Este documento discute o investimento social no Reino Unido. Apesar do crescente interesse, o mercado permanece pequeno e dominado por poucos players. Governos podem ajudar a expandi-lo apoiando redes de investidores anjos e fornecendo capital para empresas sociais, mas o desenvolvimento será gradual devido aos desafios técnicos e culturais.
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Artigo/ Tema Actualidade: Neil Reeder | Exit 28_2012 (pt)
1. REVISTA EXIT® 28ª edição “Da Inovação ao Investimento Social: aliados de propósito sustentável” Jan-
Dec 2012
Artigo Actualidade: “Investimento
Social no Reino Unido – Uma
viagem com destino
desconhecido”, Neil Reeder, Fellow
at Young Foundation & Founder of
Heart &and Heart Economics
(London, UK)
Desde Maio de 2010, altura em que a coligação de Conservadores/ Liberais Democratas chegou ao
poder no Reino Unido, têm havido tentativas enérgicas para fazer cortes na despesa pública. Em
simultâneo, o novo governo foi perspicaz ao focar-se mais nos “resultados” das suas políticas de
aquisições, passando a efectuar contractos que premeiam o sucesso no cumprimento dos objectivos,
restringindo o financiamento se estes não forem alcançados.
O investimento social – com a sua combinação de retorno social e financeiro para os investidores – tem
atraído muito interesse neste novo contexto político. Está a aumentar a oferta de uma série de produtos
financeiros sociais, dos empréstimos com taxas de juro reduzidas a taxas sub-comerciais, passando por
produtos mais arriscados que mimetizam o valor.
Claramente, há um grande interesse entre os fornecedores pelo investimento social. Tal é visto como
um caminho para alcançar a melhor sociedade que as empresas sociais e os empreendedores sociais tão
apaixonadamente desejam ver. Tal como com os fundos ”up-front”, os empreendedores vêem um
bónus extra num risco mais baixo percepcionado da “interferência” na forma como operam.
Ainda assim, o mercado do investimento social é pequeno e dominado por poucos e grandes players.
O “Lightning The Touchpaper”, um relatório de 2011 da autoria da Young Foundation e do Boston
Consulting Group sobre uma perspectiva global do mercado do investimento social no Reino Unido,
reportou uma escala total de 165 milhões de libras de investimento em 2010, dominado por um
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2. empréstimo assegurado por 4 bancos sociais. Deste montante, apenas 5% foram categorizados como
capital próprio ou equiparados a capital próprio.
Um outro relatório de 2011 realizado pela Young Foundation – o “Growing Interest”, centrado no
investimento social nos serviços para jovens – concluiu que menos de 1 em 10 organizações no sector
estava preparada para o investimento social. Ainda assim, estas organizações estavam apenas
preparadas para contractos equivalentes a uma pequena proporção da sua facturação.
O que pode ser feito, então?
Um fundo pioneiro importante para a divulgação do papel do investimento social foi o Big Society
Finance Fund, estabelecido pela NESTA em 2010. O seu objectivo passou por apoiar produtos de
investimento inovadores, apresentando as várias possibilidades a um leque mais vasto de financiadores,
bem como as acções em destaque que os decisores poderiam executar para melhorar as perspectivas
para a sua agenda.
O fundo da NESTA apoiou finalmente 20 projectos-piloto, incluindo:
• “Abundance” – um programa de investimento de “finança democrática”, permitindo às
comunidades e ao público em geral investir no domínio da energia renovável;
• O programa “Charity Bank Medium Term Note” – um regime de obrigações para denominações
de 25 mil libras e montantes usados para apoiar grandes instituições de solidariedade e
empresas sociais, organizado pela Investing for Good;
• O fundo “Social Impact Co-Investment”. Este irá providenciar, em primeiro lugar, empréstimos
entre 25 mil libras e 10 mil libras para capacitar empresas. Este fundo irá encorajar a
participação activa de “business angels” que tragam consigo competências, experiência e
contactos para o negócio.
Um dos outros planos que atraíram interesse foi o “London Partnership”, uma empresa de interesse
comunitário, projectada para reduzir os maus resultados entre aqueles que estão a enfrentar a exclusão
social, trazendo pessoal de várias organizações, incluindo o Departamento de Saúde, as autoridades
locais e o Serviço Nacional de Saúde.
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3. O que é transversal a este conjunto de projectos é a diversidade de tipos de investimento social, bem
como a miríade de agendas nas quais esta abordagem pode ser aplicada – da educação ao apoio ao
emprego, dos cuidados de saúde à habitação social.
No entanto, como os relatórios “Lighting the Touchpaper” e “Growing Interest” esclarecem, os
investimentos-piloto e o mercado do investimento social estão ainda agora a dar os primeiros passos.
Ainda não conseguimos vislumbrar as elevadas taxas de retorno que trarão consigo grandes volumes de
financiamento do sector privado, bem como do investimento social. Os casos dos investimentos-piloto
da NESTA, tal como a experiência do plano Peterborough Social Impact Bond, onde as taxas máximas de
retorno foram estancadas, indicam que as taxas de retorno esperadas e disponíveis para investidores
sociais situam-se frequentemente abaixo das taxas de retorno comerciais.
Esta situação apresenta um desafio importante aos impacientes por grandes tranches de fundos
comerciais para entrar no mercado do investimento social. Por contraste, os investimentos-piloto
requerem particularmente financiadores que desejem arriscar, e ver taxas de retorno relativamente
baixas, mesmo depois de vários anos. O investimento social tende a não ser uma receita para um
sucesso retumbante.
