. Os Mestres tem vindo à terra em grande número desde a criação do homem. Apareceram com nomes e formas diferentes, mas Deus estava disfarçado neles, pois Deus é o único Mestre da eternidade. Rejeitando o Mestre desconhecido e acreditando somente no Mestre que conheceu, o homem viveu nas trevas por muitos séculos. Se o homem acreditava numa determinada mensagem não aceitava uma nova mensagem
  • 32. trazida por outro Mestre, que era estranho para ele. Isso causou grandes transtornos na vida de todos os Mestres. O homem recusava-se a crer nos Mestres e em seus ensinamentos passados e futuros, se seus nomes não estivessem mencionados nas tradições em que ele acreditava ou se não tivesse ouvido o nome desses Mestres nas histórias transmitidas durante séculos ao seu povo. Assim, as pessoas da parte do universo que haviam reconhecido os profetas Hebreus, não reconheciam, por exemplo, os Avatars como Rama e Krishna Vishnu e Shiva, simplesmente porque não conseguiam encontrar tais nomes em suas escrituras. O mesmo ocorria com a outra parte da humanidade, que não incluía entre seus Devatas (divindades, encarnações divinas), Abraão, Moisés ou Jesus, porque não encontravam seus nomes nas tradições com as quais estavam familiarizados. Mesmo que fosse verdade que Brahma foi o mesmo Devata a quem os Hebreus chamavam de Abraão e Cristo foi o mesmo Mestre que os Hindus chamavam de Krishna, o homem não teria reconhecido como a mesma pessoa aqueles a quem deram nomes diferentes, tendo um conceito maior de um e um conceito menor de outro. Os Mestres não eram iguais na aparência física, mas eram um só em espírito. Se não fosse assim, como poderiam todos eles ter revelado a mesma e única verdade? Os Mestres da humanidade foram os irmãos mais velhos a guiar os irmãos mais moços com seu amor fraternal e por amor ao Pai. É humano ter comiseração por nossos semelhantes quando lutam por alguma coisa que não conseguem obter. É um prazer ajudá-los a atingir o ideal por que lutam. Isso é bem ilustrado pela fábula de Ramachandra. Conta o Purana que certa vez Sita, esposa de Ramachandra, estava como guardiã de Vashita Riti em companhia de seus filhos. O filho mais moço Lahu foi visitar a cidade vizinha e viu Kalanki, um belíssimo cavalo, galopando pela cidade sem cavaleiro. Quando perguntou que cavalo era aquele, responderam-lhe que se tratava de um cavalo que havia sido deixado solto e quem conseguisse agarrá-lo tornar-se-ia rei. O jovem ficou tentado e correu atrás do cavalo para agarrá-lo. Correu durante muito tempo e nada conseguiu. Sentiu-se frustrado por não ter conseguido agarrar o cavalo. Quando chegava perto dele pensando que ia agarrá-lo, o cavalo escapulia de suas mãos. Chegando ao desapontamento total, viu seu irmão que vinha procurá-lo a pedido da mãe. Disse-lhe que não voltaria enquanto não agarrasse o cavalo. Disse-lhe o irmão mais velho: “Não é essa a maneira de pegar um cavalo. Ao invés de correr atrás do cavalo, corra ao encontro dele”. Este conselho fez com que o irmão mais moço agarrasse imediatamente o cavalo. Os dois irmãos foram à presença do pai Ramachandra, que os abraçou e reconheceu a orientação de um e a obra do outro. Todos os mestres que vieram à terra, ensinaram às comunidades ou grupos do lugar onde nasceram, profetizaram a chegada do próximo Mestre e previram a possibilidade e necessidade da continuação da Mensagem Divina até sua final realização.
