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                                                                   DOMINGO I

                    MENSAGEM URBI ET ORBI
                   DO SANTO PADRE BENTO XVI
                Domingo de Páscoa – 8 de Abril de 2012

Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!

«Surrexit Christus, spes mea – Ressuscitou Cristo, minha esperança» (Sequência
Pascal).

A todos vós chegue a voz jubilosa da Igreja, com as palavras que um antigo hino
coloca nos lábios de Maria Madalena, a primeira que encontrou Jesus
ressuscitado na manhã de Páscoa. Ela correu ao encontro dos outros discípulos e,
emocionada, anunciou-lhes: «Vi o Senhor!» (Jo 20, 18). Hoje também nós, depois
de termos atravessado o deserto da Quaresma e os dias dolorosos da Paixão,
damos largas ao brado de vitória: «Ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!»

Todo o cristão revive a experiência de Maria de Magdala. É um encontro que
muda a vida: o encontro como um Homem único, que nos faz sentir toda a
bondade e a verdade de Deus, que nos liberta do mal, não de modo superficial e
passageiro mas liberta-nos radicalmente, cura-nos completamente e restitui-nos
a nossa dignidade. Eis o motivo por que Madalena chama Jesus «minha
esperança»: porque foi Ele que a fez renascer, que lhe deu um futuro novo, uma
vida boa, liberta do mal. «Cristo minha esperança» significa que todo o meu
desejo de bem encontra n’Ele uma possibilidade de realização: com Ele, posso
esperar que a minha vida se torne boa e seja plena, eterna, porque é o próprio
Deus que Se aproximou até ao ponto de entrar na nossa humanidade.

Entretanto Maria de Magdala, tal como os outros discípulos, teve de ver Jesus
rejeitado pelos chefes do povo, preso, flagelado, condenado à morte e crucificado.
Deve ter sido insuportável ver a Bondade em pessoa sujeita à maldade humana, a
Verdade escarnecida pela mentira, a Misericórdia injuriada pela vingança. Com a
morte de Jesus, parecia falir a esperança de quantos confiavam n’Ele. Mas esta fé
nunca desfalece de todo: sobretudo no coração da Virgem Maria, a mãe de Jesus,
a pequena chama continuou acesa e viva mesmo na escuridão da noite. A
esperança, neste mundo, não pode deixar de contar com a dureza do mal. Não é
apenas o muro da morte a criar-lhe dificuldade, mas também e mais ainda as
aguilhoadas da inveja e do orgulho, da mentira e da violência. Jesus passou
através desta trama mortal, para nos abrir a passagem para o Reino da vida.
Houve um momento em que Jesus aparecia derrotado: as trevas invadiram a
terra, o silêncio de Deus era total, a esperança parecia reduzida a uma palavra vã.

Mas eis que, ao alvorecer do dia depois do sábado, encontram vazio o sepulcro.
Depois Jesus manifesta-Se a Madalena, às outras mulheres, aos discípulos. A fé
renasce mais viva e mais forte do que nunca, e já invencível porque fundada sobre
uma experiência decisiva: «Morte e vida combateram, / mas o Príncipe da vida /
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reina vivo após a morte». Os sinais da ressurreição atestam a vitória da vida sobre
a morte, do amor sobre o ódio, da misericórdia sobre a vingança: «Vi o túmulo de
Cristo, / redivivo e glorioso; / vi os Anjos que o atestam, / e a mortalha com as
vestes».

Amados irmãos e irmãs! Se Jesus ressuscitou, então – e só então – aconteceu algo
de verdadeiramente novo, que muda a condição do homem e do mundo. Então
Ele, Jesus, é alguém de quem nos podemos absolutamente fiar, confiando não
apenas na sua mensagem mas n’Elemesmo, porque o Ressuscitado não pertence
ao passado, mas está presente e vivo hoje. Cristo é esperança e conforto de modo
particular para as comunidades cristãs que mais são provadas com discriminações
e perseguições por causa da fé. E, através da sua Igreja, está presente como força
de esperança em cada situação humana de sofrimento e de injustiça.

Cristo Ressuscitado dê esperança ao Médio Oriente, para que todas as
componentes étnicas, culturais e religiosas daquele Região colaborem para o bem
comum e o respeito dos direitos humanos. De forma particular cesse, na Síria, o
derramamento de sangue e adopte-se, sem demora, o caminho do respeito, do
diálogo e da reconciliação, como é vivo desejo também da comunidade
internacional. Os numerosos prófugos, originários de lá e necessitados de
assistência humanitária, possam encontrar o acolhimento e a solidariedade que
mitiguem as suas penosas tribulações. Que a vitória pascal encoraje o povo
iraquiano a não poupar esforços para avançar no caminho da estabilidade e do
progresso. Na Terra Santa, israelitas e palestinos retomem, com coragem, o
processo de paz.

