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Objeto em cena
Adriana Karen Brandão dos Santos
Daniel Azedo Santos
Débora Sara Gomes de Oliveira
Joyce Aparecida da Silva
Yasmin de Souza Ribeiro
Resumo
Este artigo tem como base o espetáculo “Não Aperte o Botão”, concebido pela turma de
formandos de 2013 do curso Técnico em Dança da ETEC de Artes situado no edifício
do antigo Carandiru, na Avenida Cruzeiro do Sul, 2630 em Santana centro de São
Paulo. Trata-se do objeto em cena e sua intervenção no jogo, como este se relaciona
com o público e com os bailarinos. Sendo o principal objeto de estudo: o botão, é
também relatado em seu contexto histórico e a reação causada no público ao ser
acionado. O objetivo do presente artigo é registrar o modo que o objeto se insere em
cena, destacando a relação lúdica do mesmo dentro do espetáculo. Este trabalho teve
como base inicial as reflexões formadas a partir do estudo do livro Hommo Ludens
(2000), de Johan Huizinga. Posteriormente, foram utilizadas entrevistas com os
bailarinos e com o público e outros artigos relacionados a brinquedos e brincadeiras,
além do documentário da Discovery Channel: “A Era do Video Game”. Visões e
reflexões foram analisadas para que o artigo fosse desenvolvido não somente com uma
concepção de técnicos em dança, mas também a partir do olhar do espectador perante o
espetáculo referido.
Palavras- Chave: Objeto Cênico. Botão. Relação. Jogo. Cena
Introdução
Ao refletirem sobre o ato de brincar/jogar, os alunos do terceiro módulo A, do curso
Técnico em Dança, no segundo semestre de 2012 e primeiro semestre de 2013, foram
instigados pelas análises que Huizinga (2000) faz em relação ao jogo, e assim optaram
por criar um espetáculo baseado em suas ideias, com improvisações e jogos em cena.
Vivenciar brincadeiras, jogos que jogamos quando éramos crianças, sensações que
jamais havíamos sentido, ou que simplesmente estavam guardadas em uma caixinha de
lembranças, competição. Quem pega primeiro, ou quem se escondeu? De acordo com
Huizinga “o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária... acompanhado de um
sentimento de tensão e de alegria”. (2000:33)
2
Contentamento foi um dos sentimentos aflorados em nossos laboratórios coreográficos.
Pensando em fazer um espetáculo de dança que surgisse do jogo rumo a um produto
final, os alunos do 3º Módulo de dança vivenciaram alguns jogos/ competições de
mutua colaboração e outros de ganho individual. Foram jogos e brincadeiras vividas
quando na aurora da infância e trazidas à tona como um estudo corporal.
“Chegamos, assim, à primeira das características fundamentais do jogo: o fato de ser
livre, de ser ele próprio liberdade. Uma segunda característica, intimamente ligada à
primeira, é que o jogo não é vida "corrente" nem vida "real"”. (HUIZINGA,2000:10)
E porque não falar sobre o brinquedo? Ou quem sabe o objeto utilizado em cena? Ideias
surgem, lembranças reaparecem:
Para que haja um espetáculo de jogo com uma proposta diferenciada, se faz necessário
que o artigo científico, que traz embasamento para a composição, seja também algo
novo. Portanto, o artigo a seguir é dividido em subtítulos, onde o leitor pode se sentir a
vontade para escolher por onde começar sua leitura, pois nenhum texto depende do
outro para compreender a linha de raciocínio sobre o objeto de estudo deste grupo. Cada
texto será concluído nele mesmo, ficará por conta de sua curiosidade terminar de ler
todos os tópicos que traremos aqui. Além do mais, tudo faz parte de um grande jogo,
então quem decide como e por onde começar a trilhar sua leitura é quem tira no dois ou
um, ou par ou ímpar? O que você nosso leitor quer? Par ou Ímpar? Ímpar. Queremos...
Par!
Nosso
Espetáculo
Brinquedos
Poeira
Alegria
Sensação
Revivida
Compartilhar
Experiências
3
Deu Ímpar! Então... Você escolhe por onde quer começar sua leitura!
Agora, vire a página, e siga suas escolhas! Vamos a leitura! 1, 2, 3, Já!!
Numere os
circulos de 1
a 5 na ordem
que você
quiser!
( )
( )
( )( )
( )
4
Objeto
em
cena
Os
bailarinos
(p. 17)
O público
(p. 13)
O botão
(p. 5)
O jogo
(p. 9)
Através
das lentes
(p. 20)
5
Objeto em cena: O Botão
Diversas foram as discussões sobre jogos e brincadeiras, até que em um determinado
dia, uma de nossas colegas de sala do curso Técnico em Dança citou uma “pegadinha”
realizada por uma emissora de televisão. Explicou que a “pegadinha” acontecia quando
alguém se sentia instigado a acionar o botão que se localizava no centro de uma praça;
quando esse botão era acionado por um indivíduo que por ali passava, figurantes que
estavam próximos a este caiam, deixando o individuo que acionou o botão espantado e
confuso, pois numa fração de segundos percebia que ao acionar o botão (ação) tinha
provocado uma reação, ou seja, produzido um acontecimento totalmente inesperado e
sobre o qual não tinha nenhum controle.
A partir daí houve um “BUMMM” de ideias do grupo, começamos a pensar como essa
“pegadinha” poderia se transformar em um processo criativo, com o auxílio do
documentário da Discovery Channel sobre a Era do Vídeo Game1
e após a leitura do
livro “Homo Ludens” de Johan Huizinga. O objetivo do documentário era falar sobre o
surgimento e a evolução do vídeo game e o que mais chamou a atenção da turma foi o
inicio do documentário que mostra a criação do vídeo game aliada a concepção de
materiais bélicos para as Grandes Guerras Mundiais. Já o livro de Huizinga nos trouxe
apoio histórico quanto ao surgimento do jogo, seu significado e relação com arte e
cultura. Encontramos então embasamento para a proposta de criação de espetáculo do
grupo, e chegamos ao ponto onde decidimos que o botão seria o objeto protagonista do
nosso espetáculo.
Sendo assim, a busca pelo significado do objeto escolhido para protagonizar o
espetáculo foi constante: apertar, pressionar, ajustar, fixar, entre outras funções; essas
são algumas delas dadas para esse objeto normalmente redondo. De acordo com o
minidicionário Aurélio: “Botão: Pequena saliência que, nos vegetais, origina novos
ramos, folhas ou flores. A flor antes de desabrochar. Pequena peça que se usa para
1
O vídeo cientifico, “Era do Video Game” (2007), transmitido pelo canal Discovery Channel, mostra que
a Guerra Fria evoluiu rapidamente entre os super poderes dos EUA e da União Soviética, onde a
tecnologia foi utilizada para criar simulações de mísseis e prever os resultados de uma guerra nuclear.
Essa mesma tecnologia da computação foi utilizada para desenvolver o primeiro jogo de computador em
1958. Steve Russel, Nolan Bushnell, Ralph Baer e Toru Iwatani são alguns dos principais nomes da
histórias dos videogames apresentados no vídeo. (disponível em:
http://projetojogatina.wordpress.com/2011/11/23/a-era-do-videogame-documentario/).
6
fechar o vestuário, fazendo – a entrar numa casa, e também como ornato. Bola que se
põe na ponta do floreto para a estocada não ferir”. (2001: 106)
Entende-se, então, que existem muitos botões, que variam conforme sua função, seja
para ajustar uma roupa ao corpo, para enfeitar algo, seja uma rosa que ainda não
desabrochou ou apenas um “enter”, um iniciar de alguma atividade, provocador de
mudanças em ambientes, no caso do espetáculo “Não Aperte o Botão”. O intuito é de
que esse objeto não seja apenas uma figura que complemente o cenário, mas sim o
causador de grande curiosidade.
Conforme o documentário da Discovery Channel, durante a guerra o objeto botão era
símbolo de perigo, do lançamento de mísseis, de bombas, de ataques, e por isso causava
certa tensão e medo nas pessoas. A presença de um objeto a ser pressionado dava a
sensação de que a qualquer momento alguma coisa poderia acontecer, sair do controle.
Buscamos esta sensação durante o processo de criação e a apresentação do espetáculo,
pois quando se aciona o botão, a cena é finalizada e acontece um momento de interação
com o público. Os bailarinos, mesmo sabendo que ao apertar o botão deve-se de fato
jogar algo com o espectador, têm reações diferentes, uns entram em estado de prontidão
enquanto outros se sentem perdidos.
“O Botão gera em mim um estado de alerta, porque ele
pode ser acionado a qualquer momento. O botão, para
mim, é algo imprevisível, podendo transformar 30
minutos de espetáculo em 1 hora e 20 minutos. Ele
conecta e desconecta as cenas do espetáculo. O acionar
do botão é feito tanto pelo bailarino quanto pelo público.
