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Análise de Dois Solos Finos do Distrito Federal para Utilização
em Estruturas de Rodovias
Francisco Hélio Caitano Pessoa, doutorando em Geoecnia (UnB)
Professor do CEFET/RR, Brasilia, Brasil, caitano@unb.br
Edi Mendes Guimarães, Dra.
Professor da Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil,rxedi@un.br
Isabel Cristina de Oliveira Campos, MsC em Geotecnica
Professora da Universidade de Brasília, izabelcampos@unb.br
José Camapum de Carvalho, PhD
Professor da Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil,rxedi@un.br
RESUMO: O solo pode ser considerado como o material de construção civil de maior abundância
na crosta terrestre. Tem muitas aplicações em obras civis, em baragens e principalmente na
engenharia rodoviária. Neste trabalho os solos analisados são proveniente de uma área de
empréstimo próximo a uma via urbana na Região Administrativa de Taguatinga/DF. Realizaram-se
nos mesmos as caracterizações física, mineralógica e mecânica. Foram executados ensaios em
laboratório: de umidade, de granulometria a laser e peneiramento, limites de Atterberg, massa
específica dos sólidos, cisalhamento direto e difratometria de raio X. Concluindo-se que os solos
apresentam a mesma composição mineralógica e pertencem as mesmas classificações e também
apresentam comportamento mecânico que deve ser visto com restrições ao emprego em obras
rodoviárias.
PALAVRAS-CHAVE: solos, ensaios, laboratório, difração, raios X.
1 INTRODUÇÃO
A necessidade da caracterização de materiais,
na maior parte das vezes, advém da necessidade
de conhecer suas propriedades físicas
(resistências mecânicas à compressão, à flexão,
a abrasão), químicas (para verificação da
adequação a um determinado processo)
mineralógicas e micro-estruturais (compostos
presentes, relação entre os grãos, porosidade,
permeabilidade) para a sua correta aplicação em
diferentes processos industriais(GOULART,
2000).
A argila é um material natural, terroso, de
granulação fina, que geralmente adquire,
quando umedecido com água, certa
plasticidade; quimicamente, são as argilas
formadas essencialmente por silicatos
hidratados de alumínio, ferro e
magnésio(SANTOS, 1989).
As argilas têm grande importância nas
prospecções geológicas, na agricultura, na
mecânica dos solos e na indústria(metarlúgica,
petróleo, borracha, papel, cerâmica, e outras).
As argilas são essencialmente compostas por
partículas cristalinas extremamente pequenas de
um ou mais membros de um grupo
relativamente restrito de minerais. São silicatos
de alumínio hidratados, com magnésio ou ferro
substituindo total ou parcialmente o alumínio
em alguns minerais e que, em alguns casos,
incluem elementos alcalinos ou alcalinos
terrosos. São colóides eletronegativos, e uma
das suas propriedades mais importantes é a da
adsorção e troca de cátions. Também são
susceptíveis de dispersão e floculação.
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
1
As propriedades físicas mais importantes
são: o forte poder de retenção de água, a
acentuada plasticidade e adesividade, a
tenacidade no estado seco, a variação de
volume com o teor de água e a formação de
ligações com substâncias orgânicas.
A estrutura da maioria das substâncias
sólidas é cristalina. Isto significa que, nas
substâncias sólidas, átomos, íons e moléculas
estão arranjadas de uma maneira ordenada, de
forma repetida nas 3 dimensões. Se a repetição
ocorre em uma ou duas direções somente a
substância é chamada semi-cristalina.
A identificação das argilas pode ser feita
por difração de Raios X(XRD), Análise
Térmica Diferencial(ATD) e microscopia
eletrônica de transmissão(MET).
Os raios X são radiações eletromagnéticas
da mesma natureza que as radiações que
compõem a luz branca, visível ao olho humano.
Os comprimentos de onda dos raios X são cerca
de 1000 vezes menores que os comprimentos de
onda da luz visível e daí resultam grandes
diferenças nas propriedades dos dois tipos de
radiação; por exemplo, uma folha de alumínio
de 1mm de espessura é transparente aos raios X
e é opaca à radiação branca. A unidade de
medidas das regiões de raios X (comprimento
de onda) é o Ângstron (10-8
cm), e os raios X
usados em difração possuem comprimento de
onda na faixa de 0,5 a 2,5 Ângstrons, enquanto
que o comprimento de onda da luz visível é da
ordem de 6000 Angstrons(LIMA, 2000).
A técnica de difração de raio X (XRD)
oferece um modo conveniente para determinar a
análise mineralógica dos sólidos cristalinos. Se
um mineral cristalino é exposto a raios X de um
comprimento de onda específico, as camadas de
átomos difratam os raios e produzem um padrão
de picos que é característico do mineral. A
escala horizontal (ângulo de difração) de um
padrão XRD típico fornece o espaçamento do
arranjo cristalino, e a escala vertical (altura do
pico) fornece a intensidade do raio difratado.
Quando a amostra bombardeada com raio X
contém mais do que um mineral, a intensidade
de picos características dos minerais individuais
são proporcionais às suas quantidades.”
(MEHTA & MONTEIRO, 1994)
A difratometria de raios X corresponde a
uma das principais técnicas de caracterização
micro-estrutural de materiais cristalinos,
encontrando aplicações em diversos campos do
conhecimento, mais particularmente na
engenharia e ciências de materiais, engenharias
metalúrgica, química e de minas, além de
geociências, dentre outros.
A difração de raios X permite a
determinação dos compostos existentes em um
material através da interpretação dos diagramas
de difração (difratogramas). Um aspecto
interessante a ser considerado é a preparação da
amostra, dependendo dela o sucesso da análise.
O método mais empregado de difração é o
método de pós (a amostra é analisada de forma
pulverizada). A preparação da amostra consiste
em acondicionar a substância a ser analisada em
um amostrador.
A partir da difração de raios-X é possível
identificar, determinar o grau de cristalinidade,
quantificar o tamanho do cristal e a substituição
isomórfica dos minerais (RESENDE, et al.,
2005).
A primeira fase de identificação dos cristais
é a medida das distâncias interplanares e das
intensidades relativas dos picos do
difratograma. O uso simultâneo de valores de
“d” associados a intensidade representam a
maneira usual e mais prática de identificação
dos materiais (cristais).