  • 33. O fato dos Mestres virem sucessivamente não significa que deveriam trazer Mensagens diferentes e sim que deveriam vir para corrigir as alterações feitas na Mensagem anterior por seus seguidores e também com o fim de revivificar os princípios e adaptá-los à evolução dos tempos, relembrando a mesma Verdade à mente humana, Verdade essa que havia sido ensinada pelos Mestres anteriores, mas que a memória dos homens havia esquecido. Não se tratava de uma mensagem pessoal do Mestre e sim da Mensagem Divina. Os Mestres eram obrigados a corrigir os erros cometidos, devido à má interpretação das religiões, renovando assim a mesma Verdade trazida pelos Mestres anteriores e que, com o passar dos tempos, havia sido desviada de seu verdadeiro caráter. Por ignorância o homem preocupou-se em discutir sobre nomes e aparências dos Mestres, sobre tradições, princípios e seus grupos limitados, esquecendo-se de que são eles uma só pessoa naquilo que os une. As mensagens são diferentes umas das outras na aparência externa. Cada mensagem é transmitida de acordo com o grau de evolução da humanidade, com o fim de acrescentar um capítulo especial ao curso da sabedoria divina. Certas leis e princípios eram prescritos pelos Mestres e eram adequados ao país onde a mensagem era difundida, ao clima, à época, aos costumes, hábitos e necessidades. Para poder atrair a humanidade e pudesse ela receber a Mensagem que traziam, era necessário que os Mestres reivindicassem para si uma posição excepcional. Alguns desses Mestres eram chamados Avatar, encarnação de Brahma, como Vishnu, Shiva, Rama e Krishna, enquanto que outros eram chamados de Payghambar, profeta intercessor. Seus adeptos tinham discussões tolas a respeito da grandeza de suas pretensões, sobre o que faziam e ensinavam, ou sobre o modo de vida que levavam, admirando e odiando ao mesmo tempo, de acordo com suas preferências pessoais. A Mensagem Divina sempre é enviada à terra através de almas convenientemente dotadas. Por exemplo, no tempo em que a riqueza era apreciada, a mensagem foi difundida pelo Rei Salomão. No tempo em que a beleza era adorada, José, o mais elegante, difundiu a mensagem. Quando a música era considerada celestial, David propagou a mensagem por meio de cânticos. Quando havia curiosidade pelos milagres, Moisés trouxe a sua mensagem. Quando o sacrifício era apreciado em alto grau, Abraão foi encarregado de trazer a mensagem. Quando a hereditariedade era reconhecida, Cristo trouxe a mensagem. Quando a democracia tornou-se necessária, Maomé trouxe sua mensagem como o servo de Deus, um homem igual aos outros, que vivia no meio de todos. Isso colocou um ponto final na necessidade de outros profetas, devido à natureza democrática da proclamação e mensagem de Maomé, que proclamou o la elaha ill’Allah, que significa: nada existe, somente Deus existe”. Deus constitui todo o ser – sozinho, individual e coletivamente – e toda alma tem dentro de si a fonte da Mensagem Divina. Por este motivo é que
  • 34. não há mais necessidade da mediação de uma terceira pessoa como salvador entre o homem e Deus. O homem já evoluiu bastante para conceber a idéia de Deus como sendo tudo e tudo sendo Deus e tornou-se suficientemente tolerante para crer na Mensagem Divina transmitida por uma pessoa igual a ele, sujeita a nascer e morrer, ter alegrias e tristezas e todas as vicissitudes naturais da vida. Todos os mestres, de Adão a Maomé, têm sido a encorporização do Mestre ideal. Ao mencionar-se Jesus Cristo, que disse: “Eu sou Alpha e Ômega, o princípio e o fim”, não significa que o nome ou a pessoa visível de Jesus Cristo é Alpha e Ômega, quer dizer que o Espírito-Mestre que existe dentro de Jesus Cristo é Alpha e Ômega. Esse espírito é que reivindicava ser Alpha e Ômega, movido por sua realização passada, presente e futura e confiante na sua eternidade. É o mesmo espírito que falava através de Krishna e dizia: “Aparecemos na terra quando o dever está corrompido”. Isso foi dito muito antes da vinda de Cristo. Durante sua absorção divina Maomé disse: “Eu existia muito antes desta criação e continuarei a existir depois dela ser assimilada”. Consta das tradições sagradas: “Nós te criamos de Nossa Luz e da tua luz Nós criamos o universo”. Isso não foi dito referindo-se à pessoa física de Maomé, por cujo nome era conhecido. Referia-se ao espírito que falava através de todos os lábios abençoados e, todavia, continuava esse espírito sem ter forma, nome, nascimento e morte. Todavia o mundo cego, absorvido pelos fenômenos e impressionado com um determinado nome e forma, aferra-se a nomes e esquece-se do ser verdadeiro. Essa ignorância tem separado os filhos dos homens e, tem sido a causa de muitas divisões. Afasta os homens uns dos outros pelas próprias ilusões, quando na realidade existe uma só religião, existe um único Mestre e existe um só Deus. O homem sempre considerou como verdadeira religião a fidelidade ao Mestre em quem acreditava. Considerava infração à fé crer no Mestre que estava para vir. A alegoria que se segue trata desse assunto. O ESPÍRITO DA PROFECIA Havia um homem que vivia com a mulher e os filhos numa pequena vila. Ouviu uma voz que veio do fundo de sua alma. Renunciou à vida com a família e partiu para a floresta, para uma montanha chamada Sinai, levando consigo o filho mais velho, o único filho já crescido. As crianças que ficaram com a mãe e que tinham uma vaga lembrança do pai, perguntavam às vezes onde ele estava, ansiosas por vê-lo. A mãe contou-lhes que o pai havia partido há muito tempo e talvez já tivesse morrido. Às vezes, para amenizar as saudades dos filhos, ela dizia: “Talvez seu pai volte ou mande notícias, pois prometeu isso ao partir”. Muitas vezes as crianças choravam pela ausência do pai, pelo seu silêncio. Quando
