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EEMTI MARIA NEUSAARAÚJO MOURA
LEITURA E COMPREENSÃO
A ilha da Maré
O táxi parou de novo; outro engarrafamento. O
chofer parecia tão cansado como eu. Via seus
ombros magros e pelo espelhinho captei um olhar
azul e preciso.
Parecia velho. Mas por que a chama de
teimosia nos olhos? Sorri, então, e pegamos a
conversar.
“Estou há quarenta anos rodando na praça,
batendo os costados por aí.
Vida dura.
Sempre morei em Santo Amaro, desde que
casei. Atrás da nossa casa só tinha eucalipto.
Depois veio o progresso, asfaltaram a rua e aquilo
virou um inferno. Quando derrubaram o último
eucalipto para abrir a marginal, a minha mulher
foi lá, arrancou um pedaço da casca e pendurou
na parede da sala. Hoje ela conta pros vizinhos
novos:
‘É o que restou do bosque, vejam só!’
Joana é assim. Não esquece nada. As duas
filhas, graças a Deus, estudaram o que quiseram.
Dei duro, comi um pão amargo no começo, mas
elas estudaram. Casaram já faz muito tempo. E a
vida ficou um pouco mais aliviada. Cheguei a
juntar uns cobres. Joana queria mobília nova. As
meninas se envergonham dos nossos cacarecos.
Um dia falei:
‘Pronto, Joana, vai escolher teu sofá, tua mesa,
teus móveis. Toma o dinheiro.’
Mas ela não quis. Tem mãe na Bahia e
encasquetou de visitar a velha. Fui amarrado,
contra a vontade, mas ela preferiu assim…
Agora é que vem a loucura da minha vida.
Ouça: um compadre deles estava querendo vender
uma ilhota que tinha herdado. Ficava retirada no
mar, na direção da embocadura do rio, e não lhe
servia para nada. Comprei a ilha.
Eu, Liberato, que nunca paguei fiado, que nunca
dei um passo maior que as pernas, comprei uma
ilha. Eu, que deixei meus móveis cair aos pedaços
para não pagar prestação, comprei uma ilha.
Voltei para cá sem um tostão no bolso, dia e
noite no batente.
Todos diziam: ‘Seu Liberato ficou louco!’.
E o pior é que Joana me acompanhou. Antes de
voltar para São Paulo, fomos de canoa nos
despedir da ilha. Era só capim e pedra.
Subimos o pico e Joana começou:
‘Vamos fazer a casa aqui no cocuruto?’
E eu:
‘Vamos.’
‘Vamos plantar mangueiras e coqueiros e
jaqueiras tudo em roda, até embaixo, na beira do
mar?’
‘Vamos.’
‘A gente pode plantar dendê e ir vender na embocadura
do rio, lá no estreposto.’
‘Mas nós não temos barco, Joana!’
Voltamos para São Paulo. A gente economizava,
mandava um dinheirinho para lá. Aos poucos,
conseguimos plantar as frutas em círculos, como ela
queria. Anos depois, pudemos levantar uma cabana lá no
alto. É um cômodo só, mas amplo. E o que se avista das
janelas!
O mais difícil foi a lancha a motor. São muito caras, mas
agora já vou dar entrada numa. Então, sim, podemos ir
morar na ilha. Tenho aposentadoria e posso vender o
dendê para ajudar. E as mangas.
Joana e eu já ficamos velhos e faz dez anos que a ilha
está esperando nós dois.”
O táxi parou. Paguei e desci. Seu Liberato me estendeu
um cartão pela janela.
“Se um dia for para lá, dê uma esticada até Rio Verde.
Chegando no lugar é só perguntar pela ilha da Maré.
Todos me conhecem e dá para avistar da praia muito bem,
quando o tempo está claro, e a maré, baixa.”
Ergui o braço, acenando na calçada, como se estivesse
no cais. Adeus, seu Liberato!
