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Rogério Marques Benedito Júnior
2015
Vidas Divididas
Baseado em factos reais
Índice
PREFÁCIO ............................................................................ 3
TEMPOS EXPERIMENTAIS ............................................ 7
A PAIXÃO INQUEBRÁVEL.............................................. 7
É O FIM? ............................................................................ 12
REUNIÃO FAMILIAR..................................................... 21
O APAGAR DO SOL E A VINDA DA LUA................... 25
A TENTAÇÃO DOS RAPAZES DO BAIRRO.............. 31
A FESTA DO LOBOLO .................................................... 37
DESFECHO......................................................................... 39
GLOSSÁRIO...................................................................... 41
PREFÁCIO
Como alguns e algumas a Magui nasceu numa
família residente em DOMELA, um nome que
acordando a língua local, na sua tradução em
português significa “Coisas que Crescem” pela
simplicidade humildade e pura realeza vivia a
família da Magui. Mergulhando o sentimentalismo
e o humanismo nas descendentes. Magui era
ordinalmente terceira e penúltima filha de casa,
caracterizada pela criatividade, buscadora de
soluções, activa e muitas outras características
que a faziam ser desigual com as outras.
Enquanto outras procuravam ocupar o tempo com
coisas que para ela eram “uma perca de tempo”
ela preferia sentar no seu incomparável e
estranho silêncio, olhando pelas cavalgadas que a
rodeavam e sempre ao fim do dia a Magui levava
contigo uma lição de vida.
A Magui foi ficando adulta, mas sempre na
mesma perspectiva educacional, porque nunca se
deixava levar pelos caminhos transgressores da
sua cultura, hábitos e costumes da sua
comunidade. E uma rapariga assim, era cobiçada
pelos próximos, pelo simples facto de ela ser
exemplo para todos.
A comunidade em que estava inserida a Magui,
era muito calma e, sobretudo em que os
princípios ditados tinham que ser cumpridos,
queira sim ou não, como são os casos dos ritos de
iniciação, lobolo (dote oferecido à família da
noiva pelo marido, como forma de marcar um
garante infinito da sua relação), etc., como forma
de fazer com que a tradição lá vivida não fosse
para água abaixo, facto que fazia com que maior
parte dos rapazes e raparigas na idade
adolescente, se caracterizassem pela
solidariedade, pelo respeito e que fossem
hospitaleiros.
Brilhante como a rara joia, era a sua beleza e
incomparável era o seu jeito característico.
Os rapazes do bairro admiravam-na
incansavelmente, com um forte desejo de vê-la
sempre e isto se devia ao simples facto de ela
possuir um estilístico corpo modelo. Como já era
tradição que todas as meninas não se casariam
sem o lobolo, com a Magui não foi menos
tradicional. Ela tal como todas passou pelo mesmo
caminho, só que antes de mais, Foram tantos os
pretendentes desejando-a como esposa, mas
porque a Magui era inquebrável perante os seus
princípios, ninguém a tinhaalcançado. Ela era
apaixonada por um jovem da cidade e simples
visitante da sua Avó naquela comunidade, este
vinha sempre nos finais dos meses. O rapaz, que
roubou e descomandou com a máxima
incabulabilidade o coração da MaguiChamava-se
Manuel. Ora a disparidade social, cultural e
económicafazia com que ela fosse habitada de
medo perante o seu apaixonado.
*******************************************
“Tens um sonho? Persiga-o dando o seu melhor
para obtê-lo e realiza-lo.”
Autor:Rogério Marques B. Júnior
TEMPOS EXPERIMENTAIS
Desde cedo, a Magui, que assim era considerada,
conheceu, aprendeu, e viveu momentos
adjudicados ao sofrimento bem como a amargura.
Sobremaneira, pouco era a felicidade pela
aparência emocional tanto como espiritual, e
difícil era prever o sofrimento que carregava.
Tudo começa assim:
A PAIXÃO INQUEBRÁVEL
Num dia como todos, em que a Magui tinha que
fazer todas as suas actividades em formatos de
deveres de casa, foi apanhar lenha numa dessas
serrações que se localizava bem próxima da sua
residência. Lentamente ela andava algures da sua
região, cantando, dançando e, era sempre assim
quando ela saía. Nas mais lentas e sedutoras
caminhadas, os seus passos progrediam em
direcção a serração, o cenário antes visto
tropeça nos seus olhos, quando se depara com
uma formidável beleza masculina, o coração batia
mais depressa, o espaço temporal intricicavaa
saudade de vê-lo sempre, sentia frio
acompanhado de calor, quando o cheiro do rapaz
em formato da Madressilva, trespassavam o seu
sistema emocional. - “ O que vem a ser isso? Deve
ser um feitiço”- disse a si mesma. Prolepsando o
cenário, estava sozinha, e bem longe da
masculinidade que a encantara. Mas a ideia de
desvendar o puzzle sentimental não a largava,
pois ela estava apanhando a lenha: cantando para
disfarçar o pensamento que a marcara, e olhem
que nem por um segundo este o largou, com o ar
preocupado, carregou a lenha e foi
apressadamente para sua casa: “ um
comportamento jamais visto”. Chegou a casa
malmente respirando.
- O que foi?
- Estás Doente?
- TchineMuanaga? A família dela questionavam-na
espantadas, mas a Magui que sempre carregava
contigo um monte de palavras, neste momento
encontrava-se de lábios trancados, olhando as
pessoas com um olhar que dizia mais de mil
palavras. A sua mãe Jardiana, os Seus Irmãos
Graciel, Júlia e Zelenha, continuavam com mentes
vazias e longe da causa que afligia a Magui. Desta
vez, racionalmente, pois, para eles, algo assim era
combinada a uma manifestação divina e, só o
Mulaula, tinha o poder de interpretar.
Esses detentores de poderes espirituais não
eram fáceis de serem encontrados, porque
caracterizam-se pela isolação, ficavam em zonas
perigosas e bem distantes da povoação. A família
da Magui incansavelmente procurava por uma
solução urgente, para devolverem a harmonia no
íntimo da Magui, mas sem sucessos. Passou-se um
dia, uma semana, um mês e o sentimento da Magui
crescia bruscamente feito uma mágica semente.
Enchia-se o coração com o ar da paixão e, quase
que explodira. Não existindo outra saída, houve
uma urgente necessidade de levarem-na a um
Ñanga, esta que foi fácil de encontrar.
- Dona Ñanga, a minha irmã não se alimenta e
está sempre pensativa, olhem só para ela está
tão magra comparada aos palitos de Macubar. Ela
não estava assim, era gorda bonita, era uma
menina invejada por todos, de repente o ser dela
desapareceu, desde o dia que ela vinha da
serração. O que é,Ñanga?
- humm, deixe-me cá pegar as tuas mãos Magui –
Pediu a Ñanga. Amedrontadamente a Magui
Levantou-as e pousou-as nas mãos da bruxa. – Oh!
Nabuyawaga, não se passa nada de grave com ela,
pois eu vejo uma tristeza no coração dela, em que
a felicidade mora numa masculinidade formosa e
bonita.
– O que quer dizer com isso? Curiositou a Magui
querendo ouvir mais coisas. Acreditem que ela, já
estava cansada de viver daquele jeito diferente.
