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   PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA
          Com enfoque em ensino religioso




       LEANDRO SOARES DE SOUSA




A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA
  E A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI E SALOMÃO




                                Trabalho apresentado ao prof. José
                                Ademar Kaefer da disciplina LITERATURA
                                BÍBLICA - PRIMEIRO TESTAMENTO como
                                avaliação e exigência para aprovação.




               Rio de Janeiro

              Novembro- 2012
2



1) VISÃO GERAL DA PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA .......                                                          1
1.2) PASSAGEM PARA A MONARQUIA .....................................................................                        4
1.3) PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE MONARQUIA........................................................                              5
1.4) INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL.....................................................................                      6

2) O REINADO DE DAVI..............................................................................................          8
2.1) DAVI CONQUISTA JERUSALÉM.........................................................................                      9
2.2) A ARCA É TRANSFERIDA PARA JERUSALÉM.................................................                                   9
2.3) AS GUERRAS DE DAVI........................................................................................             9
2.4) DAVI ENGRAVIDA BETSABEIA...........................................................................                    10
2.5) NASCIMENTO DE SALOMÃO.............................................................................                     10
2.6) ABSALÃO TOMA O PODER..................................................................................                 10
2.7) DAVI FAZ O CENSO DE ISRAEL.........................................................................                    11
2.8) ADONIAS SE REI E DAVI CONSTITUI SALOMÃO SEU SUCESSOR                                                                   11
2.9) MORTE DE DAVI...................................................................................................       12
                                                                                                                            13
3) A HEGEMONIA NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI.....................................                                          13
3.1) MEDIDAS DE DAVI PARA CONSOLIDAR O PODER..........................................                                      13
3.2) POR QUE DAVI NÃO ERA UM REI JUSTO? ......................................................                              14

4) O REINADO DE SALOMÃO....................................................................................                 14
4.1) PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO PARA CONSOLIDAR SEU REINO........                                                         14
4.2) A NARRATIVA BÍBLICA DE SALOMÃO..............................................................                           15
4.3) O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO...............................................................                          15
4.4) CONSTRUÇÃO DO TEMPLO..............................................................................                     16
4.5) ESCOLHA DE JEROBOÃO...................................................................................                 16
4.6) MORTE DE SALOMÃO.........................................................................................              17

5) CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................              17
6) BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................   18
3



    1) VISÃO GERAL SOBRE A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA
        MONARQUIA


        Tanto a Bíblia quanto historiadores e pesquisadores afirmam que um dos
pontos centrais para a decadência do modelo tribal israelita, de certo modo, teria sido
a fraca união e falta de força, tecnologia e organização militar da mesma, perante os
ataques filisteus. Segundo descrição de John Bright (1980)1, os filisteus eram um povo
pouco numeroso. Os mesmos possuíam como modelo estatal uma aristocracia militar,
e como sugere não só seus nomes personativos, mas também seu modelo religioso,
como os nomes de seus deuses, podemos ver, claramente, uma influencia Canaanita.
Tal influência é explicada segundo Bright (1980), por certa miscigenação entre os dois
povos, dessa forma, ocasionando uma assimilação cultural por parte filistéia, de
características tanto religiosas, quanto político/militares dos cananeus. Tendo os
filisteus imigrado para a terra de Canaã, pouco tempo após Israel, estando em guerra
esses dois desde o período dos Juízes – época do modelo Tribal Israelita. Esse
Tribal durou aproximadamente duzentos anos (cerca de 1210 a 1020/1010 a.C.),
tendo recebido o golpe decisivo responsável pelo seu declínio, aproximadamente, em
1050 a.C., na batalha descrita em 1 Samuel, 4, na qual em uma investida frustrada
contra os filisteus, além da morte da maioria dos combatentes, a Arca da Aliança,
símbolo da presença de YHWH2               junto ao povo hebreu, foi tomada e levada pelos
filisteus. Assim, os filisteus, segundo John Bright, destruíram o santuário da Liga Tribal
em Silo e espalharam suas guarnições, ocupando assim a terra. Segundo o mesmo
autor, os filisteus afirmaram o seu monopólio do ferro, sendo o mesmo só abundante
entre os hebreus apenas no reinado de Davi. Quanto às causas, que levaram à
unificação dos hebreus, em um único Estado monárquico, segundo narra a Bíblia, os
anciãos de cada tribo de Israel se reuniram com Samuel no santuário de Ramá, onde
o mesmo morava no intuito de lhe fazer um pedido: [...] Constitui sobre nós um rei, o
qual exerça a justiça entre nós, como acontece em todas as nações” (1 Sm 8, 4-5).

1
 BRIGHT, John. História de Israel. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: 4º ed. Paulinas,
1980, p. 284.
2
 Essas quatro letras encontradas na bíblia representam o poder eterno de Deus. É um verbo conjugável
e por isso, encontramos mais de uma tradução. Por ser um verbo conjugável, quem o pronuncia sem
saber exatamente, pode estar se referindo a um Deus no passado, (que já foi), ou no presente ou no
futuro. Os católicos dizem Javé, os protestantes Jeová e alguns teólogos mais letrados dizem JAVO. Mas,
a maioria, não sabe o que diz, porque quando fala não conhece o significado. Por isso, sabiamente,
alguns judeus do passado alteraram o tetragrama para evitar que não se falasse o nome de Deus de
maneira fútil. Chamar Deus de Jeová, Javé ou Javo pode ser fútil. Repare que eu não afirmo que é fútil,
mas que? pode ser?. O correto é referir-se a Deus como aquele que é o que quiser ser.
4



        Em suma, a Bíblia e também o que afirmam alguns pesquisadores como Henri
Cazelles(1986)3,      sustentam      o mesmo        motivo para a instalação de um modelo
monárquico em Israel. O motivo que é considerado, como sendo o que possui mais
sustentação histórica, no que concerne ao processo de unificação das tribos de YHWH
em um único Estado, e que, não por acaso, tornou-se uma hipótese de pesquisa foi o
fato de que, no final do século XI a.C., – data da formação da Monarquia unificada de
Israel –, Estados e civilizações vizinhas, como o Egito Faraônico a região da
Mesopotâmia, estavam enfraquecidos. O Reino unificado de Israel iniciou-se com
Saul, tendo sido ungido por Samuel e escolhido como primeiro rei, tanto por YHWH
quanto pelo povo, tendo Saul governado aproximadamente de dez a vinte anos
(1020/1010 (?) a 1000 a.C.). Logo, a bíblica e a de Cazelles (1986) complementam-se,
indicando que haveria somente um desejo de imitação dos povos vizinhos, na
constituição da Monarquia unificada de Israel.


1.2) PASSAGEM PARA A MONARQUIA4


        De acordo Gass (2011) há causas internas e externas para o surgimento da
monarquia.Como causas externas podemos destacar que os reis que queriam
continuar    a    cobrar    impostos     dos     israelitas;os    filisteus   atacavam      a   Israel
constantemente (Jz 3,31). O exemplo das tribos era um modelo que atraiam cada vez
mais escravos que fugiam do seus senhores e integrando a clãs de Israel (1 sm
25,10). As causas internas para o surgimento da monarquia está redação dos livros
bíblicos. Os livros da bíblia que narram a historia da monarquia é 1-2 Sm e 1-2 Rs.
Estes livros tem uma longa história.começaram a ser escrito durante a monarquia
unida sobre o rei Salomão e sua redação final só se deu durante o exílio babilônico
(587-539 a.C.). essa ultima redação foi feita por um grupo que analizou a historia de
Israel a partir das ideias do livro do deuteronômio. Logo, esse grupo reuniu tradições
proféticas do Norte com os interesses da dinastia de Davi, no sul, como veremos
adiante. Assim Gass(2011) sustenta que certamente havia duas versões ou linha de
pensamento da sagrada escritura: a popular e a Oficial.
        A principal redação de 1-2 Sm e 1-2 Rs ocorreu durante a monarquia de Josias
(640-609 a.C). Por isso Samuel e Reis fazem parte da grande obra deteronomista.
Logo aos reis não faltavam razões para acabar com o modelo das tribos do hebreus.

3
  CAZELLES, Henri. História Política de Israel: desde as origens até Alexandre Magno. Tradução de Cácio
Gomes. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 121.
4
  GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus,
2ªedição, 2011.
5



       Em 1Samuel 1-15 , encontramos três causas internas que contribuíram para o
enfraquecimento do sistema tribal: 1) a corrupção de sacerdotes; 2) a corrupção de
Juízes; 3) a introdução do arado de ferro e do boi na agricultura.
1) Corrupção dos sacerdotes= em 1 Sm 2,12-17, alguns grupos sacerdotais no meio
das tribos começaram a expropriar o que era dos camponeses. No texto os
sacerdotes, que já tinham direito a uma porção da oferta, exigem a carne crua, a qual
poderia ser comercializada depois de seca, ou seja, havia sacerdotes que se
aproveitavam das carnes das oferendas a Deus a fim de fazer churrasco para si. A
Corupção chegou não só para sacerdotes mas também para Juízes que deveriam ser
os primeiros responsáveis por zela pela justiça.
2)Corrupção de Juízes= diante da perversão do DIREITO, houve anciãos que
propuseram como alternativa um rei. Aqui, entra a importância de Samuel que era
profeta atento a voz do povo diante da proposta dos anciãos e sensível à voz de
Deus.ele não era favorável a proposta dos anciãos por um rei para governa. Por isso
Samuel deixa claro que optar por um rei é rejeitar o próprio Deus. Depois, em 1 Sm
12,19 diz que “pedir um rei foi nosso maior pecado”.
3) O boi5 e arado de ferro permitiram o aumento da produção= A entrada do boi influirá
diretamente na relação com a produção, a qual, auxiliada pelo ele, formará o
excedente necessário para manter a estrutura monárquica, ou seja, é o boi que vai
possibilitar a monarquia através da produção excedente6.


