O documento discute os conceitos fundamentais da geopolítica, incluindo como o poder político nacional é influenciado pelo espaço geográfico e como a geopolítica busca entender as relações internacionais. Ele também resume as teorias geopolíticas de importantes pensadores como Ratzel, Mahan, Mackinder e Spykman e como essas teorias influenciaram as estratégias de potências mundiais.
História das Missões Espaciais - Centenário - Soyuz TMA-8
Geopolítica e Poder Nacional
1. Geopolítica
A geopolítica é a disciplina que busca entender as relações recíprocas entre o poder político
nacional e o espaço geográfico. Ela procura responder a seguinte questão: até que ponto a ação
dos estados nacionais é ou não determinada pela situação geográfica. A geopolítica tem duas
finalidades: orientar a atuação dos governos no cenário mundial e permitir uma análise mais
precisa das relações internacionais.
O raciocínio geopolítico (o aproveitamento do espaço territorial e os limites que este impõe à
ação do poder) e a sua normatização metodológica ocorreu no século XIX. O “pai” da
geopolítica foi o geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) que formulou conceitos
fundamentais para a abordagem geopolítica da realidade internacional. Em primeiro lugar, a
função do Estado, é expandir e defender o espaço territorial nacional e, além disso, Ratzel
conceituava que as fronteiras nacionais são móveis, pois são determinadas pela capacidade
político-militar de ampliá-las e de as manter. Importante é ressaltar que Ratzel reflete o
momento histórico da unificação da Alemanha pela Prússia, processo marcado pela expansão
militar. A Alemanha Imperial (o IIº Reich) surgiria em 1871 após três guerras: a “dos Ducados”,
contra a Dinamarca (1864), a “Guerra Austro-Prussiana” (1866) e a “Franco-Prussiana” (1870).
O raciocínio de Ratzel expressa esta íntima ligação entre “unidade política” (proposta de
unificação nacional), necessidade de expansão territorial e poder militar.
Nos Estados Unidos da América, o almirante Alfred Thayer Mahan elaborou uma proposta
global para seu país. Segundo sua visão, os EUA eram uma “grande ilha” cercada por dois
enormes oceanos: o
Atlântico e o Pacífico.
Portanto, seria um
país quase impossível
de ser invadido,
contanto que tivesse
como aliados o
Canadá e o México.
Mas, também seria
fundamental manter a
América Central como
“zona de influência”.
Potência insular, os
EUA não precisariam
de um exército forte,
mas de esquadras
navais poderosas:
uma no Pacífico e
outra no Atlântico.
Estas frotas, numa
emergência, se ajudariam: daí a necessidade de uma passagem entre o Atlântico e o Pacífico
próxima ao território norte-americano. Nascia, assim, o projeto do Canal do Panamá. Mahan
defende a ideia de que as potências marítimas tendem a ser dominantes, pois são capazes de
manter o controle de áreas ao redor do continente euroasiático, então o “núcleo sócio-
econômico-político” do mundo. De fato, a Eurásia pode ser definida como uma enorme massa
territorial contínua cuja segurança depende, fundamentalmente, da ação de forças militares
terrestres. Em síntese, as nações euroasiáticas teriam uma mentalidade estratégica fundada
nos exércitos; os países periféricos à Eurásia optariam pelo poder naval - atualmente,
aeronaval. Na gíria geopolítica: as nações “baleias” versus os países “ursos”.
Em 1904, o britânico John Mackinder, difundiu a teoria de que a ”Heartland” (“CORE“ – “terra
coração”, “região núcleo”) do mundo, em função da sua massa territorial, seria a Eurásia,
notadamente a região compreendida entre a Alemanha e a Rússia. No entender de Mackinder, a
potência que controlasse essa área seria hegemônica em relação às nações marítimas que, por
seu turno, dominariam a “Ilha Mundial” (“World Island”), isto é, os espaços do planeta periféricos
ao continente eurasiano. Historicamente, as nações que buscaram o domínio do “core”
2. euroasiático foram, em tempos recentes, a Alemanha e a Rússia; as que buscaram o poderio
naval foram, de início, a Inglaterra, e, em seguida, os EUA. Mahan e Mackinder concordavam
quanto à existência do conflito entre a “baleia” e o “urso”, só que o americano privilegiava o
poder naval e o britânico realçava o papel estratégico das forças terrestres.
As concepções
geopolíticas foram,
finalmente,
sistematizadas pelo
sueco Rudolf Kjellen
que inspiraria os
teóricos do Instituto
Geopolítico de
Munique, cujo diretor
foi o general Karl
Haushofer . A
geopolítica alemã se
baseava em três
noções: toda
potência precisa
controlar um espaço
geográfico
suficientemente
grande para garantir
sua segurança e
possibilitar uma lucrativa exploração econômica; existe a “Ilha Mundial”, o que levou a Alemanha
a criar um poder naval; as áreas hegemônicas do Hemisfério Norte (EUA, Alemanha, Rússia e
Japão) deveriam subordinar o Hemisfério Sul.
Tal visão geopolítica fundamentou a expansão da Alemanha Nazista (1933-1945), cuja teoria do
“Lebensraum” (“espaço vital”) visava anexar áreas territoriais onde houvesse habitantes de
“sangue alemão”, definidos como um povo “viril e vigoroso”. Nesse caso, a geopolítica foi uma
arma conceitual nas mão de genocidas e violadores dos valores humanistas. Na década de 30,
o geopolítico Nicholas Spykman defendeu a ideia de que o expansionismo alemão só seria
barrado por meio de uma aliança entre o poderio naval anglo-americano e a Rússia, potência
militar terrestre. Para
Spykman, o controle
do “Heartland” euro-
asiático era menos
importante do que o
domínio do Rimland
(o “anel marítimo”).
Após a Segunda
Guerra Mundial
(1939-1945), quando
do início da “Guerra
Fria” (o conflito
político e ideológico,
por vezes marcado
por “guerras
limitadas”, entre as
nações ocidentais,
lideradas pelos EUA
e as subordinadas à
URSS), os EUA
retomaram a teoria de Spykman, buscando cercar o país dos sovietes através de forças
aeronavais.