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FILHOS<br />DE<br />SUAPE<br />AQUI VOCÊ IRÁ ENCONTRAR UM EXCELENTE DOCUMENTÁRIO FEITO PELA JORNALISTA MARCIONITA TEIXEIRA E QUE FOI PUBLICADO PELO DIÁRIO DE PERNAMBUCO NO PERÍODO DE 08 A 13 DE MAIO,QUE RETRATA A EXPLORAÇÃO E ALICIAMENTO DE MENORES NA REGIÃO ESTRATÉGICA DE SUAPE.<br />O Diario de Pernambuco publica, deste domingo até a próxima sexta-feira, uma série de reportagens sobre um fenômeno que desponta em meio a duas das principais obras do país, levadas à frente no Nordeste: a Refinaria Abreu e Lima e o Polo Petroquímico de Suape. São histórias que nascem do encontro entre homens que chegam sozinhos, sem suas famílias, para trabalhar na construção do chamado progresso e as jovens moradoras do Território Estratégico de Suape, formado pelos municípios de Ipojuca, Cabo, Escada, Moreno, Jaboatão dos Guararapes, Rio Formoso, Sirinhaém e Ribeirão<br />A sedução da quot;
fardaquot;
 <br />marcionila Teixeira<br />Recife, domingo, 8 de maio de 2011<br />Amanda, 17 anos, teve que lutar na Justiça para Nino ser reconhecido pelo pai biológico, que já deixou o município do Cabo de Santo Agostinho. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Filhos de Suape - Confira o depoimento de Olívia, avó de Alice, 13 anos (nomes fictícios), que tranca a neta em casa quando sai, no Cabo de Santo Agostinho, porque teme pela segurança da adolescente. Imagens: Marcionila Teixeira/Teresa Maia/DP/D.A Press <br />Um universo que se abre, repleto de pessoas que vão e vêm, daquelas com tempo para chegar, mas sem data para partir. Gente de fora, que instala-se e transforma cenários de municípios pobres, muda vidas e morre, mesmo que subjetivamente, na mente de quem fica. Pessoas deixadas para trás, com bebês nascidos em meio a relações desfeitas. Adolescentes vítimas da exploração sexual, que desorganiza famílias e dissemina doenças. O Diario de Pernambuco publica, deste domingo até a próxima sexta-feira, uma série de reportagens sobre um fenômeno que desponta em meio a duas das principais obras do país, levadas à frente no Nordeste: a Refinaria Abreu e Lima e o Polo Petroquímico de Suape. São histórias que nascem do encontro entre homens que chegam sozinhos, sem suas famílias, para trabalhar na construção do chamado progresso e as jovens moradoras do Território Estratégico de Suape, formado pelos municípios de Ipojuca, Cabo, Escada, Moreno, Jaboatão dos Guararapes, Rio Formoso, Sirinhaém e Ribeirão.<br />Filhos de Suape - Confira o depoimento de Amanda (nome fictício), moradora do Cabo de Santo Agostinho que teve um bebê, aos 17 anos, de um trabalhador que prestava serviço para uma firma em Suape. Imagens: Marcionila Teixeira/Teresa Maia/DP/D.A Press <br />A repórter Marcionila Teixeira e a fotógrafa Teresa Maia percorreram os oito municípios do entorno de Suape para captar o avesso das obras. Conversaram com adolescentes com idades variando entre 11 e 19 anos e revelam o que os governos não conseguem ou mesmo não querem enxergam. Os episódios de exploração sexual, estupro e gravidez na adolescência explodem na região. Provocam, entre outras coisas, o nascimento de rebentos batizados como os filhos de Suape. Uma infância que já vem à luz condenada à ausência do pai biológico. A série é um convite à reflexão. Um chamado ao presente, que há muito deixou de ser possibilidade de futuro na região.<br />Saiba mais <br />Estimativa de população no território de Suape Ipojuca2007 lllllllllllllllllllllllll 70.0702015 lllllllllllllllllllllllllll 84.6062035 lllllllllllllllllll 108.165aumento da população: 54,36%Jaboatão2007 llllllllllllllllllllllll 665.3872015 lllllllllllllllllllllllll 778.3302035 lllllllllllllllllllllllll 961.390aumento da população: 44,48% Moreno2007 llllllllllllllllllllllllll 52.8302015 llllllllllllllllllllllllll 57.7142035 llllllllllllllllllllllllll 65.630aumento da população: 24,22% Cabo2007 lllllllllllllllllllllll 163.1392015 lllllllllllllllllllllll 176.8302035 lllllllllllllllllllll 199.021aumento da população: 21,99% Escada2007 lllllllllllllllllllllll 59.8502015 llllllllllllllllllllllllll 63.2302035 llllllllllllllllllllll 68.709aumento da população: 14,80%*Na época, a Condepe/Fidem não havia incluído os municípios de Sirinhaém, Rio Formoso e Ribeirão no território estratégico de Suape <br />Paixão sem paternidade <br />Recife, domingo, 8 de maio de 2011<br />Nino* tem sete meses. É filho de Amanda*, que engravidou aos 17 anos de um desses “rapazes que trabalham em firmas”. Foi concebido em meio a uma paixão que durou apenas dois meses. Depois da gravidez, o pai, que é de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR), duvidou da paternidade. Foi embora assim como chegou ao Cabo de Santo Agostinho: de repente, junto com a empresa que pagava seu salário nas obras de Suape. O amor de Amanda virou ódio. “Logo que contei que estava grávida, ele falou que não ia assumir porque não era o pai. Nessa hora, deixei de gostar dele”, desabafa. Sua história reflete parte do que acontece hoje em alguns municípios que integram o território de Suape.<br />O abandono repentino levou a adolescente a amadurecer mais cedo do que imaginava. Procurou a Justiça e obrigou o pai a reconhecer o filho. Conseguiu. Agora, luta pelo pagamento da pensão. Amanda conta que não se envolve mais com homens de fora do Cabo. Pensa até em casar de novo. Desta vez com um vizinho, que quer assumir o filho dela.<br />“Temos três processos judiciais contra pais de bebês que não reconhecem os filhos, sendo dois deles movidos por adolescentes e um por uma mulher adulta. Esses homens partem sem assumir a paternidade e o mais grave é que nem sempre as mães sabem os verdadeiros nomes dessas pessoas. Quando sabem, é só o primeiro nome ou o apelido”, comenta a juíza do Cabo, Hélia Viegas.A direção de Suape calcula em 32 mil o número de trabalhadores atuando nas obras da refinaria e do polo petroquímico. No polo, o pico de contratações já está a todo vapor, com 12 mil homens nas frentes de trabalho. Na refinaria, o auge das contratações acontecerá no segundo semestre deste ano, quando aportarão no lugar 28 mil trabalhadores. Hoje já são 20 mil. Frederico Amâncio, vice-presidente de Suape, estima que 20% dessas pessoas são de outros estados, a maioria do Nordeste e, principalmente, da Bahia. Os demais são dos municípios do próprio território ou de cidades da Região Metropolitana do Recife. Grande parte dos que vêm de longe fica instalada em alojamentos construídos pelas empresas, dividindo quartos e banheiros com os companheiros. Outros vivem em casas alugadas pelas firmas nas regiões do entorno. Conhecidos historicamente pelos episódios de exploração sexual, os municípios do Cabo e de Ipojuca são os que mais sofrem os efeitos da chegada dos “homens de firma”, como já são chamados esses trabalhadores na região. Afinal, estão no coração das obras. No Cabo, os alojamentos e casas alugadas estão em todos os cantos, elevando o preço dos aluguéis e preocupando os antigos locatários. Em Ipojuca, onde a gestão municipal garante não ter permitido esse tipo de construção, o valor dos aluguéis também saltou.  O fenômeno corre sem freios em direção aos municípios vizinhos, que já sentem sobrecarrega nos serviços de saúde, de turismo e de alimentação. Em Escada, por exemplo, o distrito industrial cresceu a ponto de hoje possuir 15 indústrias. Grande parte delas instalou-se a serviço de Suape. Entre a década de 1990, quando foi criado, e 2005, somente abrigava uma.<br />Na leva do desenvolvimento que alavanca a região, não é só a gravidez na adolescência e a exploração sexual que preocupam. A contaminação por Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e pela Aids é outro fantasma na infância e na adolescência de Suape.<br />Sonho de Cinderela <br />Recife, segunda-feira, 9 de maio de 2011<br />Os quot;
homens de firmaquot;
 seduzem adolescentes com promessas de amor eterno, mas relações duram pouco<br />Moradora de Ipojuca, Michele ficou grávida de um trabalhador que veio de Garanhuns. Ela quer casar, ele não. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Sonhos não têm hora marcada para se transformarem em realidade. Brotam de uma imensidão de sentimentos acalentados pela vida. Alimentam-se de esperanças plantadas, por vezes, ao longo de anos. Michele Maria de Barros pensou que aos 19 anos estava prestes a realizar um sonho de menina. Encontrou em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, onde mora, um namorado bonito, com um bom emprego. Em breve, casaria e seria mãe. A história da Cinderela que encontrou o príncipe encantado acabou em abandono.<br />Infografico <br />Como tantas outras adolescentes do entorno de Suape, Michele engravidou do forasteiro de Garanhuns, no Agreste pernambucano, depois de um namoro de um ano. A partir daí, viu seus sonhos virarem pó. O rapaz, que permanece em Ipojuca, diz que só registra o menino após um teste de DNA. “Ainda pretendo casar, não sei se ele quer. Por ele eu não tinha esse filho. Até tomei um mato para abortar, mas ele sobreviveu”, conta Michele, com o filho risonho nos braços. Por mês, a jovem que deixou os estudos “por preguiça”, só conta com R$ 100 de ajuda doados pelo pai do bebê.<br />Filhos de Suape - Confira o depoimento de Ariana, 15 anos (nome fictício), moradora de Ipojuca, que conta estar apaixonada pelo namorado, um baiano que mora no mesmo bairro que ela. Imagens: Marcionila Teixeira/Teresa Maia/DP/D.A Press <br />Os contos de fadas que terminam com as jovens protagonistas abandonadas pelos “homens de sua vida” se multiplicam. Oriana*, 15, imagina que com ela vai ser diferente. O relacionamento tem tudo para ter um final feliz. Está apaixonada por um baiano que aportou em Ipojuca para trabalhar nas obras de Suape. Em meio à dança da conquista, ganhou até um ursinho de pelúcia do namorado. A família já ouviu boatos de que ela está grávida, mas a garota nega. O que ela não faz questão de esconder é a vontade de viajar para a Bahia com o namorado. “Já falei com a mãe e o pai dele por telefone. Ela quer que eu vá. Já está tudo certo. Sei que ele não é casado e quer me levar.”Parentes de Oriana, que divide a casa pequena e de estrutura precária na periferia do município com outras 25 pessoas, não pensam desta forma. O pai da adolescente não aceita o namoro e muito menos a viagem da filha. Nem sequer fala com o genro. Deixou de se comunicar com ela também. Acha que o rapaz, com cerca de 25 anos, é casado, não quer nada com Oriana. “Ele só quer ela na hora da cama. Tá cansado de sair com os amigos e ficar com outras mulheres”, conta uma tia. <br />Estupro encoberto<br />Esse não é o primeiro caso de adolescente que quer se aventurar na companhia do namorado. “Soubemos de uma menina de 13 anos que queria partir para a Bahia com o parceiro, inclusive com apoio do tio, mas a Justiça não autorizou. A garota chegou a tentar fugir”, relata Maria do Carmo da Silva, gerente da Infância e da Adolescência da Secretaria de Programas Sociais e da Mulher do Cabo de Santo Agostinho.