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Sumário
Agradecimentos                                          7   CAPITULO XI
                                                            Para não dizer que não falei dos serial killers   67
Sobre o autor                                           9
                                                            CAPITULO XII
CAPITULO I                                                  Algumas conclusões                                71
Uma breve apresentação                                 13

CAPITULO II
O risco de estabelecer padrões normais de humanidade   17

CAPITULO III
Psicopatas na ficção                                    23

CAPITULO IV
Lógica versus psicologia: o bem e os psicopatas        29

CAPITULO V
O mal e os dementes                                    39

CAPITULO VI
Dementes e psicopatas interagindo                      43

CAPITULO VII
O sapo e o escorpião, versão Discovery Channel         49

CAPITULO VIII
O mal que o bem faz                                    53

CAPITULO IX
Especulações sobre Ayn Rand                            57

CAPITULO X
A teoria dos jogos e o “altruísmo egoísta”             63
“A moralidade é o último refúgio dos imbecis”
        (Olavo de Carvalho - O Imbecil Coletivo)




4                                                   5
Agradecimentos

           Como bom sociopata, realizei tudo sozinho. Logo, não
    tenho a quem agradecer. Se devo esta obra a alguém, é à dra.
    Ana Beatriz Barbosa Silva e seu instigante livro, que de maneira
    alguma se enquadra no conceito de “demente” que tento desen-
    volver aqui; no de “perigoso”, talvez... mas o fato é que me apro-
    priei de seu sucesso para opor a ele minhas tresloucadas ideias:
    é coisa típica de psicopata usar o alheio. Espero que eu consiga
    fazer entender, pelo menos neste caso em específico, que isso não
    é necessariamente uma coisa ruim.

          Também sou grato a todas as pessoas que conheço que
    sempre aceitaram a verdade que lhes é mais conveniente, abrin-
    do mão da reflexão sobre a possibilidade lógica daquilo tudo ser
    um equívoco, ou pelo menos de não ser a única versão dos fatos.
    Sem elas, não haveria inspiração suficiente.




6                                                                        7
Sobre o autor

           Na faculdade de filosofia, tínhamos um passatempo:
    descobrir qual o grave problema que motivou cada um a fazer
    um curso tão marginal. Eu, no alto da minha vaidade juvenil, ar-
    riscava dizer que só podia ser a minha perfeição, a completa falta
    de qualquer revés em meu caráter, que me motivou a procurar
    respostas sobre a própria possibilidade disso. Brincadeiras à
    parte, um bom tempo depois, finalmente entendi a razão: trans-
    torno de personalidade anti-social. Eu sou um psicopata.

           Não acho que seja doença grave (de fato não acho nem
    que isso seja doença...), pelo menos não para mim que não de-
    senvolvi (ainda) o gosto por ceifar vidas. Mas o sintoma mais
    patente do distúrbio, a ausência de sentimentos, sobretudo o
    remorso, ah, isso eu tenho de sobra. Talvez esta característica
    acarrete em todas as demais que configuram o quadro: ateísmo,
    megalomania, manipulação... o que eu sei é que minha condição
    não combina com uma atividade que tento arduamente executar,
    a de compor poemas. O que me leva a uma reflexão estapafúrdia:
    ou eu devo ser um fracasso completo neste intento, ou a poesia
    (da maneira mais superficial e errônea possível de se lembrar o
    famoso poema do Pessoa) é mesmo um fingimento.

           Mas não quero tirar nenhuma conclusão antes que a tira-
    nia do leitor o faça, até porque aqui não tratamos dos meus ver-
    sos. Mas como apresentação do autor de um livro, é importante
    neste momento que se dê o alerta de que não há sentimentos
    aqui, nem de orgulho, nem de rancor, ou mesmo de ódio: são só
    palavras. Vazias como eu.

           Para completar o perfil do (ir)responsável pelo texto, aqui
    fica minha ressalva: caso ainda reste alguma dúvida sobre o que
    eu sou, saiba que além de ter estudado filosofia e escrever po-
    emas, trabalhei com propaganda; outra pessoa na história da hu-
    manidade também reuniu essas três funções: Joseph Goebbels,
    ministro da propaganda de Hitler. E não é demais lembrar que o


8                                                                        9
tal realmente desenvolveu uma carreira brilhante arrebanhando
     milhares de alemães em sua ideologia grotesca... obviamente, an-
     tes de envenenar meia dúzia de filhos, sua esposa e a si mesmo.
     Para os astrólogos de plantão, também é conveniente citar que
     nasci no dia 6 de maio, assim como os serial killers Martha Beck
     e David Joseph Carpenter...

            Se ainda tiver coragem de ler este livro até o fim, é im-
     portante atentar-se ao último capítulo, que contém informações
     complementares de extrema importância para o meu “retrato”,
     que recomendo fortemente.

     Boa leitura!




10                                                                      11
“A normalidade é             CAPITULO I
  tão-somente uma
questão de estatística”   UMA BREVE APRESENTAÇÃO
  (Aldous Huxley)
Após ler o best seller “Mentes Perigosas”, da Dra. Ana         “Como vencer um debate sem precisar ter razão”, em que não
                                                                          havia qualquer relação do título da obra com seu conteúdo, por
     Beatriz Barbosa Silva, tive duas sensações: primeiro, a de que de-
     finitivamente este livro fala sobre mim; depois, a de que a tônica    que eu não posso?)
     dicotômica, maniqueísta, da luta das pessoas de bem contra os
     psicopatas insensíveis merece um adendo.

             Este livro pretende ser este “porém”, e basicamente vai
     discorrer sobre o prejuízo que os indivíduos que sentem demais
     causam à humanidade e a possibilidade de psicopatas viverem
     em harmonia com a sociedade. Como não existe, obviamente, lite-
     ratura sobre este tipo de pessoa que quero traçar aqui, o destrui-
     dor de boa intenção, vamos chamá-lo simplesmente de “de-
     mente”; talvez a nomenclatura não seja assim tão precisa, mas
     eu não poderia perder a piada nem o jogo de palavras... para se
     entender de que forma serão contrapostos dementes e psicopa-
     tas, o livro fará uma incursão por fatos e reflexões sobre em que
     ponto é interessante agir de maneira fria e em quais momentos a
     boa vontade pode ser prejudicial, podendo até matar.

            Não há outro objetivo aqui senão o de oferecer argumen-
     tos para se pensar melhor o comportamento das pessoas e quais
     os riscos de se enquadrar perfis semelhantes em uma patologia.
     Não é nada que Machado de Assis já não tenha feito há anos com
     o seu “Alienista”, ou que Michel Foucault não tenha explorado
     ao longo de seus estudos sobre a loucura, um pouco mais tarde.

            Por fim, é importante que se diga: este livro não é uma
     paródia, nem tem envergadura acadêmica para ser uma crítica
     ao trabalho da Dra. Ana Beatriz. Trata-se de um ensaio comple-
     tamente descomprometido com o rigor científico, absolutamente
     desconexo e superficial (opa, mais uma característica marcante
     do jeito de ser psicopático). Se a capa e o tema fazem alusão a
     algo cômico, é apenas com o objetivo de inserir um pouco de
     humor para tornar mais leve um tema que está sendo tratado
     com toda... melhor, com alguma seriedade. E também para se
     chamar a atenção pela polêmica e vender mais exemplares (se o
     filósofo alemão Arthur Schopenhauer fez o mesmo com sua obra

