O documento discute a substituição de disco cervical para tratamento de patologia degenerativa. Ele descreve os conceitos gerais e biomecânica da substituição de disco, detalha os procedimentos cirúrgicos como indicações, técnica e manejo pós-operatório, e discute possíveis complicações e resultados esperados.
1. Programa de Formação Continua AOSpine
Patologia Degenerativa
Substituição de disco
cervical
Autor
Dr. Pablo Vela
Organizador
Dr. Néstor Fiore
ÍNDICE
2. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 2
ÍNDICE
OBJETIVOS
Especificar as indicações atuais.
Explicar os detalhes da técnica cirúrgica.
Identificar potenciais complicações e modos de evitá-las.
Descrever os resultados atuais.
Programa de Formação Continua AOSpine
Patologia Degenerativa
Substituição de disco cervical
Autor
Dr. Pablo Vela
Organizador
Dr. Néstor Fiore
4. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 4
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO
Conceitos gerais
O tratamento da doença degenerativa no segmento cervical é
pouco controverso na cirurgia da coluna vertebral. Em relação
à radiculopatia, mielopatia ou mielorradiculopatia, existe um
consenso razoável a respeito da realização da artrodese anterior,
quando indicada.
Contudo, o fato de se sacrificar o movimento do segmento tratado
apresenta desvantagens biomecânicas que podem representar
problemas clínicos, especialmente no acompanhamento no longo
prazo (Hilibrand, Carlson, Palumbo, Jones e Bohlman, 1999). Por
isso, desde a década de 1960 os cirurgiões tentam resolver esse
problema preservando o movimento do disco intervertebral.
Em muitos aspectos, o desenvolvimento histórico da artroplastia
cervical tem seguido de perto o das próteses lombares. O pioneiro
neste conceito foi Fernström, tendo relatado na década de 1950
os primeiros casos de preservação do movimento na coluna
lombar ao colocar esferas de aço no espaço intervertebral e, em
1966, descrito a mesma técnica com relação à coluna cervical com
esferas menores (Kim e Vaccaro, 2006). O resultado clínico não
foi bom, devido à hipermobilidade e à alta taxa de subsidência. Da
mesma forma, primeiro foram desenvolvidas as próteses lombares
modernas, como Charité, no início dos anos 1980, e, duas décadas
depois, aquela considerada sua versão cervical: Discover.
Com os atuais conceitos de diagnóstico clínico, biomecânica e
biomateriais, foram desenvolvidos diversos modelos de próteses
cervicais, geralmente com resultados clínicos similares à artrodese
anterior tradicional.
Atualmente existem muitas próteses desenhadas e outras tantas
em processo de desenvolvimento, mas poucas com uso em um
número considerável de pacientes (Denaro, Papalia, Denaro, Di
Martino e Maffulli, 2009; Hacker, 2006):
• Bryan (Medtronic),
• Prestige (Medtronic),
• Prodisc-C (Synthes),
• Discover (DePuy),
• PCM (Cervitech).
A artrodese cervical é uma cirurgia com amplo histórico,
altas taxas de êxito (em torno de 90%), baixas taxas de
pseudoartrose e alto nível de satisfação por parte do paciente
e do cirurgião (Pracyk e Traynelis, 2005).
5. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 5
ÍNDICE
A biomecânica da coluna cervical é resultado de uma complexa
interação entre estruturas ósseas e ligamentares.
A estabilidade do segmento cervical depende de várias estruturas:
• disco;
• facetas e cápsulas;
• estruturas musculoligamentares.
Preservar a lordose cervical é fator crítico para o funcionamento
adequado da coluna e do seu conteúdo.
2. BIOMECÂNICA
Contudo, quando o disco falha,
mais frequentemente devido
a alterações degenerativas,
esta homeostase se altera e
podem aparecer sintomas que
algumas vezes não respondem
ao tratamento conservador e
requerem cirurgia.
Estes objetivos podem ser alcançados com a cirurgia de artrodese
por via anterior. Entretanto, ao sacrificar o movimento de um
ou mais segmentos, o funcionamento dos segmentos adjacentes
também é alterado. Por isso surge a hipótese de se preservar o
movimento segmentar para proteger os níveis adjacentes. Apesar
de não ser possível evitar ou retardar o desenvolvimento da
doença do disco adjacente devido à influência de outros fatores
(especialmente genéticos), é provável que, no futuro, possa haver
diminuição e retardamento desse fenômeno ao se utilizar as
próteses discais.
