O documento descreve trajetórias de casais mistos (escravos e livres) que viveram entre os séculos XVIII e XIX na vila de São José dos Pinhais, Paraná. Analisa como o casamento e o compadrio eram estratégias sociais utilizadas pela elite escravocrata para controlar dependentes e manter a hierarquia social. Para a população de origem africana e indígena, esses laços familiares representavam uma forma de ascensão social e afirmação da liberdade.
O documento resume o livro "O que faz o Brasil, Brasil?" de Roberto da Matta, explorando tópicos como a dualidade do "brasil" versus o "Brasil", as diferenças entre casa e rua, e as festas formais versus o carnaval. O autor analisa aspectos culturais que definem a identidade brasileira, como a mistura social e o "jeitinho" para burlar regras.
O livro discute a identidade brasileira, diferenciando o "Brasil" com letra maiúscula, representando a cultura, do "Brasil" com letra minúscula, algo sem vida. Analisa como a identidade é construída a partir de valores modernos e antigos. Também aborda as relações sociais em casa, na rua e no trabalho, além de tradições como o carnaval e a religiosidade dos brasileiros.
O documento discute a identidade brasileira através de diversos aspectos como: a casa, a rua, o trabalho, comida, mulheres, carnaval, festas, jeitinho brasileiro e religião. O autor argumenta que é a mistura dessas características que formam o "Brasil, Brasil", enfatizando especialmente o jeitinho brasileiro de contornar situações e a importância da religião para os brasileiros.
1) O documento discute a figura do governador D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, o morgado de Mateus, que governou a capitania de São Paulo entre 1765 e 1775.
2) Sob seu governo, foi fundado em 1774 o Recolhimento da Luz, inicialmente um recolhimento feminino.
3) O morgado de Mateus via a capitania em estado lastimável quando assumiu o governo, com falta de religião e sociedade, o que impedia o progresso segundo os ideais ilustrados
Este documento discute a importância de se basear em fontes históricas confiáveis ao invés de conjecturas, e descreve João Ramalho como uma figura central na fundação de Santo André e São Paulo, estabelecendo a ordem social e jurídica nos primórdios da colonização portuguesa no planalto paulista.
Este documento discute a noção de cordialidade na sociedade brasileira através da obra de Machado de Assis. A cordialidade representa a predominância do ethos rural sobre o urbano e dificulta a democratização priorizando tratamento pessoal em vez de igualdade. Romances como Dom Casmurro e Casa Velha mostram personagens incapazes de operar fora do âmbito familiar devido à lógica de cordialidade.
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...UNEB
O documento discute como a sociedade de Conceição do Coité no século XIX relacionava a honra feminina aos valores familiares e morais, analisando um processo criminal de rapto em 1893. A análise revela padrões de comportamento feminino em relação ao casamento e arranjos que desafiavam a autoridade paterna e a tradição, em defesa do casamento por amor.
1) O documento resume o livro "Negritude sem etnicidade" de Lívio Sansone, que analisa a construção das identidades negras no Brasil e como símbolos globais são reinterpretados localmente.
2) Sansone argumenta que raça e etnicidade não são universais e dependem do contexto social. A negritude brasileira é expressa de muitas formas sem necessariamente estar ligada a manifestações étnicas.
3) Apesar de apontar problemas, o resumo elogia a obra por apresentar uma interpretação sof
O documento resume o livro "O que faz o Brasil, Brasil?" de Roberto da Matta, explorando tópicos como a dualidade do "brasil" versus o "Brasil", as diferenças entre casa e rua, e as festas formais versus o carnaval. O autor analisa aspectos culturais que definem a identidade brasileira, como a mistura social e o "jeitinho" para burlar regras.
O livro discute a identidade brasileira, diferenciando o "Brasil" com letra maiúscula, representando a cultura, do "Brasil" com letra minúscula, algo sem vida. Analisa como a identidade é construída a partir de valores modernos e antigos. Também aborda as relações sociais em casa, na rua e no trabalho, além de tradições como o carnaval e a religiosidade dos brasileiros.
O documento discute a identidade brasileira através de diversos aspectos como: a casa, a rua, o trabalho, comida, mulheres, carnaval, festas, jeitinho brasileiro e religião. O autor argumenta que é a mistura dessas características que formam o "Brasil, Brasil", enfatizando especialmente o jeitinho brasileiro de contornar situações e a importância da religião para os brasileiros.
1) O documento discute a figura do governador D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, o morgado de Mateus, que governou a capitania de São Paulo entre 1765 e 1775.
2) Sob seu governo, foi fundado em 1774 o Recolhimento da Luz, inicialmente um recolhimento feminino.
3) O morgado de Mateus via a capitania em estado lastimável quando assumiu o governo, com falta de religião e sociedade, o que impedia o progresso segundo os ideais ilustrados
Este documento discute a importância de se basear em fontes históricas confiáveis ao invés de conjecturas, e descreve João Ramalho como uma figura central na fundação de Santo André e São Paulo, estabelecendo a ordem social e jurídica nos primórdios da colonização portuguesa no planalto paulista.
Este documento discute a noção de cordialidade na sociedade brasileira através da obra de Machado de Assis. A cordialidade representa a predominância do ethos rural sobre o urbano e dificulta a democratização priorizando tratamento pessoal em vez de igualdade. Romances como Dom Casmurro e Casa Velha mostram personagens incapazes de operar fora do âmbito familiar devido à lógica de cordialidade.
Rapto estratégia de conjugalidade e honra feminina na vila de conceição do co...UNEB
O documento discute como a sociedade de Conceição do Coité no século XIX relacionava a honra feminina aos valores familiares e morais, analisando um processo criminal de rapto em 1893. A análise revela padrões de comportamento feminino em relação ao casamento e arranjos que desafiavam a autoridade paterna e a tradição, em defesa do casamento por amor.
1) O documento resume o livro "Negritude sem etnicidade" de Lívio Sansone, que analisa a construção das identidades negras no Brasil e como símbolos globais são reinterpretados localmente.
2) Sansone argumenta que raça e etnicidade não são universais e dependem do contexto social. A negritude brasileira é expressa de muitas formas sem necessariamente estar ligada a manifestações étnicas.
3) Apesar de apontar problemas, o resumo elogia a obra por apresentar uma interpretação sof
Este artigo discute como a diferenciação racial contribui para a desigualdade social no Brasil. As autoras argumentam que o critério racial opera como fator de diferenciação, gerando desigualdades, mesmo entre camadas populares da mesma classe social, devido à discriminação. Elas propõem o conceito de "habitus racista" para explicar como certos traços fenotípicos negros são associados a um menor capital simbólico e social, estruturando o destino social dos indivíduos negros e dificultando sua ascensão. Final
Este documento discute a família na sociedade moderna. Questiona o retorno nostálgico ao modelo tradicional de família e argumenta que a família vem mudando historicamente. Também examina como a família foi capturada pela nova ordem disciplinar do Estado moderno e como isso afetou principalmente as famílias pobres.
O artigo discute conceitos como discriminação, racismo, preconceito e desigualdade social de forma reflexiva. A autora argumenta que esses conceitos estão interligados e que o foco deve ser combater ações que promovem preconceito e desigualdade. Ela também reflete sobre como a discriminação nem sempre é negativa e pode ser usada para reconhecer diferenças de forma positiva, como em políticas afirmativas. O texto defende uma abordagem que valorize a igualdade na diversidade.
Raça", sexualidade e gênero na construção da identidade nacional: uma compara...Geraa Ufms
Este artigo compara as representações de relacionamentos afetivo-sexuais entre "negros" e "brancos" no Brasil e na África do Sul, analisando como conceitos de "raça", gênero e sexualidade contribuem para a construção da identidade nacional em cada país. O autor utiliza duas obras literárias, uma brasileira e uma sul-africana, para ilustrar pontos de contato e diferença no debate sobre esses temas, que retratam o Brasil ora como "inferno" ora como "paraíso racial".
A mediação do riso na expressão e consolidação do racismo no brasilGeraa Ufms
O documento discute como o riso desempenha um papel importante na expressão e consolidação do racismo no Brasil. O riso provocado por piadas racistas permite que brasileiros expressem racismo de forma velada, contornando a censura. Isso contribui para o encobrimento e manutenção do racismo no país. Entretanto, um debate público sobre o próprio riso pode ameaçar essa função.
Este documento discute como a escola reproduz estereótipos negativos sobre o corpo negro e o cabelo crespo e como isso afeta a construção da identidade de estudantes negros. A autora argumenta que é importante dar mais atenção às experiências corporais e simbólicas de estudantes negros para entender melhor como a questão racial se manifesta no ambiente escolar.
O texto discute a identidade da sociedade brasileira, distinguindo o "Brasil" com "B" maiúsculo, que representa os valores e cultura do país, do "brasil" com "b" minúsculo, que representa as possibilidades humanas individuais. A sociedade brasileira busca entender como esses dois aspectos se relacionam e formam uma realidade única.
O texto discute a identidade da sociedade brasileira, distinguindo o "Brasil" com "B" maiúsculo, que representa os valores e cultura do país, de "brasil" com "b" minúsculo, que representa as possibilidades humanas individuais. O autor argumenta que os brasileiros querem unir esses dois aspectos em uma realidade única, ao invés de dividí-los.
A Igreja católica e as mulheres no contexto de romanização da Igreja no Rio G...Vanildo Zugno
O documento analisa o discurso da Igreja Católica sobre as mulheres no contexto da romanização no Rio Grande do Sul no final do século XIX e início do século XX. Três grupos de mulheres são priorizados: as mulheres dos imigrantes italianos, às quais era exaltado o papel de esposas e mães obedientes; as "mulheres brasileiras", instadas a se enquadrarem no modelo das imigrantes; e as mulheres religiosas, chamadas a um papel educativo sob a autoridade clerical, negando-se qualquer
Este documento discute a coexistência do ufanismo (orgulho nacional) e do ressentimento na formação da identidade luso-brasileira no século XVIII. Analisa como esses sentimentos ambíguos foram manipulados para exaltar ou negar a identidade brasileira e como influenciaram a construção de narrativas históricas. Explora também os significados originais dos termos "sensibilidade", "ufanismo" e "ressentimento" na cultura portuguesa do início do século XVIII.
Este documento discute as cotas raciais nas universidades públicas brasileiras. Primeiro, define raça como um conceito sociológico em vez de biológico. Segundo, explica que a colonização da América Latina criou identidades raciais ligadas à divisão do trabalho. Terceiro, argumenta que as cotas são necessárias para reparar o histórico abandono do povo negro e combater o racismo estrutural no Brasil.
[1] Von Martius propõe que uma História do Brasil deve resumir os principais acontecimentos de cada época e região de forma concisa, omitindo detalhes insignificantes. [2] Deve tratar conjuntamente regiões com características naturais e sociais semelhantes. [3] Defende que o historiador deve conhecer pessoalmente todas as regiões do país para compreender melhor cada localidade e ligar os acontecimentos regionais.
1) O documento discute a obra e importância de Caio Prado Jr. como o primeiro marxista brasileiro.
2) Caio Prado Jr. foi capaz de utilizar o método marxista de forma original para analisar a experiência histórico-social brasileira.
3) Embora o marxismo tenha tido dificuldades em compreender a América Latina, Caio Prado Jr. conseguiu analisar as particularidades do Brasil de forma diferenciada dos demais marxistas brasileiros.