O que move esse acionar é a vontade”, diz Harrison
Rodrigues, bailarino no espetáculo “Não Aperte o Botão”
– Formando da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico
em Dança de 2013
Enquanto Érika Gold Faria, também bailarina no espetáculo “Não Aperte o Botão” –
Formanda da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013, diz: “O botão
vermelho me gera desconforto. Porque eu nunca sei quando ele será acionado”.
“Cada corpo estabelece e cria relações diferentes diante
dos mesmos brinquedos, jogos e brincadeiras. Isso se dá
basicamente pelo fato de não “termos”, mas sim de
“sermos” um corpo, pelo fato de sermos nossos corpos.
Nossos corpos são o que somos. Somos o que os nossos
corpos são”. (MARQUES, S/D:155)
7
São reações distintas de pessoas que participaram dos mesmos momentos de criação do
espetáculo. Podemos também pensar em outros fatores que não seja só a timidez, como
a familiarização com o objeto, ou seja, quanto maior a relação que o bailarino criar com
o objeto, a interação com o público, o surgimento do botão em cena e a manifestação
deste após ser apertado, não será motivo de desconforto e espanto por parte dos
propositores das brincadeiras (bailarinos).
O objeto escolhido para análise neste processo de criação é o componente estimulante
para o nosso “brincar”/ “jogar”, como citado no texto “Reflexões sobre o jogo, o
brincar, as brincadeiras e os brinquedos na contemporaneidade” da autora Lira:
“...Enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira. É o
estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. E a
brincadeira? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as
regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o
lúdico em ação...” (KISHIMOTO, 2000: 21 apud LIRA, 2011:
04)
E com essa proposta começaram a ser criadas cenas, trabalhar com o corpo relendo
jogos infantis e interativos já existentes, que podiam partir ou não de um apertar de
botão. Sendo este apertar algo pertencente à vida das pessoas antes do inicio do século
21 conforme dito no documentário da Discovery Channel.
E como instigar as pessoas (público) a acionar o botão, já que nele esta o foco do nosso
trabalho? Olhares estimuladores para o público, um riso contido, um chamar de forma
que seja agradabilíssimo o APERTAR O BOTÃO. “Sacanear”, querer ser o primeiro a
apertar, olhar algo que pode ser muito vermelho e brilhante e com isso despertar
curiosidades para quem ainda não conseguiu ver.
Buscou-se então colocar em prática a proposta citada a cima, inspirados também no
texto de Isabel Marques: “... o CORPO CÊNICO, que é primordialmente LÚDICO,
torna- se também CORPO CIDADÃO: capaz de escolher, criar, participar, criticar e
transformar...” (S/D:166)
8
Dessa forma, temos um dever durante o espetáculo, estimular o espectador a querer
participar, quem sabe apertar o nosso objeto vermelho e transformar tudo o que pode ou
(não estar contido no roteiro de nosso espetáculo.
Buscamos, com o corpo cênico, a interação com o público que é convidado, por meio
do lúdico, a escolher, criar, participar e transformar, provocando-os a observar nossos
estudos corporais, saboreando os momentos que lhes são dados para o compartilhar de
jogos, fazendo com que nosso corpo leve-os a reviver ocasiões que jamais imaginariam,
remetendo-os para este espaço considerado lúdico e propriamente cênico onde mesmo
com as regras podem criar, participar e até mesmo sonhar. E com isso temos como um
de nossos objetivos fazer com que o espectador não deixe que a sua redescoberta se
perca ao final do espetáculo, que suas sensações e lembranças provocadas pelo corpo
cênico, permaneçam presentes durante suas vidas.
9
Objeto em cena: O Jogo
Podemos dizer que o jogo indiretamente ou diretamente, é grande aliado da
sobrevivência humana, ajudando nas conquistas e momentos de descontração.
“Utilizado desde a Grécia antiga para a educação dos jovens, jogos param o tempo e são
a fuga das regras e da moralidade da sociedade, de acordo com Heráclito2
e Nietzsche3
.
Mas esse conceito tem se deturpado na modernidade.” ( BITTENCOURT, 2013:15). O
jogo como sendo algo prazeroso e motivo de descontração, torna-se algo sério. Ao invés
de fugir das regras, o jogador exige de seu adversário honestidade enquanto jogam, deve
haver entre os jogadores nível evidente de igualdade.
O jogo inicia-se e, em determinado momento, "acabou". Joga-se até
que se chegue a um certo fim. Enquanto está decorrendo tudo é
movimento, mudança, alternância, sucessão, associação, separação. E
há, diretamente ligada à sua limitação no tempo, uma outra
característica interessante do jogo, a de fixar imediatamente como
fenômeno cultural. Mesmo depois de o jogo ter chegado ao fim, ele
permanece como uma criação nova do espírito, um tesouro a ser
conservado pela memória. É transmitido, torna-se tradição.
(HUIZINGA, 2000:11)
O jogo é uma atividade instigante, mesmo quando este chega ao fim, o inconsciente de
quem o joga, tem a sensação de que o jogo continua vivo. Esta sensação prazerosa do
ato de jogar faz com que o jogador grave essa experiência, tornando o jogo parte
essencial da sua vida. “...Ao inserir em sua vida o momento temporal da experiência do
jogo, o ser humano estaria simbolicamente representando a sua inserção plena na
própria condição criativa da natureza...” (BITTENCOURT, 2013:17 )
No espetáculo “Não Aperte o Botão”, os jogos têm a função de orientar a maior parte do
espetáculo, pois dentro das propostas contidas nas improvisações/cenas, o maior foco é
simplesmente jogar e além de tudo interagir com quem assiste. Um dos jogos em
especial definirá o início do mesmo: em roda, após alguém da plateia dizer um número,
os bailarinos jogam uma bolinha um para o outro, começando uma contagem regressiva.
Baseado em certa parte do livro “Homo Ludens”, onde Huizinga fala sobre a raiz da
palavra jogo (2000), esta que aparece no sentido de “saltar”, lembra-se da hipótese de
2
Heráclito de Éfeso foi um filósofo pré-socrático considerado o "pai da dialética". Nascimento: 535 a.C,Falecimento: 475 a.C.
3
Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um influente filósofo alemão do século XIX. Nascimento: 15 de outubro de 1844,
Falecimento: 25 de agosto de 1900.
10
Platão segundo a qual o jogo teve origem na necessidade de saltar (Leis, II 653). A
primeira cena se constitui pela reprodução de saltos que lembram o quicar de uma bola.
A partir do exemplo do jogar a bola para o outro para que o espetáculo se inicie,
podemos perceber que o mesmo é composto por jogos de mutua colaboração entre os
participantes, onde o foco é a descontração e a visão de dependência um do outro, a
vitória neste caso será coletiva. Além de jogos de colaboração veremos também jogos
de competição, onde a vitória individual fica evidente e a frustração dos adversários
também.
Segundo Huizinga: “A competição possui todas as características formais e a maior
parte das características funcionais do jogo”(2000:38). Em ambos os casos podemos
dizer que há sempre algum objetivo a ser alcançado, além da sede de vitória dos
jogadores/competidores. Remetemos então a uma das cenas onde há evidente
competição. Como por exemplo, uma cena na qual ocorre uma corrida a partir da
respiração, para quem assiste grande é a expectativa para ver até onde o jogador
conseguirá soltar o ar dos pulmões e correr ao mesmo tempo, e para quem joga o
esforço para ter mais ar que o adversário se torna o foco principal. Neste momento
vemos que o jogo e a competição estão ligados em suas principais características, tanto
um quanto o outro criam a sensação de querer ser melhor que o adversário, tendo como
objetivo ser merecedor do título de vencedor, ou até mesmo, superior, de acordo com o
primeiro capítulo do livro “Homo Ludens” de Huizinga, “o jogo é um fato mais antigo
que a cultura, (...) no jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as
necessidades imediatas da vida e confere um sentido a ação”(2000: 05), ou seja, quando
envolvidos em uma competição ou um jogo, o instinto de quem joga supera qualquer
outra necessidade, e a ação feita pelo jogador só existe porque algo está em jogo; sem
este clima de focar em um objetivo a ser alcançado, não há jogo nem competição.
(...) O que é "ganhar", e o que é que realmente "ganho"? Ganhar
significa manifestar sua superioridade num determinado jogo.
Contudo, a prova desta superioridade tem tendência para conferir ao
vencedor uma aparência de superioridade em geral. Ele ganha alguma
coisa mais do que apenas o jogo enquanto tal. Ganha estima,
conquista honrarias: e estas honrarias e estima imediatamente
concorrem para o benefício do grupo ao qual o vencedor pertence (...)
(HUIZINGA, 2000:40)
11
Quando a sede de ganhar e o espírito de competição não se ausentam, o jogo não acaba
e esse “espírito orgulhoso” não permite que o jogador aceite perder. Nem sempre quem
perde consegue conformar-se, a ânsia pela vitória e o desejo de alcançar a superioridade
muitas vezes superam o espírito competitivo.