As aplicações da difratometria são várias:
a) Identificação de fases cristalinas: a principal
aplicação da difração de raios X refere-se à
identificação de compostos cristalinos, sejam
eles inorgânicos ou orgânicos. São
características específicas e únicas de cada
substância cristalina: os planos de difração e
suas respectivas distâncias interplanares, as
densidades de átomos.
b) Quantificação de fases: a intensidade da
difração é dependente da densidade de elétrons
em um dado plano cristalino. Os fatores de
estrutura, de multiplicidade, e de Lorentz-
Polarização devem também ser consideradas;
c) Determinação de parâmetros de célula
unitária: o padrão do difratograma de um
material cristalino é função da sua estrutura
cristalina, é possível se determinar os
parâmetros do seu retículo (a, b, c e α, β e γ da
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
2
célula unitária) desde que se disponha de
informações referentes aos sistema cristalino,
grupo espacial, índices de Miller (hkl) e
respectivas distâncias interplanares dos picos
difratados.
d) Dispositivos com controle de temperatura:
inúmeros processos de manufatura empregam
temperaturas elevadas, nas quais os
constituintes primários da amostra sofrem
mudanças de fase em razão do aquecimento.
d) Orientação de cristalitos (Textura): a
orientação preferencial de cristalitos em
materiais sólidos policristalinos é de vital
importância para vários materiais industriais.
Materiais extrudados e pós-prensados, dentre
outros, são materiais que tipicamente
apresentam orientação preferencial; alguns
materiais cerâmicos e semicondutores tem suas
propriedades relacionadas a uma dada direção
cristalográfica, sendo de extrema importância o
controle da orientação preferencial nos
processos de fabricação e controle de qualidade.
e) Tamanho de cristalitos: partículas de
dimensões inferiores a 1µm podem apresentar
intensidades difratadas em valores de 2θ pouco
superiores e inferiores ao valor do ângulo de
Bragg devido ao efeito de alargamento de picos
face ao tamanho de partículas. Tal fato deve-se
ao menor número de planos que difratam os
raios X, em função das pequenas dimensões dos
cristalitos, permitindo a difração para valores de
comprimento de onda um pouco superiores e
inferiores ao valor de λ.
f) Tensão Residual: Tensão em um material
pode causar dois efeitos distintos sobre o
difratograma. Se a tensãocorresponder a um
esforço uniforme, compressivo ou distensivo,
também chamado de macrotensão
(macrostress), as distâncias da célula unitária
dos cristais vão, respectivamente, diminuir ou
aumentar, ocasionando um deslocamento na
posição dos picos difratados.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Os solos analisados foram coletados nas
proximidades de uma via urbana na região
administrativa de Taguatinga. O solo
denominado de orgânico foi coletado à
montante de um córrego e o solo denominado
laterítico no aterro na ampliação da via Qnc
Foram retirados de dois(2) blocos
indeformados, conforme mostra a Figura 1. O
solo orgânico na profundidade de 1m, à
montante do córrego e o solo laterítico na
profundidade de 2m, no aterro da via. As
coordenadas de localização são 150
49’13,37’’S
e 480
04’ 22,49”O.
Figura 1. Localização dos solos analisados.
Realizaram-se os seguintes ensaios em
laboratório para a determinação de umidade, de
granulometria a laser (com e sem ultra-som) e
peneiramento com lavagem, limites de
Atterberg e massa específica dos sólidos, e
cisalhamento direto, todos de acordo com as
normas da ABNT. E também, difratometria de
raios-x na amostra total e na fração argilosa.
A identificação dos minerais das frações
areia e silte foram feitas com material não
orientado. Inicialmente, as amostras foram
trituradas, preferencialmente em gral de ágata.
Fez-se então, a montagem em lâminas de
alumínio vazada, pela técnica de back loading.
Esta consiste no pressionamento do pó para o
preenchimento da abertura da lâmina, que deve
estar apoiada sobre superfície lisa e firme
(geralmente vidro).
A separação da fração argila foi realizada
por dispersão em água numa porção de cerca de
15g. A seguir realizada a centrifugação com
rotação de 750rpm, durante 7min. A fração silte
precipita, enquanto a fração argila permanece
em suspensão.
A fração argila decantada por
centrifugação a 1500 rpm, é utilizada como uma
pasta na preparação de lâminas com amostras
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
3
orientadas. A técnica utilizada foi a do
“esfregaço” - consiste no espalhamento da pasta
sobre a lâmina de vidro, utilizando-se uma
espátula, com movimentos repetidos na mesma
direção. Então, a seguir a amostra orientada
sobre a lâmina é deixada ao ar para secagem,
sendo denominadas “normais”.
Posteriomente foi realizada a glicolagem
das amostra que consiste em deixar a lâmina
com a amostra orientada em uma atmosfera de
etileno-glicol por cerca de 12 horas,
favorecendo a entrada do composto nos espaços
intercamada dos minerais expansivos. A lâmina
é analisada em seguida, permitindo a
verificação do possível aumento das distâncias
interplanares.
E por fim, o aquecimento, na qual a lâmina
foi submetida à temperatura de 490o
C, em
mufla por 3:30 horas. Após este tempo foi
procedida à análise da amostra, podendo-se
verificar as mudanças da posição dos picos,
pela perda do material do sítio intercamada, ou
o colapso da estrutura de alguns minerais.
A análise das amostras foram realizadas no
equipamento RIGAKU D/MAX – 2/C operando
com tubo de cobre, sob voltagem de 35kv e
15mA, velocidade de varredura de 2o
/minuto,
no intervalo de 2° a 70° - 2θ teta (para as
amostras total e fração argila) e de 2° a 40° - 2θ
teta (glicolada e aquecida).
A identificação e interpretação dos
difratogramas foi feita com auxílio do software
JADE 3.0, com banco de dados ICCD 1996.
3 DISCUSSÕES E RESULTADOS
3.1 Caracterização física
Umidade é a massa de água contida em uma
determinada porção de solo, expressa como
uma porcentagem da massa das partículas
sólidas (solo seco) existente nessa porção.
A determinação do teor de umidade dos
solos é necessária para a análise de situações
como:
(a) estudo da umidade em áreas de empréstimo,
barragens, aterros, aeroportos, fundações;
(b) estudo de parâmetros geotécnicos de solos
obtidos em ensaios de compactação,
caracterização, resistência e outros;
(c) estudo da variação sazonal e em
profundidade da umidade em corpos de aterro,
em pavimentos;
(d) controle do teor de umidade em áreas de
empréstimo, execução de aterro.
Para as amostras estudadas as umidades
naturais encontradas foram 66,4% e 28,9%,
respectivamente para os solos orgânico e
laterítico.
