Este documento apresenta uma análise da distribuição espacial do voto nas eleições legislativas portuguesas de 2015, comparando os resultados por distrito com vários indicadores socioeconómicos. Analisa a evolução do comportamento eleitoral desde 1975 e compara os resultados dos principais partidos com fatores como nível de escolaridade, setores económicos, taxa de desemprego e poder de compra em cada região. Conclui que vários fatores além da economia influenciam o voto regional.
Sílvia Cristina comprova que postagem foi inverídica
Comportamento eleitoral e o voto através de indicadores regionais nas eleições de outubro de 2015
1. 1
05/03/2016
Comportamento eleitoral e o voto
através de indicadores regionais
nas eleições de outubro de 2015
Uma análise geográfica do voto
Manuel Rodrigues
2. 2
Apresentação
Passados quatro meses completa-se este trabalho exploratório com base estatísticas
cujo objetivo foi, numa situação política e eleitoral excecional, avaliar o comportamen-
to eleitoral e o eventual condicionamento do sentido do voto nos vários distritos e
regiões de Portugal continental relativamente a determinados indicadores socioeco-
nómicos.
O trabalho não pretendeu ser de opinião, nem de comentário, nem de explicações
mais ou menos especulativas, foi efetuado apenas com dados estatísticos de várias
entidades que se relacionaram com o intenção dum confronto com o comentário da
realidade política e partidária mais ou menos especulativa para avaliar porque o eleito-
rado nas várias regiões, face a condicionantes governativas, vota mais num partido do
que noutro.
O trabalho não foi conclusivo, nem o pretendia ser, mas ajudou a perceber que o sen-
so comum por vezes não faz interpretações corretas dos factos políticos nem das
intenções do eleitorado. Quando por vezes de diz que a população de determinada
região que, por se mais desenvolvida ou por qualquer outra, vota num partido em
lugar de outro, por uma ou outra razão, estamos a cair em vícios de raciocínio político
que muitos comentadores da política, por fação, cometem.
Feito num tempo relativamente curto, e sem uma revisão pormenorizada, terá com
certeza algumas falhas que se pretenderão corrigir posteriormente com ajuda de
sugestões de que quem tiver a gentileza de o ler até ao fim, já que se dirige especial-
mente a especialistas da área.
Oportunamente será preparada uma versão menos técnica, com uma redação menos
especializada de modo a despertar interesse a um maior conjunto de pessoas even-
tualmente interessadas por questões relacionadas com o comportamento eleitoral e
intencionalidade do voto na política nacional e fora do comentário político, e de opi-
nião que todos fazemos nos blogs e redes sociais.
Para finalizar, e se a alguma conclusão se pode chegar, é que há fatores vários que,
não apenas a economia, as finanças, o emprego ou o desemprego, terão influência no
comportamento eleitoral das populações em cada região. Em resumo: há outra vida
para além da dívida, do défice, da economia e da sociologia que condiciona a mudança
nas intenções do voto.
3. 3
ÍNDICE
1. Introdução 5
2. Variações no comportamento eleitoral na distribuição espacial do voto
2.1. Breve contexto histórico
6
2.2. Caraterização administrativa e estatística do território e análise eleitoral 6
2.3. A distribuição espacial do voto 2011-2015 9
3. Contextualização do comportamento eleitoral e do voto nos partidos 12
4. Análise comparativa do voto nos partidos nas eleições legislativas em 2015 13
4.1. Alguns conceitos de base 13
4.2. Os partidos através do voto distrital 14
4.2.1. O voto distrital do PS e do PSD.CDS-PP 15
4.2.2. Voto distrital do PS e do PCP-PEV 17
4.2.3. Voto distrital PCP-PEV e do PSD.CDS-PP 18
4.2.4. Voto distrital do PCP-PEV e do BE 22
4.3. Os distritos através das votações partidárias 26
5. Análise do voto e alguns indicadores socioeconómicos 29
5.1. O voto e o setor terciário 29
5.2. O voto e o setor secundário 34
5.3. O voto e o setor primário 37
6. O voto e os níveis de escolaridade 40
a) O voto no PSD.CDS-PP e o nível de escolaridade 41
b) O voto no PAN e o nível de escolaridade 42
c) O voto no BE e o nível de escolaridade 44
d) O voto no PS e o nível de escolaridade 45
7. O voto e alguns indicadores sociais e económicos 46
7.1. Introdução 46
7.2. O PIB e o voto regional nos partidos 47
7.3. O voto e a taxa de pensões da Caixa Geral de Aposentações 49
7.4. O voto e a percentagem de pensionistas da Segurança Social na
população total
52
7.5. O voto e as Pensões da Segurança Social e Caixa Geral de
Aposentações no total da população em percentagem
56
a) O voto na coligação PSD.CDS-PP e a taxa de pensionistas 56
b) O voto na coligação PS e a taxa de pensionistas 56
c) O voto na coligação PCP-PEV e a e a taxa de pensionistas 57
7.6. O voto e o índice de dependência de idosos 58
7.7. O voto e o índice sintético de desenvolvimento regional (ISDR) 61
a) O voto e a competitividade 62
b) O voto e o índice de coesão 64
c) O voto PS e o índice de qualidade ambiental 65
8. O voto a taxa de desemprego e o índice de poder de compra 67
a) O voto e a taxa de desemprego 67
b) O voto e os beneficiários de subsídio de desemprego 69
c) O voto e índice de poder de compra 72
9. Notas conclusivas 74
9.1 Síntese contextual 74
4. 4
9.2 Relação interpartidária do voto nos distritos 75
9.3 Sobre os indicadores e o comportamento eleitoral 77
9.4. Síntese final 79
ANEXO 80
5. 5
1. Introdução
O estudo dos fenómenos eleitorais tem sido efetuado nos últimos anos por empresas
especializadas em marketing que apenas se dedicam em saber e divulgar como é que a
distribuição de votos é vista apenas em relação à sua distribuição espacial.
As abordagens sociogeográficas e a sua relação com o voto salvo algumas, poucas,
exceções que se dedicaram apenas ao comportamento eleitoral histórico.
A situação política e os momentos eleitorais que o país viveu desde 2005 até às
eleições de 2015 explicam por si mesmos que fosse dedicado algum tempo a um
estudo com uma abordagem diferente das habituais que têm sido feitos ao nível da
distribuição espacial do voto.
Pretendeu-se avaliar em que medida indicadores e índices económicos e sociais terão
tido influência no comportamento eleitoral. Não se pretendeu tirar quaisquer ilações
favoráveis ou desfavoráveis a qualquer partido dos que foram estudados.
A informação estatística utilizada não foi trabalhada para se obterem resultados
subjetivos. Os números não enganam são aquilo que mostram já que não foram
utilizados quaisquer artifícios que possibilitassem leituras que pudessem dar vantagens
fosse a que partido for.
Os dados que se utilizaram são de fontes que consideradas fidedignas, como sejam o
INE - Instituto Nacional de Estatística, Pordata (Fundação Francisco Manuel dos
Santos), MAI - Ministério de Administração Interna, SGMAI - Secretaria-Geral do
Ministério da Administração Interna e CNE - Comissão Nacional de Eleições.
O reduzido espaço de tempo em que foi efetuado este estudo, acrescido da
precaridade de meios disponíveis, elaborado apenas pelo autor, e a quase total
ausência no nosso país de estudos semelhantes recentes limitou logo de início uma
maior ambição.
A linha condutora que presidiu é de natureza geográfica mas, como é característica da
própria geografia moderna, frequentemente penetramos noutros domínios afins e, por
vezes, pouco convencionais.
Este estudo exploratório escrito numa linguagem sem preocupações de estilo literário,
mas com o rigor possível, para além das limitações já referidas, foi acrescido de outras
como a inexistência de dados e indicadores com desagregação ao nível do mesmo
espaço geográfico que serve aos dados eleitorais.
Ao contrário do que se pretendia não foi possível, por razões técnicas e de rigor
científico, traduzir o estudo numa linguagem mais acessível a um público mais vasto e
a todos os interessados que não tivesse formação neste domínio. Assim, tentou-se o
mais possível utilizar uma linguagem acessível e próxima das pessoas que não sendo
especializadas tivessem interesse em conhecer o estudo para tal, introduziu-se ao
longo do texto, informação que ajudasse a perceber alguns conceitos utilizados.
Apesar de tudo muita informação ficou por ser trabalhada para não complexificar e
tornar demasiado extenso o estudo.
6. 6
2. Variações no comportamento eleitoral na distribuição espacial do voto
2.1. Breve contexto histórico
A análise da distribuição espacial do voto faz parte dos estudos em geografia eleitoral
enquadrados no comportamento do eleitorado tarefa a que se procedeu para o
período compreendido entre 1991 e 2015, realizaram-se no nosso país sete eleições
legislativas, que se podem definir como eleições de primeira ordem. Neste tipo de
eleições, à semelhança do que acontece com as eleições presidenciais, o objetivo é
definir o controlo do poder executivo nacional. Dos resultados finais destes escrutínios
é possível extrair uma síntese:
O panorama político nacional tem sido dominado geograficamente por dois
partidos, PS e PSD, e, em 2015, pela coligação PàF formada pelos partidos PSD
e CDS-PP. O PSD e O PS venceram as eleições de forma alternada, e, como tal, é
este o principal padrão eleitoral. A disputa entre o PS e o PSD, e em 2015 a
coligação PSD.CDS-PP é a principal dimensão da competição visto que aqueles
dois partidos têm liderado todos os governos desde a democratização.
Quatro partidos (cinco a partir de 1999) têm dominado a escolha política em
Portugal desde 1975, sendo os únicos que continuamente viera a alcançar
representação parlamentar. Configura-se então à direita, o Partido do Centro
Democrático Social-Partido Popular (CDS-PP); no centro-direita, o Partido
Social-Democrata (PSD); no centro-esquerda, o Partido Socialista (PS); à
esquerda, o Partido Comunista Português (PCP) e desde 1999 o Bloco de
Esquerda (BE). Claro que estas classificações não são estáticas porque, de
acordo com as evoluções políticas do eleitorado os partidos vão-se ajustando.
A distribuição espacial do voto confirmou até 2015 existência dum
bipartidarismo em Portugal, com os dois principais partidos a obterem
sistematicamente a maioria dos votos. Curiosamente a soma da percentagem
de votos destes dois partidos tem decrescido ao longo do tempo.
Com base nos dados da Comissão Nacional de Eleições (CNE), cartografaram-se os
resultados eleitorais dos escrutínios que relativos ao conjunto dos distritos de Portugal
Continental. Com base nos partidos vencedores em cada um dos distritos foram
construídos os diversos mapas de distribuição do voto apresentados na figura 2.
1975
1979
(AD -
PSD+CDS)
1983 1987 1991 1995
7. 7
1999 2002 2005 2009 2011
Legenda
2015
(PSD.CDS-PP)
PPD/PSD-PP
AD
PS
ADU, CDU,
PCP-PEV
Figura 2 - Evolução e retração dos partidos mais votados ao nível distrital nas eleições legislativas
2.2. Caraterização administrativa e estatística do território e análise eleitoral
A análise do comportamento eleitoral tem duas vertentes, e, consequentemente, deve
ser visto a partir de dois pontos distintos de observação que se complementam. O
primeiro ponto de vista relaciona-se com a distribuição do voto no espaço geográfico
e, o segundo, com fatores de natureza socioeconómica que pode ter, ou não, nas
várias regiões, uma ligação com o voto nos partidos.
A abordagem foi efetuada referindo-se apenas a Portugal Continental e trabalhada a
duas dimensões regionais. Uma ao nível de distritos e concelho reportada à
distribuição espacial dos votos nos partidos; outra onde se faz uma análise quantitativa
das votações ao nível das regiões NUTS III.
8. 8
Fonte: INE
NUT é o acrónimo de “Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos”,
é uma nomenclatura para fins estatísticos cuja última versão entrou em vigor em 2015
e é uma nova divisão regional em Portugal. As NUTS III em relação à versão anterior
(NUTS 2002) houve alterações significativas no que se refere ao número e composição
municipal as quais passaram de 30 para 25 unidades territoriais, agora designadas de
«unidades administrativas (figura 3). A opção por esta unidade territorial deve-se ao
facto das fontes estatísticas e os indicadores socioeconómicos mais recentes que se
utilizaram não se encontrarem desagregadas por distrito e concelho contrariamente o
que acontece com os resultados eleitorais.
Na geografia eleitoral a análise dos mecanismos geoespaciais não se limitam à
expressão espacial da ocorrência de factos de natureza socioeconómica mas também
dos de natureza puramente espacial e de relação de posição. Encontram-se neste
domínio os fenómenos de difusão espacial que têm dois aspetos marcantes: um é a
irradiação dum fenómeno a partir de um foco difusor; outro é o de contágio a partir do
qual um fenómeno se alastra em mancha de modo semelhante ao dum processo de
difusão como a gripe ou dum qualquer processo de inovação tecnológica, por
exemplo. Do mesmo modo pode surgir um recuo no processo de difusão, verificando-
Figura 3 - Regiões de Portugal Continental ao nível NUTS III
9. 9
se então o inverso, isto é, o recuo da mancha não no sentido da difusão mas da
regressão do fenómeno.