Johan Huizinga diz ainda: “E a partir do momento em que um jogo é um espetáculo
belo seu valor cultural torna-se evidente.” (2000:38) É exatamente nesta frase em que
destacamos a relação que o jogo cria quando aparece em cena. Norteados pela
afirmação de Huizinga, que diz: “a cultura surge sob a forma de jogo, que ela é, desde
seus primeiros passos, como que "jogada"” (2000:37) podemos dizer que as cenas serão
“fontes de cultura jogada” pelos bailarinos. Em outras palavras: “...O impulso causado
pelas manifestações do jogo tem como características a necessidade de criar, como
acontece com os artistas e as crianças, em um eterno ato de inventar e destruir, sem
qualquer preocupação moral...” (BITTENCOURT, 2013:18) . O jogo impulsiona à
criação de movimentações corporais, trazendo para cena este impulso lúdico. O corpo
cênico, além da movimentação, estabelece relações complexas que permeiam a arte, a
cultura e a educação.
Como diz Bittencourt em seu artigo na revista Filosofia Ciência e Vida: “Viver a
perspectiva lúdica é viver a satisfação de uma alegria primordial no jogo de criar e
destruir o mundo individualizado, como faria uma criancinha mexendo displicentemente
na areia da praia”(2013:19). Perceber o outro e quebrar a barreira da individualidade,
faz com que a dinâmica do jogo se torne mais evidente: mesmo que haja competição e
sede de vitória, a beleza do jogo transparece quando este não é apenas jogado, mas sim
vivido.
Outra característica que define o espetáculo como sendo um jogo por si só é a limitação
do espaço, ainda por Huizinga encontramos uma afirmação: “Todo jogo se processa e
existe no interior de um campo previamente delimitado, de maneira material ou
imaginária, deliberada ou espontânea”. (2000:11). Podemos dizer que todos os jogos
contidos nas cenas acontecem dentro do limite do centro das cadeiras onde a plateia se
encontra distribuída em volta deste “tabuleiro”, chamado Espaço Cênico, em nosso caso
em forma de palco arena, de modo que quando um bailarino não esta em jogo, ele sai
12
desta zona lúdica (Espaço Cênico) e se senta juntamente com o público, deixando o
jogo acontecer e ser jogado pelos competidores de fato.
Sendo assim, tornando-se público também, estes bailarinos só voltam ao jogo se
retornarem ao espaço delimitado, um código é criado, pois as pessoas começam a
entender que quem entra neste espaço é para se tornar integrante de um jogo e/ou
interferir diretamente no espetáculo.
13
Objeto em cena: O Público
Um dos objetivos do espetáculo “Não Aperte o Botão” é trazer os espectadores para a
cena, de forma que estes criem a interação com o nosso objeto cênico. Para isso, desde a
entrada até o último movimento em cena, é primordial que haja uma relação direta com
o público, seja ela com um olhar, um toque, uma inquietação e até uma provocação para
o apertar do botão.
É proposto, então, que o público tenha sensações diferentes durante o espetáculo, que
este jogue e sinta a essência do espírito lúdico que há em jogar. Isso acontece quando
este – o público – suporta a incerteza e a tensão, ousando e correndo risco ao acionar o
botão.
“E a essência do espírito lúdico é ousar, correr riscos, suportar a incerteza e a tensão. A
tensão aumenta a importância do jogo, e esta intensificação permite ao jogador esquecer
que está apenas jogando.” (HUIZINGA, 2000: 40)
Essa interação acontece de fato ao acionar o nosso principal objeto cênico. A partir do
momento em que alguém do público sai do seu lugar e vai em direção ao botão com a
intenção de apertá-lo, ao mesmo tempo em que se torna um corpo cênico, torna-se corpo
cidadão que, instigado com algum acontecimento em cena, deseja mesmo sem saber,
propiciar mudanças e supostos acontecimentos inesperados. Inicialmente o botão é o
grande enigma do espetáculo, deixando a seguinte questão entre os que o assistem “O
que acontecerá após acionar o Botão?”.
Após nosso primeiro ensaio aberto, escutamos a opinião de alguns espectadores,
“Nunca imaginei que sairia aquele barulho após o apertar do botão...” diz Carlos
Henrique Oliveira Araújo, estudante do primeiro módulo de dança da ETEC de Artes.
Com a interferência direta dos espectadores, o botão chama atenção quando entra em
cena. A partir do momento em que o público está envolvido com o espírito lúdico do
jogo, é despertado neste a curiosidade por saber o que acontecerá ao acionar o botão, a
tensão e ansiedade que este objeto impõe, o prazer e a diversão de participar dos jogos e
ter certo “poder” sobre o espetáculo.
Logo depois da primeira intervenção do público alguns espectadores imaginam o que irá
acontecer da próxima vez que o botão for acionado. A expectativa e tensão do público
14
perante aquele objeto acaba sendo diminuída após algumas interações, segundo Jéssica
Oliveira de Carvalho, formada pela ETEC de Artes no curso técnico de Dança no ano de
2012. Após outras conversas é importante destacar que nem todos pensam da mesma
forma sobre as vezes que o botão é pressionado, pois há também quem diga que ficará
sempre no ar o que irá acontecer da próxima vez. Será que acontecerá o mesmo jogo?
Algo de ruim acontecerá em algum momento?
Percebemos que a localização do botão também interferiu na relação do mesmo com o
espectador, segundo Guilherme Nobre Ferreira, estudante do segundo módulo de dança
da ETEC de Artes: “... Fiquei tentado a apertar o botão em vários momentos, porém não
sabia se era realmente possível, devido a localização do mesmo, pois eu teria que
‘atravessar’ a cena para poder apertá-lo e transformar o que acontecia.” É importante
pensarmos que este receio ao apertar o botão pode ser explicado em alguns aspectos,
além do fator de localização do botão e da individualidade de cada um, timidez ou olhar
de mero espectador sem ser interventor na cena são também justificativas. A sociedade,
embora muito moderna, ainda cria associações ruins em relação ao pressionar um botão.
Isto pode ser explicado devido a marcantes acontecimentos durante a Guerra Fria4
, onde
o destino de nações era definido através do pressionar de um botão.
Tudo começou durante a Guerra Fria, onde as pessoas estavam paranoicas, com medo
de alguém “apertar o botão vermelho” e explodir alguma bomba atômica. Todos se
sentiam impotentes por não ter o controle da situação, de poder apenas assistir.
(DISCOVERY CHANNEL, 2007)
O botão é o objeto central do nosso espetáculo, porém não é o único, incluem-se
também nesta categoria as bolinhas de gude contidas em uma cena de improvisação, a
interação despertada no público foi evidente quando as bolinhas rolavam até suas
cadeiras e estes as seguravam com os pés, devolvendo-as a cena. Além de certa atitude
apresentada por crianças que assistiam ao espetáculo, que começaram a participar
diretamente da cena, mergulhando juntamente com os bailarinos na improvisação,
pegando as bolinhas e saindo do meio onde estavam sendo usadas.
4
A Guerra Fria, que teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União
Soviética (1991) é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos
indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, disputando a hegemonia política, econômica e
militar no mundo. É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as superpotências, dada a
inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear
15
O deslumbramento criado pelas bolinhas de gude não é o único chamariz dos olhares, a
movimentação dos corpos na improvisação complementa os efeitos causados por estas
em cena, estabelecendo relações entre objeto e corpo. Sobre isso Huizinga cita em seu
livro Homo Ludens: “O popular ditado holandês segundo o qual "o que importa não são
as bolas de gude, mas o jogo"”. (2000:39). Neste momento a bolinha de gude colocada
sozinha em cena não seria a mesma coisa. Se não houvesse uma dinâmica de jogo e
improvisação, não haveria tanta relação com o público.
Analisando mais cenas do espetáculo, em especial o “show” de comédia dos dois
palhaços e as brincadeiras com “botões” pelo corpo, aparece mais um objeto, o nariz
vermelho. O público neste momento não faz interação direta, o nariz se transforma em
botão, mas quem assiste desta vez olha apenas de fora. “O público sabe o que é um
palhaço, e sabe o que esperar dele. Sua resposta dá a exata medida do sucesso ou não de
uma gag5
, gesto ou brincadeira” (S/D: 02) diz Souza no texto “Criação e aprendizado na
tradição do palhaço de circo”. O nariz vermelho é a mascara do palhaço, o objeto em si
caracteriza o personagem da cena, e instiga o apertar do botão, se o gesto e as
brincadeiras dos palhaços não atingirem a expectativa do público, o acionar dificilmente
irá acontecer neste momento do espetáculo.
