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Uma conversa sobre a
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Caso extraído de: PEREIRA, Alexandre et al. Saúde Mental. 2. ed. - Belo Horizonte : NESCON/UFMG, 2013. 80 p.
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normalmente apenas alguns minutos, mas são bastante desconfortáveis. A usuária já compareceu várias
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medicação, fica insone e irritada. Informação trazida pela agente comunitária de saúde, que é vizinha da
usuária, confirma a história de nervosismo constante e crises mais fortes eventuais, especialmente quando
o marido chega bêbado em casa, o que ocorre quase que diariamente. São frequentes as visitas de Dona Maria
à sua casa para “desabafar” e pedir algum conselho. A usuária é também hipertensa e não tem conseguido
manter os níveis pressóricos dentro da normalidade. (Pereira et al., 2013, p. 61)
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mARIA HELENA NOS
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não se trata de negar que existam diferenças (pois elas existem aos montes,
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mulheres ou dois homens), mas antes de apontar como e por que exatamente
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para justificar espaços sociais de maior ou menor empoderamento. Ou seja, a
diferença foi traduzida em oposição e desigualdade. “Gênero” é,
portanto, um conceito relacional e implica sempre relações de poder, de
privilégios, de maior ou menor prestígio. O que Butler destaca então
é que a diferença sexual é uma construção de gênero.
RESUMINDO
A palavra "gênero" tem várias acepções e pode apontar para
ideias diferentes, a depender de seu uso. A terceira onda do
feminismo faz críticas pertinentes à noção de que a diferença
corporal antecede a qualquer construção cultural, tendo em
vista que o acesso a essas diferenças nunca pode dar-se de
forma livre e fora da própria cultura que a interpreta e a ela
atribui valores e hierarquias. Nessa perspectiva, gênero é
entendido de forma relacional (implica sempre relações de
poder, estar em lugares de maior ou menor prestígio e
empoderamento). Além disso, diz respeito a performances
constantemente repetidas e interpeladas por diferentes
mecanismos sociais, dos quais as tecnologias de gênero são
as mais poderosas. Elas não apenas retratam as diferenças,
mas as recriam e reafirmam. Nesse sentido, as performances
são constantemente reiteradas
Transgener(al)idades
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  • 3. o QUE O CASO DE mARIA HELENA NOS MOSTRA? qUAIS PERGUNTAS PODERÍAMOS FAZER PARA dONA mARIA hELENA?
  • 4. Como percebemos o gênero? Os corpos e os diferentes modos de interpretação Diferenças anatômicas? “A história da representação das diferenças anatômicas entre mulheres e homens é independente das verdadeiras estruturas destes órgãos (...). A ideologia, não a exatidão da observação, determina como eles foram vistos e quais as diferenças importantes” (Laqueur, 2001, p. 111). Gênero é uma construção social? não se trata de negar que existam diferenças (pois elas existem aos montes, mesmo entre duas mulheres ou dois homens), mas antes de apontar como e por que exatamente essas diferenças foram tomadas de uma determinada forma, para justificar espaços sociais de maior ou menor empoderamento. Ou seja, a diferença foi traduzida em oposição e desigualdade. “Gênero” é, portanto, um conceito relacional e implica sempre relações de poder, de privilégios, de maior ou menor prestígio. O que Butler destaca então é que a diferença sexual é uma construção de gênero.
  • 5.
  • 6. RESUMINDO A palavra "gênero" tem várias acepções e pode apontar para ideias diferentes, a depender de seu uso. A terceira onda do feminismo faz críticas pertinentes à noção de que a diferença corporal antecede a qualquer construção cultural, tendo em vista que o acesso a essas diferenças nunca pode dar-se de forma livre e fora da própria cultura que a interpreta e a ela atribui valores e hierarquias. Nessa perspectiva, gênero é entendido de forma relacional (implica sempre relações de poder, estar em lugares de maior ou menor prestígio e empoderamento). Além disso, diz respeito a performances constantemente repetidas e interpeladas por diferentes mecanismos sociais, dos quais as tecnologias de gênero são as mais poderosas. Elas não apenas retratam as diferenças, mas as recriam e reafirmam. Nesse sentido, as performances são constantemente reiteradas
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