– Tranquilize-te, esta é uma fase inicial da tua
felicidade, confie nos teus princípios e
alcançaras o rapaz ladrão do teu coração, agora
prometa-me uma coisa!
- Sim Ñanga.
- Faça o que o coração te manda fazer, mantenha
o teu espírito de criatividade e boa disposição,
porque o que tens, é um sentimento grande, mas
pequeno na sua Silábica, se chama AMOR à
primeira vista.
Os tempos já se tornavam normais e o sorriso, a
boa disposição voltou a habitar no seio da família
da Magui.
É O FIM?
Estava tudo voltando ao bom grado pela calma de
todos. A Magui já podia abrir os seus sábios
lábios, falando com a mais alta emotividade no
âmbito do compartilhamento das suas emoções e
sentimentos. Ela já não duvidava de si, desde o
dia que aÑanga disse-lhe para que não duvidasse
do que pensava. A vida andava com muita
naturalidade no progresso do tempo, e tudo
quanto era vivo também crescia. “Toda pessoa
que cresce muda de comportamento, mau ou bom,
vice versando a moral”, desigual a este princípio
foi a Magui. Esta que crescia genuinamente
dentro de uma invejável pureza e, longe dela
estava: a maldade, o orgulho e o ódio.
As cavalgadas do dia corriam numa velocidade de
cavalo, passaram-se dezenas de luas, dezena de
sóis, num vaivém, facto que trazia mudanças no
espírito mental da Magui, já estava mais crescida
como quem diz, mais pronta para levar a sua
própria vida. Numa interjeição passou pela frente
da Magui uma figura que vulcanizou os seus
desejos, deixando-a numa tremenda quentura
capaz de cozer os alimentos e, porquê não! De
abrasear o ferro. Foi nesse momento que aquela
doença caracterizada por quatro letras (AMOR)
começou a invadir por completo o sistema
amoroso da Magui e, da ponta dos cabelos aos
dedos dos pés era a demarcação por onde ela
passava, os dedos começavam a tremer, o
coração ficava frágil à tentação do receio e,
esconder-se ou fugir daquela marcante figura
optava a condição unívoca de se ver livre
daqueles sentimentos. O palpitar do coração era
fora do normal.
Este todo mistério era trazido por uma simples
figura masculina. Tudo que a Magui queria
naquele instante, era não ter aqueles
sentimentos, mais não tinha como abandona-los
porque não encontrara a chave certa para abrir a
porta certa, de onde podia sair, e voltar a sentir-
se dona dela, sem nenhuma subordinação.
Desta vez, perece que já tinha reflectido ao
pormenor, até que se lembrou do que a ÑANGA
tinha-lhe dito.
O tempo passava e a Magui nada fazia, porque
nessa altura longe da coragem ela se encontrava,
e direpente, foi quando sem querer a sua boca se
abriu e suaves palavras voaram para o céu e
infectaram aquele lugar.
– Porquê tu me olhas tanto? Foi a questão
lançada. E o Manuel Ouvindo Aquilo, ficou menos
surpreso, ele sabia que cedo ou tarde aquela
mulher o faria uma genérica pergunta, afinal
também percebia que os olhares dela carregavam
milhões de palavras expressas numa só visão.
- Bem, te olho tanto porque a tua cara dá-se
muito bem com a minha, há uma dúvida que me diz
que não és estranha. Já agora posso saber quem
tu és?
A Magui, não acreditava daquela realidade, não
acreditava que estava a ouvir aquela voz roca e
carregada de uma viva macheza. Ali ficou de boca
aberta por alguns minutos, pois ela tentava falar
o seu nome, mas bem nessa altura, as palavras
voaram para bem longe dela e precisava de
grande corrida mental para encontra-las. Manuel
esperava ansioso e espantado com tamanha
timidez morando numa só formosura.
Na medida em que os olhares acidentavam-se,
mais trancados ficavam os lábios da Magui. Não
tinha mais jeito, um deles tinha que ser forte e
dizer: „Sai vergonha‟. Quem assim agiu, foi o
Manuel:
- Vá-la, não queres dizer o seu nome? Tudo bem,
eu digo o meu. Daqui é o Manuel. Prazer em
conhecê-la, e... Posso chamá-la de...
Desconhecida? Ou Silêncio?
Nesse momento, Manuel sorria malandramente
para ver se conseguia roubar dela apenas um
sorriso, de modo a fazer com que ela se sentisse
mais à vontade e com a consciência menos
pesada. Desta vez conseguiu, pois ele viu um
sorriso donzelo, um sorriso humilde no rosto
dela.
- Acho que agora tu estás um pouco calma. Sinta-
se à vontade, eu não sou um monstro em pessoa,
mais sim alguém que quer te ver bem. Disse o
Manuel
Com estas palavras, parece que ele tentava
acender uma luz que na verdade já estava acesa,
parece que tentava garantir o que na verdade
estava garantido, ou mesmo até di-la que a sua
amizade para com ela é eternizada. Claramente a
Magui, já estava a sentir-se maravilhada e
lisonjeada pelo rapaz, facto que lhe fez ter azas
e voar para voar atrás das palavras outrora
perdidas.
- O meu nome é Magui.
- Diga? O teu nome é Nargarida? Esta pergunta o
Manuel impôs-lhe para ver se na verdade ela
sentia-se detentora das palavras e afugentadora
do medo tímido. Combinando com que ele estava a
pensar, surgiu-lhe tal e qual.
- Não me chamo Nargarida, mas sim Magui.
- Hum, ok com M? Mar-ga-ri-da, dizia o Manuel
soletrando. – Confesso que é um nome bonito, um
nome que rima com o ar, com o calor e rima com a
Vida, Ho! Magui.
Profanavam-se as palavras com tanta poesia e
musicalidade e paralelamente a isso, a Magui
ficava sem jeito, pela primeira vez ela via uma
pessoa tão extrovertida e ouvia palavras tão
galantes e bonitas.
Aquilo passou, e a Magui, voltou para casa como
nunca a tinham visto, ela estava hiper alegre, uma
alegria que contagiava todos os que ao seu redor
estavam, e a sua irmã Júlia, ficou curiosa em
querer saber se a Magui estava a sentir-se bem
ou, simplesmente o motivo daquela alegria
exacerbada.
- Impressão minha? Ou estás muito feliz hoje?
Perguntou Júlia.
A Magui ficou calada por algum instante,
inteligentemente pensou e disse baixinho para
que a sua mãe não pudesse saber:
- Júlia, eu te conto logo anoite o que aconteceu
comigo hoje e porquê estou felicíssima. Esta
bem?
A Júlia compreendeu a sua irmã e ambas foram
preparar o almoço, a tradição da região em que
vivia a Magui era de que as meninas tinham que
cuidar e fazer os trabalhos domésticos e os
rapazes fazerem outros trabalhos como a caça, a
pesca, etc, facto que caracterizava
desigualmente estes dois géneros, estando uns
aptos para uma determinada área de trabalho e
outro não,uma espécie de divisão social de
trabalho.
REUNIÃO FAMILIAR
Já era meio-dia, o almoço já estava
confeccionado, as barrigas já começavam a
reclamar de fome por causa do efeito do bom
cheiro que das panelas saia. O almoço, já deve
estar servido, e tal como muitos esta refeição
era olhada com muito carisma e respeito, pois,
era através dele que a família que passava o dia a
trabalhar, tinha a oportunidade de reunir-se com
os outros membros, normalmente, a hora de
almoço, é um período em que ninguém poderia
estar ausente, era falta de respeito quem assim
procedesse.