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Agosto...ParoquiaDeSaoPedro
O documento descreve o XVII Congresso Eucarístico Nacional que ocorrerá em Belém do Pará entre os dias 15 e 21 de agosto para celebrar os 400 anos da cidade. O Congresso quer reunir católicos para dar testemunho público da fé na Eucaristia e inspirar compromissos práticos com base nessa fé.
Professor coautor na formacao da identidade nacional brasileirahistoriapucgoias
O documento discute o papel do professor na construção da identidade nacional brasileira através da historiografia. Apresenta as visões de Capistrano de Abreu e Gilberto Freyre sobre a formação da identidade brasileira pela miscigenação entre indígenas, brancos e negros. Argumenta que o ensino de História nas escolas é importante para desenvolver a compreensão dos alunos sobre suas raízes culturais e identitárias.
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Setemb...ParoquiaDeSaoPedro
1) O Brasil enfrenta graves problemas sociais como fome, desemprego, falta de saúde e educação, corrupção e violência, que demandam análises e soluções urgentes.
2) A Igreja reconhece a gravidade da situação no país, mas oferece esperança aos fiéis através da fé em Deus e da leitura da Bíblia.
3) A Bíblia, apesar de ter sido escrita há milênios, continua sendo relevante e necessária para a vida dos cristãos hoje, pois é
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Julho ...ParoquiaDeSaoPedro
O documento descreve a popularidade do Papa Francisco devido à sua alegria, acolhimento e cordialidade. Ele conquista pessoas de todas as origens com uma Igreja aberta e alegre. Dois de seus documentos recentes enfatizam a alegria no evangelho e no amor.
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre a imprensa negra brasileira do século XIX. A dissertação reconhece a existência de jornais negros no Brasil do século XIX e sistematiza oito títulos publicados entre 1833 e 1899 nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul. Esses jornais são analisados como espaços de construção de identidade para pessoas negras livres e de debate sobre racismo e democracia no Brasil oitocentista.
Compadrio De Escravos & Paternalismo Em SãO José Pinhaisguest5eb864
Este documento discute as relações de compadrio entre escravos na Freguesia de São José dos Pinhais no século XVIII e início do XIX. Analisa os batismos dos filhos do casal de escravos Antonio e Simoa, que pertenciam a Bernardo Martins Ferreira, e mostra que seus filhos tiveram padrinhos e madrinhas livres ligados à família senhorial. Também examina o compadrio da escrava Liberata e seus filhos, que provavelmente pertenciam ao mesmo senhor. Conclui que em São José dos P
Compadrio De Escravos & Paternalismo Em SãO José Pinhaisculturaafro
O documento discute as relações de compadrio entre escravos na Freguesia de São José dos Pinhais (PR) no século XVIII e início do XIX. A pesquisa mostra que os escravos geralmente tinham padrinhos e madrinhas livres, raramente o próprio senhor ou parentes deste. Isso indica a ausência de relações paternalistas entre senhores e escravos, e que os laços de compadrio entre escravos ultrapassavam os limites da propriedade. O caso da família de escravos Antonio Angola e Simoa é
Este trabalho trata da rede de Familiares do Santo Ofício presentes em Minas Gerais durante o século XVIII. Analisa a relação entre a Inquisição portuguesa e a sociedade colonial mineira através destes agentes civis do tribunal inquisitorial. Explora questões como as funções dos Familiares, seu recrutamento social e a ligação entre familiatura do Santo Ofício e distinção social na região.
A lavagem de são roque em riachão do jacuípe um espaço de integração entre a ...UNEB
Este documento discute a prostituição no Brasil nas décadas de 1930-1950, especialmente em Riachão do Jacuipe na Bahia. Aproximadamente nesse período, a prostituição era vista como um "mal necessário" para preservar a moral familiar, embora as prostitutas enfrentassem preconceito e segregação. Em Riachão do Jacuipe, as prostitutas participavam da Festa de São Roque, apesar da oposição da Igreja Católica, o que provocava conflitos sociais.
Este artigo discute como a diferenciação racial contribui para a desigualdade social no Brasil. As autoras argumentam que o critério racial opera como fator de diferenciação, gerando desigualdades, mesmo entre camadas populares da mesma classe social, devido à discriminação. Elas propõem o conceito de "habitus racista" para explicar como certos traços fenotípicos negros são associados a um menor capital simbólico e social, estruturando o destino social dos indivíduos negros e dificultando sua ascensão. Final
Este documento discute a família na sociedade moderna. Questiona o retorno nostálgico ao modelo tradicional de família e argumenta que a família vem mudando historicamente. Também examina como a família foi capturada pela nova ordem disciplinar do Estado moderno e como isso afetou principalmente as famílias pobres.
O artigo discute conceitos como discriminação, racismo, preconceito e desigualdade social de forma reflexiva. A autora argumenta que esses conceitos estão interligados e que o foco deve ser combater ações que promovem preconceito e desigualdade. Ela também reflete sobre como a discriminação nem sempre é negativa e pode ser usada para reconhecer diferenças de forma positiva, como em políticas afirmativas. O texto defende uma abordagem que valorize a igualdade na diversidade.
Raça", sexualidade e gênero na construção da identidade nacional: uma compara...Geraa Ufms
Este artigo compara as representações de relacionamentos afetivo-sexuais entre "negros" e "brancos" no Brasil e na África do Sul, analisando como conceitos de "raça", gênero e sexualidade contribuem para a construção da identidade nacional em cada país. O autor utiliza duas obras literárias, uma brasileira e uma sul-africana, para ilustrar pontos de contato e diferença no debate sobre esses temas, que retratam o Brasil ora como "inferno" ora como "paraíso racial".
A mediação do riso na expressão e consolidação do racismo no brasilGeraa Ufms
O documento discute como o riso desempenha um papel importante na expressão e consolidação do racismo no Brasil. O riso provocado por piadas racistas permite que brasileiros expressem racismo de forma velada, contornando a censura. Isso contribui para o encobrimento e manutenção do racismo no país. Entretanto, um debate público sobre o próprio riso pode ameaçar essa função.
Este documento discute como a escola reproduz estereótipos negativos sobre o corpo negro e o cabelo crespo e como isso afeta a construção da identidade de estudantes negros. A autora argumenta que é importante dar mais atenção às experiências corporais e simbólicas de estudantes negros para entender melhor como a questão racial se manifesta no ambiente escolar.
O texto discute a identidade da sociedade brasileira, distinguindo o "Brasil" com "B" maiúsculo, que representa os valores e cultura do país, do "brasil" com "b" minúsculo, que representa as possibilidades humanas individuais. A sociedade brasileira busca entender como esses dois aspectos se relacionam e formam uma realidade única.
O texto discute a identidade da sociedade brasileira, distinguindo o "Brasil" com "B" maiúsculo, que representa os valores e cultura do país, de "brasil" com "b" minúsculo, que representa as possibilidades humanas individuais. O autor argumenta que os brasileiros querem unir esses dois aspectos em uma realidade única, ao invés de dividí-los.
A Igreja católica e as mulheres no contexto de romanização da Igreja no Rio G...Vanildo Zugno
O documento analisa o discurso da Igreja Católica sobre as mulheres no contexto da romanização no Rio Grande do Sul no final do século XIX e início do século XX. Três grupos de mulheres são priorizados: as mulheres dos imigrantes italianos, às quais era exaltado o papel de esposas e mães obedientes; as "mulheres brasileiras", instadas a se enquadrarem no modelo das imigrantes; e as mulheres religiosas, chamadas a um papel educativo sob a autoridade clerical, negando-se qualquer
Este documento discute a coexistência do ufanismo (orgulho nacional) e do ressentimento na formação da identidade luso-brasileira no século XVIII. Analisa como esses sentimentos ambíguos foram manipulados para exaltar ou negar a identidade brasileira e como influenciaram a construção de narrativas históricas. Explora também os significados originais dos termos "sensibilidade", "ufanismo" e "ressentimento" na cultura portuguesa do início do século XVIII.
Este documento discute as cotas raciais nas universidades públicas brasileiras. Primeiro, define raça como um conceito sociológico em vez de biológico. Segundo, explica que a colonização da América Latina criou identidades raciais ligadas à divisão do trabalho. Terceiro, argumenta que as cotas são necessárias para reparar o histórico abandono do povo negro e combater o racismo estrutural no Brasil.
[1] Von Martius propõe que uma História do Brasil deve resumir os principais acontecimentos de cada época e região de forma concisa, omitindo detalhes insignificantes. [2] Deve tratar conjuntamente regiões com características naturais e sociais semelhantes. [3] Defende que o historiador deve conhecer pessoalmente todas as regiões do país para compreender melhor cada localidade e ligar os acontecimentos regionais.
1) O documento discute a obra e importância de Caio Prado Jr. como o primeiro marxista brasileiro.
2) Caio Prado Jr. foi capaz de utilizar o método marxista de forma original para analisar a experiência histórico-social brasileira.
3) Embora o marxismo tenha tido dificuldades em compreender a América Latina, Caio Prado Jr. conseguiu analisar as particularidades do Brasil de forma diferenciada dos demais marxistas brasileiros.
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Agosto...ParoquiaDeSaoPedro
O documento descreve o XVII Congresso Eucarístico Nacional que ocorrerá em Belém do Pará entre os dias 15 e 21 de agosto para celebrar os 400 anos da cidade. O Congresso quer reunir católicos para dar testemunho público da fé na Eucaristia e inspirar compromissos práticos com base nessa fé.
Professor coautor na formacao da identidade nacional brasileirahistoriapucgoias
O documento discute o papel do professor na construção da identidade nacional brasileira através da historiografia. Apresenta as visões de Capistrano de Abreu e Gilberto Freyre sobre a formação da identidade brasileira pela miscigenação entre indígenas, brancos e negros. Argumenta que o ensino de História nas escolas é importante para desenvolver a compreensão dos alunos sobre suas raízes culturais e identitárias.
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Setemb...ParoquiaDeSaoPedro
1) O Brasil enfrenta graves problemas sociais como fome, desemprego, falta de saúde e educação, corrupção e violência, que demandam análises e soluções urgentes.
2) A Igreja reconhece a gravidade da situação no país, mas oferece esperança aos fiéis através da fé em Deus e da leitura da Bíblia.
3) A Bíblia, apesar de ter sido escrita há milênios, continua sendo relevante e necessária para a vida dos cristãos hoje, pois é
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Julho ...ParoquiaDeSaoPedro
O documento descreve a popularidade do Papa Francisco devido à sua alegria, acolhimento e cordialidade. Ele conquista pessoas de todas as origens com uma Igreja aberta e alegre. Dois de seus documentos recentes enfatizam a alegria no evangelho e no amor.
Este documento apresenta uma dissertação de mestrado sobre a imprensa negra brasileira do século XIX. A dissertação reconhece a existência de jornais negros no Brasil do século XIX e sistematiza oito títulos publicados entre 1833 e 1899 nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul. Esses jornais são analisados como espaços de construção de identidade para pessoas negras livres e de debate sobre racismo e democracia no Brasil oitocentista.
