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a arte
O problema da relação entre a arte, enquanto
produto artístico, e o artista, enquanto criador
de novos valores.
“Temos a arte para não morrer ou
enlouquecer perante a verdade. Somente a
arte pode transfigurar a desordem do
mundo em beleza e fazer aceitável tudo
aquilo que há de problemático e terrível na
vida”
“E aqueles que foram vistos dançando
foram julgados insanos por aqueles que
não podiam escutar a música.”
[...] o melhor é certamente separar o
artista da obra, a ponto de não tomá-lo tão
seriamente como a obra. Afinal, ele é
apenas a precondição para a obra, o útero,
o chão, o esterco e adubo no qual e do
qual ela cresce – e assim, na maioria dos
casos algo que é preciso esquecer,
querendo-se desfrutar a obra mesma. A
inquirição sobre a origem de uma obra
concerne aos fisiólogos e vivisseccionistas
do espírito: jamais absolutamente aos
seres estéticos, aos artistas! (NIETZSCHE, 1887, A
genealogia da moral)
O poeta e criador do Parsifal conheceu uma profunda,
radical, mesmo terrível identificação e inclinação a
conflitos de alma medievais, um hostil afastamento de
toda elevação, disciplina e severidade do espírito, uma
espécie de perversidade intelectual ,tanto quanto uma
mulher grávida conhece os desgostos e caprichos da
gravidez: os quais, como disse, devem ser esquecidos,
para se desfrutar a criança .
“O artista trágico não é um pessimista –
ele diz justamente Sim a tudo [que é]
questionável e mesmo terrível, ele é
dionisíaco”
[...] dezesseis anos depois – ante um olhar mais
velho, cem vezes mais exigente, porém de
maneira alguma mais frio, nem mais estranho
àquela tarefa de que este livro temerário ousou
pela primeira vez aproximar-se – a ciência com a
óptica do artista, mas a arte, com a da vida
“O essencial na arte permanece a
plenificação da existência, a produção
de perfeição e plenitude; arte é,
essencialmente, afirmação, bênção,
divinização da existência...”
O que importa toda a arte de nossas obras
de arte, se chegamos a perder a arte superior
que é a arte das festas? Antigamente as obras
de arte eram expostas na grande avenida de
festas da humanidade, para lembrança e
comemoração de momentos felizes e elevados.
Agora se pretende, com as obras de arte, atrair
os miseramente exaustos e enfermos para fora
da longa via dolorosa da humanidade, para um
instantezinho de prazer; um pouco de
embriaguez e de loucura lhe é oferecido
(NIETZSCHE, A Gaia Ciência af.89).
Em Wagner encontra-se no início a alucinação: não de
sons, mas de gestos. Ele busca então a semiótica de sons
para os gestos. Querendo admirá-lo, observemo-lo a
trabalhar nisso: como separa, como obtém pequenas
unidades, como as aninha, lhes dá relevo e as torna
visíveis. Mas aqui se esgota a sua força: o resto nada
vale. Coisa pobre, leigo e canhestro o seu modo de
“desenvolver”, a sua tentativa de fazer entrelaçar o que
não se teceu naturalmente!
Nietzsche eWagner
“– Já expliquei qual o lugar deWagner – não é na
história da música. No entanto, que significa ele
nessa história? Ascensão do ator na música: um
acontecimento capital, que dá o que pensar, e
talvez, também o que temer”
“[...] nós temos a arte para não
sucumbirmos junto à verdade”

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  • 2. O problema da relação entre a arte, enquanto produto artístico, e o artista, enquanto criador de novos valores.
  • 3. “Temos a arte para não morrer ou enlouquecer perante a verdade. Somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida” “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.”
  • 4. [...] o melhor é certamente separar o artista da obra, a ponto de não tomá-lo tão seriamente como a obra. Afinal, ele é apenas a precondição para a obra, o útero, o chão, o esterco e adubo no qual e do qual ela cresce – e assim, na maioria dos casos algo que é preciso esquecer, querendo-se desfrutar a obra mesma. A inquirição sobre a origem de uma obra concerne aos fisiólogos e vivisseccionistas do espírito: jamais absolutamente aos seres estéticos, aos artistas! (NIETZSCHE, 1887, A genealogia da moral)
  • 5. O poeta e criador do Parsifal conheceu uma profunda, radical, mesmo terrível identificação e inclinação a conflitos de alma medievais, um hostil afastamento de toda elevação, disciplina e severidade do espírito, uma espécie de perversidade intelectual ,tanto quanto uma mulher grávida conhece os desgostos e caprichos da gravidez: os quais, como disse, devem ser esquecidos, para se desfrutar a criança .
  • 6. “O artista trágico não é um pessimista – ele diz justamente Sim a tudo [que é] questionável e mesmo terrível, ele é dionisíaco” [...] dezesseis anos depois – ante um olhar mais velho, cem vezes mais exigente, porém de maneira alguma mais frio, nem mais estranho àquela tarefa de que este livro temerário ousou pela primeira vez aproximar-se – a ciência com a óptica do artista, mas a arte, com a da vida
  • 7. “O essencial na arte permanece a plenificação da existência, a produção de perfeição e plenitude; arte é, essencialmente, afirmação, bênção, divinização da existência...”
  • 8. O que importa toda a arte de nossas obras de arte, se chegamos a perder a arte superior que é a arte das festas? Antigamente as obras de arte eram expostas na grande avenida de festas da humanidade, para lembrança e comemoração de momentos felizes e elevados. Agora se pretende, com as obras de arte, atrair os miseramente exaustos e enfermos para fora da longa via dolorosa da humanidade, para um instantezinho de prazer; um pouco de embriaguez e de loucura lhe é oferecido (NIETZSCHE, A Gaia Ciência af.89).
  • 9. Em Wagner encontra-se no início a alucinação: não de sons, mas de gestos. Ele busca então a semiótica de sons para os gestos. Querendo admirá-lo, observemo-lo a trabalhar nisso: como separa, como obtém pequenas unidades, como as aninha, lhes dá relevo e as torna visíveis. Mas aqui se esgota a sua força: o resto nada vale. Coisa pobre, leigo e canhestro o seu modo de “desenvolver”, a sua tentativa de fazer entrelaçar o que não se teceu naturalmente! Nietzsche eWagner “– Já expliquei qual o lugar deWagner – não é na história da música. No entanto, que significa ele nessa história? Ascensão do ator na música: um acontecimento capital, que dá o que pensar, e talvez, também o que temer”
  • 10. “[...] nós temos a arte para não sucumbirmos junto à verdade”