A mesa era rudimentar, as cadeiras eram
fabricadas de troncos de coqueiro, tudo bem
organizado por baixo da sombra de uma frondosa
mangueira que ficava no quintal da família da
Magui, neste ambiente super natural, com os
cantares das aves e uma brisa inimiga do calor,
decorria o almoço.
Senhor Alfaiate, pai da Magui, gostava de
perguntar as suas filhas o que lhes acontecera
durante o dia, mas antes abria, sempre, abria o
almoço com uma historia, depois iam para as
orações antes das refeições do “pão da vida”, e
finalmente almoçavam, e é durante a refeição
que muita coisa se fala, mas o mais fundamental
assunto que nunca falhava, eram as advertências
que os parentes da Magui faziam para que os
seus filhos tivessem cuidado com as coisas
mundanas, que não se deixassem enganar por
ninguém, neste caso, o Senhor Alfaiate,
particularizava a advertência para as meninas,
afirmando que estas tivessem cuidado com os
rapazes, principalmente os que vinham da cidade.
- minhas filhas, vocês já são adultas, e,
naturalmente, eu sei que devem estar no período
das pequenas paixões por rapazes. Eu não quero
interferir na vossa vida, mas, uma coisa é certa,
casem-se com homens da vossa terra, aqui onde
nasceram, e nada de rapazes da cidade...
Aconselhava o Pai da Magui, que durante o
discurso, foi interrompido por suas filhas.
- Porquê pai? Perguntou a Magui com um ar
carregado de muitos segredos.
O seu pai, que percebera que aquela pergunta
tinha uma origem na paixão da Magui por um
rapaz incerto, foi cuidadoso e declarativo ao
responder.
- Magui, é por simples motivo, que não o deves
fazer, os rapazes e as meninas da cidade
estudam e vocês aqui, somente cuidam da casa e
vão a machamba, tu serás vista como burra e
parva nos olhos destes rapazes, porque acima de
tudo eles também são espertos. E, eu como vosso
pai, não quero que isso aconteça com vocês. Eu
quero um genro que vá comigo ao campo caçar e
vá comigo aos mares pescar. Intenderam?
Todos acenaram a cabeça acompanhada ao som
da voz que confirmava a pergunta. Em meio de
tudo, a Magui, sentiu-se mal com essas
declarações feitas pelo seu pai, pois, como
sabem, ela estava apaixonada por um rapaz que
concidentemente vivia na cidade.
O APAGAR DO SOL E A VINDA DA LUA
Magui, que foi abalada pelos ditos do seu pai,
ficou com um ar pensativo, reflectia dentro de si,
tentava encontrar uma solução para aquele
problema, passou pela sua mente que seria
melhor abrir o jogo para o pai, e contar tudo o
que estava a acontecer, infelizmente a ideia virou
uma utopia, porque ela lembrou que existia um
principio moral que dizia que “O conselho de um
pai, é como uma corrente libertada do teu
pescoço, quem não acatar viverá até o fim dos
seus dias preso pela mesma corrente”. O
conformismo batia o coração da Magui, mas a
esperança reativava-a, porque bem ao fundo ela
percebia que “não ha regras sem excepções”.
- “até porque se eu for sincera com o pai, ele
poderá compreender, será? Ops! Deixa estar”...
Pensava a Magui meditadamente.
O sol já dizia adeus ao dia e dava umas boas
vindas à noite, eram já dezessete horas e trinta
minutos, normalmente a este hora, nas zonas
recônditas as pessoas ja deviam estar a preparar
o “jantar”. Dezoito horas, eram horas para matar
o bicho da noite que com ele não pegamos sono e
acordamos fraquinhos e cansados. Após este
solene momento do dia, os rapazes e raparigas,
juntavam-se a volta da fogueira viva e bem acesa
para cautelosamente ouvirem histórias contadas
por pessoas mais vividas, historias estas que
demarcam a sua realidade social. Era quase
sempre assim, risos, perguntas a mistura
caracterizava-os, depois, todos meio cansados e
sábios com as histórias, apetecia era um leito
para se deitar. A Margaria e a sua irmã Julia,
pensavam também assim, daí que levantaram-se
adultamente, despediram os que ali estavam e
ambas rumaram para o quarto. Chegados lá, a
Julia não se esquecera da promessa da Magui.
- Magui, tu sabes que me deves uma explicação.
Não? Perguntava a Julia.
Fazendo-se de esquecida, a Magui Feedbackou
dizendo que não se lembrava da tal divida.
- Chegaste muito feliz hoje, bem, eu achei, ti fiz
uma pergunta e garantidamente, tu disseste que
me contarias anoite o motivo daquela felicidade,
a noite chegou e eu, curiosa ainda, quero saber.
Então? Vais ou não contar?
A Magui soltou umas gargalhadas.
-estava a brincar, apenas queria ver se estavas
mesmo interessada em saber isso.
-Olha Magui, eu como a tua irmã mais velha devo
saber o que acontece contigo, por isso não devia
e não devo esquecer-me disso.
Nesta altura em que elas conversavam, sacudiam
os lençóis e arrumavam a cama para se deitarem,
estando tudo como devia ser, prosseguiu-se o
descanso temporário, por cima de uma cagala e
por baixo dos lençóis. Bem nesse momento,
Magui, batia os lábios, contando oque acontecera.
- É o seguinte Julia minha irmã querida, hoje eu
encontrei-me com aquele rapaz que me deixava
toda mal naquele dia. Lembra-se?
- Com certeza que me lembro. Respondeu a Julia,
com o ar de quem queria ouvir mais coisas. – oque
mais aconteceu? Acrescentou perguntando.
- nós ficamos por um longo tempo olhando um ao
outro, e eu perguntei para ele porquê me olhava
tanto, ele, aproximou-se e começamos a
conversar, O nome dele é Manuel, ele é cômico,
mas sério, tem uma voz roca, eish! Mana, há
muita coisa boa que eu posso falar sobre ele.
- então tu ficaste feliz por isso? Insistiu a Júlia.
- Sabes mana, eu percebi que gosto dele, apenas
descobri, depois daquele trocar de conversa que
tivemos, é como se depois daquilo eu sentisse-me
muito mais leve, tranquila, mais dona de mim, etc,
até mesmo agora que falo, já sinto saudades dele.
Só que tem algum inconveniente.
Triste, Entretantou a Magui.
- Porquê? Que inconveniente é este?
- Ele morra na cidade, e pelos vistos é alguém de
uma elite social e o pai diz que não quer que nos
casemos com alguém da cidade. Eu gosto dele,
não posso deixa-lo assim, sem mais e nem menos.
Nesta explicação a Magui, deixou rolar lagrimas
no seu rosto, pois, sentia-se triste e abatida com
o que ouvira do teu pai. A Júlia que
cuidadosamente escutava-a teve que tomar
posição de mais velha dizendo o seguinte:
-Minha irmã, não fiques triste por isso, temos
que nos adequar a nossa realidade, tens que
esquecer isso, olhe para o teu redor, existem
tantos rapazes bons, educados e trabalhadores
que gostam de ti e que são desta comunidade.