De repente comecei a enxergar: atrás dos prédios, do
barulho atroz das buzinas… Lá longe, na direção da
embocadura do rio… As mangueiras se espelhavam na
água, uma orla de areias brancas, a ilhota…
Era o porto dos olhos cansados de Liberato.
BOSI, Ecléa. A ilha da Maré. In: BOSI, Ecléa. Velhos amigos. São Paulo: Cia.
das Letras, 2003.
cobres: dinheiro.
cocuruto: cume; o ponto mais elevado de alguma coisa.
01. O gênero do texto é
A)novela. B)romance.
C)fábula. D)conto.
E)biografia.
02. Quanto a tipologia, podemos afirmar que o
texto é predominantemente
A)poético. B)descritivo.
C)narrativo. D)injuntivo.
E)persuasivo.
03. No texto, no trecho “cheguei a juntar uns
cobres”, a palavra destacada significa
A)móveis.
B)sentimentos.
C)dinheiro.
D)riqueza.
E)conhecimento.
04. Texto aborda a transformação do espaço
geográfico, como isso aconteceu?
Atrás da nossa casa só tinha eucalipto.
Depois veio o progresso, asfaltaram a rua e
aquilo virou um inferno.
05. Pesquise a diferença entre “Ilha” e “Ilhota”.
Uma ilha é definida como uma área do relevo
que se encontra cercada de água por todos os
seus lados. Enquanto Ilhota pequena ilha;
ilhéu, ilheta.
06.Toda a paisagem do entorno da casa do seu
Liberato mudou com o chamado “progresso” e
Joana sentiu muito essa mudança. Como isso se
relaciona com o desejo de morar na ilha?
Ao comparar a ilha, ela deseja plantar
mangueiras, plameiras e construir uma casa
com vista num nível um pouco acima do mar
para ver o pomar e o mar. Joana guarda um
pedaço da casca do último eucalipto como
memória da área verde que ali existia.
07. Agora, responda às questões propostas a
seguir.
a. Leia esta definição de conto:
[…] o conto expressa apenas uma “fatia”, um
“momento” da vida humana, um fragmento expressivo
de todo. É dessa intencionalidade que surge a técnica
de construção de conto: concentração de elementos (e
não, expansão, como acontece no romance); uma só
célula dramática, um único eixo temático, um único
conflito. Os quatro elementos básicos que entram em
sua composição (personagens, factos, ambiente e
tempo), são iguais ao romance, apresentam-se
condensados, conduzidos sem desvios para o desfecho
final. O conto exige, acima de tudo, a arte da alusão,
da sugestão… […]
b. Releia este trecho: “o conto expressa apenas
uma ‘fatia’, um ‘momento’ da vida humana
[…]”. É possível dizer que isso acontece nessa
história? O que é narrado?
É possível reconhecer isso, pois há o narrador
pegando um táxi e ouvindo a história de vida
do taxista. No caso da história de seu
Liberato, conhecemos sua luta para garantir
estudo às filhas e comprar a ilha onde iria
morar na velhice.
c. Você deve ter notado que há dois planos
narrativos nessa história. Quais são eles? Como
você os diferenciou ?
O primeiro plano é o do narrador que entra
no táxi.
O segundo plano é a narrativa do táxista. As
aspas diferenciam/indicam o plano narrativo.
08. Apesar do cansaço do motorista, o narrador
reconhece nele uma “chama de teimosia”.
Considerando o conto como um todo, o que isso
pode representar?
A insistência na realização de um sonho. Com
muito esforço e depois de muito tempo ele
ainda não havia desistido de viver na ilha.
09. O conto tem como característica principal
poucos personagens e um tempo e espaço
limitados. Como é possível reconhecer isso no
texto?
Narrador e Seu Liberato …o táxi
Joana, e a casa ...
10. Por fim, quem são os personagens dessa
narrativa? E onde ela se passa?