“O nariz vermelho, o palhaço em si, foi sempre uma
personagem que me despertava algo mágico, lúdico,
onde o “brincar”, “fazer de conta” se torna possível,
sem medo de recriminações e melhor ainda arrancar
sorrisos de pessoas. E o que seria do palhaço sem o
nariz vermelho? Afinal é a menor mascara existente e
que pode na minha opinião curar não só a saúde mas
os corações, a alma das pessoas. Enfim acredito que o
nariz vermelhinho de um palhaço é simplesmente a
magia, a poesia, que transforma ambientes, situações,
pessoas.”Joyce Aparecida da Silva – bailarina no
espetáculo “Não Aperte o Botão” e interpreta o
palhaço no mesmo espetáculo – Formanda da Turma
do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança do 1º
Semestre de 2013
Novamente no texto de Souza notamos a seguinte afirmação: “Ser palhaço é estar
inserido num corpo coletivo, ancestral, é viver este corpo de forma presente e única. Se,
por um lado, as ações (e reações) podem ser organizadas de maneira completamente
5
Gag: Piada, dito espirituoso, efeito cômico (portanto, não só palavra: pode ser um gesto ou situação),
geralmente muito curto (no jargão do teatro, “caco”).
16
diferente a cada apresentação, por outro a improvisação é rigorosamente codificada...”
(S/D: 01). O público passa a enxergar o palhaço a partir do momento que este coloca
sua maior caracterização, o nariz vermelho, e mesmo sem perceber é este que sustentará
a cena juntamente com a improvisação, o palhaço se torna palhaço quando presente em
cena de forma que passe verdade para o público, a alma do palhaço é seu nariz sendo ele
o símbolo da personagem palhaço. Para que haja a magia da personagem, o modo de ser
é o que lhe faz engraçado, essa é a maior característica do palhaço. Ele mesmo é a
própria piada.
17
Objeto em cena: Os bailarinos
Sabe a sensação e o cheiro de um brinquedo novo? A emoção e ansiedade de abrir uma
caixa de algum jogo de tabuleiro e convidar os amigos para jogar e ver quem vai
ganhar. Expectativa, ansiedade, alegria, irritação, brigas, euforia, êxtase.
A nossa vontade é a de abrir primeiro a caixa, de convidar alguém para jogar e de
ganhar o jogo e ser aplaudido por esse momento, assim como afirma Huizinga quando
diz em seu texto que: “O que é primordial é o desejo de ser melhor que os outros, de ser
o primeiro a ser festejado por esse fato”. (2000:40). No Espetáculo “Não aperte o
Botão”, os brinquedos dos bailarinos, são nada mais nada menos que os elementos
cênicos escolhidos após muitas experimentações corporais de jogos/ brincadeiras.
E a escolha de colocar um objeto no centro do espaço cênico do qual os bailarinos estão
desenvolvendo a prática corporal, foi exatamente para que instigasse o bailarino e até
mesmo o público a serem impulsionados a brincar, a jogar. Afinal “os objetos têm um
valor sagrado e são dotados de virtudes mágicas, e cada um possui uma história...”
(Huizinga 2000: 48).
“E a partir dos objetos os meus movimentos são alterados e transformados, ganhando
outro significado”, diz Harrison Rodrigues, bailarino no espetáculo “Não Aperte o
Botão” – Formando da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013.
A influência causada pelo objeto nos bailarinos foi muito perceptível durante todo
processo criativo. Por exemplo, antes que o botão que compõe o espetáculo estivesse
pronto, nós usávamos um caderno em seu lugar. Notou-se a indiferença obtida por
aqueles que estavam em cena, o botão era pouco lembrado, o caderno estava como algo
que preenchia um espaço vazio, mas que em muitos momentos, como no suposto
"acionar" da buzina não fazia nenhum sentido.
Quando os objetos reais foram colocados em cena, os bailarinos começaram a entender
as influências destes objetos em sua dança e os reflexos que lhes trouxeram ao corpo.
Ainda em uma conversa com o bailarino Harrison Rodrigues, ele nos diz: “Os objetos
cênicos, inclusive o botão, me impulsionam a brincar, no caso das bolinhas de gude, eu
rolo como elas. No caso da bolinha inicial (contagem regressiva) eu imagino que seja
uma batata quente, que precisa ser passada de mão em mão. Os objetos atingem o meu
imaginário e me impulsionam para a brincadeira”. Vemos quão longe vai a imaginação
18
de quem se relaciona de verdade com o objeto, e que este pode ser um estopim para
novas margens de improvisação e interação com o público.
“O botão me gera expectativa. Desde a infância
tenho muitas vivências com jogos de videogame,
por essa questão de um acionar de botão gerar uma
reação. Em relação aos outros objetos cênicos me
sinto incomodado, pois geram uma poluição visual.
Porém, estes influenciam em minhas
movimentações corporais, pois a partir do
momento que eu tenho um objeto em cena, eu
tenho que interagir com este para que ele não se
torne um objeto morto”. Túlio Bezerra Coelho –
bailarino no espetáculo “Não Aperte o Botão” –
Formando da Turma do 3º Módulo do Curso
Técnico em Dança de 2013
Dar vida aos objetos colocados em cena é um desafio para o bailarino propositor de
brincadeiras, ele é o responsável por instigar o espectador a acionar o botão e mesmo
que não consiga se familiarizar com os objetos cênicos é necessário que crie algum tipo
de relação. Como o relato do bailarino Túlio Bezerra, citado acima. No caso do botão,
Túlio consegue relacionar-se melhor, pois tráz consigo vivências de jogos de vídeo
game, são perceptíveis então diferentes olhares para um mesmo objeto, pois diferem-se
os corpos que se relacionam com o mesmo. No espetáculo “Não Aperte o Botão” é
importante que os bailarinos revivam juntamente com o público, sensações passadas, o
dever de quem esta dentro do “tabuleiro” jogando (bailarinos) é expressar satisfação e
verdade para que quem esta de fora (público) queira entrar.
O objeto/ protagonista do Espetáculo “Não aperte o Botão” que possui 1 metro de altura
por de 60 de largura acabou se tornando algo que cria expectativas entre bailarinos,
transforma o ambiente de apresentação e causa se acionado momentos de interação,
pois, o objeto quanto intervenção nos jogos do espetáculo “é usado para certas
operações ou manipulações...” (PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro 2007:265). Cada
corpo se move e age de forma diferente perante a manipulação do objeto. Cada corpo é
um corpo, e mesmo que haja exatamente a mesma dedicação por parte dos bailarinos, as
vivências e individualidade de cada um irão ficar evidentes quando apresentadas suas
impressões.
19
O texto “O Lúdico na prática Pedagógica” remete uma importante afirmação: “Corpos
neles mesmos e por eles mesmos já brincam, jogam, inter-relacionam-se brincando e
jogando. O jogo e a brincadeira podem ser o próprio corpo.” (MARQUES, S/D:159).
Este é o caso de Érika Gold Faria, também bailarina no espetáculo “Não Aperte o
Botão!” – Formanda da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013, ela
diz: “...Quanto aos outros objetos cênicos eu não os percebo. Porém, todos eles
redobram a minha atenção ao meu movimento. Fazendo com que eu não me movimente
livremente.” O corpo “fala mais alto” e desenvolve uma dinâmica onde se preocupa
com o que está ao redor, onde pisar e como se movimentar, tornam-se regras, e a
brincadeira mesmo intrínseca acontece, pode ser ou não uma brincadeira divertida, mas
acaba tendo dinâmica e preocupação de jogo, onde o corpo se preocupa em não errar
pois, pode colocar tudo a perder.
20
Objeto em cena:
21
22
Referências Bibliográficas:
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. O Jogo Como Elemento da Cultura. Título
Original: Homo Ludens – vom Unprung der Kultur im Spiel. Tradução: João Paulo
Monteiro. 4ª edição – reimpressão. Direitos reservados em língua portuguesa à
EDITORA PERPECTIVA S.A, 2000.
LIRA, Aliandra Cristina Mesomo. REFLEXÕES SOBRE O JOGO, O BRINCAR, AS
BRINCADEIRAS E OS BRINQUEDOS NA CONTEMPORANEIDADE.
UNICENTRO/PR, 2011
Disponível em:
http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4542_2437.pdf
Acessado em: 20/05/13
DOCUMENTÁRIO, Discovery Channel. A Era do Vídeo Game, 2007
Disponível em:
http://projetojogatina.wordpress.com/2011/11/23/a-era-do-videogame-documentario/
Acessado em: 05/04/2013
MARQUES, Isabel. Corpos lúdicos: Corpos que brincam e jogam in O Lúdico na
Prática Pedagógica. Material disponibilizado pela autora no curso de dança para
professores Coreológicas Ludus de Novembro de 2009
Disponível em:
http://xa.yimg.com/kq/groups/22716894/568180836/name/O
Acessado em: 23/05/2013
PAVIS, Patrice. DICIONÁRIO DE TEATRO. Tradução para a Língua portuguesa sob a
direção de J.Guinburg e Maria Lúcia Pereira 3ª Edição – São Paulo: Perspectiva 2007
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário Aurélio Século XXI - O
minidicionário da língua portuguesa, 4º edição 2001 - Editora Nova Fronteira
23
SOUZA, Cláudia Funchal Valente. CRIAÇÃO E APRENDIZADO NA TRADIÇÃO
DO PALHAÇO DE CIRCO.