A conversa duraria mais tempo, mas porque o
sono lhes pedia licença, ambas não fecharam as
portas, permitiram que este entrasse e lhes
concedesse um descanso profundo e bem
gostoso.
A TENTAÇÃO DOS RAPAZES DO BAIRRO
A manha chegou, era um dia fresco, com uma
temperatura amena, o relógio indicava quatro
horas e como de habito, as pessoas daquela zona
acordavam àquela hora, já era possível vê-las
caminhando para a labuta, umas com enxadas,
outras com redes de pesca e ainda as mais novas,
levavam vassouras para limpar o quintal e balde
para cartar a agua.
Assim, também a Magui e a sua família já
estavam acordados prontos para mais um dia de
muita labuta. Durante o dia, a Magui foi
submetida a uma provação sentimental que
aconteceu aleatoriamente e muito longe de um
combino, pois, era como que os rapazes da sua
comunidade se apercebessem do que estava a
acontecer coma Magui.
Então, quando ela se dirigia para o poço cartar a
agua, estava também neste local umrapazque
admirava-a imensamente, ele, sempre procurou
umaoportunidadedeconversar com a Magui, para
exprimir todos os teus sentimentos, mas nunca
antes teve e naquela manha fresca em que
estavam apenas eles dois naquele poço, o Rapaz
que se identifica pelo nome de Pedro, procurou
pela coragem e a encontrou,sem demoras,
cumprimentou sorridente para a Magui:
- Bom dia Margaria, wamugumi?
Como já devem imaginar as pessoas da
comunidade da Magui, poucos sabiam falar
perfeitamente o português, e um deles foi o
Pedro.
- estou bem obrigado. Você? Responde a Magui.
Enquanto ela terminava a resposta, o Pedro vivia
emoções de uma paixão condenada por muito
tempo, este sentimento que muitas vezes é mais
forte do que nós, também o Pedro não foi tão
forte.
- Magui você dele és muito bonitinha. Muitos
pessoas aqui no bairro gosta de você, eu também
gosta vadhidy de você.
Foi com este elogio, atropelador do português,
que ele começava por convencer a Magui. Ela que
naquele momento levantava o cabungo cheio de
agua, espantou-se, largou o cabungo de volta para
o poço. Lembrou-se da conversa que teve na noite
passada com a tua Irmã Julia (... olhe para o teu
redor, existem tantos rapazes bons, educados e
trabalhadores que gostam de ti e que são desta
comunidade) imaginava a Magui extasiada.
- Magui estas a me ouvir? Perguntou Pedro.
A Magui num silêncio pensativo despertou-se com
o chamativo do Pedro, e este, por sua vez olhava
para ela esperando por algum retorno a respeito
doque disse.
- Sim estou a ouvir, mas por que me dizes isso
hoje? Por acaso a Minha Irma Julia disse-te
alguma coisa?
O Pedro assustado e ao mesmo tempo surpreso
respondeu.
- Não, ela não falar nada com eu. Agora é oquê?
Desta forma, respondia ele a Magui, e nesta
ordem, ela tentou de todas procurando por uma
resposta que satisfaria a causa daquela sua
pergunta.
- Nada não, estava a viajar mesmo, não leve a
serio ok?... e... Obrigado pelo elogio, tenho que ir.
Neste momento, apressada saia a Magui em
direcção a sua casa para achar um refugio para a
vergonha que passara e uma resposta doque o
Pedro lhe dira.
Acreditem que ela, estava neste momento a
passar por momentos difíceis, pois, estava
encoberta da palavra decisão, isto é, entre a sua
vontade e a do seu pai, qual é que devia ser
cumprida e levada a cabo? Na verdade esta era a
pergunta que não queria calar.
As horas foram passando, e o sol dizia adeus ao
dia e saudava a vinda das estrelas e da lua. Neste
período era comum verem-se famílias daquela
região reunida durante o jantar e neste momento
a Magui queria abrir-se com os teus pais doque
acontecera. Domada de coragem, ela começa a
contar a sua família e porque o seu pai e a sua
mãe já conheciam bem o enredo do Pedro,
mostraram-se felizes pela historia que ela
contara e em função disso, incentivaram a Magui
a abrir as portas para ele.
Eles esqueciam que a vontade sentimental da
Magui não era aquela que diziam, mas porque a
sociedade a condenava de gostar de alguém
“Estranho”, ela sentia-se muito mal com aquela
toda situação, facto que lhe obrigou a aceitar
aquilo que a maioria queria.
Daí para frente, Magui, começou a evitar
encontrar-se com o Manuel de forma a diminuir a
paixão que nutria por ele. Não foi uma tarefa
fácil, pois, como sabemos, o coração é o nosso
maior comando e difícil é comanda-lo em favor do
nosso intelecto, nesta ordem, a Magui, passou
momentos de subordinação total ao seu coração,
até que um dia o cenário mudou.
Ela esqueceu-se do Manuel e começou a levar uma
vida normal e nova com os galanteios do Pedro.
O mesmo aconteceu com Manuel, este percebeu
que a Magui já não lhe dava atenção, até que
também decidiu esquecer-se dela e levar a sua
vida normalmente.
A FESTA DO LOBOLO
Passado o tempo de reconstrução intelectual, já
se tornara normal os encontros entre Pedro e a
Magui.
Atenção que estes encontros eram feitos
perante uma variedade de normas culturais. O
Pedro que loucamente amava a Magui, vice-versa,
ambos tinham sintomas de casamento e por isso,
chegou-se a um acordo da apresentação do Pedro
à família da Magui para um possível desfecho.
Como tradição da região de Domela localidade de
Nicoadala, província da Zambézia, para fazer-se
um casamento era necessário um lobolo vindo da
família do homem.
Neste caso, os produtos variavam entre
capulanas para as senhoras, factos para os
Senhores, bebidas tradicionais, e muitas outras
coisas.
Deste paradigma, o Pedro não focou alheio, pois,
lobolou a Magui, fazendo uma festa de arrombar
onde comeu-se, bebeu-se, divertiu-se e demasia.
DESFECHO
Assim como um conto de fadas, a história
termina com casamentos em ambos, vivendo vidas
indesejadas, vidas em que cada um confundia no
seu intelecto a imagem do seu parceiro como
sendo do verdadeiro amado.
Com tudo isto, fica claro que nem sempre a vida
nos dá aquilo que realmente queremos, pois,
tempos há em que devemos nos adaptar com o
que a realidade nos fornece, pois, assim
estaremos a abrir uma porta que nos conduzirá a
uma felicidade se calhar melhor do que aquela
que teríamos com as coisas que gostamos.
Magui e Manuel agiram assim, esqueceram aquele
passado agarrando-se no que o presente lhes
proporcionara e como resultado, ambos foram
muito felizes apesar das suas vidas estarem
divididas.
Tenho dito que muita das vezes a felicidade mora
onde o coração nunca antes imaginou palpitar.
GLOSSÁRIO
MADRESILVA- Trepadeira caprifoliácea de
flores perfumadas, e sua flor
TCHINE MUANAGA? – Lingua e-chuabo que em
português quer dizer “Oque foi minha filha?”
MULAULA – e-Chuabo, Nome atribuído aos
curandeiros mais poderosos
MACUBAR – Folhas do palmar/coqueiro
NABUYAWAGA – é uma das línguas da província
da Zambézia, denominada E-Chuabo e que em
portugues significa “Meu Deus”
SILABICO- Adj. Em sílabas, ou relativo a elas.