14                                                                                                                                         15
“Ser ‘normal’ é o ideal             CAPITULO II
       dos que não têm êxito,
   de todos os que se encontram       O RISCO DE ESTABELECER
abaixo do nível geral de adaptação”     PADRÕES NORMAIS
            (Carl Jung)                  DE HUMANIDADE
Toda vez que se fala sobre normalidade, no que tange         humanos (não serem “como nós”), ou doentes. O que pode ser
                                                                        condenável, no meu ponto de vista, é o ato antissocial, aquele que
     aos seres humanos, eu (e uma boa parte da literatura filosófica do
     assunto, acredito) fico com um pé atrás. Insinuar em um manu-       todos estabelecemos como prejudicial à sociedade. E este é feito
     al que pessoas sãs, regulares e comuns devem pensar ou sentir      por pessoas também de todos os tipos, seja por uma fria ambição
     de dada maneira é, no mínimo, problemático. A história não me      ou por uma ação passional. Sendo simplório, até: para seguir os
     deixa mentir: na Idade Média, o livro Malleus Maleficarum (tra-     interesses de uma comunidade, é preferível quem odeia e ajuda
     duzido para o português como Martelo das Bruxas) servia de         àquele que ama e prejudica. E é justamente aí que chegamos ao
     guia para que os inquisidores pudessem reconhecer, através de      objeto do nosso estudo: o demente.
     uma série de características, aqueles que não se enquadram na
     categoria de humano (tidos como bruxos ou feiticeiros), para              Fazer algo em nome do bem e da consciência humana é
     condená-los à execução; o livro Mein Kampf (Minha Luta), de        admirável, mas não em todas as ocasiões; uma estupidez será
     Adolph Hitler, estabelece uma série de características físicas e   uma estupidez sempre, independentemente das motivações de
     mentais daqueles que não podem ser considerados (adivinhem?)       quem a fez. Se você der esmola a um mendigo e ele comprar
     seres humanos perfeitos. Logo também foram criados meios de        cachaça, se embriagar e morrer atropelado, alguém poderá te
     assassiná-los. Estima-se que, juntos, o holocausto e a Santa In-   dizer que a culpa não é sua, pois sua única intenção foi ajudar.
     quisição tiraram a vida de 15 milhões de homens (ou quase-ho-      Não se iluda: a culpa é sua, sim. Sua caridade o matou, indireta-
     mens, segundo as próprias doutrinas...)                            mente. Se ele soubesse gastar seu próprio dinheiro, não seria um
                                                                        mendigo, oras! Sua ajuda foi irracional, e gerou consequências.
            Quando o livro “Mentes Perigosas” alerta para que não se    Quando o código penal distingue os crimes por culpa ou dolo,
     tenha amizade, relacionamento afetivo ou negócios em comum         mesmo que se considere um fator psicológico de intenção, o ato
     com um psicopata, está condenando 280 milhões de pessoas (4%       não deixa de ser crime pela ausência desta; no máximo, há uma
     da população mundial, segundo a própria obra sugere) a uma         redução na pena. O exemplo do mendigo alcoólatra foi caricato e
     situação de isolamento, por não serem pessoas “de bem”, por        não se enquadraria na lei, eu sei, mas vamos nos debruçar mais
     serem todos perigosos e acometidos de uma doença ou deficiên-       um pouco sobre o sentido do que é ato e do que é pensamento,
     cia incurável; afirma, com todas as letras, que os psicopatas não   num exemplo menos raro de se ver:
     possuem a consciência característica da espécie humana. E mais:
     dá dicas aos seus leitores de como identificar essa abominável             Se o namoradinho da sua filha adolescente a mata, qual
     criatura, mesmo alertando aqui e ali que uma classificação segu-    a diferença prática entre o fato de ele ter sido motivado por um
     ra só pode ser feita por um profissional experiente e gabaritado.   amor intenso e não correspondido ou um ímpeto frio de eliminar
     Percebe o risco?                                                   um problema? Sejamos honestos e razoáveis aqui: não estamos
                                                                        falando de intenção desta vez, mas de motivação para uma ação,
             Tenho para mim que, por mais difícil que algumas vezes     que num caso é emotiva e no outro não.
     seja admitir, os seres humanos são exatamente essa sorte de ti-
     pos, feições, pensamentos e atos que nós vemos por aí todos os            É importante também se questionar sobre a contrapartida
     dias. Não é o fato de eles fazerem ou pensarem algo diferente      desta reflexão: se pessoas que nutrem sentimentos pelos outros
     do que a maioria faz (ou algo distinto daquilo que é moralmente    podem fazer o mal, por que aqueles desprovidos de afeto não
     aceito, para não falar apenas em números) que fará deles menos     podem fazer o bem? Precisamos dizer então que é possível que


18                                                                                                                                           19
pessoas que não tenham sentimentos como a maioria das demais
     vivam uma vida absolutamente livre de atos antissociais que le-
     sem a quem quer que seja, tal como é perfeitamente aceitável
     que, por pura ignorância, pessoas motivadas por boas intenções
     cometam delitos. A distinção é necessária para que o leitor não
     pense que há aqui uma ode à psicopatia, mas apenas uma pro-
     posta de reflexão sobre o que realmente é o bem e o mal.

           Podemos começar assistindo um pouco de televisão...




