Comentários em março de 2009 sobre a importância da operação de uma nova empresa aérea em importante aeroporto carioca

1. A Azul e o Santos Dumont
roberto@thiele.com *
Parece que foram feitos um para o outro. E não é por menos que empresários e executivos
experientes da aviação sabem da importância de fazer no Santos Dumont (SDU) uma base
operacional da Azul, talvez seu principal aeroporto. O Rio de Janeiro e os cariocas só tem a
ganhar com a operação desta noviça voadora brasileira no mais belo aeroporto de nosso país.
Que comece logo!
O debate deste assunto em público tornou-se frequente, e o objetivo deste artigo é trazer novas
considerações sob vários pontos de vista.
Segurança – a Azul opera aeronaves de no máximo 110 passageiros, o que viabiliza pousos e
decolagens com maior grau de segurança nos aeroportos do Santos Dumont e Congonhas
(CGH), principalmente quando comparada com outras empresas aéreas, que usam aeronaves de
maior porte com até 144 passageiros (fora a tripulação). Quem já pousou com estas aeronaves
maiores nestes aeroportos sabe a sensação de forte freagem, sempre necessária. É por que a
operação beira o limite técnico, o que não ocorrerá nos pousos em aeronaves da Azul, nem no
SDU nem no CGH.
Gerar empregos no Brasil – a Azul voa aviões produzidos pela Embraer, e vimos recentemente
os problemas causados pela demissão de mais de 4.000 profissionais especializados devido ao
atraso nas entregas de aeronaves produzidas por esta importante empresa a seus clientes, em
função da crise atual. A operação da Azul no SDU deverá assegurar que dezenas de jatos
brasileiros voarão pelos nossos ares, garantindo muitos milhares de empregos não somente na
Embraer, mas também de mecânicos, engenheiros, pilotos, comissários, instrutores e vários
outros profissionais ligados à aviação em nosso país.
Gerar empregos no Rio – ter a base da Azul no Rio significa a geração de milhares de
empregos para profissionais qualificados residentes neste estado, e seria uma excelente
alternativa de carreira para atrair e reter talentos a residirem no Rio, assim como abrir
oportunidade para os dispensados pela Varig. Pilotos, comissários, engenheiros, mecânicos,
vendedores, atendentes e outros tantos. Todas as demais grandes empresas de linhas regulares
têm sede fora do Rio.
Conforto e agilidade – a Azul opera aeronaves onde todos os assentos são na janela ou no
corredor, e não há assentos “no meio”. Além do maior conforto durante o taxi na pista e em vôo,
isto facilita bastante o embarque e desembarque, economizando tempo. Em aeroportos
congestionados, como o de Congonhas, isto facilitaria o despacho de vôos, criando novo patamar
em agilidade nos serviços. Para quem viaja com frequencia na rota SDU-CGH a Azul será uma
ótima alternativa, provavelmente até mais barata e rápida.
Meio Ambiente e Qualidade de Vida – os jatos produzidos pela Embraer e comprados pela Azul
gastam menos combustível do que os de maior porte, e para a rota SDU-CGH isto pode significar
redução na carga de poluição ambiental nestes dois grandes e saturados centros de nosso país.
Os jatos da Azul são também mais silenciosos, e isto será uma boa notícia para todos que moram
ou trabalham perto dos aeroportos do Santos Dumont e Congonhas.
Boa política – o apoio do governo federal do Brasil é muito importante para a cidade e o estado
do Rio de Janeiro. Ficou claro o desafio do governo federal em evitar demissões na Embraer, e
as autoridades e políticos cariocas poderiam ajudar os seus pares a nível federal minimizando
este desafio do governo em lidar com demissões em massa veiculadas pela imprensa em
véspera de ano eleitoral. O mesmo pensamento se aplica aos assuntos de gestão de aeroportos,
rotas aéreas e privatização de empresas.

2. As 2 pistas principais do aeroporto Santos Dumont
Atrair empresas e turistas para o Rio – contar com inúmeras rotas em boas aeronaves
operadas a partir de um aeroporto central como o SDU ajudará o Rio a atrair mais empresas,
empresários, profissionais e também turistas. O SDU é o aeroporto mais perto do centro de uma
grande metrópole no mundo! Além da beleza natural, isto é um grande diferencial para dar
produtividade e competividade nas atividades econômicas. Inclusive por causa do trânsito
complicado em São Paulo, sediar uma empresa no centro do Rio pode ser mais vantajoso se o
SDU tiver vários vôos para São Paulo e outras capitais em ótimas condições como somente a
Azul pode proporcionar.
Priorizar o mais importante – empresas aéreas são em geral mais importantes e muito mais
complexas do que aeroportos. Portanto cabe às autoridades apoiá-las para que tenham sucesso
operacional. O fracasso de empresas aéreas resulta em grandes perdas de empregos e atividade
econômica, o que prejudica os governos (que arrecadam menos) e a população (com menos
serviços e alternativas). Um aeroporto central como o SDU pode ser peça fundamental à Azul
para se estabelecer de forma duradoura, assim como foi Congonhas para a TAM.
Respeito – as autoridades e servidores públicos deveriam ser mais zelosos e responsabilizados
pelos investimentos feitos com recursos do povo. O aeroporto SDU acabou de receber centenas
de milhões de Reais em investimentos em sua modernização. E a sociedade e os contribuintes
esperamos o retorno destes investimentos: o aeroporto tem tudo para servir mais pessoas e
melhor, ajudar a economia carioca a crescer, e proporcionar recursos para a empresa operadora
do SDU quitar suas contas, além de aumentar a arrecadação no curto prazo da cidade e do
estado. Apoiar a obtenção de bom retorno nos investimentos poderá atrair maior número de
interessados sérios em operar o Galeão.
Sinergia - ao contrário do que alguns possam dizer, ter o SDU fortalecido com várias rotas
domésticas aumenta a atratividade às empresas aéreas para operarem linhas regulares
(nacionais e internacionais) no Galeão (GIG). Estes dois aeroportos, o GIG e o SDU, distam
cerca de 30 minutos por via terrestre ou marítima. Em São Paulo a situação é prejudicada pelo
trânsito e pela distância, e leva-se pelo menos 60 minutos entre CGH e Guarulhos (GRU). As
autoridades paulistas anunciaram a conexão por trem entre estes dois aeroportos (CGH e GRU),
mas esta obra demorará alguns anos para ser completada. No Rio poderia ocorrer isto também:
ao invés de impedir o desenvolvimento dos transportes aéreos, as autoridades deveriam integrar
os recursos existentes. Com certeza isto criaria maior interesse e valorização no GIG, tanto para
operadores privados brasileiros como estrangeiros e empresas aéreas em geral.
Por estas e outras razões que acreditamos que o Rio de Janeiro é uma excelente cidade para se
viver, trabalhar e investir. Talvez uma das melhores cidades do mundo com tantas opções
econômicas, beleza natural e potencial turístico. Por sorte, nossa população melhorou também
sua maturidade na eleição de homens públicos de visão, mais preparados para decidir e
implantar o que é necessário, correto e de direito.
* carioca, engenheiro aeronáutico pelo ITA e empreendedor