O documento apresenta modelos alternativos para a governação dos portos em Portugal. São discutidos três modelos principais: 1) manter as sete autoridades portuárias atuais com maior cooperação, 2) fundir algumas autoridades em três ou duas autoridades regionais, 3) criar uma única autoridade portuária nacional com três ou duas autoridades locais. O objetivo é encontrar um equilíbrio entre autonomia local e coordenação estratégica nacional.
1. Governação dos Portos
Modelos Alternativos
Seminário Transporte Marítimo
Transportes e Negócios
Porto, 22 de Março de 2012
Vítor Caldeirinha
2. Questões Prévias
● Os portos devem servir a economia, as exportações, os seus clientes
● É fundamental a autonomia, a proximidade e a inteligência regional na ação dos portos
● O que está em causa no modelo de governação é o aumento da colaboração/
coordenação entre autoridades portuárias públicas - pensar global e agir localmente
● Os portos têm vindo a ter uma evolução financeira positiva nos últimos 20 anos e Leixões
é um bom exemplo: produtivo, rentável e dinâmico, apesar da concorrência espanhola e
das limitações urbanas à expansão. Podem alavancar mais a economia?
● É compreensível o receio do centralismo
● Esta é uma análise técnica da questão e das alternativas
3. Todos os portos tiveram bons resultados financeiros e
operacionais em 2010
(Fonte: DGT)
Nota: As receitas das áreas dominiais podem distorcer alguns resultados portuários, como no caso da APL
4. Índice
1. Objetivos dos portos
2. Evolução do conceito de porto
3. Portos que colaboram
4. Porquê repensar tudo agora?
5. Critérios de escolha do modelo
6. Modelos alternativos
7. Conclusões
5. Objetivos dos portos
Por nível geográfico
Pólo de desenvolvimento industrial e logístico
Nível local e regional atraindo investimento nacional e internacional
Apoio às exportações
Nível nacional Criação de valor e emprego no País, alavancar a economia,
sendo mais competitivos
Centro de distribuição internacional, trânsito para Espanha e
Nível internacional transhipment intermédio entre continentes e o Norte da
Europa
6. Nota: Quem são os concorrentes dos nossos portos?
● Os novos destinos das nossas exportações na América, África, Ásia, Índia carecem
escalas em hubs terceiros que encarem as exportações portuguesas com custos feeder
(Sines é exceção)
● Empresas de diversos países e continentes concorrem cada vez mais com as nossas
nesses novos mercados
● Os portos portugueses têm que ser tão ou mais competitivos que os portos desses
países concorrentes a nível global, para que as empresas portuguesas também sejam
● Logo os concorrentes dos portos portugueses são cada vez mais os portos que servem
as empresas concorrentes dos exportadores portugueses no mundo
● A comparação deve ser realizada entre os nossos portos e os portos desses países
(Alemanha, Holanda, Turquia, Itália, Espanha, México, China, Marrocos)
7. Objetivos dos portos
Ao nível do porto
Sustentabilidade financeira com eficiência quando
Eficiência comparado com portos concorrentes (Europa, etc.)