20                                                                     21

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Dementes Perigosos

  • 1.
  • 2. Sumário Agradecimentos 7 CAPITULO XI Para não dizer que não falei dos serial killers 67 Sobre o autor 9 CAPITULO XII CAPITULO I Algumas conclusões 71 Uma breve apresentação 13 CAPITULO II O risco de estabelecer padrões normais de humanidade 17 CAPITULO III Psicopatas na ficção 23 CAPITULO IV Lógica versus psicologia: o bem e os psicopatas 29 CAPITULO V O mal e os dementes 39 CAPITULO VI Dementes e psicopatas interagindo 43 CAPITULO VII O sapo e o escorpião, versão Discovery Channel 49 CAPITULO VIII O mal que o bem faz 53 CAPITULO IX Especulações sobre Ayn Rand 57 CAPITULO X A teoria dos jogos e o “altruísmo egoísta” 63
  • 3. “A moralidade é o último refúgio dos imbecis” (Olavo de Carvalho - O Imbecil Coletivo) 4 5
  • 4. Agradecimentos Como bom sociopata, realizei tudo sozinho. Logo, não tenho a quem agradecer. Se devo esta obra a alguém, é à dra. Ana Beatriz Barbosa Silva e seu instigante livro, que de maneira alguma se enquadra no conceito de “demente” que tento desen- volver aqui; no de “perigoso”, talvez... mas o fato é que me apro- priei de seu sucesso para opor a ele minhas tresloucadas ideias: é coisa típica de psicopata usar o alheio. Espero que eu consiga fazer entender, pelo menos neste caso em específico, que isso não é necessariamente uma coisa ruim. Também sou grato a todas as pessoas que conheço que sempre aceitaram a verdade que lhes é mais conveniente, abrin- do mão da reflexão sobre a possibilidade lógica daquilo tudo ser um equívoco, ou pelo menos de não ser a única versão dos fatos. Sem elas, não haveria inspiração suficiente. 6 7
  • 5. Sobre o autor Na faculdade de filosofia, tínhamos um passatempo: descobrir qual o grave problema que motivou cada um a fazer um curso tão marginal. Eu, no alto da minha vaidade juvenil, ar- riscava dizer que só podia ser a minha perfeição, a completa falta de qualquer revés em meu caráter, que me motivou a procurar respostas sobre a própria possibilidade disso. Brincadeiras à parte, um bom tempo depois, finalmente entendi a razão: trans- torno de personalidade anti-social. Eu sou um psicopata. Não acho que seja doença grave (de fato não acho nem que isso seja doença...), pelo menos não para mim que não de- senvolvi (ainda) o gosto por ceifar vidas. Mas o sintoma mais patente do distúrbio, a ausência de sentimentos, sobretudo o remorso, ah, isso eu tenho de sobra. Talvez esta característica acarrete em todas as demais que configuram o quadro: ateísmo, megalomania, manipulação... o que eu sei é que minha condição não combina com uma atividade que tento arduamente executar, a de compor poemas. O que me leva a uma reflexão estapafúrdia: ou eu devo ser um fracasso completo neste intento, ou a poesia (da maneira mais superficial e errônea possível de se lembrar o famoso poema do Pessoa) é mesmo um fingimento. Mas não quero tirar nenhuma conclusão antes que a tira- nia do leitor o faça, até porque aqui não tratamos dos meus ver- sos. Mas como apresentação do autor de um livro, é importante neste momento que se dê o alerta de que não há sentimentos aqui, nem de orgulho, nem de rancor, ou mesmo de ódio: são só palavras. Vazias como eu. Para completar o perfil do (ir)responsável pelo texto, aqui fica minha ressalva: caso ainda reste alguma dúvida sobre o que eu sou, saiba que além de ter estudado filosofia e escrever po- emas, trabalhei com propaganda; outra pessoa na história da hu- manidade também reuniu essas três funções: Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler. E não é demais lembrar que o 8 9
  • 6. tal realmente desenvolveu uma carreira brilhante arrebanhando milhares de alemães em sua ideologia grotesca... obviamente, an- tes de envenenar meia dúzia de filhos, sua esposa e a si mesmo. Para os astrólogos de plantão, também é conveniente citar que nasci no dia 6 de maio, assim como os serial killers Martha Beck e David Joseph Carpenter... Se ainda tiver coragem de ler este livro até o fim, é im- portante atentar-se ao último capítulo, que contém informações complementares de extrema importância para o meu “retrato”, que recomendo fortemente. Boa leitura! 10 11
  • 7. “A normalidade é CAPITULO I tão-somente uma questão de estatística” UMA BREVE APRESENTAÇÃO (Aldous Huxley)
  • 8. Após ler o best seller “Mentes Perigosas”, da Dra. Ana “Como vencer um debate sem precisar ter razão”, em que não havia qualquer relação do título da obra com seu conteúdo, por Beatriz Barbosa Silva, tive duas sensações: primeiro, a de que de- finitivamente este livro fala sobre mim; depois, a de que a tônica que eu não posso?) dicotômica, maniqueísta, da luta das pessoas de bem contra os psicopatas insensíveis merece um adendo. Este livro pretende ser este “porém”, e basicamente vai discorrer sobre o prejuízo que os indivíduos que sentem demais causam à humanidade e a possibilidade de psicopatas viverem em harmonia com a sociedade. Como não existe, obviamente, lite- ratura sobre este tipo de pessoa que quero traçar aqui, o destrui- dor de boa intenção, vamos chamá-lo simplesmente de “de- mente”; talvez a nomenclatura não seja assim tão precisa, mas eu não poderia perder a piada nem o jogo de palavras... para se entender de que forma serão contrapostos dementes e psicopa- tas, o livro fará uma incursão por fatos e reflexões sobre em que ponto é interessante agir de maneira fria e em quais momentos a boa vontade pode ser prejudicial, podendo até matar. Não há outro objetivo aqui senão o de oferecer argumen- tos para se pensar melhor o comportamento das pessoas e quais os riscos de se enquadrar perfis semelhantes em uma patologia. Não é nada que Machado de Assis já não tenha feito há anos com o seu “Alienista”, ou que Michel Foucault não tenha explorado ao longo de seus estudos sobre a loucura, um pouco mais tarde. Por fim, é importante que se diga: este livro não é uma paródia, nem tem envergadura acadêmica para ser uma crítica ao trabalho da Dra. Ana Beatriz. Trata-se de um ensaio comple- tamente descomprometido com o rigor científico, absolutamente desconexo e superficial (opa, mais uma característica marcante do jeito de ser psicopático). Se a capa e o tema fazem alusão a algo cômico, é apenas com o objetivo de inserir um pouco de humor para tornar mais leve um tema que está sendo tratado com toda... melhor, com alguma seriedade. E também para se chamar a atenção pela polêmica e vender mais exemplares (se o filósofo alemão Arthur Schopenhauer fez o mesmo com sua obra 14 15
  • 9. “Ser ‘normal’ é o ideal CAPITULO II dos que não têm êxito, de todos os que se encontram O RISCO DE ESTABELECER abaixo do nível geral de adaptação” PADRÕES NORMAIS (Carl Jung) DE HUMANIDADE
  • 10. Toda vez que se fala sobre normalidade, no que tange humanos (não serem “como nós”), ou doentes. O que pode ser condenável, no meu ponto de vista, é o ato antissocial, aquele que aos seres humanos, eu (e uma boa parte da literatura filosófica do assunto, acredito) fico com um pé atrás. Insinuar em um manu- todos estabelecemos como prejudicial à sociedade. E este é feito al que pessoas sãs, regulares e comuns devem pensar ou sentir por pessoas também de todos os tipos, seja por uma fria ambição de dada maneira é, no mínimo, problemático. A história não me ou por uma ação passional. Sendo simplório, até: para seguir os deixa mentir: na Idade Média, o livro Malleus Maleficarum (tra- interesses de uma comunidade, é preferível quem odeia e ajuda duzido para o português como Martelo das Bruxas) servia de àquele que ama e prejudica. E é justamente aí que chegamos ao guia para que os inquisidores pudessem reconhecer, através de objeto do nosso estudo: o demente. uma série de características, aqueles que não se enquadram na categoria de humano (tidos como bruxos ou feiticeiros), para Fazer algo em nome do bem e da consciência humana é condená-los à execução; o livro Mein Kampf (Minha Luta), de admirável, mas não em todas as ocasiões; uma estupidez será Adolph Hitler, estabelece uma série de características físicas e uma estupidez sempre, independentemente das motivações de mentais daqueles que não podem ser considerados (adivinhem?) quem a fez. Se você der esmola a um mendigo e ele comprar seres humanos perfeitos. Logo também foram criados meios de cachaça, se embriagar e morrer atropelado, alguém poderá te assassiná-los. Estima-se que, juntos, o holocausto e a Santa In- dizer que a culpa não é sua, pois sua única intenção foi ajudar. quisição tiraram a vida de 15 milhões de homens (ou quase-ho- Não se iluda: a culpa é sua, sim. Sua caridade o matou, indireta- mens, segundo as próprias doutrinas...) mente. Se ele soubesse gastar seu próprio dinheiro, não seria um mendigo, oras! Sua ajuda foi irracional, e gerou consequências. Quando o livro “Mentes Perigosas” alerta para que não se Quando o código penal distingue os crimes por culpa ou dolo, tenha amizade, relacionamento afetivo ou negócios em comum mesmo que se considere um fator psicológico de intenção, o ato com um psicopata, está condenando 280 milhões de pessoas (4% não deixa de ser crime pela ausência desta; no máximo, há uma da população mundial, segundo a própria obra sugere) a uma redução na pena. O exemplo do mendigo alcoólatra foi caricato e situação de isolamento, por não serem pessoas “de bem”, por não se enquadraria na lei, eu sei, mas vamos nos debruçar mais serem todos perigosos e acometidos de uma doença ou deficiên- um pouco sobre o sentido do que é ato e do que é pensamento, cia incurável; afirma, com todas as letras, que os psicopatas não num exemplo menos raro de se ver: possuem a consciência característica da espécie humana. E mais: dá dicas aos seus leitores de como identificar essa abominável Se o namoradinho da sua filha adolescente a mata, qual criatura, mesmo alertando aqui e ali que uma classificação segu- a diferença prática entre o fato de ele ter sido motivado por um ra só pode ser feita por um profissional experiente e gabaritado. amor intenso e não correspondido ou um ímpeto frio de eliminar Percebe o risco? um problema? Sejamos honestos e razoáveis aqui: não estamos falando de intenção desta vez, mas de motivação para uma ação, Tenho para mim que, por mais difícil que algumas vezes que num caso é emotiva e no outro não. seja admitir, os seres humanos são exatamente essa sorte de ti- pos, feições, pensamentos e atos que nós vemos por aí todos os É importante também se questionar sobre a contrapartida dias. Não é o fato de eles fazerem ou pensarem algo diferente desta reflexão: se pessoas que nutrem sentimentos pelos outros do que a maioria faz (ou algo distinto daquilo que é moralmente podem fazer o mal, por que aqueles desprovidos de afeto não aceito, para não falar apenas em números) que fará deles menos podem fazer o bem? Precisamos dizer então que é possível que 18 19