MACHAMBA- Sinónimo de campo
CAGALA – E-Chuabo, em português é “ Esteira”
WAMUGUMI – em português: “Estas bem?”
VADHIDY – e-Chuabo, Muito
CABUNGO - um pote com o qual é retirada a água
do fundo do poço .

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VIDAS DIVIDIDAS

  • 1. Rogério Marques Benedito Júnior 2015 Vidas Divididas Baseado em factos reais
  • 2. Índice PREFÁCIO ............................................................................ 3 TEMPOS EXPERIMENTAIS ............................................ 7 A PAIXÃO INQUEBRÁVEL.............................................. 7 É O FIM? ............................................................................ 12 REUNIÃO FAMILIAR..................................................... 21 O APAGAR DO SOL E A VINDA DA LUA................... 25 A TENTAÇÃO DOS RAPAZES DO BAIRRO.............. 31 A FESTA DO LOBOLO .................................................... 37 DESFECHO......................................................................... 39 GLOSSÁRIO...................................................................... 41
  • 3. PREFÁCIO Como alguns e algumas a Magui nasceu numa família residente em DOMELA, um nome que acordando a língua local, na sua tradução em português significa “Coisas que Crescem” pela simplicidade humildade e pura realeza vivia a família da Magui. Mergulhando o sentimentalismo e o humanismo nas descendentes. Magui era ordinalmente terceira e penúltima filha de casa, caracterizada pela criatividade, buscadora de soluções, activa e muitas outras características que a faziam ser desigual com as outras. Enquanto outras procuravam ocupar o tempo com coisas que para ela eram “uma perca de tempo” ela preferia sentar no seu incomparável e estranho silêncio, olhando pelas cavalgadas que a rodeavam e sempre ao fim do dia a Magui levava contigo uma lição de vida.
  • 4. A Magui foi ficando adulta, mas sempre na mesma perspectiva educacional, porque nunca se deixava levar pelos caminhos transgressores da sua cultura, hábitos e costumes da sua comunidade. E uma rapariga assim, era cobiçada pelos próximos, pelo simples facto de ela ser exemplo para todos. A comunidade em que estava inserida a Magui, era muito calma e, sobretudo em que os princípios ditados tinham que ser cumpridos, queira sim ou não, como são os casos dos ritos de iniciação, lobolo (dote oferecido à família da noiva pelo marido, como forma de marcar um garante infinito da sua relação), etc., como forma de fazer com que a tradição lá vivida não fosse para água abaixo, facto que fazia com que maior parte dos rapazes e raparigas na idade
  • 5. adolescente, se caracterizassem pela solidariedade, pelo respeito e que fossem hospitaleiros. Brilhante como a rara joia, era a sua beleza e incomparável era o seu jeito característico. Os rapazes do bairro admiravam-na incansavelmente, com um forte desejo de vê-la sempre e isto se devia ao simples facto de ela possuir um estilístico corpo modelo. Como já era tradição que todas as meninas não se casariam sem o lobolo, com a Magui não foi menos tradicional. Ela tal como todas passou pelo mesmo caminho, só que antes de mais, Foram tantos os pretendentes desejando-a como esposa, mas porque a Magui era inquebrável perante os seus princípios, ninguém a tinhaalcançado. Ela era apaixonada por um jovem da cidade e simples
  • 6. visitante da sua Avó naquela comunidade, este vinha sempre nos finais dos meses. O rapaz, que roubou e descomandou com a máxima incabulabilidade o coração da MaguiChamava-se Manuel. Ora a disparidade social, cultural e económicafazia com que ela fosse habitada de medo perante o seu apaixonado. ******************************************* “Tens um sonho? Persiga-o dando o seu melhor para obtê-lo e realiza-lo.” Autor:Rogério Marques B. Júnior
  • 7. TEMPOS EXPERIMENTAIS Desde cedo, a Magui, que assim era considerada, conheceu, aprendeu, e viveu momentos adjudicados ao sofrimento bem como a amargura. Sobremaneira, pouco era a felicidade pela aparência emocional tanto como espiritual, e difícil era prever o sofrimento que carregava. Tudo começa assim: A PAIXÃO INQUEBRÁVEL Num dia como todos, em que a Magui tinha que fazer todas as suas actividades em formatos de deveres de casa, foi apanhar lenha numa dessas serrações que se localizava bem próxima da sua residência. Lentamente ela andava algures da sua região, cantando, dançando e, era sempre assim quando ela saía. Nas mais lentas e sedutoras caminhadas, os seus passos progrediam em
  • 8. direcção a serração, o cenário antes visto tropeça nos seus olhos, quando se depara com uma formidável beleza masculina, o coração batia mais depressa, o espaço temporal intricicavaa saudade de vê-lo sempre, sentia frio acompanhado de calor, quando o cheiro do rapaz em formato da Madressilva, trespassavam o seu sistema emocional. - “ O que vem a ser isso? Deve ser um feitiço”- disse a si mesma. Prolepsando o cenário, estava sozinha, e bem longe da masculinidade que a encantara. Mas a ideia de desvendar o puzzle sentimental não a largava, pois ela estava apanhando a lenha: cantando para disfarçar o pensamento que a marcara, e olhem que nem por um segundo este o largou, com o ar preocupado, carregou a lenha e foi apressadamente para sua casa: “ um
  • 9. comportamento jamais visto”. Chegou a casa malmente respirando. - O que foi? - Estás Doente? - TchineMuanaga? A família dela questionavam-na espantadas, mas a Magui que sempre carregava contigo um monte de palavras, neste momento encontrava-se de lábios trancados, olhando as pessoas com um olhar que dizia mais de mil palavras. A sua mãe Jardiana, os Seus Irmãos Graciel, Júlia e Zelenha, continuavam com mentes vazias e longe da causa que afligia a Magui. Desta vez, racionalmente, pois, para eles, algo assim era combinada a uma manifestação divina e, só o Mulaula, tinha o poder de interpretar.
  • 10. Esses detentores de poderes espirituais não eram fáceis de serem encontrados, porque caracterizam-se pela isolação, ficavam em zonas perigosas e bem distantes da povoação. A família da Magui incansavelmente procurava por uma solução urgente, para devolverem a harmonia no íntimo da Magui, mas sem sucessos. Passou-se um dia, uma semana, um mês e o sentimento da Magui crescia bruscamente feito uma mágica semente. Enchia-se o coração com o ar da paixão e, quase que explodira. Não existindo outra saída, houve uma urgente necessidade de levarem-na a um Ñanga, esta que foi fácil de encontrar. - Dona Ñanga, a minha irmã não se alimenta e está sempre pensativa, olhem só para ela está tão magra comparada aos palitos de Macubar. Ela não estava assim, era gorda bonita, era uma
  • 11. menina invejada por todos, de repente o ser dela desapareceu, desde o dia que ela vinha da serração. O que é,Ñanga? - humm, deixe-me cá pegar as tuas mãos Magui – Pediu a Ñanga. Amedrontadamente a Magui Levantou-as e pousou-as nas mãos da bruxa. – Oh! Nabuyawaga, não se passa nada de grave com ela, pois eu vejo uma tristeza no coração dela, em que a felicidade mora numa masculinidade formosa e bonita. – O que quer dizer com isso? Curiositou a Magui querendo ouvir mais coisas. Acreditem que ela, já estava cansada de viver daquele jeito diferente. – Tranquilize-te, esta é uma fase inicial da tua felicidade, confie nos teus princípios e alcançaras o rapaz ladrão do teu coração, agora prometa-me uma coisa!