Em termos puramente teóricos isto significa que, se considerássemos durante quatro
décadas a existência dos mesmos partidos e que havia eleições de quatro em quatro
anos, poderíamos, através da representação espacial dos votos nos partidos, verificar
os avanços e recuos ao longo dos anos, assim como a sua evolução em termos de
difusão ou retração espacial do votos nesses partidos que seria mais visível numa
representação ao nível de concelho e de freguesia dando uma visão mais detalhada da
evolução/retração.
Desde as eleições de 1995 que o PS foi ocupando o espaço do eleitorado do PPD/PSD
com algumas perdas e ganhos nos seus distritos tradicionais de voto, com exceção do
ano de 2011, recuperando em 2015 alguns dos que tinha perdido em 2011.
Se compararmos o ato eleitoral de 4 de outubro de 2015 com os sete atos anteriores
verifica-se que teve uma adesão de baixa grandeza, apenas 5.380.451 eleitores o que
corresponde a 56,9% dos inscritos que foram 9.439.701 (quadro 1 e figura 4).
Quadro 1 - Percentagem de votantes entre 1991 e 2015
Fonte: CNE
Figura 4 - Evolução da % de votantes
2.3. A distribuição espacial do voto 2011-2015
A força política mais votada nas eleições de 4 de Outubro de 2015 foi a coligação de
direita PàF-Portugal à Frente constituída pelo PSD e pelo CDS-PP que obteve no
continente 36,8% dos votos. O PS obteve 32,4%, o BE 10,2% e a CDU PCP-PEV 8,3%. Os
restantes partidos juntamente com os votos brancos e nulos atingem 12.3%. O Partido
Pessoas, Animais e Natureza, PAN, obteve representação parlamentar, recolhendo
1,4% dos votos.
A taxa de participação mais elevada no Continente foi na freguesia de S. Saturnino no
concelho de Fronteira, distrito de Portalegre, onde votaram 80,33% dos 239 inscritos.
Pelo contrário, na freguesia de Soajo, concelho de Arcos de Valdevez, distrito de Viana
50,0
55,0
60,0
65,0
70,0
75,0
1987 1991 1995 1999 2002 2005 2009 2011 2015
%deVotantes
Anos
Evoluçãoda % de votantesentre 1987 e 2015
Ano 1987 1991 1995 1999 2002 2005 2009 2011 2015
% Votantes 71,57 67,78 66,30 61,09 61,48 64,26 60,65 58,03 56,90
10. 10
do Castelo foi onde se registou a maior taxa de abstenção, pois apenas 22,42% dos
1436 inscritos nesta freguesia foram votar.
Uma análise por freguesia mostra que a coligação PàF nas eleições de 2011 foi
maioritária nas 3092 freguesias, o PS o mais votado em 926 freguesias, o PCP-PEV em
44 freguesias, o Juntos pelo Povo (JPP) em duas e o CDS-PP.PPM em uma.
A cartografia representada nas figuras 4 e 5 mostram a retração que se verificou entre
2011 e 2015 do partido que obteve maior percentagem de votos nos concelhos do país
nas duas últimas eleições mostrando a rosa o PS e a laranja a coligação PàF,
PPD/PSD.CDS-PP.
Quando comparado com a situação observada nas eleições de Junho de 2011, vemos
que o mapa continua predominantemente "laranja", mas está agora mais "rosa". O
PSD, que em 2011 havia sido o partido mais votado em 246 dos 308 concelhos do país,
conseguiu agora, apesar da coligação PàF, constituída por dois partidos, a vitória em
179 concelhos (incluindo resultados do PSD-Madeira). O PS que em 2011 tinha obtido
maioria em 51 concelhos, ganhou agora em 124.
A coligação PCP-PEV que em 2011 tinha obtido maioria em 10 concelhos obteve
apenas a maioria em 4 concelhos em 2015.
A difusão dos votos do PS e a retração da coligação PàF pode ser vista na cartografia
representada nas figuras 5 e 6 onde se encontram representados os resultados obtidos
por estes partidos nas eleições de 2011 e de 2015. As figuras 7 a 11 mostram em tom
mais escuro os concelhos onde cada força política mais votada obteve resultados
acima da média nacional, e vice-versa.
Figura 5 - Votação nos concelhos dos
principais partidos em 2011
Fonte: MAI e Marktest
Figura 6 - Votação nos concelhos dos prin-
cipais partidos em 2015
Fonte: MAI e Marktest
11. 11
A análise destes mapas permite concluir que as regiões do Norte se mantêm fiéis aos
partidos da coligação PàF enquanto nas do Sul o PS e a CDU têm mais peso. A votação
no BE e no PAN distribui-se sobretudo pelos concelhos do Litoral e grandes cidades e
Áreas Metropolitanas, como se pode confirmar pelos mapas que se seguem.
Figura 7 - Concelhos com votações no
PPD/PSD.CDS-PP acima da média nacio-
nal em 2015
Fonte: MAI e Marktest
Figura 8 - Concelhos com votações no
PS acima da média nacional em 2015
Fonte: MAI e Marktest
Figura 10 - Distribuição dos concelhos
com valor médio dos votos do
PCP-PEV em 2015
Fonte: MAI e Marktest
12. 12
Os dados dos votos por freguesia permitem-nos uma análise de algumas curiosidades
destas eleições.
O BE obteve o seu melhor resultado na freguesia de Enxames (concelho de
Fundão), com 21,54% dos 260 votantes da freguesia.
A coligação PàF obteve a melhor votação na associação de freguesias de
Codessoso, Curros e Fiães do Tâmega (concelho de Boticas distrito de Viana do
Castelo), com 86,9% dos 221 votantes.
O PCP-PEV registou um máximo de 64.5% dos 279 votantes na freguesia de
Alcórrego e Maranhão (concelho de Avis, distrito de Portalegre)
O PS obteve melhor votação na freguesia de Negrões (concelho de Montalegre,
distrito de Vila Real), com 65.1% dos 109 votos contabilizados
3. Contextualização do comportamento eleitoral e do voto nos partidos
As eleições de 2015 tiveram lugar num contexto político nacional que se suponha ser
desfavorável aos partidos da coligação no governo saído das eleições de 2011.
Passados quatro anos e meio de austeridade, e apesar descontentamento que gerou
nas populações, as eleições de 2015 deram uma maioria relativa de votos à coligação
PSD.CDS-PP mas sem conseguir o número de deputados suficientes para um apoio
maioritário ao Governo indigitado.
Nas eleições de 2009 o Partido Socialista perdeu a maioria absoluta que tinha obtido
em 2005 ficando minoritário num parlamento em que o PSD, o CDS-PP, o PCP-PEV e o
BE tinham uma maioria de deputados o que não tinha acontecido nos dois anteriores
atos eleitorais. A austeridade e os PEC's (Planos de Estabilidade e Crescimento) tinham
causado um descontentamento geral na população que, juntamente com toda a
instabilidade política provocada pela dificuldade de financiamento do Estado nos
mercados, teve como consequência a ajuda externa pelas instâncias internacionais,
Figura 11 - Distribuição dos concelhos
com valor médio dos votos do PAN em
2015
Fonte: MAI e Marktest
Figura 9 - Distribuição dos concelhos
com valor médio dos votos do BE em
2015
Fonte: MAI e Marktest
13. 13
Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Esta
situação teve como consequência a queda do Governo minoritário do PS que não
durou uma legislatura completa tendo sido derrubado com os votos conjuntos do PSD,
CDS-PP, PCP, PEV e BE dando lugar à antecipação das eleições em 2011 que deram
uma maioria absoluta ao PSD e ao CDS-PP que formaram uma coligação de Governo.
Uma verificação por concelhos da distribuição eleitoral do voto em 2015 mostra que o
Partido Socialista apresenta-se com a votação predominantemente a sul embora tenha
recuperado em alguns concelhos a norte e no interior a norte do vale do rio Tejo com
menor predominância no litoral norte.
Quer o Partido Socialista, quer a PàF, obtiveram votos espacialmente distribuídos por
todo o país, contudo, evidenciam-se por concelho algumas assimetrias em ambos os
partidos.
O eleitorado do PS ao longo dos anos foi sempres mais reduzido no norte, no distrito
de Leiria e em alguns concelhos do Alentejo, excetuando nas eleições legislativas de
2005 onde obteve a maioria em todos os distritos menos o de Leiria.
4. Análise comparativa do voto nos partidos nas eleições legislativas em 2015
Optou-se selecionar para esta análise apenas os partidos que elegeram deputados
para a Assembleia da República através das suas votações por distrito. O apuramento
das votações dos partidos efetua-se por freguesia, concelho e distrito enquanto os
dados socioeconómicos desagregados disponibilizados encontram-se ao nível de
regiões NUTS. Assim, para que fosse possível estabelecer correlações com algumas
variáveis socioeconómicas, efetuaram-se os cálculos para apuramento dos votos de
cada região NUT a partir dos dados das votações por distrito e ou concelho incluídos
em cada uma daquelas regiões (c. f. figura 1).
4.1. Alguns conceitos de base
Ainda antes de se avançar com o desenvolvimento deste ponto é essencial o
esclarecimento de alguns conceitos utilizados ao longo desta análise baseada em
correlações entre o voto nos partidos e indicadores e índices socioeconómicos para
que seja possível a sua compreensão.
O coeficiente de correlação é uma medida estatística que se calcula por comparação
entre diversas observações de duas variáveis, x e y, por exemplo. A medida da variação
conjunta das variáveis ou covariação observada num diagrama de dispersão é a
correlação entre essas duas variáveis.
Um diagrama de dispersão representa graficamente a posição relativa dos pontos que
são conjugados pela relação entre essas duas variáveis. Essa medida expressa
numericamente por meio dos coeficientes de correlação que representam o grau de
associação entre duas variáveis. As medidas genéricas de correlação, frequentemente
designadas por R, variam entre -1 e +1. No que respeita ao sinal + significa que as
variáveis têm um comportamento no mesmo sentido, isto é, que nos distritos ou
regiões em que um partido observa valores altos também o outro terá valores
elevados. Um sinal - significará, ao contrário, que, quando o primeiro tem valores altos
14. 14
o segundo terá valores baixos e vice-versa para cada um dos casos. Assim, no caso
concreto em estudo compararam-se os valores das votações em cada um dos partidos
nos vários distritos e regiões de nível NUT III.
A análise de regressão é uma técnica estatística que tem como objetivo investigar o
comportamento entre as variáveis. Considerando que exista um relacionamento
funcional entre os valores Y e X, responsável pelo aspeto dum diagrama de dispersão,
tem como função explicar parcela significativa da variação de Y com X. Contudo, uma
parcela da variação permanece inexplicada e deve ser atribuída ao acaso. Colocando
em outros termos: admite-se a existência de uma função que explica, em termos
médios, a variação de uma das variáveis com a variação da outra. Frequentemente, os
pontos observados no diagrama apresentarão uma variação em torno da reta da
função de regressão devido à existência de uma variação aleatória adicional
denominada de variação residual.
A equação de regressão fornece o valor médio de uma das variáveis em função da
outra. Obviamente, caso seja conhecida a forma (equação) do modelo de regressão, a
análise será facilitada. O problema, então, ficará restringido à apreciação dos
parâmetros do modelo de regressão. Esse caso ocorrerá se existirem razões teóricas
que permitam saber previamente que modelo rege a associação entre as variáveis.
Geralmente, a forma da linha de regressão fica aparente na própria análise do
diagrama de dispersão.
Em síntese: Uma regressão simples é uma extensão do conceito correlação/covariância
e tenta explicar uma variável chamada variável dependente, usando a outra variável,
chamada variável independente. Mantendo a tradição estatística, seja Y a variável
dependente e X a variável independente. Se as duas variáveis forem representadas
uma em relação a outra num gráfico de dispersão, com Y no eixo vertical e X no eixo
horizontal, a regressão tenta ajustar uma linha reta através dos pontos. Quando a reta
é ajustada, dois parâmetros emergem - um é o ponto em que a linha corta o eixo Y,
chamado de interceção da regressão, e o outro é a inclinação da linha de regressão.
Um valor de R ao quadrado muito próximo de 1 indica uma forte relação entre as duas
variáveis, podendo a relação ser positiva ou negativa. Uma outra medida numa
regressão é o erro padrão, que mede a dispersão em volta de cada um dos dois
parâmetros estimados - a interceção e a inclinação.
Quanto maior for o valor de R, em módulo, maior será o grau de associação linear
entre as variáveis. O coeficiente de correlação não é uma medida resistente, isto é,
pode ser influenciado pela existência nos dados de alguns valores “estranhos”, ou seja,
valores muito maiores ou menores que os restantes, pelo que deve ser interpretado
com o devido cuidado. A representação prévia dos dados num diagrama de dispersão,
antes de proceder ao cálculo do coeficiente de correlação, permite detetar a existência
de daqueles valores estranhos.