Universidade Estadual Paulista – UNESP, S/D
Disponível em:
http://www.portalabrace.org/vcongresso/textos/dramaturgia/Claudia%20Funchal%20Va
lente%20de%20Souza%20-
%20CRIACAO%20E%20APRENDIZADO%20NA%20TRADICAO%20DO%20PAL
HACO%20DE%20CIRCO.pdf
Acessado em: 22/05/2013
BITTENCOURT, Renato Nunes. O LÚDICO PARA QUESTIONAR in Revista
filosofia Ciência e Vida - Editora Escala -VII Nº82 Edição de maio 2013

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Artigo objeto

  • 1. Objeto em cena Adriana Karen Brandão dos Santos Daniel Azedo Santos Débora Sara Gomes de Oliveira Joyce Aparecida da Silva Yasmin de Souza Ribeiro Resumo Este artigo tem como base o espetáculo “Não Aperte o Botão”, concebido pela turma de formandos de 2013 do curso Técnico em Dança da ETEC de Artes situado no edifício do antigo Carandiru, na Avenida Cruzeiro do Sul, 2630 em Santana centro de São Paulo. Trata-se do objeto em cena e sua intervenção no jogo, como este se relaciona com o público e com os bailarinos. Sendo o principal objeto de estudo: o botão, é também relatado em seu contexto histórico e a reação causada no público ao ser acionado. O objetivo do presente artigo é registrar o modo que o objeto se insere em cena, destacando a relação lúdica do mesmo dentro do espetáculo. Este trabalho teve como base inicial as reflexões formadas a partir do estudo do livro Hommo Ludens (2000), de Johan Huizinga. Posteriormente, foram utilizadas entrevistas com os bailarinos e com o público e outros artigos relacionados a brinquedos e brincadeiras, além do documentário da Discovery Channel: “A Era do Video Game”. Visões e reflexões foram analisadas para que o artigo fosse desenvolvido não somente com uma concepção de técnicos em dança, mas também a partir do olhar do espectador perante o espetáculo referido. Palavras- Chave: Objeto Cênico. Botão. Relação. Jogo. Cena Introdução Ao refletirem sobre o ato de brincar/jogar, os alunos do terceiro módulo A, do curso Técnico em Dança, no segundo semestre de 2012 e primeiro semestre de 2013, foram instigados pelas análises que Huizinga (2000) faz em relação ao jogo, e assim optaram por criar um espetáculo baseado em suas ideias, com improvisações e jogos em cena. Vivenciar brincadeiras, jogos que jogamos quando éramos crianças, sensações que jamais havíamos sentido, ou que simplesmente estavam guardadas em uma caixinha de lembranças, competição. Quem pega primeiro, ou quem se escondeu? De acordo com Huizinga “o jogo é uma atividade ou ocupação voluntária... acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria”. (2000:33)
  • 2. 2 Contentamento foi um dos sentimentos aflorados em nossos laboratórios coreográficos. Pensando em fazer um espetáculo de dança que surgisse do jogo rumo a um produto final, os alunos do 3º Módulo de dança vivenciaram alguns jogos/ competições de mutua colaboração e outros de ganho individual. Foram jogos e brincadeiras vividas quando na aurora da infância e trazidas à tona como um estudo corporal. “Chegamos, assim, à primeira das características fundamentais do jogo: o fato de ser livre, de ser ele próprio liberdade. Uma segunda característica, intimamente ligada à primeira, é que o jogo não é vida "corrente" nem vida "real"”. (HUIZINGA,2000:10) E porque não falar sobre o brinquedo? Ou quem sabe o objeto utilizado em cena? Ideias surgem, lembranças reaparecem: Para que haja um espetáculo de jogo com uma proposta diferenciada, se faz necessário que o artigo científico, que traz embasamento para a composição, seja também algo novo. Portanto, o artigo a seguir é dividido em subtítulos, onde o leitor pode se sentir a vontade para escolher por onde começar sua leitura, pois nenhum texto depende do outro para compreender a linha de raciocínio sobre o objeto de estudo deste grupo. Cada texto será concluído nele mesmo, ficará por conta de sua curiosidade terminar de ler todos os tópicos que traremos aqui. Além do mais, tudo faz parte de um grande jogo, então quem decide como e por onde começar a trilhar sua leitura é quem tira no dois ou um, ou par ou ímpar? O que você nosso leitor quer? Par ou Ímpar? Ímpar. Queremos... Par! Nosso Espetáculo Brinquedos Poeira Alegria Sensação Revivida Compartilhar Experiências
  • 3. 3 Deu Ímpar! Então... Você escolhe por onde quer começar sua leitura! Agora, vire a página, e siga suas escolhas! Vamos a leitura! 1, 2, 3, Já!! Numere os circulos de 1 a 5 na ordem que você quiser! ( ) ( ) ( )( ) ( )
  • 4. 4 Objeto em cena Os bailarinos (p. 17) O público (p. 13) O botão (p. 5) O jogo (p. 9) Através das lentes (p. 20)
  • 5. 5 Objeto em cena: O Botão Diversas foram as discussões sobre jogos e brincadeiras, até que em um determinado dia, uma de nossas colegas de sala do curso Técnico em Dança citou uma “pegadinha” realizada por uma emissora de televisão. Explicou que a “pegadinha” acontecia quando alguém se sentia instigado a acionar o botão que se localizava no centro de uma praça; quando esse botão era acionado por um indivíduo que por ali passava, figurantes que estavam próximos a este caiam, deixando o individuo que acionou o botão espantado e confuso, pois numa fração de segundos percebia que ao acionar o botão (ação) tinha provocado uma reação, ou seja, produzido um acontecimento totalmente inesperado e sobre o qual não tinha nenhum controle. A partir daí houve um “BUMMM” de ideias do grupo, começamos a pensar como essa “pegadinha” poderia se transformar em um processo criativo, com o auxílio do documentário da Discovery Channel sobre a Era do Vídeo Game1 e após a leitura do livro “Homo Ludens” de Johan Huizinga. O objetivo do documentário era falar sobre o surgimento e a evolução do vídeo game e o que mais chamou a atenção da turma foi o inicio do documentário que mostra a criação do vídeo game aliada a concepção de materiais bélicos para as Grandes Guerras Mundiais. Já o livro de Huizinga nos trouxe apoio histórico quanto ao surgimento do jogo, seu significado e relação com arte e cultura. Encontramos então embasamento para a proposta de criação de espetáculo do grupo, e chegamos ao ponto onde decidimos que o botão seria o objeto protagonista do nosso espetáculo. Sendo assim, a busca pelo significado do objeto escolhido para protagonizar o espetáculo foi constante: apertar, pressionar, ajustar, fixar, entre outras funções; essas são algumas delas dadas para esse objeto normalmente redondo. De acordo com o minidicionário Aurélio: “Botão: Pequena saliência que, nos vegetais, origina novos ramos, folhas ou flores. A flor antes de desabrochar. Pequena peça que se usa para 1 O vídeo cientifico, “Era do Video Game” (2007), transmitido pelo canal Discovery Channel, mostra que a Guerra Fria evoluiu rapidamente entre os super poderes dos EUA e da União Soviética, onde a tecnologia foi utilizada para criar simulações de mísseis e prever os resultados de uma guerra nuclear. Essa mesma tecnologia da computação foi utilizada para desenvolver o primeiro jogo de computador em 1958. Steve Russel, Nolan Bushnell, Ralph Baer e Toru Iwatani são alguns dos principais nomes da histórias dos videogames apresentados no vídeo. (disponível em: http://projetojogatina.wordpress.com/2011/11/23/a-era-do-videogame-documentario/).