Personagens são, narrador, taxista, seu
Liberato e Joana.
Santo Amaro, em São Paulo. A ilhota na
Bahia.

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A ilha da Maré,Conto narrado em dois focos narrativos.pdf

  • 1. EEMTI MARIA NEUSAARAÚJO MOURA LEITURA E COMPREENSÃO A ilha da Maré O táxi parou de novo; outro engarrafamento. O chofer parecia tão cansado como eu. Via seus ombros magros e pelo espelhinho captei um olhar azul e preciso. Parecia velho. Mas por que a chama de teimosia nos olhos? Sorri, então, e pegamos a conversar. “Estou há quarenta anos rodando na praça, batendo os costados por aí. Vida dura. Sempre morei em Santo Amaro, desde que casei. Atrás da nossa casa só tinha eucalipto. Depois veio o progresso, asfaltaram a rua e aquilo virou um inferno. Quando derrubaram o último eucalipto para abrir a marginal, a minha mulher foi lá, arrancou um pedaço da casca e pendurou na parede da sala. Hoje ela conta pros vizinhos novos: ‘É o que restou do bosque, vejam só!’ Joana é assim. Não esquece nada. As duas filhas, graças a Deus, estudaram o que quiseram. Dei duro, comi um pão amargo no começo, mas elas estudaram. Casaram já faz muito tempo. E a vida ficou um pouco mais aliviada. Cheguei a juntar uns cobres. Joana queria mobília nova. As meninas se envergonham dos nossos cacarecos. Um dia falei: ‘Pronto, Joana, vai escolher teu sofá, tua mesa, teus móveis. Toma o dinheiro.’ Mas ela não quis. Tem mãe na Bahia e encasquetou de visitar a velha. Fui amarrado, contra a vontade, mas ela preferiu assim… Agora é que vem a loucura da minha vida. Ouça: um compadre deles estava querendo vender uma ilhota que tinha herdado. Ficava retirada no mar, na direção da embocadura do rio, e não lhe servia para nada. Comprei a ilha. Eu, Liberato, que nunca paguei fiado, que nunca dei um passo maior que as pernas, comprei uma ilha. Eu, que deixei meus móveis cair aos pedaços para não pagar prestação, comprei uma ilha. Voltei para cá sem um tostão no bolso, dia e noite no batente. Todos diziam: ‘Seu Liberato ficou louco!’. E o pior é que Joana me acompanhou. Antes de voltar para São Paulo, fomos de canoa nos despedir da ilha. Era só capim e pedra. Subimos o pico e Joana começou: ‘Vamos fazer a casa aqui no cocuruto?’ E eu: ‘Vamos.’ ‘Vamos plantar mangueiras e coqueiros e jaqueiras tudo em roda, até embaixo, na beira do mar?’ ‘Vamos.’ ‘A gente pode plantar dendê e ir vender na embocadura do rio, lá no estreposto.’ ‘Mas nós não temos barco, Joana!’ Voltamos para São Paulo. A gente economizava, mandava um dinheirinho para lá. Aos poucos, conseguimos plantar as frutas em círculos, como ela queria. Anos depois, pudemos levantar uma cabana lá no alto. É um cômodo só, mas amplo. E o que se avista das janelas! O mais difícil foi a lancha a motor. São muito caras, mas agora já vou dar entrada numa. Então, sim, podemos ir morar na ilha. Tenho aposentadoria e posso vender o dendê para ajudar. E as mangas. Joana e eu já ficamos velhos e faz dez anos que a ilha está esperando nós dois.” O táxi parou. Paguei e desci. Seu Liberato me estendeu um cartão pela janela. “Se um dia for para lá, dê uma esticada até Rio Verde. Chegando no lugar é só perguntar pela ilha da Maré. Todos me conhecem e dá para avistar da praia muito bem, quando o tempo está claro, e a maré, baixa.” Ergui o braço, acenando na calçada, como se estivesse no cais. Adeus, seu Liberato! De repente comecei a enxergar: atrás dos prédios, do barulho atroz das buzinas… Lá longe, na direção da embocadura do rio… As mangueiras se espelhavam na água, uma orla de areias brancas, a ilhota… Era o porto dos olhos cansados de Liberato. BOSI, Ecléa. A ilha da Maré. In: BOSI, Ecléa. Velhos amigos. São Paulo: Cia. das Letras, 2003. cobres: dinheiro. cocuruto: cume; o ponto mais elevado de alguma coisa. 01. O gênero do texto é A)novela. B)romance. C)fábula. D)conto. E)biografia. 02. Quanto a tipologia, podemos afirmar que o texto é predominantemente A)poético. B)descritivo. C)narrativo. D)injuntivo. E)persuasivo. 03. No texto, no trecho “cheguei a juntar uns cobres”, a palavra destacada significa A)móveis. B)sentimentos. C)dinheiro. D)riqueza.