Compadrio De Escravos & Paternalismo Em SãO José Pinhaisguest5eb864
Este documento discute as relações de compadrio entre escravos na Freguesia de São José dos Pinhais no século XVIII e início do XIX. Analisa os batismos dos filhos do casal de escravos Antonio e Simoa, que pertenciam a Bernardo Martins Ferreira, e mostra que seus filhos tiveram padrinhos e madrinhas livres ligados à família senhorial. Também examina o compadrio da escrava Liberata e seus filhos, que provavelmente pertenciam ao mesmo senhor. Conclui que em São José dos P
Compadrio De Escravos & Paternalismo Em SãO José Pinhaisculturaafro
O documento discute as relações de compadrio entre escravos na Freguesia de São José dos Pinhais (PR) no século XVIII e início do XIX. A pesquisa mostra que os escravos geralmente tinham padrinhos e madrinhas livres, raramente o próprio senhor ou parentes deste. Isso indica a ausência de relações paternalistas entre senhores e escravos, e que os laços de compadrio entre escravos ultrapassavam os limites da propriedade. O caso da família de escravos Antonio Angola e Simoa é
Este trabalho trata da rede de Familiares do Santo Ofício presentes em Minas Gerais durante o século XVIII. Analisa a relação entre a Inquisição portuguesa e a sociedade colonial mineira através destes agentes civis do tribunal inquisitorial. Explora questões como as funções dos Familiares, seu recrutamento social e a ligação entre familiatura do Santo Ofício e distinção social na região.
A lavagem de são roque em riachão do jacuípe um espaço de integração entre a ...UNEB
Este documento discute a prostituição no Brasil nas décadas de 1930-1950, especialmente em Riachão do Jacuipe na Bahia. Aproximadamente nesse período, a prostituição era vista como um "mal necessário" para preservar a moral familiar, embora as prostitutas enfrentassem preconceito e segregação. Em Riachão do Jacuipe, as prostitutas participavam da Festa de São Roque, apesar da oposição da Igreja Católica, o que provocava conflitos sociais.
O documento discute o concubinato no período colonial brasileiro. Ele explica que o concubinato era uma relação entre um homem e uma mulher que viviam juntos sem serem legalmente casados, e era comum entre senhores e escravas devido à falta de mulheres brancas. Apesar da Igreja condenar o concubinato, era difícil para os padres aplicarem penalidades devido às dificuldades do processo de casamento na época.
O documento resume o livro "Vida e Morte do Bandeirante", de Alcantara Machado, que estudou inventários de 1578 a 1700 para reconstituir a vida cotidiana dos paulistas do século XVII. O autor mostra que os bandeirantes eram pobres, analfabetos e viviam em constante luta contra dificuldades, contrariando a visão romântica de Oliveira Viana. A obra contribuiu para o estudo da história social brasileira com base em documentos culturais.
O documento discute a família contemporânea e como ela difere da família nuclear burguesa do passado. A família atual é mais flexível e menos hierárquica, com papéis de gênero mais igualitários. Isso ocorreu devido à maior independência feminina e ao acesso a contraceptivos, que separaram sexualidade e procriação. Algumas pessoas lamentam a perda da "família normal", mas a família burguesa do passado exigia grandes custos pessoais e sustentava-se por meio da exploração
O documento apresenta os primeiros resultados de uma pesquisa de mestrado sobre as motivações e práticas mágicas dos cristãos na Bahia colonial, com base em documentação do Santo Ofício. As principais motivações para o uso da magia eram cuidar de relacionamentos afetivos, doenças, encontrar objetos perdidos ou pessoas desaparecidas, assuntos ligados à sorte, dívidas, obter perdão ou influenciar processos judiciais, e realizar contra-feitiços. As práticas mágicas variavam e incluíam
RELIGIOSIDADE POPULAR E TURISMO ETNICO-CULTURAL: IDENTIFICACAO E REGISTRO DA ...Adriana Rocha
O documento discute o sincretismo cultural caracterizando a etnicidade e a raça social em Nova Friburgo através da análise das Folias de Reis e suas relações com a Umbanda. Apresenta como essas manifestações culturais revelam as complexas dinâmicas e interações entre diferentes grupos étnicos que compõem a história do município, indo além da visão predominantemente européia. O palhaço é apontado como um símbolo dessas trocas culturais ao representar tanto aspectos católicos quanto elementos da Umb
Familia Escrava Em Fazendas AbsenteíStas Prguest5eb864
1) O documento analisa as famílias escravas em fazendas de proprietários ausentes em Curitiba (1797) e Castro (1835), onde os escravos administravam as fazendas sem a supervisão dos senhores.
2) Essas fazendas diferiam do modelo caribenho, com os escravos tendo mais controle sobre suas vidas do que em fazendas administradas por brancos.
3) Um exemplo mostra como a distância dos senhores permitiu que um oficial tomasse posse de uma fazenda da Ordem do Carmo sem permissão.
1) O documento discute as relações de compadrio entre escravos na região de Guarapuava entre 1810 e 1888.
2) A maioria dos batismos de escravos ocorreu na segunda metade do século XIX, possivelmente devido ao aumento da aquisição de escravos nesse período.
3) Os índices de ilegitimidade entre as crianças escravas batizadas em Guarapuava foram altos, variando entre 74,5% no período de 1810-1849 até 94,1% no período
1) A Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz era uma associação de devotos que geria o templo e patrimônio associado ao Senhor da Cruz em Barcelos.
2) Ao longo dos séculos, a irmandade expandiu sua influência e o culto ao Senhor da Cruz se espalhou por Portugal e Brasil, através da expansão marítima portuguesa.
3) A irmandade desempenhava um importante papel econômico-financeiro em Barcelos, emprestando dinheiro a juros e aumentando seu
Este documento discute a repressão política no Brasil durante o período militar entre 1964-1970, especificamente em Teresina, Piauí. Ele analisa o impacto do golpe militar sobre as organizações sociais e a Igreja Católica na cidade, com base nos depoimentos de testemunhas da época. O objetivo é reconstruir a memória coletiva daqueles que sofreram perseguição política para compreender melhor esse período histórico conturbado.
Resenha: A violência de gênero nas religiões afro-brasileirasSílvia Andrade
O documento resume um livro sobre a violência de gênero nas religiões afro-brasileiras. A autora observou um aumento de homens em posições de liderança nos terreiros, contrariamente ao passado onde as mulheres eram mais comuns como sacerdotisas. A pesquisa analisa como a divisão sexual do trabalho e as representações de gênero nas religiões contribuem para uma subordinação das mulheres e uma masculinização do poder religioso.
1) O documento descreve o caso de Ambrozina, uma menina escrava de 12-13 anos acusada de assassinar uma mulher branca em 1852 na fazenda onde trabalhava. 2) Detalha as relações sociais na sociedade escravocrata e como as crianças negras eram socializadas desde cedo a viverem em dois mundos e aprenderem a obediência. 3) Analisa como a pedagogia da escravidão transformava as crianças negras em escravos domésticos desde os 6-7 anos de idade.
O documento discute as relações sexuais no Brasil colonial, abordando tópicos como sexo entre padres e freiras, senhores e escravas, e a visão da Igreja sobre a sexualidade. Também analisa como o sexo foi usado para legitimar o poder através da violência e coerção, especialmente no início da colonização.
O documento resume a obra de Philippe Ariès sobre a história social da criança e da família, mostrando como a visão sobre a infância mudou ao longo dos séculos. Na Idade Média, as crianças eram vistas como adultos em miniatura e não recebiam tratamento especial. A noção moderna de infância só surgiu no século XVII, quando as crianças passaram a ser educadas dentro de casa e receber mais afeto. A escola também começou a se dedicar especificamente à educação infantil nesse período.
1) O documento discute estereótipos raciais e de gênero na religião, literatura e ciências no Brasil colonial e pós-abolicionista.
2) Mulheres negras eram frequentemente retratadas como hipersexualizadas e responsáveis por desregramento social, enquanto estudos mais recentes apontam para agência e liderança dessas mulheres.
3) O movimento negro critica a noção de democracia racial por mascarar desigualdades raciais, e mulheres negras construíram identidade
O documento discute a formação cultural do Brasil através da miscigenação entre povos indígenas, portugueses e africanos. Também aborda as contribuições de imigrantes no século XX e a construção da identidade nacional brasileira. Por fim, analisa a escravidão negra no Brasil e seus impactos na sociedade.
O documento discute a formação cultural do Brasil através da miscigenação entre povos indígenas, portugueses e africanos. Também aborda a influência de imigrantes no século XX, a construção da identidade nacional brasileira e as contribuições culturais dos negros e afrodescendentes, apesar da história de escravidão.
Secretaria Da Educação Realiza Simpósio De História E Cultura Afrobrasileir...guest5eb864
A Secretaria da Educação do Paraná realizou o 1o Simpósio de História e Cultura Afrobrasileira, Africana e Quilombola com 650 participantes, incluindo professores e representantes de comunidades quilombolas. O objetivo foi promover a formação continuada de professores sobre esses temas e discutir formas de implementar a legislação sobre a cultura afro-brasileira nas escolas.
1) O documento descreve a história de João Cândido Felisberto, um marinheiro negro nascido no final da escravidão que participou da Revolta da Chibata em 1910.
2) A Revolta da Chibata foi um levante de marinheiros contra os maus-tratos e castigos corporais ainda presentes na Marinha brasileira após a abolição.
3) Apesar de conquistar o fim dos castigos, a revolta foi violentamente reprimida e João Cândido e outros marinheiros sofr
RelaçõEs Entre Senhores E Escravos Em áRea Voltada Para O Abastecimento Inter...guest5eb864
1) O documento analisa as possibilidades de formação de famílias escravas em Guarapuava no século XIX, apesar de ter uma escravidão pequena para os padrões brasileiros.
2) Os registros de casamento de escravos na paróquia local entre 1813-1886 mostram que havia interesse tanto dos senhores quanto dos escravos na formação de famílias, sejam elas nucleares ou matrifocais.
3) As propriedades com 1-4 escravos tinham o maior percentual de escravos
PresençA Negra Na Lapa Paraná E Cultura Materialguest5eb864
O documento descreve a presença negra na história da cidade de Lapa, no Paraná, Brasil, através da análise da cultura material. Aponta que escravos participaram da economia local, especialmente no tropeirismo, porém sua história foi ocultada. Recentemente, descobertas arqueológicas como uma fonte de água construída por escravos têm ajudado a reconstruir este passado e a importância do patrimônio afro-brasileiro.
Este documento discute a noção de "stablishment" de Elias e como ela se aplica ao estudo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Curitiba no final do século XVIII. Analisa como fatores como a antiguidade, organização e coesão de grupos influenciam as relações de poder entre eles. Também aborda perspectivas processuais sobre a escravidão e como variáveis como tempo e contexto influenciaram a formação de laços familiares e comunidades entre escravos.
FamíLia E Trabalho Escravo Sociedade E Poder Em SãO José Dos Pinhaisguest5eb864
1) O documento discute a presença de escravos em São José dos Pinhais no século XIX, quando a economia local era baseada na erva-mate e agricultura de subsistência.
2) Havia poucos escravos na região, com a maioria dos proprietários tendo 5 ou menos cativos. Isso levou a uma sociedade mais hierarquizada entre os livres.
3) O valor médio dos escravos aumentou ao longo do século XIX, refletindo o fim do tráfico negreiro e a expansão da produção agrí
1) O documento discute a presença de escravos africanos e seus descendentes na província do Paraná no período pós-abolição da escravatura em 1888.