A análise granulométrica visa determinar a
relação entre as dimensões das partículas e os
seus percentuais bem como, a graduação destas
no solo. Nos ensaios convencionais ela consiste,
em geral de duas fases: peneiramento
(partículas com dimensões maiores que
0,074mm segundo a NBR 7181) e sedimentação
(partículas com dimensões menores que 2 mm
segundo a mesma norma). Nesta pesquisa a
granulometria foi determinada utilizando-se o
granulômetro a laser da fração fina e
peneiramento após lavagem da fração mais
grosseira. O material fino foi analisado no
granulômetro com e sem o uso de ultra-som. O
granulômetro a laser existente no laborabtório
de Geotecnia da Universidade de Brasília é o
modelo MASTERSIZER Standard BENCH
produzido pela Malvern Instruments Ltda da
Inglaterra. Este equipamento é constituído de
três peças: a unidade óptica, a unidade de
preparação da amostra e o computador. A
Figura 2 mostra o granulômetre e seus
acessórios.
Figura 2. Granulômetro a laser e seus acessórios.
Observado as curvas granulométricas
(Figuras 3 e 4) percebe-se que os solos são
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
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finos e que o procedimento utilizando ultrasom
desagregou os torrões de argila ou areia,
aumentando a proporção de material mais fino.
Figura 3. Curva Granulométrica do Solo Laterítico.
Figura 4. Curva Granulométrica do Solo Orgânico.
A consistência do solo está relacionada à
manifestação das forças físicas de coesão e
adesão que nele atuam para vários teores em
água. Num solo úmido a muito úmido podem
surgir em grau variável duas formas de
consistência: a adesividade (maior ou menor
facilidade de aderência a outros objetos) e a
plasticidade (mudança reversível na forma sob
ação de pressão). A maior ou menor intensidade
da manifestação das diversas formas de
consistência depende essencialmente da textura
do solo, da natureza dos colóides minerais, do
teor de matéria orgânica e do estado disperso ou
floculado dos colóides, e está intimamente
relacionada com a estrutura do solo (Costa,
1973).
Nesta pesquisa os limites de liquidez e
plasticidade foram determinados,
respectivamente, de acordo com as normas
NBR 6459/84 NBR 718/84. No entanto, foram
realizados natural, com secagem ao ar e em
estufa. A Tabela 1 apresenta os resultados dos
limites de Atterberg para as amostras
realizadas. Correlacionando-se os dados da
Tabela 1 com a Figura 5 resulta a classificação
dos solos estudados que está apresentada na
Tabela 2.
Os limites de Atterberg fornecem
indicativos dos solos quanto as suas
características de plasticidade, permeabilidade e
resistência. A Figura 5 mostra a Carta de
Plasticidade de Casagrande, observando-a
percebe-se que os solos analisados, quanto aos
limites de Atterbergg, classificam-se como MH
ou OH.
Figura 5. Carta de Plasticidade de Casagrande dos solos
analisados.
Tabela 1. Resultados dos limites de Atterberg.
Solo
Laterítico Solo Orgânico
com secagem
Limites de
Atterberg sem
secagem
natural estufa
WL 52 56 51 49
WP 46 51 46 46
IP 6 1 5 3
Os limites de Atterberg refletem a influência
dos argilominerais nas propriedades do solo
sem levar em conta distintamente e influência
do tipo e da quantidade dos argilominerais
presentes.
A massa específica dos sólidos, de um solo,
é função dos minerais constituintes e da
percentagem de ocorrência de cada um deles
nesse solo. Ela representa a média da massa
específica dos constituintes que compõem a
fase sólida do solo, incluindo minerais,
compostos orgânicos, sais precipitados e
materiais não cristalinos. Na Tabela 2 constam
os valores de
massa específica dos sólidos dos minerais mais
comuns nos solos. É necessário o conhecimento
Solo Laterítico
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1
DiâmetrodasPartículas(mm)
solo laterítico sem ultra-som
solo laterítico com ultra-som
Solo Orgânico
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1
Diâmetrodas Partículas (mm)
solo orgânico sem ultra-som
solo orgânico com ultra-som
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5
da massa específica dos sólidos do solo para
caracterizá-lo quanto aos valores de seus
índices físicos em um dado instante. O seu
valor quase não se altera com o tempo, pois é
dependente dos minerais. Neste trabalho a
massa específica dos sólidos (γs) foi obtida
experimentalmente de acordo com a norma
NBR 6508/84.
Tabela 2. Massas Específica dos sólidos de diferente
minerais (modificado - Nogueira, 2001).
Para as amostras estudadas os valores foram
2580(kg/m3
) e 2630(kg/m3
) respectivamente,
para os solos orgânico e laterítico.
Tabela 3. Resultado das propriedades dos solos.
Grupo MH OH
Compactação regular a ruim regular a ruim
Compressibilidade e
expansão
alta alta
Drenagem e
permeabilidade
drenagem ruim
e impermeável
sem drenagem e
impermeável
Qualidade como aterro
estabilidade
regular a ruim
não deve ser
usado
Qualidade como
subleito
ruim muito ruim
Qualidade como base não adequada não adequada
Grupo Comparáveis A - 5 A -7 ou A - 8
Analisando-se a Tabela 3 percebe-se que os
solos apresentam propriedades de
comportamento ruim para aplicação em
estruturas de pavimento rodoviário. Porque são
solos muito compressíveis e expansíveis e
possuem baixa permeabilidade e pouca
drenagem.
3.2 Caracterização mecânica
A Tabela 4 apresenta alguns parâmetros
determinados em laboratório e na condição
inundada para as amostras dos solos estudados.
Analisando-a percebe-se que os solos quando
inundados (pior condição) apresentam coesão
muito baixa, não suportando as possíveis cargas
de projeto. Quanto ao índice de vazios, os
valores são muito altos, caracterizando-se solos
altamente permeáveis. Já o valor do ângulo de
atrito é baixo, indicando solos com pouca
resistência ao cisalhamento.
Tabela 4. Resultados de parâmetros de resistência dos
solos.
Solos
Parâmetros
Laterítico Orgânico
Indice de vazios (e) 1,18 1,71
Ângulo de atrito(φ, 0
) 16 12
Coesão(c, kPa) 0 3
Umidade higroscópica
(w,%)
1,52 1,70
3.2 Caracterização mineralógica
Skempton (1953), citado por Vermatti (1995)
comenta que as propriedades de uma argila são
determinadas fundamentalmente pelas
características físico-químicas dos vários
minerais constituintes e pela proporção relativa
que esses minerais se apresentam no solo.
A matéria mineral sólida do solo é
constituída por minerais primários e por
minerais secundários. Os minerais primários
encontrados no solo provêm da rocha a partir da
qual o solo se originou (herdados da rocha-
mãe), persistindo mais ou menos inalterados na
sua composição. Os minerais secundários, por
sua vez, podem ocorrer no solo principalmente
por três processos:
- por síntese in situ de produtos resultantes da
meteorização dos minerais primários menos
resistentes;
MINERAL
MASSA ESPECÍFICA DOS
SÓLIDOS(kg/m3
)
Feldspato 2590 - 2900
Quartzo 2650
Montmorilonita 2500 - 2800
Caulinita 2600 - 2650
Mica 2700 - 3200
Goetita 4400
Ilmenita 4500 - 5000
Magnetita 5200
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6
- por simples alteração da estrutura de
determinados minerais primários verificada in
situ;
- herdados diretamente da rocha-mãe.