4.2. Os partidos através do voto distrital
Analisemos agora os cinco partidos que concorreram a todos os distritos e tiveram
assento na Assembleia da República aplicando a técnica num espaço de dezoito
dimensões em que onde se localizaram os partidos e que não pode ser representado
15. 15
graficamente. Estas dezoito dimensões correspondem aos dezoito distritos
localizando-se cada partido pela percentagem obtida em cada um deles através dos
coeficientes de correlação.
O facto de só se analisarem quatro partidos alguns partidos e todos terem concorrido
a todos os círculos eleitorais facilitou a sua localização nas dezoito dimensões
tornando possível estabelecer uma matriz de correlação entre eles e que se encontra
representada no quadro 2.
Como se verifica os partidos que mais se assemelham na distribuição espacial do seu
voto pelo coeficiente de correlação são o BE-Bloco de Esquerda e o PAN-Partido dos
Animais e Natureza (R =+0,87). O mais antagónicos são a coligação PáF constituída pela
coligação PSD-Partido Social-Democrata e o CDS-PP-Centro Democrático Social-Partido
Popular e o PCP-PEV-Partido Comunista Português e o PEV-Partido Ecológico os Verdes
(R = -0,91) partidos que passarão doravante a ser designados pelas suas siglas.
O PS encontra-se numa posição antagónica com o PSD.CDS-PP e uma aproximação ao
PCP-PEV não revelando qualquer ligação com o BE no que se refere aos votos distritais.
Vejamos, através de diagramas de dispersão o significado de alguns destes coeficientes
de correlação.
4.2.1. O voto distrital do PS e do PSD.CDS-PP
A tendência geral do comportamento dos dois partidos ao longo dos dezoito distritos
mostra um antagonismo que corresponde à posição real do eleitorado (figura 12). A
nível distrital evidenciam-se tendências muito distintas. Este contrate é evidenciado
pela correlação negativa relativamente significativa, R=-0,67, que mostra diminuição
de votos no PS quando aumenta a votação no PSD-CDS.PP.
Comparando agora os grupos de distritos G1 e G2 que correspondem a distritos do
norte e do sul e alguns do centro e é clara a maior implantação eleitoral do PS no
grupo G2 que corresponde aos distritos mais a sul e interior centro e de Lisboa que fica
aproximadamente dentro das médias dos dois partidos. O grupo G1 é o de maior
representação do PSD.CDS-PP como votações muito acima da média dos 38,5% e
revela o contraste norte-sul.
Nos distritos do sul, centro e grandes centros urbanos (Lisboa e Porto), grupo G2, a
correlação não sendo muito forte é contudo negativa, R= -0,40, baixando os votos da
coligação quando aumenta os do PS (figura 13a). Numa análise mais fina do grupo G2,
distritos de Portalegre, Évora, Setúbal e Beja a situação é totalmente diferente,
BE PAN PCP-PEV PSD.CDS-PP
BE
PAN 0,87
PCP-PEV 0,30 0,22
PSD.CDS-PP -0,54 -0,40 -0,91
PS 0,03 -0,13 0,51 -0,67
Quadro 2 - Matriz de correlação das votações distritais dos
cinco partidos com assento na Assembleia da República
16. 16
quando aumenta o PS a coligação PSD.CDS-PP também cresce com uma correlação
relativamente forte e de sentido positivo, o que poderá significar um grau de disputa
entre estas duas forças políticas por parte do eleitorado adverso ao voto no PCP-PEV e
BE (figura 13).
Um grupo intermédio que corresponde a alguns distritos onde se verifica uma
aproximação entre os dois partidos que obtiveram votações médias nestes distritos
entre os 34,63% e os 35,65%.
Figura 12 - Votos distritais do PSD.CDS-PP e do PS
Aveiro
Beja
Braga
Bragança
C. Branco
Coimbra
Évora
Faro
Leiria
Lisboa
Portalegre
Porto
Setúbal
V. Castelo
Vila Real
Viseu
y = -0,2704x + 43,833
R² = 0,4548
r = - 0,67
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 55,00
PSD.CDS-PP %
PS %
G 1
G 2
Linha média votos PS
Beja Évora
Portalegre
Setúbal
y= 0,8067x + 18,858
R² = 0,5666
R=0,75
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
15,00 20,00 25,00 30,00
PS%
PPD/PSD.CDS-PP %
Figura 13 - Correlação entre os votos distritais do
PSD.CDS-PP e do PS nos distritos referenciados (G2) da
figura 12
17. 17
Figura 13a - Correlação entre os votos distritais do PSD.CDS-PP e do PS
nos distritos referenciados (G2) da figura 12
4.2.2. Voto distrital do PS e do PCP-PEV
Apesar da correlação positiva de valor intermédio de R=+0,51, e da tendência para o
voto acompanhar estes dois partidos ao nível distrital há contudo disparidades
observando-se três grupos distintos (figura 14).
Uma correlação mais restrita entre os partidos nos distritos do norte do grupo G3 os
dois partidos veem as suas votações evoluir em sentidos opostos, verificando-se um
coeficiente de correlação medianamente significativo mas de sentido negativo,
(R=-0,59), especialmente nos distritos de Viana do Castelo, Braga e Viseu com uma
evolução mais lenta da tendência decrescente do PCP-PEV (figura 15).
Quanto ao grupo G1 as votações progridem no mesmo sentido, subindo um quando
sobe o outro como mostra o diagrama de dispersão da figura 16, mas a distância entre
as votações dos dois partidos são evidentes. Os distritos de Évora e de Beja
encontram-se muito próximo da linha nas votações de ambos os partidos mas o
Porto
Coimbra
Santarém
Castelo Branco
Lisboa
Faro
Portalegre
Évora
Setúbal
Beja
y = -0,1869x + 41,52
R² = 0,1569
R= - 0,40
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00
PS%
PSD.CDS-CDS %
Aveiro
Beja
Bragança
Castelo Branco
Coimbra
Évora
Faro
Guarda
Leiria
Lisboa
Portalegre
Porto
Santarém
Setúbal
V. Castelo e Braga
V. Real
Viseu
y = 0,3149x + 30,633
R² = 0,2561
R=0,51
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
PCP-PEV %
PS% Votos distritais do PS e do PCP-PEV
G1
G2
G3
Figura 14 - Votos distritais do PS e do PCP-PEV
18. 18
afastamento do PS é nítido em relação ao PCP-PEV. Destaca-se os distritos de Setúbal e
de Beja onde as votações entre os dois partidos estão significativamente afastados.
4.2.3. Voto distrital PCP-PEV e do PSD.CDS-PP
A oposição geográfica do voto nestes dois partidos é evidente (figura 17) e a
intensidade é antagónica variando de área para área. A evolução do voto de um e de
outro partido faz-se sempre em sentidos opostos. O coeficiente de correlação do voto
nestes dois partidos é muito forte e de sentido negativo R= -0,91 nos 18 distritos
(quadro 2). Tendo em conta a distância entre a reta de regressão e os pontos
correspondentes aos distritos não se verifica uma manifesta dispersão.
No diagrama de dispersão evidenciam-se três grupos de distritos determinados por
mudanças de intensidade no sentido dos votos. No grupo G1 a descida de um partido
quando o outro sobe é mais intensa que no grupo G2 e neste ainda mais do que no
grupo G3.
Viseu
V. Real
Bragança
Braga
Guarda
V. Castelo
Porto
y= -0,2993x + 13,521
R² = 0,3479
R = - 0,59
27,50
30,00
32,50
35,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00
PCP-PEV %
PS %
Évora
Setúbal
Beja
y = 0,4872x + 25,686
R² = 0,7151
R=0,85
30,00
32,50
35,00
37,50
40,00
15,00 17,50 20,00 22,50 25,00 27,50
PCP-PEV %
PS%
Figura 15 - Correlação entre os votos distritais do PS e do
PCP-PEV nos distritos referenciados (G3) da figura 14
Figura 16 - Correlação entre os votos distritais do PCP-PEV e
do PS nos distritos referenciados (G1) na figura 14
19. 19
Figura 17 - Votos distritais do PCP-PEV e do PSD.CDS-PP
Quer dizer que nos distritos com maior implantação do PCP-PEV o voto na coligação é
nitidamente fraco. Por outro lado, nos distritos de maior implantação da coligação é
menos relevante o voto PCP-PEV relativamente ao outro partido.
Para além dos distritos do grupo os distritos do grupo G2, Faro, Portalegre, Coimbra e
Castelo Branco, mostram votos no PSD.CDS-PP superiores às que seria de esperar. Nos
distritos do grupo G3, tradicionalmente mais conservadores e cujo voto é
tendencialmente dirigido para os partidos de direita, os votos no PCP têm sido muito
baixos em todos os momentos eleitorais para a Assembleia da República.
A figura 18 mostra, com mais pormenor os distritos do grupo G1, Beja, Évora e Setúbal,
um coeficiente de correlação entre o voto na coligação PSD.CDS-PP e do PCP-PEV uma
tendência relativamente forte mas negativa, R= -0,63, com um fator explicado por 39%
do modelo. Quando aumenta o voto na coligação baixa ligeiramente o do PCP-PEV.
Embora o primeiro tenha obtido votações superiores às que seria de esperar, visto
serem distritos onde o voto é tradicional e significativamente à esquerda (quadro 3).
Apenas 4,85 pontos percentuais separaram a coligação PSD-CDS-PP do PCP-PEV
chegando nos distritos de Évora e Setúbal a ser inferior aos votos dos partidos da
direita coligada, conseguindo o PS obter neste distritos o maior número de votações, o
Figura 18 - Correlação entre os votos distritais do PCP-PEV e
do PSD.CDS-PP nos distritos referenciados (G1) da figura 17
Évora
Setúbal
Beja
y = -0,9892x + 43,879
R² = 0,3927
R= - 0,63
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
19,00 20,00 21,00 22,00 23,00 24,00 25,00
PCP-PEV %
PSD.CDS-PP
20. 20
que se vem verificando desde 1995 até hoje estes distritos eram de votação
dominante no PCP-PEV.
Quadro 3 - Votações em três distritos do sul e respetivas diferenças
4.2.4. Voto distrital do PCP-PEV e do BE
O diagrama de dispersão da figura 19 mostra que nos distritos do norte as votações
nestes partidos não se aproximaram e que o BE superou o PCP-PEV mesmo nos
distritos onde tradicionalmente os votos nos partidos de direita são elevados como
Bragança, Vila Real e Viseu.
Figura 19 – Correlação entre os votos distritais do PCP-PEV e do BE
Na correlação, apesar de fraca (R= +0,30), entre os votos destes partidos são evidentes
dois grandes grupos de distritos: o grupo G1 com distritos do norte do país onde a
votação no BE superou em todos o PCP-PEV; o grupo G2 que reúne os distritos de Beja,
Évora e Setúbal que se afastam da reta de tendência foram os únicos onde o voto no
PCP-PEV superou, largamente, o voto no BE. A sul, o distrito de Faro, é outro caso que
sai fora da tendência onde o voto no BE superou consideravelmente o do PCP-PEV
Face a eleições anteriores, a progressão significativa do voto BE nas eleições
legislativas de 2015 merece uma análise mais detalhada, sobretudo se comparado com
o obtido pelo PCP-PEV.
Nos resultados globais das eleições de 2011 a nível nacional as votações do PCP-PEV
situavam-se nos 7,94% e as do BE nos 5,19% tendo havido em relação a 2009 perdas
expressivas ao nível distrito em ambos os partidos. Comparando os votos dos dois
partidos entre 2011 e 2015 (quadro 4 e figuras 20 e 21) verifica-se que houve ganhos
Aveiro
Beja
Braga
Bragança
C.Branco
Coimbra
Évora
Faro
Guarda
Leiria Lisboa
Portalegre
Porto
Setúbal
V. Castelo
V. Real
Viseu
y = 0,1065x + 8,3251
R² = 0,0916
R= 0,30
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
0,00 2,50 5,00 7,50 10,00 12,50 15,00 17,50 20,00 22,50 25,00 27,50
BE %
PCP-PEV %
G1
G2
Média votos BE 9,27%
Média votos PCP-PEV
Distritos
% de votos
PCP-PEV
% de votos
PSD. CDS-PP
Diferença de votos
PCP-PEV e PSD.CDS-PP
% de votos
PS
Évora 21,94 23,96 -2,02 37,47
Setúbal 18,8 22,59 -3,79 34,31
Beja 24,96 20,11 4,85 37,29
21. 21
substanciais por parte do BE e perdas para o PCP-PEV em alguns distritos, mesmo nos
distritos que tradicionalmente votam neste partido: Beja, Évora, Portalegre e Setúbal.