2) As principais atividades econômicas que envolveram trabalho escravo no Paraná foram a produção de mate e o tropeirismo, embora em menor escala do que em outras regiões.
3) Após a abolição, os libertos enfrentaram dificuldades para se incorporar na economia do Paraná, que passava por um processo de im
Este documento analisa a estrutura fundiária e o uso de mão-de-obra escrava nas primeiras décadas do século XIX no Paraná. Mostra que a maioria dos proprietários de terras não possuía escravos, embora sua participação fosse maior entre os fazendeiros de gado. Discute também que muitos donos de escravos não eram proprietários de terras, o que revela padrões complexos de posse de terra e escravos na sociedade local.
A Propriedade De Escravos Em Guarapuavaguest5eb864
Este documento analisa a propriedade de escravos em Guarapuava no século XIX utilizando dados demográficos de 1828, 1835 e 1840. Em 1828, 16 propriedades (29,1% do total) tinham escravos. Em 1835, esse número aumentou para 30 propriedades (20,3%) e em 1840 caiu para 26 propriedades (18,2%), indicando movimento migratório contínuo para a região. A maioria dos proprietários eram homens brancos casados, refletindo o perfil da fronteira agrícol
Paulo Freire e as tecnologias na educaçãoguest5eb864
Este documento discute a formação de professores reflexivos para o uso da internet na educação de acordo com os ensinamentos de Paulo Freire. Ele argumenta que os professores devem ser incluídos no processo de formação e devem ter a oportunidade de debater e criar seus próprios projetos usando a tecnologia, em vez de serem excluídos por projetos governamentais. Além disso, defende que a tecnologia pode ser usada de forma a expandir a capacidade crítica e criativa dos alunos, desde que seja usada de maneira responsável e a
1. Casamento & Compadrio Estudo sobre relações sociais entre
livres, libertos e escravos na passagem do século XVIII
para o XIX (São José dos Pinhais - PR) ∗
Cacilda Machado♣
Palavras-chaves: casamento; compadrio; relações sociais; hierarquia social
Resumo
Neste texto buscou-se recuperar trajetórias de casais mistos (escravos com livres ou
libertos) que viveram entre os séculos XVIII e XIX, no vilarejo de São José dos
Pinhais (vizinho a Curitiba e, por então, pertencente a Capitania de São Paulo),
principalmente a partir do cruzamento de listas nominativas de habitantes com
documentos eclesiásticos (registros de batismos, casamentos e óbitos, autos de
casamentos e outros processos). A interpretação dessas trajetórias teve como principal
resultado a formulação da hipótese de que, naquela sociedade escravista fundamentada
nas relações pessoais, o casamento e o compadrio eram atos sociais estratégicos. Para
aquela elite, proprietária de poucos escravos, casar seus escravos e administrados com
livres, ou com estes estabelecer compadrio, era uma forma de arregimentar
dependentes e reproduzir a hierarquia social que organizava os diferentes grupos de
cor e condição jurídica. Para a população de origem africana e/ou indígena, constituía-
se importante instrumento de ascensão social e de afirmação da liberdade. É preciso
enfatizar, no entanto, que o casamento e o estabelecimento de compadrio com pessoas
de estrato superior me parecem menos adesão a uma prática escravista, da parte de
escravos, libertos e livres de cor, e mais algumas das estratégias socialmente
disponíveis para assegurar a liberdade para si e para a sua geração, ainda que nesse
empenho se tornassem partícipes do nosso peculiar processo de produção e reiteração
das hierarquias sociais.
∗
Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.
♣
DEHIS-UFPR/ ESS-UFRJ.
1
2. Casamento & Compadrio Estudo sobre relações sociais entre
livres, libertos e escravos na passagem do século XVIII
para o XIX (São José dos Pinhais - PR) ∗
Cacilda Machado♣
1. Introdução
Em trabalho anterior (MACHADO, 2002) apresentei as trajetórias de alguns
casais mistos (escravos com livres) formados em São José dos Pinhais (vilarejo do Paraná
colonial, vizinho a Curitiba) entre o final do século XVIII e o início do XIX. Elas foram o
ponto de partida para a formulação de algumas hipóteses sobre a natureza das relações entre
os diferentes grupos de cor e condição jurídica no Brasil escravista. Enfatizei que tais
trajetórias, incompletas e fragmentadas, já permitiam a constituição dos primeiros traços do
desenho de uma intrincada rede na qual se cruzam e se interligam laços de subordinação e de
dependência, identidades sociais e étnicas, estratégias de sobrevivência e de ascensão social.
Numa avaliação final assinalei que, nesse meio social [o Paraná colonial] onde mesmo
os indivíduos mais bem posicionados eram senhores de poucos escravos, casar seus cativos
com pessoas livres podia realmente ser uma das muitas estratégias possíveis para
arregimentar mão-de-obra. Da mesma forma, unir-se a um escravo poderia ser uma das
opções para o indivíduo livre sem eira nem beira garantir sua sobrevivência. Porém, os casos
analisados apresentavam, igualmente, indícios de que a relação pautada em interesses
estritamente econômicos diz muito pouco dessa sociedade. O que neles se entrevê é a
vigência de um determinado tipo de relacionamento político caracterizado por desenvolver-se
no âmbito das relações pessoais e por incorporar um espectro social bem mais amplo do que
aquele formado por senhores e escravos.
Desde então tenho procurado outras informações sobre as trajetórias daqueles casais e,
no presente texto, dou continuidade àquelas reflexões, buscando esclarecer mais sobre esse
“relacionamento político”, anteriormente apenas vislumbrado. Neste intento, reitero mais
uma vez, partiu-se do princípio de que, se o âmbito da pesquisa for suficientemente
circunscrito, o cruzamento das informações constantes nos vários documentos permitem
encontrar o mesmo indivíduo em contextos sociais diversos. Desse modo, o foco de análise
∗
Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.
♣
DEHIS-UFPR/ ESS-UFRJ.
2
3. deixa de ser a estrutura social em si, para privilegiar os processos e as interações no interior
da sociedade estudada.
2. Trajetórias de casais mistos em São José dos Pinhais
CASAL 1
Em 1766 casaram-se, na Paróquia de São José, Izidoro Soares da Silva e Marianna.
Ele, nascido em Paranaguá e filho natural de Luzia Soares, ela, escrava de Nazário Ferreira.
Foram testemunhas o próprio senhor de Marianna e Manoel Pinto Ribeiro.1 Consultando-se o
Livro de Ordenanças da Vila de Curitiba, de 1765, descobriu-se que Izidoro, então com 40
anos, era um agregado no domicílio de Nazário Ferreira, este, proprietário de oito escravos.2
A outra testemunha, Manoel Pinto Ribeiro, era um vizinho, senhor de apenas um escravo.
Pelos autos do casamento soubemos que a mãe de Izidoro era falecida e que não
houve registro do seu batismo, mas obtém licença para casar, pois o então pároco de
Paranaguá habilita como legítima a declaração de uma testemunha de que quot;haverá posto (...)
nove anos pouco mais ou menos que o Padre Pedro da Silva Pereira o batizou na Igreja
Matriz desta vila e que por ser já muito velho lhe não podem fazer o assento de seu batismo
(....).quot; Seus padrinhos, nomeados na justificação de batismo, foram Salvador da Silva e Ignes
Soares.
Marianna e Izidoro tiveram pelo menos uma filha: Julia. A menina, porém, faleceu
aos 6 meses de idade. No registro,3 consta o óbito em julho de 1772. O documento nos
esclarece um pouco mais sobre os pais: Marianna era parda e Izidoro foi citado como
administrado, e ambos identificados como “escravos” do Tenente Nazário Ferreira. Izidoro,
portanto, tinha muito provavelmente origem indígena. Dois anos depois faleceu o próprio
Izidoro (em julho de 1774), com cinqüenta e tantos anos. Nele consta que Marianna
permanecia escrava de Nazário Ferreira, e que Izidoro morreu sem deixar testamento pois
“nem tinha de que fazer”. Mas teve missa de corpo presente e foi sepultado na Igreja matriz
1
Livro 1 de casamentos, fs. 21v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais - PR.
2
Este Livro de Ordenanças traz a relação apenas de homens (e quando casados consta o nome de suas esposas).
Assim, com exceção das esposas, as mulheres residentes não estão listadas, e portanto não é possível saber da
presença de filhas, irmãs, sobrinhas e outras agregadas, parentes ou não. Tampouco se sabe o nome, sexo e
idade dos escravos, pois apresenta-se apenas a quantidade de cativos em cada domicílio.
3
Livro 1 de óbitos, folha 45v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais-PR.
3
4. “acompanhado com a Cruz da Fábrica”4 – certamente por sua pobreza e por não pertencer a
nenhuma irmandade ou corporação.5
CASAL 2
Em 1777 uniam-se pelo matrimônio Vicente Francisco e Antônia, ele, nascido
em Curitiba e filho de Lourenço de Siqueira e de Tomázia Francisca, ela, nascida em São
José, escrava de Manoel Gonçalves Padilha e filha natural da falecida Maria, escrava de
Manoel Correia de Castro. Foram testemunhas o senhor da noiva e Diogo Bueno Barbosa.6
Os autos do casamento dos dois7 reproduzem os registros de seus batismos, e assim
soube-se que Antônia nasceu em 1759, como escrava de Manoel Correia de Castro. Vicente
nasceu em 1755, e consta no registro que seus pais eram administrados de Miguel Francisco.
Um dos padrinhos de batismo de Vicente foi o Capitão Amador Bueno da Rocha, homem de
ilustre família paranaense, de origem paulista. Era neto materno do capitão Antonio Bicudo
Camacho, um dos primeiros povoadores de São Francisco, em Santa Catarina. Exerceu vários
cargos públicos em Curitiba, inclusive o de juiz ordinário e foi senhor de fazenda que herdou
do pai (DICCIONÁRIO... 1991,vol. 1, p.52)
Graças a um processo eclesiástico de 1757 descobrimos que Amador Bueno da Rocha
e Escolástica Rodrigues do Prado (esposa de Manoel Correia de Castro) eram irmãos.8
Vicente era, portanto, afilhado do irmão da senhora de Antônia. Pode-se imaginar que os
vínculos de Vicente com o padrinho fossem bem estreitos, pois Diogo Bueno Barbosa, a
outra testemunha do casamento, pode muito bem ser parente de Amador Bueno da Rocha.
Temos aqui, portanto, indícios de laços de parentesco de famílias livres que envolviam seus
escravos e administrados.
Vicente e Antonia tiveram pelo menos três filhos. Em dezembro de 1777 batizaram
Antonio, em cujo registro consta ser Vicente um forro, e Antonia permanecia escrava de
4
Livro 1 de óbitos, folha 50. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
5
A“fábrica”era a administração da igreja matriz, sob a responsabilidade de um administrador ou fabriqueiro.
Enterrava-se com a cruz da fábrica as pessoas de maior pobreza e que não
pertenciam a nenhuma irmandade/corporação. Agradeço a Jaelson Trindade pela informação.
6
Livro 1 de casamentos, fl. 53v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
7
Autos de casamentos, 1777. Rolo 14. Microfilme pertencente ao CEDOPE (Centro de Documentação e
Pesquisa, Paraná – Século XVIII). Originais no Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva da Mitra
Arquidiocesana de São Paulo.