Vitorioso sobre o mal e sobre a morte, o Senhor sustente as comunidades cristãs
do Continente Africano, conceda-lhes esperança para enfrentarem as dificuldades
e torne-as obreiras de paz e artífices do progresso das sociedades a que
pertencem.

Jesus Ressuscitado conforte as populações atribuladas do Corno de África e
favoreça a sua reconciliação; ajude a Região dos Grandes Lagos, o Sudão e o
Sudão do Sul, concedendo aos respectivos habitantes a força do perdão. Ao Mali,
que atravessa um delicado momento político, Cristo Glorioso conceda paz e
estabilidade. À Nigéria, que, nestes últimos tempos, foi palco de sangrentos
ataques terroristas, a alegria pascal infunda as energias necessárias para retomar a
construção duma sociedade pacífica e respeitadora da liberdade religiosa de
todos os seus cidadãos.

Boa Páscoa para todos!
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                               PAPA BENTO XVI
                              AUDIÊNCIA GERAL
                       Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006

Tomé
Queridos irmãos e irmãs!
Prosseguindo os nossos encontros com os doze Apóstolos escolhidos
directamente por Jesus, hoje dedicamos a nossa atenção a Tomé. Sempre
presente nas quatro listas contempladas pelo Novo Testamento, ele, nos
primeiros três Evangelhos, é colocado ao lado de Mateus (cf. Mt 10, 3; Mc3,
18; Lc 6, 15), enquanto nos Actos está próximo de Filipe (cf. Act 1, 13). O seu nome
deriva de uma raiz hebraica, ta'am, que significa "junto", "gémeo". De facto, o
Evangelho chama-o várias vezes com o sobrenome de "Dídimo" (cf. Jo 11, 16; 20,
24; 21, 2), que em grego significa precisamente "gémeo". Não é claro o porquê
deste apelativo.

Sobretudo o Quarto Evangelho oferece-nos informações que reproduzem alguns
traços significativos da sua personalidade. O primeiro refere-se à exortação, que
ele fez aos outros Apóstolos, quando Jesus, num momento crítico da sua vida,
decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim perigosamente
de Jerusalém (cf. Mc 10, 32). Naquela ocasião Tomé disse aos seus condiscípulos:
"Vamos nós também, para morrermos com Ele" (Jo 11, 16).

Esta sua determinação em seguir o Mestre é deveras exemplar e oferece-nos um
precioso ensinamento: revela a disponibilidade total a aderir a Jesus, até
identificar o próprio destino com o d'Ele e querer partilhar com Ele a prova
suprema da morte. De facto, o mais importante é nunca separar-se de Jesus. Por
outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo "seguir" é para significar que
para onde Ele se dirige, para lá deve ir também o seu discípulo. Deste modo, a
vida cristã define-se como uma vida com Jesus Cristo, uma vida a ser transcorrida
juntamente com Ele. São Paulo escreve algo semelhante, quando tranquiliza os
cristãos de Corinto com estas palavras: "estais no nosso coração para a vida e para
a morte" (2 Cor 7, 3). O que se verifica entre o Apóstolo e os seus cristãos deve,
obviamente, valer antes de tudo para a relação entre os cristãos e o próprio Jesus:
morrer juntos, viver juntos, estar no seu coração como Ele está no nosso.

Uma segunda intervenção de Tomé está registada na Última Ceia. Naquela
ocasião Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um
lugar para os discípulos para que também eles estejam onde Ele estiver; e
esclarece: "E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho"(Jo 14, 4). É então que
Tomé intervém e diz: "Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós
saber o caminho?" (Jo 14, 5). Na realidade, com esta expressão ele coloca-se a um
nível de compreensão bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a
ocasião para pronunciar a célebre definição: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida" (Jo 14, 6). Portanto, Tomé é o primeiro a quem é feita esta revelação, mas
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ela é válida também para todos nós e para sempre. Todas as vezes que ouvimos
ou lemos estas palavras, podemos colocar-nos com o pensamento ao lado de
Tomé e imaginar que o Senhor fala também connosco como falou com ele.

Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere também a nós o direito, por assim
dizer, de pedir explicações a Jesus. Com frequência nós não o compreendemos.
Temos a coragem para dizer: não te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a
compreender. Desta forma, com esta franqueza que é o verdadeiro modo de
rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficiência da nossa capacidade de
compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem
espera luz e força de quem é capaz de as doar.

Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que
aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha
acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal
dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a
minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras
sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto
pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus
são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou.
Nisto o Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no
meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o:
"Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e
não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais
maravilhosa de todo o Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28).
A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas
confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava
levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado" (In Iohann.
121, 5). O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque
me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão" (cf. Jo 20, 29). Esta
frase também se pode conjugar no presente; "Bem-aventurados os que crêem sem
terem visto".