Princípios biomecânicos das
substituições de discos
Embora os implantes de artroplastia sejam vistos essencialmente
como ferramentas cirúrgicas que preservam o movimento, eles
também devem preservar a estabilidade da coluna, resistindo
às cargas axiais e se opondo às forças de torque e de translação.
Portanto, o desenho de qualquer prótese de disco deve imitar
o funcionamento adequado do disco intervertebral ao máximo
permitido pela tecnologia (Hacker, 2006; Pracyk e Traynelis, 2005).
Essa condição inclui os seguintes itens:
• reproduzir os movimentos do disco;
• manter a lordose do segmento;
• imitar o centro de rotação
(COR) do disco.
Através da
coluna posterior
(30% de cada lado)
60%
Através da
coluna anterior
40%
Distribuição da transmissão das cargas axiais
A coluna cervical é o
segmento mais móvel da
coluna, permitindo flexão-
extensão, flexão lateral,
translação e rotação. Além
disso, é responsável por
dissipar cargas axiais.
O disco intervertebral é responsável, em boa parte, pela
estabilidade, e exerce um papel primordial na manutenção da
postura na lordose da coluna cervical.
Apesar de não ser estático, o
COR geralmente é localizado
abaixo do corpo vertebral e por
detrás da linha média no plano
sagital. Por isso é importante
o posicionamento adequado
da prótese durante a cirurgia,
como detalhado posteriormente
(Hacker, 2006).
O objetivo de qualquer procedimento é não somente
descomprimir as estruturas que geram os sintomas,
mas também manter a estabilidade e o balanço do
segmento e de toda a coluna cervical (Anakwenze,
Auerbach, Milby, Lonner e Balderston, 2009).
6. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 6
ÍNDICE
Características dos modelos utilizados
As próteses cervicais podem ser classificadas de acordo com a
composição de seus elementos e de acordo com os parâmetros de
seus movimentos.
De acordo com seus componentes, quando o implante é metal sobre
metal (a sigla em inglês é MOM, metal-on-metal), significa que as
superfícies de articulação são inteiramente desenhadas em metal e
não há participação de nenhum tipo de polímero. A prótese Prestige
LP e suas antecessoras são as únicas disponíveis no mercado que
cumprem este requisito. O restante das próteses utilizadas com maior
frequência são metal sobre polímero (a sigla em inglês é MOP, metal-
on-polymer), nas quais as extremidades das superfícies metálicas se
articulam através de um núcleo de poliuretano, como a Bryan, ou
através de um polietileno de peso molecular ultra elevado, como a
Prodisc-C, Discover e PCM (Pracyk e Traynelis, 2005).
De acordo com os parâmetros de movimento, a prótese Bryan
não é considerada constrita, enquanto Prestige, Prodisc-C, PCM
e Discover são tidas como semiconstritas (Hacker, 2006; Pracyk e
Traynelis, 2005).
Diferentes tipos de prótese segundo parâmetros de movimento
Bryan. MOP, não constrita. Prodisc-C. MOP, semiconstrita.
Discover. MOP, semiconstrita.
7. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 7
ÍNDICE
Indicações e contraindicações
Geralmente, a indicação para se colocar uma prótese discal é
similar à da discectomia anterior com artrodese, na qual prevalece
a patologia retrodiscal com hérnias moles e através da qual é
possível demonstrar que o segmento sob intervenção mantém o
movimento (Hacker, 2006).
A seguir, são apresentadas as indicações para a colocação da prótese
(Buchowski, Anderson, Sekhon e Riew, 2009; Riew et al., 2008):
• radiculopatia resultante de patologia discal degenerativa em
um, dois ou três níveis;
• mielopatia decorrente de degeneração discal e alteração
espondilótica mínima em um, dois ou três níveis, com
compressão medular retrodiscal;
• evidência imagiológica de hérnia discal cervical ou espondilose
em um, dois ou três níveis, que apresente movimento do
segmento;
• sintomas relacionados aos segmentos de C3 a C7;
• falha no tratamento conservador adequado a partir de ao
menos seis semanas, mas, mais comumente, três meses.
A seguir, são apresentadas contraindicações para a colocação da
prótese (Anakwenze et al., 2009; Buchowski et al., 2009; Murrey
et al., 2008):
• instabilidade;
• espondilose severa com perda de altura do disco e movimento
inferior a 2º;
• estenose congênita;
• ossificação do ligamento comum posterior;
• mielopatia por qualquer causa com compressão retrovertebral;
• dor cervical axial como único sintoma;
• osteoporose;
• histórico de infecção cervical recente;
• obesidade mórbida que impeça uma abordagem cervical
anterior;
• impossibilidade de observação radiológica do segmento a ser
tratado durante a cirurgia.
8. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 8
ÍNDICE
Existem semelhanças entre a cirurgia de artrodese anterior da
coluna cervical e a colocação de uma prótese; contudo, é preciso
reconhecer diferenças importantes que fazem com que esta cirurgia
exija mais do cirurgião e requeira um planejamento maior do pré-
operatório, a fim de alcançar um bom resultado final.
É preciso ter uma mesa de cirurgia radiotransparente que permita
obter controles de frente e de perfil e um bom intensificador de
imagens.
Posição cirúrgica
O paciente deve ficar em uma postura o mais fisiológica possível.
Isso significa que não deve haver hiperextensão do pescoço e a
cabeça deve permanecer numa posição neutra, ou seja, sem
rotação lateral. Se tal recomendação não for seguida, dois erros são
passíveis de ocorrência (Buchowski et al., 2009).
Quando ocorre hiperextensão da coluna, tende-se a uma maior
ressecção das regiões posteriores aos corpos vertebrais, porque
elas se encontram mais fechadas. Logo, quando o paciente é
erguido, há um aumento de chance de o segmento apresentar
cifose focal. Tal fato está relacionado ao aumento da incidência
de ossificação heterotópica.
Se a coluna for rodada, fica difícil identificar por exame
radiológico o centro da vértebra, e não se obtém uma visão
fluoroscópica lateral completa, o que pode resultar em uma
prótese mal centralizada tanto no plano sagital quanto no
coronal.
Em pacientes obesos ou com pescoço curto, é necessário colocar
fitas adesivas para tracionar os ombros para baixo e obter uma
visualização fluoroscópica adequada dos segmentos inferiores,
especialmente C6-C7 e, em alguns casos, de C5-C6.
3. TÉCNICA CIRÚRGICA
Posição cirúrgica e marcação da abordagem
Sem hiperextensão e sem rotação.
Marca da incisão anterolateral.
Uma grande porcentagem
das complicações trans
e pós-operatórias não
decorrem do desenho
ruim ou da falha dos
implantes em si, e sim de
falta de experiência, mal
planejamento ou seleção
inadequada de casos para
esta cirurgia.
9. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 9
ÍNDICE
Abordagem
Uma vez identificados os níveis de intervenção por meio radiológico,
é realizada uma incisão transversa no lado de preferência do
cirurgião.
Em seguida, é realizada a dissecção pela forma clássica, descrita por
Smith-Robinson, até a identificação do músculo longo do pescoço.
Neste momento, antes de dissecá-lo para introduzir o afastador
autoestático, é recomendado marcar o ponto intermediário entre os
dois feixes de músculos que quase sempre coincidem com a marca
radiológica da linha mediana, economizando tempo cirúrgico
(Buchowski, 2009).
Descompressão e preparação da área
Uma vez abordados os espaços a serem tratados, são realizadas a
descompressão da raiz ou da medula e a preparação para colocação
da prótese.
Inicia-se a descompressão pela ressecção dos osteófitos anteriores
com goivas e retirada do disco com pinça de disco. Sob visão
microscópica, descomprime-se o canal medular.
Normalmente, não é necessário cortar o ligamento longitudinal
posterior; porém, se houver uma grande hérnia extrusa com
fragmentos atrás do ligamento, é necessário abri-lo (Bertagnoli,
2005; Murrey et al., 2008).
Então, com a ajuda de pinças
de Kerrison de 2 mm e 3 mm,
retiram-se os osteófitos pos-
teriores.
É recomendado colocar cera
óssea nas bordas onde houver
ressecção dos osteófitos, como
outra medida para evitar
a ossificação heterotópica
(Buchowski, 2009).
Localização do microscópio
Visão intraoperatória
Posição cirúrgica adequada e conveniente do microscópio.
Visão do espaço intervertebral para completar a descompressão.
É recomendado realizar
a incisão contralateral
pelo lado sintomático, já
que é mais fácil realizar a
descompressão devido à
angulação do microscópio.
Ao contrário da técnica da
artrodese, essa etapa precisa
ser mais radical ao se colocar
qualquer prótese, pois, ao
preservar o movimento do
segmento, tais osteófitos podem
crescer ao longo do tempo
(Buchowski, 2009).
10. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 10
ÍNDICE
Controle radioscópico para identificar o espaço e localizar a linha mediana Controle radioscópico do afastador intervertebral
Controle radioscópico para identificar o espaço e localizar a linha mediana
Identificação lateral do espaço discal a sofrer intervenção. Colocação adequada dos parafusos do afastador: a posição deve ser paralela às placas vertebrais.
Visão anteroposterior da linha mediana antes da colocação da prótese.
A superfície das placas terminais deve ser preparada
cuidadosamente, procurando não enfraquecê-las, para evitar a
subsidência dos implantes (Bertagnoli et al., 2005).
Colocação da prótese
Embora cada implante exija um método particular, é comum a
todas as próteses a colocação dos afastadores de disco intervertebral,
em que os parafusos serão colocados no terço superior do corpo
superior e no terço inferior do corpo inferior.
Os parafusos devem ser introduzidos sob visão fluoroscópica,
para garantir que fiquem paralelos às placas vertebrais e
bicorticais, de tal forma que as forças realizadas pelo separador
sejam paralelas. Tal condição incidirá positivamente para o bom
funcionamento da artroplastia (Bertagnoli et al., 2005).
É importante ter em mente que essa etapa de preparação das
superfícies é diferente em cada uma das próteses e deve-se
seguir as recomendações do fabricante (Buchowski et al.,
2009).
11. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 11
ÍNDICE
A seguir, são apresentadas
a s f e r r a m e n t a s p a r a
s e l e ç ã o a d e q u a d a d a
prótese. Significa escolher
o tamanho que melhor
s e a d a p t e a o e s p a ç o
intervertebral em altura,
largura e profundidade.
Um erro comum, especial-
mente nos primeiros casos,
é colocar a prótese na borda
posterior do espaço discal. Tal
condição pode ser decorrente
d e u m a d e s c o m p r e s s ã o
inadequada ou do receio de
causar uma lesão medular.
Controle radioscópico: detalhes da colocação
Localização de onde deve ir o implante.
Introdução da prótese (neste caso, modelo
Prodisc-C, semiconstrita com quilha).
Introdução do provador da prótese prévio à posição adequada.
Introdução do cinzel.
Deve-se ter em mente que
o ideal é que a prótese
promova a melhor cobertura
das três dimensões, evitando
deslocamento, subsidência
ou sobredistração, gerando
um prognóstico clínico
negativo.
12. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 12
ÍNDICE
Manejo pós-operatório
Caso o transoperatório ou o pós-operatório
imediato não apresentem nenhuma complicação e
se observe, na radiografia controle, que a prótese
está adequadamente posicionada, tanto no plano
sagital quanto no coronal, o paciente pode se
levantar após seis a sete horas do procedimento.
Normalmente, pode ser dada alta após um dia de
hospitalização.
Para os pacientes que realizam trabalhos
considerados pesados, é conveniente evitar
trabalhar durante um mês, mas a maioria das
pessoas com outras ocupações retoma suas
atividades em média depois de três a dez dias.
Entretanto, alguns pacientes requerem um breve
ciclo de fisioterapia de recondicionamento, ainda
que este procedimento não seja rotina.
Possíveis complicações
As complicações nesse tipo de cirurgia podem estar relacionadas à abordagem e ao
implante (Denaro et al., 2009).
Dentre as complicações devido à abordagem, não existe diferença daquelas
relatadas na cirurgia de fusão por via anterior. As taxas de incidência são similares,
havendo inclusive relatos informando menor incidência de disfagia quando se
utiliza prótese do que quando se realiza discectomia com artrodese e placa.
As complicações relacionadas ao implante são raras e, se comparadas com as
cirurgias de prótese lombares, são menos graves. A cirurgia de revisão é menos
exigente e arriscada (Denaro et al., 2009).
Controle radiográfico pós-operatório
Observa-se diminuição da lordose
no pós-operatório imediato.
Observa-se melhora do plano sagital
seis meses após a cirurgia.
Na radiografia inicial, observa-se com
frequência a ausência de um alinhamento
sagital adequado, fenômeno que se corrige
com o passar do tempo e à medida que o
paciente abandona os analgésicos e retoma sua
vida cotidiana.
A dor no pós-operatório pode ser controlada
com analgésicos comuns e ocasionalmente
com opiáceos (Murrey et al., 2008), e não há
necessidade de nenhum tipo de colar, exceto
quando o paciente manifestar dor cervical
(situação pouco frequente).
13. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 13
ÍNDICE
Resultados esperados
Em pacientes bem selecionados, os resultados clínicos informados
são similares aos obtidos com a cirurgia de artrodese por via
anterior (Bertagnoli et al., 2005; Murrey
et al., 2008).