8
Amador Bueno da Rocha e Manoel Correia de Castro aparecem entre os vários denunciados, acusados de
ocultação de parentesco de consangüinidade em 4.o grau entre João da Silva de Abreu e Luzia de Morais Castro,
cujo casamento fora realizado naquele mesmo ano. Manoel Correia de Castro era o pai da noiva, e Amador
Bueno fora uma das testemunhas. Escolástica Rodrigues do Prado, era, na verdade, meia- irmã de Amador
Bueno da Rocha. Ambos eram filhos de Antonio Bueno da Veiga, porém de casamentos distintos. Originais
pertencentes a: Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva da Mitra Arquidiocesana de São Paulo.
Rolo 2- Curitiba/Crimes, processo de celebração de casamentos impedidos (1757).
4
5. Antonio Gonçalves Padilha O padrinhos foram Paulo da Rocha e Maria Buena sua mulher.9
Em outubro de 1780 batizaram Rita, apadrinhada por Amaro e Anna, ambos filhos de
Antonio da Veiga de Godoy. Finalmente, em 1788 batizaram a filha Anna, que teve como
padrinhos Diogo Bueno Barbosa (que já havia sido testemunha do casamento), e novamente
Anna Clara, filha de Antonio da Veiga de Godoy. 10
Embora Vicente Francisco não tenha sido localizado nas listas nominativas de São
José dos Pinhais de 1781/2 e de 1783, certamente mantinha laços com o senhor de sua
mulher. É que encontramos autos de livramento de 1785, no qual consta que Vicente
Francisco, ali identificado como cabra forro,11 estava preso por furto de uma vaca a Francisco
Bueno da Cunha e Pedro Machado Fagundes, “a mando de Manoel Gonçalves Padilha”.
Naquela ocasião o próprio Francisco Bueno da Cunha testemunhou em favor do réu, dizendo
que se equivocara, pois teria sido outro o autor do furto. Dentre as testemunhas de defesa
estavam Antonio da Veiga de Godoy e Diogo Bueno Barbosa. O primeiro, como se viu, era, à
época, pai dos padrinhos de um dos filhos de Vicente Francisco, e o segundo fora testemunha
de seu casamento.12
Os registros do casamento de Vicente Francisco e de batismo de seus filhos nos
permitem, pois, depreender que nesta sociedade, o compadrio podia funcionar não apenas no
sentido de fortalecer os laços que uniam as famílias de cativos e administrados às de seus
senhores, como também permitia o estabelecimento de outros laços sociais, os quais, no caso
presente, mostraram sua eficácia num momento de dificuldade.13 Tanto que, depois de
absolvido da acusação de roubo, Vicente buscou reiterar esses laços de compadrio com seus
defensores por ocasião do nascimento de sua última filha, em 1788.
CASAL 3
Em agosto de 1783 casaram-se Antônio e Gertrudes Leme. Ele era viúvo, e escravo de
Paulo da Rocha; ela era filha de Gregório Leme e Domingas do Rosário. As testemunhas do
casamento foram Antonio de Souza Pereira e Manoel Bueno da Rocha. Por enquanto, não
9
Livro 1 de batismos, fl.88v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
10
Livro 1 de batismos, f. 92. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
11
Primeiro quarteirão de mulato com negro; caboclo escuro.
12
Autos de Livramento, 1785, Ouvidoria geral de Paranaguá, 26p., JP1433 CX 69, Arquivo Público do Paraná.
13
Góes comenta sobre o conteúdo político desta relação social específica, que é o compadrio: segundo este
autor, Gudeman e Schwartz quase o fizeram, no estudo que realizaram sobre o assunto em 4 freguesias do
Recôncavo Baiano, na virada dos séc. XVIII e XIX, ao perceberem as “evidências de que os escravos usaram o
compadrio para garantir um possível aliado ou protetor. Em verdade, o compadrio significa, mais que tudo, a
consecução de um laço de aliança que atava, à beira da pia batismal, os pais de uma criança e seus padrinhos.
(GÓES, 1993, p. 101-102).
5
6. consegui estabelecer parentesco entre estes e Paulo da Rocha, o senhor de Antonio, mas
provavelmente existia (e Manoel Bueno da Rocha era, ao que tudo indica, filho de Amador
Bueno da Rocha). Além disso, sei que Souza Pereira e Bueno da Rocha eram cunhados,
casados com filhas de Pedro Antonio Moreira e Joana França Moreira. Por um processo de
autos de casamento (que veremos adiante), sabemos que era negociante e natural do Porto.
Além disso, num processo eclesiástico de 1782, ele é citado como capitão-mor em São José
dos Pinhais.14
Consultando a lista nominativa de 1783 fica-se sabendo que o pai de Gertrudes era um
forro de 60 anos, e que a mãe, Domingas do Rosário, já havia falecido. Gertrudes, então com
14 anos, vivia na companhia do pai e das irmãs Izabel (de 25 anos) e Maria (de 10 anos).
Encontrei apenas os registros de batismo das irmãs de Gertrudes. Izabel foi batizada em
novembro de 1755. Nele consta que sua mãe era administrada de Estevão Ribeiro. Foram
padrinhos Agostino, filho de João Martins Leme (este, neto do Capitão Povoador de Curitiba,
Matheus Martins Leme), e Feliciana Fernandes dos Reis, esposa de Estevão Ribeiro.15 Maria
foi batizada em novembro de 1774. Os padrinhos foram Manoel e Anna, filhos de Ignácio
Gomes da Silva.16
Quatorze anos após o casamento, isto é, em 1797, Gertrudes encontrava-se vivendo
como agregada no domicílio de Paulo Rocha, porém não consta o nome do marido: no
domicílio estão arrolados somente o cabeça do fogo, sua esposa, os filhos, e os escravos
Antônio (de 7 anos), José (de 18 anos), Manoel (de 5 anos), Francisca (de 30 anos) e
Catharina (de 6 anos). Como agregada aparece também Izabel, de 5 anos.
Pesquisas nos livros de batismos de São José, contudo, revelaram que Gertrudes e
Antonio tiveram uma longa vida conjugal, Em 1784 nasceu Francisco, e em seu registro
Gertrudes foi citada como administrada de Paulo Rocha. Os padrinhos da criança foram o
casal proprietário de Antonio (Paulo Rocha e Maria Buena da Rocha). Em 1789 foi registrada
Leonor, e em seu registro consta que Antonio era proveniente da Guiné. Os padrinhos foram
Jerônimo Caixes e Rita, filha de Bonifácio da Silva. Em 1792 nasceu Maria. Os padrinhos
foram os mesmos Bonifácio da Silva e sua filha Rita. Neste, e no batismo anterior, Gertrudes
Leme foi identificada como parda forra. Em 1793 nasceu Izabel (provavelmente a menina
agregada no domicílio de Paulo da Rocha em 1797). Seus padrinhos foram Francisco da
Cunha Bueno e Izabel Maria, ambos casados e da freguesia. Em 1795 nasceu Joaquim,
14
Autos de contas tomadas ao requerente como esmoler da Igreja da Freguesia de São José, 1782. (Original na
Cúria Metropolitana de São Paulo). Cópia microfilmada do CEDOPE-UFPR..
15
Livro 1 de batismos, fl. 106v/107. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
16
Livro 1, de batismos, fl. 83. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
6
7. apadrinhado por João Bueno e Ângela Maria sua mulher. Em 1797 nasceu Manoel, e seus
padrinhos foram Manoel Pires e Anna, solteira e filha de Joanna da Rocha. Finalmente, em
1800 nasceu João, batizado pelo alferes Luis Cardoso, solteiro, e pela mesma Anna da Rocha,
agora casada com José Joaquim. Nestes quatro últimos batismos, Gertrudes Leme foi
identificada apenas como forra.
Mais uma vez, temos aqui a confirmação dos laços entre o escravo ou o administrado
e a família de seu proprietário ou administrador, sugerido não apenas porque uma das irmãs
de Gertrudes foi batizada pela esposa de Estevão Ribeiro e um dos filhos de Antonio foi
apadrinhado por Paulo Rocha e Maria Buena da Rocha, mas também pelo grande número de
padrinhos dos outros filhos, com sobrenomes Bueno e Rocha, muito provavelmente
familiares daqueles. Além disso, mais uma vez confirmação de laços fora do cativeiro,
conforme demonstra o batizado de Leonor e Maria.
CASAL 4
Em fevereiro de 1779, o vigário da Igreja Matriz do Patrocínio de São José casou
Joaquim Antônio Barbosa - nascido em Paranaguá e filho natural de Mariana, forra
administrada que foi do falecido José de Aguiar - com Quitéria, nascida na freguesia, escrava
de Antônio de Souza Pereira e filha de Miguel e de Catharina, já falecidos, escravos de Rosa
Maria Guedes. Foram testemunhas Sirino Dias Castilho e Paulo, escravo de Antônio Bueno.17
Os autos do casamento dos dois foram localizados,18 e em sua leitura soube-se que
Quitéria nasceu em 1760, e sua mãe era uma africana de nação Angola. Os pais, e portanto
também ela, eram por então propriedade de Felipe Pereira Magalhães (marido de Rosa Maria
Guedes, esta, tia-avó da esposa de Antonio de Souza Pereira, o senhor de Quitéria por ocasião
do casamento).19 Os padrinhos do batismo foram Mariana, igualmente de nação Angola,
escrava de João Bastos Coimbra (genro de Felipe Pereira Magalhães e Rosa Maria Guedes)20
e Paulo, também de nação Angola, escravo de Amador Bueno da Rocha.
Rosa Maria Guedes descendia de família tradicional em terras paranaenses, pois
alguns de seus ascendentes foram dos primeiros povoadores da região. Em 1765 já era viúva,
como foi declarado na lista desse ano, e em 1776 e em 1783 vivia em São José com filhos e
17
Livro 1 de casamento, fl. 59v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
18
Originais pertencentes a: Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva da Mitra Arquidiocesana de
São Paulo. Autos de casamento, 1779. Rolo 15, Microfilme pertencente ao CEDOPE (Centro de Documentação
e Pesquisa, Paraná – século XVIII).
19
Segundo genealogia da Família Rocha Loures, realizada pelo Professor Hélio Rocha, Curitiba.
20
Idem
7
8. netos e 5 escravos. Seu falecido marido, Felipe Pereira de Magalhães, era natural de Vianna,
arcebispado de Braga, nascido no final do século XVII. Veio para o Rio de Janeiro por volta
de 1724, logo foi para Santos, depois subiu para as minas do Paranapanema, até que chegou
às minas de Paranaguá, sempre como negociante. Ali desposou Rosa. Trouxe de Portugal
atestado de limpeza de sangue, vida e costume e prova de ser solteiro.21
João de Bastos Coimbra, genro de Felipe e Rosa Maria, nasceu em
Molelinhos, Bispado de Vizeu. Foi escrivão de Curitiba de 1747 a 1751, em 1756 foi eleito
escrivão de vintena e juiz vintenário em São José dos Pinhais. Em 1762 era tabelião de
Curitiba (DICCIONÁRIO..., 1991, vol. 3, p. 958). Encontramos seu nome nas listas de 1776
e 1783, de São José dos Pinhais. Nesta última data, ele estava com 70 anos e vivia com a
mulher, filhos e mais um escravo.