Contudo, aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que virão
depois de Tomé, portanto para todos nós. É interessante observar como o grande
teólogo medieval Tomás de Aquino, compara com esta fórmula de bem-
aventurança aquela aparentemente oposta citada por Lucas: "Felizes os olhos que
vêem o que estais a ver" (Lc 10, 23). Mas o Aquinate comenta: "Merece muito mais
quem crê sem ver do que quem crê porque vê" (In Johann. XX lectio VI 2566). De
facto, a Carta aos Hebreus, recordando toda a série dos antigos Patriarcas
bíblicos, que acreditaram em Deus sem ver o cumprimento das suas promessas,
define a fé como "fundamento das coisas que se esperam e comprovação das que
não se vêem" (11, 1). O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós pelo menos
por três motivos: primeiro, porque nos conforta nas nossas inseguranças;
segundo porque nos demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito
luminoso além de qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras dirigidas a ele
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por Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a
prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele.

Uma última anotação sobre Tomé é-nos conservada no Quarto Evangelho, que o
apresenta como testemunha do Ressuscitado no momento seguinte à pesca
milagrosa no Lago de Tiberíades (cf. Jo21, 2). Naquela ocasião ele é mencionado
inclusivamente logo depois de Simão Pedro: sinal evidente da grande importância
de que gozava no âmbito das primeiras comunidades cristãs. Com efeito, em seu
nome foram escritos depois os Actos e o Evangelho de Tomé, ambos apócrifos mas
contudo importantes para o estudo das origens cristãs. Por fim recordamos que
segundo uma antiga tradição, Tomé evangelizou primeiro a Síria e a Pérsia (assim
refere já Orígenes, citado por Eusébio de Cesareia, Hist. eccl. 3, 1) depois foi até à
Índia ocidental (cf. Actos de Tomé 1-2 e 17ss.), de onde enfim alcançou também a
Índia meridional. Nesta perspectiva missionária terminamos a nossa reflexão,
expressando votos de que o exemplo de Tomé corrobore cada vez mais a nossa fé
em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.
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                              PAPA BENTO XVI
                             AUDIÊNCIA GERAL
                        Quarta-feira, 9 de Agosto de 2006
 João, o teólogo
Queridos irmãos e irmãs!
Antes das férias eu tinha começado a fazer pequenos retratos dos doze Apóstolos.
Os Apóstolos eram companheiros de vida de Jesus, amigos de Jesus e este
caminho deles com Jesus não era só um caminho exterior, da Galileia a Jerusalém,
mas um caminho interior no qual aprenderam a fé em Jesus Cristo, não sem
dificuldades porque eram homens como nós. Mas precisamente por isto, porque
eram companheiros de vida de Jesus, amigos de Jesus que num caminho não fácil
aprenderam a fé, são também guias para nós, que nos ajudam a conhecer Jesus
Cristo, a amá-lo e a ter fé n'Ele. Eu já tinha falado sobre quatro dos doze
Apóstolos: de Simão Pedro, do seu irmão André, de Tiago, o irmão de São João, e
do outro Tiago, chamado "o Menor", que escreveu uma Carta que encontramos
no Novo Testamento. E eu tinha começado a falar de João, o evangelista,
mencionando na última audiência antes das férias os dados essenciais que traçam
a fisionomia deste Apóstolo. Agora gostaria de concentrar a atenção sobre o
conteúdo do seu ensinamento. Por conseguinte, os escritos dos quais hoje
desejamos ocupar-nos são o Evangelho e as Cartas que têm o seu nome.

Se existe um assunto característico que mais sobressai nos escritos de João, é o
amor. Não foi por acaso que quis iniciar a minha primeira Carta encíclica com as
palavras deste Apóstolo: "Deus é amor (Deus caritas est); quem está no amor
habita em Deus e Deus habita nele" (1 Jo 4, 16). É muito difícil encontrar textos do
género noutras religiões. Portanto, tais expressões põem-nos diante de um dado
verdadeiramente peculiar do cristianismo. Certamente João não é o único autor
das origens cristãs que fala do amor. Sendo este um elemento essencial do
cristianismo, todos os escritores do Novo Testamento falam dele, mesmo se com
acentuações diferentes. Se agora nos detemos a reflectir sobre este tema em João,
é porque ele nos traçou com insistência e de modo incisivo as suas linhas
principais. Portanto, confiemo-nos às suas palavras. Uma coisa é certa: ele não
reflecte de modo abstracto, filosófico, ou até teológico, sobre o que é o amor.
Não, ele não é um teórico. De facto, o verdadeiro amor, por sua natureza, nunca é
meramente especulativo, mas faz referência directa, concreta e verificável a
pessoas reais. Pois bem, João, como apóstolo e amigo de Jesus mostra-nos quais
são os componentes ou melhor as fases do amor cristão, um movimento
caracterizado por três momentos.