  • 6. 6 fechar o vestuário, fazendo – a entrar numa casa, e também como ornato. Bola que se põe na ponta do floreto para a estocada não ferir”. (2001: 106) Entende-se, então, que existem muitos botões, que variam conforme sua função, seja para ajustar uma roupa ao corpo, para enfeitar algo, seja uma rosa que ainda não desabrochou ou apenas um “enter”, um iniciar de alguma atividade, provocador de mudanças em ambientes, no caso do espetáculo “Não Aperte o Botão”. O intuito é de que esse objeto não seja apenas uma figura que complemente o cenário, mas sim o causador de grande curiosidade. Conforme o documentário da Discovery Channel, durante a guerra o objeto botão era símbolo de perigo, do lançamento de mísseis, de bombas, de ataques, e por isso causava certa tensão e medo nas pessoas. A presença de um objeto a ser pressionado dava a sensação de que a qualquer momento alguma coisa poderia acontecer, sair do controle. Buscamos esta sensação durante o processo de criação e a apresentação do espetáculo, pois quando se aciona o botão, a cena é finalizada e acontece um momento de interação com o público. Os bailarinos, mesmo sabendo que ao apertar o botão deve-se de fato jogar algo com o espectador, têm reações diferentes, uns entram em estado de prontidão enquanto outros se sentem perdidos. “O Botão gera em mim um estado de alerta, porque ele pode ser acionado a qualquer momento. O botão, para mim, é algo imprevisível, podendo transformar 30 minutos de espetáculo em 1 hora e 20 minutos. Ele conecta e desconecta as cenas do espetáculo. O acionar do botão é feito tanto pelo bailarino quanto pelo público. O que move esse acionar é a vontade”, diz Harrison Rodrigues, bailarino no espetáculo “Não Aperte o Botão” – Formando da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013 Enquanto Érika Gold Faria, também bailarina no espetáculo “Não Aperte o Botão” – Formanda da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013, diz: “O botão vermelho me gera desconforto. Porque eu nunca sei quando ele será acionado”. “Cada corpo estabelece e cria relações diferentes diante dos mesmos brinquedos, jogos e brincadeiras. Isso se dá basicamente pelo fato de não “termos”, mas sim de “sermos” um corpo, pelo fato de sermos nossos corpos. Nossos corpos são o que somos. Somos o que os nossos corpos são”. (MARQUES, S/D:155)
  • 7. 7 São reações distintas de pessoas que participaram dos mesmos momentos de criação do espetáculo. Podemos também pensar em outros fatores que não seja só a timidez, como a familiarização com o objeto, ou seja, quanto maior a relação que o bailarino criar com o objeto, a interação com o público, o surgimento do botão em cena e a manifestação deste após ser apertado, não será motivo de desconforto e espanto por parte dos propositores das brincadeiras (bailarinos). O objeto escolhido para análise neste processo de criação é o componente estimulante para o nosso “brincar”/ “jogar”, como citado no texto “Reflexões sobre o jogo, o brincar, as brincadeiras e os brinquedos na contemporaneidade” da autora Lira: “...Enquanto objeto, é sempre suporte de brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil. E a brincadeira? É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação...” (KISHIMOTO, 2000: 21 apud LIRA, 2011: 04) E com essa proposta começaram a ser criadas cenas, trabalhar com o corpo relendo jogos infantis e interativos já existentes, que podiam partir ou não de um apertar de botão. Sendo este apertar algo pertencente à vida das pessoas antes do inicio do século 21 conforme dito no documentário da Discovery Channel. E como instigar as pessoas (público) a acionar o botão, já que nele esta o foco do nosso trabalho? Olhares estimuladores para o público, um riso contido, um chamar de forma que seja agradabilíssimo o APERTAR O BOTÃO. “Sacanear”, querer ser o primeiro a apertar, olhar algo que pode ser muito vermelho e brilhante e com isso despertar curiosidades para quem ainda não conseguiu ver. Buscou-se então colocar em prática a proposta citada a cima, inspirados também no texto de Isabel Marques: “... o CORPO CÊNICO, que é primordialmente LÚDICO, torna- se também CORPO CIDADÃO: capaz de escolher, criar, participar, criticar e transformar...” (S/D:166)
  • 8. 8 Dessa forma, temos um dever durante o espetáculo, estimular o espectador a querer participar, quem sabe apertar o nosso objeto vermelho e transformar tudo o que pode ou (não estar contido no roteiro de nosso espetáculo. Buscamos, com o corpo cênico, a interação com o público que é convidado, por meio do lúdico, a escolher, criar, participar e transformar, provocando-os a observar nossos estudos corporais, saboreando os momentos que lhes são dados para o compartilhar de jogos, fazendo com que nosso corpo leve-os a reviver ocasiões que jamais imaginariam, remetendo-os para este espaço considerado lúdico e propriamente cênico onde mesmo com as regras podem criar, participar e até mesmo sonhar. E com isso temos como um de nossos objetivos fazer com que o espectador não deixe que a sua redescoberta se perca ao final do espetáculo, que suas sensações e lembranças provocadas pelo corpo cênico, permaneçam presentes durante suas vidas.
  • 9. 9 Objeto em cena: O Jogo Podemos dizer que o jogo indiretamente ou diretamente, é grande aliado da sobrevivência humana, ajudando nas conquistas e momentos de descontração. “Utilizado desde a Grécia antiga para a educação dos jovens, jogos param o tempo e são a fuga das regras e da moralidade da sociedade, de acordo com Heráclito2 e Nietzsche3 . Mas esse conceito tem se deturpado na modernidade.” ( BITTENCOURT, 2013:15). O jogo como sendo algo prazeroso e motivo de descontração, torna-se algo sério. Ao invés de fugir das regras, o jogador exige de seu adversário honestidade enquanto jogam, deve haver entre os jogadores nível evidente de igualdade. O jogo inicia-se e, em determinado momento, "acabou". Joga-se até que se chegue a um certo fim. Enquanto está decorrendo tudo é movimento, mudança, alternância, sucessão, associação, separação. E há, diretamente ligada à sua limitação no tempo, uma outra característica interessante do jogo, a de fixar imediatamente como fenômeno cultural. Mesmo depois de o jogo ter chegado ao fim, ele permanece como uma criação nova do espírito, um tesouro a ser conservado pela memória. É transmitido, torna-se tradição. (HUIZINGA, 2000:11) O jogo é uma atividade instigante, mesmo quando este chega ao fim, o inconsciente de quem o joga, tem a sensação de que o jogo continua vivo. Esta sensação prazerosa do ato de jogar faz com que o jogador grave essa experiência, tornando o jogo parte essencial da sua vida. “...Ao inserir em sua vida o momento temporal da experiência do jogo, o ser humano estaria simbolicamente representando a sua inserção plena na própria condição criativa da natureza...” (BITTENCOURT, 2013:17 ) No espetáculo “Não Aperte o Botão”, os jogos têm a função de orientar a maior parte do espetáculo, pois dentro das propostas contidas nas improvisações/cenas, o maior foco é simplesmente jogar e além de tudo interagir com quem assiste. Um dos jogos em especial definirá o início do mesmo: em roda, após alguém da plateia dizer um número, os bailarinos jogam uma bolinha um para o outro, começando uma contagem regressiva. Baseado em certa parte do livro “Homo Ludens”, onde Huizinga fala sobre a raiz da palavra jogo (2000), esta que aparece no sentido de “saltar”, lembra-se da hipótese de 2 Heráclito de Éfeso foi um filósofo pré-socrático considerado o "pai da dialética". Nascimento: 535 a.C,Falecimento: 475 a.C. 3 Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um influente filósofo alemão do século XIX. Nascimento: 15 de outubro de 1844, Falecimento: 25 de agosto de 1900.
  • 10. 10 Platão segundo a qual o jogo teve origem na necessidade de saltar (Leis, II 653). A primeira cena se constitui pela reprodução de saltos que lembram o quicar de uma bola. A partir do exemplo do jogar a bola para o outro para que o espetáculo se inicie, podemos perceber que o mesmo é composto por jogos de mutua colaboração entre os participantes, onde o foco é a descontração e a visão de dependência um do outro, a vitória neste caso será coletiva. Além de jogos de colaboração veremos também jogos de competição, onde a vitória individual fica evidente e a frustração dos adversários também. Segundo Huizinga: “A competição possui todas as características formais e a maior parte das características funcionais do jogo”(2000:38). Em ambos os casos podemos dizer que há sempre algum objetivo a ser alcançado, além da sede de vitória dos jogadores/competidores. Remetemos então a uma das cenas onde há evidente competição. Como por exemplo, uma cena na qual ocorre uma corrida a partir da respiração, para quem assiste grande é a expectativa para ver até onde o jogador conseguirá soltar o ar dos pulmões e correr ao mesmo tempo, e para quem joga o esforço para ter mais ar que o adversário se torna o foco principal. Neste momento vemos que o jogo e a competição estão ligados em suas principais características, tanto um quanto o outro criam a sensação de querer ser melhor que o adversário, tendo como objetivo ser merecedor do título de vencedor, ou até mesmo, superior, de acordo com o primeiro capítulo do livro “Homo Ludens” de Huizinga, “o jogo é um fato mais antigo que a cultura, (...) no jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido a ação”(2000: 05), ou seja, quando envolvidos em uma competição ou um jogo, o instinto de quem joga supera qualquer outra necessidade, e a ação feita pelo jogador só existe porque algo está em jogo; sem este clima de focar em um objetivo a ser alcançado, não há jogo nem competição. (...) O que é "ganhar", e o que é que realmente "ganho"? Ganhar significa manifestar sua superioridade num determinado jogo. Contudo, a prova desta superioridade tem tendência para conferir ao vencedor uma aparência de superioridade em geral. Ele ganha alguma coisa mais do que apenas o jogo enquanto tal. Ganha estima, conquista honrarias: e estas honrarias e estima imediatamente concorrem para o benefício do grupo ao qual o vencedor pertence (...) (HUIZINGA, 2000:40)
  • 11. 11 Quando a sede de ganhar e o espírito de competição não se ausentam, o jogo não acaba e esse “espírito orgulhoso” não permite que o jogador aceite perder. Nem sempre quem perde consegue conformar-se, a ânsia pela vitória e o desejo de alcançar a superioridade muitas vezes superam o espírito competitivo. Johan Huizinga diz ainda: “E a partir do momento em que um jogo é um espetáculo belo seu valor cultural torna-se evidente.” (2000:38) É exatamente nesta frase em que destacamos a relação que o jogo cria quando aparece em cena. Norteados pela afirmação de Huizinga, que diz: “a cultura surge sob a forma de jogo, que ela é, desde seus primeiros passos, como que "jogada"” (2000:37) podemos dizer que as cenas serão “fontes de cultura jogada” pelos bailarinos. Em outras palavras: “...O impulso causado pelas manifestações do jogo tem como características a necessidade de criar, como acontece com os artistas e as crianças, em um eterno ato de inventar e destruir, sem qualquer preocupação moral...” (BITTENCOURT, 2013:18) . O jogo impulsiona à criação de movimentações corporais, trazendo para cena este impulso lúdico. O corpo cênico, além da movimentação, estabelece relações complexas que permeiam a arte, a cultura e a educação. Como diz Bittencourt em seu artigo na revista Filosofia Ciência e Vida: “Viver a perspectiva lúdica é viver a satisfação de uma alegria primordial no jogo de criar e destruir o mundo individualizado, como faria uma criancinha mexendo displicentemente na areia da praia”(2013:19). Perceber o outro e quebrar a barreira da individualidade, faz com que a dinâmica do jogo se torne mais evidente: mesmo que haja competição e sede de vitória, a beleza do jogo transparece quando este não é apenas jogado, mas sim vivido. Outra característica que define o espetáculo como sendo um jogo por si só é a limitação do espaço, ainda por Huizinga encontramos uma afirmação: “Todo jogo se processa e existe no interior de um campo previamente delimitado, de maneira material ou imaginária, deliberada ou espontânea”. (2000:11). Podemos dizer que todos os jogos contidos nas cenas acontecem dentro do limite do centro das cadeiras onde a plateia se encontra distribuída em volta deste “tabuleiro”, chamado Espaço Cênico, em nosso caso em forma de palco arena, de modo que quando um bailarino não esta em jogo, ele sai
  • 12. 12 desta zona lúdica (Espaço Cênico) e se senta juntamente com o público, deixando o jogo acontecer e ser jogado pelos competidores de fato. Sendo assim, tornando-se público também, estes bailarinos só voltam ao jogo se retornarem ao espaço delimitado, um código é criado, pois as pessoas começam a entender que quem entra neste espaço é para se tornar integrante de um jogo e/ou interferir diretamente no espetáculo.