Antonio de Souza Pereira, como se viu, foi casado com Coleta Maria, esta,
filha de Pedro Antonio Moreira e Joanna Franca Moreira e neta materna de Ignácio Preto
Bueno e Luzia Cardoso Leão (irmã de Rosa Maria Guedes). Em 1779, nos autos de
casamento de Joaquim e Quitéria, Souza Pereira se declarou viúvo e negociante, natural do
Porto. Segundo o processo eclesiástico já citado, em 1782 ele era capitão-mor em São José
dos Pinhais. Também Amador Bueno da Rocha é um nosso conhecido. O proprietário do
padrinho de Quitéria, como dissemos anteriormente, era neto do capitão Antonio Bicudo
Camacho, um dos primeiros povoadores de São Francisco, em Santa Catarina, exerceu vários
cargos públicos em Curitiba e foi senhor de fazenda.
Das informações levantadas para recuperar a trajetória de Joaquim Antonio e
Quitéria, deduziu-se, no texto anterior, a existência de uma teia de relações ligando escravos
de senhores aparentados, e também da manutenção de uma identidade étnica entre os cativos
africanos, já que uma mãe Angola convidou membros de sua etnia para o batismo da filha. E
o fato de que o Paulo Angola que batizou Quitéria possa ser o mesmo que testemunhou seu
casamento (já que Antônio Bueno, proprietário de Paulo à época do casamento, era
aparentemente filho de Amador Bueno da Rocha),22 indica a reiteração, no tempo, de um
parentesco espiritual ligando escravos, bem como a valorização dos sacramentos cristãos por
parte desses africanos.
21
Autos de casamento. 1728 (original no arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo). Cópia microfilmada do
acervo do CEDOPE (UFPR).
22
No Livro de Ordenanças de 1765 constam Antonio Bueno, com 17 anos, e Manoel rocha, de 20 anos, filhos
de Amador Bueno, então viuvo, com 66 anos. Na lista nominativa de São José dos Pinhais, de 1783, Antônio
Bueno da Rocha, agora com 37 anos, aparece casado com Veríssima de Veja, 28 anos, com uma filha de 2
anos, Maria, o filho João, de 13 anos, e ainda com 2 escravos. (ambos os documentos existem em cópias
depositadas no CEDOPE-UFPR, e originais no Arquivo Público de São Paulo)
8
9. A polêmica acerca do batismo de Joaquim Antônio Barbosa, que ocupa boa parte dos
autos desse casamento, pôde igualmente apontar para questões de relevo. Como não constava
o batismo de Joaquim nos livros de Paranaguá, três testemunhas declararam que ele fora
efetivamente batizado, e que a falta do registro teria sido produto da negligência do pároco da
época. Declararam ainda que aos 3 anos de idade mais ou menos, Joaquim mudou-se para
São José, e que estaria no momento com 18 ou 19 anos — ou seja, teria vindo para São José
por volta de 1763. De fato, no Livro de Ordenanças de 1765 consta, na freguesia de São José,
o domicílio de José de Aguiar, com 60 anos por então, casado com Izabel Veiga da Silva
(filha de Jerônimo da Veiga), e mantendo quatro agregados, dentre eles o menino Joaquim,
de 5 anos, quase certamente o mesmo Joaquim Antônio Barbosa que ocupa nossas atenções.
Esses testemunhos, além de sugerirem a manutenção de laços de dependência e
sujeição entre a mãe de Joaquim e seu antigo administrador, indicam que esses laços
estenderam-se ao filho livre, muito provavelmente até a morte de Aguiar: todas as
testemunhas declararam ser Joaquim um administrado de Aguiar, e o próprio Joaquim
afirmou, nos autos, que “veio daquela vila de Paranaguá debaixo da administração do dito
Aguiar e nunca mais saiu desta freguesia e seu termo para outra alguma parte”. Apenas mais
uma observação: dentre essas testemunhas estava Antônio de Souza Pereira, o senhor de
Quitéria. Ele declarou nos autos que conhecia muito bem o justificante e sua mãe (Marianna),
parecendo, pois, empenhado na legalização da união matrimonial de Quitéria e Joaquim,
talvez de olho nos serviços desse administrado que, com a morte de Aguiar, tornou-se um
desgarrado.
Este empenho, de fato, não foi em vão. Em maio de 1780, quando do batizado de
Bento, primeiro filho do casal, o pároco anotou no registro que Joaquim Antonio Barbosa e
Quitéria eram escravos de Antonio de Souza. Os padrinhos do menino foram Manoel, filho
solteiro de Manoel Vaz Torres, de São José, e Maria, filha solteira de Felipe Valente, de
Curitiba.23
Manoel, filho de Manoel Vaz Torres, teria por volta de 20 anos no momento desse
batismo, pois na lista de São José, de 1765, ele foi recenseado com 5 anos. Seu pai, Manoel
Vaz Torres, também está na lista nominativa de 1783, então com 70 anos. Talvez Manoel
Vaz Torres tivesse um parentesco por afinidade com os Cardoso Leão. É que Maria Vaz
Torres de Araújo (que pode ser parente de Manoel) casou-se em São José dos Pinhais, em
23
Livro 1 de batismos, fl. 92 e 92v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
9
10. 1768, com Thomas João Ferreira, filho de Bernardo Martins Ferreira e Margarida Oliveira
Leão (outra irmã de Rosa Maria Guedes).
Em 1784, no registro de batizado de outro filho (Serafino), o pai, Joaquim Antonio,
foi citado como mulato forro, e a mãe, Quitéria, como crioula, ambos, escravos de Antonio
de Souza Pereira. Serafino foi apadrinhado por Gertrudes, filha de Bernardo Martins Ferreira
e por João Rocha Loures24, este, também parente dos senhores de Quitéria, pois era casado
com Anna Ferreira de Oliveira, filha de Bernardo Martins e Margarida Cardoso Leão (irmã
de Rosa Maria Guedes). João Rocha Loures, além disso, era sobrinho neto de Amador Bueno
da Rocha.
CASAL 5
João Coelho, homem livre natural da Vila de Sorocaba, casou-se em São José dos
Pinhais em setembro de 1823 com a escrava Brízida, de propriedade de Anna de Oliveira
Menezes. Nove anos depois, e então com 25 anos, Brízida já está viúva e ainda vive cativa no
domicílio de sua senhora. É possível que Adão (de 10 anos) e Lúcio (de 5 anos), também
listados como cativos, fossem os frutos da união de João e Brízida. Porém, encontramos
apenas o registro de batismo de Adão, de 1825. Nele consta que o pai, João Coelho, era um
forro. Os padrinhos do menino foram Francisco Antonio Lorena e a escrava Maria, de
propriedade de Ana Carneira. 25 Em 1827 Brizida registrou mais um filho, Maximiano, sem
citar o pai. Os padrinhos foram Francisco Antonio Lorena (novamente) e Maria Izabel (com
sobrenome ilegível).26 Esse, talvez um filho nascido após a morte de João Coelho.
Desta curta trajetória se pode destacar aspecto de não pouco interesse: este casal
misto, dentre os que tiveram suas trajetórias pesquisadas, foi o único que escolheu um cativo
para apadrinhar um dos filhos. E das histórias até aqui relatadas, ressalto, ainda, a indicação
de que casar com uma pessoa livre ou liberta não necessariamente facilitava ao cativo o
acesso a alforria (afinal, Marianna, Antonia, Antonio, Quitéria e Brízida permaneceram
escravos). E se para Antonio tal união abrira as portas da liberdade a seus filhos, a situação
domiciliar de sua mulher, Gertrudes Leme (e também a de Izidoro, casado com a cativa
Marianna), bem como a anotação, no registro de batismo de seus filhos, de que Gertrudes era
administrada de Paulo da Rocha, sugerem que a união com um escravo podia arrastar um
indivíduo livre e seus descendentes para uma escravidão informal, e enreda-los na teia de
24
Livro 1 de batismos, fl. 98v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
25
Livro 3 de batismos, fl. 163v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
26
Livro 3 de batismos, fl. 173v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
10
11. relações que até a morte, e por vezes mesmo depois dela, envolvia um senhor e sua
propriedade.
CASAL 6
Em junho de 1780 casaram-se, na paróquia de São José, Lauriano, escravo de Joanna
Franca Moreira, e Anna Maria de Jesus, filha de Geraldo da Veiga e de Gertrudes Maria, esta
última, uma liberta.27 Nos livros de batismo descobriu-se o registro de Rafael, em outubro de
1774, filho de Anna, filha de Geraldo da Veiga. Ele talvez fosse da nossa Ana Maria.28
Anna Maria de Jesus nasceu em São José, sendo batizada em maio de 1751. No
registro consta que seus pais, Geraldo e Gertrudes, eram mulatos forros, ex-administrados de
Jerônimo da Veiga. Os padrinhos do batismo foram Antonio da Veiga e Feliciana Fernandes
dos Reis, esposa de Estevão Ribeiro Bayão.29 Localizamos o registro de batismo de mais duas
filhas do casal Geraldo e Gertrudes. O da menina Rita, em março de 1745, no qual os pais
foram identificados como “servos” da viúva Anna da Cunha de Abreu. Seus padrinhos foram
Thomé Ribeiro e Francisca Ribeira.30 No registro de Maria, no natal de 1748, Geraldo e
Gertrudes já aparecem como forros. A menina foi apadrinhada por Estevão Ribeiro Bayão e
sua mulher Feliciana.31
Também Lauriano pertencia a uma família há muito instalada em São José dos
Pinhais. Em seu registro de batismo, de novembro de 1751, consta que seus pais, Domingos e
Izabel, eram escravos de Pedro Antonio Moreira.32 Luis, irmão de Lauriano, foi batizado em
março de 1747, e seus pais já eram escravos de Pedro Antonio Moreira.33 O menino teve
como padrinhos Miguel Cardoso Leão e Joanna, filha deste. Innes, irmã de Lauriano, foi
batizada em dezembro de 1753.34
Três anos após o casamento de Ana Maria e Lauriano (ou seja, em 1783), nós a
encontramos vivendo com o pai, de 80 anos, e agora viúvo, e com os irmãos Francisca (20
anos) e José (9 anos). No domicílio viviam ainda três netos de Geraldo da Veiga. Não
localizamos Laurianno, pois não é possível verificar se foi registrado no fogo de sua senhora,
visto que a lista nominativa daquele ano traz somente a quantidade de escravos por domicílio.
