Projetos que serão implantados em múltiplas fases passam sempre por uma discussão importante para definição do escopo de implantação da primeira fase: antecipar, ou não, o investimento em infraestrutura para as fases seguintes?
Critério de decisão para implantação da infraestrutura em projetos implantados em fases
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Tito Livio M. Cardoso
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16-06-2014
CRITÉRIO DE DECISÃO PARA ANTECIPAÇÃO DA INFRAESTRUTURA EM PROJETOS
IMPLANTADOS EM FASES
CONTEXTO Projetos que serão implantados em múltiplas fases passam sempre por uma discussão
importante para definição do escopo de implantação da primeira fase: antecipar, ou
não, o investimento em infraestrutura para as fases seguintes?
Em geral, a opção por antecipar resulta em um investimento total, das duas fases,
menor, por exemplo, implantando logo na 1a fase toda a terraplenagem e civil para
estação de bombas, tratamento de água, drenagem e subestações secundárias,
deixando para a próxima fase apenas os equipamentos e linhas de distribuição. O
mesmo caso ocorre na antecipação da base civil de transportadores, ou construção do
prédio de moagem que vai abrigar os moinhos das 2 fases, por exemplo. Nesta opção a
infra será integrada, ou seja, 100% compartilhada entre as linhas de produção ao final
da 2a fase.
A alternativa de não antecipar nada produz um escopo de infra não-integrada, onde
cada fase de implantação inclui uma infra completa, com tamanho menor que
corresponde apenas à necessidade associada à capacidade produtiva de uma fase. Esta
abordagem, embora não minimize o CapEx em infra das duas fases, deve produzir um
investimento menor para a 1a fase e apresenta maior flexibilidade de layout já que as
estruturas não compartilhadas não precisam ser adjacentes.
t = 0 t = 6 anos
CapEx em infra
= US$ 200 M
CapEx em infra
= US$ 200 M
Fase 1
Cap. Total:
15 MTPA
Fase 2
Cap. Total:
30 MTPA
t = 40 anos
A) Exemplo, sem antecipação da
infraestrutura.
t = 0 t = 6 anos
CapEx em infra
= US$ 240 M
CapEx em infra
= US$ 120 M
Fase 1
Cap. Total:
15 MTPA
Fase 2
Cap. Total:
30 MTPA
t = 40 anos
B) Exemplo, COM antecipação para
infra integrada.
A decisão sobre a opção a adotar é determinante para o projeto de engenharia e
diferentes gestores se posicionam de forma controversa sobre o assunto. Em trabalhos
recentes, um gestor se manifestou de forma assertiva sobre a opção de infra integrada:
“Se é sabido que terá expansão, é absurdo fazer um projeto ‘engessado’, que faz a
empresa gastar mais se quiser expandir”. Já outro gestor obteve uma redução
importante no investimento eliminando toda a antecipação de infra para a fase 2 e
argumenta que esta decisão maximiza o retorno do projeto. Qual é a decisão certa?
Resposta: Depende...
Depende de:
Investimento adicional na 1ª fase para antecipação da infra
“Ganho”, ou seja a redução do investimento total (das duas fases) ao antecipar
a infra
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Quando (daqui a quanto tempo) ocorrerá a construção da próxima fase
Para um mesmo projeto, a opção integrada pode agregar ou desagregar valor
dependendo do intervalo de tempo entre a implantação de cada fase. Isto porque a
antecipação de escopo imobiliza capital. Caso não ocorra antecipação, a empresa
sempre pode realizar outro investimento com a verba disponível. Este investimento
alternativo pode rentabilizar mais do que a economia ("ganho") obtida com a
antecipação, se for dado tempo suficiente.
A seguir vamos deduzir uma regra geral que suporta a decisão entre antecipar, ou não,
o investimento em uma infra integrada para projetos implantados em duas fases.
Vamos admitir nesta dedução que o OpEx total será aproximadamente o mesmo, com
ou sem infra integrada. Esta premissa é verdadeira em muitos casos e permite a
obtenção de um critério que seja, ao mesmo tempo, simples e útil para a tomada de
decisão.