O primeiro refere-se à própria Fonte do amor, que o Apóstolo coloca em Deus,
chegando, como ouvimos, a afirmar que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16). João é o
único autor do Novo Testamento que nos dá uma espécie de definição de Deus.
Ele diz, por exemplo, que "Deus é Espírito" (Jo 4, 24) ou que "Deus é luz" (1 Jo 1,
5). Aqui proclama com intuição resplandecente que "Deus é amor". Observe-se
bem: não é simplesmente afirmado que "Deus ama", nem sequer que "o amor é
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Deus"! Por outras palavras: João não se limita a descrever o agir divino, mas
procede até às suas raízes. Além disso, não pretende atribuir uma qualidade a um
amor genérico e talvez impessoal; não se eleva do amor a Deus, mas dirige-se
directamente a Deus para definir a sua natureza com a dimensão infinita do
amor. Com isto João deseja dizer que o constitutivo essencial de Deus é o amor e,
portanto, toda a actividade de Deus nasce do amor e está orientada para o amor:
tudo o que Deus faz é por amor, mesmo se nem sempre podemos compreender
imediatamente que Ele é amor, o verdadeiro amor.

Mas, a este ponto é indispensável dar um passo em frente e esclarecer que Deus
demonstrou concretamente o seu amor entrando na história humana mediante a
pessoa de Jesus Cristo, que encarnou, morreu e ressuscitou por nós. Este é o
segundo momento constitutivo do amor de Deus. Ele não se limitou às
declarações verbais, mas, podemos dizer, empenhou-se verdadeiramente e
"pagou" em primeira pessoa. Como escreve precisamente João, "Tanto amou Deus
o mundo (isto é: todos nós) que lhe entregou o seu Filho Unigénito" (Jo 3, 16).
Agora, o amor de Deus pelos homens concretiza-se e manifesta-se no amor do
próprio Jesus. João escreve ainda: Jesus "que amara os seus que estavam no
mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1). Em virtude deste
amor oblativo e total nós somos radicalmente resgatados do pecado, como
escreve ainda São João: "Filhinhos meus... se alguém pecar, temos junto do Pai
um advogado, Jesus Cristo, o Justo, pois Ele é a vítima que expia os nossos
pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo" (1 Jo 2, 1-2;
cf. 1 Jo 1, 7). Eis até onde chegou o amor de Jesus por nós: até à efusão do próprio
sangue para a nossa salvação! O cristão, detendo-se em contemplação diante
deste "excesso" de amor, não pode deixar de reflectir sobre qual é a resposta
obrigatória. E penso que sempre e de novo cada um de nós deve interrogar-se
sobre isto.

Esta pergunta introduz-nos no terceiro momento da dinâmica do amor: de
destinatários receptivos de um amor que nos precede e nos domina, somos
chamados ao compromisso de uma resposta activa, que para ser adequada só
pode ser uma resposta de amor. João fala de um "mandamento". De facto, ele
refere estas palavras de Jesus: "Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis
uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34).
Onde está a novidade à qual Jesus se refere? Ela consiste no facto de que não se
contenta de repetir o que já era exigido no Antigo Testamento e que lemos nos
outros Evangelhos: "Ama o próximo como a ti mesmo" (Lv 19, 18; cf. Mt 22, 37-
39; Mc 12, 29-31; Lc 10, 27). No antigo preceito o critério normativo era presumido
a partir do homem ("como a ti mesmo"), enquanto que no preceito mencionado
por João, Jesus apresenta como motivo e norma do nosso amor a sua própria
pessoa: "Como Eu vos amei". É assim que o amor se torna verdadeiramente
cristão, levando em si a novidade do cristianismo: quer no sentido de que ele
deve destinar-se a todos sem distinções, quer porque deve sobretudo chegar até
às últimas consequências, tendo unicamente como medida chegar ao extremo.
Aquelas palavras de Jesus, "como Eu vos amei", convidam-nos e ao mesmo tempo
preocupam-nos; são uma meta cristológica que pode parecer inalcançável, mas
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são, ao mesmo tempo, um estímulo que não nos permite acomodar-nos no que
podemos realizar. Não permite que nos contentemos do que somos, mas
estimula-nos a permanecer a caminho rumo a esta meta.

Aquele texto áureo de espiritualidade que é o pequeno livro do final da Idade
Média intituladoImitação de Cristo escreve a este propósito: "O nobre amor de
Jesus estimula-nos a realizar coisas grandes e a desejar coisas sempre mais
perfeitas. O amor quer estar no alto e não ser aprisionado por baixeza alguma. O
amor quer ser livre e separado de qualquer afecto mundano... de facto, o amor
nasceu de Deus, e só pode repousar em Deus acima de todas as coisas criadas.
Quem ama voa, corre e rejubila, é livre, e nada o retém. Dá tudo a todos e tem
tudo em todas as coisas, porque encontra repouso no Único grande que está
acima de todas as coisas, do qual brota e provém qualquer bem" (livro III, cap. 5).
Qual melhor comentário do que o "mandamento novo", enunciado por João?
Pedimos ao Pai que o possamos viver, mesmo se sempre de modo imperfeito, tão
intensamente que contagiemos a todos os que encontrarmos no nosso caminho.