  • 13. 13 Objeto em cena: O Público Um dos objetivos do espetáculo “Não Aperte o Botão” é trazer os espectadores para a cena, de forma que estes criem a interação com o nosso objeto cênico. Para isso, desde a entrada até o último movimento em cena, é primordial que haja uma relação direta com o público, seja ela com um olhar, um toque, uma inquietação e até uma provocação para o apertar do botão. É proposto, então, que o público tenha sensações diferentes durante o espetáculo, que este jogue e sinta a essência do espírito lúdico que há em jogar. Isso acontece quando este – o público – suporta a incerteza e a tensão, ousando e correndo risco ao acionar o botão. “E a essência do espírito lúdico é ousar, correr riscos, suportar a incerteza e a tensão. A tensão aumenta a importância do jogo, e esta intensificação permite ao jogador esquecer que está apenas jogando.” (HUIZINGA, 2000: 40) Essa interação acontece de fato ao acionar o nosso principal objeto cênico. A partir do momento em que alguém do público sai do seu lugar e vai em direção ao botão com a intenção de apertá-lo, ao mesmo tempo em que se torna um corpo cênico, torna-se corpo cidadão que, instigado com algum acontecimento em cena, deseja mesmo sem saber, propiciar mudanças e supostos acontecimentos inesperados. Inicialmente o botão é o grande enigma do espetáculo, deixando a seguinte questão entre os que o assistem “O que acontecerá após acionar o Botão?”. Após nosso primeiro ensaio aberto, escutamos a opinião de alguns espectadores, “Nunca imaginei que sairia aquele barulho após o apertar do botão...” diz Carlos Henrique Oliveira Araújo, estudante do primeiro módulo de dança da ETEC de Artes. Com a interferência direta dos espectadores, o botão chama atenção quando entra em cena. A partir do momento em que o público está envolvido com o espírito lúdico do jogo, é despertado neste a curiosidade por saber o que acontecerá ao acionar o botão, a tensão e ansiedade que este objeto impõe, o prazer e a diversão de participar dos jogos e ter certo “poder” sobre o espetáculo. Logo depois da primeira intervenção do público alguns espectadores imaginam o que irá acontecer da próxima vez que o botão for acionado. A expectativa e tensão do público
  • 14. 14 perante aquele objeto acaba sendo diminuída após algumas interações, segundo Jéssica Oliveira de Carvalho, formada pela ETEC de Artes no curso técnico de Dança no ano de 2012. Após outras conversas é importante destacar que nem todos pensam da mesma forma sobre as vezes que o botão é pressionado, pois há também quem diga que ficará sempre no ar o que irá acontecer da próxima vez. Será que acontecerá o mesmo jogo? Algo de ruim acontecerá em algum momento? Percebemos que a localização do botão também interferiu na relação do mesmo com o espectador, segundo Guilherme Nobre Ferreira, estudante do segundo módulo de dança da ETEC de Artes: “... Fiquei tentado a apertar o botão em vários momentos, porém não sabia se era realmente possível, devido a localização do mesmo, pois eu teria que ‘atravessar’ a cena para poder apertá-lo e transformar o que acontecia.” É importante pensarmos que este receio ao apertar o botão pode ser explicado em alguns aspectos, além do fator de localização do botão e da individualidade de cada um, timidez ou olhar de mero espectador sem ser interventor na cena são também justificativas. A sociedade, embora muito moderna, ainda cria associações ruins em relação ao pressionar um botão. Isto pode ser explicado devido a marcantes acontecimentos durante a Guerra Fria4 , onde o destino de nações era definido através do pressionar de um botão. Tudo começou durante a Guerra Fria, onde as pessoas estavam paranoicas, com medo de alguém “apertar o botão vermelho” e explodir alguma bomba atômica. Todos se sentiam impotentes por não ter o controle da situação, de poder apenas assistir. (DISCOVERY CHANNEL, 2007) O botão é o objeto central do nosso espetáculo, porém não é o único, incluem-se também nesta categoria as bolinhas de gude contidas em uma cena de improvisação, a interação despertada no público foi evidente quando as bolinhas rolavam até suas cadeiras e estes as seguravam com os pés, devolvendo-as a cena. Além de certa atitude apresentada por crianças que assistiam ao espetáculo, que começaram a participar diretamente da cena, mergulhando juntamente com os bailarinos na improvisação, pegando as bolinhas e saindo do meio onde estavam sendo usadas. 4 A Guerra Fria, que teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991) é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, disputando a hegemonia política, econômica e militar no mundo. É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear
  • 15. 15 O deslumbramento criado pelas bolinhas de gude não é o único chamariz dos olhares, a movimentação dos corpos na improvisação complementa os efeitos causados por estas em cena, estabelecendo relações entre objeto e corpo. Sobre isso Huizinga cita em seu livro Homo Ludens: “O popular ditado holandês segundo o qual "o que importa não são as bolas de gude, mas o jogo"”. (2000:39). Neste momento a bolinha de gude colocada sozinha em cena não seria a mesma coisa. Se não houvesse uma dinâmica de jogo e improvisação, não haveria tanta relação com o público. Analisando mais cenas do espetáculo, em especial o “show” de comédia dos dois palhaços e as brincadeiras com “botões” pelo corpo, aparece mais um objeto, o nariz vermelho. O público neste momento não faz interação direta, o nariz se transforma em botão, mas quem assiste desta vez olha apenas de fora. “O público sabe o que é um palhaço, e sabe o que esperar dele. Sua resposta dá a exata medida do sucesso ou não de uma gag5 , gesto ou brincadeira” (S/D: 02) diz Souza no texto “Criação e aprendizado na tradição do palhaço de circo”. O nariz vermelho é a mascara do palhaço, o objeto em si caracteriza o personagem da cena, e instiga o apertar do botão, se o gesto e as brincadeiras dos palhaços não atingirem a expectativa do público, o acionar dificilmente irá acontecer neste momento do espetáculo. “O nariz vermelho, o palhaço em si, foi sempre uma personagem que me despertava algo mágico, lúdico, onde o “brincar”, “fazer de conta” se torna possível, sem medo de recriminações e melhor ainda arrancar sorrisos de pessoas. E o que seria do palhaço sem o nariz vermelho? Afinal é a menor mascara existente e que pode na minha opinião curar não só a saúde mas os corações, a alma das pessoas. Enfim acredito que o nariz vermelhinho de um palhaço é simplesmente a magia, a poesia, que transforma ambientes, situações, pessoas.”Joyce Aparecida da Silva – bailarina no espetáculo “Não Aperte o Botão” e interpreta o palhaço no mesmo espetáculo – Formanda da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança do 1º Semestre de 2013 Novamente no texto de Souza notamos a seguinte afirmação: “Ser palhaço é estar inserido num corpo coletivo, ancestral, é viver este corpo de forma presente e única. Se, por um lado, as ações (e reações) podem ser organizadas de maneira completamente 5 Gag: Piada, dito espirituoso, efeito cômico (portanto, não só palavra: pode ser um gesto ou situação), geralmente muito curto (no jargão do teatro, “caco”).