  • 35. sentiam a falta dele, confortavam-se com a esperança “talvez ele volte para ficar conosco como prometeu”. Depois de algum tempo a mãe faleceu. As crianças passaram a ter tutores encarregados de cuidar delas e de administrar os bens deixados pelos pais. Decorridos alguns anos, quando na face lisa do irmão mais velho que partira apareceu a barba, quando sua fisionomia alegre foi substituída por uma expressão séria e sua bonita pele tornou-se escura pela prolongada exposição ao sol, ele voltou ao lar. Partira com o pai coberto de grandeza e voltava pobre. Bateu na porta. Os criados não o reconheceram e não lhe permitiram a entrada. Sua linguagem era diferente. A longa permanência num país estranho tinha feito com que se esquecesse de tudo. Disse às crianças: “Vinde irmãos, sois os filhos do meu pai. Vim da parte do nosso pai que está em completa paz e feliz em seu retiro no deserto, que me enviou para vos transmitir seu amor e sua mensagem, para que vossas vidas possam se tornar dignas de ser vividas e que tenhais grande felicidade ao encontrar vosso pai que vos ama intensamente”. As crianças perguntaram: “Como é possível terdes sido enviado pelo nosso pai que partiu há tanto tempo e nunca nos enviou qualquer notícia?”. Respondeu o irmão: “Se vós não podeis compreender, chamai vossa mãe que poderá explicar”. Mas a mãe havia morrido, dela só ficara a sepultura é nada mais podia explicar. O irmão voltou a falar: “Consultai vossos tutores. Talvez possam contar- vos, recordando o passado ou pelo que ouviram de nossa mãe, as palavras que nosso pai proferiu sobre a minha chegada”. Os tutores tinham se tornado negligentes, indiferentes, cegos, perfeitamente felizes com a posse de toda aquela fortuna, desfrutando do tesouro em ouro confiado à sua guarda, usando seu poder incontestável e tendo completo domínio sobre as crianças. O primeiro pensamento que os tutores tiveram ao saber que o irmão havia voltado foi de aborrecimento, mas quando o viram ficaram bastante despreocupados, pois não viram nele nenhum vestígio do que havia sido. Como notaram que ele não tinha poder nem riqueza e estava completamente mudado na aparência, nas roupas que usava, enfim, em tudo, não lhe deram a mínima importância. As crianças perguntaram ao irmão: “Com que autoridade proclamais ser o filho do nosso pai que há tanto tempo desapareceu e é bem provável que esteja no céu?”, ao que ele respondeu: “Eu vos amo, ó filhos do meu pai, embora não possais me reconhecer. Se não podeis me reconhecer como vosso irmão, tomeis minhas palavras de ajuda como se fossem as palavras de vosso pai, fazendo o bem na vida e evitando o mal, pois todo o trabalho tem uma recompensa”. Os irmãos mais velhos, a quem a vida já havia endurecido, não lhe deram atenção. Os menores eram ainda muito jovens para compreender, mas os do meio, ao escutarem as palavras do irmão mais velho, seguiram-no tranquilamente, conquistados pelo seu magnetismo e encantados com sua personalidade, de onde jorrava o amor.
  • 36. Os tutores se alarmaram ao pensar que as crianças confiadas à sua guarda pudessem abandoná-los e pensaram: “Algum dia, mesmo os que ficaram, poderão ficar encantados com a magia desse homem e o controle que temos sobre eles com a posse da riqueza que Ihes pertence, nosso conforto nesta casa, nossa importância e dignidade, tudo isso ficará diminuído perante seus olhos e, assim, não podemos mais deixar as coisas como estão”. Resolveram matar o homem. Incitaram os irmãos que haviam ficado dizendo-lhes que sentiam piedade pelos queridos irmãos que haviam se extraviado e tinham abandonado o lar e o conforto a que estavam habituados, fazendo-lhes ver que as reivindicações do irmão mais velho não tinham nenhum fundamento. Procuraram o homem, prenderam-no, amarraram seus braços e pernas e jogaram-no no mar. As crianças que o consideravam seu guia e irmão choraram e se lamentaram. O irmão consolou-os: “Voltarei para junto de vós, ó filhos de meu pai. Não percam as esperanças. O que vós não compreendeis por serdes jovens vos será ensinado plenamente. Como este povo comportou-se comigo de uma maneira tão cruel, ser-lhes-á mostrado o que acontece com os que não deram atenção à mensagem do nosso pai trazida pelo próprio filho. Vós sereis iluminados, ó filhos de meu pai, com a mesma luz que me trouxe aqui para vos ajudar”. Esse homem era exímio nadador. O mar não tinha poder para afogá-lo. Deu a impressão de ter afundado, mas livrou as mãos e pés das cordas com que o haviam amarrado, ergueu-se acima das águas e começou a nadar magistralmente como havia aprendido. Partiu ao encontro do pai no deserto, contou-lhe as experiências de sua longa jornada, demonstrou seu amor e desejo de obedecer à vontade do pai e cumprir todos os seus mandamentos, ir novamente ao encontro dos filhos de seu pai com redobrada força e poder, a fim de conduzi-los ao ideal que era o único desejo do pai. Depois de alguns anos novamente apareceu um portador da mensagem do pai. Não insistiu em provar que era o filho do pai, mas tentou ajudar os irmãos, guiando-os para que alcançassem o ideal prescrito pelo pai. Os tutores, que já haviam sido importunados pelo outro homem que chegara e partira, passaram a