  • 11. pessoas que não tenham sentimentos como a maioria das demais vivam uma vida absolutamente livre de atos antissociais que le- sem a quem quer que seja, tal como é perfeitamente aceitável que, por pura ignorância, pessoas motivadas por boas intenções cometam delitos. A distinção é necessária para que o leitor não pense que há aqui uma ode à psicopatia, mas apenas uma pro- posta de reflexão sobre o que realmente é o bem e o mal. Podemos começar assistindo um pouco de televisão... 20 21
  • 12. “Não sou um psicopata, CAPITULO III sou um sociopata funcional. É diferente” PSICOPATAS NA FICÇÃO (Sherlock Holmes, na série da BBC “Sherlock”)
  • 13. Você já se perguntou porque determinados personagens Why so serious? exercem tamanho fascínio e admiração em seus expectadores, mesmo sendo personalidades antissociais? Para citar algumas Mais um dia na vida do pacato cidadão de séries, “Dexter” conta a história do cidadão homônimo que, ten- Gothan City que, no meio de uma das rotineiras fu- do visto na infância sua mãe ser assassinada, adquiriu certo... gas em virtude da ameaça de algum supermaluco, apetite para matar. Treinado pelo padrasto, ele canalizou esta recebe a famigerada notícia: vontade, cometendo sua carnificina apenas com assassinos que escaparam à condenação. “Dr. House” é um médico especialista – Bem vindos a bordo! Eu sou o Coringa e em diagnósticos que não tem qualquer envolvimento afetivo com coloquei toneladas de explosivos em seu navio e no os pacientes que trata, e nem faz questão, mas é simplesmente o navio ao lado. Eles também escutam essa mensa- melhor no que faz. gem, e cada um de vocês dois possui o detonador do outro barco. A regra é simples: quem explodir Por que torcemos para Dexter cortar em pedaços suas víti- o outro primeiro, vive. Ah, e se ninguém o fizer, eu mas, e por que gostamos tanto do jeito rabugento do House no mando ambos pelos ares. Vocês têm até meia-noite trato social? Por que personagens que não tem a menor conside- para tomarem ou não sua atitude. Boa viagem! ração pelos seres humanos são considerados heróis? Creio que a resposta é calcada justamente no fato de considerarmos as ações Esta é a situação exposta no clímax de um dos deles mais louváveis que suas personalidades. Dr. House salva filmes do Batman, e o herói, vencendo o palhaço e vidas, Dexter impede que vidas sejam tiradas, e isso da maneira tomando-lhe o detonador-mestre, afirma satisfeito, cruel e perversa que é própria de seus modus operandi; não seria após nenhum dos barcos dar cabo um do outro, que exagero dizer que o produto do trabalho deles só é possível por nem todos são egoístas como o ensandecido vilão. meio deste método e desta personalidade peculiar. É exatamente este o detalhe que muda tudo: por considerarmos perversa a A não ser que eu tenha sido contaminado noção maquiaveliana de que o fim justifica os meios, tendemos, pelo gás do riso que o personagem lança mão nas em nossas vidas, a ser auto-indulgentes no que diz respeito à histórias em quadrinhos e meu juízo tenha se altera- moral, mas na ficção somos capazes de reconhecer que a justiça do, receio que, mais uma vez, o Coringa pode rir por pode se dar por diversos caminhos, mesmo os mais tortuosos. último (e melhor), já que, se ele não foi feliz em pro- var que os tripulantes são maníacos assassinos in- Já que estamos no campo da ficção, vamos a um exemplo dividualistas, como sugeriu o Cavaleiro das Trevas, cinematográfico, para compreendermos melhor o conceito: pôde mostrar que eles são ignorantes e covardes. Imagine-se nesta mesma circunstância: se ninguém detonar o vizinho, os dois vão morrer! Você pode até esperar para que o outro o faça, para que você não seja o algoz e possa trocar uma vida de culpa pela morte com consciência limpa, mas... e se o outro lado também não o fizer? O único jeito de 24 25
  • 14. salvar metade das vítimas, ou pelo menos o único É certo que um psicopata explodiria o navio. E, dentro modo de fazê-lo que está em seu poder, é apertando de um campo estritamente lógico (e ético por consequência), ele o botão do detonador. Explodir o barco pode ser, estaria fazendo um bem. Em suma: a moralidade pode se esta- sob um certo ponto de vista, a atitude mais inteli- belecer por fatores racionais, e não apenas por sentimentos. Sou gente, heróica e generosa com as outras pessoas que mais ousado ainda em afirmar que, se nossos atos fossem total- te acompanham na viagem. Santa perspicácia, Bat- mente baseados em sentimentos, os índices de criminalidade man! provavelmente aumentariam... É claro que o Batman poderia (como o fez) Pode ser que os exemplos dados ainda não foram tão con- impedir o Coringa de matar a todos, ou o próprio vincentes, por se tratar de mera ficção (o que seria um fracasso vilão acabar com o seu barco após a detonação do para mim, já que o “bom” psicopata é, acima de tudo, um manipu- outro, mas ainda sim sua postura seria a mais ética lador). É chegado o momento de inserir um pouco de realidade possível diante das alternativas dadas e o seu lugar ao contexto. no céu estaria garantido – mesmo porque o filme mostra que o homem-morcego não é tão onipresen- te quanto seria desejado (afinal, deixou sua amada falecer) e que o Coringa é igualmente um rigoroso cumpridor de sua palavra (já que queimou só sua metade do dinheiro roubado no filme, dando a ou- tra a seus parceiros, por exemplo). Destruir um dos navios poderia objetivar simplesmente causar dano ao menor número de pessoas possível, e não um simples ato de preser- vação de sua própria existência, o que encaixaria o responsável pela explosão no perfil do mais perfeito elemento de uma sociedade que se pauta pelo pa- drão da ética utilitarista. Ao contrário, a não-deto- nação da bomba é o exemplo mais patente de auto- indulgência moral, isto é, para se manter “limpo” no tocante às ações imorais, acaba deixando de realizar um ato tido como imoral, mas como consequência acaba gerando o resultado menos moralmente dese- jável. 26 27
  • 15. “Uma das formas de saúde é a doença. CAPITULO IV Um homem perfeito, se existisse, seria o ser mais anormal que se poderia encontrar” LÓGICA VERSUS PSICOLOGIA: (Fernando Pessoa, “Livro do Desassossego”) O BEM E OS PSICOPATAS
  • 16. Não tenho qualquer gabarito para discutir termos de or- providência necessária para se obter lucro para a companhia e, pasmem, o melhor para a pessoa competente e desempregada dem técnica seja de uma ou de outra ciência evocadas no título deste capítulo. Mas como o psicopata, por definição, não possui que o substituirá, e também o melhor para as dezenas, algumas sentimento de culpa, vou especular aqui inadvertida e inconse- vezes milhares, de famílias que dependem do sucesso daquela quentemente. empresa para obter o seu sustento... A dúvida levantada anteriormente – se não-psicopatas Outra questão: não parece mais sensato acreditar que, se podem ser maus em suas atitudes por que psicopatas não podem 4% da população possui essa característica em algum grau e não ser bons? – deve, agora, resgatar a própria definição de psicopa- está atrás das grades, é porque estes não estão obrigatoriamente tia. O psicopata é, segundo a literatura do tema nos faz entender, praticando o mal? um ser humano insensível, sem consciência. Disso tiramos uma conclusão básica, até tola: ele nunca agirá motivado pela sensibi- Há bem pouco tempo atrás, nos termos da história da lidade, o que irá excluir todos os bons atos regidos pela emoção, humanidade, ser ateu significava ser uma pessoa de má índole, mas também todos os atos condenáveis que são produtos desta. por um simples motivo: quem não crê em Deus, não acredita na E mais: isso pode incluir a realização dos atos condenáveis de- punição divina e, sendo sabido que a justiça terrestre não é lá rivados da falta de emoção, mas pode também suscitar atos lou- aquelas coisas, estes incrédulos só podiam ser maus! Afinal, se váveis que resultam da falta de emoção. Deus é o bem, o mal está na ausência dele. Tirando da discussão a incoerência do Deus infinitamente bom que permite o mal mes- Não poderíamos suspeitar que o fato do psicopata ser in- mo sendo onisciente, onipresente e onipotente (que por si só daria teligente em um nível acima da média e muitas vezes ocupar car- “pano pra manga” para muitos debates), em qualquer comuni- gos de liderança é uma consequência natural de seu jeito de ser, dade intelectual atual se aceita que fé não é sinônimo de bondade, sem envolver necessariamente pequenos delitos para a obtenção pelo exemplo das atrocidades realizadas por inspiração deste deste status? sentimento, e também se vê pessoas absolutamente exemplares em suas condutas e contribuições para a sociedade e que são des- O bom líder – diria Sun Tzu, Nicolau Maquiavel, Balta- providas de crenças religiosas. zar Gracián e alguns outros ilustres – possui como característica marcante uma certa amoralidade. Repare bem no termo: quando O que a teoria de “Mentes Perigosas” parece sugerir é um falamos em amoral, pela própria formação da palavra, estamos outro tipo de correlação – que igualmente não tem ligação lógica nos referindo a ações que descartam algumas regras sociais es- que justifique –, mesmo que nosso mundo exiba uma outra série tabelecidas, mas não as contraria – o que se enquadraria, caso de exemplos que a contrarie (e alguns poucos tentamos expor fosse, na imoralidade. aqui): que consciência é sinônimo de bondade. O psicopata é aquele capaz de demitir aquele funcionário, O sentimentalismo é algo ainda hoje mitificado, e sempre coitadinho, tão necessitado, mas um pouco lerdo para a função. preferido em relação aos atos frios e racionais. Como prometi Aos olhos incautos, uma maldade, talvez movida por interesses alguns exemplos reais, quero dividir duas histórias ocorridas egoístas e sádicos; mas na visão abrangente de um administra- quase paralelamente, cuja interpretação do grande público torna dor (que deve ser fria e racional por natureza), trata-se de uma esta máxima patente: 30 31