Costa (1973) relaciona os principais
minerais primários que podem ocorrer nos
solos: quartzo, feldspato, feldspatóides, micas,
piroxenas, anfibolios, olivinas, apatite,
magnetite, turmalina, rutílio, ilmenita, zircão,
calcita, granadas, etc. Os mais freqüentes são o
quartzo e os feldspatos. O conhecimento
qualitativo e quantitativo dos minerais
primários fornece a indicação do grau de
evolução do solo e da reserva de mineral. Os
minerais secundários de ocorrência mais
freqüentes são os minerais de argilas (silicatos
de alumínio no estado cristalino), silicatos não
cristalinos, óxidos e hidróxidos de ferro e de
alumínio e carbonatos de cálcio e de magnésio.
Cavalieri (1988) argumenta que a
composição mineralógica da fração argilosa
avalia quais as estruturas argilosas
predominantes e a possibilidade de uso da cal
como agente estabilizante do solo
Lima (2003) reforça que o conhecimento da
composição mineralógica dos solos é
fundamental para a compreensão de suas
características físicas. Existem vários métodos
para identificação dos minerais dos solos, os
mais empregados são: a análise química, a
difratometria por raios-X(DRX), a análise
termo-diferencial (ATD), a análise termo-
gravimétrica, as microscopias óptica, eletrônica
e de transmissão. As Figuras 5 e 6 apresentam
os difratogramas das amostras estudadas e a
Tabela 5 mostra os tipos de minerais e a
abundância relativa em cada amostra.
O quartzo está presente na fração grosseira
de todos os solos e predomina na fração areia.
O pico do quartzo serve de referência
qualitativa do tamanho de partículas ou
cristalinidade e para a correção dos picos dos
demais minerais. A diferença entre a largura do
pico à meia altura do mineral, menos a referente
a do quartzo, dá idéia relativa de tamanho.
Quanto maior for a diferença, menor é o
tamanho das partículas do mineral
analisado(REZENDE, et al., 2005).
A caulinita é o argilomineral de mais ampla
ocorrência em solos, sobretudo nos de domínio
tropical. A sua formação é a partir de uma
grande variedade de materiais de origem. É
produto do intemperismo ácido devido a
retirada de sílica e das bases. A estrutura básica
é composta pelo arranjamento de lâminas
contendo silício e um octaedro de alumínio,
portanto, com estrutura 1:1(REZENDE, et al.,
2005).
Observando os picos da caulinita em ambos
os difratogramas (Figuras 6 e 7) percebe-se que
elas não desapareceram quando aquecida,
concluindo-se que não houve colapso da sua
estrutura.
Figura 6. Difratograma do Solo Laterítico.
Figura 7. Difratograma do Solo Orgânico.
A goethita é um dos principais óxidos de
ferro encontrado nos solos e responsável pela
coloração amarelada, no entanto, essa coloração
pode ser diferente conforme o tamanho e
substituição isomórfica, do alumínio(Al) no
lugar do ferro(Fe)[REZENDE, et al., 2005].
A gibbsita foi mais marcante no solo
orgânico(de coloração marrom) e quando a
mostra foi aquecida ela desapareceu, ocorreu a
desestruturação dela.
COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.
7
Solos de alta capacidade de troca
catiônica(CTC), geralmente são argilosos e
contém praticamente todos os tipos de minerais
que se encontravam na rocha de origem. Na
fração argila pode ocorrer caulinita, gibbsita,
goethita e hematita. A Tabela 5 apresenta os
tipos de minerais e a abundância relativa nos
solos estudados.
Os minerais antásio e rutilo, ambos têm a
mesma composição química e estão presentes
nos solos analisados. No entanto, originam-se
de rochas diferentes. O anatásio tem origem
sedimentar e o rutilo, metamórfica.
Tabela 5. Minerais presentes nas amostras analisadas.
Abundância relativa
Amostra totalMinerais
Composição
Química
Orgânico Laterítico
Quartzo SiO2 maior maior
Caulinita Al2Si2O5(OH)4 maior menor
Goethitha FeO(OH) maior maior
Gibsita Al(OH)3 maior menor
Rutilo TiO2 - maior
Anatásio TiO2 maior -
4 CONCLUSÕES
De acordo com os resultados dos limites de
Atterberg e da granulometria os solos podem
ser classificados com orgânico e/ou siltosos.
Pelas propriedades geotécnicas que estes solos
apresentam eles são de comportamento ruim.
Os solos analisados quanto à mineralogia,
apresentam basicamente os mesmo minerais.
Induzindo-se que são de mesma origem
geológica e que os fatores intempéricos atuaram
com intensidade similar.
O comportamento mecânico quanto à
utilização na estrutura de rodovias deve ser
visto com restrições. No entanto, um
procedimento executivo utilizando boas
técnicas e controles e /ou o uso de algum
processo de estabilização para melhorar as
propriedades físicas e comportamentais, estes
solos poderão ser empregados em obras
rodoviárias.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem muitíssimo aos técnicos
do Laboratório de Geotecnia da UnB e ao
mestrando em Geologia Wagner do Laboratório
de Geociências.
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Norma
Brasileira 6459 (1984). Solo – Determinação do Limite
de Liquidez, Rio de Janeiro, RJ, 6 p.
_____________________________________________
NBR 6508 (1984). Grãos de solos que passam na
peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica,
Rio de Janeiro, RJ, 8 p.
_____________________________________________
NBR 7180 (1984). Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, RJ, 3 p.
______________________________________________
NBR 7181 (1984). Solo – Análise granulométrica. Rio de
Janeiro, RJ, 13 p.
______________________________________________
COSTA, J.B. (1997). Caracterização e Constituição do
Solo, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal,
527 p.
CAVALIERI, L.V.P. (1988). Estabilização de Minerais
Argilosos com Cal, Petrobrás: Petróleo Brasileiro S. A.,
Rio de Janeiro, RJ, 100 p.