1.3) PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE MONARQUIA


       Jz 9,1-6: primeira experiência de monarquia dentro das tribos, onde houve
alegação de que seria melhor ser governado por um só homem e que fosse parente
deles. Com a prata do templo de Baal-Berit, Abimelec contratou homens para matar os
70 líderes de então, para que ele fosse instituído como rei. Seu reinado durou muito
pouco tempo.A prata que existia neste templo vinha do comércio, ou seja, alguma
coisa da produção da tribo estava sendo acumulada para poder ser comercializada, o
que era contra as leis tribais, pois possibilitava a manipulação do poder. O texto


5
    Quem se criou na roca ou sabe da lida com o campo sabe da importância dos bois na
agricultura familiar. Eles servem para puxar o arado na lavra da terra. Servem também para
transportar a produção, puxando carroça.
6
   A introdução do arado com lâmina de ferro e puxado por bois aumentaram produção
agrícola. Daí apareceram as desigualdades sociais. Logo a sociedade israelita, no final do
tempo dos Juizes , já estava dividida em classes (1Sm 25). A solidariedade, aos poucos deu
lugar aos ineresses dos grupos mais poderosos. cf: GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia.
Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus, 2ªedição, 2011,p.17.
6



também fala dos senhores de Siquém (ou proprietário de Siquém) mostrando assim
que há uma formação de grupos que começam a centralizar o poder.
       Os Juízes acumulam poder (Jz 10,3-5): O texto mostra um juiz (Jair) ligado a
30 pessoas, com 30 jumentos e 30 cidades. Isto pode ser visto como uma rede de
comércio, pois os jumentos e bois serviam para o transporte. Jz 12,8-13: outros juízes
também se organizando em redes e acumulando poder. Não se trata de dominação
sobre todas as tribos, porém já são atitudes que fogem do propósito das tribos.



1.4) INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL


       Segundo o Professor Ciro Cardoso7, o reinado de Saul somente exerceu uma
quebra parcial do modelo político e institucional da época da Confederação Tribal,
tendo ele apenas traçado e iniciado “(...) um esboço de instituições estatais e de
exército permanente.” Saul exerceu o importante papel de introdutor da monarquia,
entretanto, mesmo assim, seu reinado não possuiu grande relevância, pois, ainda de
acordo com os ensinamentos de Cardoso(1990) o rei Saul “[...] foi acima de tudo um
chefe militar carismático, espécie de novo juiz, mas em escala muito ampliada”
       Segundo Gass (2011) há Quatro versões para o início da monarquia:1) Pedido
(1Sm 8); 2) Unção (1Sm 9,1-10,16); 3) Eleição (1Sm 10,17-27); 4) Aclamação (1Sm
11,1-15).
1:Pedido – cap. 8; Versículos 1 a 4: causas internas; Versículo 5: causa externa – As
monarquias possuíam um exército permanente e uma vocação para a conquista, o
que pode ter deixado as tribos com medo. Assim pediram um rei para governá-los.
Versículos 10 a 17: trata-se de um texto posterior a Saul. Os aspectos da monarquia
aqui apresentados se referem ao período de Salomão. O que mais caracteriza este
texto como antimonárquico é a afirmação de que “eles estão rejeitando a mim (Javé)”.
Pois na sociedade tribal o rei é YHWH.“Nem eu nem meu filho seremos reis de vocês.
O rei de vocês será Javé” (Jz 8,23).
2:Unção 1 Sm 9,1 – 10,16= Não há nada neste texto que transpareça uma crítica à
monarquia. A menção da unção é posterior à época do acontecimento. Esta unção
pode não ter acontecido, pois não aparece posteriormente. Além disso, na época de
Saul não havia estrutura para uma unção: templo, sacerdotes, etc.O texto não fala de
rei, mas de um chefe do povo. A palavra NAGUID significa chefe.


7
 CARDOSO, Ciro Flamarion. Antiguidade Oriental: política e religião. Os povos do Oriente
Próximo. Reis e sacerdotes. Poder e religião. São Paulo: Contexto, 1990.
7



3:Eleição 1 Sm 10,17-27= Dificilmente se entregaria à sorte a escolha de um rei.O
texto também traz a perspectiva de que escolher um rei é o mesmo que rejeitar a Javé
(v 19). Na Bíblia existem dois tipos de sorteio: um para escolher a porção da terra que
cada tribo ocupará, e outro é o sorteio para encontrar o culpado por algum fato
ocorrido. O caráter do sorteio neste texto de 1Sm é o segundo, que servia para
encontrar o culpado. Talvez, por isso, Saul estaria escondido. Ele seria o culpado por
tomar o lugar de YHWH no reinado. Isto mostra que o texto é antimonárquico.
4: Aclamação 1 Sm 11,1-15= Segundo Gass(2011)Provavelmente este texto é o que
mais se aproxima do que ocorreu efetivamente. A convocação que Saul fez para a
guerra não foi dirigida a todo o Israel, mas somente aos donos dos bois 8ameaçando-
os com perda de seu gado( 1 Sm 11,7). Assim já se formava um exército a serviço dos
donos de bois, e não apenas um exército de defesa formado por camponeses. Não foi
por acaso que o primeiro rei surgiu ao redor do entroncamento das rotas comerciais
norte-sul e leste oeste nas redondezas de Jerusalém.
       A junta de bois que Saul destruiu pode representar duas coisas. Primeiro: pode
representar o que os inimigos fariam com os bois deles em um possível ataque.
Segundo: o que o próprio Saul faria com os bois daqueles que ele convocou para a
guerra caso não fossem para a guerra com ele.O texto também mostra que a
concentração de poder leva os poderosos a se voltar tanto contra os inimigos quanto
contra os próprios membros da tribo, desde que sejam contra este poder (v 12).
       Saul foi ungido como chefe militar, representando os interesses dos donos de
bois. Sua forte liderança levou os proprietários de bois a transformá-lo em primeiro
chefe de um exército permanente. Saul se pareceu mais com um líder militar do que
com um rei. Era semelhante aos juízes como Gedeão e Jefté, que comandavam o
exército na época das tribos. Mas, já havia uma grande diferença entre eles. Os juízes
após a campanha militar, voltavam a seu trabalho no campo. Saul não voltou mais.
Tornou-se líder militar permanente. Desempenhou, portanto, o papel de juiz e chefe
militar permanente, tal como os anciãos haviam pedido a Samuel (1Sm 8,20).
       É importante destacar que Saul assume o sacerdócio. Ele toma a iniciativa de
oferecer sacrifícios, ultrapassando suas funções e usurpando a função sacerdotal
(1Sm 13, 1-15). Ele cria um exército permanente, donde se deduz uma tributação para
seu sustento. Em suma podemos sustentar que Saul representou uma fase
intermediária entre a sociedade tribal e a monarquia.



8
 O boi era um bem valioso. Era necessário proteger os bens. Logo boi exige um exercito
permanente para garantir a livre circulação das mercadorias dos camponeses mais ricos.
8




2) O REINADO DE DAVI
       Para entender o Reinado de Davi vejamos um breve panorama da narração
bíblica para depois desmistificarmos alguns ponto da formação do império de Davi.




2.1) DAVI CONQUISTA JERUSALÉM (1004 A.C.)
       Jerusalém coube como herança à Tribo de Benjamin (Js 18:28). Conforme
Js 10, Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém na época da entrada de Israel em Canaã,
arregimentou outros quatro reis da região, a saber: Hoão, rei de Hebrom, Pirão, rei de
Jarmute, Jafia, rei de Laquis e Debir, rei de Eglom, para atacar os gibeonitas que
haviam feito paz com Israel.Josué foi ao combate a estes reis e os derrotou naquele
que chamamos o mais longo dos dias. No entanto, a cidade de Jerusalém
permaneceu intocada, uma vez que a batalha se travou às portas de Gibeon e “Não
puderam, porém, os filhos de Judá expulsar os jebuseus que habitavam em
Jerusalém”. (Js 15:63). Conforme Jz 1:7-8, ainda nos tempos de Josué, as tribos de
Judá e Simeão atacaram a cidade e a incendiaram na guerra contra os cananeus, mas
a cidade continuou a ser habitada pelos jebuseus uma vez que não cabia nem a Judá
nem a Simeão ocupá-la.Coube a Davi tomá-la, por volta de seu sexto ano de reinado,
conforme nos relata 2 Sm 5: 5-9: “Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis
meses, e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá.E partiu o
rei com os seus homens a Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam naquela
terra; e falaram a Davi, dizendo: Não entrarás aqui, pois os cegos e os coxos te
repelirão, querendo dizer: Não entrará Davi aqui. Porém Davi tomou a fortaleza de
Sião; esta é a cidade de Davi. Porque Davi disse naquele dia: Qualquer que ferir aos
jebuseus, suba ao canal e fira aos coxos e aos cegos, a quem a alma de Davi
odeia.Por isso se diz: Nem cego nem coxo entrará nesta casa. Assim habitou Davi na
9



fortaleza, e a chamou a cidade de Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo
para dentro.”Davi passou a reinar de Jerusalém a partir do Anno Mundi 2893,
descontados 33 anos desde a data de sua morte.




2.2) A ARCA É TRANSFERIDA PARA JERUSALÉM (998 A.C.)
       A Arca foi tomada pelos filisteus no Anno Mundi 2878 e veio a permanecer em
Quiriate-Jearim apor 20 anos, até que Davi a transportasse para Jerusalém, o que veio
a acontecer no Anno Mundi 2898 (2878 + 20). Seria então, o 13º ano de reinado de
Davi, em seu 6º ano reinando em Jerusalém.


2.3) AS GUERRAS DE DAVI (998 -993 A.C.)
       Davi empreendeu um longo período de guerras contra os filisteus, moabitas, e
os reis ao norte e sul de Israel, estendendo desta forma as fronteiras de Israel até
além do Rio Eufrares (2 Sm 8:1-3).Tomou o que seria hoje a faixa de Gaza e sujeitou
os filisteus. Consolidou as fronteiras da Tribo de Rubem com o território de Moabe,
ficando tanto estes quanto os filisteus tributários de Israel. Empreendeu uma
campanha de sucesso em direção ao norte de Israel, contra o reino de Zobá,
estendendo as fronteiras até o Rio Eufrates, dominando a Siria, quando esta saiu em
defesa de Hadadezer, rei de Zobá.Também a Siria passou a pagar tributos a Israel (2
Sm 8:5-6). Davi sujeitou também os amonitas e amalequitas (2 Sm 8:12) consolidando
as fronteiras da transjordânia e junto com os irmãos Joabe e Absai conquistou os
edomitas ao sul (1 Cr 18:12-13).As fronteiras consolidadas por Davi eram as mesmas
prometidas por Deus a Abraão, conforme Gn 15:18: “fez o Senhor uma aliança com
Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao
grande rio Eufrates”.Deus relembrou a Josué as mesmas fronteiras quando Israel
entrou em Canaã: “Para Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho
dado, como eu disse a Moisés. Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio
Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o
vosso termo. Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com
Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te, e tem
bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria”
(Js 1:3-6).As fronteiras estabelecidas por Davi subsistirão até o fim dos dias de
Solamão.
10



2.4) DAVI ENGRAVIDA BETSABEIA (993 A.C.)
       Ao fim da guerra contra os amonitas, Rabá, a capital de Amon ainda estava em
pé e cabia a Davi conquistá-la definitivamente. Por uma razão desconhecida, Davi, ao
invés dele próprio liderar a conquista de Rabá, envia Joabe, comandante de seu
exército, para tomar a cidade e permenece ele próprio em Jerusalém. É nesta
circunstância que ele toma Betsabeia e a engravida. É bastante conhecido o
desenrolar da história que culmina com o assassinato de Urias, o heteu, marido de
Betsabeia. Tempos depois da morte de Urias a cidade veio a ser conquistada e Joabe
chama Davi para que ele mesmo entre na cidade como conquistador de Rabá.


