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                          SEGUNDOCADERNO
                     Por um cinema mais crítico
Aos 48 anos, Nicolas Cage, que volta às telas hoje no novo ‘Motoqueiro Fantasma’, diz buscar papéis com consciência social
                                                                                                                                                                                                     Markus Schreiber/AP
                           Rodrigo Fonseca                                                                                                                                                                                 NICOLAS CAGE:
                       rodrigo.fonseca@oglobo.com.br                                                                                                                                                                       “Muitas vezes as




D
            epois de dois divórcios, um Oscar por “Despedida em Las                                                                                                                                                        pessoas caem
            Vegas” (1995), muitos sucessos de bilheteria e vários filmes
            naufragados pela aposta numa ousadia nem sempre bem                                                                                                                                                            numa percepção
            vista em Hollywood, Nicolas Cage confessa estar cansado                                                                                                                                                        equivocada
de ver o cinema reproduzir a realidade sem reflexão. Hoje, ele volta às
telas em “Motoqueiro Fantasma: espírito de vingança”, que estreia                                                                                                                                                          do que faço.
em busca de milhões. Mas o ator californiano de 48 anos exigiu que                                                                                                                                                         Sempre alternei
o filme mudasse o tom do original, lançado em 2007 e contemplado
com uma arrecadação de US$ 237 milhões. A primeira aventura do                                                                                                                                                             filmes
herói flamejante dava espaço a uma ingenuidade que Cage hoje re-                                                                                                                                                           independentes
jeita. E, no dia 9 de março, chega ao Brasil outro trabalho do astro: o
thriller “O pacto”, sucesso na Europa. Antes de embarcar na saga de                                                                                                                                                        e grandes
um homem em busca de revanche, porém, ele também cobrou cons-                                                                                                                                                              produções”
ciência social do diretor Roger Donaldson, fazendo do filme uma dis-
cussão sobre vigilantismo.
   Sobrinho do diretor Francis Ford Coppola, com quem filmou “O
selvagem da motocicleta” (1983), “Cotton Club” (1984) e “Peggy Sue,
seu passado a espera” (1986), Cage explicou por telefone ao GLOBO
seu interesse por filmes em que a fantasia disfarce uma centelha crí-
tica. Paralelamente, faz um balanço do que mudou em sua carreira.


O GLOBO: Desde sua estreia nas         mais caracterização. Estou em
telas em “Picardias estudantis”        busca de papéis com espírito crí-
(1982), de Amy Heckerling, o se-       tico em relação à realidade.
nhor trabalhou com cineastas co-
mo David Lynch, Martin Scorsese,       ● O que há de crítico em Johnny

Brian De Palma, os irmãos Coen e       Blaze, o Motoqueiro Fantasma?
Francis Ford Coppola. O que            Ele é um caminho para que eu
aprendeu durante essa trajetória?      exercite o cinismo. No primeiro
NICOLAS CAGE: Ao longo dos             filme, Blaze lutava para manter
anos, fui aprendendo a explorar        seu monstro interior preso em
universos marginais e a buscar o       sua alma. Ele buscava leveza.                                                                                          Fotos de divulgação/Imagem Filmes
que pode existir de cult neles,        Agora, muito tempo se passou, e                                                                                                                               motivação de querer me expres-
sem me ater às expectativas dos        esse tempo é medido em perdas.                                                                                                                                sar para além da interpretação.