insultá-lo. Apedrejaram-no e afastaram-no para longe de sua presença, mas ele, com o poder, a força e a coragem renovados, tendo acabado de chegar e estando ainda sob a influência poderosa do pai, defendeu-se corajosamente com a espada e o escudo e refugiou-se entre os irmãos que o tinham seguido e simpatizado com ele na visita anterior, que lhe disseram: “Não há dúvida de que aquele que veio antes de vós e que nossos irmãos não reconheceram e atiraram no mar, foi enviado por nosso pai. Estávamos aguardando sua chegada, pois prometeu voltar”. Respondeu ele: “Fui eu quem prometeu. Voltei para perto de nosso pai e retorno agora, porque a promessa que vos fiz era de duas espécies: “Voltarei” – disse àqueles que souberam me reconhecer apesar da roupa que usava, diferente mas adequada àquele tempo e condições; Enviarei um outro
  • 37. ou Um outro virá – disse para os que provavelmente ficaram confusos diante de minha aparência exterior. Disse-lhes que não recusassem a palavra de orientação enviada por nosso mui amado pai”. Suas palavras foram bem compreendidas, mas houve relutância em reconhecê-lo como o primeiro enviado com quem tinham se avistado e cuja volta aguardavam. Ele falava, suas obras mostravam os sinais do pai, mas os irmãos aferravam-se à imagem do enviado anterior e esqueciam suas palavras e esqueciam o pai. As crianças menores, porém, que não o conheciam, sentiam que havia entre eles um parentesco sanguíneo, pois não só seus corações não estavam empedernidos como suas idéias não estavam muito enraizadas. Amaram-no e reconheceram-no. Sua experiência agora era muito maior que a experiência da vez anterior, ocasião em que os outros irmãos, insuflados e influenciados pelos tutores, haviam lutado e se rebelado contra tudo que havia feito. Apesar de toda resistência e sofrimento, guiou os filhos do seu pai, tantos quantos lhe foi possível guiar, até que o nome do pai fosse novamente glorificado e seus irmãos, direta ou indiretamente, fossem conduzidos através das complicações do mundo e dos segredos do céu. Esta história é uma descrição do que aconteceu na vida dos Mensageiros, especialmente Jesus Cristo e Maomé, e as palavras Pai, Filho e Irmão são simples metáforas. Sempre houve um Mestre e Ele será sempre o Único Mestre. Todos os nomes combatidos pelo mundo são os nomes usados pelo Mestre e todas as formas físicas dos seres adorados pelo mundo que buscam a Verdade, são Suas formas. Assim, embora haja tolos que não aceitem a Mensagem, existem os sábios que a aceitam. ALGUNS TERMOS ESOTÉRICOS A inteligência tem dois aspectos: o intelecto e a sabedoria. INTELECTO é o conhecimento dos nomes e formas, de seu caráter e natureza, adquirido no mundo exterior. Surge numa criancinha ainda no berço, quando começa a ficar curiosa a respeito de tudo que vê. A criança armazena na mente as diferentes formas e imagens que vê e as reconhece como complemento de seu conhecimento da variedade das formas. Por este meio o homem recolhe na mente o conhecimento das inúmeras formas do mundo inteiro e conserva-as. Algumas destacam-se luminosamente, predominam e encobrem as outras. O homem retém também as formas que lhe interessam. A natureza das formas é a predominância de umas sobre as outras, na proporção de sua concretização material. Quanto mais concretas forem as formas, mais luminosas parecem ser. Assim sendo, o homem intelectual tem interesse na variedade das formas e sua lei de mutações. Como o conhecimento é o alimento da alma, o homem
  • 38. intelectual pelo menos torna-se vivamente interessado em conhecer nomes e formas e chama a isso aprender. Aprender passa a constituir o seu mundo, embora isso não lhe dê nunca um senso de conforto imutável, nem consiga ele uma paz duradoura. SABEDORIA é o contrário do conhecimento acima mencionado. O conhecimento é iluminado pela luz interior e chega com a maturidade da alma, quando a visão se abre para a semelhança que existe em todas as coisas e seres e para a unidade dos nomes e formas. O sábio penetra no espírito de todas as coisas. Vê o humano no macho e na fêmea e na origem racial que une as nações. Vê o humano em todos os povos e a imanência divina em todas as coisas do universo, até que a visão de todos os seres se torne para ele na visão do Único Ser, o Deus muito belo e muito amado. Ao dar uma definição de alguns termos usados no esoterismo, podemos dizer que o estado consciente é o despertar da faculdade do conhecimento. Conhecimento é aquilo que a consciência é, cônscia. Consciência é um sentimento que nasce quando a consciência conserva à sua frente numa balança, de um lado uma ação, e do outro lado um ideal. Inteligência é a faculdade da consciência de agarrar e aprender, a qual por todos os meios reconhece, distingue, percebe e concebe tudo o que existe à volta. IGNORÂNCIA é o estado da mente quando. está na escuridão. Quando as vibrações mentais fluem para o plano astral sem uma direção consciente, chamam-se Imaginação. Quando têm uma direção consciente, chamam-se Pensamento. Quando a imaginação trabalha durante o sono, chama-se Sonho. IMPRESSÃO é um sentimento que surge como uma reação, quando recebemos um reflexo do mundo exterior (físico, mental ou astral). INTUIÇÃO é uma mensagem interior, dada em forma de advertência ou orientação, que é percebida pela mente independentemente de qualquer fonte exterior. INSPIRAÇÃO é o aparecimento de uma corrente vinda do fundo do coração dos djins e que se manifesta no campo da poesia, da música, da pintura, da escultura ou de outra arte. VISÃO é um sonho espiritual que se assiste acordado ou adormecido. Chama- se sonho porque o esplendor da visão dá ao vidente impressão de estar meio adormecido, mesmo estando acordado. REVELAÇÃO é o descobrimento do ser interior. A consciência, através da manifestação, ao chegar à superfície, volta as costas para o mundo interior, cuja visão assim se perde para ela, mas quando a consciência começa a olhar para