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A mensagem de esperança da Páscoa de Bento XVI

  • 1. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano DOMINGO I MENSAGEM URBI ET ORBI DO SANTO PADRE BENTO XVI Domingo de Páscoa – 8 de Abril de 2012 Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro! «Surrexit Christus, spes mea – Ressuscitou Cristo, minha esperança» (Sequência Pascal). A todos vós chegue a voz jubilosa da Igreja, com as palavras que um antigo hino coloca nos lábios de Maria Madalena, a primeira que encontrou Jesus ressuscitado na manhã de Páscoa. Ela correu ao encontro dos outros discípulos e, emocionada, anunciou-lhes: «Vi o Senhor!» (Jo 20, 18). Hoje também nós, depois de termos atravessado o deserto da Quaresma e os dias dolorosos da Paixão, damos largas ao brado de vitória: «Ressuscitou! Ressuscitou verdadeiramente!» Todo o cristão revive a experiência de Maria de Magdala. É um encontro que muda a vida: o encontro como um Homem único, que nos faz sentir toda a bondade e a verdade de Deus, que nos liberta do mal, não de modo superficial e passageiro mas liberta-nos radicalmente, cura-nos completamente e restitui-nos a nossa dignidade. Eis o motivo por que Madalena chama Jesus «minha esperança»: porque foi Ele que a fez renascer, que lhe deu um futuro novo, uma vida boa, liberta do mal. «Cristo minha esperança» significa que todo o meu desejo de bem encontra n’Ele uma possibilidade de realização: com Ele, posso esperar que a minha vida se torne boa e seja plena, eterna, porque é o próprio Deus que Se aproximou até ao ponto de entrar na nossa humanidade. Entretanto Maria de Magdala, tal como os outros discípulos, teve de ver Jesus rejeitado pelos chefes do povo, preso, flagelado, condenado à morte e crucificado. Deve ter sido insuportável ver a Bondade em pessoa sujeita à maldade humana, a Verdade escarnecida pela mentira, a Misericórdia injuriada pela vingança. Com a morte de Jesus, parecia falir a esperança de quantos confiavam n’Ele. Mas esta fé nunca desfalece de todo: sobretudo no coração da Virgem Maria, a mãe de Jesus, a pequena chama continuou acesa e viva mesmo na escuridão da noite. A esperança, neste mundo, não pode deixar de contar com a dureza do mal. Não é apenas o muro da morte a criar-lhe dificuldade, mas também e mais ainda as aguilhoadas da inveja e do orgulho, da mentira e da violência. Jesus passou através desta trama mortal, para nos abrir a passagem para o Reino da vida. Houve um momento em que Jesus aparecia derrotado: as trevas invadiram a terra, o silêncio de Deus era total, a esperança parecia reduzida a uma palavra vã. Mas eis que, ao alvorecer do dia depois do sábado, encontram vazio o sepulcro. Depois Jesus manifesta-Se a Madalena, às outras mulheres, aos discípulos. A fé renasce mais viva e mais forte do que nunca, e já invencível porque fundada sobre uma experiência decisiva: «Morte e vida combateram, / mas o Príncipe da vida /
  • 2. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano reina vivo após a morte». Os sinais da ressurreição atestam a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, da misericórdia sobre a vingança: «Vi o túmulo de Cristo, / redivivo e glorioso; / vi os Anjos que o atestam, / e a mortalha com as vestes». Amados irmãos e irmãs! Se Jesus ressuscitou, então – e só então – aconteceu algo de verdadeiramente novo, que muda a condição do homem e do mundo. Então Ele, Jesus, é alguém de quem nos podemos absolutamente fiar, confiando não apenas na sua mensagem mas n’Elemesmo, porque o Ressuscitado não pertence ao passado, mas está presente e vivo hoje. Cristo é esperança e conforto de modo particular para as comunidades cristãs que mais são provadas com discriminações e perseguições por causa da fé. E, através da sua Igreja, está presente como força de esperança em cada situação humana de sofrimento e de injustiça. Cristo Ressuscitado dê esperança ao Médio Oriente, para que todas as componentes étnicas, culturais e religiosas daquele Região colaborem para o bem comum e o respeito dos direitos humanos. De forma particular cesse, na Síria, o derramamento de sangue e adopte-se, sem demora, o caminho do respeito, do diálogo e da reconciliação, como é vivo desejo também da comunidade internacional. Os numerosos prófugos, originários de lá e necessitados de assistência humanitária, possam encontrar o acolhimento e a solidariedade que mitiguem as suas penosas tribulações. Que a vitória pascal encoraje o povo iraquiano a não poupar esforços para avançar no caminho da estabilidade e do progresso. Na Terra Santa, israelitas e palestinos retomem, com coragem, o processo de paz. Vitorioso sobre o mal e sobre a morte, o Senhor sustente as comunidades cristãs do Continente Africano, conceda-lhes esperança para enfrentarem as dificuldades e torne-as obreiras de paz e artífices do progresso das sociedades a que pertencem. Jesus Ressuscitado conforte as populações atribuladas do Corno de África e favoreça a sua reconciliação; ajude a Região dos Grandes Lagos, o Sudão e o Sudão do Sul, concedendo aos respectivos habitantes a força do perdão. Ao Mali, que atravessa um delicado momento político, Cristo Glorioso conceda paz e estabilidade. À Nigéria, que, nestes últimos tempos, foi palco de sangrentos ataques terroristas, a alegria pascal infunda as energias necessárias para retomar a construção duma sociedade pacífica e respeitadora da liberdade religiosa de todos os seus cidadãos. Boa Páscoa para todos!