<br />Na rede da exploração sexual que sobrevive nessas cidades, não há apenas a vítima e o acusado. “Muitas vezes a família concorda com a situação porque se beneficia de algum modo”, denuncia Madalena Fucks, presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Cedca). A lei diz que relações sexuais com menores de 14 anos são consideradas estupro, mesmo que a adolescente aceite praticar o ato.<br />A aplicação da lei parece distante da vida real. Denúncias de estupro nesses moldes, com o claro consentimento da família, não chegam aos conselhos tutelares. “Nem sempre a família e a vítima entendem a situação como crime”, reforça Gilberto Ribeiro, presidente do conselho tutelar de Ipojuca que cobre a área de praias<br />Vida sem conto de fadas <br />Recife, segunda-feira, 9 de maio de 2011<br />O psicólogo Erich Botelho, que integra o Projeto Afetivo Sexual, que atende alunos do 6º ano até o 3º ano no Distrito Federal, compara a atração sentida pelas meninas junto aos “homens de firma” à paixão da estudante pelo professor. “O que elas sentem não é como em uma relação homem e mulher. É uma espécie de encantamento, como se aquele homem fosse um ídolo porque vem de fora do município, uma novidade. Daí surge o interesse”, destaca. A jovem, na opinião do psicólogo, também tem a tendência de achar que com ele sempre vai ser diferente. “Esses trabalhadores representam um novo poder aquisitivo para  esta população, que termina embarcando de cabeça nessa atmosfera de melhoria de condição de vida”, destaca.<br />No Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca ainda não existem pesquisas que apontem que o aumento entre 2009 e 2010 do número de mães adolescentes tenha relação com a chegada de trabalhadores para atuarem em Suape. Da mesma forma, não há  estudo que aponte o contrário. A falta de dados sobre o tema inibe a implantação de políticas públicas mais concretas para enfrentar o problema. Encontra terreno fértil para procriar em um ambiente onde o índice de grávidas na faixa etária entre 10 e 14 anos é crescente. No Cabo, o número passou de 30 casos em 2009 para 51 no ano passado. Em Ipojuca, foram 19 nascidos vivos em 2009 contra 22, em 2010.<br />Municípios litorâneos conhecidos pelos índices de exploração sexual. Mais homens circulando na região. A soma desses fatores previsíveis é um futuro que chega depois de muito avisar. “Ainda não temos parâmetros para falar sobre o aumento da gravidez na adolescência por conta da circulação desses homens. Esperamos que ainda vai haver esse problema”, diz a pediatra Zuleide Lins, assessora médica da atenção básica da Secretaria de Saúde do Cabo. Para o secretário de Saúde de Ipojuca, Raul Bradley, a prioridade da pasta, por enquanto, é o combate à dengue. <br />Hora extra dos prazeres <br />Recife, terça-feira, 10 de maio de 2011<br />No Cabo de Santo Agostinho, quem usa farda atrai adolescentes para noites de quot;
transa, pagamento e adeusquot;
<br />Confira o depoimento de Bia <br />Bia, 70 anos, angustia-se porque não consegue afastar a neta dos homens de farda. Imagem: Foto: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />A noite dos prazeres já se anuncia. O ritmo do forró invade os ouvidos, movimenta casais, estimula a troca de olhares. É noite de sexta-feira, mas ainda há frequentadores vestidos com suas fardas. Alguns desfilam sem camisa, mostrando o tórax. A farda é a senha. É garantia de dinheiro para gastar na cerveja e em satisfações sexuais. A regra é largar do serviço em Suape e partir para a curtição no Mercadão, principal ponto de exploração sexual de crianças e adolescentes no centro do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Assim como no Mercadão, a noite ferve na Avenida Laura Cavalcanti, em Gaibu, litoral do mesmo município.A equipe do Diario registra as idas e vindas de adolescentes vestidas com shorts ou vestidos e saias curtíssimos. Os trabalhadores estão nas mesas dos bares. De repente, um homem se aproxima. Pergunta o porquê das fotos. Respondo que as imagens não são dele. O desconhecido não se contenta. Diz que está de olho na equipe. Explica que não quer ser fotografado no local porque é casado. O clima fica tenso, mas a equipe continua trabalhando sob o olhar enviesado dos frequentadores. “Esse lugar era visitado por famílias, mas agora está tomado pela prostituição”, desabafa o dono de um dos bares do Mercadão. Preocupada com a situação, a juíza do Cabo, Hélia Viegas, chegou a publicar uma portaria na tentativa de inibir a exploração sexual na cidade. O documento determinava a proibição de crianças e adolescentes em bares. Mas foi só no período carnavalesco. <br />No mundo da exploração sexual de crianças e adolescentes, as histórias de amor romântico não têm vez. É transa, pagamento e adeus. Ou nessa ordem: estupro e adeus. Foi assim com Anita*, com apenas 11 anos. Ela fugiu de casa com o objetivo de passar três dias em Gaibu, no Cabo, na companhia de uma amiga de 16 anos e com dois trabalhadores de Suape.O homem que manteve relações sexuais com a criança, oriundo de Minas Gerais, foi preso e aguarda julgamento por estupro no Presídio Aníbal Bruno, no Curado, no Recife. Desde então, Anita, que perdeu a virgindade no estupro, não é mais a mesma criança. “Minha vida virou um pesadelo. Estou desesperada, com medo que ela pegue uma doença ou engravide. Essa menina não para em casa. Sai com tudo quanto é homem. Chega depois de uma semana, drogada, querendo quebrar tudo”, diz a mãe, que tem mais três filhos. Aos 11 anos, Anita não segue os limites impostos pela própria mãe. Em meio a toda desestrutura familiar,  saiu há pouco tempo de um tratamento de quimioterapia para combater um tumor na cabeça.<br />Bia* é uma evangélica de 70 anos. Criou a neta Úrsula, de 16, como filha. Desespera-se quando a adolescente some de casa, na periferia do Cabo. “Ela passa dias longe. Acho que está nas casas das colegas. Agora só quer ficar por lá. Fico aperreada. Tenho pressão alta, diabete. Não posso ter susto”, desabafa. A neta a que Bia se refere cumpre medida socioeducativa porque se envolveu em brigas na escola. “Os pais não param de chegar aqui preocupados com as filhas. Elas passam dias fora, não avisam onde estão. Simplesmente somem na companhia desses homens”, denuncia Jane Ferreira, conselheira tutelar do Cabo<br />A escolha de Sofia pela rua <br />Recife, terça-feira, 10 de maio de 2011<br />Confira o depoimento de Sofia <br />Sofia* chega em casa escoltada por policiais militares. É madrugada de uma segunda-feira e a adolescente foi encontrada nas ruas de Ipojuca, na RMR, na companhia de homens adultos. Depois de uma rápida discussão com os PMs, ela é deixada em casa, onde os soldados aproveitam para cobrar da mãe mais cuidados com a filha. Sofia só tem 12 anos. Já passa semanas inteiras na rua. Já faz sexo. A prática de estupro custa a ser punida pelas autoridades nesse pedaço de litoral pernambucano. As famílias se calam.<br />Na frente da mãe, a menina garante que não sai com homens por dinheiro. Mas revela que as amigas da mesma idade estão animadas com a chegada de tantos deles de fora para trabalhar em Suape. Aceitam convites para fazer sexo por dinheiro. Dizem que não podem perder a oportunidade. “Uma vez, estava com uma amiga em Porto de Galinhas e um coroa com uma farda de firma parou de carro na nossa frente. Ofereceu R$ 100 para passar dois dias com a gente. Falou que se eu não aceitasse, ia dar um tiro na minha cabeça. Disse que podia atirar e ele foi embora”, lembra a menina. Sofia desabafa diante de um abraço da equipe do Diario. “Se meus pais fizessem isso comigo, eu não saia de casa”.<br />A psicóloga Luciana Vieira, do Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que meninas envolvidas em exploração sexual, em geral, não encontram no pai e na mãe aliados. “São meninas que não têm acesso a bens materiais, mas que vivem em uma sociedade com um apelo de consumo enorme”, destaca a especialista.*Todos os nomes de crianças e adolescentes descritos nas matérias são fictícios como forma de proteger a integridade dessas pessoas e cumprir o que determina o Estatuto da Criança <br />e do Adolescente (ECA)<br />Desordem do progresso <br />Recife, quarta-feira, 11 de maio de 2011<br />Mesmo municípios mais distantes de Suape, como Escada, sentem o impacto do quot;
exército de fardaquot;