Distritos
Eleições 2009 Eleições 2011 Eleições 2015 Diferenças
2011-2009
Diferenças
2015-2011
BE PCP-PEV BE PCP-PEV BE PCP-PEV BE PCP-PEV BE PCP-PEV
Território Nacional
1
9,85 7,88 5,19 7,94 10,22 8,27 -4,66 -0,06 5,03 0,33
Aveiro 9,01 3,83 5,03 4,09 9,60 4,36 -3,98 -0,26 4,57 0,27
Beja 10,06 28,92 5,19 25,39 8,20 24,96 -4,87 3,53 3,01 -0,43
Braga 7,82 4,63 4,22 4,89 8,80 5,19 -3,6 -0,26 4,58 0,3
Bragança 6,2 2,41 2,30 2,59 5,54 3,07 -3,9 -0,18 3,24 0,48
Castelo Branco 9,08 5,05 4,19 4,89 10,03 6,03 -4,89 0,16 5,84 1,14
Coimbra 10,77 5,76 5,75 6,22 9,89 7,03 -5,02 -0,46 4,14 0,81
Évora 11,12 22,32 4,91 22,06 8,64 21,94 -6,21 0,26 3,73 -0,12
Faro 15,38 7,75 8,16 8,57 14,13 8,68 -7,22 -0,82 5,97 0,11
Guarda 7,55 3,28 3,34 3,48 7,42 3,95 -4,21 -0,2 4,08 0,47
Leiria 9,5 5,11 5,37 4,97 9,66 5,11 -4,13 0,14 4,29 0,14
Lisboa 10,81 9,93 5,72 9,55 10,89 9,84 -5,09 0,38 5,17 0,29
Portalegre 10,75 12,87 4,45 12,81 9,20 12,18 -6,3 0,06 4,75 -0,63
Porto 9,21 5,7 5,13 6,23 11,14 6,83 -4,08 -0,53 6,01 0,6
Santarém 11,91 9,26 5,79 9,02 10,76 9,64 -6,12 0,24 4,97 0,62
Setúbal 14,02 20,07 7,03 19,65 13,05 18,80 -6,99 0,42 6,02 -0,85
Viana do Castelo 8,55 4,19 4,39 4,93 7,96 5,23 -4,16 -0,74 3,57 0,3
Vila Real 5,5 2,86 2,34 3,06 5,18 2,95 -3,16 -0,2 2,84 -0,11
Viseu 6,49 2,86 2,85 2,87 6,72 3,50 -3,64 -0,01 3,87 0,63
Quadro 4 – Votos em % por distrito no BE e no PCP-PEV nas eleições de 2009, 2011 e 2015
Fonte dos resultados eleitorais: CNE - Comissão Nacional de Eleições
Comparando os resultados das votações do BE em 2011 e 2015 (figura 20) observamos
que em todos os distritos verificou-se um aumento significativo das votações neste
partido destacando-se Faro e Setúbal com resultados substancialmente mais elevados.
Apesar da fraca implantação deste partido nas regiões eleitoralmente favoráveis aos
partidos de direita o BE obteve percentagens de voto significativas. A percentagem
média de 4,79% em 2011 passou em 2015 para 9,27%, tendo quase duplicado.
1
Inclui Regiões Autónomas da Madeira e Açores
22. 22
Figura 20 – Votos no BE em 2011 e em 2015
Quanto às votações PCP-PEV também se verificaram em 2015 ligeiros aumentos na
maior parte dos distritos sendo de notar que em Beja, Setúbal e Portalegre se
verificaram ligeiras descidas no voto nesta coligação de esquerda.
Figura 21 – Votos no PCP-PEV em 2011 e em 2015
Figura 22 – Votos no BE e no PCP-PEV em 2011
0
2
4
6
8
10
12
14
16
%
V
o
t
o
s
BE 2011
BE 2015
0
5
10
15
20
25
30
%
V
o
t
o
s
PCP-PEV 2011
PCP-PEV 2015
0
5
10
15
20
25
30
Votaçõesno BE e no PCP-PEV em 2011
BE
PCP-PEV
23. 23
Evidenciam-se nos restantes distritos ligeiros aumentos, mesmo naqueles onde o PCP-
PEV habitualmente tem uma fraca representatividade, nomeadamente nos distritos de
Viseu, Viana do Castelo, Guarda, Bragança, Braga e Aveiro (figuras 21, 22 e 23). A
percentagem média dos votos obtidos neste partido manteve-se aproximadamente
estável, situando-se em 2011 nos 8,63%, passando para 8,85% em 2015.
Figura 23 – Votos no BE e no PCP-PEV em 2015
Como já se referiu o BE obteve melhores resultados de sempre em todos os distritos
enquanto o PCP-PEV apresentou os resultados mais fracos.
A comparação dos votos no PS nas eleições de 2011 e nas de 2015 representadas na
figura 24 revela um aumento significativo na maioria dos distritos em 2015
ultrapassando a faixa da média dos 32,42%, excetuando os distritos de Leiria e Braga,
com maior incidência nos distritos de Beja, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Guarda e
Portalegre. É de salientar a baixa percentual de 1,98% que se verificou somente em
Braga.
Figura 24 – Votos no PS em 2011 e em 2015
Foi no distrito de Portalegre onde se verificou o maior crescimento do PS.
0
5
10
15
20
25
30
Votaçõesno BE e no PCP-PEV em 2015
BE
PCP-PEV
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
% de Votos
Votações no PS comparadas
PS 2011
PS 2015
24. 24
Distritos
2011 2015 Diferença 2011 2015
PSD.CDS-PP PS PSD.CDS-PP PS PSD.CDS-PP PS
Território Nacional
2
38,63 28,05 36,83 32,38 -2,80 4,33
Aveiro 44,45 25,93 48,14 27,91 3,69 1,98
Beja 23,65 29,79 20,11 37,29 -3,54 7,50
Braga 40,07 32,85 45,61 30,87 5,54 -1,98
Bragança 51,99 26,10 49,41 34,06 -2,58 7,96
Castelo Branco 37,96 34,80 35,31 38,86 -2,65 4,06
Coimbra 40,17 29,18 37,18 35,28 -2,99 6,10
Évora 27,47 29,07 23,96 37,47 -3,51 8,40
Faro 37,03 22,95 31,47 32,77 -5,56 9,82
Guarda 46,32 28,31 45,59 33,78 -0,73 5,47
Leiria 47,00 20,71 48,42 24,82 1,42 4,11
Lisboa 34,10 27,53 34,68 33,54 0,58 6,01
Portalegre 32,46 32,43 27,63 42,43 -4,83 10,00
Porto 39,14 32,03 39,59 32,72 0,45 0,69
Santarém 37,72 25,85 35,82 32,91 -1,90 7,06
Setúbal 25,15 27,14 22,59 34,31 -2,56 7,17
Viana do Castelo 43,59 26,18 45,54 29,82 1,95 3,64
Vila Real 51,41 29,12 51,02 33,06 -0,39 3,94
Viseu 48,38 26,69 51,05 29,65 2,67 2,96
Quadro 5 – Votações por distrito no PSD,CDS-PP e no PS nas eleições de 2011 e de 2015
Fonte dos resultados eleitorais: CNE - Comissão Nacional de Eleições
Figura 25 – Votos no PSD-CDS-PP em 2011 e em 2015
2
Inclui Regiões Autónomas da Madeira e Açores
0
10
20
30
40
50
60
% de Votos
Votaçõesno PSD.CDS-PP comparadas
PSD.CDS-PP 2011
PSD.CDS-PP 2015
25. 25
Comparando as votações da coligação PSD.CDS-PP de 2015 com 2011 verifica-se que
perdeu votos em 39% dos distritos (figura 25). Excetuam-se os distritos de Aveiro,
Braga, Leiria, Lisboa, Porto, Viana do Castelo e Viseu que foi onde aquela força
partidária conseguiu obter alguma margem, salientando-se Aveiro e Braga com os
valores positivos mais significativos (quadro 5).
Excetuando o distrito de Braga o comportamento do eleitorado em 2015, no que se
refere ao Partido Socialista comparado com a coligação PSD.CDS-PP foi no sentido do
aumento da votação em todos os distritos não conseguindo, apesar disso, atingir os
resultados eleitorais que obteve em 2009 quando atingiu o resultado global nacional
de 36,56% contra os 32,38% em 2015. A explicação pode ser encontrada numa
eventual passagem de votos para outros partidos à sua esquerda, nomeadamente o
para o PS, para o PAN e para o Bloco de Esquerda este dois últimos como recurso a
voto de protesto (quadro 5).
Figura 26 - Votos no PSD.CDS-PP e no PS em 2011
Outras possíveis explicações podem ser, em parte, justificadas por uma análise
sociopolítica que não se enquadra nos objetivos deste trabalho.
Figura 17 – Votos no PSD.CDS-PP e no PS em 2015
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
% Votos
Votaçõesno PSD.CDS-PP eno PS em 2011
PSD.CDS
PS
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
% Votos
Votaçõesno PSD.CDS eno PS em 2015
PSD.CDS-PP
PS
26. 26
Quanto à distribuição espacial por concelho pode ser observada na cartografia das
figuras 5 e 6.
Se compararmos os anos as eleições de 2011 com 2015 os dois partidos coligação
PSD.CDS-PP e o PS é notável a diferença entre os dois partidos em 2011 com uma
perda significativa de votos por parte do PS e uma acentuada votação na coligação de
direita. Em 2015 mantem-se na maior parte dos distritos uma votação maioritária na
coligação de direita PSD.CDS-PP com alguma recuperação do PS em todos eles
verificando-se um recuo apenas no distrito de Braga (figuras 26 e 27). Quanto ao PAN
não existem dados de referência que possibilitem, uma avaliação anterior nas mesmas
circunstâncias que a dos partidos que já tinham assento na Assembleia da República.
4.3. Os distritos através das votações partidárias
Nos números anteriores analisaram-se as associações entre as votações nos partidos,
vamos agora ver os graus de associação e ligação entre os distritos tendo em conta o
comportamento eleitoral dos partidos nos dezoito distritos. Com base nas votações
distritais dos partidos com deputados na Assembleia da República calcularam-se os
coeficientes de correlação entre os distritos do continente que se encontram no
quadro 6.
Evidencia-se um elevado número de correlações muito fortes que nos podem dar uma
imagem do agrupamento espacial por grupos de distrito em função das votações nos
partidos em análise.
Aveiro
Beja
Braga
Bragança
CasteloBranco
Coimbra
Évora
Faro
Guarda
Leiria
Lisboa
Portalegre
Porto
Santarém
Setúbal
VianadoCastelo
VilaReal
Viseu
Aveiro 0,475 0,995 0,989 0,903 0,944 0,614 0,908 0,986 0,997 0,934 0,75 0,973 0,946 0,642 0,996 0,993 0,998
Beja 0,55 0,553 0,725 0,693 0,985 0,715 0,578 0,432 0,73 0,88 0,627 0,714 0,959 0,542 0,531 0,487
Braga 0,997 0,94 0,971 0,682 0,94 0,997 0,985 0,964 0,812 0,99 0,972 0,708 1,000 0,997 0,995
Bragança 0,944 0,972 0,685 0,934 0,999 0,977 0,963 0,819 0,987 0,969 0,702 0,997 0,999 0,994
Castelo Branco 0,994 0,83 0,991 0,958 0,868 0,992 0,955 0,976 0,986 0,864 0,932 0,93 0,906
Coimbra 0,806 0,989 0,982 0,917 0,998 0,925 0,994 0,997 0,836 0,966 0,963 0,946
Évora 0,82 0,707 0,573 0,835 0,941 0,75 0,822 0,985 0,674 0,664 0,625
Faro 0,951 0,877 0,99 0,938 0,978 0,987 0,87 0,931 0,921 0,903
Guarda 0,971 0,974 0,843 0,994 0,979 0,73 0,996 0,996 0,989
Leiria 0,908 0,702 0,954 0,922 0,599 0,988 0,983 0,994
Lisboa 0,935 0,99 0,999 0,863 0,959 0,953 0,936
Portalegre 0,878 0,921 0,958 0,801 0,798 0,758
Porto 0,993 0,784 0,987 0,982 0,973
Santarém 0,85 0,968 0,961 0,947
Setúbal 0,696 0,68 0,644
Viana do Castelo 0,998 0,997
Vila Real 0,997
Viseu
Quadro 6 - Matriz de correlação entre os distritos
segundo o voto de quatro partidos e uma
coligação (BE, PAN, PCP-PEV, PSD,CDS-PP e PS)
27. 27
A matriz dos coeficientes de correlação do quadro 6 e as figuras 28 e 29 traduz o
comportamento eleitoral das populações entre distritos que se podem agrupar
segundo o menor ou maior grau de associação.