  • 12. - Sim Ñanga. - Faça o que o coração te manda fazer, mantenha o teu espírito de criatividade e boa disposição, porque o que tens, é um sentimento grande, mas pequeno na sua Silábica, se chama AMOR à primeira vista. Os tempos já se tornavam normais e o sorriso, a boa disposição voltou a habitar no seio da família da Magui. É O FIM? Estava tudo voltando ao bom grado pela calma de todos. A Magui já podia abrir os seus sábios lábios, falando com a mais alta emotividade no âmbito do compartilhamento das suas emoções e sentimentos. Ela já não duvidava de si, desde o dia que aÑanga disse-lhe para que não duvidasse
  • 13. do que pensava. A vida andava com muita naturalidade no progresso do tempo, e tudo quanto era vivo também crescia. “Toda pessoa que cresce muda de comportamento, mau ou bom, vice versando a moral”, desigual a este princípio foi a Magui. Esta que crescia genuinamente dentro de uma invejável pureza e, longe dela estava: a maldade, o orgulho e o ódio. As cavalgadas do dia corriam numa velocidade de cavalo, passaram-se dezenas de luas, dezena de sóis, num vaivém, facto que trazia mudanças no espírito mental da Magui, já estava mais crescida como quem diz, mais pronta para levar a sua própria vida. Numa interjeição passou pela frente da Magui uma figura que vulcanizou os seus desejos, deixando-a numa tremenda quentura capaz de cozer os alimentos e, porquê não! De
  • 14. abrasear o ferro. Foi nesse momento que aquela doença caracterizada por quatro letras (AMOR) começou a invadir por completo o sistema amoroso da Magui e, da ponta dos cabelos aos dedos dos pés era a demarcação por onde ela passava, os dedos começavam a tremer, o coração ficava frágil à tentação do receio e, esconder-se ou fugir daquela marcante figura optava a condição unívoca de se ver livre daqueles sentimentos. O palpitar do coração era fora do normal. Este todo mistério era trazido por uma simples figura masculina. Tudo que a Magui queria naquele instante, era não ter aqueles sentimentos, mais não tinha como abandona-los porque não encontrara a chave certa para abrir a
  • 15. porta certa, de onde podia sair, e voltar a sentir- se dona dela, sem nenhuma subordinação. Desta vez, perece que já tinha reflectido ao pormenor, até que se lembrou do que a ÑANGA tinha-lhe dito. O tempo passava e a Magui nada fazia, porque nessa altura longe da coragem ela se encontrava, e direpente, foi quando sem querer a sua boca se abriu e suaves palavras voaram para o céu e infectaram aquele lugar. – Porquê tu me olhas tanto? Foi a questão lançada. E o Manuel Ouvindo Aquilo, ficou menos surpreso, ele sabia que cedo ou tarde aquela mulher o faria uma genérica pergunta, afinal também percebia que os olhares dela carregavam milhões de palavras expressas numa só visão.
  • 16. - Bem, te olho tanto porque a tua cara dá-se muito bem com a minha, há uma dúvida que me diz que não és estranha. Já agora posso saber quem tu és? A Magui, não acreditava daquela realidade, não acreditava que estava a ouvir aquela voz roca e carregada de uma viva macheza. Ali ficou de boca aberta por alguns minutos, pois ela tentava falar o seu nome, mas bem nessa altura, as palavras voaram para bem longe dela e precisava de grande corrida mental para encontra-las. Manuel esperava ansioso e espantado com tamanha timidez morando numa só formosura. Na medida em que os olhares acidentavam-se, mais trancados ficavam os lábios da Magui. Não tinha mais jeito, um deles tinha que ser forte e
  • 17. dizer: „Sai vergonha‟. Quem assim agiu, foi o Manuel: - Vá-la, não queres dizer o seu nome? Tudo bem, eu digo o meu. Daqui é o Manuel. Prazer em conhecê-la, e... Posso chamá-la de... Desconhecida? Ou Silêncio? Nesse momento, Manuel sorria malandramente para ver se conseguia roubar dela apenas um sorriso, de modo a fazer com que ela se sentisse mais à vontade e com a consciência menos pesada. Desta vez conseguiu, pois ele viu um sorriso donzelo, um sorriso humilde no rosto dela. - Acho que agora tu estás um pouco calma. Sinta- se à vontade, eu não sou um monstro em pessoa, mais sim alguém que quer te ver bem. Disse o Manuel
  • 18. Com estas palavras, parece que ele tentava acender uma luz que na verdade já estava acesa, parece que tentava garantir o que na verdade estava garantido, ou mesmo até di-la que a sua amizade para com ela é eternizada. Claramente a Magui, já estava a sentir-se maravilhada e lisonjeada pelo rapaz, facto que lhe fez ter azas e voar para voar atrás das palavras outrora perdidas. - O meu nome é Magui. - Diga? O teu nome é Nargarida? Esta pergunta o Manuel impôs-lhe para ver se na verdade ela sentia-se detentora das palavras e afugentadora do medo tímido. Combinando com que ele estava a pensar, surgiu-lhe tal e qual. - Não me chamo Nargarida, mas sim Magui.
  • 19. - Hum, ok com M? Mar-ga-ri-da, dizia o Manuel soletrando. – Confesso que é um nome bonito, um nome que rima com o ar, com o calor e rima com a Vida, Ho! Magui. Profanavam-se as palavras com tanta poesia e musicalidade e paralelamente a isso, a Magui ficava sem jeito, pela primeira vez ela via uma pessoa tão extrovertida e ouvia palavras tão galantes e bonitas. Aquilo passou, e a Magui, voltou para casa como nunca a tinham visto, ela estava hiper alegre, uma alegria que contagiava todos os que ao seu redor estavam, e a sua irmã Júlia, ficou curiosa em querer saber se a Magui estava a sentir-se bem ou, simplesmente o motivo daquela alegria exacerbada.