<br />Aduplicação da BR-101, no trecho que corta Escada, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, anuncia o desenvolvimento, mas também avisa do perigo. Em 2009,seus moradores vivenciaram de perto o pico das obras, com centenas de “homens de firma” circulando pela cidade. A mesma Escada que viu suas meninas exploradas sexualmente por homens a serviço na BR-101, corre hoje o risco de assistir a tudo de novo. O município faz parte do território que vive o boom de Suape. Na época, a lição foi ensinada. Resta saber se foi aprendida.Elisa*, 17 anos, mora em um bairro pobre, perto da BR-101. Do encontro dela com um trabalhador de 47 anos, vindo do Recife para prestar serviço nas obras da estrada, nasceu sua primeira filha, hoje com dois anos. A relação começou por dinheiro, no forró, e não resistiu às diferenças. Ela, jovem demais e prostituta. Ele, “bebia demais”, conta a menina. “Para ficar comigo tinha que pagar”, afirma Elisa, referindo-se ao passado. Hoje ela se relaciona com um caminhoneiro que assumiu o segundo filho dela, um bebê de cinco meses, também nascido do mesmo tipo de encontro pago.<br />“O número de adolescentes grávidas é alto na região. Muitas meninas têm feito programas nas cabines dos caminhões e na própria BR. Também vão aos bares onde o pessoal que vem de fora se reúne. Elas ficam muito alvoroçadas com essa novidade toda”, conta a agente de saúde Míriam Almeida.Escada segue de perto a trilha do que vem acontecendo no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca. Fernando Clímaco, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, explica que os aluguéis não param de subir por conta da chegada de trabalhadores. Ele calcula que cerca de 40% deles são de “estrangeiros”. “O impacto é mais positivo que negativo, pois estamos mais distantes de Suape”, imagina. O município recebeu proposta de construção de três vilas, cada uma com capacidade para abrigar mil trabalhadores, mas a prefeitura não aceitou a obra. “Imagine a demanda de serviços proporcionada por três mil homens sem suas famílias. E os danos sociais?”, indaga.Escada cresce ao sabor de Suape, mas os males da exploração sexual e da gravidez na adolescência ainda não foram afastados por completo em virtude das obras da BR-101. O município está localizado no lote de duplicação 7, que vai do Cabo a Ribeirão, e o trecho somente estará concluído no fim do ano, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER). <br />Recorde de ações<br />O promotor do Ministério Público de Pernambuco Arnaldo Ferreira chama a atenção para as ações de investigação de paternidade em uma cidade de pequeno porte. Elas envolvem mulheres de todas as idades, não necessariamente adolescentes que engravidaram de trabalhadores das obras na BR-101 ou de Suape. “O fato tem relação com o afrouxamento da moral sexual na Mata Sul”, avalia.<br />Chuva trouxe os homens <br />Recife, quarta-feira, 11 de maio de 2011<br />Júlio mora em Barreiros e cobra R$ 40 por relação. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />O sexo aconteceu dentro do carro. Era noite e os vidros fechados ajudavam a manter a discrição. Foi tudo rápido e eles não se viram nunca mais depois daquele primeiro encontro. Júlio*, 16 anos, sai com homens por prazer, mas dependendo do parceiro e do tipo de encontro, cobra pelo menos R$ 40 por uma transa. Na noite do carro, o outro rapaz, um adulto, era um trabalhador de uma das firmas que na época prestavam serviço em Suape. O estranho morava temporariamente em Barreiros, na Zona da Mata Sul do estado, a 110 quilômetros do Recife. A exploração sexual que engravida meninas também atinge os meninos.<br />Júlio mora em Barreiros, na Zona da Mata Sul, nas imediações do Rio Una. O município não faz parte do Território Integrado de Suape, mas a equipe resolveu visitar a região. Assim como acontece em Escada, o lugar também estava em pleno pico de obras, nesse caso, devido à destruição provocada pelas chuvas de junho do ano passado. Antes de o temporal das duas últimas semanas alagar novamente 80% da cidade, uma população estranha ao lugar circulava de farda por todos os cantos com o objetivo de reconstruir o que a primeira chuva havia colocado abaixo. A aparência do lugar é de que ainda há muito por fazer. Agora mais que nunca.<br />O adolescente confessa que não usa camisinha na hora do sexo oral, apesar de saber dos riscos de se contaminar com Aids. “Eles não gostam, não querem o preservativo”, afirma. Hoje, garante que usa a camisinha quando pratica sexo anal. É que certa vez contaminou-se com uma doença que até hoje não sabe qual era. <br />Júlio conta que sair com homens de firma não é o melhor negócio. “Eles ficam com você e depois saem falando por aí. Mas se pintar uma química, até fico, e de graça”, diz, risonho. O assédio dos trabalhadores da reconstrução é grande, afirma o rapaz. “Quem passa perto eles olham, soltam graça, pedem telefone. Muitos são casados”, comenta. No dia em que fez sexo no carro, um colega de 20 anos fez o mesmo no veículo ao lado. “O homem que ficou comigo tinha aliança e ainda tinha uma namorada em Barreiros”, revelou o colega de Júlio.*Todos os nomes de crianças e adolescentes descritos nas matérias são fictícios como forma de proteger a integridade dessas pessoas e cumprir o que determina o Estatuto da Criança <br />e do Adolescente (ECA)<br />Entrevista // François Figueirôa <br />A epidemia de Aids no Brasil cresce entre as mulheres na faixa etária entre 15 e 24 anos. Para François Figueirôa, coordenador estadual de DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde, a estreita relação entre exploração sexual e o contágio por DSTs e Aids é preocupante.  <br />Como o senhor percebe a contaminação pela Aids entre o público adolescente submetido à exploração sexual?<br />O que leva a pessoa a se infectar são as vulnerabilidades, que variam de um indivíduo para o outro. O uso da bebida alcoólica, por exemplo, nos leva a perder a capacidade de perceber os riscos. No caso da exploração sexual, a vulnerabilidade é a questão econômica, que faz com que esses adolescentes transem até sem camisinha para satisfazer o parceiro. Tem também a questão romântica, onde a vulnerabilidade está na confiança que se deposita no outro. Os jovens estão despreocupados com a Aids?<br />Acredito que essa é uma geração que não viu a face cruel da doença, que no início significava morte. Há uma banalização da epidemia, por isso não sentem necessidade de prevenção. Deve-se usar camisinha sempre. <br />Entre as regras e os hormônios <br />Recife, quinta-feira, 12 de maio de 2011<br />Homens de farda que vivem em alojamentos têm que suportar a saudade da família e não cometer abusos<br />Confira os depoimentos de Adalto Vieira e Pedro Nazareno <br />José Luiz Barbosa, 48 anos, veio da Bahia para Ipojuca à procura de um emprego em Suape. Ainda não conseguiu vestir uma farda. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Um cheiro forte de suor exala do pequeno dormitório. São seis camas postadas umas sobre as outras, organizadas na forma de três beliches. São seis homens dividindo o mesmo quarto e um único banheiro. Todos trabalhadores da mão de obra pesada, alguns de outros estados, que embarcaram no mesmo sonho: receber um salário melhor labutando nas obras da Refinaria de Abreu e Lima e da Petroquímica de Suape. No alojamento, construído por uma empresa privada no Cabo de Santo Agostinho, existem mais 13 quartos, sendo oito com três beliches e sete com dois beliches. Do lado de fora, em uma espécie de terraço decorado com um sofá, uma TV ajuda a distrair nos momentos de folga. Nos quartos não é só o calor - em geral aplacado por dois ventiladores - que incomoda. As muriçocas também ajudam a tornar a noite mais longa.A massa de trabalhadores que chega aos municípios do Território Integrado de Suape vem sozinha. Cada um desses homens largou nas suas cidades de origem mulher, filhos, pais, irmãos. Um dia escutaram que as promessas de melhoria de vida estavam pelas bandas de  Pernambuco. Colocaram o pé na estrada e encararam mais um desafio. Vida de homem de firma é assim. Construir, trabalhar duro e partir. “É absolutamente absurdo criar um alojamento só de homens. É como um campo de concentração. Uma hora eles vão desejar ficar com alguém. O assédio também é grande”, diz a socióloga e antropóloga Regina Figueiredo, que já pesquisou campos de trabalhadores semelhantes ao de Suape no país.<br />Para a especialista, o ideal é que as empresas montassem locais com infraestrutura para abrigar também as famílias dos funcionários. “Isso acontecia no passado, quando os empresários eram, na origem, pessoas pobres que cresceram na vida. O relacionamento era melhor, pois os empregados estavam mais próximos. Hoje há empresas cujos donos não são pessoa física, costumam aplicar na bolsa e não têm vínculo humano com a produção, nem com o país”, critica.<br />O alojamento visitado pelo Diario tem problemas, mas é tido como hotel cinco estrelas por alguns trabalhadores que já enfrentaram situações piores em outros estados. Às vezes, enfrentam o pior dentro das próprias casas. Passados os sessenta dias de estadia no município, as empresas costumam custear a primeira viagem de volta do trabalhador para junto da família. Caso queira embarcar antes, o funcionário terá que arcar com a passagem.Os filhos de Pedro Nazareno Bonfim, 31 anos, ficaram no Maranhão com a esposa dele. As crianças têm 1, 4 e 7 anos. “Em todo lugar que chego é assim. A esperança é essa: tentar melhorar”, comenta Pedro. Nas horas de folga, o pedreiro conta que vai para a praia, passear. “Na terra dos outros, a família longe, não dá para fazer outro tipo de coisa, né?”, afirma.<br />Há um mês, quando o Diario visitou um alojamento, desta vez montado em uma casa alugada por uma empresa no município de Ipojuca, o carpinteiro baiano José Luís Barbosa, 48, esperava ansioso ser convocado para as frentes de trabalho em Suape. Há 30 dias parado, não encontrava alternativas a não ser esperar. Sem receber salário, estava condenado a permanecer em Ipojuca. Na Bahia, sustenta a mulher e quatro filhos com o trabalho na roça. “Tenho muita saudade deles, mas fazer o quê? A pessoa que não tem um salário bom tem que chamar por Deus e enfrentar qualquer parada”, desabafa. Na casa ao lado, a vizinha lembra dos locatários de antes. “Era uma turma de homens de firma que trazia muita mulher para cá e ainda fazia bebedeira. Ainda bem que trocaram os moradores”, segreda a mulher.<br />os números da migração em SuapeA direção de Suape calcula em 32 mil o número de trabalhadores atuando nas obras da Refinaria Abreu e Lima e do polo petroquímicoNo polo petroquímico, o pico de contratações já está a todo vapor, com 12 mil homens nas frentes de trabalhoNa refinaria, o auge das contratações acontece no segundo semestre deste ano, quando aportarão no lugar 28 mil trabalhadores.Hoje já são 20 milA administração de Suape estima que 20% dessas pessoas são de outros estados, a maioria do Nordeste e, principalmente, da Bahia. Os demais são dos municípios do próprio território ou de cidades da Região Metropolitana do RecifeGrande parte dos trabalhadores que vêm de longe fica instalada em alojamentos construídos pelas empresas, dividindo quartos e banheiros com os companheiros. Outros vivem em casas alugadas pelas firmas nas regiões do entornoAs obras da refinaria vão custar US$ 13,3 bilhões. Foram iniciadas em 2007 e serão concluídas em 2013As obras do Polo Petroquímico vão custar US$ 2,2 bilhões. Já há unidades em funcionamento, mas a conclusão total está prevista para 2012Fonte: Adminstração de Suape <br />quot;