Para estas associações selecionaram-se apenas os distritos cujos coeficientes de
correlação são superiores a 0,985 considerados como muito significativos. Todavia,
selecionaram-se também outros distritos cujos coeficientes de correlação são menores
do que o indicado mas que, apesar de serem mais fracos, são também relevantes e
mostram uma tendência de associação entre distritos semelhantes no comportamento
eleitoral tendo-se o cuidado, nestes casos, colocar essas ligações a tracejado. Apesar
de se ter optado, apenas por uma questão de facilidade de representação gráfica pelos
dos distritos com os coeficientes de correlação indicados porque evidenciam uma
maioria de correlações muito fortes ao nível de 0,9XX que traduzem a existência de
grupos de distritos associados. A correlação mais baixa encontrada foi 0,432 verificada
entre os distritos de Beja e de Leiria.
Através das ligações entre os distritos com iguais coeficientes de correlação
evidenciam-se em primeiro lugar as mais fortes que mostra a existência de três
grandes grupos: a) Bragança que se liga primeiro a Vila Real e à Guarda com 0,999 e a
Viana do Castelo e a Viseu com 0,997 e 0,994 respetivamente; b) utilizando o mesmo
critério da correlação do voto entre partidos que lhes são comuns, segue-se ao mesmo
nível Aveiro que se liga a Braga, Viana do Castelo, Viseu e Bragança; c) Aveiro associa-
se em primeiro lugar a Viseu, este com o coeficiente de correlação de 0,998 que forma
um grupo com aqueles três distritos. Os distritos destes três grupos apresentam entre
si coeficientes de correlação significativamente elevados e positivos, daí a sua
associação.
Figura 28 - Graus de associação e ligação entre os distritos correspondentes ao quadro 6
com coeficientes de correlação iguais ou superiores a 0,9 distritos do norte
28. 28
Definem-se a partir dos coeficientes de correlação com a votação nos partidos dois
grandes agrupamentos de distritos que correspondem a uma dicotomia norte-centro e
sul, com algumas exceções que provêm do facto do distrito do Porto se associar aos
distritos centro-sul, e o distrito de Leiria a associar-se com os do norte (figura 28),
enquanto Coimbra que se associa a norte (Porto, Viana do Castelo e Vila Real), Leiria
que está no centro encontra-se no grupo de Viseu e de Aveiro.
Braga liga-se a Viana do Castelo com o coeficiente de correlação máximo de 1,000 e a
Vila Real e a Bragança ambas com 0,997, muito próximos do grupo Viseu-Leiria-Aveiro-
Vila Real. Vila Real que, por seu lado, se associa a Bragança, à Guarda e a Vila Real,
ambos com 0,999. Vila Real associa-se mais ao grupo Viseu-Aveiro do que ao conjunto
Bragança-Viseu (0,997).
Os distritos do norte com um elevado coeficiente de associação configuram um grupo
com forte conservadorismo eleitoral e afinidades partidárias no sentido do voto apesar
de alguns apresentarem um certo afastamento dessas afinidades. Assim, Coimbra
apesar de apresentar afinidades com o conjunto dos distritos do norte tem também
afinidades com Santarém e com Lisboa, Castelo Branco mas também pode ser incluído
no conjunto nortenho por ter resultados semelhantes. Braga associa-se plenamente a
Viana do Castelo e muito próximo de Bragança e Vila Real.
O grupo Beja, Évora, Setúbal e Portalegre afasta-se do grupo dos distritos do norte e
mantêm entre si forte associação.
Figura 29 - Grau de associação e ligação entre os distritos correspondente ao quadro 6
com coeficientes de correlação ao nível 0,9 distritos centro e sul
As exceções provêm do facto do distrito do Porto associar-se ao nível da correlação
0,97X e 0,98X com alguns distritos quer do centro, quer do sul.
29. 29
O grau de coesão entre os distritos do sul Beja, Évora e Setúbal é elevado mas inferior
ao que seria de esperar por serem, em grande parte, distritos cujo histórico eleitoral
foi sempre de votação mais à esquerda enquanto o conjunto dos distritos do norte
evidenciam uma maior homogeneidade com a maior parte dos níveis de ligação acima
de 0,9, incluindo Coimbra e Porto.
As redes de ligação traduzem o voto um comportamento político nos distritos que se
agrupam pelo seu maior ou menor grau de conservadorismo manifestado pelas suas
populações nos resultados eleitorais, destacando-se à esquerda Beja, Évora e Setúbal
com 0,985 com aproximação a Portalegre e, no polo oposto Vila Real, Bragança, Viseu
e Guarda ficando os restantes associados em posições intermédias.
Estas associações entre distritos consoante o seu voto partidário revelam uma
continuidade espacial de proximidade de comportamento eleitoral como se destaca na
figura 30 onde não se encontram representados os partidos BE e PAN visto que não
obtiveram maioria em nenhum concelho. Destaca-se também um "nicho" de
concelhos no distrito de Coimbra onde há uma continuidade espacial de votações no
PS.
Em síntese, é evidente uma dicotomia em termos de comportamento eleitoral no voto
entre os principais partidos que se verifica entre os distritos do norte e os do sul.
Excetuando os distritos do Alentejo e Setúbal as redes a sul formam outros conjuntos
associados sem ser por proximidade como Lisboa, Santarém, Castelo Branco, Coimbra
e Faro que se estendem até ao Porto que está fortemente associado a Santarém.
Apesar das votações mais elevadas nos partidos em alguns distritos as correlações
menos significativas verificam-se entre os distritos do norte e os do centro e sul,
confirmam a dicotomia salientada pela associação dos distritos de Beja, Évora e
Setúbal e de Portalegre com Faro.
Figura 30 - Votação nos concelhos dos principais partidos em 2015
5. Análise do voto e alguns indicadores socioeconómicos
Em estudos de geografia eleitoral procura-se correlacionar o comportamento eleitoral
nas várias unidades espaciais com os valores correspondentes de certos indicadores de
natureza social, económica, religiosa e outros mais específicos.
30. 30
A questão que agora se coloca é a de saber se existem fatores sociais, económicos que
possam ser explicativos do voto em cada um dos partidos.
Embora saibamos que a correlação entre dois fenómenos não significa que exista
necessariamente uma relação de causa e efeito é importante, como hipótese de
trabalho, avaliar o grau de correlação entre o voto alguns dos indicadores.
Como já anteriormente se notou os indicadores estatísticos encontram-se são
apurados e desgregados ao nível NUTS e não por distritos pelo que houve necessidade
de fazer o apuramento das votações adequado ao mesmo nível para que se pudessem
respeitar e poder referir-se às mesmas unidades espaciais tornado assim exequível
estabelecer possíveis relações de causa e efeito.
Não se dispondo de indicadores e dados estatísticos exatamente no ano do ato
eleitoral de 2015 utilizaram-se os que tivessem mais proximidade temporal, se não em
termos absolutos pelo menos em termos relativos.
Este tipo de análise, como as anteriores, foi efetuado apenas para os partidos com
acento na Assembleia da República que forneceram as grandes tendências do
eleitorado.
5. O voto da população empregada por setores de atividade
5.1. O voto e o setor terciário
Analisaram-se os três grandes setores de atividade económica: o setor Primário que
inclui a agricultura, a floresta, a caça, a pesca e a extração mineral; o Secundário que
congrega a indústria transformadora e a construção; o Terciário que inclui serviços,
tais como comércio, transporte, administração pública, educação e saúde.
Calcularam-se as correlações entre a percentagem de voto nos partidos em 2015 por
regiões NUTS III e a população empregada por setor de atividade com dados relativos a
2011 cujos valores não terão sofrido alterações significativas nos últimos quatro anos
que provocassem o enviesamento dos cálculos.
Quadro 7 - Coeficientes de correlação entre o voto nas regiões NUTS III
e os setores de atividade em 2011.
Partidos
Setores de atividade
Primário Secundário Terciário
BE -0,51 -0,08 0,35
PAN -0,49 -0,23 0,52
PCP-PEV 0,39 -0,40 0,27
Coligação PSD.CDS-PP -0,24 0,47 -0,44
PS 0,41 -0,48 0,36
31. 31
As correlações dos votos com os três setores de atividade, como se pode verificar no
quadro 7, são relativamente baixas e pouco significativas com exceção da correlação
entre o BE e o setor secundário que é muito fraco, sem significado e de sinal negativo,
mostrando não existir qualquer ligação entre o voto neste partido e a percentagem de
população empregada neste setor de atividade.
O setor terciário na correlação com o voto nos partidos origina grupos de dois partidos
com coeficientes de correlação de sinal oposto: o PS com R= +0,36 e a coligação
PSD.CDS-PP com R= -0,44.
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
AMLisboa
AM Porto
Ave
Cávado
Região Aveiro
Região Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Terrade Trás-os-
Montes
Viseu Dão-Lafões
y = 0,1992x + 19,71
R² = 0,1325
R= 0,36
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
PS%
% Pop Emp no Setor Terciário 2011
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
AM Lisboa
AM PortoAve
Médio tejo
BeiraBaixa
Douro
Lezíria do Tejo
Médio Tejo
Regiões Aveiro e de
Leiria
Região de Coimbra
Tâmega e Sousa
TerrasTrás-os-
Montes
y= -0,5592x + 76,664
R² = 0,1942
R= - 0,44
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
PSD.CDS-PP %
% Pop Empregada no setor terciário 2011
Figura 31 - Correlação entre o voto no PS e população empregada no setor terciário por
NUTS III
Gráfico 32 - Correlação entre o voto no PSD.CDS-PP e a população empregada
no setor terciário por NUTS III de 2015
32. 32
As correlações dos votos no PS e do PSD.CDS-PP com o setor terciário são muito
aproximadas, diferença de 0,08 em módulo, mas apresentam variação de sentido
oposto o que indicia de certa maneira que o aumento da percentagem de população
empregada naquele setor é acompanhado por um aumento do voto no PS e por um
decréscimo no voto na coligação PSD.CDS-PP o que é confirmado pelos diagramas das
figuras 31 e 32. Com alguma expressividade os diagramas de dispersão mostram uma
dicotomia norte-sul do voto e uma separação nítida entre das regiões da Área
Metropolitana de Lisboa, mais próxima das regiões do sul, e da Área Metropolitana do
Porto que se aproxima das regiões mais a norte apesar de esta ter percentagens de
população do setor terciário também mais elevadas, ficando a região de Coimbra num
ponto intermédio às duas. A reta de regressão separa, em parte, as regiões do Norte e
as do Sul, confirmando que, a uma menor percentagem de população empregada no
setor terciário correspondem maiores votações no PS. As percentagens superiores a
60% da população empregada naquele setor concentraram os votos no PS e as com
percentagens mais baixas mostraram maior incidência na votação na coligação do
PSD.CDS-PP como pode ser verificado no diagrama de dispersão da figura 32.
Enquanto o PS, o BE e o PCP-PEV vêm o seu voto aumentado quando sobe a
percentagem de população empregada no setor terciário a coligação PSD.CDS-PP, pelo
contrário, apresenta votações mais baixas quando aumenta aquela percentagem.
Estas conclusões são apenas tendenciais, pois, como se pode ver nas figuras e no
quadro dos coeficientes de correlação, a percentagem de população empregada no
setor terciário por regiões NUT III leva a distinguir dois grandes grupos que se agrupam
acima e abaixo da reta de regressão e que correspondem aproximadamente às regiões
localizadas a norte e a sul. As Áreas Metropolitanas do Porto e a Área Metropolitana
de Lisboa situadas sobre a reta distanciam-se, a primeira por ter mais elevada votação
na coligação mas com menos percentagem de população no setor terciário e a
segunda com mais percentagem de população empregada no terciário mas com
menos votação. É curioso verificar ainda que neste caso há uma tendência para o
aumento da votação no partido quando menor a percentagem de população do setor
terciário. Nas regiões do sul tendencialmente com menos votação no caso do PS
verifica-se o inverso. Repare-se que a correlação do PSD.CDS-PP com o setor
secundário é o mesmo que o do PS mas este de sentido contrário (R = - 48), mostrando
que o primeiro ganha o segundo perde.
No que se refere ao BE verifica-se uma correlação positiva muito próximas do PS, con-
tudo, o diagrama de dispersão (figura 33) mostra diferenças significativas na
distribuição do voto naquele partido, nomeadamente na região do Algarve, onde,
devido aos serviços ligados ao turismo, se verificou apesar de fraca, uma correlação
positiva do voto no BE.
33. 33
Nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto as votações praticamente foram iguais
sendo a diferença de 0,01% derivado ao cálculo ter sido efetuado ao nível NUTS III que
não incluem apenas os concelhos dos respetivos distritos mas abrangem também
outros às suas periferias. A AM de Lisboa inclui o antigo distrito de Setúbal e a AM
Porto inclui uma parte do distrito de Braga e uma parte do distrito de Aveiro (antiga
região de Entre Douro e Vouga). Para esta análise a diferença de décimas ou
centésimas não é relevante visto não afetar o apuramento de mandatos.