críticos. Atuando, você cria abs-      Ele substituiu a leveza pela iro-                                                                                                                             Normalmente, um ator tem que
trações que são mais verdadei-         nia. Assumiu a atitude cínica de                                                                                                                              se preocupar em criar uma linha
ras quanto mais próximas estive-       um velho policial que passou                                                                                                                                  dramática e fazer dela algo ve-
rem do contexto que deseja ex-         anos às voltas com a violência e                                                                                                                              rossímil. Dirigindo, você tem que
plorar. Quanto mais honesto vo-        precisa de distanciamento para                                                                                                                                multiplicar esse processo pelo
cê for na criação desse espaço,        não se deixar abalar por ela.                                                                                                                                 número de atores que tem em
mais íntegro será seu trabalho. E,                                                                                                                                                                   cada cena, com a diferença de
na integridade com suas expec-         ● É fácil entender seu apreço                                                                                                                                 que nenhum interpreta do mes-
tativas, você cria um estilo.          por tramas críticas quando o se-                                                                                                                              mo jeito que você. Estou à espe-
                                       nhor estrela um libelo antibélico                                                                                                                             ra da motivação que me faça en-
● Avi Arad, produtor da Mar-           como “O senhor das armas”                                                                                                                                     carar o desafio de manter o con-
vel Studios, declarou que o Ni-        (2005) ou uma discussão sobre            O ATOR como o “Motoqueiro Fantasma” (à esquerda) e no “thriller” “O pacto”, que estreia em março no Brasil           trole sobre um elenco no set. Se
colas Cage do novo “Motoquei-          segurança como “O pacto”. Mas                                                                                                                                 um projeto surgir com força para
ro Fantasma” tem o mesmo es-           como explicar sua aposta em fil-                                                                                                                              fazê-la despertar, eu filmo. Mas
pírito agressivo de “Feitiço da        mes como “O aprendiz de feiti-       em instabilidade. Desde “A ro-           ginal é Nicholas Kim Coppola —       ca dos quadrinhos?                         ainda não apareceu nada.
lua” (1987). Aquele Cage con-          ceiro” (2010) ou “Fúria sobre ro-    cha” (1996), o senhor é encara-          foi tirado do super-herói Luke       O cinema ajudou a fazer dos qua-
sagrado em filmes autorais             das” (2011), que sequer empla-       do também como herói de ação.            Cage. O senhor ainda lê HQs?         drinhos uma mitologia além das             ● É famosa sua disposição para
ainda sobrevive na selva dos           caram nas bilheterias? O que o       Como interpreta o heroísmo?              Cresci sob a influência dos qua-     páginas. Mas veja... tenho 48              desafios. Neste “Motoqueiro
blockbusters?                          atrai no cinema fantástico?          Herói é quem se sacrifica pelo           drinhos porque seu colorido me       anos. Ainda leio gibis, só que             Fantasma”, ao filmar perto da
Muitas vezes as pessoas caem           Justamente pelo esgotamento do       outro, ainda que fora das formas         convidava ao escapismo. Por          ocasionalmente. Tenho outras               Transilvânia, o senhor encarou
numa percepção equivocada do           naturalismo nas telas, passei a      clássicas. O Motoqueiro Fantas-          anos, eles alimentaram minha         inclinações na leitura, de Arthur          um lugar folclórico: os bosques
que faço. Sempre alternei filmes       me interessar por tramas que me      ma, por exemplo, faz o que pode          imaginação como mitologia gre-       C. Clarke a Herman Hesse. Mas              de Hoia-Baciu, considerados o
independentes e grande produ-          aproximem de um olhar mais           para impedir que um menino               ga, numa releitura pop do con-       sou leal às minhas influências.            Triângulo das Bermudas das flo-
ções. Filmei “A rocha” pouco de-       surrealista para a vida. Sinto que   caia nas garras da corrupção.            ceito de yin versus yang, ou seja,                                              restas. Como foi a experiência?