GOULART, E.P.(2000). A Capacitação do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo para a
Caracterização de Materiais de Interesse Cultural, 2000
Disponível em http:// www.itaucultural.org.br/
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Análise de dois solos do DF para estruturas rodoviárias

  • 1. Análise de Dois Solos Finos do Distrito Federal para Utilização em Estruturas de Rodovias Francisco Hélio Caitano Pessoa, doutorando em Geoecnia (UnB) Professor do CEFET/RR, Brasilia, Brasil, caitano@unb.br Edi Mendes Guimarães, Dra. Professor da Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil,rxedi@un.br Isabel Cristina de Oliveira Campos, MsC em Geotecnica Professora da Universidade de Brasília, izabelcampos@unb.br José Camapum de Carvalho, PhD Professor da Universidade de Brasilia, Brasilia, Brasil,rxedi@un.br RESUMO: O solo pode ser considerado como o material de construção civil de maior abundância na crosta terrestre. Tem muitas aplicações em obras civis, em baragens e principalmente na engenharia rodoviária. Neste trabalho os solos analisados são proveniente de uma área de empréstimo próximo a uma via urbana na Região Administrativa de Taguatinga/DF. Realizaram-se nos mesmos as caracterizações física, mineralógica e mecânica. Foram executados ensaios em laboratório: de umidade, de granulometria a laser e peneiramento, limites de Atterberg, massa específica dos sólidos, cisalhamento direto e difratometria de raio X. Concluindo-se que os solos apresentam a mesma composição mineralógica e pertencem as mesmas classificações e também apresentam comportamento mecânico que deve ser visto com restrições ao emprego em obras rodoviárias. PALAVRAS-CHAVE: solos, ensaios, laboratório, difração, raios X. 1 INTRODUÇÃO A necessidade da caracterização de materiais, na maior parte das vezes, advém da necessidade de conhecer suas propriedades físicas (resistências mecânicas à compressão, à flexão, a abrasão), químicas (para verificação da adequação a um determinado processo) mineralógicas e micro-estruturais (compostos presentes, relação entre os grãos, porosidade, permeabilidade) para a sua correta aplicação em diferentes processos industriais(GOULART, 2000). A argila é um material natural, terroso, de granulação fina, que geralmente adquire, quando umedecido com água, certa plasticidade; quimicamente, são as argilas formadas essencialmente por silicatos hidratados de alumínio, ferro e magnésio(SANTOS, 1989). As argilas têm grande importância nas prospecções geológicas, na agricultura, na mecânica dos solos e na indústria(metarlúgica, petróleo, borracha, papel, cerâmica, e outras). As argilas são essencialmente compostas por partículas cristalinas extremamente pequenas de um ou mais membros de um grupo relativamente restrito de minerais. São silicatos de alumínio hidratados, com magnésio ou ferro substituindo total ou parcialmente o alumínio em alguns minerais e que, em alguns casos, incluem elementos alcalinos ou alcalinos terrosos. São colóides eletronegativos, e uma das suas propriedades mais importantes é a da adsorção e troca de cátions. Também são susceptíveis de dispersão e floculação. COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 1
  • 2. As propriedades físicas mais importantes são: o forte poder de retenção de água, a acentuada plasticidade e adesividade, a tenacidade no estado seco, a variação de volume com o teor de água e a formação de ligações com substâncias orgânicas. A estrutura da maioria das substâncias sólidas é cristalina. Isto significa que, nas substâncias sólidas, átomos, íons e moléculas estão arranjadas de uma maneira ordenada, de forma repetida nas 3 dimensões. Se a repetição ocorre em uma ou duas direções somente a substância é chamada semi-cristalina. A identificação das argilas pode ser feita por difração de Raios X(XRD), Análise Térmica Diferencial(ATD) e microscopia eletrônica de transmissão(MET). Os raios X são radiações eletromagnéticas da mesma natureza que as radiações que compõem a luz branca, visível ao olho humano. Os comprimentos de onda dos raios X são cerca de 1000 vezes menores que os comprimentos de onda da luz visível e daí resultam grandes diferenças nas propriedades dos dois tipos de radiação; por exemplo, uma folha de alumínio de 1mm de espessura é transparente aos raios X e é opaca à radiação branca. A unidade de medidas das regiões de raios X (comprimento de onda) é o Ângstron (10-8 cm), e os raios X usados em difração possuem comprimento de onda na faixa de 0,5 a 2,5 Ângstrons, enquanto que o comprimento de onda da luz visível é da ordem de 6000 Angstrons(LIMA, 2000). A técnica de difração de raio X (XRD) oferece um modo conveniente para determinar a análise mineralógica dos sólidos cristalinos. Se um mineral cristalino é exposto a raios X de um comprimento de onda específico, as camadas de átomos difratam os raios e produzem um padrão de picos que é característico do mineral. A escala horizontal (ângulo de difração) de um padrão XRD típico fornece o espaçamento do arranjo cristalino, e a escala vertical (altura do pico) fornece a intensidade do raio difratado. Quando a amostra bombardeada com raio X contém mais do que um mineral, a intensidade de picos características dos minerais individuais são proporcionais às suas quantidades.” (MEHTA & MONTEIRO, 1994) A difratometria de raios X corresponde a uma das principais técnicas de caracterização micro-estrutural de materiais cristalinos, encontrando aplicações em diversos campos do conhecimento, mais particularmente na engenharia e ciências de materiais, engenharias metalúrgica, química e de minas, além de geociências, dentre outros. A difração de raios X permite a determinação dos compostos existentes em um material através da interpretação dos diagramas de difração (difratogramas). Um aspecto interessante a ser considerado é a preparação da amostra, dependendo dela o sucesso da análise. O método mais empregado de difração é o método de pós (a amostra é analisada de forma pulverizada). A preparação da amostra consiste em acondicionar a substância a ser analisada em um amostrador. A partir da difração de raios-X é possível identificar, determinar o grau de cristalinidade, quantificar o tamanho do cristal e a substituição isomórfica dos minerais (RESENDE, et al., 2005). A primeira fase de identificação dos cristais é a medida das distâncias interplanares e das intensidades relativas dos picos do difratograma. O uso simultâneo de valores de “d” associados a intensidade representam a maneira usual e mais prática de identificação dos materiais (cristais). As aplicações da difratometria são várias: a) Identificação de fases cristalinas: a principal aplicação da difração de raios X refere-se à identificação de compostos cristalinos, sejam eles inorgânicos ou orgânicos. São características específicas e únicas de cada substância cristalina: os planos de difração e suas respectivas distâncias interplanares, as densidades de átomos. b) Quantificação de fases: a intensidade da difração é dependente da densidade de elétrons em um dado plano cristalino. Os fatores de estrutura, de multiplicidade, e de Lorentz- Polarização devem também ser consideradas; c) Determinação de parâmetros de célula unitária: o padrão do difratograma de um material cristalino é função da sua estrutura cristalina, é possível se determinar os parâmetros do seu retículo (a, b, c e α, β e γ da COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 2