O que mais precisa de acontecer?
Os governos têm um papel importante a desempenhar em determinar o crescimento do mercado do
investimento social. O “Strenghtening social innovation in Europe: funding and financing”, um relatório
que está a ser preparado sobre a Inovação Social na Europa, esboça ideias-chave de como a intervenção
pode fazer uma grande diferença – por um custo reduzido, comparativamente.
Uma destas intervenções é a chamada “Angel Networks” para empresas sociais (social ventures). Um
investidor “angel” é um indivíduo rico que providencia capital para uma “start-up”, habitualmente em
troca de dívida convertível ou capitais próprios. As redes de “business angels” permitem-lhes partilhar o
seu capital de investimento, mas estes são frequentemente constrangidos a investir em
empreendimentos sociais. O Fundo Europeu de Investimento pode, contudo, transformar a “paisagem
dos “social angels’”, mesmo com investimentos relativamente reduzidos, na ordem dos 5 a 10 milhões
de euros.
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4. Uma segunda maneira de fazer crescer o investimento social é, por intermédio do capital de
crescimento para empresas sociais, providenciar serviços públicos. Idealmente, haveria um Fundo de
Ideias, um Fundo de Protótipo, um Fundo de Implementação e um Fundo de Escala, alinhando recursos
de uma série de fontes, incluindo o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e o Banco Europeu de
Investimento. Um plano de investimento como este providenciaria o capital de desenvolvimento que é
bastante necessário – agindo para assegurar que objectivos estratégicos mais amplos de construir
conhecimento, boa vontade e capacidade dentro do mercado do investimento social são cumpridos,
enquanto se reconhece que as perspectivas de retorno são incertas.
Um terceiro, e ainda mais importante papel, é o do cliente que paga pelos resultados. Para aceder a
investimento de capital social em taxas realistas, qualquer empresa social ou instituição de
solidariedade social necessita de um comprador inequívoco que possa – e vá – pagar pelos seus
serviços. A agenda de obrigações do impacto social tem sido relativamente lenta a fazer progressos,
apesar de muito interesse, em parte devido ao número relativamente reduzido de recursos que os
departamentos governamentais estão dispostos a gastar neste caminho, comparado com a abordagem
habitual de concessão de bolsas e de contratar por rendimento.
Ao mesmo tempo, os investidores precisam de melhorar a sua actuação. Pode ser uma transição difícil
mudar de uma abordagem através da qual o doador de bolsas específica os rendimentos, para uma
outra na qual os investidores sociais escrutinem a capacidade organizacional e a base do conhecimento
no alcance dos resultados. A capacidade de demonstrar impacto e valor é vital, e está a tornar-se ainda
mais importante. Os financiadores e os organismos profissionais têm um papel-chave a desempenhar,
não apenas forjando o consenso em avaliações de um resultado específico e benchmarks associados,
mas tornando também a análise de valor acrescentado bem mais fácil.
Os intermediários também podem desempenhar um papel importante apoiando uma capacidade
analítica mais forte. Ainda há um dilema do género “galinha e ovo”. Os intermediários não estão aptos
para desempenhar uma função de apoio a investimentos sociais sem financiar; os fornecedores não
estão aptos a pagar aos intermediários sem aceder aos recursos que o investimento social pode trazer.
Esta “infra-estrutura de mercado” geralmente não é monitorizada pelos governos – ao falhar essa
monitorização, é travada fortemente a capacidade para estruturar negociações apropriadas e oportunas
entre os investidores sociais e os riscos sociais.
Investimento social será um processo lento – e haverá algumas decepções
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5. A paixão de tantos empreendedores sociais e organizações de solidariedade social em fazer a diferença
junto dos mais necessitados não está posta em dúvida. O investimento social é uma ferramenta que
pode apoiá-los e as expectativas de crescimento no mercado são altas. De acordo com o relatório
“Lighting the Touchpaper”, 75% dos intermediários do fundo de investimento social planeiam expandir
os seus fundos em cerca de 35% ao ano, durante os próximos 3 anos. Isto equivale a um capital
adicional de 650 milhões de libras para o Reino Unido.
Em contrapartida, a análise da NESTA sugere que o desenvolvimento deste mercado não será rápido e é
provável que esta mudança dure uma década ou mais. Tal está mais em sintonia com a experiência de
obrigações de impacto social no Reino Unido, que demorou 18 meses a mudar de um plano para uma
mão cheia de projectos. As dificuldades técnicas nas métricas têm sido difíceis de ultrapassar; e a cultura
adversa ao risco nos serviços públicos, na qual as aquisições com base nos rendimentos são vistas como
uma melhor garantia, é ainda mais difícil de mudar.
Actualmente não é claro que visão irá vencer. Certamente há ainda expectativas muito diferentes entre
os players – vários no sector privado procuram um retorno elevado para um baixo risco, enquanto os
agentes do sector público querem um baixo retorno para os investidores e um risco elevado. Um
desfecho, no qual o investimento social não é uma panaceia, mas uma alavanca útil para uma
focalização maior nos resultados e um maior profissionalismo na análise, parece ser o mais provável.
Ler versão original (EN) e completa da Revista EXIT 28ª edição Jan-Dez 2012:
http://issuu.com/dianovaportugal/docs/exit_magazine_28_jandec2012_dianova
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