Produtividade Eficácia do serviço prestado na satisfação dos clientes
Integração Foco total nas redes logísticas terrestres e marítimas globais
Gestão, infraestruturas, acessibilidades marítimas e
Modernidade terrestres e serviços marítimos modernos e adequados
8. Objetivos dos portos
Nível da autoridade portuária
Reduzir o custo por tonelada
Competitividade Reduzir a receitas por tonelada (Preço unitário baixo)
Tender para o equilíbrio financeiro a médio e longo prazo
Sustentabilidade Investir com retorno financeiro equilibrado
Aumentar o volume de mercadorias
Operacional Aumentar o volume de vendas
Aumentar o valor da carga movimentada
Reduzir o peso dos custos com pessoal
Pessoal Aumentar o movimento em toneladas por empregado
Aumentar o valor da carga movimentada por empregado
9. O conceito de porto tem evoluído muito nos últimos anos
Foco no porto Foco no hinterland alargado e no foreland
Portos nos anos
70 e 80 Portos atuais Portos no futuro
Vigo Ferrol Santander Bilbao
● ●
●
●Leixões ●Leixões ●
●Leixões ● ●
Madrid
●Aveiro ●Aveiro ●Aveiro ●
●Lisboa ●
●Lisboa ●Lisboa ●Setúbal ●
>
●Setúbal ●Setúbal ●Sines
●
●Sines ●Sines Algeciras Valência Barcelona
Gestão Autónoma dos portos (2 grandes regiões) Coordenação estratégica na logística
10. Comparação Portugal e Espanha
500
450
400
Milhões de Toneladas
350
300
250 Portugal
200 Espanha
150
100
50
0
2001 2011
5000
4500
4000
3500
Milhares de TEU
3000
2500 2001
2000 2011
1500
1000
500
0
Lisboa Leixões Sines Algeciras Barcelona Valência
11. Razões para a aproximação que se verifica entre portos no mundo
(ver livro “Ports in Proximity” de Theo Notteboom de 2009)
Razões Descrição
● Economias de escala administrativas e outras
Massa crítica ● Sinergias diversas (conhecimentos, complementaridades)
● Partilha de recursos comuns
● Juntar forças contra concorrentes comuns
● Juntar forças para penetrar nos hinterlands dos concorrentes
Concorrência ● Atrair linhas regulares em detrimento dos concorrentes
● Partilhar os hinterlands e os forelands
● Harmonização de procedimentos
Harmonização ● Harmonização de regras
● Partilha de Sistemas de Informação
● Obtenção de financiamentos
coordenação das ● Planeamento de acessibilidades e infraestruturas comuns
● Acordos de especialização de recursos
estratégias ● Coordenação das estratégias de desenvolvimento, comercial e
marketing
12. A colaboração entre portos tem aumentado
(ver livro “Ports in Proximity”, pags. 164 e 193)
Tipo de Colaboração Exemplos
● Leixões e Aveiro no Corredor E-80
● San Pedro Bay Ports, Algeciras/Tanger Med, Liguria Ports no
Colaboração em marketing e infraestrutura; NY/NJ PA e Albany PA no multimodal;
projetos isolados New Orleans e Lower Mississippi Ports no Marketing; Shanghai e
portos do Yangtze; Port of Stockholm, Sodertalje e Malarhamnar na
estratégia conjunta
● Haropa (no marketing e desenvolvimento, muito formalizada e com
Corpos pessoal próprio dedicado – 50 pessoas oriundas das APs)
● Comissão dos Portos Flamengos, Autoridade Marítima de Malta,
autónomos, com BremenPorts, Campania Ports (marketing, financiamento, logística e
funções limitadas infraestruturas)
● Assoc. Portos de Portugal, na JUP e relação com os portos da CPLP
● Queensland Port Corporation (Austrália), Índia, África do Sul
Autoridades ● Portos da Baixa Saxónia na Alemanha (Emden, etc.)
portuárias nacionais ● Georgia and South Carolina PA (EUA)
ou regionais ● Associated British Ports e PD Ports (portos privados, AP comum, UK)
● Em análise na Bélgica (Zeebrugge, Antuérpia, Ghent, Ostend)
● Copenhaga e Malmo
Fusão de Portos
● New York e New Jersey PA; Vancouver Fraser PA
próximos ● Outros exemplos (ver gráfico seguinte)
13. Número de portos por autoridade portuária na Europa
Fonte: ESPO
1 porto – 62%
2 portos – 15%
3 ou mais portos – 23%
14. Possíveis razões da intensificação da colaboração entre os
portos nacionais
Vantagens Descrição
● Economias de escala administrativas
● Obter mais financiamentos
Massa crítica ● Sinergias e redução de custos
● Partilha de recursos comuns
● Juntar forças contra concorrentes comuns
● Juntar forças para penetrar no hinterland espanhol (aprofundar o
Concorrência exemplo de Leixões e Aveiro no corredor E80)
● Atrair linhas regulares de grandes navios em detrimento de Espanha
● Ter uma estratégia comercial comum na CPLP
● Partilhar sistemas de informação
Harmonização ● Harmonizar procedimentos
● Normalizar regras e regulamentos
● Pensar os investimentos públicos em conjunto e não duplicar
Coordenação das ● Pensar as acessibilidades e redes no hinterland em conjunto
● Coordenar as estratégia de desenvolvimento, comercial e marketing
estratégias em conjunto
15. Porquê repensar tudo agora?
Drivers Atores Descrição
Temos que “melhorar o modelo de
Crise
Governo gestão do sistema de portos”
Económica/Troika Memo com a Troika ponto 5.25
As empresas exportadoras têm
que ser mais competitivas no
mercado global.