  • 3. célula unitária) desde que se disponha de informações referentes aos sistema cristalino, grupo espacial, índices de Miller (hkl) e respectivas distâncias interplanares dos picos difratados. d) Dispositivos com controle de temperatura: inúmeros processos de manufatura empregam temperaturas elevadas, nas quais os constituintes primários da amostra sofrem mudanças de fase em razão do aquecimento. d) Orientação de cristalitos (Textura): a orientação preferencial de cristalitos em materiais sólidos policristalinos é de vital importância para vários materiais industriais. Materiais extrudados e pós-prensados, dentre outros, são materiais que tipicamente apresentam orientação preferencial; alguns materiais cerâmicos e semicondutores tem suas propriedades relacionadas a uma dada direção cristalográfica, sendo de extrema importância o controle da orientação preferencial nos processos de fabricação e controle de qualidade. e) Tamanho de cristalitos: partículas de dimensões inferiores a 1µm podem apresentar intensidades difratadas em valores de 2θ pouco superiores e inferiores ao valor do ângulo de Bragg devido ao efeito de alargamento de picos face ao tamanho de partículas. Tal fato deve-se ao menor número de planos que difratam os raios X, em função das pequenas dimensões dos cristalitos, permitindo a difração para valores de comprimento de onda um pouco superiores e inferiores ao valor de λ. f) Tensão Residual: Tensão em um material pode causar dois efeitos distintos sobre o difratograma. Se a tensãocorresponder a um esforço uniforme, compressivo ou distensivo, também chamado de macrotensão (macrostress), as distâncias da célula unitária dos cristais vão, respectivamente, diminuir ou aumentar, ocasionando um deslocamento na posição dos picos difratados. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Os solos analisados foram coletados nas proximidades de uma via urbana na região administrativa de Taguatinga. O solo denominado de orgânico foi coletado à montante de um córrego e o solo denominado laterítico no aterro na ampliação da via Qnc Foram retirados de dois(2) blocos indeformados, conforme mostra a Figura 1. O solo orgânico na profundidade de 1m, à montante do córrego e o solo laterítico na profundidade de 2m, no aterro da via. As coordenadas de localização são 150 49’13,37’’S e 480 04’ 22,49”O. Figura 1. Localização dos solos analisados. Realizaram-se os seguintes ensaios em laboratório para a determinação de umidade, de granulometria a laser (com e sem ultra-som) e peneiramento com lavagem, limites de Atterberg e massa específica dos sólidos, e cisalhamento direto, todos de acordo com as normas da ABNT. E também, difratometria de raios-x na amostra total e na fração argilosa. A identificação dos minerais das frações areia e silte foram feitas com material não orientado. Inicialmente, as amostras foram trituradas, preferencialmente em gral de ágata. Fez-se então, a montagem em lâminas de alumínio vazada, pela técnica de back loading. Esta consiste no pressionamento do pó para o preenchimento da abertura da lâmina, que deve estar apoiada sobre superfície lisa e firme (geralmente vidro). A separação da fração argila foi realizada por dispersão em água numa porção de cerca de 15g. A seguir realizada a centrifugação com rotação de 750rpm, durante 7min. A fração silte precipita, enquanto a fração argila permanece em suspensão. A fração argila decantada por centrifugação a 1500 rpm, é utilizada como uma pasta na preparação de lâminas com amostras COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 3
  • 4. orientadas. A técnica utilizada foi a do “esfregaço” - consiste no espalhamento da pasta sobre a lâmina de vidro, utilizando-se uma espátula, com movimentos repetidos na mesma direção. Então, a seguir a amostra orientada sobre a lâmina é deixada ao ar para secagem, sendo denominadas “normais”. Posteriomente foi realizada a glicolagem das amostra que consiste em deixar a lâmina com a amostra orientada em uma atmosfera de etileno-glicol por cerca de 12 horas, favorecendo a entrada do composto nos espaços intercamada dos minerais expansivos. A lâmina é analisada em seguida, permitindo a verificação do possível aumento das distâncias interplanares. E por fim, o aquecimento, na qual a lâmina foi submetida à temperatura de 490o C, em mufla por 3:30 horas. Após este tempo foi procedida à análise da amostra, podendo-se verificar as mudanças da posição dos picos, pela perda do material do sítio intercamada, ou o colapso da estrutura de alguns minerais. A análise das amostras foram realizadas no equipamento RIGAKU D/MAX – 2/C operando com tubo de cobre, sob voltagem de 35kv e 15mA, velocidade de varredura de 2o /minuto, no intervalo de 2° a 70° - 2θ teta (para as amostras total e fração argila) e de 2° a 40° - 2θ teta (glicolada e aquecida). A identificação e interpretação dos difratogramas foi feita com auxílio do software JADE 3.0, com banco de dados ICCD 1996. 3 DISCUSSÕES E RESULTADOS 3.1 Caracterização física Umidade é a massa de água contida em uma determinada porção de solo, expressa como uma porcentagem da massa das partículas sólidas (solo seco) existente nessa porção. A determinação do teor de umidade dos solos é necessária para a análise de situações como: (a) estudo da umidade em áreas de empréstimo, barragens, aterros, aeroportos, fundações; (b) estudo de parâmetros geotécnicos de solos obtidos em ensaios de compactação, caracterização, resistência e outros; (c) estudo da variação sazonal e em profundidade da umidade em corpos de aterro, em pavimentos; (d) controle do teor de umidade em áreas de empréstimo, execução de aterro. Para as amostras estudadas as umidades naturais encontradas foram 66,4% e 28,9%, respectivamente para os solos orgânico e laterítico. A análise granulométrica visa determinar a relação entre as dimensões das partículas e os seus percentuais bem como, a graduação destas no solo. Nos ensaios convencionais ela consiste, em geral de duas fases: peneiramento (partículas com dimensões maiores que 0,074mm segundo a NBR 7181) e sedimentação (partículas com dimensões menores que 2 mm segundo a mesma norma). Nesta pesquisa a granulometria foi determinada utilizando-se o granulômetro a laser da fração fina e peneiramento após lavagem da fração mais grosseira. O material fino foi analisado no granulômetro com e sem o uso de ultra-som. O granulômetro a laser existente no laborabtório de Geotecnia da Universidade de Brasília é o modelo MASTERSIZER Standard BENCH produzido pela Malvern Instruments Ltda da Inglaterra. Este equipamento é constituído de três peças: a unidade óptica, a unidade de preparação da amostra e o computador. A Figura 2 mostra o granulômetre e seus acessórios. Figura 2. Granulômetro a laser e seus acessórios. Observado as curvas granulométricas (Figuras 3 e 4) percebe-se que os solos são COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 4