Trabalhadores são vítimasquot;
 <br />Recife, quinta-feira, 12 de maio de 2011<br />O consultor paulista Marcelo Peixoto percorre o país visitando acampamentos de trabalhadores, a pedido das empresas, para conversar sobre sexo, DST’s e Aids. Com a experiência que diz ter adquirido junto ao “povo” ao longo de anos à frente da ONG Barong, Peixoto costuma dizer que as estruturas sociais montadas nesses locais em desenvolvimento não são pensadas para o homem. “Ele é uma vítima”, dispara. Polêmico, ele diz que o homem tem um ciclo fértil diferente da mulher. “Os hormônios masculinos ficam à flor da pele e ele está preparado para gerar. Se não se masturba ou transa, com três dias terá polução noturna. O ser humano é o único mamífero que faz sexo fora do período da reprodução.”<br />Para Peixoto, a busca dos trabalhadores por meninas mais jovens também tem uma explicação. “O homem acha mais sedutor a menina mais jovem, pois é como se ela fosse só dele, é alguém mais fácil de dominar também. A mulher mais velha já tem mais experiência, por isso não vai acreditar tanto em sonhos como a adolescente”, explica. O nome Barong remete à junção das palavras bar e ONG e surgiu com a proposta ser itinerante. Munida de uma unidade móvel, a equipe multidisciplinar desperta a população para a saúde sexual através de conversas informais. <br />As questões sexuais não são o único desafio nesse universo masculino. Um trabalhador empregado em Suape precisa seguir alguns requisitos ditados pelas empresas. Aqueles com antecedentes criminais, por exemplo, ficam de fora, segundo um dos principais grupos em atuação na região, a Odebrecht Engenharia Industrial. É ela a responsável pela construção das três plantas industriais do complexo petroquímico da Petroquímica Suape. Nos casos em que os trabalhadores se envolvem em algum incidente externo, exceto acidentes pessoais, a empresa entende que só deve se envolver na situação no caso do funcionário estar à disposição da empresa no momento do ocorrido. “Caso contrário, a empresa entende que a responsabilidade pelo evento é do funcionário”, afirma a Odebrecht em nota encaminhada ao Diario.<br />De explorados a cidadãos <br />Recife, sexta-feira, 13 de maio de 2011<br />Municípios do Território Integrado de Suape tentam evitar impacto dos %u201Chomens de farda%u201D com ações isoladas<br />No Cabo de Santo Agostinho, crianças e adolescentes praticam atividades como percussão e são orientados a evitar os abusos sexuais. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />As ideias são muitas. Na prática, poucas terminam sendo executadas e sem resultados relevantes. Ao final, estão desagregadas umas das outras. De forma geral, em nenhum dos oito municípios do entorno de Suape é possível ver um projeto capaz de frear os altos índice de exploração sexual e gravidez na adolescência registrados pela presença de trabalhadores de outras regiões. As meninas de Suape não podem mais esperar. Dos seus ventres já escapam os frutos das histórias de amor, desilusão, exploração. Crianças geradas em meio às promessas do progresso que aporta nos municípios do Território Integrado e que deixam suas marcas para sempre na história desses lugares. No Cabo de Santo Agostinho, uma iniciativa tenta fazer a diferença, mas esbarra na falta de profissionais. O Serviço de Enfrentamento ao Abuso, Exploração Sexual e Violência Doméstica promove atendimento psicológico às crianças e adolescentes vítimas e aos seus familiares. Ao longo da semana, reforça o serviço com atividades lúdicas, como percussão.<br />“É uma forma de estimular a participação deles e fazer com que não abandonem o tratamento”, explica a psicóloga Leila Maria Silva Cavalcanti. A sobrecarga é desumana. Em um mês, Leila chegou a assumir 150 atendimentos. Com tantos casos, é difícil receber os jovens e suas famílias de forma adequada. “Em geral, quem pratica o abuso são os familiares. Não consigo dizer quantos deles foram vítimas dos homens de firma”, confessa a psicóloga.O Centro de Referência do Adolescente do Cabo conta com uma equipe multidisciplinar que atenda meninos e meninas na faixa etária dos 10 aos 19 anos. “É uma faixa etária que a pessoa nem é criança nem é adulto. Além disso, muitas vezes o profissional de saúde não se sente habilitado para o atendimento, já que esse público precisa de um olhar diferenciado”, explica a médica pediatra e hebiatra Ceres Gonçalves, que costuma promover palestras sobre sexualidade junto aos jovens depois dos atendimentos médicos.No município vizinho de Ipojuca, um mamulengo “conversa” com os jovens sobre drogas, prostituição ou outros temas. Antes da visita do Diario, no entanto, nunca havia tocado no assunto dos “homens de firma”. As apresentações acontecem nas comunidades. “É mais fácil passar esse tipo de assunto para os jovens através das artes cênicas. Muitas vezes, as mães e avós também assistem e passam o conhecimento para os familiares”, acredita Luiz Geraldo Martins, secretário adjunto de Ação Social.<br />O município de Rio Formoso, na Zona da Mata Sul, ainda não sente os efeitos danosos do progresso, mas não espera de braços cruzados o futuro que já amedronta as famílias do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca. A secretária de Desenvolvimento Econômico e Juventude, Patrícia Marinho, coordenou um diagnóstico para traçar as medidas socioeconômicas e administrativas para enfrentar as demandas de Suape. “Se o jovem trabalha, estuda e recebe recursos, não precisa se meter com exploração sexual”, diz. Com a promessa de instalação de duas empresas, é preciso capacitar. Um espaço chamado Casa da Juventude deve qualificar a mão de obra local para ocupar as novas vagas de emprego. Em um dos projetos, alunos consertam computadores considerados sucata pela refinaria e depois repassam para a população a baixo custo.Sirinhaém, na Zona da Mata Sul, também enfrenta a necessidade de capacitação, amedrontada com o que está por vir. Assessor especial da prefeitura, Luiz de França explica que há um acordo com as empresas obrigando-as a usar 70% da mão de obra do próprio município. “A dificuldade é encontrar mão de obra qualificada. As empresas exigem segundo grau completo. Temos buscado parcerias para que as pessoas cursem o supletivo o quanto antes”, ressalta.<br />AGRADECIMENTOSA série de matérias “Os filhos de Suape” não seria possível de ser realizada sem a preciosa contribuição dos agentes de saúde e dos conselheiros tutelares que, na minha opinião, são as pessoas que mais entendem e ajudam a infância e a adolescência de Pernambuco. Também agradeço às famílias que confiaram em mim, <br />Marcionila Teixeira, e na fotógrafa Teresa Maia, ao abrirem suas portas para revelar os próprios dramas e feridas, sem entrevistas marcadas com antecedência. E, mais que tudo, sou eternamente agradecida a Sofia (foto abaixo, nome fictício), 12 anos, a <br />menina de Ipojuca, cujo rosto belo de menina nunca mais esquecerei. (M.T) <br />Como evitar os quot;
predadoresquot;
 <br />Recife, sexta-feira, 13 de maio de 2011<br />Em Ipojuca, mamulengos alertam os jovens sobre drogas e prostituição. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Projetos sociais com começo, meio e fim, mas com eficácia? O questionamento é da socióloga e mestre em antropologia da saúde e pesquisadora científica do Instituto de Saúde do governo de São Paulo Regina Figueiredo, que defende a criação de uma lei federal para estimular convênios entre as empresas instaladas em regiões como Suape e as prefeituras. “É preciso uma lei para incluir nos contratos a construção de vilas com infraestrutura para os trabalhadores, para que se instalem com famílias, tenham escola e posto de saúde. No final, a estrutura seria doada ao município”, defende. Para Regina, as escolas públicas também precisam ser integradas nas ações. “É preciso uma política pública contínua e não de projetos. Discutir saúde sexual e meio ambiente no currículo das escolas é um caminho. Também é necessário fazer um trabalho de reforço de gênero com a mulher, para que elas tenham autonomia, se fortaleçam”, explica a especialista.Redução de danos é um outra alternativa, na opinião do consultor paulista Marcelo Peixoto, da ONG Barong. “No município de Uchôa, no interior de São Paulo, um prefeito teve a ideia de criar um galpão para prostitutas trabalharem e ao lado haveria um posto de saúde. As mulheres atenderiam à legião de trabalhadores que chegava de fora e ainda teriam o atendimento de saúde. A sociedade expulsou as prostitutas e, como consequência, a exploração sexual explodiu na região. Os homens são predadores, mas que condições estamos dando para eles não serem?”, questiona.<br />O Centro de Referência de Adolescência do Cabo dá palestras sobre sexualidade. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Código de ética<br />Uma ação inédita em Pernambuco é uma das peças no conjunto necessário ao combate eficaz à exploração sexual de crianças e adolescentes na região de Suape. A ONG Childhood preparou um código de conduta ética em relação à proteção à infância no turismo. O documento foi elaborado com base em 11 seminários realizados em 11 rotas turísticas do estado com o objetivo de combater a exploração sexual. <br />Além das associações de turismo, também legitimou o código todo o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente em um seminário estadual realizado no Recife. “Preparamos uma pactuação empresarial pela proteção à infância no turismo”, explicou Goreti Vasconcelos, da Childhood. Outra iniciativa é o lançamento do manual de boas práticas para o turismo.<br />Links de todos os vídeos disponíveis no you tube<br />http://www.youtube.com/watch?v=3hduFcP9lf4<br />http://www.youtube.com/watch?v=D1-0MiZkiqI&feature=related<br />http://www.youtube.com/watch?v=heToS1Ux9Nk&feature=related<br />http://www.youtube.com/watch?v=MvWQhOy0wZc<br />http://www.youtube.com/watch?v=_i3xrSNqnJk<br />http://www.youtube.com/watch?v=xGvj4zaad-I<br />http://www.youtube.com/watch?v=_uFQmamtOnk<br />