  • 39. o interior, descobre o mundo invisível e Choudatabaq ou os 14 planos, que são constituídos de 7 céus e 7 terras, são revelados. Está escrito no Corão: “O véu será retirado dos teus olhos e tua visão tornar-se-á penetrante”. ANIQUILAMENTO (Fanà) é a mesma coisa que perder o falso ego (Nafs), o que novamente culmina no que se chama Vida Eterna Baqà. ALIF (primeira letra do alfabeto árabe, que se escreve como um traço vertical). No livro sobre a vida de Bullah Shah, o grande santo de Panjab, há uma passagem muito instrutiva sobre os primeiros ensinamentos que recebeu quando foi à escola com os meninos de sua idade. O professor ensinou-lhes a primeira letra do alfabeto árabe, Alif. Os outros meninos da classe aprenderam todo o alfabeto, enquanto Bullah Shah continuava a se aperfeiçoar na primeira letra. Depois de algumas semanas o professor viu que o menino não se adiantava e não passava da primeira letra Alif. Achou que era um menino deficiente. Mandou-o de volta à casa dos pais com o seguinte bilhete: “Seu filho é deficiente. Não posso ensinar-lhe”. Os pais fizeram pelo filho tudo que puderam. Colocaram-no sob a direção de vários professores, mas não fez nenhum progresso. Ficaram desapontados. Por fim o menino fugiu de casa para não ser um fardo para a família. Foi viver na floresta e passou a ver a manifestação do Alif na floresta; havia tomado a forma da grama, da folha, da árvore, do galho, da fruta e da flor. O mesmo Alif manifestava-se como montanha e como morro, como pedra e como rocha. Presenciou o mesmo Alif como germe, pássaro e animais. Viu o Alif em si próprio e nos outros. Pensava em um, via um, sentia um, realizava um. Nada mais que isso. Depois de ter aprendido bem essa lição voltou para cumprimentar seu velho mestre, que o havia expulsado da escola. O mestre, absorvido na visão da multiplicidade das formas, já havia esquecido aquele aluno, mas Bullah Shah não podia esquecer seu velho professor, que lhe havia ensinado a primeira e a mais inspirada das lições, que tinha enchido quase toda a sua vida. Curvou-se humildemente perante o mestre e lhe disse: “Preparei a lição que vós tão bondosamente me ensinastes. Podereis ensinar-me mais alguma coisa que deva ser aprendida?” O professor achou graça e pensou: “Depois de tanto tempo este simplório ainda se lembra de mim”. Bullah Shah pediu permissão para escrever a lição e o professor zombeteiramente respondeu: “Escreva-a naquela parede”. Bullah Shah escreveu o sinal do Alif na parede e ela se partiu ao meio. O professor ficou atônito com o milagre assombroso e disse: “Tu és meu mestre. O que aprendeste com a letra Alif eu nunca consegui aprender com todo meu saber”. E Bullah Shah cantou uma canção cuja letra é a seguinte: Amigo, abandona agora teu conhecimento, Um Alif é tudo de que necessitas.
  • 40. Sobrecarregastes minha mente ao ensinar E enchestes teu quarto de livros. Mas o verdadeiro conhecimento perdeu-se na busca do falso. Assim, amigo, abandona agora a busca do teu saber. Todas as formas parecem derivadas de outras e todos os números são derivados da letra Alif, uma linha vertical, que originariamente foi derivada de um ponto e representa um zero, nada. (Em árabe o zero escreve-se como ponto.) É natural que todos nós quando escrevemos façamos um ponto logo que a pena toca o papel. As letras que formam as palavras escondem sua origem. Da mesma maneira a origem do Único Ser está oculta na Sua manifestação. É por este motivo que Allah, cujo nome vem de Alif, está oculto sob Sua própria manifestação. A mesma forma da letra Alif é o número um. Em ambos os aspectos essa forma revela seu significado, cujo significado é visto na natureza em várias formas e em todos os aspectos. É como escreveu Omar Khayyám: Talvez um fio de cabelo divida o falso e o verdadeiro. Um simples Alif seria a chave – se a pudesses encontrar – para a casa do tesouro e, quem sabe, também para a casa do Mestre. Minha alma falou: “Desejo o conhecimento místico. Se estiver em teu poder, ensina-me”. Falei eu: “Alif”. A alma respondeu: “Não digas mais nada; Quando se está na própria casa uma só letra basta”. “SUMA”, A MÚSICA DOS SUFIS Todas as pessoas que conhecem os Sufis e o Sufismo sabem que a música representa um grande papel nas suas realizações espirituais. Uma escola Sufi especial – Chishtis – tem grande interesse na música. Chamam a música de Ghiza-i-ruh, o alimento da alma e ouvem o Qawwali, cânticos especiais cantados durante a cerimônia Suma, uma assembléia contemplativa musical. Nessa assembléia é como se existisse uma vida poderosíssima raramente encontrada em qualquer outro lugar. A atmosfera fica carregada de magnetismo, harmonia e paz, emitidos pelas almas iluminadas presentes à cerimônia. O Shaikh ou o Mestre, senta-se no centro e os demais Sufis sentam-se à sua volta. Um após o outro invocam os nomes sagrados de Deus, repetindo Suras do Corão, alternadamente. É uma introdução para afinar os corações dos presentes com seus próprios diapasões, corações que já estão preparados pelo Zikr, a contemplação esotérica.