Até hoje, alguns artigos de acompanha-
mento por cinco anos observam que o
número de reoperações de relevância
estatística, tanto no nível operado quanto
nos adjacentes, é menor no grupo com
prótese do que no grupo com artrodese
(Murrey et al., 2008). Tal condição não se
repete em todos os estudos prospectivos.
Outros aspectos importantes a serem
discutidos dizem respeito à indicação da prótese em níveis
múltiplos, quando o sintoma principal é a mielopatia, e quando é
apresentada como alternativa de tratamento em um nível adjacente
à artrodese.
Atualmente, é aceita como boa indicação a colocação da prótese
quando há doença bem definida em até três níveis (Riew et al.,
2008).
Posição
ruim do
implante
Ossificação
heterotópica
Subsidência
Detritos e
afrouxamento
Infecção
Fratura
do corpo
vertebral
Pode acontecer tanto no plano sagital quanto
no coronal. Qualquer posição ruim deve ser
diagnosticada no pós-operatório imediato e
deve ser corrigida, realocando-se a prótese ou
trocando-a, caso a seleção tenha sido inadequada.
Com menos frequência, é necessário transformar a
cirurgia em uma fusão.
É a complicação tardia relatada com maior
frequência.
Normalmente não altera o resultado clínico.
Foi classificada por McAfee, de acordo com
a severidade, em cinco tipos (0-IV), sendo 0
quando é negativa e IV quando há uma artrodese
despercebida e inesperada (Mehren et al., 2006).
Há quem recomende o uso de AINES no pós-
operatório para evitá-la. Contudo, está mais
relacionada a uma técnica cirúrgica ruim, conforme
mencionado anteriormente (Hacker, 2006; Mehren
et al., 2006).
Raramente relatada na coluna cervical, mas
diretamente relacionada à técnica cirúrgica
ruim por debilitar de forma exagerada as placas
terminais.
Um tema ainda pouco conhecido, especialmente
na coluna cervical, que ganhará mais destaque no
futuro.
Pode ser classificada como superficial ou profunda.
No primeiro caso, geralmente o tratamento com
antibiótico convencional e medidas de limpeza
do local são suficientes. Contudo, quando
apresenta infecção profunda, que pode incluir
comprometimento dos corpos vertebrais adjacentes
ou abscesso epidural, é necessária a cirurgia de
revisão com retirada do implante, complementada
com artrodese.
Relatada com o uso de prótese multinível quando
se utiliza a Prodisc-C, que apresenta quilha no seu
desenho.
A recomendação é evitar este tipo de implante em
pacientes com algum grau de osteopenia (mulheres
com mais 45 anos) ou pessoas baixas, com corpos
vertebrais pequenos. Este problema é resolvido
com o uso da nova Prodisc-C com 3 quilhas a
menos.
A pergunta mais
importante é se
ao preservar o
movimento é possível
diminuir a incidência
de cirurgia no mesmo
nível dos segmentos
adjacentes.
14. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 14
ÍNDICE
Se a mielopatia for decorrente somente de doença retrodiscal,
há boa indicação para se colocar uma prótese. A maioria
dos pacientes que se enquadram neste grupo são pacientes
relativamente jovens, não idosos, nos quais o comprometimento
medular é resultado de espondilose grave com doença
retrocorporal, e nos quais tal tecnologia não é adequada.
O último grupo sobre o qual tem havido um crescente interesse
é o dos pacientes com doença sintomática nos níveis superiores
ou inferiores adjacentes à artrodese prévia. O uso da prótese
pode ser considerado nestes casos quando o nível a ser tratado
atende aos mesmos requisitos das indicações e contraindicações
primárias. Contudo, ainda é importante levar em consideração
que se tal segmento for hipermóvel, a técnica de artoplastia deve
ser usada com severas restrições, com alta possibilidade de falha
mecânica (Phillips et al., 2009).
15. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 15
ÍNDICE
4. SÍNTESE
Embora seja verdade que a artrodese cervical anterior continue
sendo a cirurgia mais indicada para solucionar um percentual
relevante dos casos de pacientes com patologia degenerativa, as
técnicas de não fusão e, especificamente, a artroplastia cervical,
têm ganhado terreno nas duas últimas décadas.