Exportações Indústria Os portos têm que ser mais
competitivos que os que servem
as empresas concorrentes.
Os portos são a economia mais
visível do mar e devem alavancar
Mar de População, políticos e
mais a economia (ligando melhor e
Oportunidades empresas de forma mais barata à China,
CPLP, etc).
16. Critérios de escolha do modelo
(Equilíbrio proximidade e coordenação)
Critério Sub-critério
● Proximidade à Comunidade local
● Preocupação com o porto e as necessidades da região
Proximidade ● Proximidade ao poder local e autarquias
● Acompanhamento local e aproveitar a inteligência regional
● Evitar risco de centralismo
● Flexibilidade e agilidade local
● Rapidez de Resposta local
Agilidade ● Flexibilidade comercial nas taxas
● Fomentar a inovação e a iniciativa
● Autonomia financeira e para investir
● Autonomia para decidir questões operacionais
Autonomia ● Autonomia para decidir questões comerciais
● Diferenciação de portos e sua marcas
● Reduzir eventuais custos de mudança e respetivos efeitos na
Minimização dos produtividade e na atividade
custos de mudança ● Faseamento da mudança
● Facilitar a Mudança
17. Critérios de escolha do modelo
(Equilíbrio proximidade e coordenação)
Critério Sub-critério
Co-opetition:
● Concorrência entre terminais e cadeias logísticas
Concorrência e ● Concorrência e Cooperação entre Portos
Cooperação
● Não fragmentação e peso negocial
● Economias de escala
Massa crítica ● Redução de custos
● Partilha de recursos comuns
● Sinergias entre Administrações Portuárias
● Harmonização de normas, regras e procedimentos
Harmonização ● Partilha de sistemas de Informação Comuns
● Coordenação de políticas de investimento público
● Evitar duplicação de investimentos públicos
Estratégia comum ● Definição e respeito pelas prioridades nacionais
● Estratégia de Desenvolvimento e Marketing comum
18. Funções de cada ator
Área Estado Regulador APs Terminais
Estratégia,
Garantir a
Política, gestão do Gestão do
Governação visão
livre
porto, terminal
concorrência
concessões
Molhes de
Infraestru-
proteção, Equipamento,
turas, acessos
dragagens de edifícios,
Investimento 1º estabeleci-
internos, cais,
Depende do terraplenos,
mento, modelo do País ou infraestru-
serviços não
acessos turas (em
privados,
terrestres ao BOT)
manutenção
porto
19. Modelos Alternativos
Tutela
Modelo atual
IMT/IPTM
7 Autoridades
Portuárias Leixões Aveiro Lisboa Setúbal Sines
Viana F. Foz
Autonomia,
agilidade e
Possibilidade de aprofundar a colaboração neste modelo:
proximidade ● Aumentar a cooperação pontual em certos projetos?
● Aprofundar o conceito de cooperação na Associação dos Portos de
Portugal ? Passar a empresa de recursos partilhados?
● Criar um agrupamento de empresas tipo HAROPA no modelo atual,
com 50 pessoas, com funções de desenvolvimento e marketing e
Falta de massa serviços partilhados (estratégia botton up)?
● Criar um organismo central tipo Puertos del Estado que coordene a
crítica, coordenação política? O IMT pode fazer esse papel com força, meios e
e harmonização conhecimentos?