  • 41. O método de contemplação dos Sufis coloca seus corações em ritmo, regularizando até a circulação e as pulsações. Todo o mecanismo do corpo torna-se rítmico. Quando a mente também entra em ritmo, despertada que foi para se integrar no tom da música, todo o ser do Sufi torna-se musical. É por este motivo que o Sufi pode se harmonizar com cada um em particular e com todos. A música faz com que todas as coisas do mundo se tornem vivas para o Sufi e ele próprio está vivo para tudo. Começa a compreender que a vida é uma coisa morta para muitas pessoas e que existem seres neste mundo que estão mortos para a vida. Há graus diferentes de evolução e por isso os versos cantados pelo Qawwals (cantores da cerimônia Suma) são de várias espécies. Alguns versos louvam a beleza do ideal que os Sufis experimentam ao atingir o estágio Fana-fi-Shaikh. Nesse estágio incluem-se os que consideram a imanência divina como o ideal, caminhando na terra. Há versos que falam dos altos méritos do “ideal-no-nome-e-não-na-forma”, que atraem os que estão no estágio Fanà-fi-Rasul. Não viram o ideal, não ouviram sua voz, mas conheceram e amaram esse ideal, o único que existe e até agora desconhecido. Há versos que falam do ideal acima dos nomes e formas. Os que estão no estágio Fanà-fi-Allah são os que se integram nesses versos. Têm consciência do seu ideal acima dos nomes e das formas, das qualidades e dos méritos, ideal esse que não pode ser confinado no conhecimento, porque está acima de todas as limitações. Muitas vezes o advento do ideal é expresso em versos descrevendo a doçura da voz, a beleza do semblante, a graça dos movimentos, o louvor, os méritos, as qualidades e os sedutores caminhos do ideal. Há também versos que falam do amor do que ama, da sua agonia com a separação, sua prudência na presença da bem-amada, sua humildade, seus ciúmes e rivalidades, todas as vicissitudes naturais de um amante. É uma combinação de poesia, música e arte. Não é uma simples canção. Cria uma visão total do reino da música na mente do Sufi, que é capaz de visualizá-la em ambientes positivos. Em outras palavras, o Sufi com o auxílio da música cria na imaginação sua visão ideal. Os cânticos Qawwali expressam a natureza do amor, do amante e da bem- amada. Nesses cânticos a poesia do Sufi supera os poemas de amor conhecidos do mundo, pois nessa poesia é revelado o segredo do amor, do amante e da bem-amada, três em uma só pessoa. Afora a filosofia do ser total, pode-se notar a delicadeza e a complexidade dos poemas Sufis, ricos de coisas convencionais e ornados de metáforas. Hafiz, Rumi, Jami e muitos outros poetas Sufis falaram do segredo do ser interior e exterior usando a terminologia do amor. Os Qawwals, os cantores, cantam os versos de forma clara, para que cada palavra seja inteligível aos participantes e para que a música não esconda a
  • 42. poesia. Os que tocam a tabla, espécie de tambor Indiano, e que acompanha os cantores, dão ênfase aos acentos e mantêm um ritmo uniforme, para que o eu do Sufi, já afinado com a música, possa se unir ao ritmo e harmonia da música. Nessas ocasiões o estado do Sufi se modifica. Sua natureza emocional nesses momentos age plenamente. Sua alegria e sentimento não podem ser explicados. As palavras são inadequadas para expressá-los. Esse estado é chamado Hál ou Wajad, a êxtase sagrada, e é olhado com muito respeito pelas pessoas presentes à assembléia. Wajad significa presença e Hál significa estado. O estado de êxtase não é diferente do estado natural do homem quando se comove ao ouvir uma palavra bondosa proferida por alguém, quando é levado às lágrimas ao se separar de quem ama, quando parte o objeto de seus amores ou quando se sente arrebatado com a chegada da bem-amada há tanto tempo esperada. Em se tratando de um Sufi esse sentimento torna-se sagrado, já que seu ideal é mais elevado. Peregrinação é a mesma coisa que uma viagem comum. A única diferença está no objetivo. Quando se viaja, a finalidade é mundana, enquanto que a peregrinação é feita com um objetivo sagrado. Algumas vezes ao ouvir música, o Sufi fica profundamente comovido, outras vezes as lágrimas dão vazão aos seus sentimentos e muitas vezes todo o seu ser, cheio de música e alegria, expressa-se em movimentos que, na terminologia Sufi, chama-se Raqs. Quando o homem analisa o mundo objetivo e descobre o ser interior, sua primeira e última lição é que toda a visão da vida é criação do amor. Sendo o amor vida, fará com o tempo que tudo seja nele absorvido. O homem que ama a Deus, cujo coração está cheio de devoção, é o que pode se comunicar com Deus, não o que faz um esforço intelectual para analisar Deus. Em outras palavras, o que ama a Deus é o que pode se comunicar com Ele, não o que quer estudar a natureza de Deus. O eu e o tu dividem e, não obstante, o eu e o tu constituem as condições necessárias para o amor. Embora o eu e o tu dividam a vida em duas, o amor une os dois pela corrente que se estabelece entre eles. Chamamos essa corrente de comunhão. Ela flui entre o homem e Deus. Para responder às perguntas: “O que é Deus? O que é homem?” podemos dizer que a alma, consciente de sua existência limitada é o homem. A alma refletida pela visão do ilimitado é Deus. Em palavras mais simples: o homem consciente de si mesmo é homem e o homem consciente do seu ideal mais elevado é Deus. Pela comunhão entre os dois, com o tempo ambos passam a ser um só, pois na realidade eles já são um. Entretanto, a alegria da comunhão é ainda muito maior do que a alegria da união, pois toda a alegria da vida reside no pensamento do eu e do tu. Tudo que o homem considera belo, precioso e bom não se encontra necessariamente numa coisa ou numa pessoa: é encontrado no seu ideal. O objeto ou a pessoa fazem o homem criar na mente a beleza, o valor e a bondade.