Tal fato tem por base a hipótese de que a preservação do
movimento do segmento a ser tratado se traduz em um resultado
positivo no pós-operatório imediato e, no médio ou longo prazo,
em uma diminuição da incidência da patologia nos segmentos
adjacentes. Na literatura, o primeiro ponto tem sido amplamente
demonstrado, alcançando resultados similares à artrodese. No
entanto, o segundo e mais importante ponto continua gerando
grande controvérsia, ainda que alguns grupos tenham relatado
menor incidência de cirurgias de revisão em pacientes com
prótese do que naqueles com artrodese.
Para conseguir bons resultados com este tipo de implante, é
fundamental conhecer claramente suas indicações e, acima de
tudo, suas contraindicações. Existe uma grande chance de êxito,
com alto nível de satisfação do paciente e do cirurgião, quando se
consegue controlar os seguintes aspectos:
• domínio da técnica cirúrgica;
• clareza na identificação das diferenças em relação à técnica de
artrodese;
• conhecimento preciso dos detalhes inerentes a cada um dos
modelos de prótese que existem no mercado.
16. Programa de Formação
Continua AOSpine Patologia Degenerativa–Substituição de disco cervical 16
ÍNDICE
REFERÊNCIAS
Anakwenze, O. A., Auerbach, J. D., Milby, A. H., Lonner, B. S.,
Balderston, R. A. (2009) Sagittal cervical alignment after cervical
disc arthroplasty and anterior cervical discectomy and fusion.
Results of a Prospective, Randomized, Controlled Trial.
Spine, 34, 2001-2007.
Bertagnoli, R., Yue, J. J., Pfeiffer, F., Fenk-Mayer, A., Lawrence J. P.,
Kershaw T., et al. (2005) Early results after Prodisc-C cervical disc
replacement, J. Neurosurg. Spine, 2, 403-410.
Buchowski, J. M., Anderson, P. A., Sekhon, L. e Riew, K. D.
(2009) Cervical disc arthroplasty compared with arthrodesis
for the treatment of myelopathy. Surgical technique.
J Bone Joint Surg Am, 91, 223-232.
Denaro, V., Papalia, R., Denaro, L., Di Martino, A. e Maffulli, N. A.
(2009) Cervical spinal disc replacement. J Bone Joint Surg [Br], 91(B),
713-719.
Hacker, R. J. (2006) Cervical Disk Arthroplasty: Indications and
Techniques En: A. R. Vaccaro, S. Papadopoulus, V. C. Traynelis, R.
W. Haid. e R. C. Sasso (Eds). Spinal Arthroplasty. The preservation of
Motion. (pp. 105-119). Philadelphia: WB Saunders.
Hilibrand, A. S., Carlson, G. D., Palumbo, M. A., Jones, P. K. e
Bohlman, H. Y. (1999) Radiculopathy and myelopathy at segments
adjacent to the site of a previous anterior cervical arthrodesis.
J Bone Joint Surg [Am], 81(A), 519-528.
Kim, D. H. e Vaccaro, A. R. (2006) History of Disk Replacement
Surgery Em: A. R. Vaccaro, S. Papadopoulus, V. C. Traynelis, R. W.
Haid. e R. C. Sasso (Eds). Spinal Arthroplasty. The preservation of
Motion. (pp. 37-49). Philadelphia: WB Saunders.
Mehren, C., Suchomel, P., Grochulla, F., Barsa, P., Sourkova, P.,
Hradil, J. et al. (2006) Heterotopic ossification in total cervical disc
replacement. Spine, 31(24), 2802-2806.
Murrey, D., Janssen, M., Delamarter, R., Goldstein, J., Zigler, J., Tay,
B. et al. (2008) Results of the prospective, randomized, multicenter
Food andDrug Administration investigational device exemption
study of the ProDisc-C total disc replacement versus anterior
discectomy and fusion for the treatment of 1-level symptomatic
cervical disc disease. Spine J, 9(4), 275-286.
Phillips, F. M., Allen, T. R., Regan, J. J., Albert, T. J., Cappuccino, A.,
Devine, J. G. et al. (2009) Cervical disc replacement in patients with
and without previous adjacent level fusion surgery. A prospective
study. Spine, 34(6), 556-565.
Pracyk, J. B. e Traynelis, V. C. (2005) Treatment of the painful
motion segment, cervical arthroplasty. Spine, 30(16S), S23-S32.
Riew, K. D., Buchowski, J. M., Sasso, R., Zdeblick, T., Metcalf, N. H.
e Anderson, P. A. (2008) Cervical disc arthroplasty compared with
arthrodesis for the treatment of myelopathy. J Bone Joint Surg Am,
90, 2354-2364.
N2.M6.T6