O documento descreve a evolução do ativismo feminista negro no Brasil ao longo do tempo, dividido em três períodos: 1) Emergência dos movimentos de mulheres negras na década de 1980, 2) Institucionalização e profissionalização dos movimentos na década de 1990-2000, 3) Ascensão de novas gerações de feministas negras e pautas interseccionais a partir de 2009.
2. Objetivo
● Os autores Cristiano Rodrigues e Viviane Freitas se propõe a realizar um entendimento
dos repertórios discursivos do movimento feminista negro no Brasil ao longo do tempo
● Dividiram o artigo em três tempos
○ Emergência do Movimento de Mulheres Negras (MMN) nos anos 1980
○ As mudanças nos repertórios discursivos no movimento feminista negro nos anos
1990 e 2000
○ As intensificações das mobilizações de rua na década de 2010
4. Movimento negro e movimento feminista
● Na década de 1970, os movimentos negro e feminista já estavam organizados no país
● As mulheres negras não se viam representadas em nenhum dos dois
○ As visões desses movimentos eram generalizantes
● Mulheres negras se dividiam numa dupla militância, participando do movimento negro e do movimento feminista
● Naquele período, havia grande influência do marxismo na academia e no ativismo brasileiro
○ Davam mais ênfase a debates de classe, deixando em segundo planos discussões sobre raça e gênero
● Questões relativas às mulheres negras eram consideradas divisionistas pelos movimentos negro e de esquerda
● O debate sobre interseccionalidade - gênero, raça e classe - já era conhecido e uma das pessoas que pensava esse
conceito no Brasil era Lélia Gonzalez
5. Surgimento de vários grupos de mulheres negras
● Em 1975, Lélia Gonzalez e suas companheiras apresentaram O Manifesto das Mulheres Negras no
Congresso de Mulheres Brasileiras
○ Se manifestavam contra o “feminismo branco hegemônico”
● Nos anos seguintes, houve a formação de vários grupos de mulheres negras pelo país
○ Nzinga: Coletivo de mulheres negras (1983, RJ)
○ Geledés: Instituto da mulher negra (1988, SP)
○ Mãe Andressa (1986, MA)
○ Mulheres Negras do Espírito Santo (1987, ES)
● Foi a partir dos anos 1980 que os movimentos começaram a estabelecer maior autonomia em relação
ao movimento feminista e negro
6. Participa quem pode pagar
● Em 1985, ocorreu em Bertioga-SP, o III Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe
● Um grupo de mulheres negras ligadas a movimentos de bairros (favelas e periferias),
vindas do Rio de Janeiro foram impedidas de participar
○ Elas não tinham dinheiro para a inscrição no evento
○ Acamparam em frente ao hotel onde o evento aconteceu, gerando muito conflito
● A partir desse momento, feministas negras passaram a considerar a necessidade de um
movimento feminista negro autonomo e organizado
7. O Primeiro Encontro de Mulheres Negras
● Em 1988 foi realizado o I Encontro de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro
○ Reuniu 450 mulheres de 17 estados do país
○ Nem todas as participantes vinham de organizações declaradamente feministas
● Discutiram temáticas diretamente relacionadas ao cotidiano das mulheres negras:
○ Organizações da sociedade civil
○ Trabalho
○ Educação
○ Legislação
○ Mito da ideologia racial
○ Ideologia do embranquecimento
8. Nzinga Informativo
● Foi um jornal criado pelo coletivo Nzinga
● Circulou entre junho/1985 e março/1989 em cinco edições de periodicidade irregular
● Gonzalez, foi a primeira coordenadora do jornal (1985) e salientava que a sede na
Associação do Morro dos Cabritos, zona oeste do Rio de Janeiro, numa aproximação com
o movimento negro e o movimento de favelas
● As fundadoras do jornal eram originárias principalmente do movimento negro e do
movimento de favelas
9. Diretrizes do jornal
“O questionamento do coletivo e do jornal, consequentemente, sobre a divisão sexual do
trabalho e as diversas outras opressões sofridas pelas mulheres é pautado na percepção de
que tudo que foi ensinado às mulheres como natural da condição feminina resulta de fatores
socioculturais que deveriam, portanto, ser entendidos como questões de natureza política.”
(RODRIGUES, FREITAS; 2021, p. 8)
● Também trataram de questões relacionadas à violência contra a mulher, saúde,
remuneração
● Se denominaram um coletivo de mulheres negras, que pretendia lutar contra o sexismo, o
machismo e o racismo na sociedade brasileira
10. O legado da agenda do coletivo Nzinga
● A interseccionalidade entre as temáticas de gênero, raça e classe tornaram-se pilares do
movimento feminista negro
● A agenda defendida pelo coletivo Nzinga perdura até os dias atuais
12. Advocacy institucional e novas articulações dos
campos feministas e antirracistas (p.12)
● Fase de institucionalização e profissionalização
● Forte participação em eventos nacionais e internacionais
● Participação e influência em Políticas Públicas
13. Contexto
“novas articulações dos campos feministas e antirracistas, pode ser observado a partir de:
(i) reformulação das Constituições de aproximadamente 15 países latino-americanos, [...] ‘giro
multicultural’ no subcontinente (RODRIGUES, 2020; PASCHEL, 2016);
(ii) pluralização e globalização dos feminismos latino-americanos, [..]