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  • 1. FILHOS<br />DE<br />SUAPE<br />AQUI VOCÊ IRÁ ENCONTRAR UM EXCELENTE DOCUMENTÁRIO FEITO PELA JORNALISTA MARCIONITA TEIXEIRA E QUE FOI PUBLICADO PELO DIÁRIO DE PERNAMBUCO NO PERÍODO DE 08 A 13 DE MAIO,QUE RETRATA A EXPLORAÇÃO E ALICIAMENTO DE MENORES NA REGIÃO ESTRATÉGICA DE SUAPE.<br />O Diario de Pernambuco publica, deste domingo até a próxima sexta-feira, uma série de reportagens sobre um fenômeno que desponta em meio a duas das principais obras do país, levadas à frente no Nordeste: a Refinaria Abreu e Lima e o Polo Petroquímico de Suape. São histórias que nascem do encontro entre homens que chegam sozinhos, sem suas famílias, para trabalhar na construção do chamado progresso e as jovens moradoras do Território Estratégico de Suape, formado pelos municípios de Ipojuca, Cabo, Escada, Moreno, Jaboatão dos Guararapes, Rio Formoso, Sirinhaém e Ribeirão<br />A sedução da quot; fardaquot; <br />marcionila Teixeira<br />Recife, domingo, 8 de maio de 2011<br />Amanda, 17 anos, teve que lutar na Justiça para Nino ser reconhecido pelo pai biológico, que já deixou o município do Cabo de Santo Agostinho. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Filhos de Suape - Confira o depoimento de Olívia, avó de Alice, 13 anos (nomes fictícios), que tranca a neta em casa quando sai, no Cabo de Santo Agostinho, porque teme pela segurança da adolescente. Imagens: Marcionila Teixeira/Teresa Maia/DP/D.A Press <br />Um universo que se abre, repleto de pessoas que vão e vêm, daquelas com tempo para chegar, mas sem data para partir. Gente de fora, que instala-se e transforma cenários de municípios pobres, muda vidas e morre, mesmo que subjetivamente, na mente de quem fica. Pessoas deixadas para trás, com bebês nascidos em meio a relações desfeitas. Adolescentes vítimas da exploração sexual, que desorganiza famílias e dissemina doenças. O Diario de Pernambuco publica, deste domingo até a próxima sexta-feira, uma série de reportagens sobre um fenômeno que desponta em meio a duas das principais obras do país, levadas à frente no Nordeste: a Refinaria Abreu e Lima e o Polo Petroquímico de Suape. São histórias que nascem do encontro entre homens que chegam sozinhos, sem suas famílias, para trabalhar na construção do chamado progresso e as jovens moradoras do Território Estratégico de Suape, formado pelos municípios de Ipojuca, Cabo, Escada, Moreno, Jaboatão dos Guararapes, Rio Formoso, Sirinhaém e Ribeirão.<br />Filhos de Suape - Confira o depoimento de Amanda (nome fictício), moradora do Cabo de Santo Agostinho que teve um bebê, aos 17 anos, de um trabalhador que prestava serviço para uma firma em Suape. Imagens: Marcionila Teixeira/Teresa Maia/DP/D.A Press <br />A repórter Marcionila Teixeira e a fotógrafa Teresa Maia percorreram os oito municípios do entorno de Suape para captar o avesso das obras. Conversaram com adolescentes com idades variando entre 11 e 19 anos e revelam o que os governos não conseguem ou mesmo não querem enxergam. Os episódios de exploração sexual, estupro e gravidez na adolescência explodem na região. Provocam, entre outras coisas, o nascimento de rebentos batizados como os filhos de Suape. Uma infância que já vem à luz condenada à ausência do pai biológico. A série é um convite à reflexão. Um chamado ao presente, que há muito deixou de ser possibilidade de futuro na região.<br />Saiba mais <br />Estimativa de população no território de Suape Ipojuca2007 lllllllllllllllllllllllll 70.0702015 lllllllllllllllllllllllllll 84.6062035 lllllllllllllllllll 108.165aumento da população: 54,36%Jaboatão2007 llllllllllllllllllllllll 665.3872015 lllllllllllllllllllllllll 778.3302035 lllllllllllllllllllllllll 961.390aumento da população: 44,48% Moreno2007 llllllllllllllllllllllllll 52.8302015 llllllllllllllllllllllllll 57.7142035 llllllllllllllllllllllllll 65.630aumento da população: 24,22% Cabo2007 lllllllllllllllllllllll 163.1392015 lllllllllllllllllllllll 176.8302035 lllllllllllllllllllll 199.021aumento da população: 21,99% Escada2007 lllllllllllllllllllllll 59.8502015 llllllllllllllllllllllllll 63.2302035 llllllllllllllllllllll 68.709aumento da população: 14,80%*Na época, a Condepe/Fidem não havia incluído os municípios de Sirinhaém, Rio Formoso e Ribeirão no território estratégico de Suape <br />Paixão sem paternidade <br />Recife, domingo, 8 de maio de 2011<br />Nino* tem sete meses. É filho de Amanda*, que engravidou aos 17 anos de um desses “rapazes que trabalham em firmas”. Foi concebido em meio a uma paixão que durou apenas dois meses. Depois da gravidez, o pai, que é de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR), duvidou da paternidade. Foi embora assim como chegou ao Cabo de Santo Agostinho: de repente, junto com a empresa que pagava seu salário nas obras de Suape. O amor de Amanda virou ódio. “Logo que contei que estava grávida, ele falou que não ia assumir porque não era o pai. Nessa hora, deixei de gostar dele”, desabafa. Sua história reflete parte do que acontece hoje em alguns municípios que integram o território de Suape.<br />O abandono repentino levou a adolescente a amadurecer mais cedo do que imaginava. Procurou a Justiça e obrigou o pai a reconhecer o filho. Conseguiu. Agora, luta pelo pagamento da pensão. Amanda conta que não se envolve mais com homens de fora do Cabo. Pensa até em casar de novo. Desta vez com um vizinho, que quer assumir o filho dela.<br />“Temos três processos judiciais contra pais de bebês que não reconhecem os filhos, sendo dois deles movidos por adolescentes e um por uma mulher adulta. Esses homens partem sem assumir a paternidade e o mais grave é que nem sempre as mães sabem os verdadeiros nomes dessas pessoas. Quando sabem, é só o primeiro nome ou o apelido”, comenta a juíza do Cabo, Hélia Viegas.A direção de Suape calcula em 32 mil o número de trabalhadores atuando nas obras da refinaria e do polo petroquímico. No polo, o pico de contratações já está a todo vapor, com 12 mil homens nas frentes de trabalho. Na refinaria, o auge das contratações acontecerá no segundo semestre deste ano, quando aportarão no lugar 28 mil trabalhadores. Hoje já são 20 mil. Frederico Amâncio, vice-presidente de Suape, estima que 20% dessas pessoas são de outros estados, a maioria do Nordeste e, principalmente, da Bahia. Os demais são dos municípios do próprio território ou de cidades da Região Metropolitana do Recife. Grande parte dos que vêm de longe fica instalada em alojamentos construídos pelas empresas, dividindo quartos e banheiros com os companheiros. Outros vivem em casas alugadas pelas firmas nas regiões do entorno. Conhecidos historicamente pelos episódios de exploração sexual, os municípios do Cabo e de Ipojuca são os que mais sofrem os efeitos da chegada dos “homens de firma”, como já são chamados esses trabalhadores na região. Afinal, estão no coração das obras. No Cabo, os alojamentos e casas alugadas estão em todos os cantos, elevando o preço dos aluguéis e preocupando os antigos locatários. Em Ipojuca, onde a gestão municipal garante não ter permitido esse tipo de construção, o valor dos aluguéis também saltou.  O fenômeno corre sem freios em direção aos municípios vizinhos, que já sentem sobrecarrega nos serviços de saúde, de turismo e de alimentação. Em Escada, por exemplo, o distrito industrial cresceu a ponto de hoje possuir 15 indústrias. Grande parte delas instalou-se a serviço de Suape. Entre a década de 1990, quando foi criado, e 2005, somente abrigava uma.<br />Na leva do desenvolvimento que alavanca a região, não é só a gravidez na adolescência e a exploração sexual que preocupam. A contaminação por Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e pela Aids é outro fantasma na infância e na adolescência de Suape.<br />Sonho de Cinderela <br />Recife, segunda-feira, 9 de maio de 2011<br />Os quot; homens de firmaquot; seduzem adolescentes com promessas de amor eterno, mas relações duram pouco<br />Moradora de Ipojuca, Michele ficou grávida de um trabalhador que veio de Garanhuns. Ela quer casar, ele não. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Sonhos não têm hora marcada para se transformarem em realidade. Brotam de uma imensidão de sentimentos acalentados pela vida. Alimentam-se de esperanças plantadas, por vezes, ao longo de anos. Michele Maria de Barros pensou que aos 19 anos estava prestes a realizar um sonho de menina. Encontrou em Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife, onde mora, um namorado bonito, com um bom emprego. Em breve, casaria e seria mãe. A história da Cinderela que encontrou o príncipe encantado acabou em abandono.<br />Infografico <br />Como tantas outras adolescentes do entorno de Suape, Michele engravidou do forasteiro de Garanhuns, no Agreste pernambucano, depois de um namoro de um ano. A partir daí, viu seus sonhos virarem pó. O rapaz, que permanece em Ipojuca, diz que só registra o menino após um teste de DNA. “Ainda pretendo casar, não sei se ele quer. Por ele eu não tinha esse filho. Até tomei um mato para abortar, mas ele sobreviveu”, conta Michele, com o filho risonho nos braços. Por mês, a jovem que deixou os estudos “por preguiça”, só conta com R$ 100 de ajuda doados pelo pai do bebê.<br />Filhos de Suape - Confira o depoimento de Ariana, 15 anos (nome fictício), moradora de Ipojuca, que conta estar apaixonada pelo namorado, um baiano que mora no mesmo bairro que ela. Imagens: Marcionila Teixeira/Teresa Maia/DP/D.A Press <br />Os contos de fadas que terminam com as jovens protagonistas abandonadas pelos “homens de sua vida” se multiplicam. Oriana*, 15, imagina que com ela vai ser diferente. O relacionamento tem tudo para ter um final feliz. Está apaixonada por um baiano que aportou em Ipojuca para trabalhar nas obras de Suape. Em meio à dança da conquista, ganhou até um ursinho de pelúcia do namorado. A família já ouviu boatos de que ela está grávida, mas a garota nega. O que ela não faz questão de esconder é a vontade de viajar para a Bahia com o namorado. “Já falei com a mãe e o pai dele por telefone. Ela quer que eu vá. Já está tudo certo. Sei que ele não é casado e quer me levar.”Parentes de Oriana, que divide a casa pequena e de estrutura precária na periferia do município com outras 25 pessoas, não pensam desta forma. O pai da adolescente não aceita o namoro e muito menos a viagem da filha. Nem sequer fala com o genro. Deixou de se comunicar com ela também. Acha que o rapaz, com cerca de 25 anos, é casado, não quer nada com Oriana. “Ele só quer ela na hora da cama. Tá cansado de sair com os amigos e ficar com outras mulheres”, conta uma tia. <br />Estupro encoberto<br />Esse não é o primeiro caso de adolescente que quer se aventurar na companhia do namorado. “Soubemos de uma menina de 13 anos que queria partir para a Bahia com o parceiro, inclusive com apoio do tio, mas a Justiça não autorizou. A garota chegou a tentar fugir”, relata Maria do Carmo da Silva, gerente da Infância e da Adolescência da Secretaria de Programas Sociais e da Mulher do Cabo de Santo Agostinho.