  • 5. finos e que o procedimento utilizando ultrasom desagregou os torrões de argila ou areia, aumentando a proporção de material mais fino. Figura 3. Curva Granulométrica do Solo Laterítico. Figura 4. Curva Granulométrica do Solo Orgânico. A consistência do solo está relacionada à manifestação das forças físicas de coesão e adesão que nele atuam para vários teores em água. Num solo úmido a muito úmido podem surgir em grau variável duas formas de consistência: a adesividade (maior ou menor facilidade de aderência a outros objetos) e a plasticidade (mudança reversível na forma sob ação de pressão). A maior ou menor intensidade da manifestação das diversas formas de consistência depende essencialmente da textura do solo, da natureza dos colóides minerais, do teor de matéria orgânica e do estado disperso ou floculado dos colóides, e está intimamente relacionada com a estrutura do solo (Costa, 1973). Nesta pesquisa os limites de liquidez e plasticidade foram determinados, respectivamente, de acordo com as normas NBR 6459/84 NBR 718/84. No entanto, foram realizados natural, com secagem ao ar e em estufa. A Tabela 1 apresenta os resultados dos limites de Atterberg para as amostras realizadas. Correlacionando-se os dados da Tabela 1 com a Figura 5 resulta a classificação dos solos estudados que está apresentada na Tabela 2. Os limites de Atterberg fornecem indicativos dos solos quanto as suas características de plasticidade, permeabilidade e resistência. A Figura 5 mostra a Carta de Plasticidade de Casagrande, observando-a percebe-se que os solos analisados, quanto aos limites de Atterbergg, classificam-se como MH ou OH. Figura 5. Carta de Plasticidade de Casagrande dos solos analisados. Tabela 1. Resultados dos limites de Atterberg. Solo Laterítico Solo Orgânico com secagem Limites de Atterberg sem secagem natural estufa WL 52 56 51 49 WP 46 51 46 46 IP 6 1 5 3 Os limites de Atterberg refletem a influência dos argilominerais nas propriedades do solo sem levar em conta distintamente e influência do tipo e da quantidade dos argilominerais presentes. A massa específica dos sólidos, de um solo, é função dos minerais constituintes e da percentagem de ocorrência de cada um deles nesse solo. Ela representa a média da massa específica dos constituintes que compõem a fase sólida do solo, incluindo minerais, compostos orgânicos, sais precipitados e materiais não cristalinos. Na Tabela 2 constam os valores de massa específica dos sólidos dos minerais mais comuns nos solos. É necessário o conhecimento Solo Laterítico 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 DiâmetrodasPartículas(mm) solo laterítico sem ultra-som solo laterítico com ultra-som Solo Orgânico 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 Diâmetrodas Partículas (mm) solo orgânico sem ultra-som solo orgânico com ultra-som COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 5
  • 6. da massa específica dos sólidos do solo para caracterizá-lo quanto aos valores de seus índices físicos em um dado instante. O seu valor quase não se altera com o tempo, pois é dependente dos minerais. Neste trabalho a massa específica dos sólidos (γs) foi obtida experimentalmente de acordo com a norma NBR 6508/84. Tabela 2. Massas Específica dos sólidos de diferente minerais (modificado - Nogueira, 2001). Para as amostras estudadas os valores foram 2580(kg/m3 ) e 2630(kg/m3 ) respectivamente, para os solos orgânico e laterítico. Tabela 3. Resultado das propriedades dos solos. Grupo MH OH Compactação regular a ruim regular a ruim Compressibilidade e expansão alta alta Drenagem e permeabilidade drenagem ruim e impermeável sem drenagem e impermeável Qualidade como aterro estabilidade regular a ruim não deve ser usado Qualidade como subleito ruim muito ruim Qualidade como base não adequada não adequada Grupo Comparáveis A - 5 A -7 ou A - 8 Analisando-se a Tabela 3 percebe-se que os solos apresentam propriedades de comportamento ruim para aplicação em estruturas de pavimento rodoviário. Porque são solos muito compressíveis e expansíveis e possuem baixa permeabilidade e pouca drenagem. 3.2 Caracterização mecânica A Tabela 4 apresenta alguns parâmetros determinados em laboratório e na condição inundada para as amostras dos solos estudados. Analisando-a percebe-se que os solos quando inundados (pior condição) apresentam coesão muito baixa, não suportando as possíveis cargas de projeto. Quanto ao índice de vazios, os valores são muito altos, caracterizando-se solos altamente permeáveis. Já o valor do ângulo de atrito é baixo, indicando solos com pouca resistência ao cisalhamento. Tabela 4. Resultados de parâmetros de resistência dos solos. Solos Parâmetros Laterítico Orgânico Indice de vazios (e) 1,18 1,71 Ângulo de atrito(φ, 0 ) 16 12 Coesão(c, kPa) 0 3 Umidade higroscópica (w,%) 1,52 1,70 3.2 Caracterização mineralógica Skempton (1953), citado por Vermatti (1995) comenta que as propriedades de uma argila são determinadas fundamentalmente pelas características físico-químicas dos vários minerais constituintes e pela proporção relativa que esses minerais se apresentam no solo. A matéria mineral sólida do solo é constituída por minerais primários e por minerais secundários. Os minerais primários encontrados no solo provêm da rocha a partir da qual o solo se originou (herdados da rocha- mãe), persistindo mais ou menos inalterados na sua composição. Os minerais secundários, por sua vez, podem ocorrer no solo principalmente por três processos: - por síntese in situ de produtos resultantes da meteorização dos minerais primários menos resistentes; MINERAL MASSA ESPECÍFICA DOS SÓLIDOS(kg/m3 ) Feldspato 2590 - 2900 Quartzo 2650 Montmorilonita 2500 - 2800 Caulinita 2600 - 2650 Mica 2700 - 3200 Goetita 4400 Ilmenita 4500 - 5000 Magnetita 5200 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 6