pois de “Despedida em Las Ve-          a ficção científica é o gênero que   Mas nem por isso ele deixa de            de opostos que se completam.         ● Há dez anos, o senhor estreou            As filmagens foram em Bucares-
gas”, quando ninguém acredita-         mais me permite expressar as         ter um monstro dentro de si.                                                  na direção com “Sonny”, um                 te, mas visitei Hoia-Baciu porque
va que eu ganharia um Oscar. O         instabilidades do mundo hoje,                                                 ● E o que recentes adaptações        drama com James Franco. Des-               gosto de locais que estimulem a
que mudou é o fato de eu estar         por driblar as amarras do real.      ● É antiga a sua ligação com os          de HQs para as telas, como “Ki-      de então, não filmou mais. Tem             porção mais assustadora da mi-
cansado do naturalismo, da re-                                              quadrinhos. Nos anos 1990, ha-           ck-Ass — Quebrando tudo”             planos para dirigir de novo?               nha imaginação, proporcionan-
produção do real nos meus ges-         ● É curioso ouvir um ator asso-      via uma lenda, já derrubada, de          (2010), em que o senhor é coad-      Minha relação com a direção é              do imagens úteis ao meu traba-
tos. Quero trabalhos que exijam        ciado à imagem de herói falar        que seu nome artístico — o ori-          juvante, acrescentaram à estéti-     instintiva. Ela obedece a uma              lho. Foi uma experiência rica. ■




                                                                                                     o
                                                                                                   62- FESTIVAL DE BERLIM



Política e História da Europa aquecem a competição
Ciganos na Hungria, realeza na Dinamarca e relações familiares na Noruega prometem dar trabalho aos jurados
                                                             Divulgação
                                                                                        André Miranda                sobre mentiras e culpas.                “A royal affair”, por sua vez,          aos poucos os erros de uma fa-
                                                                                                                        A coletiva de imprensa de         volta ao passado para compre-              mília, e também seus arrependi-
                                                                                 andre.miranda@oglobo.com.br
                                                                                                                     “Just the wind” reuniu os atores     ender como a Dinamarca obteve              mentos. O mais grave de todos é
                                                                                     Enviado especial • BERLIM       do filme, a maioria sem expe-        suas conquistas. O filme acom-             o atropelamento de uma menina



                                                                            M
                                                                                         ais dois filmes ba-         riência anterior e recrutada en-     panha a luta do médico alemão              de 16 anos, cuja mãe é atormen-
                                                                                         seados em fatos his-        tre os ciganos, e o diretor. Flie-   Johann Friedrich Struensee para            tada pelas dúvidas sobre sua
                                                                                         tóricos esquenta-           gauf contou que quatro homens        influenciar as decisões de Cris-           culpa no incidente.
                                                                                         ram a competição            estão em processo de julgamen-       tiano VII, um rei que sofria de               — Alguns anos atrás, visitei
                                                                            do Festival de Berlim ontem, au-         to em Budapeste por ataques          transtornos neurológicos, com              cidades na Noruega e vi como
                                                                            mentando o tom político de um            contra nove vilas ciganas em         o intuito de aproximar a Dina-             havia locais hostis ao ser hu-
                                                                            festival com uma seleção coesa,          2008 e 2009, em que seis pessoas     marca de ideias iluministas.               mano. Só que, ao mesmo tem-
                                                                            em que fica difícil apostar em           morreram, inclusive um menino        Struensee ficou famoso, ainda,             po, tinha gente morando lá.
                                                                            quem vai receber o Urso de Ou-           de 5 anos. O filme acompanha         por se envolver com a rainha               Então quis imaginar como é
                                                                            ro. O primeiro foi o húngaro “Just       uma família cigana que tenta         Carolina Matilde, provocando               possível viver num lugar como
                                                                            the wind”, de Bence Fliegauf, so-        emigrar para o Canadá com me-        intrigas no palácio e dando a “A           esse — disse o cineasta ale-
                                                                            bre as consequências de um               do da violência na Hungria.          royal affair” uma cara de cine-            mão Matthias Glasner.