  • 3. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano DOMINGO II PAPA BENTO XVI AUDIÊNCIA GERAL Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006 Tomé Queridos irmãos e irmãs! Prosseguindo os nossos encontros com os doze Apóstolos escolhidos directamente por Jesus, hoje dedicamos a nossa atenção a Tomé. Sempre presente nas quatro listas contempladas pelo Novo Testamento, ele, nos primeiros três Evangelhos, é colocado ao lado de Mateus (cf. Mt 10, 3; Mc3, 18; Lc 6, 15), enquanto nos Actos está próximo de Filipe (cf. Act 1, 13). O seu nome deriva de uma raiz hebraica, ta'am, que significa "junto", "gémeo". De facto, o Evangelho chama-o várias vezes com o sobrenome de "Dídimo" (cf. Jo 11, 16; 20, 24; 21, 2), que em grego significa precisamente "gémeo". Não é claro o porquê deste apelativo. Sobretudo o Quarto Evangelho oferece-nos informações que reproduzem alguns traços significativos da sua personalidade. O primeiro refere-se à exortação, que ele fez aos outros Apóstolos, quando Jesus, num momento crítico da sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim perigosamente de Jerusalém (cf. Mc 10, 32). Naquela ocasião Tomé disse aos seus condiscípulos: "Vamos nós também, para morrermos com Ele" (Jo 11, 16). Esta sua determinação em seguir o Mestre é deveras exemplar e oferece-nos um precioso ensinamento: revela a disponibilidade total a aderir a Jesus, até identificar o próprio destino com o d'Ele e querer partilhar com Ele a prova suprema da morte. De facto, o mais importante é nunca separar-se de Jesus. Por outro lado, quando os Evangelhos usam o verbo "seguir" é para significar que para onde Ele se dirige, para lá deve ir também o seu discípulo. Deste modo, a vida cristã define-se como uma vida com Jesus Cristo, uma vida a ser transcorrida juntamente com Ele. São Paulo escreve algo semelhante, quando tranquiliza os cristãos de Corinto com estas palavras: "estais no nosso coração para a vida e para a morte" (2 Cor 7, 3). O que se verifica entre o Apóstolo e os seus cristãos deve, obviamente, valer antes de tudo para a relação entre os cristãos e o próprio Jesus: morrer juntos, viver juntos, estar no seu coração como Ele está no nosso. Uma segunda intervenção de Tomé está registada na Última Ceia. Naquela ocasião Jesus, predizendo a sua partida iminente, anuncia que vai preparar um lugar para os discípulos para que também eles estejam onde Ele estiver; e esclarece: "E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho"(Jo 14, 4). É então que Tomé intervém e diz: "Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?" (Jo 14, 5). Na realidade, com esta expressão ele coloca-se a um nível de compreensão bastante baixo; mas estas suas palavras fornecem a Jesus a ocasião para pronunciar a célebre definição: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6). Portanto, Tomé é o primeiro a quem é feita esta revelação, mas
  • 4. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano ela é válida também para todos nós e para sempre. Todas as vezes que ouvimos ou lemos estas palavras, podemos colocar-nos com o pensamento ao lado de Tomé e imaginar que o Senhor fala também connosco como falou com ele. Ao mesmo tempo, a sua pergunta confere também a nós o direito, por assim dizer, de pedir explicações a Jesus. Com frequência nós não o compreendemos. Temos a coragem para dizer: não te compreendo, Senhor, ouve-me, ajuda-me a compreender. Desta forma, com esta franqueza que é o verdadeiro modo de rezar, de falar com Jesus, exprimimos a insuficiência da nossa capacidade de compreender, ao mesmo tempo colocamo-nos na atitude confiante de quem espera luz e força de quem é capaz de as doar. Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: "Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28). A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado" (In Iohann. 121, 5). O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão" (cf. Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no presente; "Bem-aventurados os que crêem sem terem visto". Contudo, aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que virão depois de Tomé, portanto para todos nós. É interessante observar como o grande teólogo medieval Tomás de Aquino, compara com esta fórmula de bem- aventurança aquela aparentemente oposta citada por Lucas: "Felizes os olhos que vêem o que estais a ver" (Lc 10, 23). Mas o Aquinate comenta: "Merece muito mais quem crê sem ver do que quem crê porque vê" (In Johann. XX lectio VI 2566). De facto, a Carta aos Hebreus, recordando toda a série dos antigos Patriarcas bíblicos, que acreditaram em Deus sem ver o cumprimento das suas promessas, define a fé como "fundamento das coisas que se esperam e comprovação das que não se vêem" (11, 1). O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós pelo menos por três motivos: primeiro, porque nos conforta nas nossas inseguranças; segundo porque nos demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso além de qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras dirigidas a ele
  • 5. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano por Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele. Uma última anotação sobre Tomé é-nos conservada no Quarto Evangelho, que o apresenta como testemunha do Ressuscitado no momento seguinte à pesca milagrosa no Lago de Tiberíades (cf. Jo21, 2). Naquela ocasião ele é mencionado inclusivamente logo depois de Simão Pedro: sinal evidente da grande importância de que gozava no âmbito das primeiras comunidades cristãs. Com efeito, em seu nome foram escritos depois os Actos e o Evangelho de Tomé, ambos apócrifos mas contudo importantes para o estudo das origens cristãs. Por fim recordamos que segundo uma antiga tradição, Tomé evangelizou primeiro a Síria e a Pérsia (assim refere já Orígenes, citado por Eusébio de Cesareia, Hist. eccl. 3, 1) depois foi até à Índia ocidental (cf. Actos de Tomé 1-2 e 17ss.), de onde enfim alcançou também a Índia meridional. Nesta perspectiva missionária terminamos a nossa reflexão, expressando votos de que o exemplo de Tomé corrobore cada vez mais a nossa fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.
  • 6. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano DOMINGO III PAPA BENTO XVI AUDIÊNCIA GERAL Quarta-feira, 9 de Agosto de 2006 João, o teólogo Queridos irmãos e irmãs! Antes das férias eu tinha começado a fazer pequenos retratos dos doze Apóstolos. Os Apóstolos eram companheiros de vida de Jesus, amigos de Jesus e este caminho deles com Jesus não era só um caminho exterior, da Galileia a Jerusalém, mas um caminho interior no qual aprenderam a fé em Jesus Cristo, não sem dificuldades porque eram homens como nós. Mas precisamente por isto, porque eram companheiros de vida de Jesus, amigos de Jesus que num caminho não fácil aprenderam a fé, são também guias para nós, que nos ajudam a conhecer Jesus Cristo, a amá-lo e a ter fé n'Ele. Eu já tinha falado sobre quatro dos doze Apóstolos: de Simão Pedro, do seu irmão André, de Tiago, o irmão de São João, e do outro Tiago, chamado "o Menor", que escreveu uma Carta que encontramos no Novo Testamento. E eu tinha começado a falar de João, o evangelista, mencionando na última audiência antes das férias os dados essenciais que traçam a fisionomia deste Apóstolo. Agora gostaria de concentrar a atenção sobre o conteúdo do seu ensinamento. Por conseguinte, os escritos dos quais hoje desejamos ocupar-nos são o Evangelho e as Cartas que têm o seu nome. Se existe um assunto característico que mais sobressai nos escritos de João, é o amor. Não foi por acaso que quis iniciar a minha primeira Carta encíclica com as palavras deste Apóstolo: "Deus é amor (Deus caritas est); quem está no amor habita em Deus e Deus habita nele" (1 Jo 4, 16). É muito difícil encontrar textos do género noutras religiões. Portanto, tais expressões põem-nos diante de um dado verdadeiramente peculiar do cristianismo. Certamente João não é o único autor das origens cristãs que fala do amor. Sendo este um elemento essencial do cristianismo, todos os escritores do Novo Testamento falam dele, mesmo se com acentuações diferentes. Se agora nos detemos a reflectir sobre este tema em João, é porque ele nos traçou com insistência e de modo incisivo as suas linhas principais. Portanto, confiemo-nos às suas palavras. Uma coisa é certa: ele não reflecte de modo abstracto, filosófico, ou até teológico, sobre o que é o amor. Não, ele não é um teórico. De facto, o verdadeiro amor, por sua natureza, nunca é meramente especulativo, mas faz referência directa, concreta e verificável a pessoas reais. Pois bem, João, como apóstolo e amigo de Jesus mostra-nos quais são os componentes ou melhor as fases do amor cristão, um movimento caracterizado por três momentos. O primeiro refere-se à própria Fonte do amor, que o Apóstolo coloca em Deus, chegando, como ouvimos, a afirmar que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16). João é o único autor do Novo Testamento que nos dá uma espécie de definição de Deus. Ele diz, por exemplo, que "Deus é Espírito" (Jo 4, 24) ou que "Deus é luz" (1 Jo 1, 5). Aqui proclama com intuição resplandecente que "Deus é amor". Observe-se bem: não é simplesmente afirmado que "Deus ama", nem sequer que "o amor é