  • 20. - Impressão minha? Ou estás muito feliz hoje? Perguntou Júlia. A Magui ficou calada por algum instante, inteligentemente pensou e disse baixinho para que a sua mãe não pudesse saber: - Júlia, eu te conto logo anoite o que aconteceu comigo hoje e porquê estou felicíssima. Esta bem? A Júlia compreendeu a sua irmã e ambas foram preparar o almoço, a tradição da região em que vivia a Magui era de que as meninas tinham que cuidar e fazer os trabalhos domésticos e os rapazes fazerem outros trabalhos como a caça, a pesca, etc, facto que caracterizava desigualmente estes dois géneros, estando uns aptos para uma determinada área de trabalho e
  • 21. outro não,uma espécie de divisão social de trabalho. REUNIÃO FAMILIAR Já era meio-dia, o almoço já estava confeccionado, as barrigas já começavam a reclamar de fome por causa do efeito do bom cheiro que das panelas saia. O almoço, já deve estar servido, e tal como muitos esta refeição era olhada com muito carisma e respeito, pois, era através dele que a família que passava o dia a trabalhar, tinha a oportunidade de reunir-se com os outros membros, normalmente, a hora de almoço, é um período em que ninguém poderia estar ausente, era falta de respeito quem assim procedesse. A mesa era rudimentar, as cadeiras eram fabricadas de troncos de coqueiro, tudo bem
  • 22. organizado por baixo da sombra de uma frondosa mangueira que ficava no quintal da família da Magui, neste ambiente super natural, com os cantares das aves e uma brisa inimiga do calor, decorria o almoço. Senhor Alfaiate, pai da Magui, gostava de perguntar as suas filhas o que lhes acontecera durante o dia, mas antes abria, sempre, abria o almoço com uma historia, depois iam para as orações antes das refeições do “pão da vida”, e finalmente almoçavam, e é durante a refeição que muita coisa se fala, mas o mais fundamental assunto que nunca falhava, eram as advertências que os parentes da Magui faziam para que os seus filhos tivessem cuidado com as coisas mundanas, que não se deixassem enganar por ninguém, neste caso, o Senhor Alfaiate,
  • 23. particularizava a advertência para as meninas, afirmando que estas tivessem cuidado com os rapazes, principalmente os que vinham da cidade. - minhas filhas, vocês já são adultas, e, naturalmente, eu sei que devem estar no período das pequenas paixões por rapazes. Eu não quero interferir na vossa vida, mas, uma coisa é certa, casem-se com homens da vossa terra, aqui onde nasceram, e nada de rapazes da cidade... Aconselhava o Pai da Magui, que durante o discurso, foi interrompido por suas filhas. - Porquê pai? Perguntou a Magui com um ar carregado de muitos segredos. O seu pai, que percebera que aquela pergunta tinha uma origem na paixão da Magui por um rapaz incerto, foi cuidadoso e declarativo ao responder.
  • 24. - Magui, é por simples motivo, que não o deves fazer, os rapazes e as meninas da cidade estudam e vocês aqui, somente cuidam da casa e vão a machamba, tu serás vista como burra e parva nos olhos destes rapazes, porque acima de tudo eles também são espertos. E, eu como vosso pai, não quero que isso aconteça com vocês. Eu quero um genro que vá comigo ao campo caçar e vá comigo aos mares pescar. Intenderam? Todos acenaram a cabeça acompanhada ao som da voz que confirmava a pergunta. Em meio de tudo, a Magui, sentiu-se mal com essas declarações feitas pelo seu pai, pois, como sabem, ela estava apaixonada por um rapaz que concidentemente vivia na cidade.
  • 25. O APAGAR DO SOL E A VINDA DA LUA Magui, que foi abalada pelos ditos do seu pai, ficou com um ar pensativo, reflectia dentro de si, tentava encontrar uma solução para aquele problema, passou pela sua mente que seria melhor abrir o jogo para o pai, e contar tudo o que estava a acontecer, infelizmente a ideia virou uma utopia, porque ela lembrou que existia um principio moral que dizia que “O conselho de um pai, é como uma corrente libertada do teu pescoço, quem não acatar viverá até o fim dos seus dias preso pela mesma corrente”. O conformismo batia o coração da Magui, mas a esperança reativava-a, porque bem ao fundo ela percebia que “não ha regras sem excepções”. - “até porque se eu for sincera com o pai, ele poderá compreender, será? Ops! Deixa estar”... Pensava a Magui meditadamente.
  • 26. O sol já dizia adeus ao dia e dava umas boas vindas à noite, eram já dezessete horas e trinta minutos, normalmente a este hora, nas zonas recônditas as pessoas ja deviam estar a preparar o “jantar”. Dezoito horas, eram horas para matar o bicho da noite que com ele não pegamos sono e acordamos fraquinhos e cansados. Após este solene momento do dia, os rapazes e raparigas, juntavam-se a volta da fogueira viva e bem acesa para cautelosamente ouvirem histórias contadas por pessoas mais vividas, historias estas que demarcam a sua realidade social. Era quase sempre assim, risos, perguntas a mistura caracterizava-os, depois, todos meio cansados e sábios com as histórias, apetecia era um leito para se deitar. A Margaria e a sua irmã Julia, pensavam também assim, daí que levantaram-se adultamente, despediram os que ali estavam e
  • 27. ambas rumaram para o quarto. Chegados lá, a Julia não se esquecera da promessa da Magui. - Magui, tu sabes que me deves uma explicação. Não? Perguntava a Julia. Fazendo-se de esquecida, a Magui Feedbackou dizendo que não se lembrava da tal divida. - Chegaste muito feliz hoje, bem, eu achei, ti fiz uma pergunta e garantidamente, tu disseste que me contarias anoite o motivo daquela felicidade, a noite chegou e eu, curiosa ainda, quero saber. Então? Vais ou não contar? A Magui soltou umas gargalhadas. -estava a brincar, apenas queria ver se estavas mesmo interessada em saber isso.
  • 28. -Olha Magui, eu como a tua irmã mais velha devo saber o que acontece contigo, por isso não devia e não devo esquecer-me disso. Nesta altura em que elas conversavam, sacudiam os lençóis e arrumavam a cama para se deitarem, estando tudo como devia ser, prosseguiu-se o descanso temporário, por cima de uma cagala e por baixo dos lençóis. Bem nesse momento, Magui, batia os lábios, contando oque acontecera. - É o seguinte Julia minha irmã querida, hoje eu encontrei-me com aquele rapaz que me deixava toda mal naquele dia. Lembra-se? - Com certeza que me lembro. Respondeu a Julia, com o ar de quem queria ouvir mais coisas. – oque mais aconteceu? Acrescentou perguntando.
  • 29. - nós ficamos por um longo tempo olhando um ao outro, e eu perguntei para ele porquê me olhava tanto, ele, aproximou-se e começamos a conversar, O nome dele é Manuel, ele é cômico, mas sério, tem uma voz roca, eish! Mana, há muita coisa boa que eu posso falar sobre ele. - então tu ficaste feliz por isso? Insistiu a Júlia. - Sabes mana, eu percebi que gosto dele, apenas descobri, depois daquele trocar de conversa que tivemos, é como se depois daquilo eu sentisse-me muito mais leve, tranquila, mais dona de mim, etc, até mesmo agora que falo, já sinto saudades dele. Só que tem algum inconveniente. Triste, Entretantou a Magui. - Porquê? Que inconveniente é este?