  • 17. Em que lado da lei? criticar a apelação e falta de ética de suas rivais, ao fazer do suicídio um show. Ninguém se dispôs a ou- Em maio de 2003, um herói anônimo emer- vir Reinaldo. Talvez por uma vizinha o achar “meio giu de sua vida modesta no bairro de Palestina, na xaropão”, por ele já ter enfrentado alguns tratamen- Bahia, para os noticiários de todo o Brasil: Hamilton tos psicológicos ou simplesmente porque dezenas dos Santos era o tratorista incumbido de derrubar de PMs suicidaram-se naquele mesmo ano (assim casas que estavam em litígio judicial, mas comovido como em todos os outros). O fato é que o soldado pela visão das famílias que ali moravam, em pleno Domingues, doenças à parte, tinha realmente um desespero, negou-se a fazer o serviço, e teve a sorte sério problema: era obcecado pela justiça. No micro- de ter a cena capturada e exibida no Jornal Nacio- cosmo de seu trabalho de policial, defendia as leis nal da Rede Globo e, um pouco mais tarde, exposta de forma tão obstinada que não poupava multas como fundo de uma crônica emocionada de Pedro nem mesmo para amigos próximos, e não se confor- Bial no programa Fantástico. Obviamente, o tratoris- mava com a corrupção que presenciava em sua cor- ta não foi preso como seria a praxe aos que desobe- poração. Bom pai e marido, punia suas filhas pelos decem a uma ordem judicial, a empresa de trator erros forçando-as a se abraçar por horas. No colé- aproveitou a mídia espontânea e se negou a oferecer gio achavam as meninas extremamente educadas: seus tratores para tal serviço e uma completa ode à “não jogavam um papelzinho no chão”, disse uma sensibilidade humana contra as frias garras da lei professora. Quando multou uma senhora influente foi entoada. do município, que rasgou a notificação e jogou-a no chão para receber em seguida outra punição por “Temos uma responsabilidade moral de sujar via pública, recebeu a retaliação: foi mudado desobedecer a leis injustas”, teria dito Martin Lu- para o período noturno, que detestava. Possivel- ther King Jr. em consonância com Santo Agostinho, mente este foi o estopim para a drástica decisão de Thoreau e tantos outros a discorrer sobre aquilo que se matar. hoje se institucionalizou pelo termo “desobediência civil”. Antes de louvar os Robin Hoods da vida real, “Meu marido? Nunca teve nada de louco. Só vamos voltar só um mês na nossa história e obser- muito nervoso”, disse a esposa, que devia conhecê- var outro caso curioso. lo melhor que a vizinha. Nada mais foi dito. Nem no Fantástico, nem no Cidade Alerta. Sem dúvida era Reinaldo Antônio Domingues, policial mili- uma patologia, diria o Dr. Simão Bacamarte, o alienis- tar de Cotia, em São Paulo, resolveu dar cabo de sua ta de Machado, após descobrir que em Itaguaí, local vida em rede nacional em abril de 2003, em frente onde clinicava, faltava a todos certa correção moral. ao palácio do governo, aos gritos e choros, com a Não há glamour em seguir as leis, pois elas foram única reclamação de estar sendo perseguido por ser produzidas para o controle social e por vezes privi- um homem honesto. Da parte da grande imprensa, legia a classe dominante, não é mesmo? Pensemos metade se dedicou à cobertura do fato apenas pelo um pouco mais sobre isso. sensacionalismo que a ocasião oferece, e a outra a 32 33
  • 18. Quem nunca se viu impelido a burlar alguma para a comunidade; roubei de alguém que possui lei? Mesmo que sejam regras simples, como colar dinheiro em excesso e eu mal tenho o que comer... numa prova, estacionar em local proibido ou ultra- claro que tais crimes aproximam-se de nossos des- passar um semáforo fechado no trânsito... fazemos lizes corriqueiros apenas em gênero, mas não em isso a todo o momento, e não acredito ser por má ín- grau: tais atos são absurdamente mais graves, pen- dole, mas porque, em nosso entendimento particu- so; o que tento expor aqui é uma correlação, mesmo lar, aquilo não significa exatamente um mal; temos que em outros termos, no modo com que o delito é até justificativa para cada ação: se eu colar vou fa- concebido pelo próprio agente. vorecer-me sem prejudicar ninguém; vou estacionar aqui por pouco tempo, não vou atrapalhar; é tarde Se tomarmos o caso do tratorista nos isentan- da noite, se eu parar no sinal vermelho posso até ser do de qualquer romantismo, deveríamos pesar tam- assaltado... bém a importância do direito à propriedade, e não somente a injustiça sofrida por aqueles sem-tetos. A verdade é que frequentemente nos vemos Como nos exemplos supracitados de mudança de em situações similares onde o agente é uma outra postura no caso de um fato acontecer conosco ou pessoa e que nos deixam indignados, como aquele com outrem, não creio que muitos aceitariam famí- aluno que nunca compareceu à aula e tirou nota lias desconhecidas invadindo a sua casa de praia ou maior do que a sua por ele ter colado, ou quando um seu quintal, mesmo que não os utilizem com tanta carro bloqueia a entrada de sua garagem, ou ainda frequência. Pela constituição, as famílias de Pales- aquele veículo que passou no cruzamento à noite e tina têm direito à moradia, mas a garantia deve quase te acertou quando o sinal estava aberto para ser dada pelo governo, e não por cidadãos comuns você. Como no clássico exemplo do motociclista: (pelo menos não diretamente: afinal a quem servem detestamos quando motos passam em alta velocida- tantos impostos?). A demolição daquelas casas era a de entre as faixas de uma via, mas se o entregador aplicação de uma lei justa (e duvido que não tenha atrasa a pizza que solicitamos em 10 minutos... sido feita por outro tratorista e outro trator algum tempo depois), cuja conquista se deve a inúmeras O que questiono aqui, mais do que um pos- lutas travadas ao longo da história. sível egoísmo visível em nossos atos sociais, é a ca- pacidade do indivíduo, por si só, avaliar se uma lei Herói ou não, faltou ao Hamilton o essen- é justa ou não. Não acho equivocado afirmar que a cial para se tornar mártir de sua luta: o martírio. Ele grande maioria dos criminosos – incluindo assassi- deveria ter sido condenado pelo seu ato. Talvez se- nos, ladrões, etc. – não consideravam o seu delito, no ria exigir demais do pobre tratorista, mas aceitar a momento em que o praticaram, algo extremamente punição, independente da repercussão do caso, se- condenável dentro de sua visão de justiça, pois se ria louvável, já que estava defendendo aquilo que assim pensassem, provavelmente não fariam. Eles acreditava ser certo e foi notificado das conseqüên- também criam suas próprias desculpas para seus cias (que, aliás, incluía o sofrimento dos próprios fi- atos: tirei a vida de alguém mau, fazendo um bem lhos de Hamilton, levando ao extremo). Ao contrário, 34 35
  • 19. o soldado Domingues morreu pelo que acreditava. provavelmente estou fazendo em todo este livro – mais dúvidas Sem os louros da glória, o policial talvez não tenha do que afirmações, é com um propósito bem definido: temos que suportado ser desprezado por fazer o certo, e se dis- abrir mão das generalizações. Elas são importantes, desde que se pôs a perder a vida por isso. deixem explícitas as suas possíveis exceções. Mesmo que se assu- ma, por exemplo, que a incidência de pedofilia entre os padres é A questão aqui parece não ter uma resposta percentualmente superior à sua ocorrência entre os não-padres, simples, por meio de uma defesa do fiel seguidor da não podemos dizer que todo padre é pedófilo, ou que devemos lei contra o infrator por boa causa. Creio que esses proteger nossas crianças dos padres ou tomar qualquer cuidado casos suscitam uma série de dúvidas que merecem especial do tipo. Analogamente, sou partidário de que a cautela um pouco de atenção: somos capazes de discernir que tomamos com os psicopatas – agora identificáveis graças ao individualmente se uma lei é realmente justa ou meticuloso estudo da dra. Ana Beatriz – deveria ser difundida não? O simples risco de não sermos capazes disso para quaisquer outros padrões de personalidade identificáveis em alguns casos deveria ser imperativo de respeitar que representem, no âmbito do comportamento, risco à nossa in- todas as regras independentemente da nossa razão? tegridade. E por isso insiro na discussão aqueles que, por assim Ou deveríamos ter mecanismos de estabelecimento dizer, “caem do outro lado do cavalo”: os dementes. de leis mais eficientes do que o modelo representa- tivo de hoje, se possível (e viável)? Ou o problema reside no outro fator em questão, e o déficit encon- tra-se no próprio cidadão e na sua pouca instrução em relação às razões pelas quais cada regra existe? Mas o conhecimento disso seguido de uma possível discordância (talvez por não se enquadrar no perfil dos favorecidos por ela) seria o suficiente para que um indivíduo tenha direito a buscar justiça burlan- do a lei? É ousado demais admitir, mas o homem não sabe perfeitamente o que é melhor para ele. Por outro lado, seria um tolo otimismo acreditar que os legisladores possam saber perfeitamente e sempre o que é melhor para todos. E é justamente aí que se encontra o impasse. Creio que as questões que levanto neste pequeno caso só poderi- am ser plenamente entendidas, na sua essência, por um psicopata como eu: a repercussão da grande mídia já responde, em linhas gerais, de que lado a opinião pública está; e se deixei – como 36 37
  • 20. “Idiota é quem faz idiotices” CAPITULO V (Forrest Gump) O MAL E OS DEMENTES
