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“A Escola E A Abordagem Comparada. Novas Realidades E Novos Olhares” De Rui CanáRio.
1. A Escola e Abordagem Comparada. Novas Realidades e Novos Olhares Os últimos 30 anos pautaram-se pela evolução dos sistemas educativos devido a um processo acelerado de integração económica supranacional. A formação da União Europeia teve precursões no plano económico a nível mundial, devido à liberalização dos movimentos de capitais, independentemente das fronteiras nacionais, o que causou uma nova maneira de compreender a regulação económica mundial. Canário cita Mercure afirmando que essas alterações no quadro mundial desencadearam a emergência de uma “sociedade mundo” e consequentemente a necessidade de um mercado que ultrapasse as fronteiras nacionais, originando um mercado “mundial único”. (Canário apud Mercure, 2006, p. 29) A nível político verifica-se uma sobreposição da racionalidade económica supranacional à racionalidade política nacional. Assim, Habermas, afirma que esta situação se reflecte num enfraquecimento da política nacional de mercado, que resulta num défice de legitimidade das instâncias políticas nacionais tornam os governos sujeitos a duas entidades distintas, o seu eleitorado e o mercado internacional de capitais, na medida que se vê forçado a tentar aliar o processo democrático às exigências dos mercados. (Canário apud Habermas, 2006, p. 29) Estas transformações atrás referidas reflectem-se no domínio educativo. Surge a necessidade de reformular os sistemas educativos a nível nacional com o intuito de os tornar cada vez mais universais tendo em contas os novos desafios intrínsecos ao sistema económico mundial. Os estudos em Educação comparada validam a existência de modificações a nível dos sistemas educativos no sentido de realizarem alterações para colmatar essas deficiências, resultantes de uma “regulação transnacional”. Segundo Canário, Barroso reforça a importância do estímulo oferecido pelos organismos “supranacionais” como a Banco Mundial, o Fundo Monetário, entre outros, através de programas de cooperação técnica, de apoio à investigação e ao desenvolvimento, que de certo modo sugerem ou impõem, de modo uniformizado, diagnósticos, técnicas e soluções (Canário apud Barroso, 2006, p. 30). De igual modo, denota-se a influência por parte dos grupos de pressão económica na tentativa de influenciarem as decisões da política educativa tomadas pela União Europeia. A necessidade de acompanhar o desenvolvimento mundial conduz a um “contágio” entre países resultado do receio de “perderem o comboio” legitimando as práticas educativas segundo um efeito de “externalização” (Canário, 2006, p. 30) Com a emergência de um processo de regulação transnacional dos sistemas educativos, surge a urgência de compreender as modificações estruturais que se deram ao nível político no Estado-Nação, bem como a necessidade de questionar a implicação dessas modificações na nossa sociedade, sobre o risco de tornar os estudos comparados redutores. Assim, em relação ao meio escolar, temos que ter uma visão mais global e mais complexa, daí que não se possa separar a educação da formação. Actualmente, vivemos numa época de ” aprendizagem ao longo da vida”, ou seja, uma educação permanente, sendo esta a imagem de marca das políticas da UNESCO, nos anos 70 (Canário apud Finger & Asún, 2006, p.31). As políticas e práticas educativas, estão dependentes dos países economicamente desenvolvidos, acarretando deste modo, “exigências de produtividade”, “exigências competitividade” e “exigências empregabilidade”. O processo de globalização, vê a educação como uma mercadoria, visto que é alvo de um processo de produção de indivíduos “empregáveis”, “flexíveis”, “adaptáveis” e “competitivos”(Canário apud Charlot, 2006, p. 31). Relativamente às mudanças ocorridas no meio educativo, denota-se as repercussões nos profissionais ligados à educação com maior impacto na classe docente. Segundo Demailly & Dembinski, a educação é regida por modos de gestão participativos e modos de gestão neo-tayloristas, desvalorizando a credibilidade da profissão docente (Canário apud Demailly & Dembinski, 2006, p. 32). Desta forma é visível a decadência do estatuto social do docente, pondo em questão o seu desempenho profissional. É necessária uma revolução dos métodos educativos, por parte da classe docente, através da promoção da sua autonomia. Bibliografia: Canário, Rui (2006). A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 1, pp.27-36