<br />Na rede da exploração sexual que sobrevive nessas cidades, não há apenas a vítima e o acusado. “Muitas vezes a família concorda com a situação porque se beneficia de algum modo”, denuncia Madalena Fucks, presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Cedca). A lei diz que relações sexuais com menores de 14 anos são consideradas estupro, mesmo que a adolescente aceite praticar o ato.<br />A aplicação da lei parece distante da vida real. Denúncias de estupro nesses moldes, com o claro consentimento da família, não chegam aos conselhos tutelares. “Nem sempre a família e a vítima entendem a situação como crime”, reforça Gilberto Ribeiro, presidente do conselho tutelar de Ipojuca que cobre a área de praias<br />Vida sem conto de fadas <br />Recife, segunda-feira, 9 de maio de 2011<br />O psicólogo Erich Botelho, que integra o Projeto Afetivo Sexual, que atende alunos do 6º ano até o 3º ano no Distrito Federal, compara a atração sentida pelas meninas junto aos “homens de firma” à paixão da estudante pelo professor. “O que elas sentem não é como em uma relação homem e mulher. É uma espécie de encantamento, como se aquele homem fosse um ídolo porque vem de fora do município, uma novidade. Daí surge o interesse”, destaca. A jovem, na opinião do psicólogo, também tem a tendência de achar que com ele sempre vai ser diferente. “Esses trabalhadores representam um novo poder aquisitivo para  esta população, que termina embarcando de cabeça nessa atmosfera de melhoria de condição de vida”, destaca.<br />No Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca ainda não existem pesquisas que apontem que o aumento entre 2009 e 2010 do número de mães adolescentes tenha relação com a chegada de trabalhadores para atuarem em Suape. Da mesma forma, não há  estudo que aponte o contrário. A falta de dados sobre o tema inibe a implantação de políticas públicas mais concretas para enfrentar o problema. Encontra terreno fértil para procriar em um ambiente onde o índice de grávidas na faixa etária entre 10 e 14 anos é crescente. No Cabo, o número passou de 30 casos em 2009 para 51 no ano passado. Em Ipojuca, foram 19 nascidos vivos em 2009 contra 22, em 2010.<br />Municípios litorâneos conhecidos pelos índices de exploração sexual. Mais homens circulando na região. A soma desses fatores previsíveis é um futuro que chega depois de muito avisar. “Ainda não temos parâmetros para falar sobre o aumento da gravidez na adolescência por conta da circulação desses homens. Esperamos que ainda vai haver esse problema”, diz a pediatra Zuleide Lins, assessora médica da atenção básica da Secretaria de Saúde do Cabo. Para o secretário de Saúde de Ipojuca, Raul Bradley, a prioridade da pasta, por enquanto, é o combate à dengue. <br />Hora extra dos prazeres <br />Recife, terça-feira, 10 de maio de 2011<br />No Cabo de Santo Agostinho, quem usa farda atrai adolescentes para noites de quot; transa, pagamento e adeusquot; <br />Confira o depoimento de Bia <br />Bia, 70 anos, angustia-se porque não consegue afastar a neta dos homens de farda. Imagem: Foto: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />A noite dos prazeres já se anuncia. O ritmo do forró invade os ouvidos, movimenta casais, estimula a troca de olhares. É noite de sexta-feira, mas ainda há frequentadores vestidos com suas fardas. Alguns desfilam sem camisa, mostrando o tórax. A farda é a senha. É garantia de dinheiro para gastar na cerveja e em satisfações sexuais. A regra é largar do serviço em Suape e partir para a curtição no Mercadão, principal ponto de exploração sexual de crianças e adolescentes no centro do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Assim como no Mercadão, a noite ferve na Avenida Laura Cavalcanti, em Gaibu, litoral do mesmo município.A equipe do Diario registra as idas e vindas de adolescentes vestidas com shorts ou vestidos e saias curtíssimos. Os trabalhadores estão nas mesas dos bares. De repente, um homem se aproxima. Pergunta o porquê das fotos. Respondo que as imagens não são dele. O desconhecido não se contenta. Diz que está de olho na equipe. Explica que não quer ser fotografado no local porque é casado. O clima fica tenso, mas a equipe continua trabalhando sob o olhar enviesado dos frequentadores. “Esse lugar era visitado por famílias, mas agora está tomado pela prostituição”, desabafa o dono de um dos bares do Mercadão. Preocupada com a situação, a juíza do Cabo, Hélia Viegas, chegou a publicar uma portaria na tentativa de inibir a exploração sexual na cidade. O documento determinava a proibição de crianças e adolescentes em bares. Mas foi só no período carnavalesco. <br />No mundo da exploração sexual de crianças e adolescentes, as histórias de amor romântico não têm vez. É transa, pagamento e adeus. Ou nessa ordem: estupro e adeus. Foi assim com Anita*, com apenas 11 anos. Ela fugiu de casa com o objetivo de passar três dias em Gaibu, no Cabo, na companhia de uma amiga de 16 anos e com dois trabalhadores de Suape.O homem que manteve relações sexuais com a criança, oriundo de Minas Gerais, foi preso e aguarda julgamento por estupro no Presídio Aníbal Bruno, no Curado, no Recife. Desde então, Anita, que perdeu a virgindade no estupro, não é mais a mesma criança. “Minha vida virou um pesadelo. Estou desesperada, com medo que ela pegue uma doença ou engravide. Essa menina não para em casa. Sai com tudo quanto é homem. Chega depois de uma semana, drogada, querendo quebrar tudo”, diz a mãe, que tem mais três filhos. Aos 11 anos, Anita não segue os limites impostos pela própria mãe. Em meio a toda desestrutura familiar,  saiu há pouco tempo de um tratamento de quimioterapia para combater um tumor na cabeça.<br />Bia* é uma evangélica de 70 anos. Criou a neta Úrsula, de 16, como filha. Desespera-se quando a adolescente some de casa, na periferia do Cabo. “Ela passa dias longe. Acho que está nas casas das colegas. Agora só quer ficar por lá. Fico aperreada. Tenho pressão alta, diabete. Não posso ter susto”, desabafa. A neta a que Bia se refere cumpre medida socioeducativa porque se envolveu em brigas na escola. “Os pais não param de chegar aqui preocupados com as filhas. Elas passam dias fora, não avisam onde estão. Simplesmente somem na companhia desses homens”, denuncia Jane Ferreira, conselheira tutelar do Cabo<br />A escolha de Sofia pela rua <br />Recife, terça-feira, 10 de maio de 2011<br />Confira o depoimento de Sofia <br />Sofia* chega em casa escoltada por policiais militares. É madrugada de uma segunda-feira e a adolescente foi encontrada nas ruas de Ipojuca, na RMR, na companhia de homens adultos. Depois de uma rápida discussão com os PMs, ela é deixada em casa, onde os soldados aproveitam para cobrar da mãe mais cuidados com a filha. Sofia só tem 12 anos. Já passa semanas inteiras na rua. Já faz sexo. A prática de estupro custa a ser punida pelas autoridades nesse pedaço de litoral pernambucano. As famílias se calam.<br />Na frente da mãe, a menina garante que não sai com homens por dinheiro. Mas revela que as amigas da mesma idade estão animadas com a chegada de tantos deles de fora para trabalhar em Suape. Aceitam convites para fazer sexo por dinheiro. Dizem que não podem perder a oportunidade. “Uma vez, estava com uma amiga em Porto de Galinhas e um coroa com uma farda de firma parou de carro na nossa frente. Ofereceu R$ 100 para passar dois dias com a gente. Falou que se eu não aceitasse, ia dar um tiro na minha cabeça. Disse que podia atirar e ele foi embora”, lembra a menina. Sofia desabafa diante de um abraço da equipe do Diario. “Se meus pais fizessem isso comigo, eu não saia de casa”.<br />A psicóloga Luciana Vieira, do Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), afirma que meninas envolvidas em exploração sexual, em geral, não encontram no pai e na mãe aliados. “São meninas que não têm acesso a bens materiais, mas que vivem em uma sociedade com um apelo de consumo enorme”, destaca a especialista.*Todos os nomes de crianças e adolescentes descritos nas matérias são fictícios como forma de proteger a integridade dessas pessoas e cumprir o que determina o Estatuto da Criança <br />e do Adolescente (ECA)<br />Desordem do progresso <br />Recife, quarta-feira, 11 de maio de 2011<br />Mesmo municípios mais distantes de Suape, como Escada, sentem o impacto do quot; exército de fardaquot; <br />Aduplicação da BR-101, no trecho que corta Escada, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, anuncia o desenvolvimento, mas também avisa do perigo. Em 2009,seus moradores vivenciaram de perto o pico das obras, com centenas de “homens de firma” circulando pela cidade. A mesma Escada que viu suas meninas exploradas sexualmente por homens a serviço na BR-101, corre hoje o risco de assistir a tudo de novo. O município faz parte do território que vive o boom de Suape. Na época, a lição foi ensinada. Resta saber se foi aprendida.Elisa*, 17 anos, mora em um bairro pobre, perto da BR-101. Do encontro dela com um trabalhador de 47 anos, vindo do Recife para prestar serviço nas obras da estrada, nasceu sua primeira filha, hoje com dois anos. A relação começou por dinheiro, no forró, e não resistiu às diferenças. Ela, jovem demais e prostituta. Ele, “bebia demais”, conta a menina. “Para ficar comigo tinha que pagar”, afirma Elisa, referindo-se ao passado. Hoje ela se relaciona com um caminhoneiro que assumiu o segundo filho dela, um bebê de cinco meses, também nascido do mesmo tipo de encontro pago.