  • 21. Eu não consigo entender como determinados comporta- Como já foi pontuado a pouco, a piedade e a caridade po- dem ter uma contrapartida devastadora no campo profissional, mentos podem ser tolerados, ou amenizados em relação à culpa, pelo fato de terem uma origem passional, emotiva. Há pessoas apesar de ser de difícil percepção. Como foi dado no exemplo que se suicidam por amor; há pessoas que matam e agridem os do Batman, muitas vezes precisamos ser frios para fazer o bem. outros por amor; há pessoas que bebem em demasia e se drogam, Também é ingênuo acreditar que, na sociedade atual, basta cometendo diversos delitos por consequência disso, por amor. E seguir a cartilha do bom samaritano para que as coisas se deem tudo isso pode ter início em comportamentos absolutamente co- sempre da melhor forma possível. Mais do que ingênuo, isso é muns e corriqueiros, seja pela descoberta de um adultério, seja estúpido. por um amor não correspondido, ou por qualquer outra razão similar; bem, talvez “razão” não seja o melhor termo para des- E nem adianta atribuir este nosso “mundo cruel” aos psi- crever este ímpeto... copatas: pela população destes e os inúmeros erros que a imensa maioria de “dementes” pode cometer, seria bastante razoável E sabe o que é mais alarmante? Estima-se, segundo uma atribuir o egoísmo à espécie, e não à classe (como já fez Thomas dedução lógica dos dados expressos no livro que serviu de inspi- Hobbes, Georges Bataille e tantos outros), e não assumir a qui- ração para esta reflexão, que cerca de 96% da população mundial mérica posição de que o homem é naturalmente bom. Invertendo tenha propensão a cometer atos irracionais e prejudiciais a eles as estatísticas apresentadas em “Mentes Perigosas”, é possível mesmos e à sociedade motivados por sua consciência. É o caos! ter um vestígio de que esta teoria pode estar certa: se 20% da população carcerária é psicopata, 80% é formada por não-psico- Se a ideia não foi bem explicitada pelo último exemplo patas; o mesmo se pode dizer dos 25% de psicopatas agressores (do tratorista em oposição ao policial), é importante que se es- de suas esposas, que se complementam com 75% de não-psico- cancare: os homens podem ser, em sua grande maioria, vítimas patas praticantes desta violência doméstica. Perguntaria a minha de seus afetos, ou vilões em nome deles. Como se não bastasse amiga Matemática: com quem devemos tomar mais cuidado? o sofrimento, já bastante difundido como nos mostra o tema de desilusão amorosa que permeia todas as formas de entreteni- mento artístico, fruto do mito do amor romântico, da crença no “felizes para sempre” – objetivo utópico arraigado em nossa cul- tura –, ainda há todos os atos impensados, imprudentes e imbe- cis que algumas pessoas cometem em função disso. E isso por que ainda estamos no âmbito do amor entre homem e mulher... podemos muito bem incluir o assaltante que rouba por amor à sua família necessitada (não há alternativa para sua condição? É provável que sua razão não foi consultada, se é que ele a possui), o adolescente que pela emoção ou para se enquadrar num grupo qualquer que o acolha afetivamente assessora pessoas mal-inten- cionadas em seus crimes... a lista se perderia de vista, caso pre- tendesse ser completa. 40 41
  • 22. “Devemos ser gratos aos idiotas. CAPITULO VI Sem eles, o resto de nós não seria bem sucedido” DEMENTES E PSICOPATAS (Mark Twain) INTERAGINDO
  • 23. Quero agora evocar alguns exemplos citados no livro Resumo: Laura conheceu Ricardo e foram morar juntos, “Mentes Perigosas” para apimentar a discussão e estabelecer um abdicando de sua carreira. Ele tinha acessos de raiva e de outro prisma interpretativo: ciúmes, sumiu com o seu cachorro, e recusou seus apelos para casar e ter filhos. Por fim, trocou-a por uma mulher mais jovem e bonita. Resumo: Andréa se apaixonou por Rafael, que apresentou alguns sinais de intolerância e depois sumiu com seu di- Análise: Inseri as informações em sua ordem cronológica: nheiro. ele a fez abandonar a carreira, era violento, espancou seu animal de estimação e deu um fim desconhecido a ele. O Análise: Se uma pessoa apaixonada saca todas as suas eco- que ela fez após isso? Queria casar e ter filhos! Ou é uma nomias e entrega a algum affair que desaparece em seguida, mulher interesseira ou uma mulher sem personalidade (pois ela está sendo feita de idiota? É claro que não: ela já é uma abandonou suas funções profissionais para ser sustentada idiota feita! Ela não foi vítima do psicopata insensível, mas pelo namorado – não é a toa que queria casar a qualquer sim de sua paixão irracional. Se mesmo em um casamen- custo...); sendo ela uma ou outra coisa, foi sábia a decisão to, que é a formalização máxima de uma relação afetiva, dele de trocar de parceira. o casal estipula em contrato como conduzirão seus bens, porque essa energúmena vai limpar sua conta e entregar a um qualquer que conheceu há poucos meses, e que já havia apresentado indícios de ser um homem violento? A única Resumo: Isabela era modelo e conheceu Miguel em NY. mente perigosa nesta história é a da mulher, que seria bem Achou o rapaz cativante e em pouco tempo o chamou para capaz de vestir um colete de dinamite e explodir um metrô, morar em seu apartamento. Notou que ele era uma pessoa se namorasse um ativista talibã. totalmente egocêntrica, e acumulava prejuízos à garota. A gota d’água foi quando ele não foi buscá-la como prometi- do após uma cirurgia, pois estava assistindo a um DVD. Ela o deixou e ele virou ator pornô. Resumo: Maria foi usada por Carla de todas as formas nos mais de quinze anos de convívio, desde a época em que Análise: Está é uma mistura dos dois primeiros casos: Maria ofereceu seu apartamento como moradia à Carla. porque levar um desconhecido para dentro de casa, e porque só deixá-lo – uma vez que ele era esse chato que Análise: Será que eu entendi bem? Mais de quinze anos!? vivia “na aba” – depois de um descaso absurdo? Bom, pelo Que tipo de ser tolera mais de quinze anos de abuso? Um menos o desfecho nos dá uma dica da razão: para o cara ter masoquista!? E ainda pergunta a autora: “por quanto tem- virado ator pornô, ele não devia ter somente o ego avan- po você aguentaria?” Até a doutora parece considerar um tajado... quem sabe o DVD não era sobre o tema? Pode ter período absurdo! Esse é o típico demente lerdo: se fosse a sido a inspiração para sua carreira. Maria no lugar da Andréa no caso anterior, estaria fazendo depósitos para o ausente Rafael até hoje... 44 45
  • 24. Relevando minhas brincadeiras, note que a condição de possibilidade do mal provocado pelos supostos psicopatas é jus- tamente a presença de um “demente” no auge de uma crise. Para usarmos termos diametralmente opostos, em todos os casos su- pracitados, um egoísta por natureza se beneficia de um altruísta ocasional. Se Andréa, Maria, Laura e Isabela não tivessem sido imprudentes, ingênuas, passionais ou mesmo (por que não?) se elas fossem psicopatas, ninguém teria causado dano a ninguém, pois as relações não se dariam da forma que se deram. Nunca é muito frisar que não pretendo aqui ser o defen- sor dos atos antissociais relatados. Mas não podemos deixar que a vitimização, a síndrome do “coitadinho”, encubra comporta- mentos incautos. Pelo contrário, é justamente por achar que tais condutas antissociais são altamente condenáveis e provavel- mente capazes de se originar tanto em um psicopata como em um “demente” – o Rafael poderia roubar por razões emocionais relacionadas a outra pessoa, o Ricardo poderia estar realmente apaixonado pela outra mulher, etc – é que se deve alertar a todos os perigos de amar demais, para si e para outros. De fato, em matéria de alerta, deveríamos observar me- lhor o comportamento de nossos amigos animais, que mantém seus instintos de sobrevivência ativos em período integral, sem a interferência indesejada dos sentimentos para colocar em risco suas vidas. Vamos refletir um pouco mais sobre o tema inspi- rando-se numa conhecida fábula. 46 47
  • 25. “Receio que os animais considerem CAPITULO VII o homem como um ser da sua espécie, mas que perdeu da maneira O SAPO E O ESCORPIÃO, mais perigosa a sã razão animal; VERSÃO DISCOVERY CHANNEL receio que eles o considerem como o animal absurdo, como o animal que ri e chora, como o animal desastroso” (Friedrich Nietzsche, “A Gaia Ciência”)
  • 26. Sabe o que é mais atraente nas fábulas? A humanização do sapo evitar que isso aconteça, o que significa, no extremo, que ser generoso com quem não se deve (como no caso do mendigo que se faz dos animais, que por vezes nos dá a impressão de que podemos aplicar fatos da vida dos bichos ao nosso próprio alcoólatra que comentamos lá no começo), ou dar a outra face à cotidiano. Mas não se deixe enganar, pois o que ocorre nestas es- bater (no melhor estilo cristão) é “privilégio” de um único ser, do tórias é justamente o contrário: o criador do conto fabuloso está ser que acha que deve ser sempre sublime, que pode se aproxi- aplicando nossos defeitos e frustrações aos moldes dos pobres mar do divino e ultrapassar os limites de sua própria natureza seres. (como diria Erasmo de Roterdan) e ignorar a medida da sua ne- cessidade (como afirmou Demócrito): somente um legítimo “de- No conto referido no título deste capítulo (e usado em mente” teria “consciência” suficiente para deixar um predador “Mentes Perigosas” como analogia ao proceder do psicopata), montar-lhe no lombo! o sapo oferece ajuda ao escorpião para atravessar o rio, sob a alegação de que não seria aferroado, uma vez que isso mataria a ambos. Após o percurso feito, o escorpião ataca o sapinho, di- zendo que está agindo de acordo com sua natureza. É certo que os animais são muito mais precavidos que al- guns seres humanos em dadas situações, e isso sem frequentar escolas ou aprender a falar: eles possuem um instinto de sobre- vivência muito mais apurado e sofisticado que o nosso. Se dei exemplos de casos onde nossos queridos “dementes” foram ilu- didos onde parecia óbvio que o seriam, não é exigindo deles ape- nas racionalidade (o que seria preferível, dado que o ser humano adora ostentar a presunção de possuir algo acima dos demais seres vivos, como “intelecto” ou “consciência”), mas simples- mente algum senso de autopreservação. Como age toda a espécie animal no “mundo real”, mesmo os filhotes, quando se depara com um predador? Ninguém lhes ensina um POP (Procedimento Operacional Padrão), nem for- mula um manual de regras específico por tipo de ameaça, mas eles sabem o que fazer: dão no pé! Correm como nunca correram antes, no melhor estilo “salve-se quem puder”. Sapo que é sapo não carrega escorpião nas costas. A visão de um ferrão no rabo do bicho já é argumento suficiente para que o batráquio saia pulando e coaxando para bem longe. Se é da natureza do escorpião matar o sapo, é igualmente da natureza 50 51
  • 27. “Sempre que um homem faz CAPITULO VIII qualquer coisa completamente idiota, é invariavelmente pelas mais nobres razões” O MAL QUE O BEM FAZ (Oscar Wilde)