As regiões do norte, Alto Tâmega, Terras de Trás-os-Montes, Douro, Viseu Dão Lafões
e Alto Minho, apesar das percentagens relativamente elevadas de população
empregada no setor terciário, superior a 60%, não corresponderam a mais votos no
BE. Nas regiões do sul o efeito foi contrário ao do PSD.CDS-PP (figura 34).
Alentejo Litoral
Algarve
Região de Coimbra
Alto Minho
Alto Tâmega
AM LisboaAMPorto
Ave
Douro
Lezíriado Tejo
OesteRegião de Aveiro e
de Leiria
Tâmega e Sousa
TerrasTrás-os-
Montes
Viseu Dão Lafões
y = 0,0934x + 2,8869
R² = 0,123
R = 0,35
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
BE %
% Pop Emp no Setor Terciário em 2011
Alentejo CentralAlentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Tâmega
AM de Lisboa
AMdo Porto
Ave
Médio Tejo
Beira Baixa
Douro
Lezía do Tejo
Região Coimbra
Tâmega e Sousa
Terrasde Trá-os-
Montes
y = 0,2193x - 6,0191
R² = 0,0751
R = 0,27
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
PCP-PEV %
% de Pop Emp no Setor Terciário 2011
Gráfico 33 - Correlação entre o voto no BE e população empregada no setor Terciá-
rio por NUTS III de 2015
Gráfico 34 - Correlação entre o voto no PCP-PEV e população empregada no setor
Terciário por NUTS III de 2015
34. 34
O coeficiente de correlação com o voto no PCP-PEV e a população empregada no setor
terciário é extremamente baixo situando-se em R= +0,27. A comparação da correlação
do setor terciário com o voto nos partidos mostra que, excetuando o PCP-PEV, os três
outros partidos têm coeficientes de correlação mais elevados e que o único que revela
uma correlação negativa com este setor é o PSD.CDS-PP. A explicação para este facto
poderá estar em que a percentagem mais elevada da população empregada no
terciário, acima dos 65 a 70%, concentra-se sobretudo nas regiões do sul com exceção
das Terras de Trás-os-Montes que se encontra no limiar deste valor e que apresenta
votos elevados na coligação.
Figura 25 - Correlação entre o voto no PAN e a população empregada no setor
Terciário por NUTS III de 2015
Entre o conjunto dos partidos analisados o PAN é um caso atípico por ser o único que
apresentou com a população empregada no setor terciário uma correlação positiva
relativamente mais elevada do que os restantes, R= +0,52. O diagrama de dispersão da
figura 35 mostra a relativamente elevada percentagem votação no partido em função
da população empregada no setor terciário. A distribuição dos pontos mostra uma
concentração das regiões entre os 0,5% e 1% dos votos nas que apresentam mais de
60% de população empregada no setor e uma percentagem ainda mais elevada de
votos nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto e no Algarve. Não se verifica uma
clara dicotomia entre o norte e o sul com o voto neste partido como se verificou nos
outros partidos.
5.2. O voto e o setor secundário
O setor secundário de atividade inclui indústria transformadora e construção e é
ocupada por trabalhadores comumente denominados por operários.
Com este setor todos os partidos apresentam correlações negativas com exceção do
PSD.CDS-PP que apresenta uma correlação positiva de +0,47 (figura 36).
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
AM de Lisboa
AM do Porto
Ave Médio Tejo
Cávado
Douro
Lezíriado tejo
Baixo Alentejo
Oeste
Região de Aveiro Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Terrasde Trás-os-
Montes
y = 0,0256x - 0,6868
R² = 0,2667
R = 0,52
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
PAN %
Pop Emp no setor Terciário em % 2011
35. Nas regiões de Aveiro, Leiria, Ave
Porto regiões onde existe uma elevada
indústria como é o caso, por exemplo
nível de industrialização devido à forte presença de empresas ligadas à indústria têxtil,
sobretudo vestuário. Sendo
intensivo de mão-de-obra que
setor secundário, acrescido o facto d
postos de trabalho ameaçada pelo eventual fecho de empresas devido a imprevisíveis
conjunturas políticas adversas
cariz politicamente mais conservador
y=
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,0
PS%
Figura 37 - Correlação entre o voto n
Figura 36 - Correlação entre o voto no PS
Nas regiões de Aveiro, Leiria, Ave, Cávado, Tâmega e Sousa e Área Metropolitana do
existe uma elevada percentagem de população empregada na
por exemplo, do vale do Ave, zona caracterizada por um forte
nível de industrialização devido à forte presença de empresas ligadas à indústria têxtil,
sobretudo vestuário. Sendo regiões especializada em indústrias com base no uso
obra que se reflete num elevado número de e
acrescido o facto duma possível insegurança na manutenção dos
postos de trabalho ameaçada pelo eventual fecho de empresas devido a imprevisíveis
conjunturas políticas adversas pode ser um fator explicativo o que lhes confe
cariz politicamente mais conservador.
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Douro
Alto Tâmega
AMde Lisboa AM do Porto
Ave
Alto Trás-os-Montes
BeiraBaixa
Cávado
Douro
Região de Aveiro
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Viseu Dão Lafões
y= -0,2209x + 39,078
R² = 0,2306
R= - 0,48
10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
% Pop Emp no Setor Secundário 2011
Correlação entre o voto no PS e população empregada no setor
Secundário por NUTS III de 2015
Correlação entre o voto no PSD.CDS-PP e população empregada no setor
Secundário por NUTS III de 2015
35
e Área Metropolitana do
população empregada na
acterizada por um forte
nível de industrialização devido à forte presença de empresas ligadas à indústria têxtil,
especializada em indústrias com base no uso
um elevado número de empregados do
insegurança na manutenção dos
postos de trabalho ameaçada pelo eventual fecho de empresas devido a imprevisíveis
pode ser um fator explicativo o que lhes confere um
Tâmega e Sousa
60,0
e população empregada no setor
e população empregada no setor
36. 36
Por sua vez, a correlação do voto no PS com o setor secundário (R= -0,47) sendo
praticamente igual à do PSD.CDS-PP (R= +0,48) é no entanto de sentido inverso como
mostra o diagrama de dispersão da figura 37. O PS obteve, a norte do Tejo, votos tanto
mais quanto menor a população empregada no setor secundário. A tendência mostra
o voto no PS a baixar quando aumenta a percentagem do operariado nas regiões mais
industrializados do litoral-norte Aveiro, Leiria, Ave, Cávado, Tâmega e Sousa e Área
Metropolitana do Porto. Só uma análise mais detalhada ao nível dos concelhos e dos
centros urbanos permitiria saber ao certo qual o tipo de voto da população empregada
neste setor.
Salientam-se regiões como a Área Metropolitana de Lisboa, Algarve, Terras de Trás-os-
Montes e Douro onde se encontra menos população empregada no setor secundário e
onde o PS obteve relativamente menos votos.
O BE apresenta com o setor secundário um coeficiente de correlação negativa sem
significância não existindo qualquer relação entre o voto e a população empregada
neste setor (figura 38). Como se viu anteriormente voto neste partido tem uma
correlação mais significativa com o setor terciário o que leva a admitir que poderá ter
mais influência nos trabalhadores dos serviços do que no operariado.
No que se refere ao PCP-PEV estes partidos em coligação apresenta um coeficiente de
correlação com a população empregada no setor secundário muito próxima do PS e do
mesmo sentido. O diagrama de dispersão da figura 39 mostra uma tendência para a
uma menor votação no PCP-PEV quando aumenta a percentagem da população
empregada no setor secundário nomeadamente nas regiões do litoral-norte mais
industrializadas que, como já se viu, mostram uma tendência para um comportamento
eleitoral mais direitista.
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
AM Lisboa AMPorto
Ave
BeiraBaixa Cávado
Douro
Médio Tejo
Região de AveiroRegião de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Baixo Alentejo
Viseu Dão Lafões
y = -0,0177x + 9,5693
R² = 0,0062
R= 0,08
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
BE %
Pop Emo no setor Secundário em % 2011
Figura 38 - Correlação entre o voto no BE e população empregada no setor secundário por
NUTS III 2015
37. 37
As regiões do sul, nomeadamente a Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo Central,
Alentejo Litoral e Baixo Alentejo são que, tendo menos população empregada no setor
secundário, abaixo do 25%, mostram uma tendência para o voto na coligação PCP-PEV.
A região do Algarve abaixo da reta de regressão que separa em grande medida as
regiões do norte e do sul, destaca-se do grupo das regiões do sul tendencialmente de
votação no PCP-PEV aproximando-se a algumas regiões do norte e centro onde há uma
baixa percentagem de trabalhadores no setor, entre os 15% e os 20%, ficando abaixo
da linha de votação dos 10% naquele partido.
Sendo o PCP um partido cuja base eleitoral seriam os trabalhadores do secundário,
que designada por classe operária, a explicação para esta "fuga" do seu eleitorado
tradicional poderá ser idêntica à que se apontou para explicar a forte votação no
PSD.CDS-PP da população empregada neste setor.
5.3. O voto e o setor primário
O voto nos partidos e os trabalhadores do setor primário, agricultura, silvicultura
(floresta), caça, pesca e extração mineral mostram correlações muito baixas de sentido
negativo com a coligação PSD.CDS-PP, e médias mas também negativas com o BE e o
PAN. Apenas o PS e o PCP-PEV apresentam coeficientes de correlação aproximados e
do mesmo sentido positivo.
As percentagens mais baixas da população empregada no setor primário ocorrem nas
regiões litorais e mais industrializadas. O Algarve insere-se no grupo das que têm
percentagens de população no setor próximas da mediana, 4,8%.
No diagrama de dispersão da figura 40 pode verificar-se que a coligação PCP-PEV
obteve menos votações na maior parte das regiões que apresentam menores
percentagens de população a trabalhar no setor primário. As regiões do sul, Alentejo
Central, Alentejo Litoral e Baixo Alentejo apresentam um grande afastamento da reta
de regressão enviesando a tendência de voto das restantes regiões. A norte, as regiões
Alentejo Central Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto douro
Alto Tâmega
AMLisboa
AM Porto
Ave
Baixo Alentejo
BeiraBaixa
Cávado
Douro
Lezíriado Tejo
Médio Tejo
Região Aveiro
Região de Coimbra
Tâmega e Sousa
Terrade Trás-os
Montes Viseu Dão Lafões
y = -0,2674x + 15,982
R² = 0,1579
R= - 0,40
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
PCP-PEV %
PopEmp no setor Secundário em % 2011
Figura 39 - Correlação entre o voto no PCP-PEV e população empregada no setor secundá-
rio por NUTS III 2015
38. 38
Terras de Trás-os-Montes, Douro, Alto Tâmega apresentam inversamente das
anteriores percentagens mais elevadas no setor primário com menos percentagem de
votos no PCP-PEV. No Alto Alentejo decrescem drasticamente os votos no PCP-PEV
assim como na Lezíria do Tejo. As regiões mais rurais a norte, onde se encontram
maiores percentagens de trabalhadores no setor primários são as que apresentem
menor percentagem de votos neste partido.
O voto no PS é o que mais se correlaciona com a distribuição destes trabalhadores
(R=+0,41) encontrando-se nas regiões mais rurais um pouco mais à frente do PCP-PEV
(R=+39).
O voto neste partido aparenta correlacionar-se mais com a população empregada no
setor primário e terciário do que no secundário, este com maior predominância no
litoral norte onde obtém, como já vimos, uma correlação negativa (R= -40).
Nas regiões com maior percentagem de população empregada no setor primário
conseguiu percentagens de votos acima dos 25% que tendencialmente também cresce
com o aumento dos empregados naquele setor (figura 41) com destaque para as
regiões do Alentejo Litoral, Alentejo Central e Baixo Alentejo. As regiões de Aveiro e de
Leiria, apesar de terem menos população a trabalhar no primário, é onde obtém
percentagem de votos abaixo dos 25%. É ainda nestas regiões mais industrializadas a
norte onde este partido baixa a tendência de voto relativamente aos trabalhadores do
secundário.
O PS mostra assim significativa votação nas regiões com elevada percentagem de
população empregada no setor primário não se verificando neste caso uma clara
dicotomia entre o norte e o sul, mas, nas regiões abaixo 7,5% de trabalhadores neste
setor há um nítido decréscimo dos votos neste partido. Nestas condições encontram-
se regiões do norte como o Douro, Tâmega, Trás-os-Montes, abaixo da reta de
regressão que estão próximas do Alto Alentejo, Alentejo Central e Baixo Alentejo.
Encontra-se ainda um grupo de regiões intermédias em termos de percentagem de
Alentejo Central Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
AMde Lisboa
AM do Porto
Ave
Baixo Alentejo
Douro
Lezíriado Tejo
Região de Aveiro
Região de Leiria Alto Trás-os-MpntesViseu DãoLafões
y = 0,6083x + 4,9603
R² = 0,1498
R = 0,39
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0
PCP-PEV %
Pop Emp no setor Primário em % 2011
Figura 40 - Correlação entre votos no PCP-PEV e a população empregada no setor
primário por NUTS III 2015
39. 39
população empregada no setor como a Lezíria do Tejo, Beira Baixa e Beiras e Serra da
Estrela que apresentam votos altos no PS.