  • 7. - por simples alteração da estrutura de determinados minerais primários verificada in situ; - herdados diretamente da rocha-mãe. Costa (1973) relaciona os principais minerais primários que podem ocorrer nos solos: quartzo, feldspato, feldspatóides, micas, piroxenas, anfibolios, olivinas, apatite, magnetite, turmalina, rutílio, ilmenita, zircão, calcita, granadas, etc. Os mais freqüentes são o quartzo e os feldspatos. O conhecimento qualitativo e quantitativo dos minerais primários fornece a indicação do grau de evolução do solo e da reserva de mineral. Os minerais secundários de ocorrência mais freqüentes são os minerais de argilas (silicatos de alumínio no estado cristalino), silicatos não cristalinos, óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio e carbonatos de cálcio e de magnésio. Cavalieri (1988) argumenta que a composição mineralógica da fração argilosa avalia quais as estruturas argilosas predominantes e a possibilidade de uso da cal como agente estabilizante do solo Lima (2003) reforça que o conhecimento da composição mineralógica dos solos é fundamental para a compreensão de suas características físicas. Existem vários métodos para identificação dos minerais dos solos, os mais empregados são: a análise química, a difratometria por raios-X(DRX), a análise termo-diferencial (ATD), a análise termo- gravimétrica, as microscopias óptica, eletrônica e de transmissão. As Figuras 5 e 6 apresentam os difratogramas das amostras estudadas e a Tabela 5 mostra os tipos de minerais e a abundância relativa em cada amostra. O quartzo está presente na fração grosseira de todos os solos e predomina na fração areia. O pico do quartzo serve de referência qualitativa do tamanho de partículas ou cristalinidade e para a correção dos picos dos demais minerais. A diferença entre a largura do pico à meia altura do mineral, menos a referente a do quartzo, dá idéia relativa de tamanho. Quanto maior for a diferença, menor é o tamanho das partículas do mineral analisado(REZENDE, et al., 2005). A caulinita é o argilomineral de mais ampla ocorrência em solos, sobretudo nos de domínio tropical. A sua formação é a partir de uma grande variedade de materiais de origem. É produto do intemperismo ácido devido a retirada de sílica e das bases. A estrutura básica é composta pelo arranjamento de lâminas contendo silício e um octaedro de alumínio, portanto, com estrutura 1:1(REZENDE, et al., 2005). Observando os picos da caulinita em ambos os difratogramas (Figuras 6 e 7) percebe-se que elas não desapareceram quando aquecida, concluindo-se que não houve colapso da sua estrutura. Figura 6. Difratograma do Solo Laterítico. Figura 7. Difratograma do Solo Orgânico. A goethita é um dos principais óxidos de ferro encontrado nos solos e responsável pela coloração amarelada, no entanto, essa coloração pode ser diferente conforme o tamanho e substituição isomórfica, do alumínio(Al) no lugar do ferro(Fe)[REZENDE, et al., 2005]. A gibbsita foi mais marcante no solo orgânico(de coloração marrom) e quando a mostra foi aquecida ela desapareceu, ocorreu a desestruturação dela. COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 7
  • 8. Solos de alta capacidade de troca catiônica(CTC), geralmente são argilosos e contém praticamente todos os tipos de minerais que se encontravam na rocha de origem. Na fração argila pode ocorrer caulinita, gibbsita, goethita e hematita. A Tabela 5 apresenta os tipos de minerais e a abundância relativa nos solos estudados. Os minerais antásio e rutilo, ambos têm a mesma composição química e estão presentes nos solos analisados. No entanto, originam-se de rochas diferentes. O anatásio tem origem sedimentar e o rutilo, metamórfica. Tabela 5. Minerais presentes nas amostras analisadas. Abundância relativa Amostra totalMinerais Composição Química Orgânico Laterítico Quartzo SiO2 maior maior Caulinita Al2Si2O5(OH)4 maior menor Goethitha FeO(OH) maior maior Gibsita Al(OH)3 maior menor Rutilo TiO2 - maior Anatásio TiO2 maior - 4 CONCLUSÕES De acordo com os resultados dos limites de Atterberg e da granulometria os solos podem ser classificados com orgânico e/ou siltosos. Pelas propriedades geotécnicas que estes solos apresentam eles são de comportamento ruim. Os solos analisados quanto à mineralogia, apresentam basicamente os mesmo minerais. Induzindo-se que são de mesma origem geológica e que os fatores intempéricos atuaram com intensidade similar. O comportamento mecânico quanto à utilização na estrutura de rodovias deve ser visto com restrições. No entanto, um procedimento executivo utilizando boas técnicas e controles e /ou o uso de algum processo de estabilização para melhorar as propriedades físicas e comportamentais, estes solos poderão ser empregados em obras rodoviárias. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem muitíssimo aos técnicos do Laboratório de Geotecnia da UnB e ao mestrando em Geologia Wagner do Laboratório de Geociências. REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Normas Técnicas. Norma Brasileira 6459 (1984). Solo – Determinação do Limite de Liquidez, Rio de Janeiro, RJ, 6 p. _____________________________________________ NBR 6508 (1984). Grãos de solos que passam na peneira de 4,8 mm – Determinação da massa específica, Rio de Janeiro, RJ, 8 p. _____________________________________________ NBR 7180 (1984). Solo – Determinação do Limite de Plasticidade. Rio de Janeiro, RJ, 3 p. ______________________________________________ NBR 7181 (1984). Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro, RJ, 13 p. ______________________________________________ COSTA, J.B. (1997). Caracterização e Constituição do Solo, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal, 527 p. CAVALIERI, L.V.P. (1988). Estabilização de Minerais Argilosos com Cal, Petrobrás: Petróleo Brasileiro S. A., Rio de Janeiro, RJ, 100 p. GOULART, E.P.(2000). A Capacitação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo para a Caracterização de Materiais de Interesse Cultural, 2000 Disponível em http:// www.itaucultural.org.br/ conservar_nao_restaurar/papers/PAPER_EVARISTO.rtf, acessado em 0/10/2008. KALN, H.Difração de Raios X. 2000 (apontamentos de aula). LIMA, M. G.(2001). Materiais e Processos Construtivos, Disponível em: http//: www.angelfire.com/ crazy3/qfl2308/1_multipart_xF8FF_4_MEV_PMI- 2201.pdf, acessado em 15/10/2008 LIMA, M.C. (2003). Degradação Físico-Química e Mineralógica de Maciços junto às Boçorocas, Tese de Doutorado em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, FT, UnB, Brasília, DF,346 p. MEHTA, P.K., MONTEIRO, P.J.M.(1994). Concreto – Estrutura, Propriedades e Materiais. Editora PINI, São Paulo, SP, Brasil, 573p. NOGUEIRA, J.B.(2000). Ensaios de Laboratório,EESC- USP, São Carlos, SP, Brasil, 248 p. COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 8
  • 9. PESSOA, F.H.C.(2004). Análises dos Solos de Urucu para Fins de Uso Rodoviário, Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 151p. REZENDE, M. et al. (2005). Mineralogia dos Solos Brasileiros – Interpretação e Aplicações, ed. UFLA, Lavras, MG, Brasil, 192p. SANTO, P.S.(1989). Ciência e Tecnologia das Argilas, 2ªed, ed. Edgard Blucher ltda, São Paulo, SP, Brasil, vol. 1, 409 p. VERTAMATTI, E., SOUSA, E.B.& REZENDE, A.A.(1995). Um estudo da determinação da umidade de solos arenosos em laboratório, 29ª Reunião Anual de Pavimentação, Cuiabá, MT, Brasil, pp. 381-397. COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. 9