  • 28. Em uma passagem de seu livro, a dra. Ana Beatriz conta Eu poderia escrever páginas e páginas de exemplos... bas- ta procurar na Internet, e você verá que não estou mentindo (não uma experiência particular, emocionante, quando testemunhou um homem se jogar instintivamente numa lagoa para salvar um cito as fontes, nomes e locais destas notícias por razões óbvias). menino, o que pode ser atribuído a uma espécie de senso moral Casos como estes só ilustram um ponto que já comentei atrás: se inato ao ser humano. O que pretendo fazer agora, bem rustica- o psicopata consegue altos cargos, com funções importantes e de mente, é levantar alguns fatos similares por meio de manchetes, visibilidade, não é necessariamente porque ele prejudica pessoas numa tentativa desesperada de mostrar que nem toda história de para alcançar estes objetivos; é possível que seja pelo fato dele herói tem um final feliz: não fazer coisas idiotas movido por fortes emoções. Parece ser exatamente o contrário do que sugere o livro que Carroceiro tenta salvar cachorro, recebe descarga elétrica aqui nos opomos: o que eu percebo em todos esses casos é que há e morre. uma espécie de teoria da evolução de Darwin agindo nos meios sociais, fazendo com que determinadas pessoas, mais racionais e Eu só me pergunto: o que esse animal foi fazer perto de um por isso menos afetadas por instintos primitivos quando coloca- fio de alta tensão? Refiro-me ao carroceiro, óbvio. O pior é das em situação de risco, tendem a sobreviver, a se desenvolver ter deixado o bairro todo sem energia. Não se tem notícia e evoluir na comunidade, enquanto outras são levadas ao fra- do estado do cão. casso e à morte, simplesmente em nome do bem. Não seria esse mesmo sentimento que leva soldados a lutar com outros em uma guerra, como bem indica o próprio texto de “Mentes Perigosas”? Menina tenta salvar irmã de afogamento e morre junto. Será mesmo que são alguns poucos psicopatas manipuladores que levam milhares de pessoas, muitas vezes nações inteiras, a Se você não sabe nadar, por favor, pelamordedeus, não se confrontar, ou há um certo ímpeto latente no ser humano a tente salvar ninguém que se afoga. Isso não é um ato de fazer essas imbecilidades diante de fortes emoções que lhes são coragem, é uma imbecilidade sem tamanho e também aqui- “vendidas”? lo que se convencionou chamar “suicídio”. As guerras podem ser, em muitas ocasiões, um exemplo de arbitrariedade moral que se aceita em nome de um suposto Mãe que tentava salvar filhos despenca de barranco e bem coletivo. E contra este tipo de altruísmo que uma filósofa morre. lançou suas ideias, e seria injusto não citá-la, uma vez que seu pensamento permeia grande parte do que está sendo defendido Esta aqui é lapidar: um Fusca estava desgovernado em di- aqui. reção a um barranco, com duas crianças dentro e os pais do lado de fora. O que a mãe, grávida de oito meses, fez? Tentou segurar o carro! Resultado: ela morreu junto com seu bebê. E as crianças? Só tiveram ferimentos leves... 54 55
  • 29. “A menor minoria na Terra é o indivíduo. CAPITULO IX Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias” ESPECULAÇÕES SOBRE AYN RAND (Ayn Rand)
  • 30. De todas as heresias cometidas neste livro, que não são em algumas passagens, à precisão para se definir o que é um psicopata: se é apenas um indivíduo insensível, não podemos poucas, esta com certeza é a maior, mas não posso conduzir este falatório sem ela: é impossível expor meu ponto de vista sem me inserir as demais características que podem ser comumente fruto recordar a todo o momento de Ayn Rand. Talvez os conceitos desta primeira como parte da definição. Isso é perigoso e incon- dela não tenham uma relação rigorosa com o que defendo aqui sistente... (e é onde se encontra meu pecado), mas se já fiz as correlações mais insanas até então, vou me reservar ao direito de inserir mais Mas, voltando à Ayn, ela também discutiu a noção de uma. “bem”, traçando uma distinção que elucida de maneira perfeita a forma como o valor é exposto em “Mentes Perigosas” e a con- Ayn Rand não é psicopata... eu acho; ao menos estatistica- tra-proposta que descrevemos aqui: mente as chances são pequenas, pois apesar de ter vivido grande parte da vida nos Estados Unidos (a “Fantástica Fábrica de Serial “Há, em essência, três escolas de pensamento sobre a na- Killers”, como será exposto), ela nasceu na Rússia; o fato de ser tureza do bem, a saber, as que veem o bem como, respec- mulher também reduz sensivelmente as chances, uma vez que tivamente, intrínseco, subjetivo, e objetivo. A teoria do bem há apenas uma sociopata para cada três homens com o distúrbio. intrínseco mantém que o bem é inerente a certas coisas ou Porém, apesar desta “virtude”, Ayn é uma das mais importantes ações, enquanto tais, irrespectivamente de seu contexto e filósofas do século XX a defender os ditames da razão contra o de suas consequências, independentemente do benefício ou irracionalismo. injúria que possam causar aos atores e sujeitos envolvidos. [...] A teoria do bem subjetivo mantém que o bem não tem Lamentavelmente esquecida por grande parte dos relação com os fatos da realidade, que ele é o produto da acadêmicos brasileiros (talvez do mundo inteiro), sem dúvida consciência do homem, criado por seus sentimentos, dese- apresenta uma sofisticada e controversa posição intelectual, es- jos, ‘intuições’, caprichos [...] A primeira dessas duas teorias pecialmente no campo da Ética, que é digna de nota diante da mantém que o bem reside em alguma forma da realidade, crítica que erijo aqui: sua filosofia é permeada por dois concei- independente da consciência do homem; a segunda, que tos-chave, intrinsecamente ligados, a saber, o racionalismo e o o bem reside na consciência do homem, independente da egoísmo. Juntos, eles dão base ao que a pensadora define como realidade. A teoria do bem objetivo, por sua vez, mantém objetivismo, tendo o primeiro termo primazia sobre o segundo: que o bem não é nem um atributo das ‘coisas em si mesmas’ “a razão na epistemologia leva ao egoísmo na ética”, disse ela em nem dos estados emocionais do homem, mas uma avalia- algum lugar. Ayn defende que o altruísmo é originado do irra- ção dos fatos da realidade segundo um padrão racional de cionalismo, e apenas a supremacia da razão pode combater este valor. A teoria objetiva mantém que o bem é um aspecto mal. da realidade em relação ao homem - e o bem tem que ser descoberto, não inventado, pelo homem”. A filosofia da senhorita Rand é muito rica, extensa e não caberá neste relato propositadamente superficial que lhe ofereço. Mas creio que estes rudimentos vão apontar para onde quero chegar: acredito (e apenas acredito) que o egoísmo dos psicopa- tas é derivado de sua excessiva racionalidade. Por isso apelei, 58 59
  • 31. O bem mantém uma relação com a pessoa na medida em que ela possui direito à sua própria liberdade, à sua felicidade. Como Ayn citou em outro momento, não devemos confun- dir escravidão por boa causa com liberdade. E esta verdadeira liberdade só pode ser obtida no nível individual, não no cole- tivo, e sem se contaminar pelos estados emocionais do homem, mas sim única e exclusivamente por sua razão. É desta premissa que se associam o egoísmo e o racionalismo, na medida que não podemos buscar o bem em verdades imutáveis do universo nem em instintos inatos ao homem. Talvez seja mais fácil agora compreender todos os exem- plos e oposições dados neste livro à luz desta filosofia: o direito do indivíduo é inalienável, e as tentativas de podar estes direi- tos em nome de um bem coletivo, ou benefício de uma minoria qualquer colidem com um direito universal, gerando transtor- nos à sociedade na medida em que apenas se transfere o objeto da injustiça cometida. Assim como o capitalismo é aceito como sistema político mais eficiente diante do fracasso das demais em- preitadas (e é visível que a livre-concorrência o torna “egoísta” por natureza), todas as demais esferas do saber, como a moral, devem seguir este preceito. Assim, não usar a razão para obter resultados em detrimento de regras morais, leis e dogmas reli- giosos injustificados é, dentro da doutrina de Ayn Rand e em parte naquilo que eu mesmo acredito, um atentado à própria na- tureza humana e ao bem-estar de toda a humanidade de forma geral. Se alguma mínima posição neste livro faz o menor sentido para você, leitor, sugiro que busque mais informações sobre esta brilhante personalidade de nossa história, seja em seus romances, filmes, documentários ou textos filosóficos. Estou convicto que, no mínimo, você compartilhará um pouco da admiração que este autor nutre por Ayn. 60 61
  • 32. “As calamidades são de duas espécies: CAPITULO X a desgraça que nos acontece e a sorte que acontece aos outros” A TEORIA DOS JOGOS (Ambrose Bierce) E O “ALTRUÍSMO EGOÍSTA”