                                                                            massacre de ciganos para uma                — É claro que eu espero que       mão comercial, com romance,                   Hoje, será exibido na Berlina-
                                                                            família; o segundo foi o dinamar-        este filme faça alguma diferen-      aventura, suspense e uma pro-              le o último filme da mostra com-
                                                                            quês “A royal affair”, de Nikolaj        ça — disse o diretor. — Os pre-      dução cuidadosa.                           petitiva, totalizando 18: o cana-
                                                                            Arcel, épico passado no século           conceitos e estereótipos são                                                    dense “War witch”, de Kim
                                                                            XVIII sobre como um caso extra-          os responsáveis pela existên-          Último filme será exibido hoje           Nguyen, sobre como uma ado-
                                                                            conjugal ajudou a transição da           cia do racismo. Os ciganos vi-          Já “Mercy” destoou um pouco             lescente é recrutada para a
                                                                            Dinamarca feudal rumo à moder-           vem marginalizados. Desde a          da quinta-feira sangrenta de Ber-          guerra civil do Congo. Ou seja,
                                                                            nidade. Além desses, também foi          entrada da Hungria na União          lim para abordar questões mais             mais um filme político para em-
                                                                            exibido pela competição o longa          Europeia, foram feitos esfor-        interiores do ser humano: sua              baralhar a cabeça do júri, cuja
                                                                            alemão “Mercy”, uma observa-             ços para integrá-los, mas ain-       trama, passada numa cidade gé-             decisão será anunciada numa
CENA DE “JUST the wind”: casos de violência contra povos ciganos            ção do diretor Matthias Glasner          da há muito para conquistar.         lida da Noruega, vai mostrando             cerimônia amanhã à noite. ■


                                                                                 ●   ARTHUR DAPIEVE: a coluna volta a ser publicada no dia 9 de março

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Entrevista nicolas cage

  • 1. 8 ● Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012 SEGUNDOCADERNO Por um cinema mais crítico Aos 48 anos, Nicolas Cage, que volta às telas hoje no novo ‘Motoqueiro Fantasma’, diz buscar papéis com consciência social Markus Schreiber/AP Rodrigo Fonseca NICOLAS CAGE: rodrigo.fonseca@oglobo.com.br “Muitas vezes as D epois de dois divórcios, um Oscar por “Despedida em Las pessoas caem Vegas” (1995), muitos sucessos de bilheteria e vários filmes naufragados pela aposta numa ousadia nem sempre bem numa percepção vista em Hollywood, Nicolas Cage confessa estar cansado equivocada de ver o cinema reproduzir a realidade sem reflexão. Hoje, ele volta às telas em “Motoqueiro Fantasma: espírito de vingança”, que estreia do que faço. em busca de milhões. Mas o ator californiano de 48 anos exigiu que Sempre alternei o filme mudasse o tom do original, lançado em 2007 e contemplado com uma arrecadação de US$ 237 milhões. A primeira aventura do filmes herói flamejante dava espaço a uma ingenuidade que Cage hoje re- independentes jeita. E, no dia 9 de março, chega ao Brasil outro trabalho do astro: o thriller “O pacto”, sucesso na Europa. Antes de embarcar na saga de e grandes um homem em busca de revanche, porém, ele também cobrou cons- produções” ciência social do diretor Roger Donaldson, fazendo do filme uma dis- cussão sobre vigilantismo. Sobrinho do diretor Francis Ford Coppola, com quem filmou “O selvagem da motocicleta” (1983), “Cotton Club” (1984) e “Peggy Sue, seu passado a espera” (1986), Cage explicou por telefone ao GLOBO seu interesse por filmes em que a fantasia disfarce uma centelha