  • 30. - Ele morra na cidade, e pelos vistos é alguém de uma elite social e o pai diz que não quer que nos casemos com alguém da cidade. Eu gosto dele, não posso deixa-lo assim, sem mais e nem menos. Nesta explicação a Magui, deixou rolar lagrimas no seu rosto, pois, sentia-se triste e abatida com o que ouvira do teu pai. A Júlia que cuidadosamente escutava-a teve que tomar posição de mais velha dizendo o seguinte: -Minha irmã, não fiques triste por isso, temos que nos adequar a nossa realidade, tens que esquecer isso, olhe para o teu redor, existem tantos rapazes bons, educados e trabalhadores que gostam de ti e que são desta comunidade. A conversa duraria mais tempo, mas porque o sono lhes pedia licença, ambas não fecharam as portas, permitiram que este entrasse e lhes
  • 31. concedesse um descanso profundo e bem gostoso. A TENTAÇÃO DOS RAPAZES DO BAIRRO A manha chegou, era um dia fresco, com uma temperatura amena, o relógio indicava quatro horas e como de habito, as pessoas daquela zona acordavam àquela hora, já era possível vê-las caminhando para a labuta, umas com enxadas, outras com redes de pesca e ainda as mais novas, levavam vassouras para limpar o quintal e balde para cartar a agua. Assim, também a Magui e a sua família já estavam acordados prontos para mais um dia de muita labuta. Durante o dia, a Magui foi submetida a uma provação sentimental que aconteceu aleatoriamente e muito longe de um combino, pois, era como que os rapazes da sua
  • 32. comunidade se apercebessem do que estava a acontecer coma Magui. Então, quando ela se dirigia para o poço cartar a agua, estava também neste local umrapazque admirava-a imensamente, ele, sempre procurou umaoportunidadedeconversar com a Magui, para exprimir todos os teus sentimentos, mas nunca antes teve e naquela manha fresca em que estavam apenas eles dois naquele poço, o Rapaz que se identifica pelo nome de Pedro, procurou pela coragem e a encontrou,sem demoras, cumprimentou sorridente para a Magui: - Bom dia Margaria, wamugumi? Como já devem imaginar as pessoas da comunidade da Magui, poucos sabiam falar perfeitamente o português, e um deles foi o Pedro.
  • 33. - estou bem obrigado. Você? Responde a Magui. Enquanto ela terminava a resposta, o Pedro vivia emoções de uma paixão condenada por muito tempo, este sentimento que muitas vezes é mais forte do que nós, também o Pedro não foi tão forte. - Magui você dele és muito bonitinha. Muitos pessoas aqui no bairro gosta de você, eu também gosta vadhidy de você. Foi com este elogio, atropelador do português, que ele começava por convencer a Magui. Ela que naquele momento levantava o cabungo cheio de agua, espantou-se, largou o cabungo de volta para o poço. Lembrou-se da conversa que teve na noite passada com a tua Irmã Julia (... olhe para o teu redor, existem tantos rapazes bons, educados e
  • 34. trabalhadores que gostam de ti e que são desta comunidade) imaginava a Magui extasiada. - Magui estas a me ouvir? Perguntou Pedro. A Magui num silêncio pensativo despertou-se com o chamativo do Pedro, e este, por sua vez olhava para ela esperando por algum retorno a respeito doque disse. - Sim estou a ouvir, mas por que me dizes isso hoje? Por acaso a Minha Irma Julia disse-te alguma coisa? O Pedro assustado e ao mesmo tempo surpreso respondeu. - Não, ela não falar nada com eu. Agora é oquê? Desta forma, respondia ele a Magui, e nesta ordem, ela tentou de todas procurando por uma
  • 35. resposta que satisfaria a causa daquela sua pergunta. - Nada não, estava a viajar mesmo, não leve a serio ok?... e... Obrigado pelo elogio, tenho que ir. Neste momento, apressada saia a Magui em direcção a sua casa para achar um refugio para a vergonha que passara e uma resposta doque o Pedro lhe dira. Acreditem que ela, estava neste momento a passar por momentos difíceis, pois, estava encoberta da palavra decisão, isto é, entre a sua vontade e a do seu pai, qual é que devia ser cumprida e levada a cabo? Na verdade esta era a pergunta que não queria calar. As horas foram passando, e o sol dizia adeus ao dia e saudava a vinda das estrelas e da lua. Neste
  • 36. período era comum verem-se famílias daquela região reunida durante o jantar e neste momento a Magui queria abrir-se com os teus pais doque acontecera. Domada de coragem, ela começa a contar a sua família e porque o seu pai e a sua mãe já conheciam bem o enredo do Pedro, mostraram-se felizes pela historia que ela contara e em função disso, incentivaram a Magui a abrir as portas para ele. Eles esqueciam que a vontade sentimental da Magui não era aquela que diziam, mas porque a sociedade a condenava de gostar de alguém “Estranho”, ela sentia-se muito mal com aquela toda situação, facto que lhe obrigou a aceitar aquilo que a maioria queria. Daí para frente, Magui, começou a evitar encontrar-se com o Manuel de forma a diminuir a
  • 37. paixão que nutria por ele. Não foi uma tarefa fácil, pois, como sabemos, o coração é o nosso maior comando e difícil é comanda-lo em favor do nosso intelecto, nesta ordem, a Magui, passou momentos de subordinação total ao seu coração, até que um dia o cenário mudou. Ela esqueceu-se do Manuel e começou a levar uma vida normal e nova com os galanteios do Pedro. O mesmo aconteceu com Manuel, este percebeu que a Magui já não lhe dava atenção, até que também decidiu esquecer-se dela e levar a sua vida normalmente. A FESTA DO LOBOLO Passado o tempo de reconstrução intelectual, já se tornara normal os encontros entre Pedro e a Magui.
  • 38. Atenção que estes encontros eram feitos perante uma variedade de normas culturais. O Pedro que loucamente amava a Magui, vice-versa, ambos tinham sintomas de casamento e por isso, chegou-se a um acordo da apresentação do Pedro à família da Magui para um possível desfecho. Como tradição da região de Domela localidade de Nicoadala, província da Zambézia, para fazer-se um casamento era necessário um lobolo vindo da família do homem. Neste caso, os produtos variavam entre capulanas para as senhoras, factos para os Senhores, bebidas tradicionais, e muitas outras coisas. Deste paradigma, o Pedro não focou alheio, pois, lobolou a Magui, fazendo uma festa de arrombar onde comeu-se, bebeu-se, divertiu-se e demasia.
  • 39. DESFECHO Assim como um conto de fadas, a história termina com casamentos em ambos, vivendo vidas indesejadas, vidas em que cada um confundia no seu intelecto a imagem do seu parceiro como sendo do verdadeiro amado. Com tudo isto, fica claro que nem sempre a vida nos dá aquilo que realmente queremos, pois, tempos há em que devemos nos adaptar com o que a realidade nos fornece, pois, assim estaremos a abrir uma porta que nos conduzirá a uma felicidade se calhar melhor do que aquela que teríamos com as coisas que gostamos. Magui e Manuel agiram assim, esqueceram aquele passado agarrando-se no que o presente lhes proporcionara e como resultado, ambos foram
  • 40. muito felizes apesar das suas vidas estarem divididas. Tenho dito que muita das vezes a felicidade mora onde o coração nunca antes imaginou palpitar.
  • 41. GLOSSÁRIO MADRESILVA- Trepadeira caprifoliácea de flores perfumadas, e sua flor TCHINE MUANAGA? – Lingua e-chuabo que em português quer dizer “Oque foi minha filha?” MULAULA – e-Chuabo, Nome atribuído aos curandeiros mais poderosos MACUBAR – Folhas do palmar/coqueiro NABUYAWAGA – é uma das línguas da província da Zambézia, denominada E-Chuabo e que em portugues significa “Meu Deus” SILABICO- Adj. Em sílabas, ou relativo a elas. MACHAMBA- Sinónimo de campo CAGALA – E-Chuabo, em português é “ Esteira” WAMUGUMI – em português: “Estas bem?” VADHIDY – e-Chuabo, Muito CABUNGO - um pote com o qual é retirada a água do fundo do poço .