2.5) NASCIMENTO DE SALOMÃO (992 A.C.)


       Conforme 2 Sm 11:27 Davi tomou depois da morte de Urias Betsabeia como
esposa e ela gerou Salomão. Podemos supor que Salomão tenha nascido no ano
seguinte à morte de Urias.

2.6) ABSALÃO TOMA O PODER (981 A.C.)

       De acordo com a lei de Moisés escrita em Lv 20:10, deveriam ser punidos com
a morte tanto Davi quanto Bate-Seba, porém foram ambos poupados.No entanto, a
pesada sentença pronunciada pelo profeta Natã causou efeitos que vieram a durar por
toda a vida de Davi: “Porque, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal
diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por
tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se
apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher
de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua
própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei
a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o
fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o
sol.Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi: Também o
Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Sm 12:9-13).A sentença de Natã se
concretizou dentro da própria casa de Davi, começando com o assassinato de Amnon
por seu próprio irmão Absalão, que posteriormente viria a tomar o reino de Davi e
possuir à luz do dia todas as concubinas de seu pai. Amnon seria no inconsciente
popular o sucessor de Davi por ser o seu primogênito. Podemos supor então, que a
vingança de Absalão pela violação de sua irmã não foi uma atitude meramente
passional, mas um ato possivelmente planejado de eliminação do mais provável
sucessor de direito ao trono de Israel, uma vez que Absalão, como mostram os fatos
11



subsequentes, tinha para si a ambição de reinar sobre Israel.Dois anos após a
violação de sua irmã, Absalão matou Amnon, fugindo para Gesur, terra dos parentes
de sua mãe. Lembremos que Absalão, filho de Davi, era neto de Talmai, rei de Gesur
(2 Sm 3:3). Absalão viria a permanecer ali por 3 anos (2 Sm 13:38), após o que Davi
consentiu que Joabe, comandante do exército de Israel, trouxesse o jovem de volta a
Jerusalém.
       Passaram-se dois anos até que Davi se avistasse com Absalão (2 Sm 14:33) e
o perdoasse, e quatro anos mais, para que Absalão, sobre o pretexto de fazer
sacrifícios em Hebrom (2 Sm 15:7), saísse de Jerusalém e fizesse um levante contra
Davi, o que obrigou o rei a fugir de Jerusalém com toda sua família. 2 Sm 15:7
estabelece que foram quatro anos o tempo passado entre o perdão de Davi e a saída
de Absalão para presumidamente ir sacrificar em Hebrom. Algumas versões traduzem
como 40 anos, o que é bastante improvável.
       Temos, desta forma, que o golpe de Absalão veio a acontecer cerca de 11
anos após o nascimento de Salomão, no 30º ano de governo de Davi, mesmo ano em
que Absalão veio a ser morto por Joabe (2 Sm 18:14).


2.7) DAVI FAZ O CENSO DE ISRAEL (972 A.C.)
       Em 2Sm 24:1     diz que Davi resenceou o povo e por esta causa Israel foi
severamente punido. Não há muitas explicações que nos permitam entender por qual
razão Deus estava contrariado com Israel. Foi o último ato de governo de Davi, um
ano antes da sua morte.


2.8) ADONIAS SE PROCLAMA REI E DAVI CONSTITUI SALOMÃO SEU
SUCESSOR (971 A.C.)


       Adonias, o quarto filho de Davi, nascido em Hebrom, vendo que seu pai estava
velho, e contando com o apoio de Joabe (1 Rs 1:7), comandante dos exércitos de
Israel e do sacerdote Abiatar, auto-proclamou-se rei de Israel.Davi tinha neste tempo
70 anos, idade que não justificaria seu estado de prostração, não fosse o tipo de vida
que levou, não somente por causa das muitas privações que passou durante as
guerras que lotou, como também pelos muitos dissabores emocionais que enfrentou
em sua vida privada, tanto pelas decisões infelizes que tomou como pela turbulenta
vida familiar.1 Rs 1:17 nos mostra que Davi já havia feito um juramento a Bate-Seba
de empossar Salomão como seu sucessor, o que ele cumpre, estimulado pelo profeta
Natã (1 Rs 1:22-40).
12




2.9) MORTE DE DAVI (971 A.C.)
       Conforme 2 Sm 5:5, Davi reinou em Hebrom sete anos e seis meses, e em
Jerusalém reinou trinta e três anos, o que totaliza quarenta anos e meio, sobre todo o
Israel e Judá, concluindo-se desta forma, que Davi reinou seis meses no seu ano de
ascensão, e transferiu, próximo de sua morte, de forma tardia e conturbada o reino
para Salomão. Em 1 Rs 2:1-12 vemos as instruções que Davi deu a Salomão antes de
sua morte: que seguisse pelo caminho de Deus, e que fizesse justiça a algumas
pessoas que lhe haviam causado muitos males.
       A vida de Davi para com Deus foi irrepreensível até os acontecimentos que o
levaram a matar Urias. Vê-se, de fato, um profundo arrependimento por este ato
publicado nas palavras do Salmo 51, que tradicionalmente se credita terem sido
escritas por Davi depois e por causa da morte de Urias. Como sabemos Deus o
perdoou, mas fez com que as consequências de seu ato perdurassem por toda sua
vida. Davi, próximo de morrer, instruiu Salomão a matar Joabe, comandante de seu
exército, justificando que este, por sua vez, havia matado dois homens melhores que
ele, a saber, Abner e Amasa (1 Rs 2:32). Recomendou também a Salomão que
fizesse justiça a Simei que o amaldiçoou quando fugia de Absalão. O próprio Davi,
quando aconteceu este fato, impediu Absai de matar Simei (2 Sm 19:21) porque
entendia que a maldição que este lançava contra ele vinha de Deus, mas
aparentemente mudou de ideia em seus últimos dias de vida. Joabe de fato matou
Abner por vingança porque este havia matado Asael, seu irmão, e matou Amasa
porque este fora o chefe do exército de Absalão em sua tentativa de tomar o trono de
Davi, e mesmo assim, depois disto, Davi fez dele chefe de seu exército em lugar de
Joabe (2 Sm 19:13). Joabe não só matou o novo comandante do exército, como
continuou a liderar o exército de Israel, mesmo contra a vontade aparente de Davi.
       Há que se notar que Joabe prestou grandes serviços a Davi ao lado de quem
lutou todas as guerras e sempre lhe foi fiel. Davi não se lembrou de mencionar uma
coisa de fato concreta, quando instruiu o novo rei: que Joabe apoiara Adonias na sua
tentativa de reinar sobre Israel em lugar de Salomão, o que, de uma certa forma,
poderia ser pretexto para sua exclusão do círculo de sua confiança, mas nunca de
morte a um homem que lhe fora como que o braço direito e de muitas maneiras, o
instrumento usado por Deus para garantir-lhe o trono.
Mas é Joabe a maior testemunha sobre a morte premeditada de Urias; é a ele a quem
Davi manda que o próprio Urias leve sua sentença de morte quando lutava para
13



conquistar a cidade de Rabá. Joabe não é nomeado entre os valentes de Davi no
relato de 2 Sm 23:8-39, mas Urias, paradoxalmente lá está.


3) A HEGEMONIA NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI
       O Rei Davi levou a cabo o empreendimento iniciado por Saul, consolidando o
estado monárquico. Mesmo após a morte de Saul houve disputa entre as famílias de
Davi e Saul. Isso representava um perigo para o reinado de Davi. Desta forma, Davi
toma medidas violentas para garantir o poder.
A conquista do poder: Somente com a morte de Saul, Davi pode ser ungido rei.
Porém, no primeiro momento o foi apenas rei de Judá, no Sul. No Norte ficou Isbaal,
filho de Saul (2Sm 2). Para Davi conquistar o poder entre todas as tribos, foi
necessário matar Abner, chefe do exército de Saul (2Sm 3,26) e também Isbaal9 filho
de Saul (2Sm 4,5). Os textos bíblicos nunca atribuem culpa a Davi sobre os
assassinatos que possibilitaram sua ascensão ao trono: Saul foi morto na luta contra
os filisteus. Davi lamentou sua morte (2Sm 1,11) e matou o assassino de Saul (2Sm
1,13-16). Abner: foi morto por Joab (chefe dos oficiais de Davi). Davi se declara
inocente (2Sm 3, 28). Isbaal: Foi morto por Recab e Baana. Davi os condena à morte
por terem matado Isbaal (2Sm 4, 9-12).
       Apesar de ser considerado Rei Justo, Davi chega ao poder através de
assassinatos e conspirações, assim como acontecerá com Salomão. Essa é a
conseqüência de um sistema injusto.
       É possível distinguir claramente dois momentos na vida de Davi. Na primeira
fase, Davi foi um líder popular solidário com os mais excluídos do seu tempo, depois
de ter sido músico, escudeiro e chefe militar de Saul (quando matou Golias, 1Sm
17).No segundo período, Davi lutou pelo poder, consolidando o seu reinado. E não foi
por acaso que houve resistência do povo enquanto ele foi rei sobre Judá e Israel.


3.1) MEDIDAS DE DAVI PARA CONSOLIDAR O PODER
        Davi levou para Jerusalém a Arca de YHWH, centralizando-a na capital.
Fundou uma dinastia, tentando garantir o poder a seus descendentes. Adotou a
ideologia da filiação divina dos reis. Aumentou o contingente de soldados profissionais;
Organizou melhor a burocracia estatal, não só aumentando os chefes militares, mas
também os sacerdotes. Conquistou todos os povos da redondeza, exceto os fenícios.