<br />“O número de adolescentes grávidas é alto na região. Muitas meninas têm feito programas nas cabines dos caminhões e na própria BR. Também vão aos bares onde o pessoal que vem de fora se reúne. Elas ficam muito alvoroçadas com essa novidade toda”, conta a agente de saúde Míriam Almeida.Escada segue de perto a trilha do que vem acontecendo no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca. Fernando Clímaco, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, explica que os aluguéis não param de subir por conta da chegada de trabalhadores. Ele calcula que cerca de 40% deles são de “estrangeiros”. “O impacto é mais positivo que negativo, pois estamos mais distantes de Suape”, imagina. O município recebeu proposta de construção de três vilas, cada uma com capacidade para abrigar mil trabalhadores, mas a prefeitura não aceitou a obra. “Imagine a demanda de serviços proporcionada por três mil homens sem suas famílias. E os danos sociais?”, indaga.Escada cresce ao sabor de Suape, mas os males da exploração sexual e da gravidez na adolescência ainda não foram afastados por completo em virtude das obras da BR-101. O município está localizado no lote de duplicação 7, que vai do Cabo a Ribeirão, e o trecho somente estará concluído no fim do ano, segundo o Departamento de Estradas de Rodagem (DER). <br />Recorde de ações<br />O promotor do Ministério Público de Pernambuco Arnaldo Ferreira chama a atenção para as ações de investigação de paternidade em uma cidade de pequeno porte. Elas envolvem mulheres de todas as idades, não necessariamente adolescentes que engravidaram de trabalhadores das obras na BR-101 ou de Suape. “O fato tem relação com o afrouxamento da moral sexual na Mata Sul”, avalia.<br />Chuva trouxe os homens <br />Recife, quarta-feira, 11 de maio de 2011<br />Júlio mora em Barreiros e cobra R$ 40 por relação. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />O sexo aconteceu dentro do carro. Era noite e os vidros fechados ajudavam a manter a discrição. Foi tudo rápido e eles não se viram nunca mais depois daquele primeiro encontro. Júlio*, 16 anos, sai com homens por prazer, mas dependendo do parceiro e do tipo de encontro, cobra pelo menos R$ 40 por uma transa. Na noite do carro, o outro rapaz, um adulto, era um trabalhador de uma das firmas que na época prestavam serviço em Suape. O estranho morava temporariamente em Barreiros, na Zona da Mata Sul do estado, a 110 quilômetros do Recife. A exploração sexual que engravida meninas também atinge os meninos.<br />Júlio mora em Barreiros, na Zona da Mata Sul, nas imediações do Rio Una. O município não faz parte do Território Integrado de Suape, mas a equipe resolveu visitar a região. Assim como acontece em Escada, o lugar também estava em pleno pico de obras, nesse caso, devido à destruição provocada pelas chuvas de junho do ano passado. Antes de o temporal das duas últimas semanas alagar novamente 80% da cidade, uma população estranha ao lugar circulava de farda por todos os cantos com o objetivo de reconstruir o que a primeira chuva havia colocado abaixo. A aparência do lugar é de que ainda há muito por fazer. Agora mais que nunca.<br />O adolescente confessa que não usa camisinha na hora do sexo oral, apesar de saber dos riscos de se contaminar com Aids. “Eles não gostam, não querem o preservativo”, afirma. Hoje, garante que usa a camisinha quando pratica sexo anal. É que certa vez contaminou-se com uma doença que até hoje não sabe qual era. <br />Júlio conta que sair com homens de firma não é o melhor negócio. “Eles ficam com você e depois saem falando por aí. Mas se pintar uma química, até fico, e de graça”, diz, risonho. O assédio dos trabalhadores da reconstrução é grande, afirma o rapaz. “Quem passa perto eles olham, soltam graça, pedem telefone. Muitos são casados”, comenta. No dia em que fez sexo no carro, um colega de 20 anos fez o mesmo no veículo ao lado. “O homem que ficou comigo tinha aliança e ainda tinha uma namorada em Barreiros”, revelou o colega de Júlio.*Todos os nomes de crianças e adolescentes descritos nas matérias são fictícios como forma de proteger a integridade dessas pessoas e cumprir o que determina o Estatuto da Criança <br />e do Adolescente (ECA)<br />Entrevista // François Figueirôa <br />A epidemia de Aids no Brasil cresce entre as mulheres na faixa etária entre 15 e 24 anos. Para François Figueirôa, coordenador estadual de DST/Aids da Secretaria Estadual de Saúde, a estreita relação entre exploração sexual e o contágio por DSTs e Aids é preocupante.  <br />Como o senhor percebe a contaminação pela Aids entre o público adolescente submetido à exploração sexual?<br />O que leva a pessoa a se infectar são as vulnerabilidades, que variam de um indivíduo para o outro. O uso da bebida alcoólica, por exemplo, nos leva a perder a capacidade de perceber os riscos. No caso da exploração sexual, a vulnerabilidade é a questão econômica, que faz com que esses adolescentes transem até sem camisinha para satisfazer o parceiro. Tem também a questão romântica, onde a vulnerabilidade está na confiança que se deposita no outro. Os jovens estão despreocupados com a Aids?<br />Acredito que essa é uma geração que não viu a face cruel da doença, que no início significava morte. Há uma banalização da epidemia, por isso não sentem necessidade de prevenção. Deve-se usar camisinha sempre. <br />Entre as regras e os hormônios <br />Recife, quinta-feira, 12 de maio de 2011<br />Homens de farda que vivem em alojamentos têm que suportar a saudade da família e não cometer abusos<br />Confira os depoimentos de Adalto Vieira e Pedro Nazareno <br />José Luiz Barbosa, 48 anos, veio da Bahia para Ipojuca à procura de um emprego em Suape. Ainda não conseguiu vestir uma farda. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Um cheiro forte de suor exala do pequeno dormitório. São seis camas postadas umas sobre as outras, organizadas na forma de três beliches. São seis homens dividindo o mesmo quarto e um único banheiro. Todos trabalhadores da mão de obra pesada, alguns de outros estados, que embarcaram no mesmo sonho: receber um salário melhor labutando nas obras da Refinaria de Abreu e Lima e da Petroquímica de Suape. No alojamento, construído por uma empresa privada no Cabo de Santo Agostinho, existem mais 13 quartos, sendo oito com três beliches e sete com dois beliches. Do lado de fora, em uma espécie de terraço decorado com um sofá, uma TV ajuda a distrair nos momentos de folga. Nos quartos não é só o calor - em geral aplacado por dois ventiladores - que incomoda. As muriçocas também ajudam a tornar a noite mais longa.A massa de trabalhadores que chega aos municípios do Território Integrado de Suape vem sozinha. Cada um desses homens largou nas suas cidades de origem mulher, filhos, pais, irmãos. Um dia escutaram que as promessas de melhoria de vida estavam pelas bandas de  Pernambuco. Colocaram o pé na estrada e encararam mais um desafio. Vida de homem de firma é assim. Construir, trabalhar duro e partir. “É absolutamente absurdo criar um alojamento só de homens. É como um campo de concentração. Uma hora eles vão desejar ficar com alguém. O assédio também é grande”, diz a socióloga e antropóloga Regina Figueiredo, que já pesquisou campos de trabalhadores semelhantes ao de Suape no país.<br />Para a especialista, o ideal é que as empresas montassem locais com infraestrutura para abrigar também as famílias dos funcionários. “Isso acontecia no passado, quando os empresários eram, na origem, pessoas pobres que cresceram na vida. O relacionamento era melhor, pois os empregados estavam mais próximos. Hoje há empresas cujos donos não são pessoa física, costumam aplicar na bolsa e não têm vínculo humano com a produção, nem com o país”, critica.<br />O alojamento visitado pelo Diario tem problemas, mas é tido como hotel cinco estrelas por alguns trabalhadores que já enfrentaram situações piores em outros estados. Às vezes, enfrentam o pior dentro das próprias casas. Passados os sessenta dias de estadia no município, as empresas costumam custear a primeira viagem de volta do trabalhador para junto da família. Caso queira embarcar antes, o funcionário terá que arcar com a passagem.Os filhos de Pedro Nazareno Bonfim, 31 anos, ficaram no Maranhão com a esposa dele. As crianças têm 1, 4 e 7 anos. “Em todo lugar que chego é assim. A esperança é essa: tentar melhorar”, comenta Pedro. Nas horas de folga, o pedreiro conta que vai para a praia, passear. “Na terra dos outros, a família longe, não dá para fazer outro tipo de coisa, né?”, afirma.<br />Há um mês, quando o Diario visitou um alojamento, desta vez montado em uma casa alugada por uma empresa no município de Ipojuca, o carpinteiro baiano José Luís Barbosa, 48, esperava ansioso ser convocado para as frentes de trabalho em Suape. Há 30 dias parado, não encontrava alternativas a não ser esperar. Sem receber salário, estava condenado a permanecer em Ipojuca. Na Bahia, sustenta a mulher e quatro filhos com o trabalho na roça. “Tenho muita saudade deles, mas fazer o quê? A pessoa que não tem um salário bom tem que chamar por Deus e enfrentar qualquer parada”, desabafa. Na casa ao lado, a vizinha lembra dos locatários de antes. “Era uma turma de homens de firma que trazia muita mulher para cá e ainda fazia bebedeira. Ainda bem que trocaram os moradores”, segreda a mulher.