A atriz Juliana Carneiro da Cunha, de 62 anos, nunca se lembra de seus sonhos. Ela faz parte da companhia francesa Théâtre du Soleil há 20 anos. No documento, ela revive detalhes de sua vida e carreira, incluindo quando deixou o Brasil aos 19 anos, seu primeiro salário e quando declarou seu amor por Ariane Mnouchkine, fundadora do Théâtre du Soleil.

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SÁBADO, 12 DE NOVEMBRO DE 2011
Mônica Imbuzeiro
Atriz sem
vaidade
JULIANA num intervalo dos ensaios
do Théâtre du Soleil, na Barra
Juliana Carneiro da Cunha, há 20 anos no Théâtre du Soleil, volta à cena carioca
Melina Dalboni “É porque você sonha acordada”, dis- dois cafés, ela revive com olhar intenso e duas filhas recém-nascidas, nos anos 80, e a
O
melina.dalboni@oglobo.com.br se-lhe Gaiarsa. Juliana gostou do diag- gestos vibrantes o dia em que deixou o data em que declarou seu amor pela pri-
nóstico poético. Brasil pela primeira vez, aos 19 anos meira vez para uma mulher, a francesa
s sonhos de Juliana — É dolorido não poder lembrar os (numa viagem de 13 dias de navio, no qual Ariane Mnouchkine, fundadora do Soleil, de
Carneiro da Cunha es- meus sonhos, porque sei que eu voo partiu vestida de branco como uma noi- quem é companheira desde então:
capam feito areia entre enquanto durmo — suspira a atriz, um va), o teste em que dançou para Maurice — Era 29 de dezembro de 1990 quando
os dedos assim que ela dos principais nomes do Théâtre du So- Béjart, em Bruxelas (onde tirou zero em disse a ela que a amava. Eu achava que
desperta. A atriz nunca leil, companhia francesa que está em balé clássico), e seu primeiro salário (no pudesse estar louca, que tinha me apai-
se lembra deles. Até cartaz no Rio pela primeira vez. show “O planeta dos Mutantes”, dirigido xonado pela figura da diretora, mas não —
hoje, aos 62 anos, la- Na vida real, porém, Juliana tem me- por Maria Esther Stockler e no qual ficou conta Juliana. — A Ariane é uma deusa, um
menta os lapsos. Esta mória precisa. Guarda detalhes, datas, amiga de Rita Lee). amor, uma criança que me ama e a quem
ausência da memória onírica ganhou cores, palavras e lembranças da infância, Na entrevista, dada no quintal da casa de amo. Uma mulher com integridade e retidão
explicação do psiquiatra paulista José de sua vida na França e dos bastidores do sua amiga Renata Sorrah, usando saia, ca- moral. Uma pessoa que me apoia em tudo e
Ângelo Gaiarsa, quando Juliana, ainda balé e do teatro como se tivesse decorado misa longa e sandálias de trekking, ela de quem tomo conta, porque ela é muito
adolescente, nos anos 60, participava de um longo texto autobiográfico. repassa também o nascimento dos dois distraída. Ela me ajudou muito a tomar
um sarau, na casa dele, em São Paulo. Entre um cigarro, um copo d’água e filhos, Mathieu e Jeanne, a morte de outras conta dos meus filhos. Página 2