20. Tutela
Modelos Alternativos
Fusão em 3 ou 2 APs
IMT
3 ou 2 Autoridades
Portuárias Leixões, Viana e
Lisboa e Setúbal Sines e Algarve
Aveiro e F. Foz
Norte e Centro Região de Lisboa Sul
Autonomia,
Tutela
agilidade e
proximidade
IMT
Massa crítica,
coordenação e
harmonização
Leixões, Viana e Lisboa, Setúbal,
Alternativa: o mesmo C.A. em vários portos Aveiro e F. Foz Sines e Algarve
numa primeira fase Norte Sul
21. Tutela
Modelos Alternativos
1 PP + 3 ou 2 APs
IMT
1PP + 3 ou 2 Portos de
Autoridades Portugal
Portuárias
Leixões, Viana e Lisboa e Sines e
Aveiro e F. Foz Setúbal Algarve
Norte e Centro Região de Lisboa Sul
Autonomia,
agilidade e Tutela
proximidade
IMT
Massa crítica,
coordenação e
harmonização Portos de Portugal
Possibilidade das autarquias, comunidade
Leixões, Viana e Lisboa, Setúbal, Sines
portuária e/ou clientes participarem na gestão
Aveiro e F. Foz e Algarve
Norte Sul
22. Possíveis tipologias da “Portos de Portugal”
Estatuto Funções
Coordenação estatal e central:
Tipo “Puertos del ● Estudos gerais
Estado” (Madrid) ● Estratégia geral
(Mais forte que IPTM)
Coordenação vertical empresarial:
● Grandes obras, estratégia e desenvolvimento
Holding ● Sistemas de informação
● Recursos humanos e financeiros,
● Serviços jurídicos e marketing
Rotação do PCA das Aps e domínio dos portos:
Tipo “HAROPA” ● Estratégia e desenvolvimento
(Paris, Rouen e Le Havre) ● Comercial e marketing
Evolução da Assoc. Portos de Portugal, dominada pelos portos:
Serviços de recursos ● Serviços comuns de Sistemas de informação
comuns partilhados ● Serviços comuns de Recursos humanos e jurídicos
● Marca “Portos de Portugal” e serviços comuns de marketing
23. Modelos Alternativos
Tutela
AP única nacional:
1 PP + 5 ou 3 Direções-gerais
IMT
1 Autoridades Portuária Portos de Portugal
+
5 ou 3 Direções-gerais
Leixões e Aveiro e
Lisboa Sines e
Viana F. Foz Setúbal
Algarve
Autonomia,
agilidade e Tutela
proximidade
IMT
Massa crítica,
coordenação e Portos de Portugal
harmonização
Leixões,
Viana,
Lisboa e Sines e
Aveiro e F. Setúbal Algarve
Foz
24. Visão geral da alternativas e critérios
Modelos Alternativos (nº de administradores)
Critérios de escolha Atual(15) 3AP(9) 2AP(6) PP+3AP(10) PP+2AP(7) 1AP(7) 1AP(5)
Proximidade
Agilidade
Manter?
Autonomia
+ Coordenação no
Menores custos de mudança SOLUÇÃO ?
modelo atual?
Concorrência e Cooperação
Massa Crítica
Harmonização
Evolução radical ou gradual do modelo ?
Estratégia Comum
25. Citações:
Os políticos portuários devem prestar especial atenção ao equilíbrio entre a
integração organizacional e outras dimensão de proximidade (local). As autoridades
portuárias possuem vantagens relacionadas com a proximidade cognitiva e social
cara-a-cara com os atores dos portos.
Peter Hall e Wouter Jacobs, em “Ports in Proximity”, 2009
No Japão (e face à concorrência na Ásia), é melhor que os portos procurem criar
redes logísticas integradas em regiões alargadas, que fazer investimentos
concorrentes e lutar por carga. Quem são os concorrentes?
Masato Shinohara, em “Ports in Proximity”, 2009
Os políticos portuários da Coreia devem passar de uma estratégia de “dois portos
hub” para uma estratégia de “duas regiões/sistemas de portos integrados”.
Sung-Woo Lee e Geun-Sub Kim, em “Ports in Proximity”, 2009
Para haver uma "sociedade aberta e dinâmica", deve utilizar-se o "princípio da
subsidiariedade”, princípio que permite que a cada um seja conferido o maior
poder possível na sua livre iniciativa, que possa ter o efeito de contágio
positivo mais amplo que soubermos congregar“
PM, Universidade do Porto, 16 de Março de 2012
26. Conclusões
1. A evolução do conceito de porto e a crescente concorrência tem implicado
maior colaboração entre portos em todo o mundo
2. Os objetivos dos portos e da economia portuguesa implicam que os portos
consigam ser mais competitivos e eficientes e alavanquem a economia
3. Principais áreas de colaboração: sistemas de informação, partilha de
recursos, estratégia, investimentos, marketing, alargamento do hinterland
para Espanha e do foreland na CPLP
4. Este momento é ideal para se refletir sobre como melhorar a colaboração e
coordenação entre portos e de que forma
5. Procurei mostrar um panorama sobre a questão e pistas.
Ao Governo competirá essa decisão.
Aos senhores compete refletir, discutir e influenciar, para que os nossos filhos
e netos um futuro melhor.