9
  O nome do filho de Saul, Isbaal, foi mudado para Is-Bosete. Isbaal significa homem de Baal e
Is-Bosete significa filho da vergonha. Certamente o nome original era Isbaal, porém, na época
da redação evitava-se o nome Baal, então trocaram para Boset. Isto explica a diferença entre
algumas traduções bíblica (2Sm 2,8).
14



Quebrando, assim, o principio do exército de defesa para exército de ataque e
conquista. Quis construir um templo para YHWH, a exemplo dos deuses cananeus e
assim como já edificara um para si. Porém o profeta Natã se opôs (2Sm 7,1-7).


3.2) POR QUE DAVI NÃO ERA UM REI JUSTO?
        Porque fez guerras, promoveu massacres, saques, tributação e trabalhos
forçados. Não marchava à frente do povo(1Sm 8,20 e 2Sm 11,1). Além de não ir às
guerras, abusava das mulheres dos soldados (2Sm 11, 2-27). Quando Davi estava se
aproximando do fim do seu mandato, isto é, quando estava próximo de sua morte,
aumentaram as intrigas palacianas. Muita coisa estava em jogo. Quem iria substituir o
rei de um grande império? Agora, vamos entender a sucessão de Davi para Salomão.


4) O REINADO DE SALOMÃO 10 (970- 931 a.c)
        O reinado de Salomão está descrito em 1Rs 3-11. Davi fundou uma dinastia,
portanto seu sucessor seria seu filho mais velho. No entanto, Amnon havia sido morto
por Absalão, seu irmão . Adonias foi o quarto filho e era o legítimo herdeiro do trono
de Davi. Salomão também era filho de Davi11, mas havia ainda 5 irmãos antes dele.
Porém, Ele tinha a pretensão de ser o rei no lugar de seu pai Davi. Então começou
uma rivalidade com o seu irmão Adonias. Destes dois candidatos ganharia quem
tivesse mais força política. E nisso Salomão foi vitorioso.


4.1) PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO PARA CONSOLIDAR SEU REINO


        Primeiro ele manipula seu pai, Davi, e o coloca contra Adonias, a fim de ser
aclamado Rei (1Rs 1). Depois, matou Adonias, de quem tomou o legítimo direito ao
trono (1Rs 2,12-25). Mandou matar Joab, para substituir por outro chefe do exército.
Por ultimo, mandou matar Semei, que era do Clã de Saul, e havia estado contra
Davi.“Assim se consolidou a realeza nas mãos de Salomão”(1Rs 2,46).
        Salomão aperfeiçoa o sistema tributário. Ele empreende grandes construções:
o Templo, seu palácio, palácio para a filha do faraó, fortalezas militares, cidades
armazéns, cidade portuária, etc. (Tudo com trabalho forçado: 1Rs 6, 27-ss). O
principio da Riqueza e luxo na corte do rei Salomão(1Rs 10,1-13.14-25).



10
   Nasceu em Jerusalém, a capital do império ( 2 Sm 5,13-16).
11
   A mãe de Salomão era Betsabeia( 1 rs 1,8) que era mulher do estrangeiro Urias, o hitita (2rs 11,3). Ela
junto com Natã, manobra Davi para nomear Salomão como rei (1 rs 1,11-31).
15



       O Rei Salomão impôs um fardo muito pesado ao povo (1Rs 12, 1-5). Isso gerou
um descontentamento muito grande que dará início a uma revolta contra seu reinado.
O resultado será a divisão do Reino.

4.2) A NARRATIVA BÍBLICA DE SALOMÃO




4.3) O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO (971 A.C.)
       Salomão reinou depois da morte de Davi por 40 anos, contado seu ano de
ascensão. Conforme 1 Cr 29:1 Salomão era “ainda moço e tenro” quando começou a
governar. Teria 21 anos na ocasião do início de seu reinado. Três coisas chamam a
atenção sobre sua figura: sua conhecida sabedoria, o fato de haver construído o
Templo, e sua infidelidade a Deus, que terá como efeito a divisão do reino depois de
sua morte.
       Alguns princípios que deveriam nortear a monarquia em Israel já haviam sido
editados como lei pelo próprio Moisés, conforme o capítulo 17 de Deuteronômio.
Foram, no entanto, sistematicamente negados ou esquecidos por quase a totalidade
dos reis, mas é na verdade no reinado de Salomão que se constata de certa forma a
sua mais abusiva negação. O próprio texto nos explica:
                     “Porém ele (o rei) não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao
                     Egito para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos tem dito: Nunca mais
                     voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o
                     seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.” (Dt
                     17:16-17)
16



4.4) CONSTRUÇÃO DO TEMPLO12 (968 A.C. A 961 A.C.)
        Como Deus houvesse negado a Davi (por haver sido um homem de guerras)
que ele construísse o Seu Templo, coube a Salomão fazê-lo. (2 Sm 7:12-13). De
acordo com 1 Rs 6:38, Salomão demorou 7 anos para concluir a obra.O Templo estará
em pé por 367 anos até que seja destruído por Nabucodonozor (2 Rs 25:8-9).


4.5) ESCOLHA DE JEROBOÃO (934 A.C.)
        Salomão é um exemplo de que pouco vale a sabedoria sem submissão
espiritual. Governou Israel no auge de seu esplendor, gozando dos benefícios das
conquistas das fronteiras de Davi (2 Cr 9:26) que fizeram dos povos ao redor de Israel
pagadores de impostos com os quais Salomão pode empreender grandes obras.
Construiu o Templo, o palácio real, murou Jerusalém, construiu cidades armazéns,
navios (1 Rs 9:10-28), e fez propagar sua fama pelo mundo vindo a exceder a todos
os governantes de seu tempo (1 Rs 10:23).
        De acordo com 1 Rs 4:32-33: “disse três mil provérbios, e foram os seus
cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até
ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais e das aves, e dos répteis
e dos peixes”. Desfrutou, desta forma, da paz conquistada por seu pai e pode dedicar-
se a uma vida de cultura e prazeres.
        Contrariando a Lei de Moisés (Dt 7:3-4) que proibia o casamento com mulheres
estrangeiras, casou-se com 700 mulheres e possuiu 300 concubinas (1 Rs 11:3) que
lhe fizeram inclinar para a idolatria, causa pela qual o reino de Israel veio a ser divido.
Vejamos a sentença de Deus contida em 1 Rs 11:11-13:

                          “Assim disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não
                         guardaste a minha aliança e os meus estatutos que te mandei, certamente
                         rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o
                         farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei; Porém todo o
                         reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi, e
                         por amor a Jerusalém, que tenho escolhido.”




12
   O Templo que Salomão construiu para o Deus de Israel, em Jerusalém, objetivava, sobretudo, guardar
no seu recinto mais sagrado: o Santo dos Santos, a Arca da Aliança do Sinai, a qual continha os Dez
Mandamentos enviados por Deus a Moisés, segundo relatado no Livro bíblico do Êxodo. Este templo foi
chamado de Templo de Salomão ou 1º Templo de Jerusalém, uma vez que o mesmo foi destruído no ano
586 a.C., quando da invasão e conquista do Reino de Judá, pelo Império Neobabilônico. Neste episódio a
Arca da Aliança desapareceu para sempre. O 2º Templo de Jerusalém começou a ser edificado no
mesmo século VI a.C., após o Rei persa aquemênida Ciro, o Grande ter libertado os judeus de seu
cativeiro na Babilônia. Entretanto este 2º Templo só foi aumentado e embelezado ao tempo do reinado
de Herodes Magno (37 a 4 a.C.), por isso é também conhecido por Templo de Herodes, o qual foi
incendiado pelas tropas romanas, chefiadas por Tito, filho o Imperador Vespasiano, e futuro Imperador de
Roma, no verão do ano 70 d.C., quando a primeira revolta judaica contra Roma, na Judeia, já caminhava
para a derrota dos judeus. O que restou deste 2º Templo, é hoje o local mais sagrado para o judaísmo: o
Muro das Lamentações, que apoiava o Monte do Templo.
17



       Conforme podemos observar no estudo do reino de Jeroboão, a sentença
acima veio a ser pronunciada dois anos antes da morte de Salomão, ano que assinala
o início da contagem do tempo de reinado de Jeroboão, sem que ainda ele tivesse
sido empossado como rei.
       Algumas das esposas de Salomão eram provavelmente israelitas, mas
nenhuma delas é mencionada. Naamá, uma amonita (2 Cr 12:13), filha de um dos
povos contra quem Davi combateu, veio a ser mãe de Roboão, sucessor de Salomão
e causador da divisão do reino de Israel.




4.6) MORTE DE SALOMÃO( 932 A.C.)
       Salomão morreu no Anno Mundi 2964 com cerca de 61 anos de idade,
bastante jovem para os padrões de sua época. Foi sucedido por seu filho Roboão.




5) CONSIDERAÇÕES FINAIS
       Neste trabalho analisamos as principais razões que levaram à ruptura da
sociedade tribal, dando origem à monarquia. Olhamos um pouco mais de perto o início
da monarquia sob Saul e como Davi organizou um verdadeiro império. Por fim,
descrevemos como Salomão levou adiante o projeto de seu pai, consolidando o
sistema tributário. Foi durante esse período histórico que nasceu a literatura bíblica, os
seus primeiros escritos, com textos que serviram de legitimação religiosa das novas
estruturas e outros, oriundos da resistência popular, que serviram para conscientizar
as pessoas no presente, lembrando o passado em vista de um novo futuro.
18



6) BIBLIOGRAFIA


BRIGHT, John. História de Israel. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. São
Paulo: 4º ed. Paulinas, 1980.

CARDOSO, Ciro Flamarion. Antiguidade Oriental: política e religião. Os povos
do Oriente Próximo. Reis e sacerdotes. Poder e religião. São Paulo: Contexto,
1990.

CAZELLES, Henri. História Política de Israel: desde as origens até Alexandre
Magno. Tradução de Cácio Gomes. São Paulo: Paulinas, 1986.

GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e
Salomão. V. 3, CEBI, Paulus, 2ªedição, 2011.

MCELENEY, Neil J., c.S.P. Novo Comentário Bíblico São Jeronimo. Editora
Paulus. 1ª edição,2011.


HARRINGTON, Wilfrid J. “Chave para a Bíblia”. Coleção: Biblioteca de estudos
bíblicos. Editora Paulus. 8ª edição. 2007.