crí- tica. Paralelamente, faz um balanço do que mudou em sua carreira. O GLOBO: Desde sua estreia nas mais caracterização. Estou em telas em “Picardias estudantis” busca de papéis com espírito crí- (1982), de Amy Heckerling, o se- tico em relação à realidade. nhor trabalhou com cineastas co- mo David Lynch, Martin Scorsese, ● O que há de crítico em Johnny Brian De Palma, os irmãos Coen e Blaze, o Motoqueiro Fantasma? Francis Ford Coppola. O que Ele é um caminho para que eu aprendeu durante essa trajetória? exercite o cinismo. No primeiro NICOLAS CAGE: Ao longo dos filme, Blaze lutava para manter anos, fui aprendendo a explorar seu monstro interior preso em universos marginais e a buscar o sua alma. Ele buscava leveza. Fotos de divulgação/Imagem Filmes que pode existir de cult neles, Agora, muito tempo se passou, e motivação de querer me expres- sem me ater às expectativas dos esse tempo é medido em perdas. sar para além da interpretação. críticos. Atuando, você cria abs- Ele substituiu a leveza pela iro- Normalmente, um ator tem que trações que são mais verdadei- nia. Assumiu a atitude cínica de se preocupar em criar uma linha ras quanto mais próximas estive- um velho policial que passou dramática e fazer dela algo ve- rem do contexto que deseja ex- anos às voltas com a violência e rossímil. Dirigindo, você tem que plorar. Quanto mais honesto vo- precisa de distanciamento para multiplicar esse processo pelo cê for na criação desse espaço, não se deixar abalar por ela. número de atores que tem em mais íntegro será seu trabalho. E, cada cena, com a diferença de na integridade com suas expec- ● É fácil entender seu apreço que nenhum interpreta do mes- tativas, você cria um estilo. por tramas críticas quando o se- mo jeito que você. Estou à espe- nhor estrela um libelo antibélico ra da motivação que me faça en- ● Avi Arad, produtor da Mar- como “O senhor das armas” carar o desafio de manter o con- vel Studios, declarou que o Ni- (2005) ou uma discussão sobre O ATOR como o “Motoqueiro Fantasma” (à esquerda) e no “thriller” “O pacto”, que estreia em março no Brasil trole sobre um elenco no set. Se colas Cage do novo “Motoquei- segurança como “O pacto”. Mas um projeto surgir com força para ro Fantasma” tem o mesmo es- como explicar sua aposta em fil- fazê-la despertar, eu filmo. Mas pírito agressivo de “Feitiço da mes como “O aprendiz de feiti- em instabilidade. Desde “A ro- ginal é Nicholas Kim Coppola — ca dos quadrinhos? ainda não apareceu nada. lua” (1987). Aquele Cage con- ceiro” (2010) ou “Fúria sobre ro- cha” (1996), o senhor é encara- foi tirado do super-herói Luke O cinema ajudou a fazer dos qua- sagrado em filmes autorais das” (2011), que sequer empla- do também como herói de ação. Cage. O senhor ainda lê HQs? drinhos uma mitologia além das ● É famosa sua disposição para ainda sobrevive na selva dos caram nas bilheterias? O que o Como interpreta o heroísmo? Cresci sob a influência dos qua- páginas. Mas veja... tenho 48 desafios. Neste “Motoqueiro blockbusters? atrai no cinema fantástico? Herói é quem se sacrifica pelo drinhos porque seu colorido me anos. Ainda leio gibis, só que Fantasma”, ao filmar perto da Muitas vezes as pessoas caem Justamente pelo esgotamento do outro, ainda que fora das formas convidava ao escapismo. Por ocasionalmente. Tenho outras Transilvânia, o senhor encarou numa percepção equivocada do naturalismo nas telas, passei a clássicas. O Motoqueiro Fantas- anos, eles alimentaram minha inclinações na leitura, de Arthur um lugar folclórico: os bosques que faço. Sempre alternei filmes me interessar por tramas que me ma, por exemplo, faz o que pode imaginação como mitologia gre- C. Clarke a Herman Hesse. Mas de Hoia-Baciu, considerados o independentes e grande produ- aproximem de um olhar mais para impedir que um menino ga, numa releitura pop do con- sou leal às minhas influências. Triângulo das Bermudas das flo- ções. Filmei “A rocha” pouco de- surrealista para a vida. Sinto que caia nas garras da corrupção. ceito de yin versus yang, ou seja, restas. Como foi a experiência? pois de “Despedida em Las Ve- a ficção científica é o gênero que Mas nem por isso ele deixa de de opostos que se completam. ● Há dez anos, o senhor estreou As filmagens foram em Bucares- gas”, quando ninguém acredita- mais me permite expressar as ter um monstro dentro de si. na direção com “Sonny”, um te, mas visitei Hoia-Baciu porque va que eu ganharia um Oscar. O instabilidades do mundo hoje, ● E o que recentes adaptações drama com James Franco. Des- gosto de locais que estimulem a que mudou é o fato de eu estar por driblar as amarras do real. ● É antiga a sua ligação com os de HQs para as telas, como “Ki- de então, não filmou mais. Tem porção mais assustadora da mi- cansado do naturalismo, da re- quadrinhos. Nos anos 1990, ha- ck-Ass — Quebrando tudo” planos para dirigir de novo? nha imaginação, proporcionan- produção do real nos meus ges- ● É curioso ouvir um ator asso- via uma lenda, já derrubada, de (2010), em que o senhor é coad- Minha relação com a direção é do imagens úteis ao meu traba- tos. Quero trabalhos que exijam ciado à imagem de herói falar que seu nome artístico — o ori- juvante, acrescentaram à estéti- instintiva. Ela obedece a uma lho. Foi uma experiência rica. ■ o 62- FESTIVAL DE BERLIM Política e História da Europa aquecem a competição Ciganos na Hungria, realeza na Dinamarca e relações familiares na Noruega prometem dar trabalho aos jurados Divulgação André Miranda sobre mentiras e culpas. “A royal affair”, por sua vez, aos poucos os erros de uma fa- A coletiva de imprensa de volta ao passado para compre- mília, e também seus arrependi- andre.miranda@oglobo.com.br “Just the wind” reuniu os atores ender como a Dinamarca obteve mentos. O mais grave de todos é Enviado especial • BERLIM do filme, a maioria sem expe- suas conquistas. O filme acom- o atropelamento de uma menina M ais dois filmes ba- riência anterior e recrutada en- panha a luta do médico alemão de 16 anos, cuja mãe é atormen- seados em fatos his- tre os ciganos, e o diretor. Flie- Johann Friedrich Struensee para tada pelas dúvidas sobre sua tóricos esquenta- gauf contou que quatro homens influenciar as decisões de Cris- culpa no incidente. ram a competição estão em processo de julgamen- tiano VII, um rei que sofria de — Alguns anos atrás, visitei do Festival de Berlim ontem, au- to em Budapeste por ataques transtornos neurológicos, com cidades na Noruega e vi como mentando o tom político de um contra nove vilas ciganas em o intuito de aproximar a Dina- havia locais hostis ao ser hu- festival com uma seleção coesa, 2008 e 2009, em que seis pessoas marca de ideias iluministas. mano. Só que, ao mesmo tem- em que fica difícil apostar em morreram, inclusive um menino Struensee ficou famoso, ainda, po, tinha gente morando lá. quem vai receber o Urso de Ou- de 5 anos. O filme acompanha por se envolver com a rainha Então quis imaginar como é ro. O primeiro foi o húngaro “Just uma família cigana que tenta Carolina Matilde, provocando possível viver num lugar como the wind”, de Bence Fliegauf, so- emigrar para o Canadá com me- intrigas no palácio e dando a “A esse — disse o cineasta ale- bre as consequências de um do da violência na Hungria. royal affair” uma cara de cine- mão Matthias Glasner. massacre de ciganos para uma — É claro que eu espero que mão comercial, com romance, Hoje, será exibido na Berlina- família; o segundo foi o dinamar- este filme faça alguma diferen- aventura, suspense e uma pro- le o último filme da mostra com- quês “A royal affair”, de Nikolaj ça — disse o diretor. — Os pre- dução cuidadosa. petitiva, totalizando 18: o cana- Arcel, épico passado no século conceitos e estereótipos são dense “War witch”, de Kim XVIII sobre como um caso extra- os responsáveis pela existên- Último filme será exibido hoje Nguyen, sobre como uma ado- conjugal ajudou a transição da cia do racismo. Os ciganos vi- Já “Mercy” destoou um pouco lescente é recrutada para a Dinamarca feudal rumo à moder- vem marginalizados. Desde a da quinta-feira sangrenta de Ber- guerra civil do Congo. Ou seja, nidade. Além desses, também foi entrada da Hungria na União lim para abordar questões mais mais um filme político para em- exibido pela competição o longa Europeia, foram feitos esfor- interiores do ser humano: sua baralhar a cabeça do júri, cuja alemão “Mercy”, uma observa- ços para integrá-los, mas ain- trama, passada numa cidade gé- decisão será anunciada numa CENA DE “JUST the wind”: casos de violência contra povos ciganos ção do diretor Matthias Glasner da há muito para conquistar. lida da Noruega, vai mostrando cerimônia amanhã à noite. ■ ● ARTHUR DAPIEVE: a coluna volta a ser publicada no dia 9 de março