  • 7. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano Deus"! Por outras palavras: João não se limita a descrever o agir divino, mas procede até às suas raízes. Além disso, não pretende atribuir uma qualidade a um amor genérico e talvez impessoal; não se eleva do amor a Deus, mas dirige-se directamente a Deus para definir a sua natureza com a dimensão infinita do amor. Com isto João deseja dizer que o constitutivo essencial de Deus é o amor e, portanto, toda a actividade de Deus nasce do amor e está orientada para o amor: tudo o que Deus faz é por amor, mesmo se nem sempre podemos compreender imediatamente que Ele é amor, o verdadeiro amor. Mas, a este ponto é indispensável dar um passo em frente e esclarecer que Deus demonstrou concretamente o seu amor entrando na história humana mediante a pessoa de Jesus Cristo, que encarnou, morreu e ressuscitou por nós. Este é o segundo momento constitutivo do amor de Deus. Ele não se limitou às declarações verbais, mas, podemos dizer, empenhou-se verdadeiramente e "pagou" em primeira pessoa. Como escreve precisamente João, "Tanto amou Deus o mundo (isto é: todos nós) que lhe entregou o seu Filho Unigénito" (Jo 3, 16). Agora, o amor de Deus pelos homens concretiza-se e manifesta-se no amor do próprio Jesus. João escreve ainda: Jesus "que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1). Em virtude deste amor oblativo e total nós somos radicalmente resgatados do pecado, como escreve ainda São João: "Filhinhos meus... se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo" (1 Jo 2, 1-2; cf. 1 Jo 1, 7). Eis até onde chegou o amor de Jesus por nós: até à efusão do próprio sangue para a nossa salvação! O cristão, detendo-se em contemplação diante deste "excesso" de amor, não pode deixar de reflectir sobre qual é a resposta obrigatória. E penso que sempre e de novo cada um de nós deve interrogar-se sobre isto. Esta pergunta introduz-nos no terceiro momento da dinâmica do amor: de destinatários receptivos de um amor que nos precede e nos domina, somos chamados ao compromisso de uma resposta activa, que para ser adequada só pode ser uma resposta de amor. João fala de um "mandamento". De facto, ele refere estas palavras de Jesus: "Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34). Onde está a novidade à qual Jesus se refere? Ela consiste no facto de que não se contenta de repetir o que já era exigido no Antigo Testamento e que lemos nos outros Evangelhos: "Ama o próximo como a ti mesmo" (Lv 19, 18; cf. Mt 22, 37- 39; Mc 12, 29-31; Lc 10, 27). No antigo preceito o critério normativo era presumido a partir do homem ("como a ti mesmo"), enquanto que no preceito mencionado por João, Jesus apresenta como motivo e norma do nosso amor a sua própria pessoa: "Como Eu vos amei". É assim que o amor se torna verdadeiramente cristão, levando em si a novidade do cristianismo: quer no sentido de que ele deve destinar-se a todos sem distinções, quer porque deve sobretudo chegar até às últimas consequências, tendo unicamente como medida chegar ao extremo. Aquelas palavras de Jesus, "como Eu vos amei", convidam-nos e ao mesmo tempo preocupam-nos; são uma meta cristológica que pode parecer inalcançável, mas
  • 8. Juventude Mariana Vicentina do Sobreiro - Sector Mariano são, ao mesmo tempo, um estímulo que não nos permite acomodar-nos no que podemos realizar. Não permite que nos contentemos do que somos, mas estimula-nos a permanecer a caminho rumo a esta meta. Aquele texto áureo de espiritualidade que é o pequeno livro do final da Idade Média intituladoImitação de Cristo escreve a este propósito: "O nobre amor de Jesus estimula-nos a realizar coisas grandes e a desejar coisas sempre mais perfeitas. O amor quer estar no alto e não ser aprisionado por baixeza alguma. O amor quer ser livre e separado de qualquer afecto mundano... de facto, o amor nasceu de Deus, e só pode repousar em Deus acima de todas as coisas criadas. Quem ama voa, corre e rejubila, é livre, e nada o retém. Dá tudo a todos e tem tudo em todas as coisas, porque encontra repouso no Único grande que está acima de todas as coisas, do qual brota e provém qualquer bem" (livro III, cap. 5). Qual melhor comentário do que o "mandamento novo", enunciado por João? Pedimos ao Pai que o possamos viver, mesmo se sempre de modo imperfeito, tão intensamente que contagiemos a todos os que encontrarmos no nosso caminho.