A coligação PSD.CDS-PP apresenta com o setor primário a mais baixa correlação
negativa dentre todos os partidos, R= -0,24, que é pouco significativa e com grande
dispersão das regiões como mostra a figura 42. O voto neste partido mostra não existir
uma relação bem definida com a percentagem de trabalhadores no setor primário.
Todavia, menores percentagens de população ocupada no setor primário
correspondem a percentagens de voto mais elevadas. Verificam-se contudo exceções
como as regiões do Alto Tâmega, Terras de Trás-os-Montes e Douro onde a uma
população mais elevada a trabalhar no setor primário correspondem também votações
muito superiores à média daquele partido, 39,63%.
Alentejo Central
Alto Alentejo
Tâmega
AM Lisboa
AMPorto
Ave
Baixo Alentejo
BeiraBaixa
Beirase Serrada
Estrela
Cávado
Douro
Lezíriado Tejo
Médio Tejo Região de Aveiro
Região de Coimbra
Região de Leiria
Trás-os-Montes
Dão Lafões
y = 0,438x + 30,348
R² = 0,166
R= 0,41
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0
PS%
PopEmp no setor Primário % 2011
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
AMLisboa
AMPorto
Ave
Baixo Alentejo
BeiraBaixa
Cávado Douro
Lezíriado Tejo
Região de Aveiro
Oeste
Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Alto Trás-os-Montes
Viseu Dão Lafões
y = -0,5892x + 43,061
R² = 0,0559
R= - 0,24
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0
PSD.CDS-PP %
Pop Emp no setor Primário em % 2011
Figura 41 - Correlação entre votos no PS e a população empregada no setor primário
por NUTS III 2015
Figura 42 - Correlação entre o voto no PSD,CDS-PP e a população empregada
no setor primário por NUTS III 2015
40. 40
A Lezíria do Tejo, Alto Alentejo, Alentejo Central, Alentejo Litoral e Baixo Alentejo com
elevadas percentagens de setor primário atribuíram menores votos à coligação
PSD.CDS-PP. A região do Algarve onde o setor terciário é dominante o voto neste
partido, a par da Área Metropolitana de Lisboa e da Lezíria do Tejo, foram as regiões
onde o voto foi mais baixo ficando abaixo da média. Estes resultados denotam, mais
uma vez, a dicotomia entre o litoral norte, onde se encontra uma população em certa
medida ocupada no setor secundário, e o sul com maior número de trabalhadores no
setor primário, em especial nas regiões do Alentejo e Lezíria do Tejo. Salienta-se ainda
as regiões do Alto Tâmega, Alto Trás-os-Montes e Douro onde contrariamente à
tendência tendo elevado número de trabalhadores no setor primário contribuíram
com elevada percentagem para o de voto na coligação.
Consultando os resultados eleitorais desde 1975 verifica-se que o PSD sozinho ou
coligado obtiveram percentagens de votos maioritários na maior parte das regiões do
norte, litoral e interior e que apenas em 2005 o PS ganhou votos em todas as regiões
exceto na região de Leiria.
6. O voto e os níveis de escolaridade
Neste ponto continuamos a recorrer à técnica estatística da correlação para
correlacionar o voto dos partidos. As unidades espaciais foram as regiões ao nível NUT
III.
Tomando como base aquelas unidades espaciais analisou-se o voto de cada um dos
quatro partidos em função do nível de escolaridade segundo os Censos 2011 calculado
em percentagem. Estes dados dos níveis de escolaridade são os mais recentes e
referem-se a quatro anos antes das eleições o que poderá de algum modo distorcer os
resultados ainda que minimamente não afetando em grande medida os coeficientes
calculados já que as retas de regressão daí resultantes mostram apenas uma
tendência. Em síntese, o objetivo desta parte da pesquisa é tentar identificar no geral a
importância de tais características, ou de algumas delas, no comportamento eleitoral
em cada uma das unidades espaciais.
A análise incidiu sobre o nível de escolaridade do total da população em cada região
NUT III e não apenas sobre a escolaridade da população votante visto o que o
pretendido não é apenas a população eleitora mas o total em cada região. Para
determinação dos coeficientes de correlação considerou-se, como se disse, o voto nos
partidos e o nível de escolaridade da população total em cada região cujos valores
podem ser verificados no quadro 9.
BE PAN PCP-PEV PSD.CDS-PP PS
Sem nível de escolaridade -0,54 -0,65 0,23 -0,15 0,44
Básico 1º ciclo -0,73 -0,76 -0,47 0,52 0,04
Básico 2º ciclo -0,05 -0,12 -0,20 0,32 -0,39
Básico 3º ciclo 0,83 0,73 0,30 -0,37 -0,21
Secundário 0,79 0,88 0,35 -0,47 -0,03
Superior 0,39 0,60 -0,02 -0,08 -0,09
Quadro 9 - Coeficientes de correlação entre o voto regional e o nível de escolaridade.
41. 41
Como se pode verificar os coeficientes de correlação mais fortes e positivos verificam-
se nos partidos PAN e BE. O BE apresenta para o nível de escolaridade básico 3º ciclo e
secundário coeficientes de correlação significativos de R= +0,83 e R= +0,79
respetivamente. Estes valores contrastam, no mesmo partido, com as correlações
também significativas, mas negativas, com os grupos sem nível de escolaridade, R=-0,54
e R= -0,73 para o 1º ciclo do ensino básico.
e) O voto no PSD.CDS-PP e o nível de escolaridade
O quadro 9 destaca que, contrariamente aos outros partidos, a coligação PSD.CDS-PP
apresenta correlações positivas com o voto apenas nos níveis de escolaridade básica
do 1º e 2º ciclo, R= +0,52 e R= +0,32 respetivamente. Nos restantes níveis de
escolaridade as correlações são fracas e de sentido negativo, ou seja, o voto naquele
partido aumenta quando o nível de escolaridade das regiões é mais baixo. O nível do
ensino superior mostra uma correlação negativa sem significado com os votos no
PSD.CDS-PP.
A uma maior percentagem de população com escolaridade básica do 1º ciclo
corresponde uma maior percentagem de votos na coligação (R= +0,52), verificando-se
uma vez mais assimetrias regionais entre o norte e o sul. O diagrama de dispersão da
figura 45 mostra claramente que, com exceção das regiões do sul, a uma percentagem
de população mais elevada com o nível de escolaridade do 1º ciclo do ensino básico
corresponde uma maior percentagem de votos na coligação o que significa que, nas
regiões do norte, a um maior número de votos na coligação corresponde a uma maior
percentagem de população com mais baixo nível de escolaridade.
Salienta-se ainda que em todas as regiões a percentagem de população que possuí
apenas escolaridade ao nível do 1º ciclo é a mais elevada de todos os níveis de
escolaridade sendo a média de 29,3% com desvio-padrão de 2,98. Os restantes níveis
de escolaridade apresentam médias de 12,6%, 18,2%, 14,4% e 11,2% para o básico 2º
ciclo, básico 3º ciclo, secundário e superior respetivamente.
Figura 45 - Correlação entre o voto no PSD.CDS-PP e a população com ensino básico 1º ciclo
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Minho
A M Lisboa
A M do Porto
Baixo Alentejo
Beira Baixa
Cávado Douro
Lezíriado tejo
Oeste
Regiõesde Aveiro
e de Leiria
Tâmega e Sousa
Viseu Dão Lafões
y = 1,8143x - 13,604
R² = 0,2683
R= 0,52
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0
PSD.CDS-PP %
Básico 1º ciclo %
42. 42
Figura 36 - Correlação entre o voto no PSD.CDS-PP e a população com o nível secundário
No nível do ensino secundário no qual o BE e o PAN mostram correlações
relativamente fortes e de sinal positivo o PSD.CDS-PP apresenta um coeficiente de
correlação negativo fraco (figura 46) R= -0,47. A média de todas as regiões na
escolaridade do secundário é de 14,4% com um desvio padrão de 1,87, ocorrendo nas
regiões do norte as percentagens regionais mais baixas, portanto abaixo da média,
onde o voto na coligação foi também mais elevado. Excetuam-se o Alto Alentejo e
Baixo Alentejo onde a coligação obteve votações das mais baixas.
A região de Leiria e do Cávado são as que mais se destacam por terem uma
percentagem de população com o nível secundário elevada contrariando a tendência
apresentando percentagem de voto também elevado.
A região de Aveiro apresenta naquele nível de escolaridade uma percentagem muito
próxima da média apesar de ser no nível de ensino superior que esta região se salienta
com percentagens muito acima da média, 13,2%, numa média de 11,2%, o que a
coloca em quarto lugar entre todas as regiões. Um dos fatores explicativo poderá ser a
existência da universidade com elevado prestígio e nível de qualidade cujos alunos que
dela saem alimentam, em parte, as empresas desta região industrializada. No entanto,
é de notar que o coeficiente de correlação da coligação PSD.CDS-PP com este nível de
ensino é irrelevante e de sentido negativo, R= -0,08, se comparado com o BE e o PAN.
O coeficiente de correlação daquela coligação com a população sem escolaridade, R = -15,
explica apenas 0,02% do fenómeno mostra que não existe qualquer relação com os
votos na coligação, daí não se apresentar o respetivo diagrama de dispersão.
f) O voto no PAN e o nível de escolaridade
No grupo dos partidos analisados o PAN evidencia-se apresentando um coeficiente de
correlação relativamente elevado entre a percentagem de população com nível do
ensino secundário e o voto neste partido. Abaixo deste nível de escolaridade as
correlações mais significativas são negativas evidenciando que a diminuição do voto
neste partido é acompanhada por elevadas percentagens de baixo nível de
escolaridade. Isto é, quanto mais baixo o nível de escolaridade menor a votação no
PAN.
Alentejo central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
AMLisboa
AMdo Porto
Ave
Baixo Alentejo
BeiraBaixa
CávadoDouro
Lezíriado Tejo
Médio Tejo
Região de Aveiro
Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Terras Trás-os-
Montes
Viseu Dão Lafões
y= -2,6279x + 77,398
R² = 0,2222
R= -0,47
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
50,00
55,00
60,00
10,0 11,5 13,0 14,5 16,0 17,5 19,0 20,5
PSD.CDS.PP%
NívelSecundário %
43. 43
No nível de escolaridade superior é este partido que apresenta a maior correlação
positiva o que significa que as regiões com maiores percentagens de escolaridade de
nível superior terão votado mais no PAN (figura 47).
Figura 47 - Correlação entre o voto no PAN e a população com ensino superior
A média nacional neste nível de escolaridade situa-se nos 11,2% com desvio-padrão de
2,72. A maioria das regiões onde o PAN obteve mais votos foi entre os 0,75% e os
1,25%, que se encontram aproximadamente dentro da média de 1,01% com um desvio
padrão de 0,4. É este o partido que apresenta percentagens mais elevadas de
população com mais elevados níveis de escolaridade ao nível secundário e superior.
Todavia, a maior parte das regiões do norte foram as que menos atribuíram voto ao
PAN.
O retângulo a tracejado demarca as regiões onde se concentram as regiões dentro da
média dos votos e do nível de escolaridade superior que se situa dentro das respetivas
médias não se verificando uma nítida dicotomia norte-sul.
Nas regiões da Área Metropolitana de Lisboa, Área Metropolitana do Porto, Região de
Coimbra e Algarve foi nas que e o PAN obteve percentagem de votos mais elevada e
também onde se encontra o nível de escolaridade superior mais elevado
possivelmente pela influência de ser nessas regiões onde se localizam universidades
relevantes.
No que respeita à correlação entre o nível secundário da escolaridade e o voto no PAN
o coeficiente é positivo e muito significativo, R= +0,88. No diagrama de dispersão da
figura 48 observa-se que a dicotomia norte-sul não é nítida como se tem verificado na
maior parte dos casos. Os pontos correspondentes às regiões no diagrama
acompanham claramente a reta de regressão mostrando que o voto no PAN aumenta
quando também aumenta a população com aquele nível de escolaridade. A
escolaridade de nível secundário terá tido influência para o voto naquele partido.
Alto Minho
Alentejo Litoral
Algarve
Alentejo Central
Alto Tâmega
A M Lisboa
A M Porto
Ave
Baixo Alentejo
Cávado
Douro
Lezíriado Tejo
Oeste
Região de Aveiro
Região de
Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Terrasde Trás-os-
Montes
y= 0,0899x + 0,0004
R² = 0,3592
R=0,60
0,00
0,25
0,50
0,75
1,00
1,25
1,50
1,75
2,00
2,25
2,50
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0 22,5
PAN %
Ensino superior %
44. 44
Figura 48 - Correlação entre o voto no PAN e a população com ensino secundário
g) O voto no BE e o nível de escolaridade
O BE apresenta uma correlação média e negativa com a percentagem da população
sem escolaridade. O diagrama de dispersão da figura 49 mostra a tendência para que a
associação de percentagens mais elevadas de população sem nível de escolaridade
com a baixa votação neste partido revelando também a dicotomia norte-sul, embora
neste caso com disparidades reveladas pelo afastamento da reta de regressão. A
região do Algarve é um caso evidente visto que, encontrando-se numa posição um
pouco abaixo da média neste nível de escolaridade (13,4%), consegue um resultado
em votos muito acima da média de 9,08%.