Enciclopédia Ilustrada da Bíblia – Pat Alexander, Edições Paulinas 1987.


A Bíblia de Jerusalém (BJ) – Editora Paulus, 10ª impressão 2001.

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A ascensão dos reinos de Davi e Salomão

  • 1. 1 PÓS-GRADUAÇÃO EM TEOLOGIA Com enfoque em ensino religioso LEANDRO SOARES DE SOUSA A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA E A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI E SALOMÃO Trabalho apresentado ao prof. José Ademar Kaefer da disciplina LITERATURA BÍBLICA - PRIMEIRO TESTAMENTO como avaliação e exigência para aprovação. Rio de Janeiro Novembro- 2012
  • 2. 2 1) VISÃO GERAL DA PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA ....... 1 1.2) PASSAGEM PARA A MONARQUIA ..................................................................... 4 1.3) PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE MONARQUIA........................................................ 5 1.4) INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL..................................................................... 6 2) O REINADO DE DAVI.............................................................................................. 8 2.1) DAVI CONQUISTA JERUSALÉM......................................................................... 9 2.2) A ARCA É TRANSFERIDA PARA JERUSALÉM................................................. 9 2.3) AS GUERRAS DE DAVI........................................................................................ 9 2.4) DAVI ENGRAVIDA BETSABEIA........................................................................... 10 2.5) NASCIMENTO DE SALOMÃO............................................................................. 10 2.6) ABSALÃO TOMA O PODER.................................................................................. 10 2.7) DAVI FAZ O CENSO DE ISRAEL......................................................................... 11 2.8) ADONIAS SE REI E DAVI CONSTITUI SALOMÃO SEU SUCESSOR 11 2.9) MORTE DE DAVI................................................................................................... 12 13 3) A HEGEMONIA NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI..................................... 13 3.1) MEDIDAS DE DAVI PARA CONSOLIDAR O PODER.......................................... 13 3.2) POR QUE DAVI NÃO ERA UM REI JUSTO? ...................................................... 14 4) O REINADO DE SALOMÃO.................................................................................... 14 4.1) PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO PARA CONSOLIDAR SEU REINO........ 14 4.2) A NARRATIVA BÍBLICA DE SALOMÃO.............................................................. 15 4.3) O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO............................................................... 15 4.4) CONSTRUÇÃO DO TEMPLO.............................................................................. 16 4.5) ESCOLHA DE JEROBOÃO................................................................................... 16 4.6) MORTE DE SALOMÃO......................................................................................... 17 5) CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 17 6) BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 18
  • 3. 3 1) VISÃO GERAL SOBRE A PASSAGEM DO MODELO TRIBAL PARA MONARQUIA Tanto a Bíblia quanto historiadores e pesquisadores afirmam que um dos pontos centrais para a decadência do modelo tribal israelita, de certo modo, teria sido a fraca união e falta de força, tecnologia e organização militar da mesma, perante os ataques filisteus. Segundo descrição de John Bright (1980)1, os filisteus eram um povo pouco numeroso. Os mesmos possuíam como modelo estatal uma aristocracia militar, e como sugere não só seus nomes personativos, mas também seu modelo religioso, como os nomes de seus deuses, podemos ver, claramente, uma influencia Canaanita. Tal influência é explicada segundo Bright (1980), por certa miscigenação entre os dois povos, dessa forma, ocasionando uma assimilação cultural por parte filistéia, de características tanto religiosas, quanto político/militares dos cananeus. Tendo os filisteus imigrado para a terra de Canaã, pouco tempo após Israel, estando em guerra esses dois desde o período dos Juízes – época do modelo Tribal Israelita. Esse Tribal durou aproximadamente duzentos anos (cerca de 1210 a 1020/1010 a.C.), tendo recebido o golpe decisivo responsável pelo seu declínio, aproximadamente, em 1050 a.C., na batalha descrita em 1 Samuel, 4, na qual em uma investida frustrada contra os filisteus, além da morte da maioria dos combatentes, a Arca da Aliança, símbolo da presença de YHWH2 junto ao povo hebreu, foi tomada e levada pelos filisteus. Assim, os filisteus, segundo John Bright, destruíram o santuário da Liga Tribal em Silo e espalharam suas guarnições, ocupando assim a terra. Segundo o mesmo autor, os filisteus afirmaram o seu monopólio do ferro, sendo o mesmo só abundante entre os hebreus apenas no reinado de Davi. Quanto às causas, que levaram à unificação dos hebreus, em um único Estado monárquico, segundo narra a Bíblia, os anciãos de cada tribo de Israel se reuniram com Samuel no santuário de Ramá, onde o mesmo morava no intuito de lhe fazer um pedido: [...] Constitui sobre nós um rei, o qual exerça a justiça entre nós, como acontece em todas as nações” (1 Sm 8, 4-5). 1 BRIGHT, John. História de Israel. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: 4º ed. Paulinas, 1980, p. 284. 2 Essas quatro letras encontradas na bíblia representam o poder eterno de Deus. É um verbo conjugável e por isso, encontramos mais de uma tradução. Por ser um verbo conjugável, quem o pronuncia sem saber exatamente, pode estar se referindo a um Deus no passado, (que já foi), ou no presente ou no futuro. Os católicos dizem Javé, os protestantes Jeová e alguns teólogos mais letrados dizem JAVO. Mas, a maioria, não sabe o que diz, porque quando fala não conhece o significado. Por isso, sabiamente, alguns judeus do passado alteraram o tetragrama para evitar que não se falasse o nome de Deus de maneira fútil. Chamar Deus de Jeová, Javé ou Javo pode ser fútil. Repare que eu não afirmo que é fútil, mas que? pode ser?. O correto é referir-se a Deus como aquele que é o que quiser ser.
  • 4. 4 Em suma, a Bíblia e também o que afirmam alguns pesquisadores como Henri Cazelles(1986)3, sustentam o mesmo motivo para a instalação de um modelo monárquico em Israel. O motivo que é considerado, como sendo o que possui mais sustentação histórica, no que concerne ao processo de unificação das tribos de YHWH em um único Estado, e que, não por acaso, tornou-se uma hipótese de pesquisa foi o fato de que, no final do século XI a.C., – data da formação da Monarquia unificada de Israel –, Estados e civilizações vizinhas, como o Egito Faraônico a região da Mesopotâmia, estavam enfraquecidos. O Reino unificado de Israel iniciou-se com Saul, tendo sido ungido por Samuel e escolhido como primeiro rei, tanto por YHWH quanto pelo povo, tendo Saul governado aproximadamente de dez a vinte anos (1020/1010 (?) a 1000 a.C.). Logo, a bíblica e a de Cazelles (1986) complementam-se, indicando que haveria somente um desejo de imitação dos povos vizinhos, na constituição da Monarquia unificada de Israel. 1.2) PASSAGEM PARA A MONARQUIA4 De acordo Gass (2011) há causas internas e externas para o surgimento da monarquia.Como causas externas podemos destacar que os reis que queriam continuar a cobrar impostos dos israelitas;os filisteus atacavam a Israel constantemente (Jz 3,31). O exemplo das tribos era um modelo que atraiam cada vez mais escravos que fugiam do seus senhores e integrando a clãs de Israel (1 sm 25,10). As causas internas para o surgimento da monarquia está redação dos livros bíblicos. Os livros da bíblia que narram a historia da monarquia é 1-2 Sm e 1-2 Rs. Estes livros tem uma longa história.começaram a ser escrito durante a monarquia unida sobre o rei Salomão e sua redação final só se deu durante o exílio babilônico (587-539 a.C.). essa ultima redação foi feita por um grupo que analizou a historia de Israel a partir das ideias do livro do deuteronômio. Logo, esse grupo reuniu tradições proféticas do Norte com os interesses da dinastia de Davi, no sul, como veremos adiante. Assim Gass(2011) sustenta que certamente havia duas versões ou linha de pensamento da sagrada escritura: a popular e a Oficial. A principal redação de 1-2 Sm e 1-2 Rs ocorreu durante a monarquia de Josias (640-609 a.C). Por isso Samuel e Reis fazem parte da grande obra deteronomista. Logo aos reis não faltavam razões para acabar com o modelo das tribos do hebreus. 3 CAZELLES, Henri. História Política de Israel: desde as origens até Alexandre Magno. Tradução de Cácio Gomes. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 121. 4 GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus, 2ªedição, 2011.