(iii) consolidação de redes internacionais de advocacy, que propiciou a alocação de recursos
financeiros e o treinamento de ativistas negras brasileiras.”(p.14)
*advocacy: defender uma causa por meios institucionais visando a formulação de políticas
públicas.
14. Institucionalização e profissionalização
● Formação de ONGs
○ “A multiplicação de organizações não-governamentais (ONGs)
feministas negras (Geledés, Fala Preta!, Criola, Casa de Cultura da
Mulher Negra, Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras de Belo
Horizonte, Maria Mulher, entre outras) “ (p.13)
● Apoio e financiamento e fundações e instituições internacionais;
● Capacitação para ativistas;
15. Forte participação em eventos nacionais e internacionais
● Conferência Internacional de População e Desenvolvimento, 1994, Cairo, Egito.
● III Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Formas
Correlatas de Intolerância (III CMR), 2001, em Durban, África do Sul
16. Conferência Internacional de População e Desenvolvimento, Cairo,1994.
● Seminário Nacional de Políticas e Direitos Reprodutivos, organizado pelo
Geledés, 1993, em Itapecerica da Serra (SP) (p. 14)
● Declaração de Itapecerica da Serra
○ 1ª “construíram uma decisão política interna consensual”, contrapondo-se a posição do
Movimento Negro e Movimento Feminista.
○ 2ª O “ impacto que o foco em saúde e direitos reprodutivos teve no interior das
organizações de mulheres negras daquele momento em diante”
○ 3ª “ Estabeleceu o primeiro e mais importante espaço de interlocução entre organizações de
mulheres negras, o Estado brasileiro, redes internacionais de advocacy e organismos
internacionais.”
17. III Conferência Mundial Contra o Racismo(III CMR),
2001,Durban, África do Sul
● Conferências Preparatórias (PrepCom)
○ . Experiência e institucionalização
● Conferência Preparatória Regional das Américas, ocorrida em Santiago do Chile
○ . a necessidade de “ações afirmativas”,
○ . “os problemas específicos das mulheres negras e as múltiplas formas de discriminação a que estão
submetidas.” (p 21)
● A Declaração e o Programa de Ação de Durban
● Pós- Durban
○ 1ª Campo Teórico: “incorporação do termo interseccionalidade à literatura acadêmica brasileira”
○ 2ª Maior participação institucional, através de espaços de diálogo com o governo.
18. Participação e influência em Políticas Públicas
● Maior permeabilidade para o Movimento de Mulheres Negras e o Movimento Negro durante o governo Lula.
● Criação da “Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM)”(p. 23)e a “Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(SEPPIR)” (p.18) , em 2003.
● Criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra – “Promoção da equidade racial na atenção à saúde” (p.18)
● 2006: Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) (P. 18),
. doenças “prevalentes na população negra”,
. mitigação de de fatores de “exclusão social, como pobreza e escolaridade”,
. racismo institucional no sistema de saúde pública (p. 18- 19).
20. I Encontro de Negras Jovens Feministas (2009, Salvador BA)
↳ ruptura com formatos de ativismo e repertórios discursivos anteriores. (p.28)
“a ascensão das jovens feministas negras e de pautas interseccionais pode ser
creditada aos seguintes fatores:
(i) crescente popularização do paradigma interseccional;
(ii) políticas de ação afirmativa que permitiram maior inclusão de mulheres
negras nas universidades públicas; e
(iii) alteração no modelo interpretativo sobre opressão, com o deslocamento do
eixo analítico de gênero/classe para a tríade racismo-sexismo-
homo/lesbo/transfobia.” (p.29)
21.
22. Coletivo Hip Hop Chama e o Negras Ativas de Belo Horizonte
Desenvolveram campanhas contra o machismo e a favor do empoderamento de mulheres e serviram
de plataforma inicial para que algumas jovens feministas negras vislumbrassem carreiras políticas
23. Aparelha Luzia
Criada em 2016 pela artista plástica e
educadora Erica Malunguinho, segue
esse padrão de feminismo interseccional
voltado à ampliação do debate sobre
raça e gênero, para além da academia ou
de espaços típicos de classe média.
24. O Festival Latinidades
- consolidou-se como mais um significativo espaço de diálogo interseccional.
- foi criado para dar visibilidade ao Dia da Mulher Afro Latino-Americana e
Caribenha.
- desenvolve atividades de cunho intelectual, cultural e artístico, além de
promover formação e capacitação em empreendedorismo, economia criativa e
comunicação.
- É possível compreender o Latinidades como um ponto de articulação entre as
gerações mais antigas e as mais novas,