  • 43. O homem crê em Deus e faz de Deus o ideal de sua adoração para poder comungar com alguém, ter alguém para quem possa levantar os olhos e depositar inteira confiança. Acredita que Deus está acima deste mundo indigno de confiança e que pode confiar na Sua misericórdia, ao ver à sua volta apenas o egoísmo. Este é o ideal que, representado por uma pedra e colocado num altar, chama-se ídolo de Deus. Quando o mesmo ideal é levado a um plano mais elevado e é colocado no altar do coração, passa a ser o ideal de Deus, com Quem o crente entra em comunhão e com cuja visão sente-se feliz, tão feliz como pode alguém ser feliz na companhia do Rei do Universo. Quando este ideal é transportado para um plano ainda mais elevado, penetra no real e a verdadeira luz manifesta-se ao homem piedoso. O que já era um crente se transforma no homem que atingiu a realização de Deus.
  • 44. TERCEIRA PARTE Os Sufis I O que é um Sufi? Estritamente falando, todo aquele que procura a Verdade eterna é realmente um Sufi, quer tenha esse nome ou não. Como, porém, o homem procura a Verdade de acordo com seu ponto de vista, frequentemente acha difícil acreditar que os outros, tendo pontos de vista diferentes, estão procurando a mesma Verdade e cheguem a ela embora em graus diferentes. Este é realmente o ponto de vista do Sufi, diferente dos outros somente pelos constantes esforços que faz para compreender que cada um, seguindo seu próprio gênero de vida, ajusta-se ao esquema geral e por fim alcança não só seu próprio objetivo, como o objetivo final de toda a humanidade. Assim, cada um pode ser chamado de Sufi, quer esteja procurando compreender a vida quer esteja disposto a acreditar que todos os demais seres humanos também acharão e tocarão o mesmo ideal. Quando uma pessoa opõe-se ou impede a expressão de um grande ideal e está pouco disposta a acreditar que se unirá aos seus semelhantes, logo que tiver penetrado profunda e suficientemente na verdadeira alma, está impedindo a si mesma realizar o ilimitado. Todas as crenças são simplesmente graus de clareza da visão. Todas fazem parte do mesmo oceano da verdade. Quanto mais for isso compreendido, mais fácil será ver a verdadeira relação existente entre todas as crenças e mais vasta será nossa visão de um e único grande oceano. As limitações e barreiras são inevitáveis na vida humana. Formas e convenções são naturais e necessárias, mas não há dúvida que elas dividem a humanidade. Sábio é aquele que se comunica com todos apesar das barreiras. Qual é a crença do Sufi em relação à vinda de um Mestre Mundial ou, como dizem alguns, à segunda vinda de Cristo? O Sufi é livre em suas crenças e descrenças e dá completa liberdade aos outros de ter opiniões próprias. Não há dúvida alguma que, se um indivíduo ou uma multidão acreditarem que virá um Mestre ou um Reformador, certamente que esse Mestre ou Reformador virá para eles. Da mesma forma, se outros não acreditarem na sua vinda, para esses o Mestre ou o Reformador não virá. Para os que esperam que o Mestre venha em forma humana, um homem trará a Mensagem. Para os que esperam o Mestre em forma feminina, uma mulher será portadora da Mensagem. Aqueles que chamam Deus, Deus aparecerá. Os que batem às portas de Satanás, ele
  • 45. responde. Há uma resposta para cada apelo. Para o Sufi o Mestre nunca está ausente, quer venha numa forma ou milhares de formas. O Mestre é sempre um e o mesmo para o Sufi. Ele o reconhece em tudo. Todos os Mestres que o Sufi vê são seu único Mestre. Para um Sufi o ser interior, o ser exterior, o reino da terra, o reino do céu, o ser total, são seu Mestre. Aproveita todos os momentos de sua vida para adquirir conhecimentos. Para alguns o Mestre já veio e partiu, para outros o Mestre pode ainda vir, mas para um Sufi o Mestre sempre esteve com ele e com ele permanecerá eternamente. Qual a posição do Sufi em relação a Cristo? A pergunta feita pelo próprio Jesus: “O que pensais vós de Cristo?” por si só fornece a resposta. A ênfase está no “vós”. Há tantos pensamentos sobre Cristo quantas são as pessoas que os expressam. O Sufi não se limita a expressar esses pensamentos. Cristo é o nome do ideal do Sufi ou Rasul, como é chamado em Árabe. Tudo que está centralizado no Rasul está centralizado no Cristo. As duas concepções são uma só. Todos os nomes e funções que serviram para criar uma concepção do Cristo, do Profeta, do Sacerdote, do Rei, do Salvador, do Noivo, do Amado, são compreendidos pelo Sufi. Pela constante meditação o