OPÇÃO SEM
INTEGRAÇÃO:
INFRAS
IDÊNTICAS E
INDIVIDUAIS
PARA CADA FASE
O investimento total sem integração, ITSI, é o dobro do investimento para implantar a
infra individual de cada fase, ITSI = 2 x ISI. Ou seja, investimos ISI no ano zero (hoje) e
outra vez ISI no ano N. Se a 2ª fase será implantada no ano N, o Valor Presente deste
investimento será:
1
1
(1 )
SI N
VPI ISI
i
Onde i é a taxa anual de juros que desconta o capital investido no ano N.
OPÇÃO
INTEGRADA:
ANTECIPAÇÃO
DA INFRA
COMUM NA 1ª
FASE
O investimento total com integração, ITCI, apresenta o ganho com relação à opção não
integrada:
ITCI = (1-) ITSI = 2 (1-) ISI
Na prática fica entre 10% a 40% do investimento total em infraestrutura. Os
investimentos na infra na fase 1 e na fase 2 não serão mais idênticos. O investimento
com integração, ICI, na fase 1 é maior. Seja (entre 0,5 e 1,0) a proporção de quanto do
investimento total em infra com integração, ITCI, é desembolsado na 1ª fase, ou seja,
quanto é “antecipado” do CapEx na infra comum às duas fases. O que fica para a fase 2
é o investimento residual (1-) do total com integração:
ICI (t=0) = . ITCI = 2 (1-) ISI Investimento em infra integrada na fase 1
ICI (t=N) = (1-) ITCI = 2 (1-) (1-) ISI Investimento em infra integrada na fase 2
O Valor Presente deste investimento, VPICI, será:
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ISI
i
VPI
i
ICI
ICIVPI
NCI
N
Nt
tCI
1
)1(
)1(2
1
)(
)0(
CRITÉRIO DE
DECISÃO
SOBRE
ANTECIPAÇÃO
DA INFRA
Sempre que o valor presente da opção integrada for maior que o valor presente da opção
sem antecipação, antecipar a infra destrói valor do projeto (reduz VPL e TIR).
valoragreganãoAntecipar
1
)1(
)1(2
1
1
1
NN
CISI
ii
VPIVPI
CONCLUSÕES A conclusão de que a decisão independe do tamanho do investimento ou da capacidade da
planta resulta da observação de que o ISI é comum a ambos os lados da inequação, sendo
eliminado. Portanto, o critério é geral e igualmente aplicável a projetos bilionários ou a
pequenos projetos.
Restaram no critério apenas as três variáveis que governam a decisão: a antecipação de capital
na opção integrada (), o ganho no CapEx total em infra na opção integrada () e o intervalo
de tempo entre a implantação das fases (N).
EXEMPLO DE
APLICAÇÃO
Suponha um projeto para implantação de uma planta em 2 fases de mesma capacidade. O
CapEx do projeto é US$ 800 MM, sendo US$ 160 MM relativo à infraestrutura compartilhada que
será implantada na 1ª fase, ficando apenas US$ 80 MM para implantação na 2ª fase. A opção
sem antecipação resultaria na implantação de infraestrutura independente a um custo estimado
de US$ 130 M em cada fase. Então, a opção de antecipação da infraestrutura apresenta uma
economia de US$ 20 MM no CapEx total. A opção sem antecipação, reduz US$ 30 M no CapEx
da 1ª fase mas aumenta em US$ 50 M o CapEx da fase 2.
Aplicando o critério apresentado para = 0,077 e = 0,667, calculados pelos valores
informados, e adotando um custo de oportunidade i=10% a.a., encontramos que, neste caso, N
= 4 anos é o intervalo entre a implantação das fases que iguala os valores presentes das duas
opções, veja na tabela seguinte. Conclusão para este caso:
Se N < 4 anos, a opção por antecipar a infra comum a ambas as fases é a que reduz o
VPI, portanto, maximiza o VPL e TIR.
Se N > 4 anos, o melhor é deixar para expandir a infra na época da implantação da fase
2, porque a rentabilidade do capital não imobilizado na antecipação da infra supera a
economia que seria obtida com a antecipação da infra.
É importante observar que o tempo até quando a melhor decisão é pela antecipação de
escopo da próxima fase é muito sensível à relação entre o volume de capital antecipado e a
economia que será obtida com a mesma.