  • 5. 5 Em 1Samuel 1-15 , encontramos três causas internas que contribuíram para o enfraquecimento do sistema tribal: 1) a corrupção de sacerdotes; 2) a corrupção de Juízes; 3) a introdução do arado de ferro e do boi na agricultura. 1) Corrupção dos sacerdotes= em 1 Sm 2,12-17, alguns grupos sacerdotais no meio das tribos começaram a expropriar o que era dos camponeses. No texto os sacerdotes, que já tinham direito a uma porção da oferta, exigem a carne crua, a qual poderia ser comercializada depois de seca, ou seja, havia sacerdotes que se aproveitavam das carnes das oferendas a Deus a fim de fazer churrasco para si. A Corupção chegou não só para sacerdotes mas também para Juízes que deveriam ser os primeiros responsáveis por zela pela justiça. 2)Corrupção de Juízes= diante da perversão do DIREITO, houve anciãos que propuseram como alternativa um rei. Aqui, entra a importância de Samuel que era profeta atento a voz do povo diante da proposta dos anciãos e sensível à voz de Deus.ele não era favorável a proposta dos anciãos por um rei para governa. Por isso Samuel deixa claro que optar por um rei é rejeitar o próprio Deus. Depois, em 1 Sm 12,19 diz que “pedir um rei foi nosso maior pecado”. 3) O boi5 e arado de ferro permitiram o aumento da produção= A entrada do boi influirá diretamente na relação com a produção, a qual, auxiliada pelo ele, formará o excedente necessário para manter a estrutura monárquica, ou seja, é o boi que vai possibilitar a monarquia através da produção excedente6. 1.3) PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE MONARQUIA Jz 9,1-6: primeira experiência de monarquia dentro das tribos, onde houve alegação de que seria melhor ser governado por um só homem e que fosse parente deles. Com a prata do templo de Baal-Berit, Abimelec contratou homens para matar os 70 líderes de então, para que ele fosse instituído como rei. Seu reinado durou muito pouco tempo.A prata que existia neste templo vinha do comércio, ou seja, alguma coisa da produção da tribo estava sendo acumulada para poder ser comercializada, o que era contra as leis tribais, pois possibilitava a manipulação do poder. O texto 5 Quem se criou na roca ou sabe da lida com o campo sabe da importância dos bois na agricultura familiar. Eles servem para puxar o arado na lavra da terra. Servem também para transportar a produção, puxando carroça. 6 A introdução do arado com lâmina de ferro e puxado por bois aumentaram produção agrícola. Daí apareceram as desigualdades sociais. Logo a sociedade israelita, no final do tempo dos Juizes , já estava dividida em classes (1Sm 25). A solidariedade, aos poucos deu lugar aos ineresses dos grupos mais poderosos. cf: GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus, 2ªedição, 2011,p.17.
  • 6. 6 também fala dos senhores de Siquém (ou proprietário de Siquém) mostrando assim que há uma formação de grupos que começam a centralizar o poder. Os Juízes acumulam poder (Jz 10,3-5): O texto mostra um juiz (Jair) ligado a 30 pessoas, com 30 jumentos e 30 cidades. Isto pode ser visto como uma rede de comércio, pois os jumentos e bois serviam para o transporte. Jz 12,8-13: outros juízes também se organizando em redes e acumulando poder. Não se trata de dominação sobre todas as tribos, porém já são atitudes que fogem do propósito das tribos. 1.4) INÍCIO DA MONARQUIA SOB SAUL Segundo o Professor Ciro Cardoso7, o reinado de Saul somente exerceu uma quebra parcial do modelo político e institucional da época da Confederação Tribal, tendo ele apenas traçado e iniciado “(...) um esboço de instituições estatais e de exército permanente.” Saul exerceu o importante papel de introdutor da monarquia, entretanto, mesmo assim, seu reinado não possuiu grande relevância, pois, ainda de acordo com os ensinamentos de Cardoso(1990) o rei Saul “[...] foi acima de tudo um chefe militar carismático, espécie de novo juiz, mas em escala muito ampliada” Segundo Gass (2011) há Quatro versões para o início da monarquia:1) Pedido (1Sm 8); 2) Unção (1Sm 9,1-10,16); 3) Eleição (1Sm 10,17-27); 4) Aclamação (1Sm 11,1-15). 1:Pedido – cap. 8; Versículos 1 a 4: causas internas; Versículo 5: causa externa – As monarquias possuíam um exército permanente e uma vocação para a conquista, o que pode ter deixado as tribos com medo. Assim pediram um rei para governá-los. Versículos 10 a 17: trata-se de um texto posterior a Saul. Os aspectos da monarquia aqui apresentados se referem ao período de Salomão. O que mais caracteriza este texto como antimonárquico é a afirmação de que “eles estão rejeitando a mim (Javé)”. Pois na sociedade tribal o rei é YHWH.“Nem eu nem meu filho seremos reis de vocês. O rei de vocês será Javé” (Jz 8,23). 2:Unção 1 Sm 9,1 – 10,16= Não há nada neste texto que transpareça uma crítica à monarquia. A menção da unção é posterior à época do acontecimento. Esta unção pode não ter acontecido, pois não aparece posteriormente. Além disso, na época de Saul não havia estrutura para uma unção: templo, sacerdotes, etc.O texto não fala de rei, mas de um chefe do povo. A palavra NAGUID significa chefe. 7 CARDOSO, Ciro Flamarion. Antiguidade Oriental: política e religião. Os povos do Oriente Próximo. Reis e sacerdotes. Poder e religião. São Paulo: Contexto, 1990.
  • 7. 7 3:Eleição 1 Sm 10,17-27= Dificilmente se entregaria à sorte a escolha de um rei.O texto também traz a perspectiva de que escolher um rei é o mesmo que rejeitar a Javé (v 19). Na Bíblia existem dois tipos de sorteio: um para escolher a porção da terra que cada tribo ocupará, e outro é o sorteio para encontrar o culpado por algum fato ocorrido. O caráter do sorteio neste texto de 1Sm é o segundo, que servia para encontrar o culpado. Talvez, por isso, Saul estaria escondido. Ele seria o culpado por tomar o lugar de YHWH no reinado. Isto mostra que o texto é antimonárquico. 4: Aclamação 1 Sm 11,1-15= Segundo Gass(2011)Provavelmente este texto é o que mais se aproxima do que ocorreu efetivamente. A convocação que Saul fez para a guerra não foi dirigida a todo o Israel, mas somente aos donos dos bois 8ameaçando- os com perda de seu gado( 1 Sm 11,7). Assim já se formava um exército a serviço dos donos de bois, e não apenas um exército de defesa formado por camponeses. Não foi por acaso que o primeiro rei surgiu ao redor do entroncamento das rotas comerciais norte-sul e leste oeste nas redondezas de Jerusalém. A junta de bois que Saul destruiu pode representar duas coisas. Primeiro: pode representar o que os inimigos fariam com os bois deles em um possível ataque. Segundo: o que o próprio Saul faria com os bois daqueles que ele convocou para a guerra caso não fossem para a guerra com ele.O texto também mostra que a concentração de poder leva os poderosos a se voltar tanto contra os inimigos quanto contra os próprios membros da tribo, desde que sejam contra este poder (v 12). Saul foi ungido como chefe militar, representando os interesses dos donos de bois. Sua forte liderança levou os proprietários de bois a transformá-lo em primeiro chefe de um exército permanente. Saul se pareceu mais com um líder militar do que com um rei. Era semelhante aos juízes como Gedeão e Jefté, que comandavam o exército na época das tribos. Mas, já havia uma grande diferença entre eles. Os juízes após a campanha militar, voltavam a seu trabalho no campo. Saul não voltou mais. Tornou-se líder militar permanente. Desempenhou, portanto, o papel de juiz e chefe militar permanente, tal como os anciãos haviam pedido a Samuel (1Sm 8,20). É importante destacar que Saul assume o sacerdócio. Ele toma a iniciativa de oferecer sacrifícios, ultrapassando suas funções e usurpando a função sacerdotal (1Sm 13, 1-15). Ele cria um exército permanente, donde se deduz uma tributação para seu sustento. Em suma podemos sustentar que Saul representou uma fase intermediária entre a sociedade tribal e a monarquia. 8 O boi era um bem valioso. Era necessário proteger os bens. Logo boi exige um exercito permanente para garantir a livre circulação das mercadorias dos camponeses mais ricos.
  • 8. 8 2) O REINADO DE DAVI Para entender o Reinado de Davi vejamos um breve panorama da narração bíblica para depois desmistificarmos alguns ponto da formação do império de Davi. 2.1) DAVI CONQUISTA JERUSALÉM (1004 A.C.) Jerusalém coube como herança à Tribo de Benjamin (Js 18:28). Conforme Js 10, Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém na época da entrada de Israel em Canaã, arregimentou outros quatro reis da região, a saber: Hoão, rei de Hebrom, Pirão, rei de Jarmute, Jafia, rei de Laquis e Debir, rei de Eglom, para atacar os gibeonitas que haviam feito paz com Israel.Josué foi ao combate a estes reis e os derrotou naquele que chamamos o mais longo dos dias. No entanto, a cidade de Jerusalém permaneceu intocada, uma vez que a batalha se travou às portas de Gibeon e “Não puderam, porém, os filhos de Judá expulsar os jebuseus que habitavam em Jerusalém”. (Js 15:63). Conforme Jz 1:7-8, ainda nos tempos de Josué, as tribos de Judá e Simeão atacaram a cidade e a incendiaram na guerra contra os cananeus, mas a cidade continuou a ser habitada pelos jebuseus uma vez que não cabia nem a Judá nem a Simeão ocupá-la.Coube a Davi tomá-la, por volta de seu sexto ano de reinado, conforme nos relata 2 Sm 5: 5-9: “Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis meses, e em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá.E partiu o rei com os seus homens a Jerusalém, contra os jebuseus que habitavam naquela terra; e falaram a Davi, dizendo: Não entrarás aqui, pois os cegos e os coxos te repelirão, querendo dizer: Não entrará Davi aqui. Porém Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a cidade de Davi. Porque Davi disse naquele dia: Qualquer que ferir aos jebuseus, suba ao canal e fira aos coxos e aos cegos, a quem a alma de Davi odeia.Por isso se diz: Nem cego nem coxo entrará nesta casa. Assim habitou Davi na