27
Livro 1 de casamentos, fl. 85. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
28
Livro 1, de batismos, fl. 62v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
29
Livro 1 de batismos, fl. 91. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
30
Livro 1 de Batismos, fl. 67v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
31
Livro 1, de batismos, fl. 82. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
32
Livro 1, de batismos, fl. 92v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
33
Livro 1 de batismos, fl. 99. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
34
Livro 1 de batismos, fl. ? Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
11
12. Porém, o casal se manteve ainda por muitos anos, já que em novembro de 1788 eles
batizaram uma filha, Joanna, em Morretes. Na ocasião Laurianno ainda era escravo de Joanna
Franca Moreira, e Ana Maria de Jesus foi identificada como uma mulata forra.35 Em janeiro
de 1791, de volta a São José, batizaram o filho Manuel. Desta vez Lauriano foi identificado
como escravo de Antonio Moreira e Anna aparece com o sobrenome de seu pai, Veiga.36
CASAL 7
Em maio de 1831 uniram-se em matrimônio Luciano da Rocha Dantas — filho de
Ângela, cativa de José da Rocha Dantas — e a escrava Joanna, de propriedade de José
Teixeira da Cruz. Os noivos foram dispensados de impedimento de primeiro grau de
afinidade por cópula ilícita.37 Luciano era forro, pois existem arquivadas num cartório de
Curitiba duas cartas declarando sua liberdade. A primeira, de março de 1822, foi apresentada
ao tabelião pelo próprio Luciano. Nela consta ser ele um mulato de propriedade de José da
Rocha Dantas, morador de Mandirituba. Foi onerosa (não há a quantia), mas o preço de sua
liberdade foi pago por sua irmandade. A segunda é de janeiro de 1824 (não sabemos se a
primeira foi cancelada ou se esta é o fim de uma negociação iniciada com a primeira). Nela se
declara que Luciano pagou por sua liberdade, e ainda teria que servir ao senhor até a morte
deste.38
Luciano nasceu em 1792, em São José, quando sua mãe Angela era escrava de Pedro
Machado.39 Não temos informações sobre o nascimento de Joanna, e é provável que o
impedimento de afinidade por cópula ilícita, citado no registro do casamento, seja
conseqüência de um seu concubinato com parente do marido, no passado. É que
encontramos, nos livros de batismo de São José, o registro de três filhos de uma Joanna,
escrava de José Teixeira. O primeiro data de outubro de 1819, quando do nascimento de
Miguel.40 Em janeiro de 1824 foi a vez de Izabel,41 e finalmente, em outubro de 1829, foi
batizado o inocente Antonio.42
Embora tenha se empenhado na conquista de sua liberdade, Luciano não se importou
de desposar uma escrava com filhos também cativos (claro, se eu estiver certa em minhas
35
Livro 1 de batismos, fl. 106. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
36
Livro 1 de batismo, fl. 116. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
37
Livro 2 de casamento, F 182. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
38
Banco de dados de alforrias no Paraná.......Agradeço a Adriano Lima por tê-lo disponibilizado.
39
Livro 1 de batismo, fl. 117v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
40
Livros 3 de batismo, fl. 111v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
41
Livro 3 de batismos, fl. 144v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
42
Livro 3 de batismos, fls. 190v e 191. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
12
13. conjecturas). Talvez ela fosse uma cunhada (era muito comum esse tipo de pedido de
dispensa matrimonial), e as crianças, seus sobrinhos. E logo esse liberto geraria crianças
cativas. A primeira, Gertrudes, foi batizada em julho de 1832. Nele Luciano é citado como
pardo liberto, e Joanna como escrava de José Teixeira da Cruz.43 O segundo rebento foi
Amâncio, batizado em julho de 1833. O interessante neste registro é que ali Joanna está
identificada como parda e forra, mas também nele o pároco frisa que o menino é escravo de
José Teixeira da Cruz (talvez a alforria de Joanna teve como condição a permanência de seus
filhos no cativeiro, mesmo desse, nascido de ventre já livre).44
Em 1836 encontramos o registro do casal na lista nominativa de 1836. Luciano (com
44 anos, pardo, livre, sapateiro) aparece como cabeça de um fogo, na verdade um sítio, onde
vivia somente com a esposa Joanna, então com 29 anos. Não se faz menção à condição
jurídica dela, mas, sabemos nós, por então já era forra. Seus filhos cativos não estavam lá,
pois provavelmente moravam na propriedade de José Teixeira da Cruz.45 Mas Luciano e
Joanna tiveram pelo menos mais dois filhos, estes, nascidos livres. A inocente Laurinda foi
batizada em dezembro de 1838;46 em fevereiro de 1844 foi a vez de Francisco.47
Deste último caso destaco duas questões.Embora não fosse necessariamente a regra, a
história desse casal é um ótimo exemplo de como o casamento com um indivíduo livre podia
beneficiar um cativo. Afinal, pouco mais de 2 anos após sua união com Luciano, a escrava
Joanna alcança a liberdade, e se torna a respeitável senhora de um sapateiro. A trajetória de
Luciano e Joanna nos dá indicações, além disso, de algumas das estratégias dos cativos na
busca pela liberdade. A difícil negociação com o senhor de Luciano, inferida nas duas cartas
de alforria, que envolveu sua irmandade, o pagamento e a condição de servir o senhor até a
morte, e talvez muito mais. Do lado de Joanna, a também difícil negociação de sua saída do
cativeiro (ainda que a obrigando a nele deixar seus cinco filhos), para que dali em diante
pudesse gerar rebentos livres.
43
Livro 3 de batismos, fl. 247. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
44
Livro 3 de batismos, fl. 268. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
45
Não encontramos o domicilio de Jose Teixeira da Cruz na lista de 1836, porém a cópia de que dispomos não é
boa (uma foto digital de uma fotocópia de uma fotocópia). O melhor seria pesquisar no original, no arquivo
público de São Paulo, porém, por enquanto, isso ainda não foi possível.
46
Livro 4 de batismos, fl. 113. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
47
Livro 4 de batismos, fl. 190v. Arquivo da paróquia de São José dos Pinhais – PR.
13
14. 3. As marcas da sociedade nas trajetórias individuais
Ressaltei, no texto anterior, que as trajetórias então construídas indicavam a existência
de um relacionamento político entre os diversos grupos sociais que se caracterizava por
desenvolver-se no âmbito das relações pessoais.
No atual estágio da pesquisa, acredito, já se pode dizer um pouco mais.
Em primeiro lugar, pode-se inferir que a construção e a manutenção da hierarquia
social que organizava os diferentes grupos de cor e condição jurídica daquela sociedade
também passava pelo lugar que se dava a cada um, de acordo a terminologia que os
identificava. Schwartz já observou, em estudo sobre batismos em Curitiba, que a mutação da
terminologia referente ao elemento indígena ou descendente dele (de “sevito” ou “serviço”,
para “servo” e depois para “administrado”) é estimulante, pois talvez indique separação ou
distanciamento cada vez maior entre senhores e servos e uma mudança na percepção do
relacionamento e de sua justificativa da parte desses senhores (SCHWARTZ, 2001, p.278).
De minha parte acrescento que os registros paroquiais que me permitiram recuperar as
trajetórias desses casais indicam que as palavras tinham função política ainda mais complexa,
pois que visavam criar a administração onde ela não existia: por exemplo, Gertrudes Leme,
filha de administrados, em algum momento se torna “administrada” do senhor de seu marido.
As palavras também reuniam livres de origem indígena e de origem africana numa
única categoria. Assim, Vicente Francisco, filho de administrados, após o casamento com a
escrava Antonia passa a ser identificado como forro, ou cabra forro; Gertrudes Leme, filha de
uma administrada, após sua união com o cativo Antonio torna-se, como se viu “administrada”
de Paulo da Rocha e depois “parda forra”, e Anna Maria de Jesus, nascida livre (porém filha
de libertos ou mulatos forros ou administrados ou servos – parece que, por então, na lógica
senhorial essas terminologias eram sinônimos) acabou mulata forra. Talvez porque, na
segunda metade do século XVIII, o termo “forro” conseguisse diluir as diferenças entre
populações de diferentes culturas e de condição jurídica há muito legalmente distinguidas, e
enfatizar aquilo que tiveram em comum: o cativeiro. Parece, pois, que as palavras atuavam no
peculiar processo de construção de uma hierarquia informada pela escravidão, nessa
sociedade com um cada vez maior contingente de população livre de origem africana e/ou
indígena.
No entanto, também os forros e livres de cor utilizavam-se dessa mesma lógica, ainda
que à sua maneira. Indicativo disso é, por exemplo, a própria identificação de alguns desses
indivíduos, inscrita em seus nomes: Izidoro Soares da Silva adotou os sobrenomes de seus
14
15. dois padrinhos; Luciano Rocha Dantas trazia o sobrenome de seu antigo senhor; Vicente
Francisco o de seu antigo administrador; Anna Maria (esposa do escravo Laurianno) ao
batizar um de seus filhos foi identificada (ou se identificou) pelo sobrenome de seu pai
Geraldo da Veiga, este, por sua vez, um liberto que fora administrado de Jerônimo da Veiga.
Joaquim Antonio Barbosa, nos autos do casamento, declarou estar “sob a administração” de
José de Aguiar. Ainda que tal prática possa ser interpretada como signo de submissão e
dependência (e talvez ela fosse assim entendida apenas pela classe senhorial), para aqueles
forros e livres de cor, um sobrenome senhorial, ou a ligação com um “homem bom” poderia,
talvez, funcionar como signo de consideração social.
Outras facetas da produção e reprodução dessa hierarquia social dizem respeito ao
compadrio.
Em seu estudo sobre batismos de escravos em Curitiba, Schwartz destacou
que, de 1685 a 1850, somente 2,3% (41/1764) dos padrinhos eram parentes dos senhores dos
escravos batizados. Antes de 1870 os parentes do senhor não batizavam escravos em mais de
5% dos casos, sendo que o mesmo quadro outros pesquisadores encontraram em diversas
regiões brasileiras. Segundo o autor, no Brasil escravista o padrão de batismo de escravos era
um padrinho e uma madrinha livres, sendo que nenhum dos dois era proprietário ou parente
do proprietário daquele escravo. O segundo modelo mais comum era a escolha de dois
escravos para padrinhos. Quando o status dos padrinhos divergia, a preferência era sempre
padrinho livre e madrinha escrava. Talvez nisso houvesse reconhecimento da importância
social do padrinho livre, que poderia fazer as vezes de protetor e intercessor no futuro, mas
uma estratégia paralela e prática era levar em conta a possibilidade de, em caso de morte da
mãe, a madrinha escrava assumisse responsabilidade pela criação do afilhado (SCHWARTZ,
2001, p. 280-89). Em sua interpretação desses padrões, “a formação das relações de
compadrio no âmago da vida familiar e espiritual, assim como tudo o mais na escravidão,
refletia as relações essenciais de poder dentro de toda a sociedade e de toda a economia”
(IDEM, p. 292). Ainda a partir desses padrões, Schwartz reitera sua tese, com Gudeman, da
incompatibilidade entre propriedade escrava e parentesco espiritual, bem como põe em
dúvida a existência de relações paternalistas entre senhores e seus cativos.
Acredito que as trajetórias de poucos casais, reconstituídas no presente trabalho,
permitem-nos tecer algumas considerações sobre essa questão. A primeira delas é que muito
dificilmente o parentesco de um padrinho de escravo é revelado em estudos que utilizam
como fonte apenas registros de batismo, posto que neste tipo de documento eclesiástico
nomeava-se somente o cônjuge ou o pai dos padrinhos, e isso quando a madrinha era casada
15
16. ou quando o(a) padrinho/madrinha era solteiro(a). De modo que em geral o parentesco que se
pode levantar é o que unia marido e mulher, e pais e filhos. Nos poucos casos aqui expostos,
encontramos com mais freqüência outros vínculos parentais entre padrinhos e senhores dos
batizandos, como tão bem atesta, por exemplo, os batismos dos filhos do casal 4 (Joaquim
Antonio Barbosa e Quitéria).
Isso não significa, porém, simplesmente aceitar a vigência de uma postura paternalista
dos senhores com relação aos seus cativos. Pelo menos não a ponto de assumir que tal
postura tivesse o poder de anular qualquer iniciativa escrava, dentro ou fora de seus cânones.