Sufi realiza todos esses aspectos do Ser único e mais além, Allah ou Deus. II Sobre a iniciação na Ordem Sufi, a primeira tendência do homem é querer saber algo diferente do que é ensinado abertamente pelo mundo. Sua vontade é procurar saber alguma coisa que não sabe bem o que é. Sabe que os opostos, o bem e o mal, o certo e o errado, o amigo e o inimigo, não estão separados uns dos outros como em geral se pensa. Sente que seu coração está mais predisposto à compaixão que nunca. Seu senso de justiça deseja julgar primeiro a si próprio antes de julgar os outros. Tudo isso prova que o homem deve procurar um guia que o conduza através desses caminhos desconhecidos. Principalmente depois de ter lido ou ouvido falar algo sobre Sufismo, pensa que já é um verdadeiro Sufi, que está sintonizado com o círculo Sufi. Sente-se então atraído para o espírito do Mestre, de cujas mãos deve receber a iniciação. Depois de estudar os livros publicados pelo Movimento Sufi, ou depois de falar com o Murshid (Mestre), surge nele o sentimento de que a Mensagem é autêntica e verdadeira. Surge então a pergunta: o que significa iniciação? Iniciação ou Bayat, em termos Sufis, antes de mais nada tem algo a ver com o relacionamento entre o discípulo e o Mestre. Murshid ou Mestre é o conselheiro do discípulo no caminho espiritual. Nada dá ou ensina ao discípulo (mureed), porque não pode dar o que o discípulo já possui e não pode ensinar o que a alma do discípulo já sabe. O
  • 46. que o Murshid faz na vida do discípulo é mostrar-lhe como ele próprio pode desimpedir o caminho que conduz à luz que existe dentro do seu ser usando seus próprios recursos. Este é o único objetivo da vinda do homem à terra. O objetivo da vida pode ser obtido sem um guia especial, mas tentar isso dessa maneira é o mesmo que um navio tentasse atravessar o oceano sem uma bússola. Receber iniciação, portanto, significa entregar-se confiante nas mãos de um guia espiritual para assuntos espirituais. O passo seguinte é decidir o seguinte: “se devo ter um guia, quem será ele?” Não há um carimbo para identificar a espiritualidade, nem um selo de perfeição estampado na testa de ninguém permitindo que se possa dizer: “Esta é a pessoa de cujas mãos receberei iniciação”. Para constatar o mérito não podem ser levadas em consideração nem a aparência nem as palavras. A única coisa em que se deve confiar é na atração que a alma da pessoa exerce sobre nosso coração. Mesmo assim é bom se convencer se é o mal atraindo a maldade que existe dentro da pessoa, ou se é Deus atraindo o que existe de bom dentro dela. Há três maneiras de confiar: a primeira é não confiar em alguém até que com o tempo esse alguém prove ser digno de confiança. Os que confiam desta maneira não tiram nenhum proveito no caminho espiritual, porque continuarão agindo como espiões, experimentando e testando seu Mestre com os olhos focalizados para baixo. Assim fazendo, conseguem ver apenas o ser imperfeito do Mestre e jamais poderão ver a beleza do seu ser perfeito, que está acima e além dos limites de sua visão. A segunda maneira de confiar é ter confiança e continuar confiando até que a pessoa prove ser indigna de tal confiança. Os que confiam desta forma estão em melhores condições que os primeiros, pois a confiança que depositam torna sua visão aguçada e são muito maiores suas perspectivas de desenvolvimento. contanto que ao longo da jornada sejam guiados pela inteligência. A terceira maneira de confiar é ter absoluta confiança numa pessoa e continuar confiando até que tal confiança prove ser verdadeira. Esta é a confiança dos devotos. São esses discípulos que fazem o Murshid. São esses adoradores que fazem Deus. “Pela fé cria-se uma linguagem para a rocha que fala conosco como se fosse Deus, mas quando falta fé, até Deus, o Ser Eterno, está morto como uma rocha”. As palavras proferidas por um Murshid são tão inúteis para uma mente incrédula como inútil é um remédio para o doente descrente. Para ser um iniciado na Ordem Sufi, pois, é preciso ter boa vontade para concordar com seus ensinamentos e objetivos, boa vontade para deixar de dar importância às diferenças existentes nas várias crenças do mundo e ver em todos os Mestres a personificação do Espírito Divino. É preciso que o candidato não esteja seguindo outro curso de treinamento espiritual. Se já segue um treinamento espiritual, porque ir a um outro Mestre? Seria o mesmo que navegar em dois barcos com um pé em cada barco. Cada barco segue uma rota diferente