  • 9. 9 fortaleza, e a chamou a cidade de Davi; e Davi foi edificando em redor, desde Milo para dentro.”Davi passou a reinar de Jerusalém a partir do Anno Mundi 2893, descontados 33 anos desde a data de sua morte. 2.2) A ARCA É TRANSFERIDA PARA JERUSALÉM (998 A.C.) A Arca foi tomada pelos filisteus no Anno Mundi 2878 e veio a permanecer em Quiriate-Jearim apor 20 anos, até que Davi a transportasse para Jerusalém, o que veio a acontecer no Anno Mundi 2898 (2878 + 20). Seria então, o 13º ano de reinado de Davi, em seu 6º ano reinando em Jerusalém. 2.3) AS GUERRAS DE DAVI (998 -993 A.C.) Davi empreendeu um longo período de guerras contra os filisteus, moabitas, e os reis ao norte e sul de Israel, estendendo desta forma as fronteiras de Israel até além do Rio Eufrares (2 Sm 8:1-3).Tomou o que seria hoje a faixa de Gaza e sujeitou os filisteus. Consolidou as fronteiras da Tribo de Rubem com o território de Moabe, ficando tanto estes quanto os filisteus tributários de Israel. Empreendeu uma campanha de sucesso em direção ao norte de Israel, contra o reino de Zobá, estendendo as fronteiras até o Rio Eufrates, dominando a Siria, quando esta saiu em defesa de Hadadezer, rei de Zobá.Também a Siria passou a pagar tributos a Israel (2 Sm 8:5-6). Davi sujeitou também os amonitas e amalequitas (2 Sm 8:12) consolidando as fronteiras da transjordânia e junto com os irmãos Joabe e Absai conquistou os edomitas ao sul (1 Cr 18:12-13).As fronteiras consolidadas por Davi eram as mesmas prometidas por Deus a Abraão, conforme Gn 15:18: “fez o Senhor uma aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates”.Deus relembrou a Josué as mesmas fronteiras quando Israel entrou em Canaã: “Para Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu disse a Moisés. Desde o deserto e do Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus, e até o grande mar para o poente do sol, será o vosso termo. Ninguém te poderá resistir, todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei. Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a seus pais lhes daria” (Js 1:3-6).As fronteiras estabelecidas por Davi subsistirão até o fim dos dias de Solamão.
  • 10. 10 2.4) DAVI ENGRAVIDA BETSABEIA (993 A.C.) Ao fim da guerra contra os amonitas, Rabá, a capital de Amon ainda estava em pé e cabia a Davi conquistá-la definitivamente. Por uma razão desconhecida, Davi, ao invés dele próprio liderar a conquista de Rabá, envia Joabe, comandante de seu exército, para tomar a cidade e permenece ele próprio em Jerusalém. É nesta circunstância que ele toma Betsabeia e a engravida. É bastante conhecido o desenrolar da história que culmina com o assassinato de Urias, o heteu, marido de Betsabeia. Tempos depois da morte de Urias a cidade veio a ser conquistada e Joabe chama Davi para que ele mesmo entre na cidade como conquistador de Rabá. 2.5) NASCIMENTO DE SALOMÃO (992 A.C.) Conforme 2 Sm 11:27 Davi tomou depois da morte de Urias Betsabeia como esposa e ela gerou Salomão. Podemos supor que Salomão tenha nascido no ano seguinte à morte de Urias. 2.6) ABSALÃO TOMA O PODER (981 A.C.) De acordo com a lei de Moisés escrita em Lv 20:10, deveriam ser punidos com a morte tanto Davi quanto Bate-Seba, porém foram ambos poupados.No entanto, a pesada sentença pronunciada pelo profeta Natã causou efeitos que vieram a durar por toda a vida de Davi: “Porque, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol.Então disse Davi a Natã: Pequei contra o Senhor. E disse Natã a Davi: Também o Senhor perdoou o teu pecado; não morrerás.” (2 Sm 12:9-13).A sentença de Natã se concretizou dentro da própria casa de Davi, começando com o assassinato de Amnon por seu próprio irmão Absalão, que posteriormente viria a tomar o reino de Davi e possuir à luz do dia todas as concubinas de seu pai. Amnon seria no inconsciente popular o sucessor de Davi por ser o seu primogênito. Podemos supor então, que a vingança de Absalão pela violação de sua irmã não foi uma atitude meramente passional, mas um ato possivelmente planejado de eliminação do mais provável sucessor de direito ao trono de Israel, uma vez que Absalão, como mostram os fatos
  • 11. 11 subsequentes, tinha para si a ambição de reinar sobre Israel.Dois anos após a violação de sua irmã, Absalão matou Amnon, fugindo para Gesur, terra dos parentes de sua mãe. Lembremos que Absalão, filho de Davi, era neto de Talmai, rei de Gesur (2 Sm 3:3). Absalão viria a permanecer ali por 3 anos (2 Sm 13:38), após o que Davi consentiu que Joabe, comandante do exército de Israel, trouxesse o jovem de volta a Jerusalém. Passaram-se dois anos até que Davi se avistasse com Absalão (2 Sm 14:33) e o perdoasse, e quatro anos mais, para que Absalão, sobre o pretexto de fazer sacrifícios em Hebrom (2 Sm 15:7), saísse de Jerusalém e fizesse um levante contra Davi, o que obrigou o rei a fugir de Jerusalém com toda sua família. 2 Sm 15:7 estabelece que foram quatro anos o tempo passado entre o perdão de Davi e a saída de Absalão para presumidamente ir sacrificar em Hebrom. Algumas versões traduzem como 40 anos, o que é bastante improvável. Temos, desta forma, que o golpe de Absalão veio a acontecer cerca de 11 anos após o nascimento de Salomão, no 30º ano de governo de Davi, mesmo ano em que Absalão veio a ser morto por Joabe (2 Sm 18:14). 2.7) DAVI FAZ O CENSO DE ISRAEL (972 A.C.) Em 2Sm 24:1 diz que Davi resenceou o povo e por esta causa Israel foi severamente punido. Não há muitas explicações que nos permitam entender por qual razão Deus estava contrariado com Israel. Foi o último ato de governo de Davi, um ano antes da sua morte. 2.8) ADONIAS SE PROCLAMA REI E DAVI CONSTITUI SALOMÃO SEU SUCESSOR (971 A.C.) Adonias, o quarto filho de Davi, nascido em Hebrom, vendo que seu pai estava velho, e contando com o apoio de Joabe (1 Rs 1:7), comandante dos exércitos de Israel e do sacerdote Abiatar, auto-proclamou-se rei de Israel.Davi tinha neste tempo 70 anos, idade que não justificaria seu estado de prostração, não fosse o tipo de vida que levou, não somente por causa das muitas privações que passou durante as guerras que lotou, como também pelos muitos dissabores emocionais que enfrentou em sua vida privada, tanto pelas decisões infelizes que tomou como pela turbulenta vida familiar.1 Rs 1:17 nos mostra que Davi já havia feito um juramento a Bate-Seba de empossar Salomão como seu sucessor, o que ele cumpre, estimulado pelo profeta Natã (1 Rs 1:22-40).
  • 12. 12 2.9) MORTE DE DAVI (971 A.C.) Conforme 2 Sm 5:5, Davi reinou em Hebrom sete anos e seis meses, e em Jerusalém reinou trinta e três anos, o que totaliza quarenta anos e meio, sobre todo o Israel e Judá, concluindo-se desta forma, que Davi reinou seis meses no seu ano de ascensão, e transferiu, próximo de sua morte, de forma tardia e conturbada o reino para Salomão. Em 1 Rs 2:1-12 vemos as instruções que Davi deu a Salomão antes de sua morte: que seguisse pelo caminho de Deus, e que fizesse justiça a algumas pessoas que lhe haviam causado muitos males. A vida de Davi para com Deus foi irrepreensível até os acontecimentos que o levaram a matar Urias. Vê-se, de fato, um profundo arrependimento por este ato publicado nas palavras do Salmo 51, que tradicionalmente se credita terem sido escritas por Davi depois e por causa da morte de Urias. Como sabemos Deus o perdoou, mas fez com que as consequências de seu ato perdurassem por toda sua vida. Davi, próximo de morrer, instruiu Salomão a matar Joabe, comandante de seu exército, justificando que este, por sua vez, havia matado dois homens melhores que ele, a saber, Abner e Amasa (1 Rs 2:32). Recomendou também a Salomão que fizesse justiça a Simei que o amaldiçoou quando fugia de Absalão. O próprio Davi, quando aconteceu este fato, impediu Absai de matar Simei (2 Sm 19:21) porque entendia que a maldição que este lançava contra ele vinha de Deus, mas aparentemente mudou de ideia em seus últimos dias de vida. Joabe de fato matou Abner por vingança porque este havia matado Asael, seu irmão, e matou Amasa porque este fora o chefe do exército de Absalão em sua tentativa de tomar o trono de Davi, e mesmo assim, depois disto, Davi fez dele chefe de seu exército em lugar de Joabe (2 Sm 19:13). Joabe não só matou o novo comandante do exército, como continuou a liderar o exército de Israel, mesmo contra a vontade aparente de Davi. Há que se notar que Joabe prestou grandes serviços a Davi ao lado de quem lutou todas as guerras e sempre lhe foi fiel. Davi não se lembrou de mencionar uma coisa de fato concreta, quando instruiu o novo rei: que Joabe apoiara Adonias na sua tentativa de reinar sobre Israel em lugar de Salomão, o que, de uma certa forma, poderia ser pretexto para sua exclusão do círculo de sua confiança, mas nunca de morte a um homem que lhe fora como que o braço direito e de muitas maneiras, o instrumento usado por Deus para garantir-lhe o trono. Mas é Joabe a maior testemunha sobre a morte premeditada de Urias; é a ele a quem Davi manda que o próprio Urias leve sua sentença de morte quando lutava para
  • 13. 13 conquistar a cidade de Rabá. Joabe não é nomeado entre os valentes de Davi no relato de 2 Sm 23:8-39, mas Urias, paradoxalmente lá está. 3) A HEGEMONIA NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO DE DAVI O Rei Davi levou a cabo o empreendimento iniciado por Saul, consolidando o estado monárquico. Mesmo após a morte de Saul houve disputa entre as famílias de Davi e Saul. Isso representava um perigo para o reinado de Davi. Desta forma, Davi toma medidas violentas para garantir o poder. A conquista do poder: Somente com a morte de Saul, Davi pode ser ungido rei. Porém, no primeiro momento o foi apenas rei de Judá, no Sul. No Norte ficou Isbaal, filho de Saul (2Sm 2). Para Davi conquistar o poder entre todas as tribos, foi necessário matar Abner, chefe do exército de Saul (2Sm 3,26) e também Isbaal9 filho de Saul (2Sm 4,5). Os textos bíblicos nunca atribuem culpa a Davi sobre os assassinatos que possibilitaram sua ascensão ao trono: Saul foi morto na luta contra os filisteus. Davi lamentou sua morte (2Sm 1,11) e matou o assassino de Saul (2Sm 1,13-16). Abner: foi morto por Joab (chefe dos oficiais de Davi). Davi se declara inocente (2Sm 3, 28). Isbaal: Foi morto por Recab e Baana. Davi os condena à morte por terem matado Isbaal (2Sm 4, 9-12). Apesar de ser considerado Rei Justo, Davi chega ao poder através de assassinatos e conspirações, assim como acontecerá com Salomão. Essa é a conseqüência de um sistema injusto. É possível distinguir claramente dois momentos na vida de Davi. Na primeira fase, Davi foi um líder popular solidário com os mais excluídos do seu tempo, depois de ter sido músico, escudeiro e chefe militar de Saul (quando matou Golias, 1Sm 17).No segundo período, Davi lutou pelo poder, consolidando o seu reinado. E não foi por acaso que houve resistência do povo enquanto ele foi rei sobre Judá e Israel. 3.1) MEDIDAS DE DAVI PARA CONSOLIDAR O PODER Davi levou para Jerusalém a Arca de YHWH, centralizando-a na capital. Fundou uma dinastia, tentando garantir o poder a seus descendentes. Adotou a ideologia da filiação divina dos reis. Aumentou o contingente de soldados profissionais; Organizou melhor a burocracia estatal, não só aumentando os chefes militares, mas também os sacerdotes. Conquistou todos os povos da redondeza, exceto os fenícios. 9 O nome do filho de Saul, Isbaal, foi mudado para Is-Bosete. Isbaal significa homem de Baal e Is-Bosete significa filho da vergonha. Certamente o nome original era Isbaal, porém, na época da redação evitava-se o nome Baal, então trocaram para Boset. Isto explica a diferença entre algumas traduções bíblica (2Sm 2,8).