  • 16. 16 diferente a cada apresentação, por outro a improvisação é rigorosamente codificada...” (S/D: 01). O público passa a enxergar o palhaço a partir do momento que este coloca sua maior caracterização, o nariz vermelho, e mesmo sem perceber é este que sustentará a cena juntamente com a improvisação, o palhaço se torna palhaço quando presente em cena de forma que passe verdade para o público, a alma do palhaço é seu nariz sendo ele o símbolo da personagem palhaço. Para que haja a magia da personagem, o modo de ser é o que lhe faz engraçado, essa é a maior característica do palhaço. Ele mesmo é a própria piada.
  • 17. 17 Objeto em cena: Os bailarinos Sabe a sensação e o cheiro de um brinquedo novo? A emoção e ansiedade de abrir uma caixa de algum jogo de tabuleiro e convidar os amigos para jogar e ver quem vai ganhar. Expectativa, ansiedade, alegria, irritação, brigas, euforia, êxtase. A nossa vontade é a de abrir primeiro a caixa, de convidar alguém para jogar e de ganhar o jogo e ser aplaudido por esse momento, assim como afirma Huizinga quando diz em seu texto que: “O que é primordial é o desejo de ser melhor que os outros, de ser o primeiro a ser festejado por esse fato”. (2000:40). No Espetáculo “Não aperte o Botão”, os brinquedos dos bailarinos, são nada mais nada menos que os elementos cênicos escolhidos após muitas experimentações corporais de jogos/ brincadeiras. E a escolha de colocar um objeto no centro do espaço cênico do qual os bailarinos estão desenvolvendo a prática corporal, foi exatamente para que instigasse o bailarino e até mesmo o público a serem impulsionados a brincar, a jogar. Afinal “os objetos têm um valor sagrado e são dotados de virtudes mágicas, e cada um possui uma história...” (Huizinga 2000: 48). “E a partir dos objetos os meus movimentos são alterados e transformados, ganhando outro significado”, diz Harrison Rodrigues, bailarino no espetáculo “Não Aperte o Botão” – Formando da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013. A influência causada pelo objeto nos bailarinos foi muito perceptível durante todo processo criativo. Por exemplo, antes que o botão que compõe o espetáculo estivesse pronto, nós usávamos um caderno em seu lugar. Notou-se a indiferença obtida por aqueles que estavam em cena, o botão era pouco lembrado, o caderno estava como algo que preenchia um espaço vazio, mas que em muitos momentos, como no suposto "acionar" da buzina não fazia nenhum sentido. Quando os objetos reais foram colocados em cena, os bailarinos começaram a entender as influências destes objetos em sua dança e os reflexos que lhes trouxeram ao corpo. Ainda em uma conversa com o bailarino Harrison Rodrigues, ele nos diz: “Os objetos cênicos, inclusive o botão, me impulsionam a brincar, no caso das bolinhas de gude, eu rolo como elas. No caso da bolinha inicial (contagem regressiva) eu imagino que seja uma batata quente, que precisa ser passada de mão em mão. Os objetos atingem o meu imaginário e me impulsionam para a brincadeira”. Vemos quão longe vai a imaginação
  • 18. 18 de quem se relaciona de verdade com o objeto, e que este pode ser um estopim para novas margens de improvisação e interação com o público. “O botão me gera expectativa. Desde a infância tenho muitas vivências com jogos de videogame, por essa questão de um acionar de botão gerar uma reação. Em relação aos outros objetos cênicos me sinto incomodado, pois geram uma poluição visual. Porém, estes influenciam em minhas movimentações corporais, pois a partir do momento que eu tenho um objeto em cena, eu tenho que interagir com este para que ele não se torne um objeto morto”. Túlio Bezerra Coelho – bailarino no espetáculo “Não Aperte o Botão” – Formando da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013 Dar vida aos objetos colocados em cena é um desafio para o bailarino propositor de brincadeiras, ele é o responsável por instigar o espectador a acionar o botão e mesmo que não consiga se familiarizar com os objetos cênicos é necessário que crie algum tipo de relação. Como o relato do bailarino Túlio Bezerra, citado acima. No caso do botão, Túlio consegue relacionar-se melhor, pois tráz consigo vivências de jogos de vídeo game, são perceptíveis então diferentes olhares para um mesmo objeto, pois diferem-se os corpos que se relacionam com o mesmo. No espetáculo “Não Aperte o Botão” é importante que os bailarinos revivam juntamente com o público, sensações passadas, o dever de quem esta dentro do “tabuleiro” jogando (bailarinos) é expressar satisfação e verdade para que quem esta de fora (público) queira entrar. O objeto/ protagonista do Espetáculo “Não aperte o Botão” que possui 1 metro de altura por de 60 de largura acabou se tornando algo que cria expectativas entre bailarinos, transforma o ambiente de apresentação e causa se acionado momentos de interação, pois, o objeto quanto intervenção nos jogos do espetáculo “é usado para certas operações ou manipulações...” (PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro 2007:265). Cada corpo se move e age de forma diferente perante a manipulação do objeto. Cada corpo é um corpo, e mesmo que haja exatamente a mesma dedicação por parte dos bailarinos, as vivências e individualidade de cada um irão ficar evidentes quando apresentadas suas impressões.
  • 19. 19 O texto “O Lúdico na prática Pedagógica” remete uma importante afirmação: “Corpos neles mesmos e por eles mesmos já brincam, jogam, inter-relacionam-se brincando e jogando. O jogo e a brincadeira podem ser o próprio corpo.” (MARQUES, S/D:159). Este é o caso de Érika Gold Faria, também bailarina no espetáculo “Não Aperte o Botão!” – Formanda da Turma do 3º Módulo do Curso Técnico em Dança de 2013, ela diz: “...Quanto aos outros objetos cênicos eu não os percebo. Porém, todos eles redobram a minha atenção ao meu movimento. Fazendo com que eu não me movimente livremente.” O corpo “fala mais alto” e desenvolve uma dinâmica onde se preocupa com o que está ao redor, onde pisar e como se movimentar, tornam-se regras, e a brincadeira mesmo intrínseca acontece, pode ser ou não uma brincadeira divertida, mas acaba tendo dinâmica e preocupação de jogo, onde o corpo se preocupa em não errar pois, pode colocar tudo a perder.
  • 21. 21
  • 22. 22 Referências Bibliográficas: HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. O Jogo Como Elemento da Cultura. Título Original: Homo Ludens – vom Unprung der Kultur im Spiel. Tradução: João Paulo Monteiro. 4ª edição – reimpressão. Direitos reservados em língua portuguesa à EDITORA PERPECTIVA S.A, 2000. LIRA, Aliandra Cristina Mesomo. REFLEXÕES SOBRE O JOGO, O BRINCAR, AS BRINCADEIRAS E OS BRINQUEDOS NA CONTEMPORANEIDADE. UNICENTRO/PR, 2011 Disponível em: http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4542_2437.pdf Acessado em: 20/05/13 DOCUMENTÁRIO, Discovery Channel. A Era do Vídeo Game, 2007 Disponível em: http://projetojogatina.wordpress.com/2011/11/23/a-era-do-videogame-documentario/ Acessado em: 05/04/2013 MARQUES, Isabel. Corpos lúdicos: Corpos que brincam e jogam in O Lúdico na Prática Pedagógica. Material disponibilizado pela autora no curso de dança para professores Coreológicas Ludus de Novembro de 2009 Disponível em: http://xa.yimg.com/kq/groups/22716894/568180836/name/O Acessado em: 23/05/2013 PAVIS, Patrice. DICIONÁRIO DE TEATRO. Tradução para a Língua portuguesa sob a direção de J.Guinburg e Maria Lúcia Pereira 3ª Edição – São Paulo: Perspectiva 2007 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário Aurélio Século XXI - O minidicionário da língua portuguesa, 4º edição 2001 - Editora Nova Fronteira
  • 23. 23 SOUZA, Cláudia Funchal Valente. CRIAÇÃO E APRENDIZADO NA TRADIÇÃO DO PALHAÇO DE CIRCO. Universidade Estadual Paulista – UNESP, S/D Disponível em: http://www.portalabrace.org/vcongresso/textos/dramaturgia/Claudia%20Funchal%20Va lente%20de%20Souza%20- %20CRIACAO%20E%20APRENDIZADO%20NA%20TRADICAO%20DO%20PAL HACO%20DE%20CIRCO.pdf Acessado em: 22/05/2013 BITTENCOURT, Renato Nunes. O LÚDICO PARA QUESTIONAR in Revista filosofia Ciência e Vida - Editora Escala -VII Nº82 Edição de maio 2013