Alto Minho
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
A M Lisboa
A M Porto
Baixo Alentejo
Lezíriado Tejo
Oeste
Região de Aveiro
Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Terrasde Trá-os-
Montes
y = 0,1927x - 1,7594
R² = 0,7815
R= 0,88
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0
PAN %
Ensino secundário %
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
A M Lisboa A M Porto
Ave
Baixo Alentejo
Região de
Coimbra
Região de Leiria
Terra de Trãs-os-
Montes
Viseu Dão Lafões
y = -0,3643x + 13,969
R² = 0,2934
R = - 0,54
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
BE %
Sem escolaridade %
Figura 49 - Correlação entre o voto no BE e a população sem escolaridade
45. 45
Nas regiões do Alentejo percentagens elevadas de população com falta de
escolaridade correspondem votos mais baixos elevados no BE contrariamente às
regiões do norte.
Relativamente à percentagem de população com o 3º ciclo do ensino básico
correlacionada com o voto no BE mostra um coeficiente de correlação muito
significativo com, R= +0,83 como mostra a figura 50.
Figura 50 - Correlação entre o voto no BE e a população com 3ºciclo ensino básico
A dispersão das regiões entre votos e as percentagens de população com escolaridade
do 3º ciclo do ensino básico não evidencia uma clara dicotomia norte-sul e que,
independentemente da região, verifica uma forte tendência para crescer o número de
votos no BE quanto mais elevada a percentagem de população com aquele nível de
escolaridade. A norte são as regiões de Terras de Trás-os-Montes, Alto Tâmega e
Douro que se afastam nitidamente das outras, apresentando percentagens de
população com o nível 3º ciclo abaixo da média dos 18,2% e voto muito baixo da
média de 9,08% do BE.
h) O voto no PS e o nível de escolaridade
A análise das correlações dos níveis de escolaridade com o voto no PS mostra este
partido com coeficientes com os níveis de escolaridade extremamente fracos e a não
existência de qualquer correlação significativa com os níveis de escolaridade mais
altos. Apenas o nível sem escolaridade é o que revela ter algum significado, R= +0,44,
aproximando-se do BE mas no sentido inverso. A figura 51 mostra o diagrama de
dispersão onde não se observa não existir distinção entre as regiões norte-sul e litoral-
interior nos votos do PS com este nível de escolaridade.
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho
Alto Tâmega
A M de LisboaA M do Porto
Região de Aveiro e Ave
Baixo Alentejo
BeiraBaixa
Cávado
Douro
Baixo Alentejo
Oeste
Região de Coimbra
Tâmega e Sousa
Terrasde Trás-os-
Montes
Viseu Dão Lafões
y = 1,0995x - 10,939
R² = 0,6837
R= 0,83
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0 22,5
BE %
3º Ciclo %
46. 46
Figura 51 - Correlação entre o voto no PS e a população sem escolaridade
A linha tracejada define o ponto médio do nível sem escolaridade, 13,4%, que separa
as regiões com percentagens de população sem escolaridade acima da média, à direita
e abaixo da média à esquerda e onde as assimetrias são menos nítidas.
A correlação do voto no PS com a percentagem de população com o nível de ensino do
básico 2º ciclo é fraca e de sentido negativo sendo entre os outros partidos a mais
elevada neste nível de escolaridade. Como mostra o diagrama de dispersão da figura
52 não acompanha o voto no PS verificando-se uma concentração em torno das
médias da escolaridade, 12,6%, e dos votos no PS, 32,90%.
Figura 52 - Correlação entre o voto no PS e a população com 2º ciclo ensino básico
7. O voto e alguns indicadores sociais e económicos
7.1. Introdução
Analisam-se neste ponto valores de natureza económica e social que possibilitem
traçar um retrato social da população votante e, ao mesmo tempo, verificar
desenvolvimentos ocorridos neste domínio.
Existe um conjunto de fatores e cadeias de variáveis envolvidos no comportamento
eleitoral que podem contribuir para o voto dos sujeitos eleitores, que podem ser
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Alto Minho Alto Tâmega
A Mde Lisboa
A Mdo Porto
Ave
Beira Baixa
Cávado
Médio Tejo
Região de Aveiro
Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Viseu Dão Lafões
y = 0,6088x + 24,725
R² = 0,1943
R = 0,44
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0
PS%
Sem escolaridade %
Alentejo Central
Algarve
Alto Alentejo
Alto MinhoAlto Tâmega
AM de Lisboa AMPorto
Ave
BeiraBaixa
Cávado
Baixo Alentejo
Região de AveiroRegião de Leiria
Tâmega e Sousa
Viseu Dão Lafões
y = -0,823x + 43,256
R² = 0,1549
R = -0,40
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0 17,5 20,0
PS%
Básico 2º ciclo %
47. 47
distanciados como os históricos, socioeconómicos, valores, atitudes e grupos de
pertença, e fatores próximos como candidatos, campanha eleitoral, situação política e
económica, ação do governo e influência dos amigos. É na entrada de alguns
indicadores socioeconómicas, de proteção social e de rendimento que se irá centrar
este ponto da análise do voto partidário.
Neste âmbito foram analisados três grupos de indicadores regionais ao nível NUTS III:
Taxa de Pensões da Caixa Geral de Aposentações e da Segurança Social, Taxa de
Desemprego, Índice de Poder de Compra per capita e Índice de Dependência de
Idosos.
O índice de poder de compra per capita - IPCPC, é um número que serve de indicador
para traduzir o poder de compra em termos per capita que permite comparar o poder
de compra manifestado quotidianamente nas diferentes regiões.
Este índice é útil para comparar o poder de compra das famílias em cada região. Nesta
análise utilizou-se este índice para verificar eventuais correlações com os votos nos
partidos com assento na Assembleia da República.
O objetivo da análise é detetar se determinado indicador foi ou não fator de incidência
no voto partidário, avaliando ao mesmo tempo a aceitação maior ou menor das
políticas seguidas pelos partidos que governaram durante a última legislatura no
espaço geográfico regional de Portugal continental.
7.2. O PIB e o voto regional nos partidos
O PIB regional corresponde ao valor acrescentado pelas unidades de produção
localizadas num certo espaço geográfico sendo aproximado ao rendimento gerado
nesse espaço não sendo, portanto, o mesmo que o rendimento per capita.
O objetivo foi verificar qual o eventual contributo que o PIB regional poderia ter no
voto dos partidos. As estatísticas do PIB regional de 2013 do INE (dados preliminares)
encontravam-se apenas ao nível da NUTS III de 2003 pelo que foi necessário efetuar
uma correspondência para o nível das NUTS III de 2015 que pudesse ser compatível
com os votos nos partidos, também estes já calculados para as NUTS III, como se fez
para os pontos anteriores.
Para facilidade de leitura e de análise os valores do PIB regional em euros foram
convertidos em valores percentuais para cada região para assim se calcularem os
coeficientes de correlação com os votos nos partidos, cujos resultados são
apresentados no quadro 10.
BE PCP-PEV PSD.CDS-PP PS
PIB regional 2013 Dados Preliminares 0,38 0,06 -0,15 -0,02
Quadro 10 - Correlação entre o PIB regional e o voto nos partidos
Os coeficientes de correlação referentes ao PIB regional e o voto não se revelaram
significativos sendo na generalidade muito fracos destacando-se o BE, o mais forte,
com R= +0,38. Verifica-se ainda a não existência de qualquer correlação entre aquele
indicador e os votos no PCP-PEV e no PS. A coligação PSD.CDS-PP mostra uma
correlação de sentido negativo, R= -0,15. A explicação para este facto poderá ser
48. 48
devido aos quantitativos do PIB se concentram sobretudo nas regiões da Área
Metropolitana de Lisboa, com aproximado a 40%, e na do Porto com cerca de 15%.
As regiões do Algarve, um pouco acima da média, e as regiões do Ave, Aveiro,
Coimbra, Tâmega e Sousa com valores abaixo da média, 4,35. Verifica-se a
concentração das regiões com valores do PIB regional abaixo dos 5%. Os votos no BE
confirmam que, independentemente do PIB de cada região, o comportamento do voto
neste partido não foi influenciado pelo maior ou menor valor do PIB nas regiões como
mostra o diagrama de dispersão da figura 53.
De modo geral todas as regiões apresentam um PIB regional muito baixo cujas
correlações com os votos não traduzem possibilidades de haver qualquer relação
evidente. É nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto que os partidos obtêm
maior percentagem de votos. Contudo, e mais uma vez, o BE obtém aí uma tendência
para votação mais elevada, enquanto a coligação mostra tendência para naquelas
regiões baixar a seu voto. Verifica-se ainda que o voto naquele partido,
independentemente do PIB, aumenta nas regiões do sul e áreas metropolitanas
enquanto o PSD.CDS-PP aumenta nas regiões do norte e baixa nestas regiões quando
aumenta o PIB (figuras 53 e 44).
Quanto ao voto nos partidos PS e PCP-PEV, cujos coeficientes de correlação são
extremamente baixo e sem significado relevante não se procedeu a uma análise mais
detalhada.
A riqueza económica das regiões representada pelo PIB regional que é um dos
indicadores mais utilizados para quantificar a atividade económica e ser uma
agregação de toda a atividade económica (duma região neste caso) não revelou ser um
fator explicativo para justificar o sentido de voto nos partidos. Possivelmente obter-se-
iam outros resultados efetuando a análise com a desagregação das atividades
económicas que contribuíram para a determinação do PIB regional.
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Tâmega
AM Lisboa
PIB 39,14%
AM Porto
PIB 14,82 %
Cávado
Douro
Lezíriado TejoRegião de Aveiro
Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Terrasde Trás-os-
Montes
Viseu Dão Lafões
y = 0,1024x + 8,6302
R² = 0,1432
R= 0,38
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00
BE %
PIBregional %
Figura 53 - Correlação entre o voto BE e o PIB regional por NUTS III
49. 49
7.3. O voto e a taxa de pensões da Caixa Geral de Aposentações
Seguindo a meta informação e nomenclatura do INE considerou-se pensionista quem
recebe uma ou mais pensões, tais como a pensão de velhice ou de sobrevivência. No
caso específico da Caixa Geral de Aposentações (CGA) distingue-se entre quem recebe
pensão de aposentação (aposentado), pensão de reforma (reformado) e outras pen-
sões (pensionista). No caso da Segurança Social, é o titular de uma prestação
pecuniária nas eventualidades de invalidez, velhice, doença profissional ou morte.
No caso da Caixa Geral de Aposentações, "é o utente que adquiriu o direito a uma
pensão, seja na qualidade de herdeiro hábil do contribuinte falecido, seja na qualidade
de titular de pensão de preço de sangue ou outra de natureza especial". É aposentado
quem recebe uma pensão de aposentação da Caixa Geral de Aposentações. Esta pen-
são é atribuída por velhice ou incapacidade permanente a quem foi funcionário
público.
As taxas utilizadas referem-se a 2013 e aos pensionistas da Segurança Social e da Caixa
Geral de Aposentações no total da população residente com 15 e mais anos em per-
centagem. A taxa de pensões refere-se ao cálculo da percentagem total de Pensões no
final do ano civil sobre o total da população residente com 15 e mais anos no final do
ano civil multiplicado por 100. Considerou-se ser irrelevante para esta análise o facto
da idade considerada para o cálculo efetuado pelo INE incluir as faixas etárias a partir
dos 15 apesar da idade legal para o exercício do direito ao voto ser a partir dos 18
anos. Para efeito do cálculo dos coeficientes de correlação considerou-se que as taxas
de pensão correspondem a um certo número de pensionistas que as recebem em
determinada região. De acordo com este pressuposto determinaram-se numa primei-
ra análise apenas os coeficientes de correlação entre as percentagens de votos de
cada partido e as percentagens nos referidos indicadores nas vinte e três regiões NUTS
III com as taxas de pensões referentes a 2014 que se encontram representados no
Alentejo Central
Alentejo Litoral
Algarve
Alto Alentejo
Minho
Alto Tâmega
AM Lisboa PIB
39,41%
AM Porto PIB
14,82%
Ave
Cávado
Lezíriado Tejo
Região de Aveiro
Região de Coimbra
Região de Leiria
Tâmega e Sousa
Viseu Dão Lafões
y = -0,1875x + 40,441
R² = 0,021
R = - 0,15
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 45,00
PSD.CDS-PP %
PIBregional %
Figura 54 - Correlação entre o voto PSD.CDS-PP e o PIB regional por NUTS
III