<br />os números da migração em SuapeA direção de Suape calcula em 32 mil o número de trabalhadores atuando nas obras da Refinaria Abreu e Lima e do polo petroquímicoNo polo petroquímico, o pico de contratações já está a todo vapor, com 12 mil homens nas frentes de trabalhoNa refinaria, o auge das contratações acontece no segundo semestre deste ano, quando aportarão no lugar 28 mil trabalhadores.Hoje já são 20 milA administração de Suape estima que 20% dessas pessoas são de outros estados, a maioria do Nordeste e, principalmente, da Bahia. Os demais são dos municípios do próprio território ou de cidades da Região Metropolitana do RecifeGrande parte dos trabalhadores que vêm de longe fica instalada em alojamentos construídos pelas empresas, dividindo quartos e banheiros com os companheiros. Outros vivem em casas alugadas pelas firmas nas regiões do entornoAs obras da refinaria vão custar US$ 13,3 bilhões. Foram iniciadas em 2007 e serão concluídas em 2013As obras do Polo Petroquímico vão custar US$ 2,2 bilhões. Já há unidades em funcionamento, mas a conclusão total está prevista para 2012Fonte: Adminstração de Suape <br />quot; Trabalhadores são vítimasquot; <br />Recife, quinta-feira, 12 de maio de 2011<br />O consultor paulista Marcelo Peixoto percorre o país visitando acampamentos de trabalhadores, a pedido das empresas, para conversar sobre sexo, DST’s e Aids. Com a experiência que diz ter adquirido junto ao “povo” ao longo de anos à frente da ONG Barong, Peixoto costuma dizer que as estruturas sociais montadas nesses locais em desenvolvimento não são pensadas para o homem. “Ele é uma vítima”, dispara. Polêmico, ele diz que o homem tem um ciclo fértil diferente da mulher. “Os hormônios masculinos ficam à flor da pele e ele está preparado para gerar. Se não se masturba ou transa, com três dias terá polução noturna. O ser humano é o único mamífero que faz sexo fora do período da reprodução.”<br />Para Peixoto, a busca dos trabalhadores por meninas mais jovens também tem uma explicação. “O homem acha mais sedutor a menina mais jovem, pois é como se ela fosse só dele, é alguém mais fácil de dominar também. A mulher mais velha já tem mais experiência, por isso não vai acreditar tanto em sonhos como a adolescente”, explica. O nome Barong remete à junção das palavras bar e ONG e surgiu com a proposta ser itinerante. Munida de uma unidade móvel, a equipe multidisciplinar desperta a população para a saúde sexual através de conversas informais. <br />As questões sexuais não são o único desafio nesse universo masculino. Um trabalhador empregado em Suape precisa seguir alguns requisitos ditados pelas empresas. Aqueles com antecedentes criminais, por exemplo, ficam de fora, segundo um dos principais grupos em atuação na região, a Odebrecht Engenharia Industrial. É ela a responsável pela construção das três plantas industriais do complexo petroquímico da Petroquímica Suape. Nos casos em que os trabalhadores se envolvem em algum incidente externo, exceto acidentes pessoais, a empresa entende que só deve se envolver na situação no caso do funcionário estar à disposição da empresa no momento do ocorrido. “Caso contrário, a empresa entende que a responsabilidade pelo evento é do funcionário”, afirma a Odebrecht em nota encaminhada ao Diario.<br />De explorados a cidadãos <br />Recife, sexta-feira, 13 de maio de 2011<br />Municípios do Território Integrado de Suape tentam evitar impacto dos %u201Chomens de farda%u201D com ações isoladas<br />No Cabo de Santo Agostinho, crianças e adolescentes praticam atividades como percussão e são orientados a evitar os abusos sexuais. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />As ideias são muitas. Na prática, poucas terminam sendo executadas e sem resultados relevantes. Ao final, estão desagregadas umas das outras. De forma geral, em nenhum dos oito municípios do entorno de Suape é possível ver um projeto capaz de frear os altos índice de exploração sexual e gravidez na adolescência registrados pela presença de trabalhadores de outras regiões. As meninas de Suape não podem mais esperar. Dos seus ventres já escapam os frutos das histórias de amor, desilusão, exploração. Crianças geradas em meio às promessas do progresso que aporta nos municípios do Território Integrado e que deixam suas marcas para sempre na história desses lugares. No Cabo de Santo Agostinho, uma iniciativa tenta fazer a diferença, mas esbarra na falta de profissionais. O Serviço de Enfrentamento ao Abuso, Exploração Sexual e Violência Doméstica promove atendimento psicológico às crianças e adolescentes vítimas e aos seus familiares. Ao longo da semana, reforça o serviço com atividades lúdicas, como percussão.<br />“É uma forma de estimular a participação deles e fazer com que não abandonem o tratamento”, explica a psicóloga Leila Maria Silva Cavalcanti. A sobrecarga é desumana. Em um mês, Leila chegou a assumir 150 atendimentos. Com tantos casos, é difícil receber os jovens e suas famílias de forma adequada. “Em geral, quem pratica o abuso são os familiares. Não consigo dizer quantos deles foram vítimas dos homens de firma”, confessa a psicóloga.O Centro de Referência do Adolescente do Cabo conta com uma equipe multidisciplinar que atenda meninos e meninas na faixa etária dos 10 aos 19 anos. “É uma faixa etária que a pessoa nem é criança nem é adulto. Além disso, muitas vezes o profissional de saúde não se sente habilitado para o atendimento, já que esse público precisa de um olhar diferenciado”, explica a médica pediatra e hebiatra Ceres Gonçalves, que costuma promover palestras sobre sexualidade junto aos jovens depois dos atendimentos médicos.No município vizinho de Ipojuca, um mamulengo “conversa” com os jovens sobre drogas, prostituição ou outros temas. Antes da visita do Diario, no entanto, nunca havia tocado no assunto dos “homens de firma”. As apresentações acontecem nas comunidades. “É mais fácil passar esse tipo de assunto para os jovens através das artes cênicas. Muitas vezes, as mães e avós também assistem e passam o conhecimento para os familiares”, acredita Luiz Geraldo Martins, secretário adjunto de Ação Social.<br />O município de Rio Formoso, na Zona da Mata Sul, ainda não sente os efeitos danosos do progresso, mas não espera de braços cruzados o futuro que já amedronta as famílias do Cabo de Santo Agostinho e de Ipojuca. A secretária de Desenvolvimento Econômico e Juventude, Patrícia Marinho, coordenou um diagnóstico para traçar as medidas socioeconômicas e administrativas para enfrentar as demandas de Suape. “Se o jovem trabalha, estuda e recebe recursos, não precisa se meter com exploração sexual”, diz. Com a promessa de instalação de duas empresas, é preciso capacitar. Um espaço chamado Casa da Juventude deve qualificar a mão de obra local para ocupar as novas vagas de emprego. Em um dos projetos, alunos consertam computadores considerados sucata pela refinaria e depois repassam para a população a baixo custo.Sirinhaém, na Zona da Mata Sul, também enfrenta a necessidade de capacitação, amedrontada com o que está por vir. Assessor especial da prefeitura, Luiz de França explica que há um acordo com as empresas obrigando-as a usar 70% da mão de obra do próprio município. “A dificuldade é encontrar mão de obra qualificada. As empresas exigem segundo grau completo. Temos buscado parcerias para que as pessoas cursem o supletivo o quanto antes”, ressalta.<br />AGRADECIMENTOSA série de matérias “Os filhos de Suape” não seria possível de ser realizada sem a preciosa contribuição dos agentes de saúde e dos conselheiros tutelares que, na minha opinião, são as pessoas que mais entendem e ajudam a infância e a adolescência de Pernambuco. Também agradeço às famílias que confiaram em mim, <br />Marcionila Teixeira, e na fotógrafa Teresa Maia, ao abrirem suas portas para revelar os próprios dramas e feridas, sem entrevistas marcadas com antecedência. E, mais que tudo, sou eternamente agradecida a Sofia (foto abaixo, nome fictício), 12 anos, a <br />menina de Ipojuca, cujo rosto belo de menina nunca mais esquecerei. (M.T) <br />Como evitar os quot; predadoresquot; <br />Recife, sexta-feira, 13 de maio de 2011<br />Em Ipojuca, mamulengos alertam os jovens sobre drogas e prostituição. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Projetos sociais com começo, meio e fim, mas com eficácia? O questionamento é da socióloga e mestre em antropologia da saúde e pesquisadora científica do Instituto de Saúde do governo de São Paulo Regina Figueiredo, que defende a criação de uma lei federal para estimular convênios entre as empresas instaladas em regiões como Suape e as prefeituras. “É preciso uma lei para incluir nos contratos a construção de vilas com infraestrutura para os trabalhadores, para que se instalem com famílias, tenham escola e posto de saúde. No final, a estrutura seria doada ao município”, defende. Para Regina, as escolas públicas também precisam ser integradas nas ações. “É preciso uma política pública contínua e não de projetos. Discutir saúde sexual e meio ambiente no currículo das escolas é um caminho. Também é necessário fazer um trabalho de reforço de gênero com a mulher, para que elas tenham autonomia, se fortaleçam”, explica a especialista.Redução de danos é um outra alternativa, na opinião do consultor paulista Marcelo Peixoto, da ONG Barong. “No município de Uchôa, no interior de São Paulo, um prefeito teve a ideia de criar um galpão para prostitutas trabalharem e ao lado haveria um posto de saúde. As mulheres atenderiam à legião de trabalhadores que chegava de fora e ainda teriam o atendimento de saúde. A sociedade expulsou as prostitutas e, como consequência, a exploração sexual explodiu na região. Os homens são predadores, mas que condições estamos dando para eles não serem?”, questiona.<br />O Centro de Referência de Adolescência do Cabo dá palestras sobre sexualidade. Imagem: TERESA MAIA/DP/D.A PRESS <br />Código de ética<br />Uma ação inédita em Pernambuco é uma das peças no conjunto necessário ao combate eficaz à exploração sexual de crianças e adolescentes na região de Suape. A ONG Childhood preparou um código de conduta ética em relação à proteção à infância no turismo. O documento foi elaborado com base em 11 seminários realizados em 11 rotas turísticas do estado com o objetivo de combater a exploração sexual. <br />Além das associações de turismo, também legitimou o código todo o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente em um seminário estadual realizado no Recife. “Preparamos uma pactuação empresarial pela proteção à infância no turismo”, explicou Goreti Vasconcelos, da Childhood. Outra iniciativa é o lançamento do manual de boas práticas para o turismo.<br />Links de todos os vídeos disponíveis no you tube<br />http://www.youtube.com/watch?v=3hduFcP9lf4<br />http://www.youtube.com/watch?v=D1-0MiZkiqI&feature=related<br />http://www.youtube.com/watch?v=heToS1Ux9Nk&feature=related<br />http://www.youtube.com/watch?v=MvWQhOy0wZc<br />http://www.youtube.com/watch?v=_i3xrSNqnJk<br />http://www.youtube.com/watch?v=xGvj4zaad-I<br />http://www.youtube.com/watch?v=_uFQmamtOnk<br />