  • 33. Preciso dar o braço a torcer: existe um aspecto importante Um dos cernes da teoria dos jogos, portanto, envolve a possibilidade do altruísmo recíproco, da cooperação, como veí- nas relações sociais que até agora tenho ignorado; quando fala- mos na interação de diversos elementos, não podemos esquecer culo para a obtenção do melhor resultado. Uma vez que estamos que nem sempre o poder da realização do melhor resultado está no campo da matemática, é evidente que essas melhores escolhas na mão de apenas um deles, o que significa que temos que con- possuem embasamento racional... isso significa que tudo o que foi siderar o egoísmo ou o altruísmo das outras pessoas que nos cer- discutido aqui acaba de cair por terra, diante de tal oposição? cam para tomar a melhor decisão, o que não raras vezes nos deve levar a agir de forma altruísta. Será que agora, no melhor estilo De maneira alguma! Muito pelo contrário, a teoria dos jo- do filósofo Montagne, já estou me contradizendo antes que al- gos só reafirma aquilo que foi dito: uma pessoa extremamente guém o faça? Devagar, meu caro: não se esqueça que psicopatas racional e egoísta pode agir de forma cooperativa visando o não admitem seus próprios erros, portanto eu não assumiria tal melhor resultado, inclusive (e principalmente) para ele. A ação postura. Temos então que nos debruçar sobre um campo de es- não deixa de ser egoísta por considerar a condição alheia, mas tudos multidisciplinar conhecido como “Teoria dos Jogos”, para sim reforça essa propensão, já que alguém irracional ou altruísta entender um pouco melhor como tudo isso funciona e eu poder por natureza manteria o silêncio (para continuar no exemplo do continuar a destilar meu veneno. dilema do prisioneiro) sem pestanejar, e seria uma presa fácil de seu parceiro, sobretudo se este conhecer sua “beatitude”; o Estima-se que a Teoria dos Jogos começou a estabelecer dilema só existe porque cada um dos elementos supõe uma ação seu lugar nos estudos da matemática aplicada na década de 30, e pensada unilateralmente e de forma egoísta por parte do outro. logo encontrou uma série de aplicações, sobretudo na economia. De modo bem rudimentar, podemos dizer que compete a esta E chegamos novamente a uma versão dos fatos bem aos teoria estudar as melhores escolhas diante de certo custo/benefí- moldes deste elogio ao comportamento de certos psicopatas que cio, em situações onde estes fatores estão subordinados também fizemos aqui: é possível ser racional, egoísta e ainda sim fazer o às escolhas dos demais “jogadores” envolvidos. bem. Na verdade, uma análise criteriosa exibe que a teoria dos jogos mantém como premissa o egoísmo dos “jogadores”, na O exemplo mais comumente usado é – como ficou conhe- procura de um denominador comum para as diversas situações, cido – o dilema do prisioneiro. Em sua forma clássica, dois com- o que mostra grande sabedoria por parte de seus estudiosos em parsas em um crime foram presos e, separada e isoladamente, relação ao comportamento humano. Tanto isso é verdade que os recebem a mesma proposta de acordo: se o prisioneiro manter-se modelos funcionam a contento sobretudo na economia, onde o em silêncio e seu comparsa também, ambos terão pena de 6 me- regime capitalista impera com folga, e se faz palco das maiores ses de reclusão; se um deles entregar seu parceiro e o mesmo se competições em busca de poder. Desnecessário dizer que Ayn calar, ele estará livre e o outro amargará 10 anos de prisão; mas Rand, partidária do egoísmo nas relações sociais, era fervorosa se ambos delatarem um ao outro, serão 5 anos de cadeia para defensora do sistema capitalista e da livre concorrência. cada. A solução ótima, aquela que menos dano causará a dupla de modo geral, é a dos dois negarem o crime. Mas ela esbarra em Bom, se até aqui usei irresponsavelmente conceitos de um problema: e se o outro agir unilateralmente para se beneficiar história, filosofia, economia, matemática e até de biologia para ainda mais? Se entregá-lo, ao menos me isento da pior das situa- defender minha tese, seria equilibrado da minha parte que eu ções, além de correr o risco de me safar... encerrasse este ensaio pretensamente racional com ao menos uma pitadinha de romance... 64 65
  • 34. “Eu amo Martha! CAPITULO XI O que o público sabe sobre amar?” (Raymond Fernandez) PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS SERIAL KILLERS
  • 35. A belíssima declaração de amor que serve de epígrafe (e curiosas): 84% de todos os serial killers que se tem registro desde os anos 80 vêm dos Estados Unidos; trata-se de um país para este capítulo foi respondida de maneira não menos român- tica e apaixonada: “estar no corredor da morte só fortaleceu meus que não representa 5% da população mundial... para ajudar, es- sentimentos por Raymond”... Raymond Fernandez e Martha Beck pecialistas ainda traçaram um perfil comportamental em comum também ficaram conhecidos como “The Lonely Hearts Killers”, na infância destes assassinos que ficou conhecido como tríade por terem se encontrado por meio de um anúncio para “corações Macdonald; não, meu caro, não estamos falando de Big Mac com solitários”, e a história virou até produção cinematográfica. Ao batata frita e Coca média, mas sim de xixi na cama, violência todo foram atribuídos cerca de 20 assassinatos de mulheres ao com animais domésticos e tendências incendiárias; parece que os casal. matadores em série costumam cometer estes três delitos quando criança. Só espero não ser preso pelo que vou dizer aqui, mas A “graça” da história está justamente no encontro: apesar uma vez eu puxei o rabo do meu cachorro, pulava fogueiras de do passado problemático de um e outro, nenhum dos dois havia São João e brincava com fogos de artifício e (droga!) já fiz xixi en- cometido sequer um homicídio até se conhecerem (há algumas quanto dormia. Estou começando a ficar preocupado com minha suspeitas, mas não comprovadas). A cumplicidade, as declara- situação... ções e a fidelidade até que a morte os separe (ambos foram para a cadeira elétrica) deixam evidente que os pombinhos nutriam um Em suma: se o fato de grande parte dos serial killers ter sentimento sublime um pelo outro, e este foi o estopim para suas perfil sociopático nos deve fazer tomar cuidado com psicopatas, atrocidades. O amor é lindo! temos que nos precaver também dos americanos, e das crianças incendiárias que maltratam animais e mijam na cama. Soou ridí- Este é apenas um exemplo das dezenas de casais que se culo para você também? tornaram assassinos em série apenas no intuito de reforçar seu amor pelo cônjuge e satisfazer seus apetites sexuais bizarros. É controverso dizer se eles eram psicopatas ou não, mas que há um sentimento que liga cada um desses homens e mulheres, isto parece claro. Não quero me estender demais sobre este assunto, já que o livro antagônico a este também não se furtou a explorar este viés, mas é importante que se diga mais uma vez: assim como defendo que psicopatas podem agir como bons cidadãos, não- psicopatas podem se comportar exatamente como o elemento com o mais grave índice de psicopatia. Mas não podemos ser ingênuos: é muito provável que a grande maioria dos serial killers sejam psicopatas. Porém a minha amiga Matemática, que vem me divertindo a cada pará- grafo deste relato, me lembra de outras “maiorias” relevantes 68 69
  • 36. “Em um mundo de loucos, CAPITULO XII só os loucos são sãos” (Akira Kurosawa) ALGUMAS CONCLUSÕES
  • 37. É chegado o momento de sintetizar todas as ideias aqui A obra da dra. Ana Beatriz é rica, minuciosa e bastante efi- ciente no tocante à exposição de seu tema. Muitos dados e relatos apresentadas, para eliminar de vez toda e qualquer interpretação errônea. Basicamente, o que este livro tenta mostrar é que: são alarmantes e refletem um problema que deve ser encarado e prevenido, realmente. Minha intenção não foi desqualificar seu • Condeno, primeiro de tudo, a classificação do psicopata estudo nem menosprezá-lo de nenhuma maneira. O que busquei como algo diferente de um ser humano, por todas as razões e foi inserir uma reflexão que pudesse apontar alguns perigos de consequências já expostas; interpretação que identifiquei como possíveis na minha leitura particular do texto. E também inserir o meu próprio entendi- • Procuro delimitar o que é pensamento e sentimento e mento de certas passagens, de forma deturpada, às vezes, mas o que é ação, para deixar claro que os primeiros devem ser to- com vistas a exibir uma noção relativa de quem realmente pode lerados seja de que forma se derem, uma vez que não interfiram prejudicar quem, e em quais ocasiões. Mesmo assumindo a psi- no bem estar social, e que se condene o segundo quando este copatia como doença, o que definitivamente não faço aqui, exis- for criminoso ou ofensivo, independentemente de sua motivação tem outras vertentes de estudiosos que alargam ou diferem suas perversa ou passional; posições daquelas exibidas por “Mentes Perigosas”, o que tam- bém é absolutamente comum no meio acadêmico: podemos citar • Lanço a questão sobre a importância de ser frio e ra- como exemplo a psicóloga Jennifer Skeem, da Universidade da cional em dados momentos (mesmo que em alguns episódios se Califórnia, que acredita na psicoterapia como forma de fazer psi- trate de “mal que vem para o bem”), em oposição aos prejuízos copatas não cometerem delitos e cumprirem regras sociais, coisa de ser emotivo e ingênuo nessas mesmas situações; desacreditada em “Mentes Perigosas”. • Busco expor que, mesmo nos atos condenáveis atribuí- Enfim, se há evidência aqui de que um texto pode ser par- dos aos psicopatas, é como se de um lado houvesse estes causan- cialista mesmo exibindo fatos é a própria descrição de mim mes- do dano aos outros, mas, do lado oposto, “dementes” causando mo que fiz no começo deste livro. Comparei características da dano a eles mesmos (e também a outros, dependendo do caso); minha biografia às de outras pessoas, tidas como frias e cruéis, para sugerir uma possível correlação. O argumento é falho e foi • Por fim, sugiro que o ato beneficente pode ter diversas propositadamente realizado para que se tornasse parte da ideia motivações que não o sentimento e a consciência. Os estudiosos aqui sugerida: Humberto Mariotti, poeta, filósofo e secretário de ética são capazes de enumerar diversas doutrinas comporta- de propaganda de uma entidade acadêmica argentina, também mentais que visam a melhor participação do elemento em socie- compartilha estas características comigo e com Goebbels, e apa- dade em benefício do todo, e que se mostram estritamente ra- rentemente viveu uma vida de caridade e devoção às suas cren- cionais (e as poucas citadas aqui buscam ilustrar isso). Também ças religiosas; e se dois serial killers nasceram no dia 6 de maio, se deve levar em conta que mesmo alguns atos egoístas, ou que dois papas (Marcelo II e Inocêncio X) e até um santo (Irmão Au- visam o lucro direta ou indiretamente (como é o caso do mar- gusto Andrés) também o fizeram... keting social aplicado em algumas empresas) geram resultados benéficos à comunidade sem partir de uma fonte emotiva. A forma mais coerente de resumir o que essa explanação toda propõe é essa: por mais que fenômenos físicos operem so- bre o comportamento do homem, se há um viés intelectual que 72 73
  • 38. pode contê-lo, ou contorná-lo, sem dúvida é cultural. Com ela (a cultura, entendida com seu mais amplo espectro de significação), pessoas sensíveis podem conter ímpetos passionais indesejáveis da mesma forma que psicopatas norteariam sua “ética” mesmo sem qualquer sensibilidade. É preciso, sempre e sempre, buscar entender todos os fenômenos sociais sem endeusá-los ou demon- izá-los, pois assim se corre o sério risco de ignorar as nuances que nos permite apreciar a beleza e os horrores da condição humana em sua plenitude. 74 75