  • 2. E)conhecimento. 04. Texto aborda a transformação do espaço geográfico, como isso aconteceu? Atrás da nossa casa só tinha eucalipto. Depois veio o progresso, asfaltaram a rua e aquilo virou um inferno. 05. Pesquise a diferença entre “Ilha” e “Ilhota”. Uma ilha é definida como uma área do relevo que se encontra cercada de água por todos os seus lados. Enquanto Ilhota pequena ilha; ilhéu, ilheta. 06.Toda a paisagem do entorno da casa do seu Liberato mudou com o chamado “progresso” e Joana sentiu muito essa mudança. Como isso se relaciona com o desejo de morar na ilha? Ao comparar a ilha, ela deseja plantar mangueiras, plameiras e construir uma casa com vista num nível um pouco acima do mar para ver o pomar e o mar. Joana guarda um pedaço da casca do último eucalipto como memória da área verde que ali existia. 07. Agora, responda às questões propostas a seguir. a. Leia esta definição de conto: […] o conto expressa apenas uma “fatia”, um “momento” da vida humana, um fragmento expressivo de todo. É dessa intencionalidade que surge a técnica de construção de conto: concentração de elementos (e não, expansão, como acontece no romance); uma só célula dramática, um único eixo temático, um único conflito. Os quatro elementos básicos que entram em sua composição (personagens, factos, ambiente e tempo), são iguais ao romance, apresentam-se condensados, conduzidos sem desvios para o desfecho final. O conto exige, acima de tudo, a arte da alusão, da sugestão… […] b. Releia este trecho: “o conto expressa apenas uma ‘fatia’, um ‘momento’ da vida humana […]”. É possível dizer que isso acontece nessa história? O que é narrado? É possível reconhecer isso, pois há o narrador pegando um táxi e ouvindo a história de vida do taxista. No caso da história de seu Liberato, conhecemos sua luta para garantir estudo às filhas e comprar a ilha onde iria morar na velhice. c. Você deve ter notado que há dois planos narrativos nessa história. Quais são eles? Como você os diferenciou ? O primeiro plano é o do narrador que entra no táxi. O segundo plano é a narrativa do táxista. As aspas diferenciam/indicam o plano narrativo. 08. Apesar do cansaço do motorista, o narrador reconhece nele uma “chama de teimosia”. Considerando o conto como um todo, o que isso pode representar? A insistência na realização de um sonho. Com muito esforço e depois de muito tempo ele ainda não havia desistido de viver na ilha. 09. O conto tem como característica principal poucos personagens e um tempo e espaço limitados. Como é possível reconhecer isso no texto? Narrador e Seu Liberato …o táxi Joana, e a casa ... 10. Por fim, quem são os personagens dessa narrativa? E onde ela se passa? Personagens são, narrador, taxista, seu Liberato e Joana. Santo Amaro, em São Paulo. A ilhota na Bahia.