Na verdade, os casos aqui analisados apresentam indícios da vigência de um
determinado tipo de relacionamento político construído e reproduzido pelos diferentes
grupos, todos eles informados por um mesmo contexto (escravista). Nessa relação
política, todavia, livres, libertos e escravos buscavam alcançar ou consolidar interesses
distintos, muitos deles provavelmente conflitantes.
Talvez isso fique mais claro por meio da avaliação de um tema de grande
interesse. Parte da historiografia brasileira hoje afirma que o contingente das “populações
pobres” de nosso passado não deve ser analisado como uma massa indiferenciada. Roberto
Guedes, por exemplo, enfatiza que “era uma sociedade na qual a escravidão impunha
referenciais de hierarquia social, distinguindo social e juridicamente escravos, livres, forros, e
descendentes de escravos, e a transposição de uma esfera a outra pressupõe um passo na
hierarquia social.” (GUEDES, 2003, p. 19). Desta maneira,
“a projeção social que remonta à escravidão, considerando alforria
como mobilidade social, ia-se ampliando ao longo das gerações. Obviamente,
isto não elimina a distinção entre livres, libertos e escravos, mas ressalta a
necessidade de distinguir forros e seus descendentes, em termos de
distanciamento de um antepassado escravo. Em suma, a mobilidade social é
geracional.” (IDEM, p.20-21).
As trajetórias aqui recuperadas mostram de fato mudanças geracionais. Mas definiram
também a formação de diferentes laços de parentesco entre desiguais: se dentre eles
encontramos pais cativos com filhos livres (nos casos de Lauriano, Joaquim e Antonio),
encontramos também pais livres e filhos cativos (no caso de Izidoro, de Luciano e Joanna, de
Joaquim Barbosa e de Vicente Francisco), irmãos cativos e irmãos livres (no caso dos filhos
16
17. de Joanna e Luciano); sogros, cunhados, avós, tios, sobrinhos e primos de cor e condição
diversas, especialmente dedutível na história de Lauriano e Anna Maria de Jesus.
Assim, embora a liberdade pudesse funcionar como signo de mobilidade social para
os cativos, com base nos casos aqui expostos, de nossa parte diríamos que nem sempre tal
mobilidade pôde se ampliar ao longo das gerações, podendo um escravo ter filho forro, neto
livre, e bisneto novamente escravo. E unindo-se a um cativo, além disso, um forro ou livre
corria o risco de mudar de status, sem que houvesse alteração de sua condição jurídica. Assim
foi com Izidoro, identificado, em 1772, como administrado e “escravo” de Nazário Teixeira
no registro de óbito de sua filha; foi assim com Joaquim Antonio, que embora livre em 1779
(ou forro, não sabemos), foi identificado como escravo pelo pároco que batizou seu filho com
a cativa Quitéria, em 1780; e também com Anna Maria de Jesus, que embora nascida livre,
foi identificada como mulata forra em 1788, quando batizou a filha que teve com o escravo
Lauriano.
Em outras palavras, a condição do forro era instável, no Brasil escravista, não apenas
porque uma alforria poderia ser cancelada a qualquer momento, mas também, ou
principalmente, porque nem mesmo a obediência e a fidelidade ao antigo senhor ou a um
padrinho podiam garantir a liberdade aos descendentes desses ex-cativos. A conquista da
“liberdade perfeita”, isto é, aquela tornada permanente graças a ampliação da mobilidade
social ao longo das gerações, no Brasil escravista necessariamente implicaria na “mudança
social de cor” (em busca do “embranquecimento”), um processo pelo qual os forros teriam
maiores ou menores dificuldades para acionar, dependendo da efetiva cor de sua pele
(certamente era mais fácil para os mestiços), e do que pudessem (ou tivessem para) negociar.
E uma vez que o casamento (ou a união consensual) produzia parentesco, no caso de
casamentos entre livres e escravos ele determinava a formação de parentelas (por vezes
colaterais e multigeracionais) mistas no que diz respeito a cor e condição jurídica. Ainda que
a condição de “parente” pudesse igualar seus membros, as diferenças sociais entre cativos,
forros, administrados e livres de cor, e entre pretos, pardos ou mulatos não deveriam ser
imperceptíveis aos próprios.E daí talvez os também não tão incomuns esforços de pais,
irmãos, mães e tios em evitar uniões indesejadas, não apenas na elite branca, mas também
nessa população pobre livre de cor, que só aparentemente não teria nada a ganhar ou a perder.
Importante, igualmente, seria lembrar que, se “o laço de compadrio se tecia onde era
necessário instituir a paz”(GÓES, 1993, p.103) - ou dirimir as diferenças - , se pode entender
melhor a busca por compadres livres e socialmente bem postos por parte desses casais mistos
17
18. estudados no presente texto (e também o padrão dos batismos encontrado por inúmeros
pesquisadores, como já observamos).
Em suma, aparentemente estamos diante de um conflito social não belicoso,
porém de enormes dimensões. Informados por um mesmo contexto social, de um lado
temos senhores tentando angariar novos dependentes ou manter sua ascendência sobre
ex-cativos; de outro, uma grande população de livres e libertos de cor tentando
conquistar a plena autonomia para seus descendentes. E as variáveis aqui expostas
eram certamente apenas algumas das muitas maneiras que dispunham para atingir seus
interesses divergentes.
A avaliação do papel do casamento na conquista da plena liberdade já pode ser
parcialmente empreendida. Observei, no texto anterior, que em São José era mais freqüente a
ocorrência de casamentos de um escravo com um livre do que entre dois escravos (entre 1759
e 1888 foram efetuados 83 casamentos de escravos com livres, e 65 casamentos de escravos
com outros escravos). Contudo, note-se que esses casamentos foram proporcionalmente bem
menos significativos do que aqueles a unirem pessoas livres (no mesmo período, 3809
casamentos desse tipo). Assim, considerando o expressivo percentual de pardos na população
livre de São José dos Pinhais (eles eram 43,3% da população livre em 1798, 36,3% em 1816
e 39,9% em 1830), certamente foram muito mais numerosos os casamentos entre brancos ou
pardos (e também as uniões consensuais, que por esta fonte não podem ser capturadas). E
então nossos casamentos mistos unindo cativos a pessoas livres começam a parecer apenas o
ponto inicial de um processo levado a cabo pela população de cor dessa sociedade, o qual
pode ser caracterizado pela utilização do casamento ou da união consensual como uma das
formas de se conquistar, paulatinamente, a liberdade.
Finalmente, é preciso enfatizar que casamentos de escravos com forros ou livres, de
negros com pardos e destes com brancos (bem como a posse de escravos por forros e livres
de cor) me parecem menos adesão a uma prática escravista e mais algumas das estratégias
socialmente disponíveis para assegurar a liberdade para si e para a sua geração, ainda que
nesse empenho os escravos, os libertos e os livres de cor se tornassem partícipes do nosso
peculiar processo de produção e reiteração das hierarquias sociais.
No entanto, a amplitude de nossa histórica miscigenação é talvez o testemunho mais
veemente de que, mesmo reiterando as hierarquias sociais, este tipo de luta pela liberdade foi
a que mais fundo nos marcou.
18
19. 4. Fontes
Autos de casamentos de 1728, 1766, 1777 E 1779, microfilmes (CEDOPE - UFPR).
Originais no Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva da Mitra Arquidiocesana
de São Paulo.
Autos de livramento de 1785, JP 1433, CX 69. Arquivo Público do Paraná.
COSTA, Iraci del Nero da & GUTIÉRREZ, Horácio. Paraná, mapas de habitantes 1798-
1830. São Paulo: IPE/USP-FINEP, 1985.
Genealogia da Família Rocha Loures (digitada), realizada por Hélio Rocha
Leão, Ermelino de Leão. Diccionário Histórico e Geográfico do Paraná, vols. I e III.
Listas de Habitantes da Freguesia de São José dos Pinhais de 1783, 1797, digitado (CEDOPE
- UFPR). Originais no Arquivo do Estado de São Paulo.
Listas de Habitantes da Freguesia de São José dos Pinhais de 1798 e 1836, fotocópia
(CEDOPE – UFPR). Originais no Arquivo do Estado de São Paulo.
Livros 1, 2, 3 e 4 de batismos de São José dos Pinhais, Arquivo da Paróquia.
Livros 1 e 2 de casamentos de São José dos Pinhais, Arquivo da Paróquia.
Livro 1 de óbitos de São José dos Pinhais, Arquivo da Paróquia.
Livro de Ordenanças da vila de Curitiba de 1765, digitado (CEDOPE - UFPR). Originais no
Arquivo do Estado de São Paulo.
Processo crime de celebração casamento impedido de 1757, microfilme (CEDOPE - UFPR).
Originais no Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva da Mitra Arquidiocesana
de São Paulo.
5 Bibliografia
BARTH, Fredick. O Guru, o iniciador e outras variações antropológicas. RJ: Contracapa,
2000.
BERTRAND, Michel. Elites y configuraciones sociales en Hispanoamérica colonial. In :
REVISTA DE HISTORIA, n. 13, I semestre 1999. Instituto de Historia de Nicaragua y
Centroamérica.
COSTA, Iraci del Nero da & GUTIÉRREZ, Horácio. Paraná, mapas de habitantes 1798-
1830. São Paulo: IPE/USP-FINEP, 1985.
19
20. DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO DO ESTADO DO PARANÁ. Curitiba: Editora
do Chain, Banestado, 1991.
GINSBURG, Carlo. A micro-história e outros ensaios. Lisboa: DIFEL, 1991.
GÓES, José Roberto. O Cativeiro Imperfeito. Um estudo sobre a escravidão no Rio de
Janeiro da primeira metade do século XIX. Linear, Vitória (ES), 1993.
GOLDSCHMIDT, Eliane. Convivendo com o pecado na sociedade colonial paulista (1719-
1822). São Paulo:Loyola, 1999.
GONZÁLEZ, Francisco G. La Historia de la familia o la vitalidad de la historiografía
española. Nuevas perspectivas de investigación. In: História a debate, tomo II, México:
1995.
GUEDES, Roberto. A todos é permitido empregar-se naquele ministério que o sexo e a
condição de cada um tem adotado. Capítulo de tese de doutorado em andamento, mimeo, Rio
de Janeiro, 2003.
LEÃO, Ermelino de. Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná. Curitiba:IHGPR, 1994.
LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (org.). A Escrita da História. São
Paulo: UNESP, 1992.
____________. A Herança Imaterial: trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
MACHADO, Cacilda. Casamento & Desigualdade jurídica. Estudo sobre uma área da
região paulista no período colonial. In: ANAIS DO XIII CONGRESSO DA ABEP. Ouro
Preto, 2002.
MATTOS (CASTRO), Hebe M. Ao Sul da história. Lavradores pobres na crise do trabalho
escravo. São Paulo, Brasiliense,1987.
__________________________. Das cores do silêncio. Os significados da liberdade no
sudeste escravista. Brasil. Séc. XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995.
REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas A experiência da microanálise. Rio de Janeiro:
FGV, 1998.
SBRAVATI, Myriam. São José dos Pinhais, 1776-1852; uma paróquia paranaense em
estudo. Dissertação de Mestrado, Departamento de História -UFPR, Curitiba, 1980.
SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. São Paulo, 2001.
20