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16 • Público • Quinta-feira 15 Janeiro 2009
Presidência da UE Obra encomendada para Bruxelas goza com estereótipos nacionais
Aesculturadeve serinauguradaoficialmenteestamanhã
Impostura
embaraça
checos e indigna
a Bulgária
Escultura adorna entrada do edifício
do conselho de ministros da UE,
e causa perplexidade, indignação...
e gargalhadas
Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas
a Portugal coberto de suculentos
nacos de carne com a forma das ex-
colónias, a Bulgária transformada nu-
ma retrete turca, daquelas com um
buraco no chão que obrigam a uma
incómoda postura de cócoras, a Ale-
manha reduzida a um emaranhado
de auto-estradas a lembrar uma cruz
suástica: estes são alguns dos este-
reótipos que, desde segunda-feira,
provocam alternadamente gargalha-
das, perplexidade ou indignação em
Bruxelas.
Este tipo de reacção era o que a
presidência checa da União Europeia
(UE) pretendia obter com a obra de
arte que escolheu para imprimir a
marca do “seu” semestre num dos
principais edifícios europeus, cum-
prindo uma velha tradição.
A concepção da obra foi entregue
ao controverso artista plástico checo
David Cerny, que ficou encarregue de
convidar 27 autores dos Vinte e Sete
a expressar a sua visão dos estereóti-
pos nacionais. O resultado, baptizado
Entropa, está pendurado na entrada
do edifício do conselho de ministros
da UE, acompanhado de um catálogo
que explica em detalhe o currículo e
a motivação de cada um.
Não há “Carla de Miranda”
Rapidamente, no entanto, o Governo
checo viu-se obrigado a reconhecer
que foi vítima de uma impostura, as-
sumindo um novo embaraço de uma
presidência que teve um início pouco
auspicioso: os 27 “artistas nacionais”
foram todos inventados pelo próprio
Cerny, que, ajudado por dois amigos,
concebeu igualmente os estereótipos.
O que significa que “Carla de Miran-
da”, suposta autora dos bifes portu-
gueses e que, segundo explica o catá-
logo, não gosta de “gordura” nem de
“colonialismo”, é pura ficção.
Foi Cerny, igualmente, que decidiu
transformar a Suécia numa caixa de
móveis Ikea, construir a Dinamar-
ca em Lego, ou inundar a Holanda
deixando de fora apenas minaretes
de mesquitas, pôr a Grécia em fogo,
cobrir a Espanha de betão ou re-
presentar a Polónia com um grupo
de padres na postura dos soldados
americanos de Iwo-Jima a plantar a
bandeira da homossexualidade. E
que deixou um buraco no lugar do
eurocéptico Reino Unido.
Alexandr Vondra, vice-primeiro-
ministro checo dos Assuntos Euro-
peus, confessou que ficou em “es-
tado de choque” quando percebeu
até que ponto a presidência foi en-
ganada. Afirmou-se “muito desagra-
davelmente surpreendido” e acusou
Cerny de “violação das condições do
contrato”. O visado defende-se com
um comunicado em que afirma que
“a hipérbole grotesca e a mistificação
fazem parte dos atributos da cultura
checa e a criação de falsas identida-
des representa uma das estratégias
da arte contemporânea”.
No meio do embaraço, os checos
revelaram-se ontem incapazes de
precisar o que contam fazer, quando
a inauguração oficial do puzzle está
prevista para esta manhã. A dúvida
é alimentada pela indignação da Bul-
gária, que, num protesto oficial, exi-
giu a retirada imediata da “sua” peça
antes da inauguração, afirmando não
poder aceitar ver-se representada por
“essa coisa horrível”.
David Cerny
Artista plástico
Não é a
primeira nem
será a última
provocação
do artista
checo David Cerny, o autor do
controverso puzzle Entropa que
troça dos estereótipos nacionais
dos Vinte e Sete e enganou a
presidência checa da União
Europeia.
Com 41 anos, Cerny tem uma
imagem de “rebelde, que cultiva
uma linguagem grosseira,
um aspecto tenebroso e uma
reputação de agitado sexual”,
segundo a biografia publicada
pela agência noticiosa francesa
AFP. Duas das suas obras mais
famosas, e mais polémicas,
são um tanque russo pintado
em 1991 de cor-de-rosa, para
comemorar a libertação de
Praga em 1945, e um manequim
do ex-líder do Iraque Saddam
Hussein, de mãos atadas num
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