  • 14. 14 Quebrando, assim, o principio do exército de defesa para exército de ataque e conquista. Quis construir um templo para YHWH, a exemplo dos deuses cananeus e assim como já edificara um para si. Porém o profeta Natã se opôs (2Sm 7,1-7). 3.2) POR QUE DAVI NÃO ERA UM REI JUSTO? Porque fez guerras, promoveu massacres, saques, tributação e trabalhos forçados. Não marchava à frente do povo(1Sm 8,20 e 2Sm 11,1). Além de não ir às guerras, abusava das mulheres dos soldados (2Sm 11, 2-27). Quando Davi estava se aproximando do fim do seu mandato, isto é, quando estava próximo de sua morte, aumentaram as intrigas palacianas. Muita coisa estava em jogo. Quem iria substituir o rei de um grande império? Agora, vamos entender a sucessão de Davi para Salomão. 4) O REINADO DE SALOMÃO 10 (970- 931 a.c) O reinado de Salomão está descrito em 1Rs 3-11. Davi fundou uma dinastia, portanto seu sucessor seria seu filho mais velho. No entanto, Amnon havia sido morto por Absalão, seu irmão . Adonias foi o quarto filho e era o legítimo herdeiro do trono de Davi. Salomão também era filho de Davi11, mas havia ainda 5 irmãos antes dele. Porém, Ele tinha a pretensão de ser o rei no lugar de seu pai Davi. Então começou uma rivalidade com o seu irmão Adonias. Destes dois candidatos ganharia quem tivesse mais força política. E nisso Salomão foi vitorioso. 4.1) PRIMEIRAS MEDIDAS DE SALOMÃO PARA CONSOLIDAR SEU REINO Primeiro ele manipula seu pai, Davi, e o coloca contra Adonias, a fim de ser aclamado Rei (1Rs 1). Depois, matou Adonias, de quem tomou o legítimo direito ao trono (1Rs 2,12-25). Mandou matar Joab, para substituir por outro chefe do exército. Por ultimo, mandou matar Semei, que era do Clã de Saul, e havia estado contra Davi.“Assim se consolidou a realeza nas mãos de Salomão”(1Rs 2,46). Salomão aperfeiçoa o sistema tributário. Ele empreende grandes construções: o Templo, seu palácio, palácio para a filha do faraó, fortalezas militares, cidades armazéns, cidade portuária, etc. (Tudo com trabalho forçado: 1Rs 6, 27-ss). O principio da Riqueza e luxo na corte do rei Salomão(1Rs 10,1-13.14-25). 10 Nasceu em Jerusalém, a capital do império ( 2 Sm 5,13-16). 11 A mãe de Salomão era Betsabeia( 1 rs 1,8) que era mulher do estrangeiro Urias, o hitita (2rs 11,3). Ela junto com Natã, manobra Davi para nomear Salomão como rei (1 rs 1,11-31).
  • 15. 15 O Rei Salomão impôs um fardo muito pesado ao povo (1Rs 12, 1-5). Isso gerou um descontentamento muito grande que dará início a uma revolta contra seu reinado. O resultado será a divisão do Reino. 4.2) A NARRATIVA BÍBLICA DE SALOMÃO 4.3) O INÍCIO DO REINADO DE SALOMÃO (971 A.C.) Salomão reinou depois da morte de Davi por 40 anos, contado seu ano de ascensão. Conforme 1 Cr 29:1 Salomão era “ainda moço e tenro” quando começou a governar. Teria 21 anos na ocasião do início de seu reinado. Três coisas chamam a atenção sobre sua figura: sua conhecida sabedoria, o fato de haver construído o Templo, e sua infidelidade a Deus, que terá como efeito a divisão do reino depois de sua morte. Alguns princípios que deveriam nortear a monarquia em Israel já haviam sido editados como lei pelo próprio Moisés, conforme o capítulo 17 de Deuteronômio. Foram, no entanto, sistematicamente negados ou esquecidos por quase a totalidade dos reis, mas é na verdade no reinado de Salomão que se constata de certa forma a sua mais abusiva negação. O próprio texto nos explica: “Porém ele (o rei) não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si.” (Dt 17:16-17)
  • 16. 16 4.4) CONSTRUÇÃO DO TEMPLO12 (968 A.C. A 961 A.C.) Como Deus houvesse negado a Davi (por haver sido um homem de guerras) que ele construísse o Seu Templo, coube a Salomão fazê-lo. (2 Sm 7:12-13). De acordo com 1 Rs 6:38, Salomão demorou 7 anos para concluir a obra.O Templo estará em pé por 367 anos até que seja destruído por Nabucodonozor (2 Rs 25:8-9). 4.5) ESCOLHA DE JEROBOÃO (934 A.C.) Salomão é um exemplo de que pouco vale a sabedoria sem submissão espiritual. Governou Israel no auge de seu esplendor, gozando dos benefícios das conquistas das fronteiras de Davi (2 Cr 9:26) que fizeram dos povos ao redor de Israel pagadores de impostos com os quais Salomão pode empreender grandes obras. Construiu o Templo, o palácio real, murou Jerusalém, construiu cidades armazéns, navios (1 Rs 9:10-28), e fez propagar sua fama pelo mundo vindo a exceder a todos os governantes de seu tempo (1 Rs 10:23). De acordo com 1 Rs 4:32-33: “disse três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais e das aves, e dos répteis e dos peixes”. Desfrutou, desta forma, da paz conquistada por seu pai e pode dedicar- se a uma vida de cultura e prazeres. Contrariando a Lei de Moisés (Dt 7:3-4) que proibia o casamento com mulheres estrangeiras, casou-se com 700 mulheres e possuiu 300 concubinas (1 Rs 11:3) que lhe fizeram inclinar para a idolatria, causa pela qual o reino de Israel veio a ser divido. Vejamos a sentença de Deus contida em 1 Rs 11:11-13: “Assim disse o Senhor a Salomão: Pois que houve isto em ti, que não guardaste a minha aliança e os meus estatutos que te mandei, certamente rasgarei de ti este reino, e o darei a teu servo. Todavia nos teus dias não o farei, por amor de Davi, teu pai; da mão de teu filho o rasgarei; Porém todo o reino não rasgarei; uma tribo darei a teu filho, por amor de meu servo Davi, e por amor a Jerusalém, que tenho escolhido.” 12 O Templo que Salomão construiu para o Deus de Israel, em Jerusalém, objetivava, sobretudo, guardar no seu recinto mais sagrado: o Santo dos Santos, a Arca da Aliança do Sinai, a qual continha os Dez Mandamentos enviados por Deus a Moisés, segundo relatado no Livro bíblico do Êxodo. Este templo foi chamado de Templo de Salomão ou 1º Templo de Jerusalém, uma vez que o mesmo foi destruído no ano 586 a.C., quando da invasão e conquista do Reino de Judá, pelo Império Neobabilônico. Neste episódio a Arca da Aliança desapareceu para sempre. O 2º Templo de Jerusalém começou a ser edificado no mesmo século VI a.C., após o Rei persa aquemênida Ciro, o Grande ter libertado os judeus de seu cativeiro na Babilônia. Entretanto este 2º Templo só foi aumentado e embelezado ao tempo do reinado de Herodes Magno (37 a 4 a.C.), por isso é também conhecido por Templo de Herodes, o qual foi incendiado pelas tropas romanas, chefiadas por Tito, filho o Imperador Vespasiano, e futuro Imperador de Roma, no verão do ano 70 d.C., quando a primeira revolta judaica contra Roma, na Judeia, já caminhava para a derrota dos judeus. O que restou deste 2º Templo, é hoje o local mais sagrado para o judaísmo: o Muro das Lamentações, que apoiava o Monte do Templo.
  • 17. 17 Conforme podemos observar no estudo do reino de Jeroboão, a sentença acima veio a ser pronunciada dois anos antes da morte de Salomão, ano que assinala o início da contagem do tempo de reinado de Jeroboão, sem que ainda ele tivesse sido empossado como rei. Algumas das esposas de Salomão eram provavelmente israelitas, mas nenhuma delas é mencionada. Naamá, uma amonita (2 Cr 12:13), filha de um dos povos contra quem Davi combateu, veio a ser mãe de Roboão, sucessor de Salomão e causador da divisão do reino de Israel. 4.6) MORTE DE SALOMÃO( 932 A.C.) Salomão morreu no Anno Mundi 2964 com cerca de 61 anos de idade, bastante jovem para os padrões de sua época. Foi sucedido por seu filho Roboão. 5) CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho analisamos as principais razões que levaram à ruptura da sociedade tribal, dando origem à monarquia. Olhamos um pouco mais de perto o início da monarquia sob Saul e como Davi organizou um verdadeiro império. Por fim, descrevemos como Salomão levou adiante o projeto de seu pai, consolidando o sistema tributário. Foi durante esse período histórico que nasceu a literatura bíblica, os seus primeiros escritos, com textos que serviram de legitimação religiosa das novas estruturas e outros, oriundos da resistência popular, que serviram para conscientizar as pessoas no presente, lembrando o passado em vista de um novo futuro.
  • 18. 18 6) BIBLIOGRAFIA BRIGHT, John. História de Israel. Tradução de Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: 4º ed. Paulinas, 1980. CARDOSO, Ciro Flamarion. Antiguidade Oriental: política e religião. Os povos do Oriente Próximo. Reis e sacerdotes. Poder e religião. São Paulo: Contexto, 1990. CAZELLES, Henri. História Política de Israel: desde as origens até Alexandre Magno. Tradução de Cácio Gomes. São Paulo: Paulinas, 1986. GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia. Formação do império de Davi e Salomão. V. 3, CEBI, Paulus, 2ªedição, 2011. MCELENEY, Neil J., c.S.P. Novo Comentário Bíblico São Jeronimo. Editora Paulus. 1ª edição,2011. HARRINGTON, Wilfrid J. “Chave para a Bíblia”. Coleção: Biblioteca de estudos bíblicos. Editora Paulus. 8ª edição. 2007. Enciclopédia Ilustrada da Bíblia – Pat Alexander, Edições Paulinas 1987. A Bíblia de Jerusalém (BJ) – Editora Paulus, 10ª impressão 2001.